terça-feira, 31 de março de 2020

Sem descanso mas satisfeita

Ele usa calções para deixar à vista de todos as tatuagens que fez atrás das pernas. Percebe-se que são rostos. Um em cada barriga dos seus membros inferiores. Nãl. Só hoje percebi o que ostenta. Ambos os rostos são o do David Bowe.

O meu ❤ estremeceu um pouco com tristeza
 É que nunca cheguei a falar-lhe do Bowe jovem, estranho e inseguro que posteriormente encontrei no youtube. Um jomem claramente "patinho feio" com maus dentes e sem graça, a dizer parvoíces e a segurar um adereço do qual não necessitava só para se resguardar e se proteger do do mundo exterior e da idolatria.  Contudo, havia algo especial naquele esquisito que não se achava especial mas procurava o esconder. Ele encontrou o meio certo, na altura certa para chegar onde chegou. E hoje há pessoas que tatuam a sua cara de "patinho feio" inglês nos seus corpos.

O "meu" inglês "patinho feio" era um David Bowe em bruto. Fora de um meio criativo, tal como eu. Mas de natureza idêntica.

Gostava de lhe ter dito isto. Tive, contudo, oportunidade de lhe dizer que a sua despreocupação com o que julgam de si e indiferença era só uma máscara para se proteger de ficar magoado. O rosto dele transformou-se dizendo-me que o surpreendi por o ler tão bem.

Aceito. Não tinha de ser e não foi. Mas porra! Que desperdício de algo que podia até ter durado pouco mas tinha tanto para ser  intenso e enriquecedor.


PS: O Corona está a dar-me muitas horas de trabalho. Turno de 12h começa após umas parcas horas do que eu espero poder vir a ser um sono ininterrupto. Lamento não ppder visitar as vossas casinhas com maior frequência. Escrevo este post enquanto caminho na rua em direcção a casa.  Mas agora vou ter de prestar mais atenção ao que me rodeia, porque nas sombras da noite escondem-se perigos em forma de gente. Como os dois ciclistas de ontem que me seguiram desde o parque de estacionamento. A verdade é que, numa situação de recolher obrigatório (ainda que anedótico) qualquer pessoa com que te cruzes na rua tem altas probabilidades de estar "up to no good".

Adio a actualização sobre a colega cheia de dramas para outra oportunidade. Fiquem bem, fiquem em casa.

Portuguesinha


segunda-feira, 30 de março de 2020

Que confinamento?


O Corona está a dar-me emprego.
Esta semana vou trabalhar 8h por dia, de segunda a sábado.

A «quarentena» não vai ser para mim.
Tinha comprado tintas e telas, não fosse o caso de me sentir meeeeesmo sem nada para fazer. Mas não tem sido nada assim. O tempo corre depressa demais e quando vou a ver, não fiz nada do que pretendia. E principalmente, não descansei. Dormir nesta casa é quase impossível. Nunca tenho mais de 3h seguidas de repouso. Pareço um zombbie. Mas sempre foi assim e o que se torna rotineiro acaba-se por aceitar. Não posso mais queixar-me das olheiras, elas surgiram por décadas mal dormidas. Pelo que têm razão de existir.

Percebi que não vou ser uma das pessoas privilegiadas, que podem fazer quarentena e são pagas para ficar em casa. Acreditem: é um privilégio. Muitos encaram como uma sentença de prisão mas tem de se trabalhar o cérebro para que este não conclua extremos. Daqui a 10 minutos tenho de sair. Para caminhar uma hora e não chegar atrasada. Vou de máscara, boné, luvas, casaco. O habitual. Irei também cruzar-me com muitas pessoas, umas a passear o cão e os filhos. Não ficam nos quintais de casa, têm de sair do seu espaço privado e íntimo. Espaço esse que aposto, era o mais desejado quando não se viam confinados a ele.

Enfim...
Desculpem, mas agora tenho de ir a correr!

Fiquem bem.
Fiquem em casa,

De quarentena num espaço desagradável


Vocês não sabem, mas o quarto que alugo ainda não está totalmente terminado da remodelação que sofreu em Dezembro. Para os que não sabem, enquanto viajei para Portugal para lá passar o Natal, o senhorio ficou de derrubar uma parede, para aumentar a área da divisão. Disse ele, várias vezes, que era algo simples e rápido de fazer. Não ia demorar mais que um dia. Duas semanas depois, quando regressei de madrugada, o rosto dos meus colegas de olhos esbugalhados ao me verem, disse-me tudo. Esperavam que eu ficasse aborrecida, porque o quarto ainda não estava pronto. Não tinha sequer a cama montada. Foram precisos mais dias para terminar e pintar as paredes. Eu não fiquei fula. Decidi ser compreensiva e esperei, paciente. 

Só que já estamos em Abril (praticamente) e a minha paciência esgotou-se. Foi substituída por nervos. Nestes quatro meses foram inúmeras as vezes que mencionei ao senhorio que precisava, em particular, de ter as prateleiras montadas. Deixei claro que o resto podia esperar, mas as prateleiras eram vitais. Tenho muitos livros e objectos para ali colocar. O que for a arrumar no restante espaço vai depender do que conseguir enfiar naquele. Pedi-lhe tanta vez com jeitinho, ofereci-me para o fazer eu mesma, ofereci-me para pintar as tábuas que tapam a canalização de branco - porque ainda nada disto foi feito. Tudo o que ele fez de lá para cá foi aparafusar as tábuas que tapam os canos junto ao chão. E isto por malícia, pois tinha-lhe sugerido que as fixasse de modo a que a de cima pudesse ser removida e expliquei porquê: por causa do barulho de pancadas. As águas ao passarem pela canalização, produzem um som de semelhante ao do uso de um martelo. E eu descobri quando me pus a limpar o imenso pó que os canos tinham que, aplicando ligeira pressão entre um tubo e outro, esse som desaparecia. Volta a aparecer, mas, voltando a aplicar uma ligeira pressão, é impressionante como o som de batidas vai embora. Acho que é uma razão bem válida para deixar uma tábua presa com fechadura e não com pregos.

Quem é que gosta de dormir num quarto no qual, cada vez que alguém vai ao WC que fica ao lado, além de se escutarem todos os sons escatológicos, traz o som de batidas de martelo?

As casas no Reino Unido são barulhentas por defeito. O chão range (e não é pouco), as correntes de ar fazem as portas bater... e aqui ninguém usa persiana. Todas as janelas são tapadas apenas com cortinas, o que nunca permite total escuridão. Podes levar com aquela claridade da manhã na cara que isso é considerado banal. Se te queixares, acham que és "florzinha de estufa", uma pessoa problemática.  

O senhorio esteve cá em casa há dois dias. Ele sempre aparece sem avisar, entra sem cerimónias e "passeia-se" pela casa como se nada fosse. Traz leite que mete num dos frigoríficos e serve-se da chaleira para beber chá. É uma atitude um tanto invasiva, mas teve de ser aceite por todos para cá morarmos. Ao contrário do que esperava, não me fez confusão. Para mim ele é apenas mais um dos muitos que já vi circularem cá dentro. Tanto me faz que seja ele ou uns 50 italianos. Ao menos com ele por perto sei que os outros contêm-se um pouco e até ficam aborrecidos. E isso não é desvantajoso. Só que ao vê-lo cá, ele que diz que não tem tempo para nada... aquilo revoltou-me. Na tarde anterior tapei a abertura onde antes estava a parede com uma cortina branca. Foi como um bálsamo!

Subitamente pareceu-me recuperar a sensação de bem-estar que viver no quarto sempre me deu. Já não aguentava mais olhar para o fundo do que outrora foi a parede do WC e ver aquelas tábuas que tapam os canos. Há tanto que quero fazer ali para disfarçar aquela feiura, coisas que guardo trancadas há tanto tempo e que não aguento mais que seja assim! Cheguei ao limite da paciência e da bondade. 

Pus uma cortina para não ter mais de olhar para ali. E, como disse, senti-me imediatamente melhor. É como se aquele anexo de espaço não existisse. E o quarto voltasse a ter as dimensões originais.  

E se não tiver o quarto para estar, não tenho muitos outros espaços onde possa estar com o mesmo nível de conforto e tranquilidade. Os italianos ocupam a sala logo pelas 8h da manhã e só saem de lá pela meia-noite. Continuam a almoçar todos juntos, na mesa, comigo ali na cozinha e na sala, sem nunca estenderem um convite ou perguntarem se tenho algo para comer. 

Hoje vi tão claramente os olhos da mais-velha a fulminarem um deles. Trata-se do namorado da rapariga do andar de baixo. Eles nunca gostaram dele. Aceitam a sua presença (como aceitam a minha ahha) e com ele falam, porque, afinal, é italiano. Mas acham-no parvo, idiota, não gostam dele. E na realidade, não o incluem nas suas rotinas, a menos que seja esta de almoçarem ou jantarem juntos. Afinal, se a namorada almoça o namorado não ia ficar de lado. Mas é só por essa razão. Não o convidam a sentar e ver um filme com eles, por exemplo. 

Como disse, vi os olhos da mais-velha a fulminar o gajo quando ele dirigiu-se ao jarro de filtro e água, carregando uma garrafa cor-de-rosa. Despejou água para o interior e deixou o jarro, quase vazio, em cima da bancada. 

A mais velha estava a observar tudo muito atentamente e a "matá-lo" com os olhos. Mas a culpa é da namorada dele. Também me enerva ir buscar água e encontrar o jarro vazio. Enerva estar sempre a encher o jarro com água e outra pessoa vem, serve-se e deixa-o vazio. E ela sempre fez isso. No ano e meio que cá vive, nunca a vi repor a água que tira do jarro. Quem chega a seguir é que tem de o fazer. Noutro dia, enchi o jarro de água e fui lavando louça enquanto esperava que a água no jarro pingasse pelo filtro, para então encher um copo e saciar a sede. Nisto ela sai do quarto direta à cozinha, pega no jarro, enche a garrafa com água e sai satisfeita de volta para o quarto.  Foi aí que decidi: se não sabes encher o jarro de volta, já não me vais ver a fazê-lo por ti!

Quem o faz é a mais-velha. Os outros... não querem saber. No passado ela chegou a colar um post-it onde escreveu "encham o jarro". Sei que o fez porque culpava-me a mim de o encontrar vazio. Mas a culpada era outra italiana que cá morou, uma que nunca limpou nada na casa e costumava até deixar a louça que usou suja para outros a lavarem. Este comportamento dela foi encorajado pela mais velha, que o procurou ocultar adoptando a postura de limpar e lavar por ela. É que, se és italiano, nunca tens pecado. Nunca erras, nunca fazes um mal, tudo tem uma explicação. A "explicação" que a mais-velha me deu, mais tarde, para a ausência de práticas de limpeza da italiana (e não era a única) é acreditar que ela era um pouco "posh" (metida a rica). Justificou-o dizendo que acha que ela tem uma empregada que faz tudo por ela na sua casa em italia.

(inserir cara de "não me gozes")


Oh pá... a sério?? A sério que esta tipa me disse este absurdo? Então porque tem uma mulher que vai lá limpar-lhe o pó aos móveis justifica-se que veja os colegas de casa como seus empregados??

Comigo, que sou portuguesa, essa desculpa não pegava. Mas numa casa cheio de italianos a funcionar como uma matilha, quem é italiano pode fazer o que quiser. É o cartão "sai da prisão" do jogo do monopólio. A responsabilidade vai recair sempre sobre outro alguém. No caso do jarro com água, já não sou eu - que encho-o até a máxima capacidade cada vez que lhe dou uso - mas o "inquilino emprestado" - o namorado da rapariga, por quem eles não nutrem simpatia.


sexta-feira, 27 de março de 2020

Euromilhões e Corona virus


Por curiosidade fui ver se a situação de Pandemia Mundial influenciou o número de apostas que os Portugueses fazem no Euromilhões. Será que há menos pessoas a apostar porque já não se deslocam aos locais de registo? Ou será que o pessoal começou mais a apostar online?

As apostas decresceram.
No último dia de Janeiro:


  • Nº de Bilhetes registados em Portugal

  • 1.670.989

  • Hoje, sexta-feira, dia 27 de Março:

    • Nº de Bilhetes registados em Portugal :  964.438 contra os 712.892 de Terça.




  • Ctt Correios "Fique em casa" e ria-se

    Achei piada a isto.
    Entrei no site dos CTT, para saber onde está uma encomenda registada. Surge esta mensagem:


    Vou ao serviço de encomendas Expresso e simulo uma entrega. Surge esta informação:


    Então em que ficamos? É gratuito ou tem desconto de 20%?

    Simulei para envio nacional e internacional. Valores? 9.95 (nacional até 2kg) e 95.qualquer coisa (tanto faz alterar os quilos). Com os tais 20% de desconto. De gratuito, só se lê na mensagem.

    A minha Rebecca portou-se mal!


    Devem estar lembrados de um post onde mencionei que uma forma de ultrapassar a dor que sentia pela ausência de uma certa pessoa era dedicar-me mais a ser amiga de outras. Nesse texto mencionei uma nova colega de trabalho, que se «grudou» a mim como se fossemos muito íntimas. Senti-a sozinha, mas também mencionei que ela chamava a atenção dos homens e flirtava com eles.

    Isso foi o quê? Há duas, três semanas no máximo!

    Pois a rapariga, casada, quarentona, já mergulhou de cabeça, corpo e membros em problemas, por ter tido sexo com um homem que conheceu lá. Não me quis contar detalhes - quer fazê-lo pessoalmente, mas nesta altura do Corona e sabendo eu que qualquer um pode ser transmissor, eu quero escutar a sua história, mas sem os abraços e proximidades que ela gosta de demonstrar. 

    Perguntou-me à pouco se, por tudo o que me contou, eu tinha mudado de ideias sobre ela. Ideia... Mas a ideia com que fiquei é que ela gostava de seduzir todos os homens. E foi o que ela fez. Não sei bem o que aconteceu porque, pelos vistos, ela tem um pouco de paranóia e recusa-se a falar das coisas com detalhes ao telemóvel. Ou então teme que o marido lhe tenha colocado aqueles dispositivos que espiam os aparelhos e, inclusive, deixam escutar as conversas.

    Ela conta-me que receia estar grávida, todos os problemas matrimoniais que a assolam naquela semana e na próxima, problemas laborais e, agora, este mais específico.

    Não me custa emprestar os meus ouvidos e tentar, dentro das minhas muitas limitações, aliviar um pouco o sofrimento em que se enfiou. Mas fico a matutar se é sensato de minha parte deixar os dramas dos outros fazerem parte das minhas rotinas. 

    É um defeito que tenho, estar ali para escutar e tentar ajudar pessoas que desabafam os seus problemas comigo. Muitas vezes elas fazem isso mesmo e, depois, é como se não me conhecessem mais. Por vezes devia deixá-las lá com os seus problemas e ficar só com os meus. Parece que essa não é a minha natureza. O que pode trazer-me muito sofrimento. Ele começou assim. Surgiu todo "torcido", mudo e calado, depois foi ficando querido, atencioso, acessível e eu apaixonei-me. Subitamente ele regressou à forma original. Não quero mais disso.


    Update: Entretanto, esta madrugada os nossos turnos cruzaram-se e enquanto nós as duas falávamos no meio do armazém, um colega com quem nunca falei chama-me pelo nome. Ele ainda trás a roupa de rua vestida, um longo casaco preto, o que me indica que chamar-me é das primeiras coisas que fez. Diz-me, num tom de ordem: "Dá-me o teu número de telemóvel antes de te ires embora". Senti-me confusa. E perguntei-lhe: "mas... o que fazes tu aqui dentro?". Porque sei que ele não é gerente nem ninguém com autoridade para decidir quem vai chamar para trabalhar mais horas e é para isso que nos pedem o número de contacto. Ele repete a frase e fala com autoridade. Não faço qualquer intenção de lho facultar, mas aquilo fez-me suspeitar que era ele o tipo com quem ela anda a ter sexo. A sua intenção ao chamar-me até perto dele, foi só enviar uma «mensagem» indirecta à pessoa com quem eu estava a falar. Ao invés de a chamar a ela, chamou-me a mim, para quebrar a interacção que estavamos a ter, para se certificar que ela não abre a boca a ninguém e fazê-la recear o seu "poder". Chantagem, coacção... LOL.

    Sinceramente, não sei como uma mulher daquela idade pode meter-se em tantos sarilhos num tão curto espaço de tempo. O problema é que chegou ali e andou a "oferecer-se". Muitos devem ter ficado com essa percepção e, claro, aos que lhes falta bom carácter vêm ali uma oportunidade a agarrar. Será que ela não percebe realmente que tem essa atitude? Vai trabalhar para um local cheio de homens, muitos deles básicos que dá dó, vestindo roupas justas que lhe salientam as formas femininas para onde os gajos gostam de olhar (e eles olham e ela percebe) com todos sem excepção inicia conversas sempre a ostentar um sorriso de 25 quilates, nunca a vi prender o cabelo, trabalha sempre com ele solto e a todos sem critério algum, pergunta como pode ter "mais horas", porque precisa, porque está desesperada, porque tem problemas em casa e quer mesmo muito trabalhar... Pessoalmente eu não sou de ir chorar as minhas tormentas e tragédias como meio de mendigar favores. Acho que não resulta, não é forma de se conseguir coisas. Primeiro mostra-se trabalho, capacidade, depois vê-se no que pode dar. Achava exagerado da parte dela fazer isso com praticamente tudo o que era colega ali dentro - mesmo os que em nada a podiam ajudar. Mas cada qual é como é.

    Ela diz-me que nunca fez isto na vida, nem quando era adolescente. Eu não acredito. Acho que já o fez muitas e muitas vezes. E não entendo porquê se sente entre a espada e a parede com o gajo. Jamais ia ceder às vontades de um tipo por quem não me sinto apaixonada, ao ponto de deixar de ter autonomia, só porque dormimos juntos. Bem que ela me disse: "Portuguesinha, tu não sabes o que eu tive de fazer para conseguir este trabalho". Se calhar até faço uma boa ideia.


    Eu não me prostituo por trabalho. O meu número de telemóvel não o dou a ninguém. São poucos os que o têm e aqueles que o têm, são apenas três pessoas nestes quase dois anos e são as pessoas certas. Ainda assim, ainda não o dei ao gerente principal, com quem simpatizo e com quem troquei poucas palavras humorísticas. Ontem ele chamou-me e colocou-me a executar uma nova função, no departamento dele. Ainda assim, ainda não lhe fui pedir mais horas. Tinha intenções disso, caso regressasse a uma situação precária em que aquele voltava a ser o emprego que me daria o único rendimento. Mas na altura estava também noutro a tempo inteiro. Agora com o CORONA VIRUS, a realidade é que a carga laboral AUMENTOU. Esta madrugada mandaram-me para casa mais cedo, porque perceberam que acumulava dois turnos e não é permitido fazer mais que 13h seguidas. A semana passada fiz algumas horas acima do habitual e percebi que ganhei praticamente o mesmo valor que estava a receber no meu full time de 40h.



    Acho que vale a pena aproveitar que nos facultam turnos de 8h ao invés dos habituais três. Sim, o Corona está lá fora, ameaçador. Tenho muito receio - mais porque vejo as pessoas a passear quando lhes pagam para ficar em casa de quarentena - do que pelo virus em si. Saio à rua toda equipada, da cabeça aos pés. Quando regresso, lavo a máscara de rosto que é reutilizável (mas penso que não em situação de virus porém... quem pode usar uma máscara por dia???), toda a roupa, desinfecto todos os lugares onde as mãos enluvadas tocaram, tento limpar até o saco em plástico que levei para transportar alimentos e guardar o casaco após o despir.

    Tudo isto dá uma carga de trabalhos...
    Por isso, não quero mais pegar os turnos pequenos. Muito risco apenas por trocados. Quero resguardar-me o máximo que conseguir. Estou sozinha neste país. Ninguém para me acudir caso a coisa dê para o torto. Ainda assim vou, com coragem e equipada o melhor que conseguir, trabalhar. Prefiro assim, faz-me bem. E é bem melhor do que estar a "brincar à quarentena". É dessa gente que tenho medo. E é só com esse tipo de gente com que me posso cruzar ao sair de casa a caminho do trabalho quando foi decretada a obrigação de Ficar Em Casa. Gente que não se rala, que provavelmente já tem outras doenças e mais uma não as atemoriza, gente que contagia outra gente.


    E lá estavam quatro homens feitos, todos juntinhos na avenida principal, deitados na relva, a fumar e a apanhar sol. E o grupo de ciclistas todos vestidos com roupas desportivas e mochila às costas, que decidiram ir dar uma voltinha pela cidade? Ah, ingleses... cumpridores dos seus deveres! (Not!).

    quinta-feira, 26 de março de 2020

    Vão ser dois turnos de 8h. Faltam-me duas para terminar o primeiro. Lá para as 7 ou 8h da manhã,  conto chegar a casa. Tomar um banho, lavar esta roupa na máquina a uma temperatura de 60 graus.

    Serão 18.15h com máscara no rosto. Mais 2.30 de percurso. 21h a usar uma máscara, quando a tiro vejo as marcas que deixa no meu rosto. Envelhece-o. Puxa as olheiras para baixo. Mas não me importo nem um pouco. Não pelo motivo que é.

    Ando eu a respirar o ar filtrado para não transmitir os meus fluidos a ninguém e cheia de medo que os que não as usam cuspam o Covid-19 para cima dela, porque o risco de um virus numa máscara ser transmitido para as mãos ou boca ao remove-la, é gigante. Todos os fias temo trazer o "bixo" não em mim, mas na roupa, nos objectos, na armação plástica dos óculos que passei a usar propositadamente.

    E nisto quando saio há rua a caminho do trabalho, tenho grande dificuldade em desviar-me das pessoas que encontro pelo caminho e manter a necessária distância social. Vejo que não são pessoas como eu, que vão trabalhar. Sao "turistas", que aproveitam um dia de sol para passear o cão e os filhos, para relaxar no relvado público ou para fazer ciclismo em grupo. Pagam-lhes para ficar em casa e vão passear!

    O governo avisou por SMS (aqui é assim) que todos devem ficar em casa sobre pena de multa.

    De que adianta?

    Apeteceu-me grafitar no caminho pedonal: STAY AT HOME!

    Mulheres: Somos a balança do Universo

    O telemóvel acabou de tocar de um número privado. Atendi mas por mais que falasse, do outro lado não veio nenhum som. Então desliguei. ***  Voltou a tocar. Mais silêncio. Antes de alguém no outro lado desligar, escutei uma voz feminina. Então mais silêncio.

    *** Conto isto porque após o primeiro toque, ocorreu-me que podia ser ele, a querer escutar a minha voz. Que me tivesse ocorrido isto faz-me entender que nós, mulheres, somos mesmo parvas. Quando nos apaixonamos, ficamos meses, anos, a alimentar fantasias de contacto que nunca vão acontecer. 


    Gostava de ser mais fria e indiferente como os "gajos".
    Mas também, se nós, mulheres, fossemos assim, o mundo cairia em colapso

    É por sermos maternais e sentimentaloides, esperançosas e carinhosas, capazes de exercer o perdão por amor, sempre ali para apoiar e amar, que eles precisam de nós, que damos equilíbrio ao Universo, de resto tão desequilibrado.


    Sim, temos fases hormonais. Causa-nos alterações de humor, aumentam a irritabilidade...

    Mas sem nós, MULHERES, 
    que vida violenta, árida, sem graça, fria, cheia de lixo e em conflito bélico seria o Mundo dos Homens

    Calor do meu país


    Está neste momento 12 graus em Santo Idelfonso. Como é que o sei? Desde que regressei de Portugal que o meu telemóvel indica-me essa temperatura "local". Penso que não se actualizou geograficamente.


    Não me importei. Gosto de ter essa ligação com o meu país e aqueceu-me o coração noutro dia ao final da tarde, quando a temperatura indicada foi de 19 graus.


    quarta-feira, 25 de março de 2020

    Mãos de velha

    A lavagem constante das mãos com água e sabão fez com que as mesmas envelhecessem 25 anos.




    Mas a culpa vem de trás. Também de um virus inglês. Quando cá trabalhei em 2005. Foi nessa ocasião que me alertaram que algo suspeita-se que na água, estava a criar irritações cutâneas em alguns trabalhadores. Que mãos feias eu tinha!

    Ao emigrar para cá há três anos, o primeiro emprego impunha mexer muito em água e detergentes químicos. Fiquei com feridas, pele seca a pelar, coceira e ardor intermináveis.

    Fui ao dermatologista. 
    Veredicto: virose.
    Sentença: Não poder lavar as mãos.

    Como se isso fosse possível.
    Logo eu. Se não for demorado, lavo-as várias vezes ao dia. Os tais 20 segundos porém já é demais. 

    Acho que os cremes hidratantes para as mãos vao vender muito! Comprem agora enquanto ainda são baratos.


    Ver um anjo

    Estava a fungar, à  medida que despertei. Procurando na minha mente se nariz entupido é sintoma de Covid-19 e lembrando que instantes antes quando foi ao WC também ouvi fungar o colega que nao está a respeitar a quarentena e sai à rua sem protecção. Nisto acabo por abrir os olhos e Vejo. 


    terça-feira, 24 de março de 2020

    Desânimo?


    Há momentos na vida em que pensamos: "de que vale a pena?".
    Sinto-me irrequieta, tenho dificuldade em adormecer e, se adormeço, acordo poucas horas depois sem conseguir voltar a dormir.

    E por isso aqui estou... 2h da manhã, a escrever no blogue.

    Desde que regressei ao Reino Unido e fui dispensada do emprego, tenho estado a trabalhar. É paradoxal mas até hoje tem sido assim. Iniciei um novo full time ontem, que de full só teve a manhã. A incerteza nesta área regressou ao ativo.

    Desânimo. Pelas pessoas e pela humanidade.


    Embora o exemplo que tenha recebido vindo de notícias de Portugal não envergonham ninguém. Dá-me gosto perceber como o país está a reagir à pandemia. Sei que tem existido também casos de pessoas que «não apanharam a mensagem» mas no geral, desde aqueles que fazem humor que aligeira as preocupações, aos reformados que se oferecem para prestar assistência médica nestes tempos de contágio, às unidades de rastreio, às desinfecções de tudo o que é lugar público... Desse lado do oceano só me chegam coisas que restauram a fé na humanidade.



    Mas deste lado, nem tanto. 

    E é aqui que vivo. É aqui que gostaria de ter por perto alguém que gerasse em mim esta sensação de orgulho. De que vale a pena viver. E não tem acontecido. Ao contrário. As pessoas na sua grande maioria continuam parvas. Não cumprem a distância social, vão às compras com as crianças todas, bebés em carrinhos, tossem livremente e, em tempos de solidariedade, não se coíbem, muitas delas, de serem rudes.

    Quando saí do emprego ontem dispensada de voltar, (quase fui atropelada e por minha responsabilidade, que olhei para a rotunda a ver se vinha trânsito e esta estava vazia, logo passei a estrada. O problema é que o sentido do trânsito era o oposto e o meu cérebro por um instante não detectou o erro),  não pude deixar de sentir alguma inquietação. Já tinha trabalhado naquele lugar antes, mas quando cheguei, não encontrei ninguém, quando finalmente encontrei, não escutaram o que eu disse através da máscara. Deram-me uma função: a de descarregar um camião cheio de caixas e passar um marcador preto no código de barras de cada uma.  Não estava sozinha, outros três lá estavam, homens, cada qual com a sua função. A regra nestes lugares é só uma: ser rápido. Estão a julgar-te desde o início com base na velocidade. As caixas eram atiradas do camião para o chão sem grandes preocupações, tombavam, caiam, eram chutadas... Velocidade acima de qualquer coisa.

    Mas foi a conversa entre dois deles que me deixou apreensiva. Enquanto falavam do Corona, diziam que mesmo que tivessem doentes não eram pessoas de ficar em casa. O motorista do camião disse que aquele era o seu último dia a trabalhar, porque tinha a mulher doente e ia ficar em casa a tomar conta dos filhos. "Doente? Doente do quê??" - pensei eu. 

    Se um diz que vai trabalhar mesmo que se sinta mal e outro vai trabalhar mesmo que alguém próximo de si esteja doente - isto é o "núcleo" de gente que me rodeia. Um deles usava máscara mas os restantes no armazém inteiro, não podiam estar mais à vontade. Nada de luvas, falavam livremente uns com os outros, sorriam e riam na cara uns dos outros, uma das mulheres levou um prato com uma espécie de pizzas em miniatura e partilhou com as pessoas de quem gostava, outro estendeu um saco de snacks para outra provar...

    Onde estão os comportamentos de segurança que a ocasião exige? 
    É aquela postura típica de que tudo é um exagero e um absurdo e que eles é que estão "com a razão". Opá, se a selecção natural fosse realmente selectiva, estes seriam os primeiros num contexto de contágio, a vir a morrer. Mas infelizmente, mesmo que ficassem contaminados, provavelmente alguém que tomou todas as precauções, um enfermeiro ou médico qualquer que arrisca a vida todos os dias e faz sacrifícios familiares, é que «bate as botas» e eles sobrevivem. Para depois, sentirem-se ainda mais convencidos de que são invencíveis e nada os derruba, e voltam a repetir o ciclo.

    Fui dispensada mais cedo (e permanentemente) porque ninguém soube indicar-me o que pretendiam que eu fizesse. Depois de ter terminado de tapar os códigos de barras - também mal explicado porque às tantas, uma das chefes chega e diz que a caixa que acabei de riscar não era para ser riscada - fiquei sem orientação. Então fui procurá-la. Quando avistei o chefe, perguntei-lhe que mais podia fazer. Este grita para uma rapariga que lá está "caixa" e manda-me subir ao piso de cima para a ajudar. Quando chego, ela põe-me um pack de caixas de cartão nas mãos e vira as costas. Eu pergunto: "o que é suposto eu fazer com isto?". Ela encolhe os ombros e diz: "Pergunta ao Greg". Lá desço eu ao piso inferior, com as caixas, só para não encontrar lá ninguém. "A sério? Isto vai voltar a ser assim? Uma total desorganização?" - pensei, já a não gostar da experiência.

    É que nesta empresa, ninguém é capaz de especificar o que pretende que tu faças. E depois, se não demonstrares que o sabes fazer, ainda olham para ti em reprovação. Sabem quando chega uma pessoa nova e alguém tem de a orientar pelos procedimentos? Esqueçam. Tratam-te como uma reles e substituível peça. Se mostrares que tens voz, opinião, não gostam de ti. Após mais uma outra "ordem" transmitida apenas por um apontar de dedo de um sítio para o outro e o dizer: "ali", cresceu a minha frustração. Ao executar a tarefa, pareceu-me claro que não estava a ser feita como deve de ser. E pensei: "mas porquê não têm capacidade de explicar o que pretendem, dar o exemplo, custa tanto assim?". Ia precisar de uma lâmina para cortar as caixas, não havia nada disponível, não explicam nada... eu sei que não era a primeira vez que ali estava. Mas tirando a rapariga, ninguém me reconheceu. O facto de ser tratada quase como se não estivesse ali fez-me sentir menos tolerante com o descaso e falta de profissionalismo. Acabei por pedir ao chefe que me desse uma função, explicasse o que pretende e me desse ferramentas para a fazer. Ele fez cara de quem não estava a entender nada. A rapariga ao vê-lo aproximar-se comigo a falar ao seu lado, subitamente já prestou-me atenção.  Largou o que estava a fazer para vir saber o que se passava e "oferecer" ajuda! Conheço-a bem. Em Outubro, quando ela apareceu na empresa para trabalhar, percebi logo que tipo de pessoa era. Ainda assim, fiz questão de lhe explicar como era o procedimento. Quando ela aprendeu algo mais, não soube demonstrar a mesma capacidade de partilha nem de ensinamento. Limitava-se a sorrir e a fingir que não entendia o inglês.

    Mas assim que aparecia um dos chefes, ela até chinês passava a entender! Baldava-se um pouco e fazia as coisas sem rigor. Mal via o dono, ia a correr ter com ele a sorrir e a mostrar serviço. Apoderou-se de uma função específica e quando fui mandada para a ajudar não me explicou nada e ainda demonstrou falta de vontade, tentando empurrar-me para outro lado. Percebi que não queria que aprendesse o ofício. Queria ter a exclusividade, para mostrar que tinha mais valor, era melhor que eu.

    Em suma, porque mostrei descontentamento e pedi para que me explicassem o que era para fazer, dispensaram-me. Ainda gozaram, puseram-se a rir. A rapariga em particular, deu risadas que não mais acabavam. Estava a querer agradar o chefe. Até me fez perguntar: "é assim tão humorístico?". Não que me rale, mas decepciona-me. Fico sempre a desejar que as pessoas demonstrem um carácter acima do que são capazes, talvez. 

    Depois disso ainda continuei a trabalhar. Já tinha feito umas tantas coisas quando vieram ter comigo a dizer como as queriam. Agradeci-lhes e fiz conforme o pretendido. Mas estavam todos mais inclinados a ser críticos do que a colaborar.

    Numa altura fui ao WC, mas antes olhei para o relógio. Quando regressei ao mesmo lugar, voltei a olhar para o relógio: cinco minutos. Fui, fiz, voltei. Um tempo recorde. Mas nesse tempo algo aconteceu. Nisto a rapariga passa atrás das minhas costas e começa a cantarolar.

    Conheço aquele "cantarolar". Era o mesmo que fazia quando ganhava a preferência do patrão. Um cantarolar vitorioso, de conquista sobre o adversário. Percebi de imediato que algo mau vinha para o meu lado, porque só isso a fazia cantarolar daquela maneira. Talvez tenha aproveitado a minha ida ao WC para dar a entender que eu tinha "desaparecido" ou largado o posto por muito tempo. Minutos a seguir, fui dispensada pelo chefe.

    Depois, já em casa... sozinha no quarto, carente, decepcionada, cheia de incertezas, o pensamento voou de volta para ele. Também foi inesperado, uma falta de carácter com que não contava. E ainda dói. 

    As minhas hormonas andam a mexer com o meu estado de espírito. 
    Junto com as memórias, tudo causou algum desânimo. 
    Preciso de bons exemplos de humanidade e de ter ao meu lado uma pessoa de valor acima da média. 


    PS: passei por uma loja na saída do emprego e para pagar as compras, tive de tirar a luva e tocar no monitor. Bem que tentei com luva e até outros materiais, mas a máquina só aceita o contacto da pele. Então tirei a luva, abri o casaco, tirei o desinfectante, passei num lenço de papel e esfreguei-o monitor da máquina registadora. Na mão esquerda segurava um saco e a luva removida, no peito os artigos que ia comprar e a mão direita fez os procedimentos na máquina. Quando passei o primeiro artigo no scanner, atirei-o para a área de repouso, porque tinha o outro seguro ao peito. O artigo era leve e escorregou para o chão. Pretendia apanhá-lo no final, quando estivesse com as mãos mais livres. Nisto a funcionária que está ali só para auxiliar as pessoas que usam as máquinas aproxima-se e diz, num tom de voz altivo: «não atire os artigos!». A sério?? Pensei. Numa situação de Covid-19, ela viu o procedimento pelo qual passei para registar um artigo, percebeu que não foi um arremesso intencional e aproxima-me para me criticar? Se fosse para ajudar... é que olhei para o monitor e o artigo não passou com o preço que estava registado, mas com outro acima deste. Diante disso e da postura da empregada, decidi deixá-lo para trás e fui embora. Só dei três passos fora da porta, quando fui para enluvar a mão e notei que não segurava mais a luva. Voltei atrás, olhando para o chão. Não vi a luva em lugar algum. Perguntei à mesma funcionária se tinha visto a luva, porque eu tive de a descalçar ali naquele sítio há instantes apenas, para usar aquela máquina. Ela, com uma voz muito prestativa e dócil, disse que não tinha encontrado nada, só umas luvas pela manhã e foi buscá-las para mas mostrar. Agiu como se não me reconhecesse de à segundos atrás. Era claro que aquelas luvas pretas esquecidas pela manhã não eram minhas. foi há 10 segundos, não há 10 horas! Era impossível eu ter perdido a luva em qualquer outro lugar. Foi ali mesmo que deve ter caído. Não tinha como não a encontrar no chão. A menos que alguém a tivesse apanhado. E só podia ter sido ela, a funcionária. 

    Negá-lo e ficar-me com a luva foi uma forma mesquinha de se vingar. 

    Foi mais uma situação que contribuiu para que o dia de ontem não fosse o mais feliz e fez que aumentasse a sensação de desânimo para com o mundo. Agora encontro-me em insónia, a reflectir nas mesquinhices da vida e a deixar que estas me incomodem.

    Escrever sobre as mesmas já ajudou a fazê-las passar. 

    Tenho também de mudar a minha atitude com a vida... Aprender a reformular a forma como expresso descontentamento. Não sou agressiva mas tenho de aprender a ser como a funcionária: mais fingida, escolher melhor as palavras... dizê-las e não as engolir, mas a usar um tom dócil com acidez em simultâneo. 



    domingo, 22 de março de 2020

    Difamação de carácter


    Depois de três turnos de trabalho em dois dias e com apenas três horas de sono, meti a chave à porta de casa. Girei mas a fechadura não cedeu. Isso acontece porque a porta já estava aberta

    Ao entrar a italianada está toda na cozinha e sala, já que são comuns. E menciono: «a porta estava aberta».  Ainda gozaram, em italiano, claro. O trinco da porta só é activado quando se usa a chave, tirando isso, a porta de entrada funciona como uma porta comum do interior de uma casa. Tem um manípulo e basta pressionar para baixo que abre. Do lado de fora é um espaço aberto, suficiente para estacionarem dois carros. Não existe portão, vegetação, muro, nada que impeça ou desmotive alguém de se aproximar e tentar abrir a porta. O que já aconteceu, quando um homem o ano passado por esta altura de Abril, forçou os manípulos de ambas as portas que dão para a rua. Há uma outra, mas está selada, é toda de vidro, para deixar passar claridade. Quem vê não sabe qual das duas vai abrir e o desconhecido, um homem incorporado e forte, tentou as duas várias vezes.

    E eles gozam. Mesmo que eu adicionasse esta história que já lhes mencionei à frase "a porta estava aberta", não ia fazer diferença no comportamento e atitude que sempre demonstram. O que fazem é desatar a difamar o meu carácter. A mais-gorda começou de imediato a contar a história (e é mesmo uma história, fabricada, como todas, a partir de um facto real mas com tudo o resto de mentira) da ocasião em que passei a corrente na porta e uma delas ao entrar, deparou-se com a corrente. Ora, o que aconteceu foi que eu estava sozinha em casa. A cada ruído vindo da porta, sentia um sobressalto e ia espreitar. Cansada de não poder sentir-me tranquila e por aquela altura, percebendo-me só, coloquei o trinco na porta e fiquei pelo jardim, que fica no lado oposto e não dá para escutar nada que venha da porta. Só assim pude realmente relaxar. De vez em quando, durante o dia, quando entrava na casa, espreitava caso escutasse algum ruído de alguém a vir. Mas de certeza que se viessem seria de noite e provavelmente, no dia seguinte - um Domingo. Tinha o sábado por minha conta. 

    Quando anoiteceu ia para remover a corrente, não fosse alguém de casa aparecer. Mas por outro lado, também estava em casa e caso escutasse o ruido de alguém a aproximar-se, o que geralmente escuto porque a entrada fica debaixo da janela do meu quarto, podia remover a corrente num instante. Se não escutasse e alguém metesse a chave à porta, essa pessoa percebia que alguém no interior tinha passado a corrente e era só aguardar uns segundos, não é como se não pudesses entrar. 

    A casa está em total silêncio e tranquilidade. Subo para o quarto e por volta das 23h recebo uma mensagem no grupo de chat da casa. Uma delas informa que vai trazer uma amiga para dormir na casa, e pergunta se "pode". Esta mensagem só aconteceu porque numa ocasião, cansada de deparar-me com tanto rosto desconhecido pela manhã na cozinha e de escutar ruidos a qualquer hora da noite e vozes de pessoas estranhas pela casa, que me impediam de descansar e sentir tranquila, decidi colocar a primeira mensagem no grupo pedindo que informassem todos quando alguém de fora viesse para ficar. Claro que, não gostaram. Mostraram-se logo hostis. A mensagem que ela enviou destinava-se apenas a mim, isso era claro. Mas ao colocá-la no grupo, estava também a destiná-la ao senhorio. Os outros, provavelmente, até já estavam a par da situação. Respondi. "Claro. Obrigado por avisares". E pensei: "vou tirar a corrente da porta".  Mas nisto retomo o que estava a fazer no telemóvel antes de receber a mensagem e, não demora mais do que cinco minutos, escuto barulho de malas a arrastar lá fora no pavimento e uma chave a ser enfiada na porta. 

    É a colega que enviou a mensagem a perguntar se podia trazer uma amiga para dormir em casa. Mas que raio de pessoa "pede autorização" quando já está à porta prestes a entrar? A mensagem foi só para criar a aparência de pessoa decente e correta para os olhos do senhorio. Ao escutar o som, salto da cama a correr em direcção à porta. Desço as escadas rapidamente ainda a tempo de a ver fazer o movimento de abrir a porta e já a desculpar-me. "Espera, eu abro" - digo-lhe. E depois justifico-me: "Desculpa, coloquei a corrente na porta porque estava sozinha. Não estava a contar que entrasses agora, acabaste de enviar aquela mensagem!". "Eu vinha já tirar isto, assim que li a tua mensagem, mas não contava que estivesses à porta".  "Sorry, sorry, sorry" - continuei. 

    "Não faz mal" - diz ela, mas com cara de poucos amigos.
    E quando relata este episódio aos de casa, remove todos os detalhes e maldiz-me, dizendo que não é uma atitude boa a que tive, criticando-me em mais aspectos só por prazer e fel. Porra, foi só um trinco! Prefiro ter uma história de uma porta que alguém trancou mas que dava para abrir, do que 50 casos em que encontro a porta da rua destrancada, possibilitando que qualquer um dos muitos bêbados e drogados que passam por esta rua possa entrar - que é por volta do número correcto de vezes que encontrei a porta nesse estado. 

    Facto: Pessoas de mau carácter irão sempre procurar qualquer oportunidade para te difamar. 

    E então foi esta história que a italianada trouxe à baila para me gozarem um pouco mais, quando entrei em casa e mencionei a porta destrancada. Todos os quatro, ali na cavaqueira e nas risadas, a falar italiano tendo o cuidado de usar um pouco um dialecto menos perceptível, já que uma vez eles perceberam que não é tão difícil assim para mim de os entender quando lhes perguntei na cara se estavam a falar do tapete na casa de banho.

    Ainda gozaram mais, dizendo que eu podia ir ao Google translator

    Temer o Covid?
    Não. Subitamente esta doença e ameaça terrível parece-me mais inofensiva que a malícia e pobreza de carácter que encontrei nos italianos.


    Próximos assuntos relacionados que poderei vir a abordar:
    A hostilidade através do quadro
    Desapareceu a colher
    A postura que tive com o primeiro italiano com quem partilhei casa e a "paga" que recebo - o conceito de matilha - do mais forte e do mais fraco. 
    Quando tinhas 20 anos em partilha no UK e os 40 tões que agem com a malícia da imaturidade juvenil.
    A profissão e reputação que se tem e o que realmente se é (ligar à do quadro) E ele, que entendeu de imediato.

    sexta-feira, 20 de março de 2020

    Encostar-me a ti


    Durante este isolamento pelo covid, o que eu realmente queria era um peito onde encostar a minha cabeça, com um tronco onde envolver os meus braços e ser abraçada de volta. 

    (Depois de 6 meses em tortura emocional, recupero desse abalo e logo a seguir aparece um vírus mortal para "todos nós". Alguém está em dívida comigo. Big time.)

    Aqui ficam umas frases inspiradoras que bem que gostaria de viver em primeira mão, em breve.









     





    quinta-feira, 19 de março de 2020

    Isolamento duplo


    Vai acabar por ser decretada a mesma medida que está em voga em toda a europa: o Reino Unido vai ter de decretar estado de Emergência e dizer às pessoas para ficar em casa. 

    Hoje, 15h, ao passar pela mesma esplanada e café onde no dia anterior avistei a malta toda no relax, vi os empregados no interior a limpar tudo e as cadeiras e mesas lá dentro. Ou decidiram fechar mais cedo, ou então fecham de vez. Até que enfim, algum discernimento!

    Mas as pessoas não temem o vírus. Não se protegem, protegendo assim os outros. Cada vez que saio à rua, coloco uma máscara. Mas tenho medo. Pois a máscara não me protege a mim. Protege-os a eles. A todos aqueles que se cruzam comigo. Porque o ar que sai da minha boca, a saliva que pode vir junto quando falo, não vai cair em cima de nada nem ninguém. E as luvas que uso impedem-me de contaminar objectos, alimentos e máquinas de supermercado de auto-pagamento.  Mas se alguém tossir perto de mim, os meus olhos são como duas janelas abertas para as minhas células. 

    Pode não parecer, mas já uso aquela máscara faz um mês!
    Para mim, isto não tem dias, nem semana, mas um mês. Pois foi quando decidi ir a Londres que optei por a comprar para a usar na metrópole. Acabei por não o fazer - mas se tivesse sido contaminada nesse dia, por esta altura já o saberia.  Usei-a dois dias depois, para ir ao emprego e não respirar o ar poluído.

    Por incrível que pareça, estou a ser alvo de maior hostilidade por parte das pessoas agora, que o Cóvid finalmente obriga os governantes a tomar medidas de maior contenção, do que há um mês, quando comecei a colocar a máscara. Se bem que no emprego, com os colegas que me viram aproximar com ela, fui um tanto gozada, fizeram caretas e não queriam aceitar que era necessária por qualquer que fosse o motivo. No avião da Easyjet, sete dias atrás, não foi muito diferente. E foi por parte da TRIPULAÇÃO que senti essa hostilidade.

    Deve de ser inveja. Por esta altura já toda a gente gostaria de ter uma. Mas não as há. Então hostilizam quem as tem, porque estão cheias de medo. 

    Bem que aviso que podem fazer umas. De vários tipos. O youtube está cheio de tutoriais a explicar. Mas a que eu mais gostei foi o de uma tipa espanhola, focada no pessoal médico, que simplesmente cortou uma capa plástica tamanho A4, daquelas que usamos para colocar folhas dentro, colocou um cordel em cada extremidade, e fez uma máscara transparente que cobre o rosto inteiro. Não só protege o nariz e boca, como os olhos. 

    Ontem foi o primeiro dia de "quarentena" a meio-gás aqui em casa. E senti-me triste. Já não me dói mas sinto tristeza. Não entendo e nunca vou entender, porque sei que não há motivo. Mas permiti que agissem assim e agora fazem-no com satisfação e de forma rotineira. Vou ter de ficar fechada em casa com três italianos. O quarto, ficou na itália. Esses três, ontem, chegaram separados, foi cada qual para o seu canto. Mas na hora do jantar, comigo na sala a ver televisão e tendo interagido com eles (tenho sempre de tomar a iniciativa, ninguém me fala se não o fizer), o rapaz estava a cozinhar. E eu percebi que não era só para ele. Ainda fiquei à espera de escutar: "queres comer connosco?".

    Mas não escutei nada. Vi meterem três pratos na mesa, sentarem-se, comerem, conviverem. Este isolamento devido ao vírus vai ser muito divertido para os três. Mas para mim, vai ser um duplo isolamento. Não só vou estar isolada do mundo, como vou estar isolada de contacto humano. 

    Preferia ter a minha própria casa, isolar-me nela sozinha. Seria mais pacífico que ter de me sujeitar diariamente a exemplos destes. Que se repete agora mesmo, enquanto escrevo. Estive na área comum da casa, a tarde toda, só saí de lá estavam eles a cozinhar. Lancharam primeiro, serviram vinho, convivem na boa. Só falam italiano, sem parar. Desculpe-me quem gosta, mas palrar dessa maneira sem pausa para um silêncio não é agradável. Estava na sala a ver um filme em inglês, sem legendas. Quase todo o diálogo foi imperceptível devido ao falatório e gargalhadas. Mas não saí. Mas também não usufrui do filme com o gosto que podia ter tido, caso a atmosfera fosse mais serena, tranquila. Quando eles vêm TV - que deve ser daqui a 5m, todos juntinhos também - gostam de estar concentrados e que não exista ruído a atrapalhar. 

    A mais-velha chegou a casa com uma mala de computador, que deixou numa cadeira na sala. Pelos vistos vai começar a trabalhar em casa amanhã. Só espero que não queira transformar a sala, que é um open space para a cozinha, no seu escritório. E que não imponha que os outros fiquem nos seus quartos para que ela possa estar ali sossegada. Nem espere que deixemos de acender a TV, fazer barulho, conversar...

    Quer dizer: digo isto mas sei que essa regra só se aplica a mim.
    Os outros podem fazer o que quiserem, têm imunidade de nacionalidade.

    Ouvi-os rejubilarem de contentamento quando a mais-velha contou que ocupava o WC pela manhã de propósito para que eu não o pudesse usar. Como se eu não soubesse! Não contei nada aqui mas, às 6.30 da manhã, o meu despertador tocava para me preparar e sair às 7h. Ela, que sai às 8.00, colocou o dela a tocar 10 minutos mais cedo, para ser ela a ocupar o espaço. Ficava sempre sentada na sanita 30 minutos, com o telemóvel na mão, a ver séries, filmes, programas italianos, etc

    Numa casa partilhada, isso não é um luxo a que tenhas direito. Muito menos em dia da semana, pela manhã. Mas se fosse um deles - um italiano a precisar de usar o espaço a essa hora, aposto como ela perderia esse hábito rapidinho.

    E é assim. O que vai ser pior?
    O Corona (nome italiano) ou os colegas italianos?

    Papel higiénico «limpo» das prateleiras

    Registei para a posterioridade:











    terça-feira, 17 de março de 2020


    Ovos, farinha, carne, peixe, pizzas, amendoins, bolachas, leite, comida pré-congelada, agua engarrafada, comida congelada, vegetais congelados, massas, arroz, produtos de higiene como papel higienico, tampoes, pensos, desinfectantes, produtos de limpeza, fraldas, fórmula para bebé. Acabei de listar tudo o que não se encontra nos supermercados no Reino Unido.

    Esquerda: supermercado hoje ao meio-dia.
    Direita: as mesmas prateleiras ontem, às 7h da manhã.
    Supostamente deviam ter papel higiénico, foi tudo preenchido com chocolates.
    É o único artigo que não está a ser comprado.

    Sinto-me parva. 
    Sou uma pessoa que gosta de armazenar. Mas vivendo numa casa partilhada onde o espaço é limitado, não tenho os hábitos que teria caso vivesse sozinha.

    Secção dos legumes congelados
    Nao tenho por isso arroz, nem ovos, nem farinha, agua. Papel higiênico tenho porque esse armazeno no quarto, onde o espaço é partilhado comigo apenas. Nao tenho muito mas penso que dará para umas semanas. Mas já nem sei. Da maneira como isto está, talvez este nao volte as prateleiras ou custe ouro.

    É tudo uma incógnita.

    Prateleira dos pacotes de bolachas, foto tirada ao meio-dia de hoje.
    Às seis da manhã estava cheio.

    Cá por casa já estão dois. Um vive fechado no quarto o dia inteiro. Só sai quando sente que a costa está italiana lá pela hora do jantar. Mas é a rapariga que teve sorte no meio de tudo isto. Não só conseguiu meter cá toda a familia por duas semanas antes mesmo da Itália decretar o fecho das fronteiras, como na mesma altura conseguiu contrato de trabalho. Agora está por casa, descansada, 24h na companhia do namorado. Relax. Nao tem de ir trabalhar, nao vai ser demitida e vao continuar a pagar-lhe. Encontrou um hobbie dos que duram um tempo indeterminado e ocupam a mente. Mas mesmo que não o arranjasse, tem cá o namorado a viver, sempre lhe faz companhia e algo mais. Mantem contacto com a familia e esta envia-lhe coisas pelos correios. Digamos que podia ser muito mais "chato", se o isolamento fosse maior. 

    Para alguns isto pode ser encarado como uma espécie de férias. Eu continuo a tentar trabalhar o máximo que conseguir. Viro-me agora para o meu segundo emprego.

    Com precauções, sempre.
    A Páscoa está para vir.

    Ao descer as escadas percebi que sentia os joelhos. Também julgo ter a sensação que sinto os pulmões. Pelo sim, pelo não, fiz o "teste" da respiração que encontrei online: Se conseguires respirar fundo e prender a respiração por mais de 15s, quer dizer que ainda não tens o "vírus" porque este, antes de deixar os sintomas aparecerem, prejudica os pulmões.

    Verdade ou mentira, não sei. Mas bati o recorde da minha vida ao manter a respiração presa durante 1 minuto.

    Hoje, quando me aventurei na busca de mantimentos
    A praça pública e as esplanadas estão mais cheias de gente do que o que seria normal num dia de semana. Carrinhos de bebé por todo o lado. O supermercado lotado de bebés. As pessoas não temem o virus. Temem não ter o que comer caso fiquem meses por casa. Fui trabalhar às 2 da manhã. Quando passei pela rua principal, fiquei surpresa ao escutar o barulho de festa, vozes no convívio. Um dos bares ainda estava aberto. Não é comum. No Reino Unido um bar não fica aberto depois das 22, 23h. A uma segunda-feira no meio do caus do Cóvid-19, abriram uma excepção: a malta jovem estava toda reunida cá fora, na esplanada, a beber e a escutar música quase às 2h da manhã.


    Enfim...
    Sem muito mais para se dizer ou fazer, vai-se blogando.

    segunda-feira, 16 de março de 2020

    Porquê não devemos falar alto o que nos deixa feliz


    Encontrei dois antigos colegas no supermercado e começamos a falar. Eles continuam no mesmo lugar, do há três anos já se queixavam que queriam sair, não aguentavam mais. São sempre os que falam alto que nunca mudam, por isso não me surpreendeu sabê-los ainda lá. Nem um pouco. Perguntaram o que eu fazia, eu respondi. Perguntaram se eu gostava. Respondi, muito com o coração:

    - I love my job. Love it, love it, love it!

    O cupido sádico, aquele anjo-demónio que está sempre de ouvidos em riste à procura de saber o que nos faz feliz para a seguir nos tramar, ouviu. Tão certo como eu ter pronunciado estas palavras tão verdadeiras, aquele foi também o último dia que trabalhei na empresa, sem o saber. 



    Soube hoje, quando lá cheguei, que tinha sido dispensada. 


    Nunca mais, mas nunca, nunca, nunca mais.
    Vou evitar ao máximo.
    Dizer que gosto de alguma coisa... 
    Demonstrar que algo me deixa contente, feliz.

    Assim que abro a boca para o expressar, tudo se desvanece. Chiça.


    Parece que cada vez que tenho algo, quase ao meu alcance, subitamente, puft! Desvanece-se no ar. Foi "ele" tão súbito, é agora o emprego onde o chefe me disse tanta vez que pretendia me manter e garantiu que me queria neste mesmo dia. Só para isso regressei de Portugal. Feliz. Com saudade de labutar. Vontade de meter a mão no trabalho. Ah, a ironia!!

    Com os receios do virus simplesmente a carga de trabalho na empresa diminuiu drasticamente.
    E quem não faz parte dos quadros, "dança".

    Corona: deve ser esse o nome desse anjo-demónio!
    A partir de agora já sei que nome lhe dar.

    Dia de sol que esconde desgraças


    É pena que num dia tão bonito como este exista uma ameaça mortal ao virar da esquina.


    E acabei de saber que perdi o emprego.

    domingo, 15 de março de 2020

    Regresso ao Reino Unido e o Covid-19


    Estou de volta ao Reino Unido, de regresso à vida numa casa partilhada com assistentes de bordo italianos. Aparentemente está tudo bem. E assim pretendo que continue. O medo mesmo, reside na falta de acção do Governo e no Sistema de Saúde. Não parece que existam medidas a ser tomadas para prevenir seja o que for. Escolas não fecham, ajuntamento de pessoas não tem qualquer nova regra imposta, os centros comerciais continuam a abarrotar de gente... está tudo a levar a sua vidinha como se nada fosse. Em caso de sintomas de gripe, o NHS (sistema de saúde) não quer saber se se trata de COVID-19 ou uma simples constipação. Dizem que qualquer pessoa que tenha sintomas deve"ficar em casa". 

    E é só isto. É isto que o SISTEMA NACIONAL DE SAÚDE BRITÂNICA tem para oferecer aos seus cidadãos: absolutamente N_A_D_A. Eu pergunto: se for o Covid-19 que a pessoa tem, como é que entra para as estatísticas? Só se  vier a falecer e então ser-lhe facultado o teste! Se sobreviver, nunca saberão se o que a afligiu foi o Covid ou não. Ou será que à posteriori já aceitam que a pessoa seja testada só para aproveitamento político, do tipo, "curaram-se X", ainda que nenhuma cura esteja relacionada com a acção dos governantes e do sistema de saúde mas à pura sorte?

    E quantas pessoas de saúde mais fragilizada, como doentes, pessoas que sofrem de asma, diabetes, pessoas mais idosas com o sistema imunológico pouco resistente... essas, o governo está a condenar à sua própria sorte. E os factos dizem qual é: a morte.
    É uma postura vergonhosa e se nada mais me incentivar, esta falta de consideração pela vida humana dos próprios contemporâneos confirma aos meus olhos o quanto se pode contar com o governo britânico em caso de verdadeira necessidade. Não se pode. Em que país vou ficar a morar??


    Mas vinha falar de outro tema: no vôo de regresso, fiz uma paragem no Porto. Aproveitei, ainda com receio mas tomando todas as precauções, para dar um pulo à cidade. Mantive-me afastada de pessoas, mas foi difícil, porque as havia por toda a parte. Quase todas turistas. A zona ribeirinha do Porto estava lotada de gente, que por ali se aglomerava até bem depois da hora de almoço. Inclusive carteiristas, disfarçados de vendedores de óculos escuros. Nenhuma pessoa usava luvas ou máscara. Só no metro é que encontrei algumas pessoas com máscaras no rosto. 

    O mesmo verifiquei em Lisboa, no curto período de tempo que caminhei pela Gare do Oriente, querendo "matar" saudades do rio. Muitos turistas, todos despreocupados, a turistar e alguns jovens - também eles estrangeiros, outros talvez nacionais. Dentro do shopping, muita gente e o supermercado Continente, lotado de pessoas. 

    Mas quero também partilhar outra coisa que notei e que é de louvar: a preocupação dos gerentes em sanatorizar os espaços. Vi os corrimões das escadas rolantes do centro Vasco da Gama a serem desinfectados, a WC onde precisei de ir estava bem limpa e no geral, notava-se que o comércio tinha consciência do vírus, havendo aqui e ali quem estivesse de luvas e máscara. 

    No aeroporto de Lisboa, a mesma coisa: muita desinfecção, o WC no qual entrei foi o mais limpo que alguma vez vi. Nas palavras apanhadas aqui e ali pelos funcionários, notava-se preocupação e também cada qual tinha a sua opinião sobre a medida a ser tomada: encerramento total do espaço aéreo - foi a que mais escutei. 

    Uma vez no Porto, verifiquei que os mesmos cuidados estavam a ser tomados. Consegui registar isto aqui: a limpeza de uma das paragens de metro.


    Mas também entrei num outro centro Comercial, um perto de um oculista de nome "Adão", onde fui por precisar de um WC e, quando nesse espaço quis entrar, tive de esperar à entrada onde um fita me impedia a passagem, pois o mesmo estava a ser limpo. Cá fora, mais um corrimão de escada rolante a ser desinfectado...

    Portugal a tomar precauções. Muito bonito de se ver.

    (já o UK...)

    Espero não me arrepender de ter regressado a este país, onde, claramente, corro maior riscos de contaminação. Tudo pelo trabalho... que me ocorre agora poder vir a desaparecer. Por causa do vírus em si. Com esta falta de controlo, vivendo tão perto de um aeroporto, com a descida de encomendas e exportações, o mercado económico está a sofrer imenso com o Covid-19. Maldito ano de 2019 que chegou mesmo para nos dar terríveis experiências! Este vírus começou em 2019 e «transitou» para o ano seguinte. 

    Mas nem tudo é mau e quero partilhar convosco outra impressão com que fiquei durante a minha rápida passagem pelo Porto. Nomeadamente pelo aeroporto do Porto... Então não é que cada gajo que ali estava a trabalhar, desde o tipo do café, a um outro qualquer atrás de um guiché, ao ground-force (equipa de terra) que aparece para fazer coisas no avião, até aos tipos da segurança ou do check-in... tudo homem bem constituído, interessante. Um ou outro com um tom de voz daquela que me faz sentir como se escutasse uma melodia de embalar... só que sexy. 

    Zona ribeirinha, Porto, pós emergência Covid-19, dia 14 de Março 2020

    E por fim, desta vez dispensei a Easyjet e voei pela Tap. É uma companhia aérea que pode nos dar dor-de-cabeça antes da viagem. E o aeroporto de Lisboa é sempre caótico, pequeno, desorganizado... Mas uma vez dentro do avião na viagem em si, tirando os passageiros barulhentos e que parece que ali viajam todos os que não aprenderam que é para usar auscultadores nos ouvidos se forem ouvir músicas ou ver filmes, a equipa a bordo é sempre simpática. A comida não é vendida. Se fizer parte do "pacote" do bilhete, tens direito a ela. E esta é-te dada com simpatia e cortesia. Nada de te "enfiarem" aquilo à frente dos olhos com ar de frete... Acho até que se pedires reforço de bebida eles dão-te-na, sem cobrar. Fiquei na dúvida, após o casal ao meu lado pedir uma segunda cerveja. Não vi quaisquer trocas de dinheiro.

    Muito diferente da companhia aérea laranja, que tem como objectivo a venda a bordo, o lucro, lucro, lucro! E se formos a ver, diante de certas condições (como a stop-over no Porto que até foi mais uma vantagem que desvantagem), a Tap faculta passagens económicas. Infelizmente não tanto quanto as que faculta caras. A mesma passagem de Lisboa ao Porto custaria quase 200 euros, caso o meu destino final fosse esse. Um horror! Fiquei até pasmada a olhar para o monitor. Lisboa-Porto não devia ser mais que uns 50 euritos... Mas como o meu destino final era esta terrinha onde chove e faz frio (já a sentir falta do sol que encontrei em Portugal), o preço do bilhete não chegou a 50 euros. 


    Acabou de me ocorrer um facto que não aprecio mas que constatei ser real: cada vez que me demorei pelo Reino Unido, levei comigo para Portugal algo mau e de efeitos duradoiros. A primeira vez que pisei nesta terra, foi como aluna Erasmus. E foi quando apanhei a minha primeira gripe. Fiquei de cama, tudo doía e não conseguia mexer-me. Nos anos seguintes - três, quatro o que não é pouca coisa, apanhava constipações fortes com extrema facilidade, várias no inverno, sendo que a última deu-se em pleno verão. Antes disso era raro. Todos tinham ar condicionado ligado devido ao calor e aquilo para mim era um suplício, causava-me ataques de espirros que não conseguia conter. E sentia muito frio. 

    Pensei estar "condenada" para o resto da vida, ter ficado com o meu sistema imunológico comprometido, tudo devido a um virus inglês que apanhei na Inglaterra. Pouco depois vim trabalhar uns meses para o Reino Unido, e, mais uma vez, surgiu um "surto" qualquer no local de trabalho, julga-se que com o sistema de água, que fazia com que a pele das pessoas ficasse seca, gretada, solta. Apanhei isso na minha mão direita e desde então "tenho" comigo essa condição adormecida. Regressou no primeiro ano que emigrei para cá e trabalhei num restaurante, onde lavar as mãos, ter as mãos húmidas, sujas, esfregar e limpar era rotina constante e diária. A coisa "surgiu" novamente mas com muita força. Fiquei com as mãos a sangrar e todas peladas. Numa consulta médica com um dermatologista em Portugal fiquei a saber que não era uma bactéria, era um vírus e que não tinha cura. Só podia gerir a coisa. Como?
    -"Não lavar as mãos" - respondeu-me ele. 
    - "Não posso lavar as mãos?! A sério?" - disse, incrédula e sabendo desde logo que isso era impossível. 

    Não posso ter as mãos húmidas.

    Escusado dizer que não cumpri a  recomendação do médico, continuo a lavar as mãos com muita frequência, devo tê-las lavado ontem somente umas 100 vezes. Mesmo de luvas, lavava-as a cada toque no telemóvel para tirar uma foto, para consultar alguma coisa, cada vez que precisei ir ao WC... muitas vezes lavei eu as mãos. Mas não se preocupem: a mão nunca mais apresentou os sintomas. Às vezes dá a "coceira", sinto-a ligeiramente áspera... mas passa. A pele, contudo, nunca mais ficou a mesma. Pouco se nota. Está "mais solta", mas só eu sei disso.

    Sempre intuí que, cada vez que pisasse no UK, regressaria com uma mazela qualquer
    Tenho vivido aqui nos últimos anos. Por vezes ocorre-me este pensamento. E fico a imaginar o que aí virá. Agora temo que a próxima mazela seja o Covid-19.

    Se o apanhar, segundo o NHS, devo ficar "fechada em casa" e isso significa condenar todos os que cá moram a quarentena e também, à possível contaminação - caso não seja um deles a me contaminar primeiro.

    Mas uma coisa é certa: o governo Inglês conta com a contaminação. Não faz NADA para a prevenir e vai ficar de braços cruzados à espera que desapareça. 

    À espera que o resto do mundo, que o resto da Europa de quem se quis separar, que seja ela a tomar as precauções, que seja a Europa a ajudar os cidadãos e que seja ela a parar a disseminação do vírus. Até que este desapareça também daqui. Mas será que desaparece ou encontra um foco para permanecer?

    Se assim for acabei de me condenar a ficar aprisionada numa ilha de Covis-19.  
    Talvez até à morte. 


    A última imagem que os meus olhos irão ver poderá vir a ser a tal vista que tenho deitada na cama, quando olho pela janela. 

    Na minha ausência, a árvore floriu. 

    Bem fizeram o duque ou ex-duque e a ex-duquesa: mudaram-se para a Austrália! Ou será Canadá? Não me interessa realmente... «fugiram» do Reino Unido. Foi ainda durante o surto do Cóvis-19. Será que já sabiam que os políticos daqui iam "deixar andar" e ficar o povo cair que nem moscas?