quarta-feira, 30 de setembro de 2020

É por aqui que vieste ao MUNDO

 


A DOR DO PARTO 

"O corpo Humano só pode suportar 45 unidades de dor. Durante o parto, uma mulher suporta até 57, o que equivale a 20 OSSOS quebrados todos de uma só VEZ.

Respeite o género feminino. Tome consciência do que nos diferencia e ame o amor capaz de suportar tamanha dor".


Encontrei esta informação na internet. 

O que acham?

terça-feira, 29 de setembro de 2020

reflexões de uma mente cansada com um ombro partido

 Cozinhar com um braço num suporte até nem é difícil. Foi até agradável. Gostei bastante de preparar uma refeição decente com esta limitação. 

Mas isso foi na sexta-feira. Hoje, e a cada dia que passa, gosto menos de ter os movimentos limitados.

Tudo começou com uma vontade simples: espreguiçar. 

Erguer os braços, esticar os pés, deixar os músculos se estenderem e relaxarem. A vontade estava lá, mas o braço não se mexeu. No reflexo já adquirido de usar a mão do braço que se mexe para conduzir o braço imobilizado, lá a usei para elevar o membro quebrado. Mas não deu.

Só hoje fiquei a saber qual o tempo estimado de recuperação para uma lesão destas: Seis a doze semanas. (!!).

Soa a uma eternidade. 

Uma infinita quantidade de tarefas que pretendo executar quando recuperar o total movimento do braço, ficam adiadas. Por exemplo: preciso fazer uma divisória para o armário da cozinha. Para que o meu lado e o de outra pessoa não se misture. 

Para isso preciso de uma régua e lápis, tesoura ou X-ato. Tudo bem. Mas preciso, principalmente, de fazer uma coisa muuuito simples: tirar as medidas com a fita métrica. 

Subitamente esse gesto não é simples, porque um braço tem de segurar uma extremidade e o outro conduzir até uma outra. Quase sempre é preciso erguer ambos os braços.


Nenhuma das tarefas que menciono aqui são impossíveis de fazer. Mas ficam muito dificultadas. No meio de toda a independência que mantive que surpreendeu muita gente, começo a sentir-me saturada. Mas sei que tive sorte. Não. Muuuuita sorte. 

De todas as lesões que imagino existirem no mundo, "calhou-me" uma bem fácil de gerir. 
Mas nem por isso serão seis ou doze semanas fáceis de ir levando.


O que me distrai é o trabalho. O emprego. Sempre foi. E esse está a escassear. Bastante. Se conseguir um dia de trabalho por semana - juntando as horas - é como a situação está agora. Para compensar o tempo livre, queria organizar o quarto, fazer umas cenas que venho a adiar há tanto tempo. Mas não posso. Porque preciso descansar o braço e é contraproducente.

Ficar parada não é para mim. Safa-me tarefas a que me prontifiquei no computador. E talvez, o facto de, com isto, ter ido espreitar o programa Big Brother e agora estar interessada naquilo.

Mas ficar com o braço imobilizado não é algo para mim. Acho que me convenci a ficar esta semana - mais a que já passou - sem ir trabalhar, pensando que 2 semanas, a juntar à anterior, já tres, seria o bastante para sentir melhorias. 

Mas vai levar mais tempo que isso.

Uma coisa acho que sei: vá ou não trabalhar, pouca diferença faz para a recuperacao. Demore 6, 12, ou 15 semanas, no fundo, é igual. Mais vale sentir-me feliz e ocupada, porque é isso que o trabalho me faz. Alem de dar dinheiro para pagar as contas. 

Desde que estou em casa, as "pequenas coisas" que se passam em todas as casas começam a incomodar-me. 

Eu sabia que não aprovava as atitudes daquela minha colega que implica com as coisas dos outros mesmo quando acaba por fazer o mesmo. Mas pensei que, enquanto não fosse comigo, podia bem. Só que não posso. Não gosto de ouvir tanta implicância. 

O JA já saiu e noutro dia ela e o outro ficaram a falar mal dele sem necessidade. Fazendo suposições sobre o que ele terá pensado e dito sobre os mesmos. Iterrompi-os duas vezes para dizer que não valia a pena falar mais dele, porque foi embora. Mas continuaram. Eu acho isso desnecessário. O rapaz não viveu na casa todas as noites. Aparecia quando o rei fazia anos. É diferente.  A necessidade de falar mal, compreendo-a vindo do stress diário de convívio. Mas de ocasional desconforto? Não é preciso pisar no pisado.

A rapariga, desde domingo, deixou o WC uma "cagada". Passo a explicar: ela pintou o cabelo mas não limpou as marcas da tinta a escorrer do lavatório até ao chão, passando pelo móvel. O vidro do duche também está cheio de marcas. E é tudo ela. Mas pronto. Temos de relevar. A mim incomoda porque a minha mente vai para sempre visualizá-la ali no WC, enojada e aos pulinhos, dizendo-se incapaz de usar a divisão por causa da sujidade deixada pelo JA. Coisas como marcas de pasta de dentes aqui e ali, chão salpicado. Vai ela e deixa aquilo pior. Compra produtos de limpeza e mete-os na janela. Usá-los para eliminar as marcas que deixa no vidro e agora na porcelana e nas portas dos armários e do WC... O frigorífico... o dizer-me que a rapariga do andar de baixo não limpa e esta mantém um WC daqueles dos anúncios de TV, a brilhar! Já ela, só eu e ela usamos o de cima, deixa-mo todo marcado de sujidade.

É esta incoerência - que lhe é recorrente, que começa a incomodar-me. Não quero lhe dizer nada, porque se sempre teve olhos para ver uma coisa minúscula e apontá-la aos outros, decerto que consegue ver as suas que são visivelmente maiores. Ela, que sempre me diz que não podemos deixar passar nada ou a pessoa não te respeita - está a fazer-me isso mesmo. A desrespeitar-me ao sujar o WC e não limpar adequadamente atrás de si. Quando é ela a autora de coisas que incomodam todos, parece que é convenientemente cega. E eu tenho um periodo limitado em que não deixo este tipo de coisa afectar-me. Após um tempo de "deixa andar", começo a mudar. Para piorar a situação, a senhora da limpeza não limpa nada. Tenho de concordar com todos que dizem o mesmo. Antes ainda aspirava o chão. Mal, mas aspirava. Da última vez não se deu a esse trabalho. E não esfrega os vidros do WC, só abre a torneira e passa água naquilo. As torneiras tinham marcas, sinais que também não passou pano nelas. 

Um motivo pelo qual gostei de vir para esta casa foi a presença de uma "profissional de limpeza uma vez por semana". Significa que só tenho de limpar atrás de mim. Acabam-se os dias de limpezas profundas. E isto resulta muito bem - mas só se todos fizerem o mesmo e a empregada realmente limpar o restante.


Trouxe cá para casa um filtro de ralo. Sabem do que falo? Era algo que tinha comigo. Um dia, aquando nas arrumações, achei que o melhor era dar uso aquele objecto e, sem pensar muito, enfiei-o no lavatório da cozinha. Para meu espanto... e espanto mesmo, foi imensa a quantidade de restos de comida que aquilo impediu de ir pelo cano abaixo. 

Comecei a achar que foi uma excelente ideia. Uma pessoa nem percebe a quantidade de material orgânico e não orgânico que passa pelo ralo. 

Mas o problema é que todos limpam aquilo menos... a rapariga. Sei sempre o que ela jantou na véspera pelos restos de comida que deixa no gargalo. (?).

E é por isso, minha gente, que eu ... tenho de trabalhar. Ahaha. 

Ou dou demasiada importância a coisas que, já se sabe: ao partilhar casa, há que relevar. Re-le-var.

Adivinhem qual dos lados e o meu?

Hoje fui lavar a prateleira que me calhou no frigorífico - que havia lavado antes de viajar para Portugal mas que encontrei suja no regresso. Ao remover as gavetas - uma minha, outra dela, a visão de ambas disse tudo. 

Ela também faz uma bagunça enorme no frigorífico, amontoa coisas sem organização na sua prateleira e, mesmo com espaço, gosta de meter coisas suas na dos outros. Aproveitei a saída do JA para juntar todos e pedir para se deitar fora o que não pertencia a ninguém. 

Ela negou ser a proprietaria de muita coisa que foi para o lixo por estar expirado, com bolor ou azedo. Sò que, numa ocasião anterior, havia dito que eram coisas dela. E eu não esqueci disso. São seis os espaços que o frigorífico tem nas portas, e ela ocupa todos excepto dois: um da outra rapariga, outro meu. Claro que, o único espaço capaz de albergar garrafas de pé, é ocupado por ela. Nem que seja com um copo de iogurte. Que se recusa a colocar na sua prateleira com espaço para o acomodar. Talvez assim outra pessoa pudesse abrir um pacote de sumo, ou uma garrafa de vinho e colocar ali. Mas ela nao gosta de partilhar espaço que reclama para si. 

E pronto. É isto. 
As pequenas coisas que enervam quem tem muito tempo para ficar em casa ahah.


UMA EXPERIÊNCIA BIG BROTHER

Nisto de viver em casas partilhadas, acho que vou passar por todos os espectros. Passei por aquela casa em que um individuo NO GRUPO marca um outro à vez para o infernizar. Fui defender o que é certo - lixei-me. Passei então por uma segunda casa em que fui abusada e vitimizada até mais não. Por TODOS no grupo. (tal como um tal de Zé Maria no primeiro BB). Mantive-me ali a sujeitar-me a tudo e acabei por ser empurrada para um fosso profundo, sem fim. Nem percebi a profundidade da mina italiana em que me soterrei. Mas sobrevivi. E vim parar a uma terceira casa. Aqui deixei de ser aquela que já é ou ainda vai ser vítima. Aqui gostam de mim e posso ser quem sou. Passei a ser uma igual. E sou tratada como uma pessoa. Não sou vista como inferior nem tratada como indesejada. O que veio a dar uma lufada de diferença em relação às outras duas casas. 

Mas em troca, agora tenho de ver, por vezes, comportamentos com os quais não concordo e ficar um pouco no lugar do "observador passivo". Esses são carrascos também. Se nada fizerem ou disserem. Não fui assim até agora. Porque sempre fui dizendo que não gosto de falar mal de alguém que ainda não conheço e fazia referencia ao JA. Quando me contavam as coisas "más" que ele fazia, tentava colocar a perspectiva da pessoa ausente na discussão. É algo que sempre fiz e irei fazer sempre. Mesmo presumindo que o que me contam é verdadeiro, tento perceber qual será a versão da outra pessoa.

Estava de férias em Portugal quando a M. envia-me uma mensagem para se queixar que deixou ovos mexidos em cima da mesa da cozinha na noite anterior e pela manhã, haviam desaparecido. Acusou o JA, que apareceu um dia, de os ter comido. Confrontou-o e ele respondeu "não sei". Ela ficou super chateada mas há que ter cuidado. Porque ela envolve todos nos seus problemas e assim que chega a casa, gosta de meter todos em torno das suas necessidades. Uma vez chegou a casa e viu uma aranha perto do seu quarto. Ela NÃO TEM medo de aranhas. Portanto não é como eu... não as temo mas... repúdia-me vê-las a caminhar pelas paredes. Ela também não as quer matar. Diz que as captura e solta na natureza. Disse-lhe logo: eu esborracho-as. Tenho pena mas... lá fora tudo bem, dentro de casa, não.

Eu quando digo que faço algo, faço. Ela começa com uma voz docinha e chorosa a chamar por nós (eu e o rapaz), a dizer que está uma aranha na porta do quarto, que está alta e não a consegue alcançar, que não sabe como a apanhar, que não tem uma caixa para a enfiar... 

Ou seja: todos têm de estar prontos a acudi-la. Isto aconteceu várias vezes ao longo do tempo em que cá estou. De inicio uma pessoa gosta de ser prestativa e ajudar. Mas quando percebe que a outra todo o dia encontra algo do género - ora é o armário, ora é outra coisa qualquer, começa a desgastar. 

Na altura o rapaz estava ocupado a finalizar um jogo e eu estava com o braço partido e não o podia erguer, também ocupada com duas coisas no computador, uma das quais tinha de introduzir um código de acesso numa página em menos de um minuto.  

E estava ela, acabada de chegar, já a chamar as atenções todas para si.

No dia seguinte, a mesma coisa. Outra aranha, no mesmo lugar. Ao invés de a capturar ela mesma, volta a fazer um "choradinho" e a chamar por nós. Na véspera, depois de tratarmos da "sua" aranha, fui para o quarto e assim que entro um enorme insecto com muitas pernas emaranha-se por uns segundos no cabelo. Estava a esvoaçar freneticamente por todo o lado e era difícil de o ver. 

Tentei que saísse pela porta, já que a janela estava fechada. Não saiu. Desci lá abaixo, peguei na esfregona e, apenas podendo usar um braço, esperei e dei o meu "tiro de sorte". Infelizmente esborrachei o dito e acabou ali o seu sofrimento (e o meu). Não gosto de esborrachar seres vivos mas abri excepções quando os encontro dentro de casa, são uma ameaça para a saúde e, quando os tento enxotar para fora e estes não são espertos para encontrar a saída. 

Ora, se eu tratei do meu próprio "dilema de insecto" sem chamar ajuda de terceiros, porque é que ela, que nem tem inclinação para fobia como eu tenho e mostraram-lhe na véspera como o fazer, não soube ela mesma lidar com a situação? Já é querer sempre que os outros larguem tudo e coloquem-se à sua volta, para a escutar a lamuriar-se, mais uma vez, sobre a "psicopata e sociopata" de patroa que tem. 


  

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Tomara que fosse tão rápido....

 


Era bom se os traumas emocionais passassem tão rápido quanto as marcas de traumas físicos.


As feridas já estão a sarar. A pele regenera. Libertou a crosta e está cor-de-rosa. 

O hematoma que surgiu dias depois da queda, continua a pintar de castanho escuro a minha pele branca. Ainda não mexo o braço, mas tenho-o mantido em repouso. Conto que o osso partido esteja em pleno processo de fabricação daquilo que precisa para se voltar a unir. Não tenho tido acompanhamento algum da parte da fisioterapia ou do hospital. É "deixar andar" - dizem. 

Nunca parti um osso do meu corpo. Pelo menos oficialmente. Sem ser oficialmente, penso que parti o das pernas, quando era apenas uma criança. Num episódio que não quero contar por ter um elemento que me custa relatar.  

Vão-se as feridas, as crostas, talvez até fiquem pequenas marcas do trauma físico. Mas as dores emocionais... essas podem manifestar-se para sempre. 

Não devo ocupar o meu cérebro com coisas que me entristecem ou me deprimem. Já andei a lembrar de uma certa pessoa e devia saber melhor que isso. E em casa, pequenas coisas... pequeninas... já me estão a tirar do sério. Vou precisar ser frontal com as mesmas. Jamais passar pelos mesmos erros do passado - é a lição a tirar.

É impressionante a regeneração das lesões físicas. 

Gostava que as emocionais tivessem uma duração igualmente curta.  

sábado, 26 de setembro de 2020

Sinais de Furia : 27

Um pormenor importante aconteceu na casa: o rapaz que a M. não gostava, fez as malas e foi embora. Uma nova pessoa estará para vir. 


Com esta saída, a M. perdeu o seu principal alvo de implicância. Temo que não demore a encontrar um substituto. 

Despertei eram 1.30h da manhã. E desta vez, sem pesadelo, Ahah. 

Tinha sede.

Fui ao WC. 


Nisto, senti a divisão muito, muito quente. Queimei-me no radiador de toalhas. Nem notei que estava totalmente vazio. A M. deixa sempre toalhas e panos ali, nunca os tira. 

Senti necessidade de ir verificar quantos graus apontava o termómetro digital de aquecimento central. Foi apenas ontem que o coloquei de volta na programação automática, alterando a temperatura para valores de um a dois graus mais altos, visto  já não ser verão. Tinha sido colocado na temperatura manual porque durante o pico de calor, continuava a ligar-se. 

Desci então à cozinha para beber água e verificar o termómetro, que fica à entrada. Assim que entro deparo-me com um estendal de roupa. Percebo que é da M. que chegou a casa pelas 19h. Foco-me no que quero fazer: verificar a temperatura. 

Sabem quantos graus estavam?

27 graus!!

Acho que é uma atitude egoísta por parte da M. colocar um valor tão elevado porque quer secar as suas roupas rapidamente. A ausência de espaço para as secar foi o problema que detectei nesta casa assim que a visitei. Foi a própria M. e todos os que cá moravam a achar que a minha insatisfação com esse detalhe não tinha razão de ser, porque eles secavam as roupas nos quartos, sem problemas. 

Secar roupa no quarto? - minusculo como o meu é? Criar humidade? A ideia não me agradou. O que me safa é saber que lavo pouca roupa de cada vez e espaçadamente. Devo dizer que este detalhe dos hábitos de cada qual na lavagem da roupa também me surpreende. Noto que usam a máquina todos os dias. Para dizer a verdade, desde que cá cheguei ainda não fiz 10 lavagens. Devo andar perto, mas ainda não fiz. Vejo a nova rapariga, a M. e o rapaz a serem muito mais assíduos. Muitas vezes usam a máquina de lavar roupa todos os dias, em dose dupla. Será que os meus hábitos de higiene precisam de ser mudados?

Além de hoje de noite, a M. lavou roupa anteontem. A nova rapariga fez duas máquinas também. E o rapaz, ao chegar do emprego, atira a roupa para dentro da máquina e lava-a. Para dizer a verdade, já tive alguns momentos em que quis usar a máquina mas encontrei-a ocupada - vezes e vezes seguidas. Decerto que outros passaram pelo mesmo. É normal, numa casa partilhada. Há que aceitar. DESCOMPLICAR é a regra.

Ontem encontrei uma brecha - ninguém em casa, ninguém a usar a máquina. Lavei os lençois de cama e cobertor, que bem precisavam. Saíram da máquina quase secos e coloquei-os no quarto com a janela aberta, esperando um raio de sol. Secaram de imediato. Quando não dá para ser assim, gosto de secar a roupa perto dos radiadores. mas não a deixo horas nos radiadores. E estou sempre atenta, para a retirar assim que possível. Nunca nada fica de um dia para o outro ou horas e horas nos espaços em comum. Prefiro isso a aumentar a temperatura da casa inteira, incluindo a dos quartos onde todos dormem, para secar a minha roupa rapidamente.

Foi uma das falsas acusações da Gordzilla... se me permitem o aparte para relembrar a injúria.

Baixei a temperatura e dirigi-me até ao frigorífico para tirar um pouco de água e matar a sede. É então que reparo numa coisa. Que me deixa alarmada. A M. estava furiosa. Consegui perceber essa energia no ar. Mas é ela, que se diz uma espécie de detector sensorial, que consegue sentir a energia de todos, mesmo quando dorme. Ia para relatar aqui mais detalhadamente este seu traço de personalidade. Estou em falta, por isso faço agora um aparte para esse fim.

Quando o rapaz teve o seu problema de saúde, não demorou tempo algum para ela relatar que também passou pelo mesmo quando era mais nova. Dias depois dele regressar, ela diz-se com falta de ar e dor no peito. Depressa chega à conclusão que tem o mesmo problema do G. Marcou uma consulta médica, faltou ao emprego e foi consultada para esse fim. Mas nada saiu dali e pelos vistos, as palpitações e outros sintomas que jurava ter, não regressaram. 

Não pensem que não a apoiei por, no fundo, achar que ela imita o que se passa com os outros. Mesmo nessa condição, se existe a possibilidade de haver um problema de saúde, que se consulte um médico. Mas tal como desconfiei, ela regressou e nunca mais sentiu nada. 

Só voltou a sentir problemas de saúde quando eu mencionei que andava a sentir-me com falta de energia e cansada, após subir as escadas. Disse-lhe que por vezes isso me era normal, por ter anemia e problemas de tiroide. Não demorou mais que umas horas e ela estava a queixar-se do mesmo. Mais uma vez, diagnosticando-se com anemia e dizendo que tinha de ir ao médico. 

Também isso lhe passou.

A situação mais flagrante foi quando soube que eu me lesionei. Ela não soube logo. Não a vi nessa manhã, andamos desencontradas. Pensei que ela ia perguntar-me assim que me visse, se algo se passava, porque quando entrei em casa lesionada e ela estava no WC, soltei vários gritinhos de desconforto enquanto trocava de roupa e desinfectava as feridas. Ela deve ter escutado. Surpreendeu-me que não tivesse desconfiado, visto até que está sempre atenta a sons.

Na casa já outros sabiam, ela foi a última a saber. Foi na noite a seguir, depois de eu ter ido ao hospital, que lhe disse que havia me magoado no braço. Ia para lhe dizer que estava partido, mas ela interrompeu-me de imediato, para dizer que também ela tinha sentido dores na mão e no braço, não conseguindo os mover por muito tempo. Só tive tempo de lhe dizer: "Mas eu sei porquê estou assim. Caí". 

Ela não percebeu a gravidade, ficou estagnada no facto de ter despertado com os sintomas que presumiu serem identicos aos meus. Voltou a repetir-me isto no dia seguinte, a queixar-se de dores e preocupada com a sensação de imobilização. 

Mas ainda não sabia que eu tinha partido um osso do corpo. Pensou que era outra coisa. No dia seguinte viu-me com o braço no suporte de repouso. Quando percebeu que eu tinha um diagnóstico médico, havia ido ao hospital, tirado uma radiografia e descoberto que fracturei o ombro, foi quando mudou de discurso. Disse-me que consegue sentir a minha dor, a minha energia. 

Afinal, um osso partido não pode ela alegar ter. 

Autoproclamou-se então uma espécie de detectora de doenças alheias. Ainda que tenha falhado detectá-las no momento em que ocorreram e só as sentir depois de tomar conhecimento das mesmas. Quem sabe? Provavelmente tem mesmo este dom mais desenvolvido. Ou se calhar, é uma boa maneira de se convencer que não tem antes uma doença mais relacionada com o foro psicológico.


Mas que vi eu quando me dirigi ao frigorífico, que me revelou que ela estava furiosa??

Dois panos atirados para o topo do mesmo. Panos que não são os dela, pertencem aos outros dois da casa e com os quais embirra.

 O frigorífico é muito alto. Ninguém coloca nada ali. Não faz sentido ser aquele o local para panos. Mas eu sei, porque ela quase todos os dias mo diz, segurando com nojo um deles e desviando-o do lugar onde o encontrou, que a enerva chegar a casa e ver os panos desdobrados em cima da bancada. 

Se era assim que eles estavam quando ela chegou ontem de noite, eu não sei. A última vez que os vi, estavam enfiados na barra do fogão, onde já estao outros dois, que são dela. Foi a senhora da limpeza que os prendeu ali. 

Como foram parar em cima do frigorífico só posso especular. Mas acho que especulo corretamente. Resta-me tentar entender qual vai ser a reacção dos outros dois na casa, quando precisarem do seu pano e perceberem onde foram colocados.

O rapaz está por um fio... acho eu.

Ele gosta dela, muito. Mas não consegue mudá-la. Não consegue agradá-la. Não consegue fazê-la ver o seu ponto de vista, ela está sempre em desacordo. Com isso ele sente-se rejeitado, incompreendido, vítima de implicância. Fica enervado com as constantes observações e reprimendas que ela lhe faz. Foi isso que o fez desejar mudar de casa. Disse-lho a ela, como quem deixa um aviso. Mas ela não se emocionou. Ou recuou nas suas atitudes. Ele acabou por ficar mas cada vez que ela volta à carga mais implacavelmente, sinto-o a voltar a ter esses pensamentos.

Ele não tem chance com ela, consigo perceber agora. Noutro dia ela confidenciou-me que se irritou com ele, por a interromper quando ela estava a falar. Foi num momento que ambos estavam a falar de um assunto. eu estava presente. Achei que a conversa fluiu naturalmente. Não detectei nenhum atropelamento abusivo. É natural, por vezes, as pessoas falarem algo em cima do que outra diz, para completar, acrescentar. Qualquer pessoa de fora não teria visto nada de anormal ou detectado a presença de uma pessoa insatisfeita com o comportamento de uma outra.

Ela está sempre a confidenciar-me destas coisas em relacção a ele. Disse-me que lhe parecia a ela que ele queria alguma coisa dela, mas que ela não quer saber dele. O que ele quer é sentir que pode conversar com ela e ser escutado. Quer o normal...

Enfim...

Quem nasce para lagartixa jamais chega a jacaré.  


Quando ao rapaz-que saiu, o JA, fez ele muito bem. Muito bem mesmo! Eu também faço as malas e parto para outra assim que perceber que não serei aceite pelos restantes. Bastou-me aquela experiência. Acho que foi uma aprendizagem bem intensiva, que me passou a lição. 

Ter visto o mesmo acontecer com outra pessoa fez-me entender que é assim mesmo que a vida é. E de nada adiantava ao JA tentar agradar. Porque o olhar e a cabeça dos restantes estava pré-formatada na narrativa que lhes foi injectada. Fosse o que fosse que ele fizesse, a tendência dos outros é procurar o errado e não ver o certo. 

Acho que o JA se esforçou um pouco para não incomodar. Notei nele alguns cuidados que não lhe vi antes. Mas ainda assim não eram suficientes. Na realidade, de nada adiantavam os seus esforços. Tinha sentença passada. Herdada até por ex-inquilinos. Ou se anulava e se deixava pisar - como aconteceu comigo, ou fazia as malas e ia embora. 

É sempre a melhor opção - a de ir embora. Nunca se sabe o que se vai encontrar noutro lugar. Mas com sorte, ele vai partilhar casa com pessoas que não se incomodam com a sua maneira de ser e o aceitam.

Creio que não corro novamente este risco. A atmosfera é simplesmente diferente. Nunca nada será perfeito, conflitos podem surgir. Faz parte. Mas aqui estou à vontade. Não fui forçada a alterar quem  sou, abandonar o melhor de mim, por isso "incomodar" os outros. Não preciso deixar de cozinhar para ceder espaço a quem não larga a cozinha e sei que não vão acusar-me de a deixar suja assim que me vêm a acender um bico de fogão ou a ligar a torradeira.

Sou eu mesma. Limpo tudo. Cozinho para mim mas, por vezes, também a pensar em todos. Se estes estiverem com vontade, há comida que chegue. Estão à vontade para se servirem de algumas coisas específicas. Penso que ninguém tem problemas comigo. Mas o melhor mesmo, é nem ter mais este tipo de receio a assombrar-me. Aos poucos, recupero-me. Fortaleço-me.
E na cura, percebo o quanto afundei... a dimensão do mal a que me sujeitei. 

Mas sobre isso não vou mais pensar.


Quando surgir a oportunidade, tenho a certeza que a M. vai desabafar comigo o que a irritou. Vi a vela queimada no WC - sinal dos seus rituais para se equilibrar espiritualmente. Há sempre algo feito pelos outros que a desalinha, que a incomoda. Ela até se esforça muito. Pelo que me contou, estaria sempre a explodir com todos que a rodeiam se não fizer o seu "treino" diário. 

Gosto da M. mas... confesso... preferia não viver com ela. Sou mazinha??

Espero que não. 


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

O funcionamento do cérebro

 O avião de passageiros passa por cima das nossas cabeças a pouca altitude. E começa a ter um voo errático. Não se equilibra, parece estar a lutar para tentar se manter e elevar. Nisto ganha velocidade e parece que vai conseguir, mas ainda tem um comportamento errático. Subitamente sobe a pique. É aí que acho que não vai conseguir. Mas ainda espero que vá. O avião volta a voar na horizontal mas não ganha altitude e parece não conseguir velocidade, podendo estagnar. Há medida que se afasta do nosso olhar, dá-se um barulho enorme e peças de avião saídas de uma nuvem de fumo e pó bem distante voam na nossa direcção. Caem há nossa frente, embatem atrás, como se fossem mísseis.

Aconteceu em Lisboa, acima da segunda circular. 

Ainda tenho tempo de ver cadáveres presos com cinto às suas cadeiras a serem dobrados ao meio para de seguida serem enfiados numa espécie de caçamba de um veículo negro. É altura de sair dali - estão a gritar com autoridade. "É proibido tirar fotografias" - sublinha alguém quando ainda tentei filmar o acontecido. Um jovem homem negro morto, ensanguentado e mutilado é também enfiado dentro do veículo. É um cadáver não atarraxado a um assento, foi transportado numa espécie de lona negra. 

Há também vítimas em terra. Onde terá embatido? Que bairro? Que pessoas?

Tenho de sair. Estão a ordenar. Estão a puxar. Estão a gritar.


E acordo.


Caramba!!
Já tinha percebido que o meu cérebro recorre a este género de truque para me forçar a despertar e ir ao WC. Mas fico espantada com a sua escolha de método e narrativa! Quando ele me avisou a primeira vez - deixando-me sentir aquela "dor" feminina na região do ovário, ignorei. De seguida ele me enviou a sensação da descida da menstruação. Por causa dela, no sonho, era agora urgente ir ao WC. Mas eu ignorei. Quis continuar a sonhar, mesmo na condição de menstruada. Não queria despertar e descobrir que era verdade. O cérebro então, fez-me o que sempre faz: parte para um pesadelo daqueles pesados.

E lá fui apressadamente para o WC, como ordenada por Ele, ainda meio grogue de sono e a bater pelas paredes, tentando não tropeçar em nada, mentalmente ainda em choque e a pedir a Deus para não permitir que um cenário como o que sonhei venha a tornar-se realidade. 

Com o cérebro não se brinca. 

Ele enviou uma primeira mensagem para despertar e ir urinar. Um comando simples. Eu não gostei e ignorei. Ele causou um desastre de aviação, fazendo-me sentir cada momento. 

Há medida que me dirijo para o WC, vou tomando noção da realidade que me cerca. Percebo que a única novidade sentida durante o sono que é agora real é a "dor" da sensação de "menstruação para vir". Conto com ela daqui a sensivelmente 10 dias.

Felizmente, nenhum avião se despenhou, após levantar voo, na cidade de lisboa, próximo da segunda circular, lá para os lados do Jardim Zoológico. Foi só uma mentirinha mázinha do meu cérebro para me despertar e forçar a ir ao WC.

Aqui vos deixo este alerta, caso nunca tenham percebido como o cérebro faz para vos informar que têm de ir cumprir uma necessidade básica orgânica enquanto estão adormecidos. Ele vos enterra em pesadelos!

(mas depois vos faz esquecer tudo... é uma espécie de progenitor protector: deixa arder e depois sopra)


Posts populares

 É raro um.post meu chegar a ter 100 visualizacoes. 

Escrevo uma frase sobre bufas e bato esse record.

Preparem-se.

Mau cheiro a caminho. 😂

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Roleta russa??

 Espero que nao.

Nao quero ser prematura no meu optimismo em conseguir trabalhar esta semana enquanto lesionada.

Ainda so completei meia-hora do turno de 12h que me proposeram hoje.

E colocaram-me a fazer uma tarefa que envolve grandes volumes e um scanner. A unica parte dessa funcao que pode dificultar que a minha limitacao passe despercebida e se tambem tiver de trocar os yorks quando estiverem cheios. Isso requer força com ambos os bracos e ai posso ter dificuldade. Na realidade estarei so a usar a forca de um braco e a usar o outro para equilibrio.

Por Norma nao gosto dos scanners de pistola, prefiro os de dedo. Mas a pistola veio a calhar. Permite-me manter o braco na posicao recomendada (45 graus) e ninguem pode suspeitar de nada.

Posso nao ser tao rapida, mas sinceramente a diferenca e minima. E o braco esquerdo tem muito power. Iça objectos acima da cabeca e aguenta o seu peso.

Optimista sim, mas nao imprudente. 

Se algo me forcar a usar o musculo vou ter de recusar.  Nao quero comprometer a minha recuperacao mas sinceramente, ficar em casa sem fazer nada tem sido muito mau. Parece mesmo que dificulta o sarar.


Nota: turno de 12h completado. Cansaco sim, mas da jornada, nao do braço. Nem parecia que tinha algo tao serio. Foi como se nao tivesse nada. Sinto-me mesmo bem. Ate fui e voltei do emprego na scooter. Vejam la!











sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Enxofre

 As minhas bufas estao piores que as do meu falecido Cao. 

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

E o veredicto do hospital è....

 

Tenho o ombro direito partido.

Ate a enfermeira que me examinou ficou surpreendida. "YOU ARE A TUFF COOKIE", disse ela.

Eu sei que sou. Mas isso nao e necessariamente uma qualidade. No meu caso penso ate ser um defeito. A minha capacidade para medir e qualificar numa escala o nível de sofrimento suportado, tanto emocional quanto físico, nao se desenvolveu adequadamente. E ate sei porque. Como consequência, suporto elevados niveis de ambos.

Primeiro a enfermeira fez-me um exame de toque. Apertou-me o braço desde o ombro ate ao pulso.  Como nao existiu dor ao toque, so um ligeiro desconforto ao ser aplicada muita pressao no ombro, era provavel que se tratasse de uma luxação.

De seguida fui fazer um raio-x. 

Depois de meia-hora a aguardar ser chamada, ela verifica as imagens digitalizadas da radiografia e informa-me que o osso partiu.

"Deve ter caido com o ombro primeiro!"- disse ela, espantada por ser osso quebrado.


O que posso dizer? Foi muito rapido. Num instante estava na scooter, no outro no chao. Tentei avaliar o que aconteceu e procurar reconhecer no meu corpo o estado em que me encontrava. Levantei-me talvez passados uns 15 segundos mas pareceu-me uma eternidade. Toda coberta de pedaços de ramos, folhas e outras sujidades.

A malandra da scooter nao sofreu nem um arranhão. 

Posso dizer que tive sorte.

No meio do azar, nao podia ter tido melhor resultado: um ombro partido mas sem dor e que, Deus querendo e eu fazendo por isso, vai recuperar rapido. Nao em menos de 2 semanas a um mes - disseram.

Vejo isto como uma oportunidade para desenvolver as capacidades motoras da mao esquerda. Para já esta a sair-se muito bem. Consigo vestir-me, trocar de roupa, usar o wc... a mao esquerda e o braco esquerdo tem de ir trabalhar por mim.

A minha grande preocupação é essa. O trabalho.

Regressei ao reino Unido antes da imposicao da quarentena para poder ficar essas duas semanas a trabalhar. Uma imprudência minha pode ter-me trocado as voltas. Nao creio que um ombro machucado va impedir-me de executar as tarefas habituais. O ombro nao está inchado ou apresenta hematomas. Esta normal e equilibrado com o outro. Nao tenho dores. Comprei ibrofene e paracetamol como me foi recomendado pela enfermeira, mas nao sinto necessidade de os tomar. Irei, claro. Sei que pode ajudar. Por isso passei pela prateleira do supermercado e comprei um por 29 centimos e o outro por 40. Sim, centimos... marca branca, claro. 16 unidades por embalagem. Mas mesmo assim... que preco! Espantoso como certas coisas banais sao tao caras e outras mais urgentes sao economicas. 


Sinto-me capaz de trabalhar mas vou seguir as recomendacoes medicas. Acho que seria capaz de ir trabalhar mesmo depois de morta e so descobrir essa condição a chegada do emprego. Ai vou ouvir o S. Pedro informar-me que aquele lugar estranho nao e mais a entrada do meu trabalho. Aquele e o portao de entrada para o ceu.

E eu vou sentir-me assim:

- Não pode ser!!! Eu saí de casa para vir trabalhar! 😂












Gritar os meus dados pessoais

 Se ha coisa que nao gosto de fazer e dizer a minha data se nascimento. Isso ou a morada. Contudo, na recepcao do hospital pedem-me exatamente isso.

Nao ha nenhuma privacidade. Tenho numero de inscricao no sistema nacional de saude, nome e apelido. Devia bastar-lhes. Mas fazem-se valer da informacao mais pessoal. Nem querem saber do resto.

 Os dados nao so sao ditos em voz alta, como repetidos varias vezes. Toda a sala consegue ouvir. 

Sempre me pareceu uma anedota, num pais que diz preservar ao maximo a informacao do individuo e o seus direitos. Esta errado e é anti-deontologico exigir que estes sejam recitados diante de uma plateia de desconhecidos na recepcao de um hospital.

Pelo menos no centro clinico em Lisboa existe  alguma privacidade, um cartao e um numero de identificacao. Se pedirem a data de nascimento, so quem estiver por perto pode escutar. Os restantes na sala nao.  Aqui escuta-se e ressoa pela sala inteira. 

Alias, as pessoas nao tem mais para onde olhar, e ficam a prestar atencao ao que se passa pela recepcao. 

 Ainda tento camuflar a situacao ditando os numeros individualmente e nao dizendo o mes, mas a pessoa quase sempre parece necessitar de ouvir estes dados tao intimos e unicos da maneira mais obvia.

Depois de lhe dar a minha morada, incluindo numero de porta, tudo ficou completo.

Proteccao de dados pessoais moderna...

Que piada.


quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Nao sou uma pessoa matinal

 

São 6.15 da madrugada. O dia ainda está meio escuro. Entro em casa vinda do trabalho e subo para cumprir o há horas desejado: ir ao WC. 

Este está ocupado. Caramba! Chego sempre a horas tão matinais e há sempre alguém que me aparece à frente. É a rapariga que está dentro a tomar um duche. Nunca tenho hipótese. 

Sei que ela vai trabalhar, mas também sei que faz rituais onde inclui "poções" que tem de fazer na cozinha e sei que tem por hábito ali ficar uma hora pela manhã. Nao quero ver gente. Só me apetece um momento de sossego.

Lamento não ter guardado um print que vi na internet recentemente. Dizia mais ou menos assim: "Adoro o cheiro de café pela manhã. nada melhor do que acordar, beber café e relaxar ao som de ninguém a falar comigo".

Ontem, entrei em casa mais tarde: 6.45, vinda de um turno de 12 horas. Cheeeeia de dores nos pés. E assim que chego à porta do quarto para me descalçar e colocar os chinelos, ela aparece-me à frente. Tem este hábito, de aparecer quando a pessoa está com a porta em vias de abrir ou fechar. Pensei que ia trabalhar, mas era o seu dia de folga. Então para quê ficar de pé tão cedo? Que ficasse pela cama a curtir, caramba. E me deixasse ficar sozinha durante os 15 minutos que demorei pela casa a fazer o essencialmente necessário. Ia para relaxar um pouco na cozinha e preparar algo rápido para comer já que no turno de 12h não tive oportunidade. Mas como a vi de pé e sei que ela gosta de cozinhar, fazer fritos e assim, durante cerca de uma hora, desisti da ideia, porque pensei que ia atrapalhar a sua preparação para ir trabalhar. Afinal ficou por casa. Levantou-se e apareceu-me à frente só porque é assim. Acabei por adormecer lá pelas 8h só para acordar pelas 11h com a voz dela e o barulho que faz a subir e a descer as escadas vezes consecutivas, como quem sempre esquece algo e tem de abrir e fechar a porta do quarto novamente. 

Fico um pouco irritada. Não fico de mau humor. Cumprimento a pessoa e sou simpática. Mas preferia chegar a casa aquela hora e nao ver ou ouvir alguem.

E é por isso que reconheço: não sou uma pessoa matinal. O melhor a fazer comigo é deixarem-me estar.

Se ontem irritou-me porque era o final de um turno de 12 horas infernal para os meus pés e queria aquela paz de não haver ninguém acordado, hoje a irritabilidade teve mais factores. Dois muito importantes. O primeiro é hormonal. Já cheguei àquela idade em que, depois da menstruação desaparecer, convem andar precavida com um absorvente, porque a malandra gosta de dar um ar da sua graça dias depois. Pois foi isso que fiz na quinta, sexta, sábado, Domingo, ontem, segunda... Por mais confortável que aquilo seja, um absorvente sai do sítio com facilidade e aquece a zona. Bom mesmo é andar sem. Convencida que já tinha passado tempo seguro, lá fui eu trabalhar, de roupa nova e fresca. Resultado? O malandro deu um ar da sua graça. Mas não teve graça nenhuma! 

Ando sempre com um na mala, mas não hoje. Parece de propósito. Vocês, leitores mulheres, devem entender-me bem. Se vestirem uma peça de roupa nova, ou clara, é quando o "coiso" aparece. É sádico, o gajo. Não só nos deixa assim para o mal, como também prega partidas. 

Fiquei um pouco irritada mas lá me remediei com camadas e camadas de papel higiénico. Assim que chegasse a casa sabia o que ia fazer: tomar um duche, vestir roupa nova e colocar um absorvente. 


E tenho o WC ocupado. (inserir emoji de ira).

Para piorar a situação, sofri um acidente. Caí da scooter, numa ladeira asfaltada mas cheia de cravilha de mato: pedaços de madeira por todo o lado, folhas, terra, etc. O tipo de coisa que a roda motorizada de 8 inches não foi feita para caminhar sobre, menos ainda em descidas. O erro tambem foi meu. Passei ali dezenas de vezes, mas de noite, a descer, foi a primeira. Estava escuro, o caminho nao estava limpo dos detritos da mata e distrai-me com uma bicicleta que vinha a minha frente. Travei e diminuí a velocidade antes de curvar para proceder à descida, mas não alterei a mudança, como sempre faço. A roda dianteira da scooter nao tem aderência entre tanta cravilha e no movimento de curva, a scooter deslizou, tombou para a direita e eu fui junto. Como ia a descer e com a velocidade, a scooter ficou atrás de mim e eu mais à frente. 

O pavimento da ciclovia tambem e cheio de altos e baixos, rachas e buracos. Aqui é um horror! Uma vergonha. Não imaginam. Andar na scooter é passar todo o tempo a manter o domínio da mesma enquanto ela passa por cima destes obstáculos, porque a direcção muda com cada solavanco e é preciso manter o controle. É sensato andar sem tirar os olhos do piso para assim procurar sempre a melhor passagem. Ao mesmo tempo, todos os sentidos têm de perceber a presença e distância dos outros automobilistas e peões à volta. A audição é uma grande aliada mas não é infalível. Costumo mimicar o som de uma buzina para avisar a minha proximidade cada vez que tenho a visão obstruida e alguém pode estar a caminhar no sentido contra mim. Fazer o som de uma buzina "Beep-beep" com a boca resulta. É impressionantemente eficaz. Dispensa o patético som incorporado na scooter que ninguém presta atenção. Além desta atenção, tenho outro cuidado para avisar os outros que estou por perto: uso uma espécie de guizo. Na realidade, é uma chapa de metal solta no tubo, que faz muito barulho com a trepidação quando a scooter está em movimento. Assim aviso que estou a aproximar-me e reduzo a eventualidade de alguém mais distraido ou desatento mudar de direcção no momento em que me aproximo, causando uma colisão. Detestaria magoar alguém, ia ficar a sentir-me péssima. 

Caí bem, meti as mãos à frente mas não saí totalmente ilesa. É impressionante como o nosso cérebro reage numa fracção de milésimo de segundo. Porque não deu tempo de perceber o que ia acontecer: aconteceu. (uma vénia para o resultado de milhares de anos de evolução desde homosapiens até agora, porque algo nos proporcionou esta capacidade fantástica de nos protegermos de danos potencialmente fatais, tendo estes rápidos reflexos por instinto, tal como um gato em queda de uma grande altura).

O meu rosto tocou no chão. Tenho uma marca acima do lábio superior e no queixo. A sorte de não ter sido pior é de louvar. Estava a usar máscara - e não daquelas de papel às quais me rendi faz tempo. Coloquei, para ir trabalhar, uma daquelas com o exterior em plástico. Tivesse sido apenas de fino papel e tinha-se esfolado junto com o resto da minha cara. Olhem o estado sujo em que ficou:

Deve ter protegido o nariz.


Fiquei também com as palmas das mãos esfoladas, mas coisa pouca.Porém, é onde dói mais. O anteabraço direito é que está uma lástima. Foi o primeiro a estabelecer apoio com a superfície. Não o consigo elevar. Custa-me movimentá-lo. Só consigo manter o braço dobrado ao peito ou estendido. Não consigo, sequer, estendê-lo em frente. Não dá. Para despir a roupa foi um martírio. Espero que seja  normal, diante das circunstâncias.  Isso é o que mais quero, mas temo sequelas a longo termo. Os braços são o meu ganha-pão. Toda a actividade laboral que arranjo no Reino Unido depende da minha velocidade e capacidade de mexer os braços. Quero que nao seja nada preocupante. É dar tempo para tirar a prova dos nove. Espero que um dia de repouso me devolva quase todo o movimento natural.

Assim que me ergui da queda, o que queria eu fazer? Ir ao WC, limpar-me e avaliar o meu estado. A vontade era de desinfectar o quanto antes, com betadine, as zonas que tiveram contacto com o asfalto. Feridas abertas em tempo de covid? É mau, não é? Mas teria de chegar a casa, enfiar-me no WC, espreitar no espelho, para realmente saber. E este está ocupado!!



Percebi que só esfolei a pele. Tenho a antebraço, perto do cotovelo, em carne viva, mas só isso.


Faço este relato (e muito mais ficou por relatar) porque ajuda a revelar um pouco o meu quotidiano e porque acho que revela mesmo que, entre ser uma pessoa matinal e não o ser, se dúvidas existiam, acabaram de se dissipar: Sou uma pessoa não-matinal. 


E vocês? A vossa manhã ideal é... ??

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Aguardando Moderação

 

69.

Quem se lembra deste número mágico?
Foi, por muito tempo, o número de seguidores do blogue. Se subia um número, descia novamente. Apeguei-me ao 69 e pensei que ia ficar com ele para sempre. Mas enganei-me. Já vou em 77. 

Mas de quê?
Se pudesse escolher, preferia ter meia dúzia. Desde que todos os que tivesse fossem activos. Participando, lendo, comentando, partilhando.


69.

É um número que não me larga. (Espero morrer antes disso -ocorreu-me agora, já que o número não me larga-) 69 é o número de comentários a aguardar moderação que o blogue acumulou. Consistem em comentários repetidos, mas, na sua maioria, são de pitching. Aqueles que não fazem referência ao conteúdo de nenhum post, apenas são generalistas e elogiadores, ou do nada, insultam um partido político ou uma nação. No fundo, só pretendem ter o seu blogue divulgado e publicar o seu link. Aqueles que dizem "me segue que eu sigo você" e principalmente, aqueles que escrevem uma frase feita, do género: "Que conteúdo interessante. Partilhei no meu facebook" - e deixam este comentário num post mais pobre, que jamais produziria este tipo de reacção.

Faz muito tempo que estou nos 69 comentários por moderar e de 69 não saio. Nem quero! São de pessoas com uma agenda própria, que nem sequer leram uma palavra do blogue. Prefiro que fiquem por este número. 

69

Se um dia este blogue fechar e outro abrir, já tem título. (agradecia que não copiassem a ideia ehehe).

domingo, 13 de setembro de 2020

O dia de Terry Fox e o cancro

 

Segundo o Google, hoje é dia de Terry Fox (1958). Aquele corredor Canadiano que fez uma maratona com uma perna artificial. Acabou por não a terminar, porque o cancro que lhe levou a perna aos 18 anos, tinha regressado e tomado conta dos seus pulmões. Morreu no ano seguinte, com a surpreendente idade de 22 anos.

Um bebé!
Ainda tanto para viver...

Pode ter vivido uma curta vida mas, ao decidir correr uma maratona para angariar 1 dólar por cada Canadiano, tornou-o imortal, porque para sempre será lembrado por isso. Terry foi apenas mais um dos muitos que teve de enfrentar essa terrível doença. Seria apenas mais um entre tantos, não tivesse ele decidido chamar a atenção para a necessidade de encontrar uma cura para o cancro, angariando fundos ao percorrer o país de uma ponta à outra.  Conseguiu, com a corrida, angariar 24.17 milhões, cumprindo o objectivo a que se propôs. 

De lá para cá (faleceu em 1981) bilhões e bilhões têm sido angariados para esse fim. Encontrar a cura para o cancro!! Uma doença que afecta milhares por todo o planeta. Biliões de euros, dólares, Yens... incontáveis campanhas, corridas, etc. Tanto bilião dado e estamos no mesmo patamar que a luta contra a fome: na mesma.

Isso não vos revolta?

Terry durante a "Maratona da Esperança"

Não vos parece difícil de acreditar que, em tantas décadas de multiplas pesquisas em incontáveis laboratórios e com tantos biliões injectados para esse fim, não surja uma cura? 


E queremos nós uma vacina para o Covid...

Terry angariou dinheiro - aquela fortuna - porque ele, à semelhança de muitos outros que também se viram no seu lugar - acreditava que, com dinheiro, descobria-se a cura em breve. A tempo de se curar com ela.


Mas a cura não aparece. 


sábado, 12 de setembro de 2020

Humor e música clássica para Sábado (2set Violin)


Tenho andado viciada num canal do Youtube chamado 2 SET violin
Espreitem se tiverem curiosidade. Acho que não vão arrepender-se. 

As reacções genuínas dos dois youtubers tornam, no meu entender, o canal tão popular. 
Mas o que é o 2set violin?


São dois rapazes australianos, músicos, que tocam violino clássico. De música entendem eles. Então assistir às reacções que têm a respeito do "America's got Talent", por exemplo, é fantástico. Têm humor, são inteligentes mas, essencialmente, são eles mesmos, simples, genuínos e humildes. Sentem amor pela música clássica e ouvi-los falar do seu metier é uma lição de aprendizagem.

Fiquei a conhecer muito sobre o instrumento que tocam - violino, só de os ouvir. Detalhes sobre o arco, as cordas, a afinação, todo o processo de cuidar do instrumento como se fosse uma relíquia. O que muitas vezes é. Aos realmente bons violinistas, aos excepcionais, é-lhes permitido tocar em violinos raros e valiosos, como um Stradivarius, Guarneri ou um Amati. Apenas custam módicas quantias de milhões.


Torna-se um prazer assistir aos vídeos deles e às suas reacções. Eles também vendem roupa que desenham, dizem que sempre sentiram falta de algo que identificasse os músicos. Pois se existe Adidas para os desportistas, linhas de roupa específica etc, porque não têm os músicos clássicos algo semelhante?


Achei brilhante. 

Ling Ling 40 horas!

Não entenderam? Têm de espreitar o canal deles para entenderem. Está cheio de memes e esta expressão é uma delas.

Brett Yang e Eddy Cheng são a prova de que os "nerds" (intelectuais) nunca estiveram tão na moda. Eles são para a música clássica o que um Bill Gates foi para a informática: introduzindo aos "comuns mortais" segredos da sua arte. Graças a esta era de redes sociais em que vivemos o humor de pessoas que dedicaram a vida a uma profissão pouco popular dá-se a conhecer. 


Como músicos de violino com vinte anos de prática, eles sabem que já atingiram o pico e não chegaram ao patamar máximo. Outros, mais jovens, com potencial ainda por explorar, têm de tomar o lugar dos que já não vão progredir mais. Transformaram então o seu amor por música, a experiência e o conhecimento num canal de youtube divertido, conseguindo uma nova forma de continuar a viver em torno daquilo que gostam. 

Como profissionais, reconhecem talento e banham-se em satisfação diante dele. A reacção deles diante de um colega que toca excepcionalmente é sempre de admiração e elogio. 



Fazem os seus roasts (descascar em alguém) com respeito. Tenho de dizer que concordo com tudo o que eles pensam deste tipo de programa que se segue. Vejam e divirtam-se.

 


  



sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Para Ingles ver

 

Estou no UK.

Assim que ouvi que o Reino Unido fechou o corredor aéreo com Portugal, impondo a quarentena, só precisei saber QUANDO a medida entra em vigor. Costuma ser imediato. O governo decretou que todos que entrarem em solo inglês vindo de Portugal Continental depois das 4am de Sábado (amanhã), tem de fazer quarentena por 14 dias.

C Ora, eu já estava a "stressar" por uma das duas semanas que estava em Lisboa estar a ser um tanto parada. Por estar mais em casa sem sair do que o contrário. Se já estou assim nas férias - em que posso sair, como seria uma quarentena? (lembro que nunca a fiz, porque trabalhei sempre nestes três a quatro meses de lockdown). 

Corri para o computador para pesquisar por passagens aereas para Londres.


Para minha surpresa e temor, tudo esgotado para ontem e hoje. NADA disponível na Easyjet. O site dizia no site que a última passagem para Londres, tinha sido adquirida duas horas antes. TAP? Nada. Talvez a British Airways... Para esquecer.

Fui a um site que pesquisa vôos entre todas as companhias aereas, com e sem escalas e deixei de refinar a pesquisa para um aeroporto Londrino específico., Diante do cenário de urgência qualquer um teria de dar. Surgiram muitos resultados mas rapidamente foi possível perceber que só existiam vôos com escala. E esses, na sua maioria, aterrariam em solo britânico sábado. Dois vôos diretos, sem escala, para o aeroporto de Londres que desejava, tinham preços de 500 a 1100 Euros.  


Mas encontrei: para dali a quatro horas, um vôo direto para um aeroporto em Londres, por uma módica quantia de aproximadamente 200 euros. (O mais barato, meus caros. O resto quase dobrava e todos tinham escala em Faro, ou no Porto, seguida de outro em lugares como Dublin, na Irlanda, algures na Itália e enfim... uma salada russa que duvido muito viesse a ajudar. Até porque a hora e data de chegada de muitos destes vôos era a tarde de SÁBADO).

Tive sorte, no meio desta realidade. 


O vôo tinha muitos lugares disponíveis e consegui - após muitos contratempos com a tecnologia, comprar a passagem. Uma hora já tinha passado. O relógio estava literalmente a fazer tic-tac para o embarque mas ainda era preciso preencher um formulário online no site do Governo Inglês devido ao Covid19 (ou assim precisei precaver-me). Essa ideia aterrorizou-me, porque conheço o quanto os Ingleses são chatos com páginas e páginas de questões formuláticas que nunca mais acabam. Não me enganei.

Imprimi o documento depois de enviar uma cópia para a conta de email e ligar-me a outro computador que não o meu para usar a impressora deste. Depois abri no smartphone o email por eles enviados porque estava escrito pelo departamento de Visas e Imigração do UK que tinha de apresentar AMBOS no serviço de fronteiras do aeroporto, ou arriscava-me a não entrar no UK.


Vou já saltar para esta parte e vão entender o título do post: Foi para Inglês ver!

Tal documento nunca me foi exigido nem vi ninguém na multidão com um igual. Fui eu que o sugeri ao homem por detrás do flexiglass e ele então quis vê-lo. Onde estava a exigência? A imposição? A proibição de circulação?

É tudo para inglês ver. Tipo "Lobo Mau". Uff e Puff mas não fazem nada.


Fico com a ideia de que, se tivesse viajado com a regra da quarentena a vigor, poderia ir à minha vidinha normal que eles não iam querer saber. Tal como não ligam muito a máscaras no rosto. É só sairem de lugares públicos e pelas ruas ninguém as usa. 


Na paragem do autocarro que me conduziu do aeroporto à estação de comboios - as pessoas tinham-nas na mão ou no queixo. Como se o perigo não existisse por estarem em proximidade, mas ao "ar livre". 

Dentro do comboio usavam-nas. Mas enquanto o esperavam na plataforma, ao ar livre, nem todos. Um passageiro em particular, aproximou-se de fora da plataforma e entrou na mesma, percorrendo-a em todo o cumprimento da mesma, sempre a tossir. E sem máscara. 

Mas querem saber onde aponto o dedo a toda esta hipocrisia? 

A maior hipocrisia dá-se DENTRO DO AVIÃO.

É dito aos passageiros para manterem a máscara no rosto o tempo inteiro, devidamente colocada, sem a tirar. Depois vendem comida e bebidas a bordo. E o passageiro tira a máscara e fica 30 minutos a mastigar e a digerir comida. Abrindo a boca, expelindo saliva. 

Num avião cheio de pessoas, não existe nenhum distanciamento social. A distância maior é a que vai entre o passageiro da coxia sentado no lado esquerdo do avião, e o passageiro sentado no do direito.

Ou seja: nada!

Não resistem ao lucro imediato. Não querem saber do Covid.  A perspectiva de fazer uns 20 euros por pessoa é-lhes irresistível e nem a possibilidade disto tudo retroceder ao fecho do espaço aereo os faz reflectir e decidir: "eh pá, não vou servir comida ou bebida aos passageiros durante a pademia do Covid-19". 

Cá para mim este vírus ainda vai ficar conhecido como se conhecem as Grandes Guerras Mundiais: "Covid-19/21" - os anos do pico da coisa.

Quero muito estar errada com isto. E não me refiro que ia preferir a designação "Covid-(20)19/(20)29".


Nota: fui pesquisar preços hoje e deparei-me com um cenário bem diferente daquele que encontrei ontem de tarde. Agora os preços das passagens desceram um pouco (em alguns casos não muito) e a Easyjet lá encontrou um vôo disponível, DIRETO, por um preço aproximado daquele que paguei pelo meu. 

Se fossem levar na...



A minha viagem consistiu em ir de Lisboa para Londres, para um aeroporto a vários quilómetros de distância da minha casa. Apanhei depois um autocarro para um breve percurso até a estação de comboios. Segundo todos os sistemas de venda de bilhetes de autocarro, não havia nenhum National Express disponível. Tirando o comboio podia existir o quê? Uber? Taxi?

Nem entra em coagitação. Considero o comboio o meio preferencial de viagem, embora o preço... 35 libras. Não é algo que se goste de pagar mas tem de ser. Ao menos os comboios são limpos, aparentemente modernos e muito confortáveis. Duas horas depois... desço noutro aeroporto para apanhar um outro autocarro caminho a casa. 

Entrei pela porta um quarto de hora depois das 4 da manhã.

Quase 12 horas depois de ter iniciado a compra dos bilhetes. E daí para adiante, sempre a correr.  

E agora continua a vida... quero trabalhar!
Já enviei mensagem mas fui totalmente ignorada. Por telefone não atendem ninguém e ignoram tudo o resto

O stress que me levou a precisar me afastar parece ainda estar por aqui.

Mas ainda bem que viajei, porque assim posso usar esse carregamento de energias para relativizar a coisa.

Bom fim-de-semana para todos.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

 TEMA UM

Torço para que o Reino Unido não feche o espaço aéreo a Portugal, impondo uma quarentena antes do meu regresso para a semana (não pode acontecer!!). Tenho estado a contar os dias para entrar no avião. Não apenas devido a este medo, mas por achar que a estada por cá deixou de fazer sentido. Sem férias de verdade, fico por casa. Só saio para ir a consultas. Não vou a lojas, supermercados... tenho estado por casa, sem sair. Vim por mais tempo porque sempre tento conciliar necessidades e tratamentos médicos. Essa é a razão que me impulsa a viajar. Isso e, claro, desconhecer o que vai ser tentar viajar depois do Brexit em Janeiro. Temer que, nos quatro meses até lá, o Covid não permitisse viagens, também ajudou. Se não viesse agora, podia ficar sem poder pisar a minha terra, sentir o meu ar, a minha luz e não tocar ou sentir os meus por muito tempo. Tinha de arriscar. Mas três semanas? Acho que devia continuar por duas. Por isso, não pode! Simplesmente não pode. O espaço aereo tem de permanecer aberto até o final da semana que vem. Tem de ser. Vai ser. 

Tinha de arriscar. O tempo de estada foi adaptado ao tempo que me solicitaram para um tratamento médico que paguei antes do Covid aparecer. Achei que era demasiado, mas se era para solucionar a coisa, cedi. Agora noto que não precisava de tanto tempo, estão a arrastar. 

Sinto falta do meu trabalho. Já não me agrada ficar por aqui e temo a qualquer momento, vir a descobrir que o UK impõe quarentena a portugal. Mais de 600 casos em 24h... porra! Dá para manter números baixos até ao final da semana que vem, se faz favor??

Se uma quarentena me for imposta, vou ter de cumprir. Mas não é justo sair prejudicada financeiramente. E ter de cumprir uma quarentena quando aqueles que sairam um dia antes não têm. (espero não vir a ser o caso). Não só pelo salário que perco por não ir trabalhar. É por, se ficar muitas semanas consecutivas sem o fazer, o valor de remuneração à hora desce para metade. Sim, me ta de.

Atingi o patamar máximo antes da partida e não é justo cair para o primeiro, quase metade do actual. Não posso sair assim tão prejudicada, ainda mais sabendo-me sem a doença (sem contacto com terceiros) e sabendo que vou continuar a tomar as medidas de precauções que tomei sempre, antes mesmo do governo inglês decretar cuidados à população: máscara, óculos, luvas, boné, lavagem de mãos. Caramba! Se não me contagiei durante o lockdown, não vai ser agora. O grande risco reside somente na própria viagem de avião, vamos a ser honestos. É uma atmosfera fechada e de ar viciado. O risco aqui é maior. Para a viagem vou usar a melhor máscara que tiver (não vai ser daquelas de papel) e não vou tocar em nada, desinfectando tudo e tomando banho assim que chegar a casa. E a possibilidade dos aviões poderem voltar a ficar por terra e o espaço aéreo fechar? Não podemos esquecer que essa pode voltar a ser uma realidade para este Outono. 

Para ir trabalhar vou manter o uso destes utensílios, mais uma viseira e uns óculos que não consegui encontrar quando para cá vim. Vai manter-se tudo igual ao que fiz antes, durante meses.

Sempre tive estes cuidados, enquanto vi outros não terem muitos ou nenhuns. 
Não é justo sair prejudicada. É só o que acho.

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TEMA DOIS

Uma semana depois de ter abandonado a zona de praia, ainda estou a tirar grãos de areia debaixo das unhas. Mesmo após incontáveis lavagens com sabão, sabonete, duches e banhos. Se isto é assim com areia, como será com o Covid? Bom, lavando bem... o sabão destrói a camada protectora do vírus. Já o grão de areia, nada o destrói ehehe!


TEMA TRÊS

Aprender a gostar mais de mim. A pensar em mim. Em dar-me prioridade. 

Foi para isto que passei pelo que passei? - pergunto-me.

É capaz de ter sido sim. Em algumas ocasiões percebo que começo a preocupar-me menos com o que os outros sentem. Regressar ao lar da família, fez-me sentir que aqui nunca será um lugar para conquistar-me a mim mesma. Aqui, volto a pensar nos outros. a anular-me, a deixar-me usar. 

Ter passado pelos abalos emocionais do ano de 2019/2020 terá, finalmente, me transformado?

Espero que sim. Espero. 
Mas, por vezes, eu sou eu. Não há como negar.

Não quero virar uma pessoa fria. Ou insensível. Mas quero virar uma pessoa que percebe o que é melhor para si e faz essa escolha. Uma pessoa que não fica onde não se sente bem. Onde não lhe querem bem. Uma pessoa que se valoriza. E ganha segurança em si mesma.


Tudo aquilo que nasci possuindo, mas que fechei num baú e atirei para as profundezas do oceano. Para não ir junto com ele. 


E pronto, é isto. 


quarta-feira, 9 de setembro de 2020

O Facebook eliminou-me sem mais nem menos!!!

 

Despertei para descobrir que a conta que mantinha no Facebook por anos e anos foi desactivada. Sem mais nem menos, de um momento para o outro e SEM AVISO.  

Acham isto normal?
Numa democracia??

Dizem os americanos que têm a Nação mais livre do mundo. Auto-intitulando-se "defensores da liberdade". E a empresa americana que é o Facebook ELIMINA sem sequer um pré-aviso uma conta de uma pessoa normal, que não fez nada de errado?

 Pergunto-me se a comunista China seria tão extrema! Ao menos neste país sabia com o que podia contar... opressão, liberdade limitada, controlada...

Com este gesto da americana Facebook, passei a nutrir uma certa admiração por quem mostra aquilo que é. Não suporto posições CINICAS, de quem fala em liberdade mas exerce opressão.


Quando fui para aceder à conta que deixei aberta e tinha usado apenas umas cinco horas antes, só apareceu uma mensagem a dizer que tinha sido DESACTIVADA por me fazer passar por uma FIGURA PÚBLICA. 

Mas isto é a sério??
JAMAIS tal pode ser sequer insinuado como verdade. 

Para quem chegou a viver perto dessa eventualidade e sempre fugiu dela, sinto-me até magoada nos meus princípios. Mas com base em que argumentos podem eles afirmar um disparate destes?? 

Acho que é alguém mal intencionado que denuncia o nome umas tantas vezes já que o facebook permite isso e até o incentiva. Como o facebook é algoritmos, eles eliminaram a conta e não querem saber de ir verificar se é verdade ou não

Que conceito de liberdade, justiça e democracia!!

Nos últimos dias não deixei comentários em qualquer publicação. De terceiros só publiquei duas notícias de domínio público sobre a história de Portugal, por as achar por demais interessantes. Na semana passada, estive em directo com vídeos a mostrar a paisagem do Tejo... e nada mais. 

Sempre cuidadosa, sempre sem expor outros ou a mim mesma. E, claro, nunca me fiz passar por nenhuma figura pública!! 

Após meses de quarentena em que fiquei sem computador, vir a portugal deu-me a oportunidade de relaxar a jogar Farmville, um jogo que só existe nesta plataforma. E por isso adormeci lá pela madrugada, a ver filmes antigos e a instruir-me musicalmente, deixando a conta do Facebook aberta. 

Devo ter criado um HATTER algures no espaço de tempo de cerca de uma década em que abri esta conta. O único "candidato" que me lembro sentir ter potencial para fazer isto foi um wanna-be fotógrafo. Uma vez, julgo que durante a quarentena, na sequência de um inocente comentário humorístico sobre um tema leve, surpreendeu-me receber um comentário dirigido a mim, não ao tema, com uma observação presunçosa de quem se acha certinho e correcto. Ao que lhe respondi -fazendo-lhe ver o meu direito numa sociedade livre de me identificar no Facebook com o cognome que quiser - que ele, por usar nome "de gente" (que foi como se referiu a mim) não era por isso mais honesto ou menos mentiroso que aqueles que escolhem não se expor tanto.

Defendo que cada qual se expõe como quiser. Este indivíduo criou uma conta de facebook para se promover. Por isso toda a conta era essencialmente auto-retratos e belas fotos. E, claro, usou o nome pelo qual quer ser conhecido. 

Mas isso não lhe dá o direito de criticar quem não é assim. Eu e muitos outros, nunca pretendi usar o facebook para autopromoção. A rede social era apenas uma ferramenta de comunicação e informação, que comecei a usar apenas para jogar um jogo em comunidade. Nunca ali publiquei uma fotografia minha ou de outra pessoa, a menos que não fosse claro de quem se tratava. Tenho fotos lindas de flores, paisagens... de mim, contra o sol, em silhueta ou de rosto coberto até aos olhos pela máscara facial. O meu nome, porque não consigo mentir, é o verdadeiro, composto de um conjunto de diminutivos. Não expõe a minha identidade a qualquer um que tenha fins obscuros. Só aqueles que eu quero ou sabem quem eu sou têm acesso a me encontrar na rede social. Não o inventei, não menti, não me fiz passar por ninguém. Sou eu mesma. Não sou sequer, uma produção da pessoa que pretendo ser (que é como muitos usam a rede social). E depois está nas regras do facebook: uma pessoa pode criar uma conta com outro nome SIM, desde que não se faça passar por outra pessoa. 

Ora... eu nem interajo com ninguém sem ser a minha família. Falo com uns familiares no messenger. Eles sabem que eu sou eu. Eliminarem-me o facebook por ser suposto estar fazer-me passar por um famoso???

Isto é CALÚNIA e MALDADE.

Discordo com esta postura anti-democrática. O facebook não procura banir os verdadeiros infractores. Permite que qualquer pessoa denuncie outra e como consequência,  parte para a eliminação da conta,  sem sequer se preocupar com a legitimidade ou intencionalidade da denúncia. 
É tão fácil quanto isso gritar: "LOBO!". Os criadores do facebook aceitam isto. Os estúpidos "controladores de conteúdo" do facebook, preguiçosos pelos vistos, limitam-se a eliminar contas sem sequer ver a LEGITIMIDADE das acusações.

Não concordo! Não concordo, não é deontológico, não é democrático. Estão-se nas tintas para o incómodo que isso vai adicionar À vida do utilizador. E o que é pior, é muito facilitador a terrorismo, a ciberbulling... no Facebook qualquer um pode eliminar a conta de outra pessoa, só porque o deseja castigar!

Agora não posso mais aceder aos conteúdos que publiquei "há 8 anos" - como o facebook sempre lembrava. Os vídeos que lá coloquei (dos passeios que dava pelos parques), perdidos. Ainda bem que nunca usei a plataforma para guardar nada mais pessoal. Agora estaria arrependida. Eh pá... curem-se.

Gostava era de lhes escrever uma bela carta a dizer o que penso deles. Mas não posso. Porque estão inacessíveis. 




Por princípio não vou PEDIR para reactivar a conta. 
IMPLORAR, PEDIR para me devolverem o que ilegitimamente me tiraram. Ao que sujeitam uma pessoa cumpridora e responsável... é execrável.

A possibilidade de recuperar a conta existe, SE lhes der um número de telefone. (embora duvide que funcione). Ora, eu não dei um número de telefone quando foi para abrir a conta. Porque haveria de dar agora? O meu princípio rege-se pela preservação de informação pessoal.

Se querem realmente tornar possível a recuperação de uma conta roubada sem qualquer justificação ou LEGITIMIDADE, então permitam que o faça pelo meio com que a abri: conta de email.


Há uns bons anos, para poder jogar Farmville em comunidade, pois ninguém carregava nos links que precisava para progredir no jogo, a solução passou por criar contas duplas, triplas, novas...  no facebook. A única plataforma onde o jogo se encontra a funcionar. 

Era conveniente para a rede social ter este jogo em exclusivo, pois tinha imensa popularidade e o número de jogadores crescia. De tal forma, que prejudicou o mesmo. As pessoas deixaram de se ajudar umas às outras, as tarefas no jogo tornaram-se muito árduas e exigiam muito tempo. Só aqueles com mais de mil "vizinhos" conseguiam jogar o jogo e progredir. Porque alguém, entre mil, sempre carregava nos seus links. Eu e com quem eu jogava, não tinhamos sorte e tinhamos de procurar 1000 links para carregar. Depois estes passaram a CADUCAR passados dois ou três clicks de outros utilizadores. 

O jogo tornou-se árduo e a intenção era só uma: fazer com que a pessoas comprem tokens para progredir, que é o que os pais fazem hoje em dia com os jogos de fortnite das crianças, etc. Passavam-se dias e não recebiamos ajuda. Não dava para progredir ou completar uma tarefa antes do tempo esgotar. O que era muito frustrante. De gratificante, o jogo facilmente passou a frustrante. Para solucionar isso criou-se uma segunda, terceira, quarta conta... para carregar nesses preciosos links e seguir caminho. 

Por isso sei o que é ter outras contas no facebook. Nem por isso usei-as para me fazer passar por outra pessoa. A plataforma é clara: não é proibido inventar nomes, o que é proibido é dar informações falsas ou fazer-se passar por outra pessoa, seja ela figura pública ou não.

Coisa que jamais faria. 

Não entendo. Eu nem gosto de ter o perfil público. Não tenho data de nascimento à vista, não preencho as partes inquisitivas "onde nasceste? Onde estudaste? Qual a profissão? Estado Civil? Nome da escola primária, nome da escola secundária, nome da universidade frequentada, curso e grau" e todos esses excessos de invasão de privacidade. Quando é para comentar algum assunto, faço-o, mas não uso palavrões ou insultos. Não há motivos para terem feito o que fizeram.

Mas já que o fizeram, agora fiquem com ela.
E espero que se danem na bolsa, a curto e a longo prazo.

O facebook desiludiu em GRANDE.

Cuidado. Um dia vai ser o blogger...
o Gmail...

Este universo do ciberespaço é tudo menos correcto.


sábado, 5 de setembro de 2020

Os cães sobre 40º de calor e as leis do animal no UK

 

Saí da clínica em direcção ao jardim. Numa escadaria onde, na semana anterior, devido ao muito calor, sentei-me para abrigar-me à sombra, tomar um gole de água e falar ao telemóvel, vi cães. Não dois, ou três, mas quatro!

Como aquela zona do Parque das Nações tem um café com esplanada no topo dessas escadas, inicialmente pensei tratarem-se de animais com dono. Nem me ocorreu que aquela quantidade de cães fossem de rua. 

Dois repousavam à sombra, deitados na calçada. Outro estava a beber (e de que maneira!) água deixada num contentor plástico, bem ao lado do caixote de lixo onde fui despejar um lenço de papel. E o quarto aguardava, pacientemente, vez, atrás da cadela que bebia água. Quando me aproximei do caixote, a que bebia água sobressaltou-se e afastou-se. Afastei-me eu e a segunda cadela de pé aproveitou para beber água. Com a mesma ânsia que a primeira, pareciam estar com muita, muita sede. Foi então que percebi: eram animais de rua.

Alguém deixou ali um balde com água para eles saciarem a sede. E ao lado, se repararem na imagem, está um daqueles cestos que os estabelecimentos comerciais recebem, onde costuma vir armazenado fruta ou vegetais. Estava vazio mas decerto que continha comida. Para mim, quem pensou nestes animais trabalha num supermercado ou restaurante. 

Atravesso a estrada para a rotunda cheia de árvores na qual me senti tão bem na semana anterior, em direcção ao jardim da Ponte. Nisto um homem faz-me sinal. Ignoro, penso que não é comigo. Porque haveria de ser? 

-"Posso fazer-lhe uma pergunta?" - diz ele entre a máscara.

Não entendo bem o que poderá um desconhecido, naquelas circunstâncias, querer comigo, uma transeunte. Indicações? Não conheço bem a zona e ele pareceu-me local.

-"Sim?" -respondo.

-"Foi ali colocar água para os cães, não foi? Acho bem mas porque é que não colocam água aqui entre as árvores, ou ali (mais afastado?). Os cães já atacaram pessoas a sair do autocarro". 

A rotunda arborizada, onde um quinto cão devorava 
algo comestível que lhe foi deixado


O problema dele era ter os cães próximos da sua habitação. Mesmo à entrada de um prédio. Que fossem para a rotunda, ou para o passeio perto do muro... Também há ali sombra. Mas que não deixassem água ou comida perto das casas. 

(Se calhar é porque é longe para a pessoa que os lá foi colocar, não é tão prático transportar aquele peso ainda mais longe dali)

O homem pediu desculpa e afastou-se. Eu segui caminho, desistindo de ficar na rotunda por uns instantes a fazer um relato e fiquei a pensar na falta de humanização versus o sentido de propriedade. Não que ache que o homem estava contra os animais receberem um gesto que provavelmente lhes salvou a vida num dia tão quente. Mas, claramente, a sua prioridade residia em afastá-los da sua vista. 

Ontem o dia chegou aos 40 graus. Aqueles animais tinham tudo para morrer desidratados. Existiu uma alma caridosa no meio daqueles prédios para gente com dinheiro para ali viver, que lhes deixou água fresca. Parece que, hoje em dia, quem ousa ter este tipo de gestos é mais criticado que elogiado, como se estivesse a cometer um sério delito.

Duvido muito que aqueles cães atacassem fosse quem fosse. Não acreditei nessa parte da história do homem para justificar o seu interesse em mantê-los longe da vista. Os animais tinham mais medo de mim, humana, sobressaltando-se à minha passagem e aproximação, do que outra coisa. Encolheram-se ao meu ver, daquela maneira que só um animal que já foi enxovalhado e enxotado sabe reagir.


Qual é a minha perspectiva diante de animais abandonados ou de rua?
Sou a favor da sua existência e DIREITO a viver com liberdade.

Não defendo que devam todos sair das ruas. Pelo contrário. Sei que por vezes precisam de cuidados médicos mas, ainda assim, defendo o direito que têm de viver em liberdade. Tenho pena mas nunca mais esqueço de um cão vadio que fazia vida sem querer fazer parte da casa de ninguém. Para se alimentar e ter companhia, contava com um número considerável de pessoas e ele sabia a quem recorrer quando queria. Se aparecesse ferido, alguém cuidava dele e depois ele desaparecia para parte incerta. Voltando a aparecer quando lhe dava vontade.  

Prefiro um cão na rua, com possibilidade de se alimentar da caridade de muitos, do que vê-los amontoados em jaulas em canis ou saber que vão ser abatidos. Acho que têm o direito de viver soltos, tal como algumas pessoas também exercem esse direito. Penso ser desnecessário mais leis, ou melhores leis, ou mais peditórios de dinheiro para a defesa dos animais. 

Vivo em Inglaterra, onde a realidade animal é diferente, mais rígida nas leis. Um dia percebi que nunca vi sequer um gato vadio na rua.  - Nunca vi um cão ou sequer um gato de rua! A resposta que ouvi foi: "não há animais a viver na rua em Inglaterra, é considerado falta de humanidade". 

A resposta escandalizou-me pela hipocrisia

-"Mas pessoas a viver na rua já pode!"- tive vontade de ripostar.


Na cidade onde vivo, há muitas pessoas sem-abrigo. Todos os anos parecem aumentar. São homens, mulheres, jovens, menos jovens... a pedir dinheiro sem estender a mão e sempre a beber cerveja e a fumar. Tal como muitos outros que andam por ali a deambular, mas que devem ter pousio algures. A diferença é que o álcool e as drogas que estes consomem, vêm disfarçadas em garrafas de refrigerante somente no rótulo. E o sem abrigo não se dá a esse trabalho. De resto, faça chuva ou sol, dormem num chão de pedra, à mercê dos elementos da natureza.


Mas isto não é proibido em Inglaterra.

Já animais, que, ainda que domesticados, sabem viver no seu habitat de rua, não pode ser. Aposto que esta regra nasceu mais de pessoas que vêm os animais vadios como um incómodo social, uma inconveniência, algo que reflecte mal em si mesmos. Criaram então leis que nasceram disso e não na verdadeira preocupação ou amor por outro ser vivo. 

No meu entender, as leis de protecção a animais que os ingleses têm só servem para pedir mais e mais dinheiro ao trabalhador. Na TV passam anúncios de peditórios para protecção de animais e não se ficam por caes ou gatos: é burros, cavalos cegos, papagaios... Parece-me que a toda a espécie do reino animal foi atribuída uma caridade exclusiva. E todas são um poço insaciável e por isso recorrem ao sentimentalismo barato e procuram chocar as pessoas, apelando ao seu sentido de horror e possível experiência pessoal. 

Considero os anuncios televisivos de peditórios errados e pouco deontológicos. Não só usam situações extremas de sofrimento para pedir dinheiro, como definem uma quantia e logo informam que vai ser descontada MENSALMENTE. Cinco libras, costuma ser o mínimo. Ora, tentem lá separar 5 euros mensais e agora multipliquem isto por centenas de ajuda mensal e vejam quanto dinheiro não estão eles camufladamente a extorquir. Sim, porque considero que caridade é aquilo que a pessoa PODE dar, QUISER dar, QUANDO e POR QUANTO TEMPO desejar. Impor um valor mínimo e uma frequência devia ser ILEGAL. Pelo menos acho que é IMORAL.

Imoralidade é o primeiro adjectivo que uso para definir os anúncios de peditórios a animais que vejo em inglaterra, pois só mostram casos extremos. Usam imagens de animais nas piores condições possíveis de doença, cheios de trauma, feridas, sangue, sofrimento, amputações. Recorrem a imagens de um burro a carregar pesos, como se isso não fosse uma função própria para um animal, uma que o homem atribuiu a burros, touros, cavalos, bois, camelos etc, desde os primórdios do desenvolvimento, mesmo antes da mãe de Jesus montar num jumento rumo ao celeiro.

Para mim, quem usa esse tipo de situação singular para pedir continuamente dinheiro, não tem escrúpulos. E questiono muito este tipo de esquema.

Este tipo de anúncio já vai mais ao encontro do que considero correcto.
Mas encontrei-no no Youtube, está longe de ser o género que passa na TV Inglesa

Em Inglaterra, aqueles que têm animais, particularmente donos de cães, por vezes têm comportamentos de quem se acha com mais direitos. Isto pode parecer estranho, mas é o que acontece neste país em que os animais tem direitos que os donos querem fazer prevalecer. 

Uma vez ia a sair do passeio para entrar em casa, quando uma mulher a puxar três cães por uma trela, se recusa a deixar-me passar. Tive de parar e dar prioridade a ela e aos cães, porque ela não os puxou ou mudou de direcção para me ceder passagem. Coisa que em Portugal se faz por instinto e cortesia. Depois de insistir em não se desviar e ter passado, ainda me diz que os cães são para andar na parte de dentro dos passeios. Não pela margem dos mesmos. Os cães com trela não podem andar na berma do passeio?? 

Os donos de cães lá, também têm deveres. Um deles é simples: têm de apanhar as fezes deixadas por estes. Todos cumprem. O que mais temem, realmente, não é isso. Os donos de animais temem outra lei. Uma muito comum, temida por empregadores em particular: o PROCESSO.

Por isso, cada vez que um cão num parque se aproxima de desconhecidos, os donos começam a chamá-los e, caso não impeçam a aproximação, começam a jurar que eles não fazem mal e pedem sempre DESCULPAS por o animal se aproximar e, às vezes, saltar para as pernas. Ficam mesmo com aquela expressão de medo e receio. Pedem muitas desculpas, falam severamente num tom grave com os cães de estimação. 

Parece que é um crime os animais serem... animais. Têm todos de ter lições de comportamento e obedecer aos comandos do dono. Não há o livre arbítrio, não há aquela liberdade para o animal se expressar, como se um cão que vai cumprimentar uma pessoa no parque estivesse a cometer um delito. Haviam de ver o alívio no rosto dos donos quando, ao invés de reclamar e barafustar, limito-me a dar festinhas na cabeça do animal.

Este tipo de interacção só não é mal visto (ainda) se partir do humano. Se for o animal, que, como as crianças, gosta de se aproximar feliz e contente... é incorrecto. Indesejável. 

Foi até aqui que a lei para protecção dos animais conduziu a sociedade inglesa.