domingo, 23 de setembro de 2012

O quadro

Estava a olhar para um quadro feito por mim e lembrei de outros tantos parecidos que criei para oferecer à família. Depois surgiu-me uma lembrança: tive um tio pintor. Quase nada sei dele. E se não fossem pelos quadros, talvez nada existisse que provasse/lembrasse a sua existência/passagem por este mundo. Estou mesmo a ver que um dia, também eu não serei nada nem ninguém na memória dos que cá andam. De mim só sobreviverá o que de material criei.


sábado, 22 de setembro de 2012

A agenda de telefones

A agenda de telefones lá de casa é velhinha, tem alguns anos mas é lá que estão os números de telefone de muitos conhecidos. Um dia fui buscá-la para encontrar um contacto e começo a folhear, folhear  (porque além da «velhice» outra característica da agenda é que nem tudo surge apontado na ordem alfabética) e vou lendo os nomes. De pessoas com quem já não lidamos, de muitos que se sabem perdidos por terem falecido e que simplesmente levaram com um traço por cima, de instituições, consultórios médicos e ex-empregos que já não servem a ninguém...

Marquei o número que queria, esperando ter a sorte de estar correcto e da pessoa não o ter alterado ou dispensado. Chamou, chamou, mas ninguém atendeu. E desliguei o telefone com um só pensamento: espero não ter de lhe colocar um traço por cima!

:)


sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O que mais queres na vida?


Não sei se se lembram mas «antigamente» quando alguém nos perguntava o que mais queríamos na vida, ficava mal dizer “quero ser feliz”. Parecia que isso seria uma admissão que não o éramos e essa exposição de fragilidade não era recomendável, pelo menos na adolescência. Ia gerar comentários do tipo: «Ahahah», «porquê? Não és?», «Tens algum problema?» e a temível: «O que se passa?».

Mas a internet veio mudar tudo isso. Quem não sabe do que estou a falar não vai saber entender. Só passou a ser aceitável assumir assim os sentimentos mais secretos e íntimos quando a blogosfera os tornou públicos em massa e depois vieram os blogues.

Não que não se pudesse dizer que se queria estar em paz, em sossego ou mesmo em felicidade mas não como resposta à pergunta directa e frontalO que mais desejas na tua vida”? A esta o habitual era mencionar os desejos materiais. Ninguém te ia aborrecer se a resposta fosse algo do género “quero comprar um carro”, “ter uma casa”, “casar” etc. Mas jamais «ser feliz». Era um pouco TABU.

Então das vezes que me atiraram com essa pergunta à cara, assim de froche, respondi qualquer outra coisa com um sorriso aparentemente normal nos lábios. Também posso ocasionalmente ter desconversado («sei lá») e minimizado a importância da pergunta e da resposta, recorrendo à ironia e brincadeira. A verdade é que, nem por uma única vez, disse o que realmente mais importância tinha para mim. A resposta sempre foi «SER FELIZ».

E enquanto a pessoa ia de rosto em rosto fazer a mesma pergunta, ninguém ousava responder: «ser feliz». Vinham os carros, as casas, o dinheiro, os bens materiais e as ambições profissionais e económicas, mas jamais esta que, para mim, é a verdadeira e imutável ambição.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Onde estavas no dia 11 de Setembro?


Lembro-me perfeitamente do que estava a ser para mim o dia 11 de Setembro de 2001 e como fiquei a saber o que estava a acontecer nas duas torres World Trade Center. Foi a primeira coisa que me gritaram quando entrei em casa: "Sabes o que aconteceu? Dois aviões bateram nas torres gémeas em Nova Iorque. Anda cá ver. É a sério, está a dar na televisão".

De início nem entendi sobre o quê estavam a falar. Perante a insistência e o relato do pouco que se sabia que havia acontecido, lá olhei para a televisão e a imagem que aparece é a de uma torre em chamas, com muito fumo.

Não parecia real e demorou a assimilar. Parecia uma cena tirada de um dos muitos filmes-catástrofe americanos. Parei a respiração ao ver aquilo e fiquei mais triste. Qualquer tragédia que resulta na perda de vidas humanas é triste e lamentável em qualquer parte do mundo.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Experiências num TAXI




Não aprecio andar de Taxi. Não consigo sentir-me à vontade e das poucas vezes em que o fiz, o motorista mostrou pouca ou nenhuma simpatia.

Uma das primeiras vezes foi numa mudança de casa, em que foi preciso levar até a TV... o tipo ficou chateado porque não gostou da distância do percurso e começou a dizer que tinha de cobrar mais e que fazia um favor...


Da segunda vez foi do aeroporto para casa e o mesmo aconteceu. O taxista foi muito resmungão e reclamou bastante, deixando cair pesadamente as mãos no volante, dizendo que os taxis do aeroporto não servem para fazer curtas distâncias e que o estava a fazer perder outros clientes.

Da terceira e mais longa distância, o taxista perguntou-me se conhecia a morada e ao ouvir um "não" de minha parte, «enganou-se» no caminho que queria seguir e escolheu o trajecto
que até eu que não conhecia a morada mas conhecia aquele traço de estrada, sabia que era o PIOR caminho para se escolher. ELE, taxista, NÃO SABIA, e por isso o taxímetro continuou a contar enquanto eu impacientemente esperei que a viatura se livrasse dos semáforos vermelhos que abriram e fecharam três vezes antes de os conseguir-mos passar. Ter feito o que restava do percurso a PÉ teria sido mais rápido e económico.
Passados os semáforos, o taxi faz uma curva e chega ao destino. O caminho que ele não escolheu, não tinha semáforos...

Mais recentemente com duas crianças para uma ida ao cinema, o taxista não disse uma palavra e chegados ao destino diz apenas o valor que o taxímetro marca. Entrego-lhe o dinheiro e ele o troco, com menos 0.5 cêntimos. Há saída uma das crianças murmurou o que achei que só eu tinha percebido: "o homem do taxi ficou com 5 cêntimos para ele" - afirmou genuinamente surpreendida.


Ainda que pretendesse arredondar o valor, o facto de ter sido o taxista a fazê-lo de livre vontade não abona a favor da integridade na profissão de motorista de taxi. Ainda que se esteja a falar apenas de 5 cêntimos, acontece que foi exactamente esse o valor que me faltou na bilheteira do cinema para completar o pagamento! É para que se veja que 5 cêntimos é um valor baixo, mas pode fazer a diferença.


Quanto aos motoristas de taxi, de facto não guardo as melhores das impressões por aqueles poucos que me calharam e não aprecio mesmo recorrer a um taxi para me deslocar. A atmosfera é demasiado intimista e a proximidade pode virar constrangimento em certos momentos, especialmente se existir um silêncio incómodo. Quando em comparação com o autocarro, o taxi perde por não poder facultar uma atmosfera de abstracção e distanciamento.

O curioso em todas estas situações que relatei, é que a todos estes taxistas resmungões e aldrabões acabei por dar gorjeta de 2 euros. Porque o fiz? Ainda não sei... talvez para que lhes pese na consciência e talvez porque era a última vez que a eles ia recorrer.

Para me compensar deste desalento, numa ocasião apanhei um taxi e o motorista foi muito prestativo. A distância, essa, era bem considerável, tendo no final pago uma corrida de cerca de 30 euros. Por isso não posso dizer se uma coisa está relacionada com a outra mas a verdade é que acabei por recorrer aos serviços deste taxista mais vezes, recomendei-o a outras pessoas e simpatizei com ele. Mostrou-se sempre simpático e cumprimentava-me ao me ver passar. Foi tão marcante que disse a mim mesma que, se um dia viesse a ganhar o prémio do euromilhões ia dar 100 euros àquela pessoa, só por ter sido prestativo como foi. O engraçado é que umas semanas depois recebi um outro gesto de grande prestatividade de um outro motorista de autocarro e graças a este, decidi fazer uma aposta. Os números que escolhi saíram no sorteio, mas na azáfama do trabalho havia deixado o boletim semi-preenchido em casa. É irónico mas ainda espero ter novamente esta oportunidade, pois caso ganhasse um grande prémio tenho a certeza que ia fazer questão de retribuir.