Cozinhar com um braço num suporte até nem é difícil. Foi até agradável. Gostei bastante de preparar uma refeição decente com esta limitação.
Mas isso foi na sexta-feira. Hoje, e a cada dia que passa, gosto menos de ter os movimentos limitados.
Tudo começou com uma vontade simples: espreguiçar.
Erguer os braços, esticar os pés, deixar os músculos se estenderem e relaxarem. A vontade estava lá, mas o braço não se mexeu. No reflexo já adquirido de usar a mão do braço que se mexe para conduzir o braço imobilizado, lá a usei para elevar o membro quebrado. Mas não deu.
Só hoje fiquei a saber qual o tempo estimado de recuperação para uma lesão destas: Seis a doze semanas. (!!).
Soa a uma eternidade.
Uma infinita quantidade de tarefas que pretendo executar quando recuperar o total movimento do braço, ficam adiadas. Por exemplo: preciso fazer uma divisória para o armário da cozinha. Para que o meu lado e o de outra pessoa não se misture.
Para isso preciso de uma régua e lápis, tesoura ou X-ato. Tudo bem. Mas preciso, principalmente, de fazer uma coisa muuuito simples: tirar as medidas com a fita métrica.
Subitamente esse gesto não é simples, porque um braço tem de segurar uma extremidade e o outro conduzir até uma outra. Quase sempre é preciso erguer ambos os braços.
Nenhuma das tarefas que menciono aqui são impossíveis de fazer. Mas ficam muito dificultadas. No meio de toda a independência que mantive que surpreendeu muita gente, começo a sentir-me saturada. Mas sei que tive sorte. Não. Muuuuita sorte.
De todas as lesões que imagino existirem no mundo, "calhou-me" uma bem fácil de gerir.
Mas nem por isso serão seis ou doze semanas fáceis de ir levando.
O que me distrai é o trabalho. O emprego. Sempre foi. E esse está a escassear. Bastante. Se conseguir um dia de trabalho por semana - juntando as horas - é como a situação está agora. Para compensar o tempo livre, queria organizar o quarto, fazer umas cenas que venho a adiar há tanto tempo. Mas não posso. Porque preciso descansar o braço e é contraproducente.
Ficar parada não é para mim. Safa-me tarefas a que me prontifiquei no computador. E talvez, o facto de, com isto, ter ido espreitar o programa Big Brother e agora estar interessada naquilo.
Mas ficar com o braço imobilizado não é algo para mim. Acho que me convenci a ficar esta semana - mais a que já passou - sem ir trabalhar, pensando que 2 semanas, a juntar à anterior, já tres, seria o bastante para sentir melhorias.
Mas vai levar mais tempo que isso.
Uma coisa acho que sei: vá ou não trabalhar, pouca diferença faz para a recuperacao. Demore 6, 12, ou 15 semanas, no fundo, é igual. Mais vale sentir-me feliz e ocupada, porque é isso que o trabalho me faz. Alem de dar dinheiro para pagar as contas.
Desde que estou em casa, as "pequenas coisas" que se passam em todas as casas começam a incomodar-me.
Eu sabia que não aprovava as atitudes daquela minha colega que implica com as coisas dos outros mesmo quando acaba por fazer o mesmo. Mas pensei que, enquanto não fosse comigo, podia bem. Só que não posso. Não gosto de ouvir tanta implicância.
O JA já saiu e noutro dia ela e o outro ficaram a falar mal dele sem necessidade. Fazendo suposições sobre o que ele terá pensado e dito sobre os mesmos. Iterrompi-os duas vezes para dizer que não valia a pena falar mais dele, porque foi embora. Mas continuaram. Eu acho isso desnecessário. O rapaz não viveu na casa todas as noites. Aparecia quando o rei fazia anos. É diferente. A necessidade de falar mal, compreendo-a vindo do stress diário de convívio. Mas de ocasional desconforto? Não é preciso pisar no pisado.
A rapariga, desde domingo, deixou o WC uma "cagada". Passo a explicar: ela pintou o cabelo mas não limpou as marcas da tinta a escorrer do lavatório até ao chão, passando pelo móvel. O vidro do duche também está cheio de marcas. E é tudo ela. Mas pronto. Temos de relevar. A mim incomoda porque a minha mente vai para sempre visualizá-la ali no WC, enojada e aos pulinhos, dizendo-se incapaz de usar a divisão por causa da sujidade deixada pelo JA. Coisas como marcas de pasta de dentes aqui e ali, chão salpicado. Vai ela e deixa aquilo pior. Compra produtos de limpeza e mete-os na janela. Usá-los para eliminar as marcas que deixa no vidro e agora na porcelana e nas portas dos armários e do WC... O frigorífico... o dizer-me que a rapariga do andar de baixo não limpa e esta mantém um WC daqueles dos anúncios de TV, a brilhar! Já ela, só eu e ela usamos o de cima, deixa-mo todo marcado de sujidade.
É esta incoerência - que lhe é recorrente, que começa a incomodar-me. Não quero lhe dizer nada, porque se sempre teve olhos para ver uma coisa minúscula e apontá-la aos outros, decerto que consegue ver as suas que são visivelmente maiores. Ela, que sempre me diz que não podemos deixar passar nada ou a pessoa não te respeita - está a fazer-me isso mesmo. A desrespeitar-me ao sujar o WC e não limpar adequadamente atrás de si. Quando é ela a autora de coisas que incomodam todos, parece que é convenientemente cega. E eu tenho um periodo limitado em que não deixo este tipo de coisa afectar-me. Após um tempo de "deixa andar", começo a mudar. Para piorar a situação, a senhora da limpeza não limpa nada. Tenho de concordar com todos que dizem o mesmo. Antes ainda aspirava o chão. Mal, mas aspirava. Da última vez não se deu a esse trabalho. E não esfrega os vidros do WC, só abre a torneira e passa água naquilo. As torneiras tinham marcas, sinais que também não passou pano nelas.
Um motivo pelo qual gostei de vir para esta casa foi a presença de uma "profissional de limpeza uma vez por semana". Significa que só tenho de limpar atrás de mim. Acabam-se os dias de limpezas profundas. E isto resulta muito bem - mas só se todos fizerem o mesmo e a empregada realmente limpar o restante.
Trouxe cá para casa um filtro de ralo. Sabem do que falo? Era algo que tinha comigo. Um dia, aquando nas arrumações, achei que o melhor era dar uso aquele objecto e, sem pensar muito, enfiei-o no lavatório da cozinha. Para meu espanto... e espanto mesmo, foi imensa a quantidade de restos de comida que aquilo impediu de ir pelo cano abaixo.
Comecei a achar que foi uma excelente ideia. Uma pessoa nem percebe a quantidade de material orgânico e não orgânico que passa pelo ralo.
Mas o problema é que todos limpam aquilo menos... a rapariga. Sei sempre o que ela jantou na véspera pelos restos de comida que deixa no gargalo. (?).
E é por isso, minha gente, que eu ... tenho de trabalhar. Ahaha.
Ou dou demasiada importância a coisas que, já se sabe: ao partilhar casa, há que relevar. Re-le-var.
Adivinhem qual dos lados e o meu?
Hoje fui lavar a prateleira que me calhou no frigorífico - que havia lavado antes de viajar para Portugal mas que encontrei suja no regresso. Ao remover as gavetas - uma minha, outra dela, a visão de ambas disse tudo.
Ela também faz uma bagunça enorme no frigorífico, amontoa coisas sem organização na sua prateleira e, mesmo com espaço, gosta de meter coisas suas na dos outros. Aproveitei a saída do JA para juntar todos e pedir para se deitar fora o que não pertencia a ninguém.
Ela negou ser a proprietaria de muita coisa que foi para o lixo por estar expirado, com bolor ou azedo. Sò que, numa ocasião anterior, havia dito que eram coisas dela. E eu não esqueci disso. São seis os espaços que o frigorífico tem nas portas, e ela ocupa todos excepto dois: um da outra rapariga, outro meu. Claro que, o único espaço capaz de albergar garrafas de pé, é ocupado por ela. Nem que seja com um copo de iogurte. Que se recusa a colocar na sua prateleira com espaço para o acomodar. Talvez assim outra pessoa pudesse abrir um pacote de sumo, ou uma garrafa de vinho e colocar ali. Mas ela nao gosta de partilhar espaço que reclama para si.
E pronto. É isto.
As pequenas coisas que enervam quem tem muito tempo para ficar em casa ahah.
UMA EXPERIÊNCIA BIG BROTHER
Nisto de viver em casas partilhadas, acho que vou passar por todos os espectros. Passei por aquela casa em que um individuo NO GRUPO marca um outro à vez para o infernizar. Fui defender o que é certo - lixei-me. Passei então por uma segunda casa em que fui abusada e vitimizada até mais não. Por TODOS no grupo. (tal como um tal de Zé Maria no primeiro BB). Mantive-me ali a sujeitar-me a tudo e acabei por ser empurrada para um fosso profundo, sem fim. Nem percebi a profundidade da mina italiana em que me soterrei. Mas sobrevivi. E vim parar a uma terceira casa. Aqui deixei de ser aquela que já é ou ainda vai ser vítima. Aqui gostam de mim e posso ser quem sou. Passei a ser uma igual. E sou tratada como uma pessoa. Não sou vista como inferior nem tratada como indesejada. O que veio a dar uma lufada de diferença em relação às outras duas casas.
Mas em troca, agora tenho de ver, por vezes, comportamentos com os quais não concordo e ficar um pouco no lugar do "observador passivo". Esses são carrascos também. Se nada fizerem ou disserem. Não fui assim até agora. Porque sempre fui dizendo que não gosto de falar mal de alguém que ainda não conheço e fazia referencia ao JA. Quando me contavam as coisas "más" que ele fazia, tentava colocar a perspectiva da pessoa ausente na discussão. É algo que sempre fiz e irei fazer sempre. Mesmo presumindo que o que me contam é verdadeiro, tento perceber qual será a versão da outra pessoa.
Estava de férias em Portugal quando a M. envia-me uma mensagem para se queixar que deixou ovos mexidos em cima da mesa da cozinha na noite anterior e pela manhã, haviam desaparecido. Acusou o JA, que apareceu um dia, de os ter comido. Confrontou-o e ele respondeu "não sei". Ela ficou super chateada mas há que ter cuidado. Porque ela envolve todos nos seus problemas e assim que chega a casa, gosta de meter todos em torno das suas necessidades. Uma vez chegou a casa e viu uma aranha perto do seu quarto. Ela NÃO TEM medo de aranhas. Portanto não é como eu... não as temo mas... repúdia-me vê-las a caminhar pelas paredes. Ela também não as quer matar. Diz que as captura e solta na natureza. Disse-lhe logo: eu esborracho-as. Tenho pena mas... lá fora tudo bem, dentro de casa, não.
Eu quando digo que faço algo, faço. Ela começa com uma voz docinha e chorosa a chamar por nós (eu e o rapaz), a dizer que está uma aranha na porta do quarto, que está alta e não a consegue alcançar, que não sabe como a apanhar, que não tem uma caixa para a enfiar...
Ou seja: todos têm de estar prontos a acudi-la. Isto aconteceu várias vezes ao longo do tempo em que cá estou. De inicio uma pessoa gosta de ser prestativa e ajudar. Mas quando percebe que a outra todo o dia encontra algo do género - ora é o armário, ora é outra coisa qualquer, começa a desgastar.
Na altura o rapaz estava ocupado a finalizar um jogo e eu estava com o braço partido e não o podia erguer, também ocupada com duas coisas no computador, uma das quais tinha de introduzir um código de acesso numa página em menos de um minuto.
E estava ela, acabada de chegar, já a chamar as atenções todas para si.
No dia seguinte, a mesma coisa. Outra aranha, no mesmo lugar. Ao invés de a capturar ela mesma, volta a fazer um "choradinho" e a chamar por nós. Na véspera, depois de tratarmos da "sua" aranha, fui para o quarto e assim que entro um enorme insecto com muitas pernas emaranha-se por uns segundos no cabelo. Estava a esvoaçar freneticamente por todo o lado e era difícil de o ver.
Tentei que saísse pela porta, já que a janela estava fechada. Não saiu. Desci lá abaixo, peguei na esfregona e, apenas podendo usar um braço, esperei e dei o meu "tiro de sorte". Infelizmente esborrachei o dito e acabou ali o seu sofrimento (e o meu). Não gosto de esborrachar seres vivos mas abri excepções quando os encontro dentro de casa, são uma ameaça para a saúde e, quando os tento enxotar para fora e estes não são espertos para encontrar a saída.
Ora, se eu tratei do meu próprio "dilema de insecto" sem chamar ajuda de terceiros, porque é que ela, que nem tem inclinação para fobia como eu tenho e mostraram-lhe na véspera como o fazer, não soube ela mesma lidar com a situação? Já é querer sempre que os outros larguem tudo e coloquem-se à sua volta, para a escutar a lamuriar-se, mais uma vez, sobre a "psicopata e sociopata" de patroa que tem.