Metereologia 24 h

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quinta-feira, 24 de setembro de 2020

O funcionamento do cérebro

 O avião de passageiros passa por cima das nossas cabeças a pouca altitude. E começa a ter um voo errático. Não se equilibra, parece estar a lutar para tentar se manter e elevar. Nisto ganha velocidade e parece que vai conseguir, mas ainda tem um comportamento errático. Subitamente sobe a pique. É aí que acho que não vai conseguir. Mas ainda espero que vá. O avião volta a voar na horizontal mas não ganha altitude e parece não conseguir velocidade, podendo estagnar. Há medida que se afasta do nosso olhar, dá-se um barulho enorme e peças de avião saídas de uma nuvem de fumo e pó bem distante voam na nossa direcção. Caem há nossa frente, embatem atrás, como se fossem mísseis.

Aconteceu em Lisboa, acima da segunda circular. 

Ainda tenho tempo de ver cadáveres presos com cinto às suas cadeiras a serem dobrados ao meio para de seguida serem enfiados numa espécie de caçamba de um veículo negro. É altura de sair dali - estão a gritar com autoridade. "É proibido tirar fotografias" - sublinha alguém quando ainda tentei filmar o acontecido. Um jovem homem negro morto, ensanguentado e mutilado é também enfiado dentro do veículo. É um cadáver não atarraxado a um assento, foi transportado numa espécie de lona negra. 

Há também vítimas em terra. Onde terá embatido? Que bairro? Que pessoas?

Tenho de sair. Estão a ordenar. Estão a puxar. Estão a gritar.


E acordo.


Caramba!!
Já tinha percebido que o meu cérebro recorre a este género de truque para me forçar a despertar e ir ao WC. Mas fico espantada com a sua escolha de método e narrativa! Quando ele me avisou a primeira vez - deixando-me sentir aquela "dor" feminina na região do ovário, ignorei. De seguida ele me enviou a sensação da descida da menstruação. Por causa dela, no sonho, era agora urgente ir ao WC. Mas eu ignorei. Quis continuar a sonhar, mesmo na condição de menstruada. Não queria despertar e descobrir que era verdade. O cérebro então, fez-me o que sempre faz: parte para um pesadelo daqueles pesados.

E lá fui apressadamente para o WC, como ordenada por Ele, ainda meio grogue de sono e a bater pelas paredes, tentando não tropeçar em nada, mentalmente ainda em choque e a pedir a Deus para não permitir que um cenário como o que sonhei venha a tornar-se realidade. 

Com o cérebro não se brinca. 

Ele enviou uma primeira mensagem para despertar e ir urinar. Um comando simples. Eu não gostei e ignorei. Ele causou um desastre de aviação, fazendo-me sentir cada momento. 

Há medida que me dirijo para o WC, vou tomando noção da realidade que me cerca. Percebo que a única novidade sentida durante o sono que é agora real é a "dor" da sensação de "menstruação para vir". Conto com ela daqui a sensivelmente 10 dias.

Felizmente, nenhum avião se despenhou, após levantar voo, na cidade de lisboa, próximo da segunda circular, lá para os lados do Jardim Zoológico. Foi só uma mentirinha mázinha do meu cérebro para me despertar e forçar a ir ao WC.

Aqui vos deixo este alerta, caso nunca tenham percebido como o cérebro faz para vos informar que têm de ir cumprir uma necessidade básica orgânica enquanto estão adormecidos. Ele vos enterra em pesadelos!

(mas depois vos faz esquecer tudo... é uma espécie de progenitor protector: deixa arder e depois sopra)


segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Leitura terminada


Gostei bastante de ler esta história escrita por Beryl Matthews, a mulher que escreveu o seu primeiro romance com a idade de 71 anos. "O dia chegará" é uma obra datada de 2015 e como todas as boas obras, teve o dom de me fazer sentir de forma diferente o que "terá sido".


Sobre o que falo?
A história tem como figura central Grace, uma jovem londrina acabada de se saber viúva durante a segunda grande guerra. O que ela decide fazer com a sua vida depois da sua perda e durante os conturbados anos de guerra, é a história que a autora nos traz. Grace é uma heroína como manda o figurino: determinada, forte, dotada, inteligente, sagaz, bonita e jovem. Sempre jovens... Pretendentes não lhe faltam e os homens sentem fascínio pelas qualidades que possui. 


O livro fez-me perceber o que terá sido para cada pessoa viver naquele tempo. Londres foi particularmente bombardeada durante a segunda grande guerra. Imaginar o que isso terá sido para as pessoas sempre me intrigou. Mas depois de ler esta história foi como se sentisse um pouco o que terá sido a realidade. 

E entendo porque é que não existe uma panóplia de testemunhos na primeira pessoa, em registo de video, audio, escritos... Intriga-me que, tendo tantos experienciado esses anos tão difíceis, não tenham falado mais deles. Mas não é o que acontece sempre? Sempre que termina algo mau? Não se fala muito desses tempos. Não se fala das dificuldades... Não se fala.


O livro mostrou-me também outro motivo para não se falar. As pessoas mais envolvidas na guerra tiveram de assinar um acordo de secretismo. Acredito que anos dessa prática não se diluem com o tempo. Algo de uma experiência tão traumatizante e tão determinante fica contida num "espaço" próprio, só saindo para fora em poucas ocasiões. Não há quem não tenha ido a guerras que não se comporte desta forma.

Por mais que se tenham coisas boas para recordar, as más também existiram. Por mais que se possa dizer: "fiz isto, ajudei a combater nazis, sobrevivi - ainda assim todos conheceram alguém que não teve essa destino. Alguém que faleceu. Viram coisas horríveis, destruição, crueldade e violência por toda a parte. E isso só alimenta ainda mais o silêncio. 


Foram tempos difíceis, de muito secretismo, pois disso dependia a segurança das suas vidas e das vidas das pessoas à sua volta. Todos desconfiavam uns dos outros, podiam existir espiões em toda a parte. Por outro lado, as pessoas também se ajudavam. Depois dos bombardeamentos muitos voluntários saiam à rua em busca de socorrer prováveis sobreviventes, distribuindo pão, chá... Conforto para uma situação de calamidade. Alojar desalojados foi uma das necessidades.

Homens e mulheres - principalmente mulheres, muito corajosos estiveram na linha da frente e nos bastidores de cada contributo para o que a guerra terminasse com a vitória dos Aliados. Uma parte do livro descreve ao de leve o serviço de inteligência e o seu quartel de informação. Eram fileiras de mulheres que passavam dias e noites de auscultadores nos ouvidos, procurando escutar sons, mensagens, códigos. Procurando sobreviventes, procurando pedidos de ajuda camuflados, procurando informações secretas sobre o inimigo. Parece simples mas é um trabalho de grande desgaste psicológico e cansativo. 

Existiu muita gente nesta guerra envolvida nela de uma forma ou de outra. 
É algo que sinto que ainda vou descobrir um pouco melhor. 


segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Em contramão


Um condutor de um camião entrou em contramão na segunda circular, em Lisboa.

Quando isso acontece, o que é que pensam?
Eu penso que se enganou.


Quando ligo a televisão, qual a minha surpresa, quando percebo que querem saber é se é um acto terrorista!!.

Se estivesse em Londres, talvez o pensamento fosse imediatamente para essa probabilidade. Mas em Portugal? Espero bem que nunca cheguemos lá. Simplesmente, não me parece. E vivo lá, em Inglaterra, num local onde a possibilidade de terrorismo está presente no dia-a-dia. Onde a polícia faz inspecções diárias, anda armada com armas enormes não aquelas pequenas de cintura e usa cães. A probabilidade de explosivos tem de ser rasteada todos os dias. É essa a minha realidade nos últimos dois anos. Agora, cá em Lisboa??

O condutor, pelo que se sabe até agora, não estava sobre o efeito de drogas, não estava alcoolizado, é português, empregado da empresa do camião que conduzia...  talvez à muitos anos - não se especificou. Desde a alta de Lisboa e a Rotunda do Aeroporto o homem, com discurso coerente, alega não se lembra de nada, não se recorda de fazer esses três quilómetros na segunda circular. 

Estaria a conduzir em "piloto automático"? Terá um tido um problema psicológico momentâneo? Seja o que for, não parece que foi de propósito que se enfiou em contra-mão. A polícia deu uma conferência de imprensa onde mencionou que observou no local alguns danos que podem levar a que alguém entre em contra-mão. Neste caso, a "culpa" não pode ficar só com o condutor. E tudo é um lamentável acidente. Não existindo intenção de causar danos. Mas existindo crime.


Resta-me enviar boas energias para as duas pessoas que se encontram em estado grave e precisam de cuidados médicos. Que recuperem bem.