Metereologia 24 h

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segunda-feira, 14 de julho de 2025

Ruído, calor e confissões

 
Acabei de me lembrar que o primeiro objecto que comprei quando vim para inglaterra foi um aquecedor. Identico a este:  

Estavam por todo o lado, em todas as lojas e supermercados. Quando vi o preço: TRES LIBRAS, achei que era engano. Que tinham se enganado e quando passasse na caixa registadora iam perceber e cobrar um valor mais alto. 
Mas não. O preço mais alto que encontrei por um destes foi cinco libras. Era, portanto, realmente o valor cobrado por um equipamento eléctrico que dá para usar tanto na vertical quanto na horizontal, tem dois níveis de calor e um de ventoínha. 


ADORO-O!!

É o que tenho ligado agora, 8 anos depois, para receber algum tipo de ar fresco. É de noite - de madrugada para ser mais exata. Duas da manhã. Mas o termómetro indica que, no meu quarto, a temperatura é de 25 graus. 

O meu quarto... é a divisão mais quente de toda a casa. Mas assim, ridiculamente quente. Três vezes mais quente que qualquer outro lugar. Aqui se transpira de calor o tempo inteiro. É um quarto virado para o sol, numa construção de tijolo massiço, feita para aprisionar o calor no interior já que a maioria dos meses do ano são de frio. Tem o telhado, que é outra fonte que retém calor, mesmo por cima da minha cabeça. E debaixo da janela, outro telhado, para reflectir ainda mais calor para uma divisão já de si quente como a primeira porta de entrada para o inferno, que fica a quilómetros de distância da "mansão" do demo. 

Tenho quatro ventoínhas ligadas - sem grande diferença. Abri a janela mas... os insectos logo começaram a aparecer. Sabiam que o mosquito é o animal mais mortífero para o ser humano? Pois então... depois de ler isso, ainda quero menos ter insectos dentro de casa. Nunca gostei de insectos em casa. São inoportunos, incomodativos, estão sempre a esvoaçar à frente da tua cara, a posar onde está mais húmido: as tuas narinas, os teus olhos ou a tua boca. NOJENTO! 

E mordem! Sugam-te o sangue. Para ser mais exata, o mosquito, monido de seis agulhas bocais, com duas serra-te a pele, com outras duas separa as extremidades para expôr o golpe, com outra insere saliva e virus na tua corrente sanguínea (se for transmissor) para então, com a sexta, sugar o teu sangue à vontade. Só as fêmeas mosquito mordem. Sugam o teu sangue para poder produzir muitos ovos que vão abandonar num lugar húmido algures na tua casa. E depois nos queixamos que temos uma praga de mosquitos que não se conseguem eliminar. Pois!! 

O primeiro passo para o impedir é não os deixar entrar. E não deixar que metam ovos, para os quais precisam de sugar o TEU sangue. Então, que haja calor... uma pessoa opta por este martírio porque a alternativa, subitamente, é bem pior. 

Depois lembrei-me porquê comprei o aquecimento. Foi, claro, para aquecer um pouco o quarto frio e húmido onde morava na primeira casa. Tinha um radiador, mas eu não suportava o efeito que me causava. Não gostava dele. Parecia queimar quase todo o oxigênio da divisão. Me deixava a sentir grogue e a almejar ar fresco. Depois, gosto de calor em doses muito pequenas. Ligava o aquecimento e desligava pouco depois. Contudo, teve uma dupla utilização que acolhi com muito prazer. É que quando tinha o cabelo molhado e era melhor secar, caso contrário podia ficar doente, este aparelho é bem mais silencioso que um secador. 

Nunca gostei de secar o cabelo com secador. NUNCA. 

Cada vez que mo faziam era um sofrimento. Para começar, o calor em si... a queimar-me o coro cabeludo... tortura. Mas o pior mesmo é que nem um minuto de barulho consigo aguentar. Os secadores são máquinas altamente ruidosas. E nunca aguentei muito. Foi sempre um sacrifício sem fim, quando ia ao cabeleireiro, ouvir aquele zumbido ruidoso. Diria que tortura para os sentidos. 

Concluí que sou uma pessoa talvez com maior sensibilidade a certos decibeis de ruído. Porque não me agrada ruidos corriqueiros. Lembro-me que depois do covid, quando se levantaram as restrições e as companhias aerias puderam retomar os voos, das primeiras vezes que escutei o ruído de um avião a preparar-se para a decolagem foi... incómodo. 

Agora já me habituei. Até procuro saber de onde vem. Sempre vivi perto de aeroportos e é um ruído que me era conhecido. Contudo, deixou de existir por um periodo de tempo e quando regressou descobri que, afinal, gosto muito mais quando não há ruído de todo a soar como um trovão pelos ares.

Sou sensível aos ruídos do dia a dia. Desagrada-me em particular o ruído de motores. Agora que os transportes estão a virar eletricos acho que isso não vai mudar, porque o zumbido do eletrico é uma coisa irritante... mudam o fuel, não eliminam a poluição sonora. 

Percebi também que faço uma viagem muito mais tranquila e permaneço mais facilmente de bom humor e bem de vida, se usar uns tampões para eliminar parte desse ruído. E sabem que mais? Escuto MUITO MELHOR os sons que é suposto escutar se tiver tampões nos ouvidos. Parece até que a fala das pessoas fica mais nítida. Música, se a colocar a tocar, escuto-a melhor. É como se o tampão - que neste caso não passam de uns velhos auscultadores de fio desconectados, filtrassem o ruído incómodo, reduzisse a sua amplitude e tornasse os sons que são para escutar mais nítidos. 

E vocês? Como sentem os ruídos do dia-a-dia?

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

O funcionamento do cérebro

 O avião de passageiros passa por cima das nossas cabeças a pouca altitude. E começa a ter um voo errático. Não se equilibra, parece estar a lutar para tentar se manter e elevar. Nisto ganha velocidade e parece que vai conseguir, mas ainda tem um comportamento errático. Subitamente sobe a pique. É aí que acho que não vai conseguir. Mas ainda espero que vá. O avião volta a voar na horizontal mas não ganha altitude e parece não conseguir velocidade, podendo estagnar. Há medida que se afasta do nosso olhar, dá-se um barulho enorme e peças de avião saídas de uma nuvem de fumo e pó bem distante voam na nossa direcção. Caem há nossa frente, embatem atrás, como se fossem mísseis.

Aconteceu em Lisboa, acima da segunda circular. 

Ainda tenho tempo de ver cadáveres presos com cinto às suas cadeiras a serem dobrados ao meio para de seguida serem enfiados numa espécie de caçamba de um veículo negro. É altura de sair dali - estão a gritar com autoridade. "É proibido tirar fotografias" - sublinha alguém quando ainda tentei filmar o acontecido. Um jovem homem negro morto, ensanguentado e mutilado é também enfiado dentro do veículo. É um cadáver não atarraxado a um assento, foi transportado numa espécie de lona negra. 

Há também vítimas em terra. Onde terá embatido? Que bairro? Que pessoas?

Tenho de sair. Estão a ordenar. Estão a puxar. Estão a gritar.


E acordo.


Caramba!!
Já tinha percebido que o meu cérebro recorre a este género de truque para me forçar a despertar e ir ao WC. Mas fico espantada com a sua escolha de método e narrativa! Quando ele me avisou a primeira vez - deixando-me sentir aquela "dor" feminina na região do ovário, ignorei. De seguida ele me enviou a sensação da descida da menstruação. Por causa dela, no sonho, era agora urgente ir ao WC. Mas eu ignorei. Quis continuar a sonhar, mesmo na condição de menstruada. Não queria despertar e descobrir que era verdade. O cérebro então, fez-me o que sempre faz: parte para um pesadelo daqueles pesados.

E lá fui apressadamente para o WC, como ordenada por Ele, ainda meio grogue de sono e a bater pelas paredes, tentando não tropeçar em nada, mentalmente ainda em choque e a pedir a Deus para não permitir que um cenário como o que sonhei venha a tornar-se realidade. 

Com o cérebro não se brinca. 

Ele enviou uma primeira mensagem para despertar e ir urinar. Um comando simples. Eu não gostei e ignorei. Ele causou um desastre de aviação, fazendo-me sentir cada momento. 

Há medida que me dirijo para o WC, vou tomando noção da realidade que me cerca. Percebo que a única novidade sentida durante o sono que é agora real é a "dor" da sensação de "menstruação para vir". Conto com ela daqui a sensivelmente 10 dias.

Felizmente, nenhum avião se despenhou, após levantar voo, na cidade de lisboa, próximo da segunda circular, lá para os lados do Jardim Zoológico. Foi só uma mentirinha mázinha do meu cérebro para me despertar e forçar a ir ao WC.

Aqui vos deixo este alerta, caso nunca tenham percebido como o cérebro faz para vos informar que têm de ir cumprir uma necessidade básica orgânica enquanto estão adormecidos. Ele vos enterra em pesadelos!

(mas depois vos faz esquecer tudo... é uma espécie de progenitor protector: deixa arder e depois sopra)


sábado, 22 de setembro de 2018

Sou tão inventiva!


Não pude deixar de sentir um pouco de um vaidoso contentamento pela minha engenhosidade. 

Vou partilhar convosco a história. Mas primeiro, um pouco de blá, blá, blá para a contextualizar.

Gosto de criar. Reciclar materiais, etc. Quando passeio na rua e vejo uma pedra, um pedaço de tronco, alguma coisa que me chame a atenção, sei que aquilo pode ser aproveitado, transformado e tornado noutra diferente, bela e desejável. 

Sou assim desde criança. Mas refreio-me. Não tendo oficina nem nada que se pareça, não posso agarrar tudo o que me chama a atenção e armazenar. Por isso deixo a maioria das pedras, troncos e coisinhas mais para lá... todos esperam "o dia".


Ao longo dos anos, tenho aproveitado esta minha necessidade de criar e ser artística (cof, cof) escoando essa criatividade para as alturas de presentear alguém, fazer embrulhos, decorar a árvore de natal, oferecer uma lembrança, etc. Sem ter dado conta, toda a família e alguns desconhecidos têm pelas suas casas coisas feitas por mim. Sou uma nódoa no desenho e na pintura - mas até isso existe, algures. Não que tenha particular gosto no resultado, mas muito prazer na execução. Pintar é uma aprendizagem contínua. 

Em suma, de vez em quando, preciso e tiro prazer em "inventar" coisas a partir de nada ou pouco. A minha capacidade criativa diminuiu bastante com o tempo mas, recentemente, achei que seria uma boa ideia meter as mãos à obra para criar uma bagagem.

Vou passar uns dias a Portugal e aqui comigo só tenho uma pequena mala e uma grande, de porão. Uma é pequena demais, a outra grande. Como a viagem inclui apenas uma mala de cabine e na volta pretendo trazer a média, decidi pegar numas caixas de cartão e fazer uma «mala» com dimensões mais aceitáveis. Pesquisei então quais as dimensões que a easyjet, companhia que vou usar, aceita: para malas de cabine são 45X25X56cm.

E sem limite de peso!

Venceu o bichinho pela criação, pela experiência, pela tentativa e a expectativa do resultado. 

Em dois dias concluí a "obra". O resultado surpreendeu-me. 

Não esperava NADA decente. Só queria um invólucro satisfatório. Tenho visto pessoas a viajarem com todo o tipo de coisa - inclusive simples sacos de plástico ou aqueles tipo cesta, que se vêm nas feiras. E pensei que uma caixa sempre dá um pouco mais de descrição e chamaria menos a atenção.

Mas agora que está concluída tenho receio. Não parece passar despercebida, por causa das dimensões. E nem sequer a decorei ou pintei com várias cores. Forrei-a com sacos plásticos para o lixo e outro que recuperei de uma encomenda, em material mais resistente (sempre reciclar). Agora que a tenho à minha frente, acho que chama bastante à atenção. Porque é enorme!! 

esquerda: Mala de porão
Direita: mala feita por mim com as dimensões de cabine
Minha gente, estamos todos a ser enganados com esta coisa de viajar com malas padrão todas iguais. A maioria do peso e do espaço é ocupado pela armação das bagagens em si. Sempre achei aborrecido passar do peso e sentir que não levo quase nada. Peso aqui não é a questão, mas volume é. Como tenho de transportar umas coisas compridas e volumosas, malas para roupa não adiantam nada. Criar uma caixa de raiz era a solução.

E que solução!
Agora nem sei que mais la enfiar dentro. Ahahah.
Reparem: à direita na imagem, está a caixa que fiz. Tem as dimensões aceites pela companhia aérea. Mas nem parece. Na realidade, até tem um centimetro a menos no que respeira à "largura". Ainda bem que assim é porque já a acho enorme. Cinco centímetros, afinal, fazem mesmo diferença.

E é assim que estamos a ser "roubados" nas viagens. Quantos não têm de pagar uma fortuna porque a companhia aerea não aceita as dimensões da sua mala? Eu sei, vi acontecer. Uma senhora contou-me que pagou 100 libras (!!!) porque a mala tinha 1.200g a mais de peso e as rodas não cabiam no cubiculo... Ridículo, roubo. Mais vale deitar fora a mala e enfiar tudo numa caixa de cartão ou num saco.

 Pretendia descartá-la mas agora acho-a a coisa «málinda» eheheh. E útil. Mal dá para ver na imagem mas acabei por instalar uma alça (reaproveitei uma daquelas em plástico, ou então também servia de cordão - é outro elemento que sempre achei de utilidade e gosto de armazenar) e criei um sistema de "trinco" de forma a que, se necessário, possa abrir a mala para ser inspeccionada e voltar a fechá-la novamente. Não é linda?  Bom, mas o meu contentamento criativo de à momentos não surgiu pela criação desta bagagem.

Surgiu pela ideia que tive a seguir.

Consciente de que, se calhar, devido à capacidade de armazenamento proporcionado pelas dimensões o problema seria transportar esta mala cheia (muito peso), ocorreu-me adicionar-lhe umas rodas que depois pudesse tirar. Mas como fazer isso? E sem custos?

A escolha:

AHAHAH!
E vai resultar, tenho a certeza absoluta!

Adicionar um carrinho de brinquedo e uma cinta... de génio!
Não pude deixar de sorrir pela minha engenhosidade. 



terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Pensamentos absurdos e coisas soltas


Estou a aguardar que as horas passem. Vou entrar no avião rumo ao país que me viu nascer dentro de umas horas. Entretanto, continuo com a tosse. Esta impede-me de dormir de noite, ou de dia... Faz já o quê? Semanas e semanas. Claro, dormito alguma coisa, faço por descansar, mas dormir? Esta madrugada por exemplo (ou melhor, a anterior), cheguei a casa depois das 3 da manhã, por volta das 4 e tal fiz por adormecer mas às 6.30h já estava a fazer lides domésticas pela casa. Nesse tempo dormi um sono contínuo? NÃO. 

Acho que fui despertando mais de 40 vezes. Foram tantos despertares que julguei que já se tinham passado umas 4 horas e ter conseguido dormitar umas quatro. Afinal, foram minutos apenas. 

Claro que, quando tenho algum tempo livre, como foi o caso do dia de ontem, tento fazer alguma coisa, sair. Mas nestas condições não tenho energia para essa «ousadia». Ainda assim tentei. O espírito quer, o corpo rejeita. Ás tantas, o caminho de volta até casa, embora curto, pareceu muito distante. Ao atravessar um parque e passando pelos bancos de jardim quase sempre vazios, decidi simplesmente sentar num e descansar uns minutos, para depois continuar a marcha sem esta exigir o esforço que estava a tirar de mim.

O curioso é que aqui é comum os bancos terem uma placa. O jardim é um memorial, não sei bem a quem, então cada banco tem o nome de alguém que morreu. Sempre achei este hábito americano/inglês algo estranho. Você se sentaria num banco que parece um túmulo porque tem uma placa com o nome, data de nascimento e data de falecimento de alguém? Lembra demais uma pedra tumular. É como se... uma pessoa fosse sentar em cima de um túmulo. No mínimo, a pessoa é forçada a recordar ou a partilhar da morte de alguém. 

Então olhei para a placa. Quis saber, por curiosidade. Achei que ia encontrar um nome de um falecido de há muitos anos mas descobri que não. Fui sentar no banco em homenagem a um falecido que, se fosse vivo, seria mais jovem que eu. Nasceu depois de mim, faleceu há 15 anos. 

E veio este pensamento à tona: «nunca sabemos quanto tempo temos. Os pais deste não podiam imaginar, ele não podia saber que não ia viver muito. Uma pessoa nunca sabe. Não sabe a sua hora. Posso estar a pensar nisto e sem saber vir a morrer amanhã.».


E agora vou enfiar-me num avião. De uma companhia que nunca antes tinha ouvido falar. E não são sempre esses que caem? 

Bom, já sabem...
Se não me voltarem a ler, sabem o que aconteceu.
Chegou a minha hora! Kkkkk.

+++

sábado, 22 de outubro de 2011

Andar de avião - experiências

Ao longo da vida viajei poucas vezes de avião (15 no total) e desta última vez descobri que não gosto muito da experiência. A começar pelos aeroportos. Já perceberam o ambiente dos aeroportos? Algo ali não está bem.

Na última vez que viajei a coisa começou a correr menos bem logo no balcão de atendimento. Um homem que pertencia ao aeroporto  - embora não tivesse ficasse claro se era segurança ou se era o flirt da rapariga atrás do balcão já que com ela e com outro indivíduo ali tagarelava - viu-me aproximar a pedir informações e adoptou uma postura de gozo. Estive quase para demonstrar o meu desagrado pela falta de respeito do senhor, que até me chamou um nome menos agradável entre risadinhas, como se eu e ele já nos conhecêssemos de longa data.

Normalmente não me perco quando existe sinalização bem colocada, mas naquele dia a coisa não estava fácil. Talvez porque ainda era de madrugada e a iluminação era deficiente, não sei. O mal-educado ainda me disse, a gozar, que estava a fazer-me um favor e que eu não o enganava porque "tinha visto muito bem que eu havia passado à frente de todas as pessoas da fila". Que fila? - pensei eu. Decerto estranhei que a única fila existente estivesse um tanto afastada daquela balcão, mas como no bilhete vinha o número daquele, não me dirigi a outro. Tive o cuidado de contornar o cordão de segurança e entrar pela abertura, mesmo tendo visto um homem abrir a fita e passar directo sem a contornar. Até pensei que aquela zona ainda estava fechada ao atendimento, embora estranhasse isso acontecer em aeroportos. Mas como a zona estava cheia de cubículos mais vazios do que ocupados e era mal iluminada, se calhar tinham acabado de iniciar função.

Fazia algum tempo que não viajava e já não me recordava dos parâmetros. Esta experiência não veio ajudar a ficar com uma boa impressão. O homem observou-me enquanto me afastava e manteve o seu ar juncoso. Fiz questão de procurar a sinalética que ele indicou. De facto, muito depois daquele balcão e completamente fora de visão por se encontrar atrás de um grosso pilar, estava no chão um daqueles postes plásticos com um papel e uma seta. Não esperava algo tão deficiente e amador no principal aeroporto do país, mas enfim...


Primeira lição que tiro com esta experiência: As pessoas que trabalham em aeroportos são desconfiadas e preferem tratar primeiro com desrespeito e desconfiança os passageiros.


Retiro esta conclusão de todas as outras experiências que tive. Tirando a primeira vez, (antes do 11 de Setembro) em que vivi episódios singulares mas positivos de recordar, acho que tive sempre experiências estranhas em aeroportos ou aviões. Numa ocasião em Amesterdão quase vivi um desacato porque a pessoa que estava a fazer o check-in tratou o meu grupo como se fossemos hollygans. Fingiu não ouvir a nossa nacionalidade e pediu para a repetir-mos. Estranhou o nosso cartão de identidade. Não nos olhou na cara uma única vez e não respondeu ao nosso cumprimento inicial. Depois iamos para entrar no avião e manda-nos recuar, dizendo que estávamos a passar à frente dos passageiros que têm de entrar primeiro: os VIP. Foi grosseira e logo nos ameaçou de não nos deixar entrar no avião e obrigar-nos a ficar no aeroporto. Não hesitou em partir para a agressão e intimidação, o que me deixou atónita!

Fiquei tão mal impressionada que fiz a viagem toda em silêncio, mas notei os olhares fixos das hospedeiras de bordo, que me tomaram como desordeira. Logo eu, que sou tão pacífica! Fechei os olhos e quis dormir. Na hora de servir a refeição estava de olhos fechados mas mexi-me. Elas passaram por mim sem me tocar no ombro e perguntar se queria tomar alguma coisa. Não fui servida. A pesar de tentar aguentar até chegar ao destino, tive de me erguer para ir ao WC, e nessa altura os olhares das hospedeiras voltaram a cravar-se em mim e uma delas começou a andar na minha direcção, seguindo-me até o WC. Este episódio foi tão marcante que, chegada a casa comecei a escrever uma carta a narrar os acontecimentos e a condenar a atitude da tripulação, tanto em terra quanto em ar. Informei-me online e fui ao aeroporto entregar no balcão a carta de reclamação. Estava indignada!

A falta de educação e o desrespeito imediato pelas pessoas fez-me deduzir que a maioria dos funcionários de aeroporto perderam a noção de como se faz um bom atendimento ao cliente. Julgo que isso se deve porque têm tanto temor de terroristas, que perderam a noção que a todos devem tratar com respeito e cordialidade. Desconfiam logo dos actos e das pessoas, gozam, intimidam, ameaçam, como se todas as pessoas estivessem ali com más intenções.


Desta última vez em que viajei, constatei que o ambiente dentro do avião também mudou consideravelmente. Já viajava um tanto triste porque na viagem anterior tinha pedido um sumo de laranja à hospedeira quando esta os estava a distribuir, mas este não apareceu. Sou daqueles passageiros que não gostam de incomodar, pelo que fiz a viagem inteira cheia de sede. Muita sede! Não nos deixam levar garrafas de água connosco -pelo menos assim pensei, mas logo vi alguém a carregar uma. Só pensava que seria a primeira coisa que ia fazer ao sair do avião! Ainda por cima o ar condicionado estava tão forte, que mesmo tendo fechado todas as aberturas de ar à minha volta, sentia-me a congelar. Não foi uma viagem confortável mas nem chamei as hospedeiras ou estas vieram ter connosco a perguntar se precisávamos de algo. Quando pisei fora do avião, ah! O SOL!! O abraço caloroso do sol restituiu a energia de volta às células do corpo :)!


No regresso aconteceu o mesmo: o hospedeiro (um homem) passou por mim e eu lá disse: "Desculpe, se faz  favor..." mas ele não ouviu, acho eu, e achei isso tão estranho! Lá continuei com sede... Esta viagem foi também diferente por outros motivos: foi a primeira vez que os meus ouvidos reagiram à mudança de pressão, tendo vibrado bastante. E tive de lidar com comportamento das passageiras atrás de mim, um grupo de adolescentes italianas, barulhentas e irrequietas. Não paravam de dar pontapés e empurrões no meu assento. Falavam alto, puxavam o assento e eu estranhei muito este tipo de comportamento ser aceite dentro de um avião! Parecia mais uma creche! Podia jurar que a miúda atrás de mim estava numa de me pregar partidas, daquelas de mau gosto, porque sentia quando ela se levantava do assento e depois sentia algo tocar nos meus cabelos. Como se tivesse a atirar para cima de mim o conteúdo que a levava estar a "inspeccionar o interior do nariz com os dedos". Quando olhava para trás, ela parecia fingir-se de despercebida e dava muitas risadas com as colegas. Tal e qual uma adolescente que se elege a "palhaça" do grupo e as gracinhas são pregar partidas a outros, achando que isso a torna mais popular e especial.

Foi uma viagem estranha e eu só desejava que acabasse logo! Bem... decidi retaliar e pregar-lhe uma partida. Já que estava a ser tão desrespeitosa e os hospedeiros a bordo nada faziam para as acalmar, à terceira ou quarta vez em que a miúda enfiou o pé por entre a janela e o meu assento,  tocando-me no braço, decidi que merecia uma surpresa. E, com uma esferográfica, fiz-lhe um desenho na biqueira do ténis. Isto sim, uma brincadeira bem colocada, porque era merecida! Achei que ela não ia olhar para os pés até se descalçar, mas depois percebi que podia, no meio de tanta agitação, perceber e chatear-se, mas não resisti. Fiquei contente por retaliar com humor! Desde que não percebesse que estava a desenhar naquele instante, os riscos podiam ter ido parar aos ténis em qualquer altura, se calhar até como partida das colegas... Só é pena não saber nenhum palavrão em italiano e não ter desenhado um símbolo grosseiro!



Chegada ao aeroporto, voltei a passar pelo cordão de fitas colocado de forma a ser um corredor em forma de serpentina. É chato andar às voltas numa pequena sala, para frente e para trás, quando atravessá-la a direito levaria metade ou mesmo 1/3 do tempo. Mas todos os passageiros têm de passar por aquilo, ás voltas e voltas... porque será? É para reconhecimento facial? Não entendo, não aprecio, mas temos de seguir esta e muitas outras regras dos aeroportos e das viagens em aviões comerciais...

Concluí então que não me agrada viajar de avião. Parece que estou a entrar numa ceita! Pode ser stressante, principalmente quando se leva com o stress dos outros. É uma pena que as viagens de navio tenham caído em desuso! Atravessar o oceano não é rápido, mas deve ser tranquilo. Será?