A que-vai-sair saiu. E talvez venha a arrepender-se.
Lembrou-se tarde de ir perguntar na casa ao lado como era a vida lá... E descobriu que existem "problemas".
Afinal, as coisas não mudaram muito desde que lá estive a viver uns 20 dias, em Abril. Veio de lá e contou que estão a ter problemas com a louça e a roupa e enviam mensagens uns aos outros para irem fazer isto e aquilo...
Afinal, continua! Os
SMS ao invés da conversa frontal e desarmada.
O mal daquela casa é ser habitada por três colombianos que formavam uma trupe. Muito à semelhança do que se passa aqui com italianos. Por isso defendo que não se deve ter muito de uma só coisa. Criam-se sempre ambientes. Mas um dos colombianos deu à sola... e o trio Odemira ficou maneta. Acontece que vai ficar também perneta.
Sobra apenas uma. Que está a perder as forças mas é resistente... As que entretanto se mudaram para lá, esperam que, com tempo, essa se mude e saia da casa. Por um motivo simples: só fala espanhol. Não fala inglês. E na ausência dos «compadres» e companheiros de traquinices, na ausência de quem fale espanhol com ela, acham que vai acabar por sair.
Talvez sim...
É o que digo: o destino acaba sempre por encontrar uma forma.
Quando cheguei a esta casa fui muito mal recebida pela italiana-mais-jovem que fingiu que nem me viu e limitou-se a sair do quarto para apagar a luz que acendi para poder subir as escadas em segurança. Nem um olá, nem um "bem vinda de volta" - nada. Ao bom jeitinho italiano de acolher outros.
Essa foi a primeira a sair.
Sobrou-me a Colombiana da casa ao lado - que tanto mal me fez enquanto lá estive e também quando me mudei. Tentou infiltrar-se aqui, impor a sua presença e a sua insuportável voz estridente. Mas o pior era a sua ignorância. Perdoável, se fosse de boa índole, mas ela é malévola. E nada me tira da cabeça que ter aconselhado a amiga da que-foi-embora a convidá-la a mudar-se para lá foi o seu último gesto de malícia e interferência. Só Deus sabe os conflitos que tal acção já gerou. Tem sido um stress desde o final do mês passado até finalmente ter-se encontrado alguém que vai ocupar o quarto por apenas um mês. (Dizem que é uma jovem portuguesa, a ver vamos).
Mas o quarto foi reservado por uma italiana. Por isso... mesmo que a que-foi-embora mudasse de ideias - como desejei que mudasse - a coisa foi feita de tal maneira que o senhorio avisou logo que por já ter assinado contrato com a italiana-escolhida, que o quarto já não estava disponível. Coisa em si também esquisita vindo dele, pois decerto que lhe ia propor o outro se realmente lhe interessasse ter a que-saiu de volta. Ela vai fazer falta. Era um ar de frescura e diferença, quebrava o excesso de italiano nesta casa e, para ser sincera, era fácil de conversar e cumpria sempre as suas obrigações com a limpeza da casa. E bem. O pacote inteiro, a bem dizer. É raro encontrar alguém assim e duvido que o raio caia duas vezes no mesmo lugar.
Mas a vida é assim mesmo, gira e dá voltas. Nem eu sei onde vou parar nestes giros. Ninguém sabe. Por mais que tentem manipular as situações e incliná-las a seu favor.
Espero que a que-foi-embora não se arrependa. A pesar de ter desejado que quem viesse para esta casa fosse barulhento até mais não. Mas desejou isso por pensar que a outra - a italiana-que-não-limpa ia ficar. Afinal, se calhar já não lhe pomos a vista em cima muitas mais vezes. Antes do novo ano, já cá não mora.
Isto é fantástico... tantas reviravoltas.
Mas andam todos muito calados a respeito da inquilina que vem ocupar o quarto que vai vagar pela que não limpa. Sei que já estão a recrutar: italianos, claro. A que apareceu aqui ontem pareceu-me sentir-se muito à vontade. Vamos a ver se cai na esparradela de vir para aqui morar.
É que ninguém lhe diz que o senhorio é uma espécie de sexto inquilino...
Aparece regularmente, praticamente todos os dias, a qualquer hora, mais que uma vez, puxa da chave e entra casa a dentro. Vai ao frigorífico e serve-se de leite. Fazendo observações sobre tudo. Verificando as tomadas, a quantidade de luzes ligadas, se as janelas estão abertas, se estão fechadas, que programa estás a ver na TV, se estás de folga, quando vais trabalhar, o que estás a fazer, como o estás a fazer, se a máquina de lavar roupa foi deixada com a porta aberta para arejar and so on...
Eu não sei se aceitaria mudar-me para uma casa só com portugueses. Gosto demais da diversidade. Aliás, é o que me atrai neste estilo de vida. Poder dar de caras com alguém de boa índole, claro, mas que possa transmitir-me novos conhecimentos, passar-me cultura diferente, experiências e histórias da sua terra. Isso é fascinante. Se morar só com tugas... claro que há coisas a dizer. Mas não é tão fascinante quanto conhecer alguém oriundo de um país onde nunca pisaste.
A que-vai-embora é da Grécia. Adoro ouvir falar grego. Gosto do som. Não sei nada - aqui e ali parece que algumas palavras são parecidas. Infelizmente não vou poder aprender mais por ela sair desta casa. Na verdade, falamos sempre em inglês, como é de bom tom e da boa educação. Mas das vezes que a escutei a falar ao telefone na sua língua, gostei.
E ela sempre me cumprimentou, desde o primeiro dia, com um "obrigada".
É uma das palavras que sabe em português.
É simpático.
Bem mais que o que a cultura italiana me passou. Mas se calhar, cada caso é um caso. Ainda assim, em quatro italianos nenhum fugiu à regra por isso... acho que os Gregos podem ser mais abertos. Embora sempre tenha escutado que é preciso ter cuidado com os presentes Gregos, ehehe.
Um dia, se necessitar e for certo, vou partilhar com alguém o que passei na casa ao lado. O que ela me revelou hoje deixou-me um pouco apreensiva. Pensei que o clima na casa tinha mudado completamente com a introdução de novas pessoas e a saída das piores. Mas pelos vistos continua a infantilidade de enviar mensagens repreensivas ao invés de falar com as pessoas na cara e na boa. Como se alguém ali tivesse mais moral ou fosse acima dos outros para se prestar a esse papel.
A casa é também menor, embora os quartos sejam, ao que sei, imensamente grandes. Mas para quê se quer um quarto grande? Eu tive um e desejei um pequeno. Este meu pequenino, que adoro, não o trocaria por nenhum dos outros onde cabe três vezes!
E pago menos para usufruir do mesmo espaço em comum.
Sei por experiência que mais vale assim, pois na primeira casa era a que pagava mais para quê? No final só saia prejudicada. Os outros podiam dar-se ao luxo de certas manias de superioridade porque todos os meses poupavam mais de 100 libras comparativamente a mim. Então o que lhes custava dar mais 20 libras pelas contas? Mas a mim o valor de toda a soma já ascendia o que podia encontrar por um quarto noutra casa com melhores condições.
E tanto assim é que a senhoria baixou o preço dos quartos assim que saí. Mas não esqueço que me disse que aquilo não era "um hotel de cinco estrelas" quando levantei essa possibilidade... Ela era totalmente marioneta do rapaz. Depois deu sair ele usou a minha ideia para atrair mais pessoas pois a casa praticamente cai aos pedaços e muitos a rejeitam de imediato.