domingo, 27 de dezembro de 2009

Para reflectir... sociedade da blogosfera

Tenho andado a navegar por blogues, como uma viciada. Sinto necessidade de "ler" outras pessoas, partilhar delas, com elas, etc...
Encontra-se, aqui e ali, coisas, no mínimo, singulares. Decidi fazer um post só sobre estas "paragens". É interessante. Dá que pensar...

1- DE: (http://coisasquemelembro.blogspot.com/)
Já tinha idade para ter juízo...
Hoje comi uma pita...Já não comia uma há muito tempo.Não era nada de especial.
Publicada por João em 20:37 8 comentários
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Faz falta parar... É preciso estarmos connosco e reconhecer as nossas fragilidades ...
Por que associamos fragilidade a fraqueza????
Publicada por mjf em 9.12.09 23 comentários

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Só para registo no meu diário, tenho trocado emails com a A.. Sinto que poderei vacilar caso a veja outra vez e estou a controlar-me muito, muito, muito para não deixar que isso aconteça. Estes dias fora, vão de certeza arrefecer essa vontade, até porque a relação com a minha mulher está numa fase deliciosa e não quero perturbar isso. Mas voltar a falar com ela fez-me sentir muito bem. Demasiado bem. Esta relação é uma incognita que nem sempre consigo gerir. É uma questão que irei abordar nos meus votos do ano novo, junto ao mar, no dia 1 de Janeiro.
Publicada por Mr. Me em 08:49 4 comentários
Stupid thought...
A mais ou menos três meses do meu casamento, deixem-me que vos diga, que casava já hoje com a Susana Bento Ramos...Ontem tive a oportunidade de trocar três dedos de conversa com a miúda e... Meu deus, que espectáculo.
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Hoje, enquanto almoçava com a minha mãe, vi passar duas pessoas do Querido, mudei a casa, chamei-lhe a atenção.Mãe: têm ar de tiahs...Eu: pois, são um bocado.Mãe: tinham de ser senão o programa não se chamava assim..Eu: ?Mãe: chamava-se epá, mudei a casa...Ok mãe.

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5. (comentário ao post Gajas a Saldos, em: http://coisasdegajo.blogs.sapo.pt/50948.html)
O mundo tá todo espatifado...o sexo transformou-se numa qualquer coisa banal que se oferece de bandeja sem pudor. As gajas tão a ficar loucas depois admiram-se que os gajos virem panilas...tanta oferta...e de graça...ou em saldos...
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"no fim do jantar fui à casa-de-banho urinar, que é uma palavra medonha, mas sempre é melhor que mijar, no urinol estavam duas barras de cheiro, não faço ideia como se chama aquilo, mas eram barras e cheiravam bem, pelo menos quando direccionei as quatro imperiais directamente sobre elas libertaram uma fragância agradável, o certo é que não as parti, foi aqui que entrei neste combate, porque todos os homens quando vão urinar e se deparam com barras de cheiro ou bolas de naftalina querem ser os tais, os que arrebentam com elas, as partem em duas, ou as desfazem, que é a suprema glória, não levem a mal, é o espírito de competição que está em nós, (...) mas estas barras eram recentes, devo ter sido o décimo quinto a urinar-lhe em cima, de modo que se voltar a este restaurante em janeiro tenho grandes hipóteses de ganhar isto, se o conseguir basta chegar ao balcão e dizer ao dono 'já está', e ele, em bom estilo maçónico, vai a um saco preto escondido numa prateleira, tira de lá uma taça e dá-ma, eu agradeço com um aceno de cabeça e saio discretamente, o dono pega então noutra barra de cheiro e mete no urinol, o primeiro homem que lá for percebe logo, pelo bom estado da barra, que acabou de sair o grande prémio a alguém, a vida na cidade é assim mesmo, muita tensão e competição, ligas e superligas privadas, coisas em códigos que só nós percebemos."

sábado, 26 de dezembro de 2009

Natal 2009

Uma coisa que sempre me agradou é que o Natal sempre significou, para mim, reunir todas as pessoas em casa. Não sei, só posso imaginar, o que é um Natal diferente. Por mais lamúrias que escute, acredito que este ritual é valioso. Vivemo-lo sem lhe saber dar o devido valor. Eu, que sempre fiz de tudo para que ele não deixasse de se cumprir, ponho-me a pensar, daqui a uns anos, quando eu for a senior da família, que Natal vou ter... Sem filhos, em famílias que cada vez são menos numerosas... onde estarão todas estas pessoas quando a distância dos anos for maior?
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Este Natal foi mais um que cumpriu a tradição. Mas deixou um ligeiro presságio. Todos pareciam estar com pressa para sair. Chegaram, comeram do bom e do melhor e partiram, com se estivessem num restaurante, com a vantagem de ser tudo grátis. E, um evento que foi planeado durante semanas, ao qual se dedica tanta energia e pensamento, ao qual todos esperam vir, acaba assim, rapidamente, quase que nem dei por ele...
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E estou só e sem comida. Outra vez...

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O futuro à frente

Ontem vi o meu futuro passar à minha frente.

Ontem vi uma senhora idosa a puxar um carrinho e um saco. Ia curvada, como se a carga lhe pesasse este mundo e o outro. Mas não. Era leve, constituída de coisas leves, como ramos secos. Muitos passavam por ela e nem sequer a viam. Quis interpelá-la, perguntar-lhe se precisava de ajuda. Mas que ajuda podia eu dar, se eu própria também estava como uma mula de carga? Algo naquela senhora chamou-me a atenção assim que lhe pus os olhos em cima. E sabia o que era. Ela era eu. Eu, era ela. Vê-la era como que adivinhar o meu futuro. Burra de carga… agora idosa, por quem todos passam sem oferecer ajuda, sem olhar duas vezes. Aparentemente só e com dificuldades financeiras, para se dedicar à venda ambulante desta forma.

Não sei se a responsabilidade é da quadra natalícia, mas tenho sentido vontade de ajudar alguém. Não em contribuir para uma “causa”, das muitas que se estendem aos nossos pés nesta altura. Mas para situações singulares e imediatas. Como esta senhora, a quem quis ajudar mas não tinha como e como o mendigo que, por duas vezes, tinha visto em dias anteriores. Não sei que tipo de ajuda poderia facultar. Talvez não muita mas, se calhar, toda a que, no momento, seria mais necessária… força de músculo jovem alguma coisa para se comer.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Bullyng no emprego - continuação

Acordei com a imagem viva do que se passa no emprego. Sou vítima de bulling, practicamente desde que lá cheguei. Dois colegas (homens) começaram a ter uma atitude superior para comigo, dando-me ordens sem qualquer legitimidade para o fazer. Maldizendo o meu trabalho, sem qualquer razão para o fazer. Mandando-me refazer as coisas várias vezes, quando estiveram sempre bem feitas e não têm qualquer legitimidade para o fazer. Quanto mais eu fiz e sem refilar, mais estes me perseguiram. Sempre pensei que fossem daqueles comportamentos iniciais, que depois passavam. Daquelas parvoíces que algumas pessoas inseguras e insatisfeitas consigo mesmas sentem-se compelidas a tomar. Estão iradas e descontam nos outros. Eventualmente, aquilo passava-lhes - pensei. Mais ainda - pensei, diante da minha tranquilidade, o meu profissionalismo, a minha postura digna e honrada, de não os denunciar e não lhes retribuir na mesma moeda (com tantas hipóteses que tive para fazê-lo)!
Já se passou um ano e continuo, acerrimamente, a ser alvo de bulling.
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Hoje acordei com o "peso" de tudo isto em cima. Todas as situações vieram à minha cabeça. Revivi cada uma, percebi o perigo que estava a correr em armadilhas que me estão a tentar montar.
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A minha forma de ser e a minha dedicação a um trabalho bem feito tem dificultado a implicância de um dos agressores. Eles procuram incessantemente a coisa mais mínima para poder me enfraquecer e dar a impressão geral que não fiz o meu trabalho decentemente. Mas neste ano inteiro que passou, mesmo atolada em excesso de trabalho, com montes de pormenores que não podia esquecer de dar atenção, com coisas a cair no meu colo no último minuto, EU não falhei. Ao contrário: fiz um trabalho a merecer 3 medalhas de ouro e outra de platina (veio-me este "valor" à cabeça sem mais nem menos e percebi que está certo...).
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Ontem, segunda-feira, pela primeira vez, não estive a trabalhar da parte de manhã. Bem... ás 11.30 h já estava a trabalhar, pelo que, também não é justo dizer que não trabalhei da parte da manhã... não trabalhei das 9.00 às 11.30 - 2h30 apenas. Fui fazer um exame médico e tinha avisado toda a gente disso. Tendo indo trabalhar no Sábado e estando lá o tal colega que me maltrata, estranhei os seus modos mais "doces" que o habitual e estranhei também que a sua última pergunta tenha sido "Segunda-feira não vez, é isso?" - parecia que se preocupava com isso! Respondi-lhe que só da parte da manhã, que de tarde estaria lá.
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Neste periodo de tempo em que trabalho, não me ausentei do local de trabalho mais que 2 dias. Dias esses procedidos de muito trabalho, excesso de horas, muito bulling e pura exaustão, para que as coisas pudessem ficar prontas no limite do prazo. Ontem quando lá cheguei, a primeira coisa que este tipo me faz é chamar-me para apontar aquilo que julga ser um erro de minha parte. Logo de seguida critica-me por isso. Depois realça mais "erros" meus: não lhe deixei em cima da mesa uma lista que me ordenou que fizesse 15 minutos antes de se ter ido embora no Sábado, estando eu assoberbada de tarefas. "Pediu-a" em cima da hora, mas não para ele. Era para outra pessoa. E foi a essa pessoa que direccionei a dita, que deixei entre papéis na minha secretária. Depois acusou-me de ter feito a lista "muito mal feita", muito incompleta. Afinal, tinha a lista na mão! Foi á minha secretária e, sem autorização, mexeu nos meus papéis, no recado que tinha deixado para a colega, e extraiu de lá a lista, fazendo uma fotocópia para si! Que esmero, que profissionalismo, deixem-me dizer...
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Era para isto que queria confirmar o meu horário na segunda-feira... para se sentir "há vontade" para aprontar das suas.... que merda de ser humano! Ainda reparei, com espanto, um dos dossiers onde guardo as coisas, que são para minha consulta, estava mexido e tinham deixado um objecto no interior, a marcar uma página. Quando fui ver, era a página que remetia para o erro que me quis incutir assim que me pôs a vista em cima! Que verme!
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Quando uma pessoa se depara com alguém que não agride, não reage e não responde, o comportamento que assume diz muito sobre a sua essência. Este indivíduo revelou-se por inteiro para mim. Sei quem é. Não tem mistérios. Conheço-o melhor que todos. Sem máscaras, na essência. É um verme. A sua presença aqui na Terra resume-se a ser um F* da P* para os outros...
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Só uma coisa me deixa contente: não ser da família dele! Se aquilo fosse meu filho, eu morria de desgosto! Se fosse irmã dele, ficava triste. Um ano é tempo suficiente para saber que não há ali nada que se aproveite. Que tristeza, vir ao mundo para se ser um verme...
RIP: verme

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Bulling no trabalho

Você seria capaz de se relaccionar com uma pessoa de mau carácter, se esta consigo fosse só delicadezas? É para esta questão que procuro uma resposta. Há uma sondagem ao lado para poder responder.

Falam de mulheres mas, eu tenho mais lembranças más de homens no que respeita a colegas de trabalho sacanas. Neste contexto, mas não só, gostava de saber a resposta à questão. Imagine que, consigo, um colega é só charme. Simpático, com elogios e disponibilidade... mas com outra pessoa e sem razão, é um filho da p*. Você percebe que o seu caracter não é do melhor mas, como a si não o/a afecta, isso muda a sua forma de ser com ele?


Parece não ser uma questão relevante, mas é. Tenho pensado nisso. Se formos amigos de pessoas com atitudes de filho da p*, não se está a ser conivente? Não é esta também uma forma de agredir, por via secundária, a vítima? Depois, se esta um dia se queixar, você não pode com legitimidade mostrar-se indignado/a. O silêncio ou a conivência também é uma forma de agressão. Mais ainda se te consideras amiga dos dois. Por mais que custe há que ter uma conversa esclarecedora.





domingo, 29 de novembro de 2009

Domingos... irra, que há barulho!

Porque é que as pessoas são tão barulhentas ao fim-de-semana?

Repete-se sempre a mesma coisa, todos os sábados, todos os domingos... quero descansar, mas é difícil! Todos gritam, falam alto, fazem barulho, batem portas, deixam cair coisas ao chão, entram e saiem em frenesim.... irra! O que se passa com as pessoas? Não gostam simplesmente de sossego?

Eu cá gosto! Se ao menos o meu vizinho me deixasse dormir até ás 11 horas da manhã, se me apetecesse. Mas o miúdo tem hábitos terríveis, que começam mais cedo ao fim-de-semana: levanta-se às 6h da manhã para brincar e arrastar os brinquedos pelo soalho de parquet bem em cima da minha cabeça. Isto é de loucos! A maioria das vezes ando cansada pela privação de sono. A semana passada então... sentia-me desfalecer e com tonturas... o puto adora atirar bolas, berlindes e sei eu mais o quê para o fino soalho. Estes sons são o meu despertador e antecipam-se sempre ao verdadeiro. Dormi apenas 7.30 horas nas duas noites do fim-de-semana passado.

Depois há os gritos, como os de agora. Não sei o que o puto anda a fazer mas, para mim, não está a fazer tanto como é costume. A mãe não pára de gritar com ele. Fala alto, quase que percebo tudo o que diz. Parece que o puto quer coisas que são para meninas... quando o pai parece não estar, a mãe perde sempre a paciência. A bem dizer, estes conflictos familiares beneficiam-me, porque o puto fica mais quietinho, não corre e pula por todo o lado, não joga à bola dentro de casa e anda aos gritos. Mas também me incomoda tanta irritabilidade no ar, portas a bater sonoramente, 60 segundo de choro do puto...

E volto a repetir a pergunta: o que é que se passa com as pessoas ao fim-de-semana? Não sabem, simplesmente... relaxar?

Top Models

Nem todas as mulheres desejam ser a 8ª maravilha do mundo.



Estou a lembrar-me de Bridget Bardot, Elizabeth Taylor e até Grace Kelly... mas existem mais exemplos. Se ninguém conhecesse a história destas mulheres, talvez não acreditasse que foram desejadas por milhões por todo o planeta. Assediadas, perseguidas, idolatradas, louvadas, admiradas, desejadas... consideradas quase por unanimidade as mais bonitas de sempre. Acredito que, mesmo hoje, quando um homem se depara com os rostos eternamente preservados jovens destas ninfas em fotografias e filmes, sente desejo. A consciência da passagem do tempo, da idade actual das beldades e do quanto estão diferentes fisicamente, em nada lhes diminui a fantasia... de atravessar para a tela e engatar aquela miúda.





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Mas estas mulheres não viveram em função da imagem criada. Ao contrário. Viraram um pouco as costas às pressões da beleza, às exigências da indústria e escolheram uma realidade mais "pés no chão".






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E é compreensível. Não é fácil viver com o extraordinário peso que é ser uma Sex Symbol. Todos te idealizam como a amante perfeita, para começar. Tendem a criar uma imagem que não corresponde à realidade, em quase todos os sentidos, também para começar. Outras mulheres que não recebem a mesma atenção emanam tanta inveja que são capazes de actos indescritivelmente horrendos para prejudicar as outras. E isto é só a ponta do que deve ser o peso do icebergue da mulher Sex Symbol.













E o que é ser Sex Symbol? Pensem lá bem! Ser impressionantemente linda? Enganam-se! Existem por aí centenas de mulheres deslumbrantes. Muitas modelos, muitas actrizes... mas quantas têm este "rótulo" de Sex Symbol? Pouquíssimas...








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É que a beleza em si é apenas e tão somente, a tal ponta do icebergue. Há também uma aura que envolve a mulher que faz com que as atenções convergam para si. Vejam só Elizabeth Taylor. Se formos a ver, a mulher "mais bonita e mais sexy do planeta" não tem um rosto tão especial assim, embora os seus olhos sejam impressionantes! E então?... existem mulheres por aí com o mesmo azul no olhar. Bonitas também. Porque não são consideradas Sex Symbols?

Falta-lhes aura!


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Esta é a minha teoria. Resumidamente, que a beleza que a todos cativa não se resume ao aspecto. Existe algo para além disso, que é mais importante, que é o que realmente fascina. Mas se quem se aproxima (amigos, interessados, apaixonados) não for capaz de descobrir a pessoa para além da fantasia, tudo funciona como peças de um puzzle que nunca encaixam... e é por isso que a beleza se pode virar contra quem a possui, somando-se decepções atrás de decepções...

E assim chego à minha segunda teoria e ao "recado" que quero transmitir. Procurem as vossas "princesas" tal como o príncipe Encantado procurou a Cinderela! Não esperem encontrar a mulher ideal toda embonecada, bem vestida e deslumbrante, com sapatinhos de cristal no virar da esquina ou no escritório do trabalho. Se encontrarem, suspeitem! Pode ser uma daquelas filhas da madastra má, após uns tantos liftings e cirurgias correctivas... cuidado! As princesas, muito provavelmente, ainda andam vestidas em trapos, presas em casa pela maldosa "madrastra"... há que procurar nos lugares mais inesperados e olhar com atenção para o que já nos rodeia... até porque, dita a história, que o "feliz para sempre" com uma mulher bem arranjada, transforma-se num pesadelo com vários quilos e muita insatisfação pessoal, enquanto que uma mulher que se descobre, anda feliz, faz os outros felizes e gosta de agradar o maridinho... olha o sortudo!
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Mas não quero enganar ninguém... a beleza é um óptimo cartão de visita, abre muitas portas! É usada em todas as situações. Só não acho que se deva viver em função dessa futilidade. Existem excepções mas o que mais deve existir são lindas mulheres que não se deixam ver. Andam despenteadas por aí, com uma roupa simples, apressadas para chegar a casa e fazer o jantar, ir ao supermercado pelo caminho, ou na hora para almoço... Até podem ter potencial para ocupar o mesmo patamar que as referidas beldades de Hollywood. Entendem?

E vão deixar de ser reconhecidas porque não se vê a ponta do icebergue? Abrir os olhos pode conduzir a agradáveis surpresas!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Privacidade

Desde criança que tenho a sensação que não há forma de viver a vida sem que outros estejam a a par daquilo que fazes. Falo de privacidade. Em miúda li algures que os satélites enviados para o espaço podiam ler um papel minúsculo caído no passeio com perfeita nitidez. Também li que existiam armas militares capazes de ver as pessoas através das paredes e que, inclusive, já tinham sido usadas para apanhar as pessoas no acto sexual. Nunca gostei de fazer algo privado, como sair da banheira e entrar no quarto, se uns cortinados não estivessem a tapar a janela. Sentia mesmo que mais alguém estava a espreitar. Se escrevo ao computador algo privado, como um diário ou um blogue e a janela estiver sem cortinas, mesmo sabendo que estou num andar alto e o prédio em frente está longe, sempre acho que alguém tem formas de espreitar. Binóculos, telescópio... Com o tempo, fui tentando não me importar com o facto de estar a escrever no computador, por exemplo, e saber que alguém no prédio em frente pode estar a invadir as minhas ideias recorrendo a um destes utensílios de espionagem.


Mas desde o início que não vivo em função desta impressão que tenho. Não é uma mania nem uma paranóia. É algo consciente, apenas isso. Hoje foi reavivada, quando um colega de trabalho aproximou-se para me dizer que sabia qual era a password do meu email. Disse-me que a descobriu num dia em que deixei o email aberto no computador e me ausentei. Ainda me disse que cada vez que acedia à conta, em qualquer parte do mundo, ele sabia-o.




Não sei porquê me disse ele isto. Talvez para me intimidar, desesperar, sei lá. A verdade é que isso me fez pensar no quanto me esforcei, me obriguei a mudar um certo hábito. É que, no emprego, nunca me apetecia consultar os (muitos) emails que tenho. Era sempre uma coisa que fazia depois do expediente, quando chegava a casa. Lá só tinha energia para me ocupar com as tarefas necessárias e, quando dava conta, estava a consultar o meu emails horas depois, em casa, durante umas horas... No entanto sei que os meus colegas, à semelhança da grande maioria das pessoas, aproveita para consultar os emails pessoais no trabalho. Eu me interrogava porquê não tinha eu a mínima inclinação para o fazer também. Ás tantas, comecei a forçar o gesto. Tive mesmo de me obrigar! Comecei por consultar aqueles que menos informações sobre mim podiam facultar. Os abertos para responder a um site duvidoso, para tratar de um assunto específico, etc... depois comecei a abri-los todos. O único que nunca quis abrir foi este, que me dá acesso a este blogue. Mas já não me recordo se, por uma única vez, me senti tentada e experimentei.

Já não é a primeira vez na minha vida que me forço a adquirir um mau hábito, só porque não entendo como posso não partilhar esse fascínio como a maioria das pessoas.
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Em criança nunca fui de experimentar estas teorias aplicadas aos cigarros, drogas, álcool e outras coisas semelhantes. O facto da maioria beber, fumar, drogar-se, andar na rua, maquilhar-se, embonecar-se, etc, nunca me fez querer experimentar. Nunca! Sempre vivi muito bem na minha pele, a pesar de ser um ser frágil e volátil. Sou mais por este tipo de desafio espiritual... porquê não consulto/envio eu emails pessoais no emprego? E como será resistir a uma coisa que me apetece muito? - é este tipo de "desafios" que acabo por agarrar.
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Vivemos numa sociedade informatizada onde tudo está exposto e qualquer pessoa tem acesso aos teus dados pessoais. Juntando uma má indole, o resultado pode mesmo ser algo equivalente à morte.

sábado, 14 de novembro de 2009

Dia de S. Martinho

São Martinho já passou, mas uma observação ou duas ficou...




Chegava eu á noitinha ao terminal de camionetas do Campo Grande, quando me espanta ver uma fila de pessoas por entre um fumo intenso. Sigo com o olhar da última até a da frente e verifico que é fila para comprar castanhas! É dia de S. Martinho, não é de estranhar que as pessoas queiram provar castanhas... mas de noite, FILA para pagar CARO meia-dúzia ou uma dúzia de castanhas no Vendedor Ambulante... que lucro aquele homem não teve só nessa hora!

Outra coisa que S. Martinho ainda me revela é que verifico, com espanto, que a maioria das pessoas desconhece que pode fazer castanhas no microondas. Também não sabia? Pois vá já experimentar, caso tenha comprado algumas e tenha ainda em casa.

Ficam deliciosas (pelo menos assim afirmam as pessoas que as comem depois de eu as fazer). Tão ou melhor que as assadas, por mais tradicional que seja o método. A verdade é que uma boa castanha, bem assada, parece já não existir... algo se perdeu, que o sabor não é mais o mesmo. Mesmo comprando-as nos vendedores ambulantes ou tentando reproduzir a assadura tradicional com carvão e um recepiente próprio no quintal de casa, a verdade é que não sabem tão diferente das do microondas... que todos me dizem ser deliciosas e perguntam como se faz!

Portanto, já sabe: castanhas no microondas: não suja, não polui, não deita mau cheiro.... e sabem bem!

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Desabafo do diabo

Tenho no emprego um colega que me trata muito mal. É rude e mal-educado. Trata-me com desdém, dá-me ordens, tenta apontar dedos à eficiência do meu trabalho, não aceita uma sugestão sem ser verbalmente agressivo e tem atitudes de violência passiva. O que fazer?

Esta questão já não me perturbava há algum tempo, a pesar da convivência diária. Mas hoje até me tirou o sono e estou aqui a escrever ás 5.30 da manhã... o mesmo número de horas que estou acordada.

A minha atitude para com ele ou para qualquer outra pessoa, mesmo que rude e agressiva, é pacífica. Sou uma "madre Teresa" (só que esta era impaciente!), no sentido em que consigo engolir todos os disparates que me são lançados e não reagir sem ser com tranquilidade.

Como lidar com uma pessoa destas? Aparentemente é um tipo simpático... mas só há superfície. Posso dizer com sinceridade que ele se mostra tal como é: um desalmado. O que não é nenhum despropósito, visto que tudo o que se relaccione com piedade, compreenção, Deus, milagres, protecção divina é alvo das suas mais impiedosas críticas.

A mim ele se mostra tal como é. Não há nada ali que se aproveite. Diria que não tem essência, não tem conteúdo, é podre. Como diz uma colega: o tipo é um porco. Às mulheres, só trata bem as jovens e bem feitas. Diz com a boca cheia que é exigente e só come "filé-mignon". (olhem só o tipinho...). Chama nomes às outras, sempre pelas costas, e não é nada meigo. Ao implicar com alguém é um desalmado: não mostra sentimentos, não parece reflectir sobre as razões ou validade das suas acções. Parece um animal mas um daqueles irracionais, que só sabe é ver um alvo vermelho à frente e investir, investir, com os cornos. E gosta das vítimas inofensivas e inocentes. Vulneráveis e sem grandes defesas. É mesmo um animal... não implica com ninguém do seu género. Não bate de frente com homens, que esses podiam dar coices. O seu alvo predilecto são mulheres fracas.


Mas quem julga que ele aparenta ser o que é, julgue outra vez. Tem voz doce. Que usa tal e qual uma mulher usa quando quer seduzir. Para mim é uma voz desagradável e tem um tom nojento mas, para quem está de fora, é capaz de iludir. Fala de forma rude e agressiva, mas com aquela voz. É altivo, cheio de si, mas como diz "bom dia" com dois beijinhos no rosto, julga-se o mais bem educado ser à face da terra (sem exagero). Também se julga o único bom trabalhador dentro da sua profissão e já o ouvi falar mal da forma de trabalhar de todos os outros colegas. Mas tem conversa, enrola, diz coisas sem nexo mas vai deixando a pessoa em dúvida...

Uma vez olhei para ele no momento exacto em que disse algo assim:
-"Deus?! Eu acredito é no Diabo, se tiver de escolher prefiro o Diabo a Deus".

Ao olhar para ele não é que visualizei o dito cujo? O rapaz tem até perfil físico para se mascarar no Halloween da sua personagem favorita. O perfil e o espírito, já que é tão ardiloso e maldito. Tem perfil, tem espírito mas duvido que tenha alma... maldito!

Maldito!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Educação à Portuguesa

Hoje dirigi-me a um supermercado, daqueles que fecha 2 horas horas para almoço. Cheguei lá mesmo à hora de abertura: aliás, 1 minuto depois das 15h30. Já pessoas aguardavam para entrar. Uma delas, senhora na terceira idade, bem cuidada e com carrinho de rodas pronto a aviar, disse estar ali à espera há 30 minutos e bate com impaciência na porta, pois vê as empregadas a conversar na caixa. Estas não têm reação. Como é típicamente nacional, o empregado português faz de conta que não percebe e guarda logo uma vingançazinha. Mais um minuto passa e uma das raparigas de bata vermelha dirige-se para a porta. Agora percebam o comportamento dela:

- Arrasta os pés. É propositadamente lenta, como se aquilo fosse uma marcha onde não deseja chegar à meta. Nas mãos à cintura, tras as chaves, com as quais brinca, mexendo numa de um lado para o outro entre os dedos, enquanto, vagarosamente, teima em chegar perto da porta.

Eu, que não tinha pressa nenhuma e nem estava impaciente, perdi a paciência logo ali. Está certo, já estava aborrecida com outra questão mas por isso mesmo é que não tinha a tolerância habitual para mesquinhices. Esta empregada, típicamente portuguesa, não podia deixar passar a oportunidade de gozar com a cara das pessoas, tendo aquela atitude típica e previsível. Por o ter previsto é que me desapontei. Saí dali em direcção a outro lugar. Hoje não estava com paciência para este tipo de provocações mesquinhas.


Porquê que em Portugal a pontualidade para abrir um estabelecimento é uma questão de 1 ou 5 minutos depois da hora e para fechar, é uns minutos antes? Até aceitaria sem problemas esta característica portuguesa, não fosse as ocasiões em que é seguida destas outras mesquinhas.


Já trabalhei em Inglaterra e, neste aspecto, as pessoas são muito mais sérias e sabem que este tipo de atitude mesquinha não passa de mau profissionalismo. Nunca que uma empregada lá, ia abrir a porta minutos depois da hora programada, a arrastar os pés e a alongar os segundos... muito feio!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Outras cores


Não há dúvida que a vida tem outras cores que não as que conhecemos.

Ontem vi um arco-íris e fiquei a contar as suas 7 cores... embora só distinguisse 6!


Mas entre cada arco com a sua cor, existem outras... e quando chegamos perto de outro espectro, a experiência toca-nos sempre. Mais ainda se, no nosso íntimo, soubermos que pertencemos mais aquele que visitamos, do que aquele onde vivemos...


Ser exposta a outros estilos de vida, melhores, faz-me sentir uma enorme vontade de chorar. Não que os inveje, longe disso. Até me afasto, talvez por saber que ali seria mais eu... É a dor de uma perda...!


Gosto da gastronomia pensada, científica, onde a combinação dos ingredientes é um chamariz para os sentidos e o desafio se faz com arte. Fui visitar, por casualidade das circunstâncias, um lugar assim e tive direito a um toor. Vi e cheirei aromas de comida bem confeccionada. Calei a minha fome, coisa que tenho passado uma semana a conseguir, com surpresa, fazer muito bem. Passadas 2 horas, já a noite vai alta e estou sozinha, fui tratar de me alimentar, pois o estômago só tinha visto comida eram 13h00... uma banana. Foi o que me restou. Não que não tenha dinheiro na carteira para um desvario... mas seria isso mesmo. Um desvario que me alimentaria hoje, mas me deixaria sem o que comer amanhã.


No entanto pergunto: vale a pena isto? Acho mesmo que não. Se não se viver a vida quando ela pede para ser vivida, se a contenção for uma atitude sempre presente em todas as acções, não se vive nada... e é a experiência que fala, não a sabedoria. Se fosse sábia, já me tinha deixado de privações. Como depois iria me virar, não sei. Mas cá está: se calhar, essa circunstância ia dar-me a tarimba necessária para aprender a dar a volta por cima bem depressa.


Fiz as contas ao dinheiro e percebi que ganho abaixo das novas despesas fixas. Ou seja: no final do mês, o que ganho não sobra para comer. Isto assustou-me em demasia. Qualquer coisa me parece um luxo. Um colega brincou sobre pagar-lhe um café e esses 0.50 cêntimos pareceram uma fortuna. Mas ninguém sabe disto. Guardo para mim, enquanto todos pensam que estou bem...


Talvez seja tarde para mim, embora acredite que nunca é tarde para mudar o que quer que seja. Mas uma coisa já perdi: a infância e a flor da juventude. Agora... vou deixar que o restante passe todinho para depois ver que ficou tudo por viver, em prol de uma "contenção" permanente?


Ai! O arco-íris!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Coincidências ou Karma?

Interrogo-me, por vezes, sobre a minha morte. Na Primavera, quando tudo floresce, é impossível não pensar no ciclo da vida. Nesta estação, ela começa. No Outono, termina... hoje é o primeiro dia de Outono. Acabou-se a Primavera e o Verão.

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Quando será que vou morrer? Na verdade, não tenho nenhum pensamento mórbido em torno da ideia, nem é algo que está sempre a surgir. Mas tenho um que vou partilhar. Quando tenho de escrever uma data e vejo a minha mão a desenhar os números, ás vezes interrogo-me: será este o dia e o mês do meu óbito daqui a uns anos e nem o imagino?

Na segunda-feira passada tive esse pensamento. Não sei porquê, no preciso momento em que anotava a data, pensei na mesma como sendo de óbito. De alguém. Talvez o meu, daqui a não sei quanto tempo. O dia era 14 de Setembro. Atraida pela ideia de partilhar o que estava a pensar, com algum receio de parecer doida, perguntei aos presentes se tal ideia já lhes passou pela cabeça. Justifiquei-a também, porque a verdade é que já lidei com muitas datas e fiz estudos genealógicos, que me fizeram pensar na coincidência dos números.


Está visto, os outros não deixaram de estranhar a minha observação. Voltei a justificar, dizendo que era parvoíce para descomprimir o stress e ficámos por aí.

No dia seguinte pela manhã, os noticiários anunciavam a morte de Patrick Swayze, que ocorrera na véspera. Exactamente no dia 14.

Coincidência?
Não deve passar disso, claro está!

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Depois reflecti sobre outras coincidências. Duas semanas antes, descia a rua quando a música "I had the time of my Life", acompanhada de alguns vislumbres da dança do filme começou a soar na minha mente. Tive de me controlar para não descer a rua a dançar, pois ia parecer uma doida! Também me lembrei da série "Fame" e pensei que ninguém ia estranhar ver uma pessoa começar a dançar e cantar na rua, se essa série ou outra parecida estivesse a dar na televisão. A crise e a tensão pede o retorno de algo parecido... há espaço na TV portuguesa para uma cópia descarada. Estamos a precisar de ver adolescentes a cantar, dançar e pular pelas ruas e cafés...

Ao fazer um zapping pelos cento e tal canais, deparei com um documentário sobre o ator Patrick Swayze no canal E!, que contava a sua história até o ponto de ter recebido o diagnóstico de cancro pancreático. O que achei extraordinário, coincidência demais, foi, após ter ouvido nos noticiários que Patrick morreu aos 57 anos de idade, no documentário disseram a mesma idade quando referiram a morte do pai de Patrick. 57 anos!


É Karma? São coincidências? Acredito que nós gostamos de achar que não há coincidências em acontecimentos onde elas existem. Especialmente em catástrofes ou desastres. "Oh! Estava escrito!" - dizem alguns. Mas em outras circunstâncias, por serem talvez bizarras, achamos que é um acaso. E essas é que não são coincidências...

sábado, 12 de setembro de 2009

Televisão com outras coisitas más

Já repararam que as ofertas de serviço de canais de televisão, em todos os operadores, impigem outros serviços incluídos? Interrogo-me se a Entidade que regulamenta estas coisas considera isso legal. Falo só por mim mas uma coisa é verdade: gosto do serviço que tenho de internet+telefone. Não vou me desfazer do que gosto só porque, para ter televisão, estes serviços estão incluídos e não podem ser desassociados!
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Cheira-me a ilegalidade. Não vos parece? Uma vez interessei-me pela Clix Tv. Telefonei a pedir informações. Além da pessoa que atende o telefone responder sem demonstrar qualquer interesse em vender o produto ou se interessar, soube logo com um redondo «não», que o serviço não se desassociava da Internet e do Telefone. Logo telefone, que é coisa que começou a cair em desuso devido ao telemóvel. Mas compreendo... é prático oferecerem-nos esse serviço. Além de ser mais uma forma de cobrar mais dinheiro por um serviço, permite que o telemarketing não morra.
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Ao pesquisar na internet outras ofertas, como a MEO, por exemplo, lá está a mesma coisa: queres televisão? És obrigado a levar internet!
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Um conhecido aderiu à Zon Tv e a conta mensal ascendeu logo no primeiro mês aos 100 euros. Parece que cobravam também o uso da Internet. Mas não havia internet! Se estava disponível, nunca foi usada. Como podiam cobrar essa exorbitância? Não funcionava, não foi solicitada, nenhum documento foi assinado nesse sentido. Uma coisa é garantida: cada vez que é para mudar de operador ou de serviços, avisinham-se grandes dores de cabeça. Horas e horas ao telefone, dinheiro gasto em chamadas, para tentar esclecer o porquê destas incongruências. Claro... entendo que têm de alimentar os serviços de Call-Center. É para isso que existem: para fingir que existe a preocupação em agradar o cliente e que as muitas falhas do serviço são, ups!: acidentes.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Gripe A


Todos os dias passo por um centro médico onde se fazem testes de detecção à gripe A. Todos no local andam com máscaras protectoras na boca. Os médicos, o recepcionista à porta, as pessoas que vão fazer o teste e os acompanhantes. Já os vi em torno dos CAIXOTES DE LIXO, a despejar um líquido, parecido ao comum detergente lava-louças Sonasol verde. Desperta-me curiosidade o destino e manutenção do lixo hospitalar... e este, não é diferente.
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Por isso é que me entristeceu profundamente, o cenário que se seguiu. O jardim à volta do centro médico, está replecto de máscaras, o bueiro para as águas entupido com máscaras... tudo lançado para ali, o vento que se encarregue...
O povo Português não tem mesmo brio ou civismo... não perde o hábito de deitar lixo ao chão! Triste. Ainda mais, se tratando deste tipo de lixo, que pode conter o tal temível vírus infectocontagioso... Triste!

Mundo invertido


Desde quando é que qualidades viraram defeitos na sociedade? Hoje em dia parece que as pessoas com certas características antes tidas como qualidades, são mais castigadas pela vida.
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No emprego, ao qual me entrego com dedicação, estou sempre a ouvir uns a falar mal de outros. Pelas costas, claro. Porque pela frente, são todos amigos...
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Sou uma pessoa organizada, muito tolerante, que nunca perde a paciência, não chama a atenção dos erros dos outros, e repito 1000 vezes a mesma resposta, se questionada 1000 vezes. Explico tudo com paciência, tolerância. Entrego o trabalho organizado e claro. Até um retardado conseguiria entender e seguir as instruções. Digo constantemente "obrigada". Quando chamam o meu nome, levanto-me e vou até a pessoa saber o que quer de mim. Faço-o 1000 vezes também, se preciso. E tudo isto... para quê? Que valor tem?
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Esta postura é minha, não tenho como alterá-la. Não a criei, não a inventei. É quem sou. Mas neste mundo de valores invertidos, parece que todos, às tantas, estão ali para te atacar. Há procura que cometas um deslize, para, sem misericórdia, te cairem em cima. Querem apontar o dedo na tua direcção e acusar-te de falhar. Parece ser uma meta a atingir, um dos muitos estranhos e retorcidos objectivos dentro do universo laboral. Entre colegas, com funções diferentes mas que se complementam, nem precisam todos fazer o mesmo... está lá. Uma espécie de "atitude maligna", viva como um microorganismo viral sempre atento para destruir uma célula saudável.
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Não entendo isto. Não entendo a preguiça constante, a falta de empreendedorismo, a falta de gosto naquilo que se faz, o facto de não incomodar não se fazer o que se tem de fazer da melhor forma possível e incomoda-me também, por não entender, PORQUÊ não se trabalha em Portugal com a cabeça no que interessa: a tarefa do momento. Estão todos demasiado ocupados a se lamentar da sorte. Só olham para o próprio umbigo. Preocupam-se com o dinheiro que o outro ganha, sonham com uma vida de Marajá que sempre juram a pés juntos merecer. Lamentam-se e maldizem o que têm, controlam os horários de entradas e saídas dos colegas para compararem aos seus e não ficarem um minuto atrás, não cumprem prazos, deixam as coisas para fazer até ao último minuto, não são muito pontuais...
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Gostava de me ver inserida num contexto laboral diferente. Dizem que, "lá fora", noutros países, não existe tanta mesquinhez no ambiente laboral. Lá fora, dizem, as pessoas trabalham de verdade - dizem. Não andam a mandriar (fingir que trabalham). E também se diz que há respeito e se convive amigavelmente, depois do expediente.
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Não deve ser tanto assim um mar de rosas mas tendo a acreditar numa coisa: deve ser verdade que, lá fora, sabem trabalhar com a mente centrada na função e deixam de lado as mesquinhices pessoais de relaccionamento. Os portugueses perdem muito tempo das suas vidas a se lamentarem do trabalho... e, com isso, sabotam a sua felicidade.
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Será que algum dia vamos aprender a viver mais felizes?
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quarta-feira, 1 de julho de 2009

Recibos verdes e injustiça

Estou a viver um período de decepção laboral.
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Cumpro um horário de 8 horas, com várias horas extra não renumeradas.
É comum fazer almoços de 30 minutos, ao invés da hora que me é de direito.
Ás vezes nem sequer almoço, e mastigo uma sandes enquanto trabalho.
Não tiro um segundo para descansar.
Trago trabalho para fazer em casa ao fim-de-semana e não só.
Estou sempre sobrecarregada de coisas para fazer, fazendo-as bem.
Nunca faltei a um dia de trabalho.
Adiei qualquer necessidade médica para não faltar ao trabalho.
Tudo isto, a recibos-verdes.
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O dia-a-dia:

Desde o despertar para me arranjar para ir trabalhar e o sair do trabalho e chegar a casa, passam-se 13 horas do meu dia. Se subtrair das restante 11 as 8 horas que é suposto reservar para o sono, são 21 horas. Restam-me apenas 3 para fazer algo que não seja trabalho. Mas, no geral, o cansaço não me dá muitas alternativas.
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O ritmo a que trabalho é intenso. Realmente, não páro um segundo. Não faço lanches a meio da tarde, nem pausas para o café nem nada realmente, que me retire da compulsividade para o trabalho. Isto é exaustivo. Quando finalmente as tarefas cessam e o corpo tenta relaxar, a exaustão faz-se notar. Ainda que queira sair para me divertir, o corpo não deixa. E não é de espantar.
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Acabo por não conviver muito com os outros. Viro um "bixinho" do trabalho. Não sou uma criatura explosiva, pelo que, tenho de aguentar muita coisa errada e lidar com a revolta alheia, sem recorrer ao mesmo veículo de escape. Não grito, não deixo trabalho para fazer, estou sempre a verificar se tudo está bem, não passo trabalho incompleto aos outros, e, muitas vezes, acabo a resolver os problemas que cabe a outros. Sei que sou muito produtiva mas, em suma, o que sou é ser idiota.
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Faço tudo isto, e não tenho nada meu. Acabo por dormir apenas uma média de 5 horas por dia, para poder ter mais "tempo livre" para fazer outras coisas. Ou seja: enquanto outros "roubam" este tempo ao trabalho, eu tiro-o das horas do sono. Tanta dedicação, e são os outros que recebem melhores salários, deslocam-se de automóvel para o trabalho, vivem em casas próprias. O meu salário não me permite, sequer, ser independente da guarida de terceiros. O meu salário, corresponde a METADE daquele que é recebido pelos restantes colegas. Repito, passo recibos-verdes.
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Não vou ao médico e estou a adiar uns tratamentos caros no dentista.

Quando penso nisto, fico revoltada. Comigo, com a falta de gratidão, com a injustiça, com o aproveitamento, com tudo!
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Ao final de um mísero ano nestas condições, o que é que penso? Que não me é dado o devido valor. Começo a achar também que tenho agido mal, em ser como sou. Devia dar menos de mim à entidade patronal e fazer mais alarido sobre as responsabilidades que carrego nas costas e o quanto sou magnânima por resolvê-las. É que, cada vez mais, vejo que o que conta é a aparência. É o alarve que se faz ao redor da coisa.
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Sou humilde e isso nunca me levou longe. Se for a olhar para cada um dos meus colegas, cujas faltas também começo a perceber, sei apontar distintamente o que cada um diz de si mesmo que os faz parecer ter mais valor do que, se calhar, têm. Ou seja: fazem eles bem, ao estarem constantemente a relembrar o local de trabalho sobre as suas qualificações e habilidades.
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Por acaso sou a única com licenciatura ali dentro. Mas isso não conta nada, se não souber tocar o meu trombone, puxar a brasa à minha sardinha e por aí adiante...

Sou também uma de 2 pessoas que passa recibos verdes. Mas existem diferenças. Eu cumpro um horário integral, a outra pessoa não. É uma «recibo verde» verdadeiro.

Eu tenho cerca de 85% do trabalho a meu cargo, a outra pessoa tem 15%.

Eu tenho um salário que corresponde a menos de metade do salário da outra pessoa.

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E o que me dói neste instante, é não ter um salário perto da quantia dos restantes e não ter o meu trabalho reconhecido pela entidade patronal, que se recusa a me integrar como funcionária contratada para não pagar à Segurança Social.
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Digam-me lá se vale a pena continuar a trabalhar assim, nestas condições, para sobreviver com 200 euros?

Bem, tenho de terminar este texto para ir trabalhar.... já são 7.20 da manhã... tenho de me despachar.
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:(

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Magnetismo, que falta fazes!

A prova que o suporte digital é uma porcaria, em concreto os cds e dvds, é que, durante anos, guardei em disketes, uns trabalhos de imagem que fiz no antigo windows 3.0 - lembram-se deste «retrógado»?

Pois chegou os gravadores de cd, resisti, resisti, as drives de disquetes passaram à história, e então lá copiei para cd uma série de preciosidades.

Hoje não acedo a nada. Os discos onde a informação foi gravada, não funcionam.
Estão riscados? - Não.
Sofreram danos? - Não.
Estiveram expostos a temperaturas altas ou humidade? - Não.

E a informação guardada, onde pára?
Crente que estávamos que a estavamos a preservar, esta-se na realidade, a deitar para o lixo.
Nada supera a fita magnética. Desculpem a triste verdade é mesmo esta.

E se tiverem muita informação, coisas importantes, que não querem perder, guardadas em cd ou dvd, tratam de colocar, ao menos, num disco rígido. Ainda assim, de nada vos servirá. As coisas foram feitas de modo a ficarem perdidas. Os aparelhos electrónicos adquirem virus, as versões são actualizadas e coisas feitas em versões antigas começam a manifestar problemas, os ficheiros podem ficar currompidos, etc...

Nada supera a fita magnética! Nada....

domingo, 7 de junho de 2009

Dia de eleições Europeias

Antes deste dia chegar, andei a fazer uma sondagem pessoal ás pessoas que me rodeiam, para saber se iam votar este Domingo. Ninguém fazia intenções de ir.
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As pessoas simplesmente estão desinteressadas pelo acto em si. Querem criticar e mandar vir. Mas na altura de ir ás urnas, não estão para isso. Quem vai então ás urnas? São as pessoas que, por alguma razão particular, têm algo a ganhar com o voto. São as pessoas que vivem a política, envolvidas nela mais directa ou indirectamente ou simplesmente o cidadão consciente, que dá importância à democracia.
PSD
Neste momento estou a escutar o discurso do partido eleito. Já vai para 8 minutos a parte em que o vencedor começou a falar do PS e ainda não se calou. Seria de esperar que viesse explicar o que pretende fazer com a vitória, que planos tem, o que vai fazer para combater a crise, melhorar o país ... mas o tipo eleito não se cala com as estatísticas do fracasso dos partidos socialistas pelo globo terrestre e continua a falar de Sócrates e do governo socialista actual. Muito mau presságio. Atrás de si, aparecem uns fantoches com comportamento ao estilo das farras universitárias, com cantorias e muita pujança, mas nenhuma credibilidade. Gritam: "Vitoria! Vitória!" E continuam o discurso: "O POVO NÃO ESQUECE A TIRANIA DO PS". Até na cantoria, tal como nos inúmeros out-doors que andam por aí, este partido não fala dos seus projectos e acções. Só falam mal do adversário. Mesmo saindo vencedores!
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Já se passaram mais minutos, e continuam a dizer mal do partido Socialista, os derrotados, dizem que não são humildes, que não lhes deram os parabéns pessoalmente e só por televisão, que isso não se faz, mas são hipócritas logo a seguir, dizendo que aceitam os parabéns.
v
Espero que sejamos bem governados.


CDS-PP
"Viva o Cds, viva Portugal" - "Cds! Cds!" é a cantoria do Cds-PP.

Mas Paulo Portas acaba de assumir o microfone, e começa o discurso com a derrota do partido Socialista. Será que é outro discurso integral sobre a oposição? Vá lá: este é mais esperto: já mudou o discurso para o seu partido e está a sublinhar as suas vitórias. Esperto este Portas... falou da derrota PS só de raspão e agora está a falar dos dois eurodeputados eleitos pelo seu partido.

PSD
"Ninguém para o Rangel, Oh, é, Oh"! - É a cantoria que continua a entoar no sede do partido do PSD. É um misto de cantoria hooligan, das claques de futebol, com as farras universitárias. A cada palavra dita pela Ferreira Leite (aquela que tinha um out-dor com fundo preto e mudou todos para um fundo branco em dégradée), esta claque bate palmas e continua a cantoria futobolística. Não sei, mas este tipo de celebração não deposita qualquer confiança na minha pessoa. Batem palmas, fazem cantorias em que variam, sem originalidade no gingle... agora estão a plagiar uma canção latina... em resposta à menção da derrota do PS. Atrás da Ferreira Leite, está o vencedor, com aquele ar pouco credível, a sorrir diante a menção do seu nome, a bater palmas... brrr! Arrepiante!
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Só espero que Portugal saia VENCEDOR deste circo todo. Mas temo o nosso futuro... não quero palhaços a falar dos derrotados! Quero líderes! Com projectos para o país, com motivações que visam melhorar a vida do povo, as condições do país! E não um partido que só sabe atacar o adversário... tsc, tsc!
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Vamos ver no que isto vai dar.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Professora de Psicologia

Hoje vi nas notícias o comportamento indigno de uma professora de história, com alunos de 12 e 13 anos. A mulher, que na gravação disse ter um filho da idade dos seus alunos (coitado do miúdo!), não leccionava nada nas aulas. Limitava-se a intimidar, insultar e criar um clima de terror na sala. Toda a conversa que tinha, ia dar a sexo. Falou de "cuequinhas molhadas", beijos de "linguado", romanos a fornicar mulheres...
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Fiquei-lhe cá com um pó! Se tivesse um filho ali, eu, que sou tão calminha, se me apanhassem no calor do momento...
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Este triste caso da professora maluca que dá cabo da sanidade mental dos alunos, fez-me recordar alguns episódios do meu percurso escolar. Também tive uma parecida a esta, no sentido em que ia para ali mas não dava matéria. Limitava-se a falar de si, do seu corpo bem conservado para a idade de 40 anos, que nem parecia ter um filho da nossa idade (18 e 20), e mostrava-nos o sotien e a mini-saia, enquanto falava das suas pernas...
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Fique claro que esta professora do noticiário, tal como a minha, estava a falar de si. Dos seus desejos, das suas taras. Mas a descarregar nos miúdos, cuja juventude decerto inveja.
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Este tipo de pessoas dispensam-se bem do convívio diário. Pobres miúdos! Deviam ser indeminizados. Lembro que o que mais me indignou na minha professora (de psicologia) foi o último comportamento que teve para comigo. No final do ano, no fim das 2 horas de prova global. Eu ia a sair da sala e ela, que se encontrava na porta do lado de fora a seduzir com falinhas mansas um professor, à minha passagem fez um comentário onde dava a entender que se preocupava:
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-"Então, correu bem o teste? Tenho a certeza que sim, conheço a XXXX muito bem".
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Ia para lhe responder, mas depois, talvez devido ao cansaço, limitei-me a sorrir e a afastar-me.
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- Você não me conhece, a maior parte das vezes nem sabe o meu nome. Só me dirigiu a palavra a fingir simpatia para impressionar o homem com quem está a falar" - algo assim quase quase saiu da minha boca, de forma muito espontânea. Mas antes de sair, algo o travou. Teria sido um comentário tão genuíno e inesperado, que a teria deixado atónita e sem palavras. E teria a desmascarado, ao mesmo tempo que dava a entender que não era estúpida. Ela bem o merecia. Mas calei-me, como, aliás, sempre o fiz e também sempre o fizeram estes alunos do noticiário. Até que os tempos e a tecnologia (de que eu não dispunha) deram uma ajudinha...
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Bem feito! Que criaturazinha detestável, esta «stôra»!
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Ainda hoje sinto repulsa só de pensar que o último gesto da minha professora para comigo, foi o de me usar para seduzir um homem. Mete-me nojo. Ela queria lá saber de mim! Estava a falar para ele. Quase a desmascarei. Mas poupei-a... não recomendo.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Legalizar poços??

Esta que me chega através do programa "Nós por cá" é daquelas que me deixa o sangue a fervilhar...

Uma «norma» europeia diz que se precisa declarar (e como!) todos os poços, furos, minas, barragens, noras, charcos e fossas do país. A coima (multa) não é nada amiga: Um mínimo de 25.000.€!

E quem é que tem esta quantia para pagar?? Os agricultores do país, muitos deles ainda analfabetos e envelhecidos, são por acaso milionários disfarçados?

Este CRIME fez a população entrar em pânico. Correram à entidade reguladora para registar antes do prazo terminar: no final deste mês! Os papéis que têm de preencher são burocráticos até mais não. Só um engenheiro formado que se desloque ao local para recolher dados relaccionados com o caudal é capaz de preencher umas parcas alíneas.

Cordenadas militares, uma planta numa escala de 1 para 5000, caudal máximo instantâneo... tudo informação que qualquer pessoa com a 3ª classe sabe facilmente dar, não é?

Mas de onde vem esta pressa para iventariar os recursos naturais hídricos de Portugal? A intenção é proteger os recursos hídricos ou controlar e retirar água daqueles que a têm? Afinal de contas, e a preocupação com as águas poluídas que as fábricas e empresas despejam nos rios? Quantas vezes as populações de locais fazem manifestações, apelos, chamam a atenção para a poluição das águas e nada é feito para inverter a situação?

Mas ao "Zé Povinho" apontam rapidamente o dedo e acusam-no de estar ILEGAL e ameaçam-no que terá de pagar uma COIMA MILIONÁRIA!

E lá vão as pessoas pacatas deste país, a correr para não serem ilegais...

Mais uma vez, a preocupação está pouco focada na questão central: a qualidade da água. O controle dos desperdícios. De tudo o que há neste país, a ameaça paira sobre o indivíduo pacato que rega a horta com 3 baldes de água.. Ãh! Que Portugal!


"É para saber o que está no mundo" - diz Albertina, 74 anos, proprietária de um poço em Constância, Santarém. E deve estar com a razão. A questão também é saber que intenção REAL existe por detrás de tamanha façanha. Ninguém me tira da cabeça que, o que sempre aconteceu pelo mundo, é o que vai continuar a acontecer. Os mais ricos vão roubar dos mais pobres. Ainda vem por aí outra "norma" Europeia a dizer que os portugueses só podem consumir um percentagem de água, por cabeça, e se a ultrapassar paga coimas MILIONÁRIAS... entretanto também vai sair outra norma a dizer que os países mais abençoados têm de facultar outra percentagem de água para ser distribuída para os países RICOS na economia mas pobres em recursos naturais. E no entanto, a preocupação MUNDIAL ou Europeia com a falta de água de África é o que é...

Cínicos!


O meu sonho para a velhice passava por viver num sitiozinho com uma casinha o mais autosuficiente possível. Não pagar água canalizada, nem electricidade, nem ter contas "disto e daquilo" para pagar... simplicidade, conforto e liberdade. Já vi que tenho de dizer quantas vezes tomo banho e quanta água uso. Cada gota!


Está na minha forma de ser economizar os recursos. Sempre o fiz. Lâmpadas económicas, duche em vez de banho e com torneiras fechadas (o que é muito difícil tendo em conta que em Portugal ter água temperada no momento do girar da torneira é algo que nunca me aconteceu, nem a viver num R/C, nem num 5º ou 10º andar). Muitos banhos frios! A sorte é que prefiro-os assim.


Mas um dia gostava de saber o que é poder usufruir da água de outra forma, como por exemplo, descobrir o que é ter uma piscina e desperdiçar toda aquela água...


Não há uma norma Europeia que controle a quantidade de água que os ricos usam em piscinas e mega banheiras de hidromassagem? E que tal tornar obrigatório a declaração da existência de banheiras de grandes dimensões, piscinas e lagos artificiais em propriedades e condomínios privados de luxo?


Ora fica a ideia...

sábado, 25 de abril de 2009

Desejo que pesa e angustia

Vou registar aqui, para a eternidade.
Hoje faleceu uma pessoa da família.
E com ela, vai a última oportunidade de um desejo.
Desejo fácil de concretizar mas que por ser (ainda) inusitado, ficou silenciado.
Ainda o desejo.
Ainda ia a tempo.
Mas ninguém ia compreender.
O que fazer?

É pesado o fardo de andar à frente do tempo...

Aguentaste a tua existência, resta-nos a todos ter a mesma coragem.
Paz.

sábado, 11 de abril de 2009

A importância da formação

O respeito pelo ensino do nível da educação superior nunca esteve tão em baixo. A maioria das pessoas fazem pouco deste nível de formação. Dizem que não presta, não tem serventia e que não se aprende nada, entre outras coisas.
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Considero estas noções perigosas. A quem estamos a ajudar, ao agir assim? Que contributo e melhorias tais ideias trazem à sociedade? Nenhumas.
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Foi no ambiente de trabalho que tomei consciência da importância da aprendizagem a nível superior. Ainda na véspera, uma colega me dizia que uma licenciatura "não servia para nada" e que preferia tirar cursos de algumas semanas ou meses. Como se o nível de conhecimento adquirido tivesse a mesma profundidade!
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Tenho a percepção de que, algumas pessoas que fazem estas críticas, fazem-no com alguma dor de cotovelo. Na generalidade, são pessoas acostumadas a apanhar atalhos. Os muitos anos de investimento pessoal que o ensino superior acarreta, não combinam com pessoas assim.
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Para quem o status é muito importante, a falta deste nível de formação no seu CV é-lhes penosa, pelo que preferem desacreditá-lo. Mentem a si mesmos para, quando têm os seus filhos na idade certa, fazer questão de vê-los a obter uma licenciatura. É o tal do "status" a falar mais alto e, de alguma forma, a hipótese de tê-lo para si através do sacrifício dos filhos.
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Mas o que me levou a vir escrever foi a percepção do quanto mentes sem a formação adequada prejudicam o trabalho. Esta semana que passou percebi que a empresa onde trabalho está realmente com a corda no pescoço. Se não se agir atempadamente, vai afundar rapidamente. Perante este facto, o que vi foi uma vontade imensa de apontar dedos de acusação em direcções ridículas e a fazer comentários "non-sense". Percebi que ninguém estava em sintonia comigo: arregaçar as mangas e começar logo a mudar a situação.
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Fiquei muito triste, como se pode imaginar. Quando se perde a fé, o que resta? Ainda mais revoltante é saber que os sinais de alerta são constantemente ativados. É só bandeiras vermelhas a ser acenadas debaixo das vistas de todos. Ao invés de trabalharem com mais afinco, ficam mais relapsos.
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Foi então que percebi que estava a lidar com pessoas que não sabiam no que consiste o cargo que ocupam. Nem pena ou dó senti por um indivíduo que ali estava preocupado em apontar o dedo a alguém, com um argumento de cáca de passarinho. Mas fez-me compreender que ele não tinha a mínima noção do que consiste a sua função e de qual era o mercado em que está inserido. Toda aquela inércia estava a dar-me alergia. Foi então que se deu a segunda revelação: eu sei mais sobre isso que ele. E porquê? Porquê para mim estava tão claro o caminho a seguir?
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É porque recebi formação nesse sentido. Foi por ter andado na universidade e ter uma licenciatura. Aprendi marketing, publicidade, gestão... e por mais que estes conhecimentos estejam adormecidos, a verdade é que o conhecimento quando adquirido, já prepara uma pessoa para outro tipo de abertura e postura no mercado de trabalho.
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Se todos arregaçarem as mangas e trabalharem árduamente, podemos salvar a empresa e os nossos postos de trabalho. Mas depois do que assisti, fiquei preocupada. Acabei por falar com o patrão, sem me mostrar receosa, apenas com vontade de trabalhar e definir as coisas. Foi aí que pareceu que o tecto tinha acabado por desabar por complecto em cima da minha cabeça. Ele nada entende do assunto.
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Não que eu já não soubesse isso. Eu sabia. Ele é um "espertinho", que em adolescente era preguiçoso para o trabalho e queria ganhar muito dinheiro com um negócio próprio. De lá para cá, não estudou, não tirou cursos de gestão ou liderança, nada. Mas esperava que as bandeiras vermelhas e um pouco de bom senso fossem suficientes para o ver mais assertivo. Em vez disso, pôs-se a fazer uma lista das tarefas que fiz. A elas acrescentou mais algumas e deu um prazo ridículo para as concluir. Percebi então que não há esperança.
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É bom que comece a procurar outro trabalho. Este não deve durar muito, porque o patrão vai afundá-lo com rapidez. E as pessoas com que se rodeou estão a lavar as suas mãos e a deixar o barco afundar.
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Trabalhar com pessoas que não têm noção de como funciona o meio onde trabalham é desmotivador. Aparece por lá alguém que entende um pouco mais do assunto, pode e quer ajudar, e acaba por se sentir impotente, diante da mediocridade e falta de capacidade para aceitar ajuda. E não falo de mim, que sou substimada e não me importo, mas de "sangue novo" que acabou por entrar na firma com o propósito de a salvar e depara-se com muros a serem colocados à sua frente. Assim não vai dar.

domingo, 5 de abril de 2009

Tristeza mesquinha

Não gosto de atitudes mesquinhas e cada vez vejo mais disto à minha volta. Vejo pessoas a tentar poupar os 0.50 cêntimos do café e não é deixando de o beber. É a passar os dias a pedir a terceiros que o paguem!
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Uma colega que passa a vida a queixar-se de falta de dinheiro é tão somítica, que assim que chega ao trabalho pede bolachas aos outros. Dia vai, dia vem e está sempre a comer o lanche dos outros, nunca trás nada. Na hora do almoço, também consegue fazer o mesmo exercício. O costume é trazer comida de casa e fazer a refeição na empresa ou ir comer ao café. Muitas vezes ela come um pouco da refeição que os outros trazem de casa e fica almoçada ou então pede o prato mais económico e acaba por comer também o bife as batatas fritas a salada e as sobremesas que os outros deixam de lado. Alimenta-se com os restos alheios!
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Noutro dia vi que ficou muito contrariada por ter de ir até o café no seu carro. Os outros colegas já tinham partido e ela ficou furiosa, mas disfarçou, porque ia gastar gasolina. Ainda por cima, no local onde nos disseram que os outros iam estar não estava ninguém e tivemos de ir a outro lugar. Ela ficou possessa mas transferiu a sua raiva para a situação no emprego. Bebeu um café e pediu a outra pessoa para lho pagar. Justificou que tinha pago o pequeno-almoço a uma amiga e que por isso queria que lhe pagassem o café. Duvido que não tivesse 50 cêntimos com ela! Mas é tão forreta, tão ardilosa, que se comporta sempre desta maneira. No dia seguinte não deixou a situação repetir-se e saiu da cadeira sem dizer nada, dirigiu-se para o estacionamento e introduziu-se de imediato na boleia de alguém.
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Quando comecei a trabalhar na empresa, de vez em quando ela dava-me uma pequena boleia até a paragem do autocarro. Nunca lhe pedi de propósito que o fizesse, mas cheguei a lhe perguntar se saia a horas certas e se sim, se podia deixar-me perto da paragem. A subida é ingreme e leva uns 20 minutos a percorrer. Uma vez até perdi o transporte porque ela disse que sim e depois não cumpriu. De início era ela própria, de forma espontânea, a oferecer-me boleia ou a lembrar-me constantemente de perguntar a quem estava de saida se ia para os meus lados. Mas como eu não gosto de incomodar ninguém, só mesmo nos dias de forte chuva é que perguntava se alguém me dava boleia até o cimo da rua. Nunca pedi a ninguém que se desviasse do seu percurso para me deixar em qualquer lugar. Não gosto mesmo de incomodar os outros, por mínimo que o incómodo seja.
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Estas ofertas de boleia quase diárias, duraram um mês, mês e meio. Há hora de almoço ela vinha convidar-me para ir com ela ao supermercado, para não ir sozinha. Nem sempre me apetecia, até porque queria era apanhar ar e não enfiar-me num supermercado. Mas acompanhava-a para que não fosse sozinha. Depois comecei a ir mais vezes a pé, por gosto e por preferência. Gostava de andar e sentir o ar no rosto! Quem anda de carro mal apanha ar, a menos que abra a janela!
Passado um tempo, ela só me fazia perguntas sobre a compra de um carro e contava-me a história da amiga a quem dava boleia e que depois comprou uma enorme casa e um mercedes. Insentivava-me a comprar um insistindo que eram baratos, que devia comprar, que só me fazia bem, etc. Volta e meia, todos os dias repetia esse discurso constantemente. Foi então que finalmente entendi o que pretendia. Não estava nada preocupada comigo. O que ela queria era que eu comprasse um carro para passar a andar de boleia comigo. Para ser eu a levar o carro para o café e não ter de ser ela a gastar a gasolina. Para me cravar viagens mais longas, que decerto arranjaria de propósito para não as fazer à sua custa. É o que ela faz no dia-a-dia. É uma crava!
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Fico triste porque queria uma amiga, mas já percebi que não tem interesse em dar a sua amizade nem eu sou capaz de ficar amiga de uma pessoa que é capaz de me explorar até ao osso, se eu deixar (e eu deixo). É com tristeza que a vejo continuar a vida a cravar os outros. Queixa-se sempre da falta de dinheiro e ganha o dobro do meu salário. Diz que o dinheiro mal dá para chegar ao fim do mês mas passa a vida a dormir na casa de amigas, a comer na casa de amigas, a ter as amigas a fazer-lhe favores. Ás vezes passa 3 dias seguidos sem ir a casa e quando regressa é só para a muda de roupa. Ainda assim, nesses meses, diz que não tem dinheiro. O destino pregou-lhe uma partida. Deu-lhe uma despesa inesperada. Aí ela descaiu-se: «tinha conseguido economizar uma boa quantia o mês passado e agora tenho esta despesa» - disse. Então não andava na penúria. Faz-se!
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Quem não chora não mama, não é mesmo?

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Desculpas e agradecimentos

Ser criança não é fácil. Estamos a crescer e os traumas podem chegar de todo o lado. Tive os meus, que não foram poucos. Talvez por excesso de sensibilidade tive mais do que podia suportar. Mas excepcional como sou, sempre fui capaz de suportar tanto! Então, tive doses letais para a maioria dos mortais e morri, sem ter morrido de verdade.

Fui assassinada. Sabiam? Pois decerto que não...
Todos os dias sofria ataques de mais que um lado. Dias, semanas e meses em que nem um segundo se passava, sem estar a ser vítima de ferimentos. Anos se passaram. E mais anos se passaram. Chorei todos os dias de todos eles. E passaram ainda mais uns tantos e mais outros tantos a passar... sendo assassinada.

Mas um ou dois momentos nesse período lembro com gosto. Porque são aquilo a que chamamos de "esperança". De tudo o que passei, do comportamento estóico que sempre me foi natural, mesmo perante o assassinato da capacidade de defesa ou da ausência da capacidade de ataque, por duas vezes, houve pessoas que se redimiram.

Numa delas foi um «obrigado», que não ficou esquecido quando o meu carácter de menina de 10 anos decidiu não delatar um colega. Levei com a fúria da professora, que me prometeu punições e cumpriu-as, fazendo de tudo para me prejudicar, tendo acabado por transformar uma menina de 10 anos que tirava notas de cinco valores, numa menina que passou para o ano seguinte com 3 e perdeu também a vontade de mostrar o seu potêncial, de tão maltratada que foi por esta pessoa que hoje sei que merecia que apresentasse queixa. Uma semana depois do sucedido (uma autêntica caça ás bruxas, uma inquisição), com todos a observar em silêncio a implicância da professora que não era muito eficaz numa aluna atenta e com gosto pela matéria, um rapaz tocou-me no ombro e disse:
-"Obrigado por não teres dito que fui eu".

No ano seguinte, uma das 7 raparigas que no ano anterior decidira fazer um círculo em torno de mim para me maltratar e acusar das coisas mais feias e absurdas - situação onde, mais uma vez, o meu carácter se mostrou estóico, disse-me que tinha uma coisa importante a me dizer já fazia muito tempo e que queria dizer já. Ela disse:
- "Desculpa o que te fiz o ano passado. Sei que era tudo mentira e estou muito arrependida do que te fiz".

Ai! Se ao menos fosse sempre assim. Se hoje em dia existissem mais "obrigados" e "desculpas".

Tempos modernos


Bate leve, levemente,

Como quem chama por mim.


Será chuva? Será gente?


- É chuva.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Queimadura emocional


Gostava que o sofrimento fosse algo que pudesse ser medido com um toque. Gostava que bastasse encostar um dedo numa pessoa, para que o sofrimento desta fosse revelado. Como quem toca numa superfície de temperatura extrema e sofre uma queimadura.

Se isso fosse possível, existiria mais compaixão entre as pessoas. Mais entendimento, compreensão. Se isso existisse...

Gostava de ser tocada. Gostava de poder tocar. Gostava que fosse possível pedir permissão com a mente e com a mente obter a resposta e então, com coragem, tocar em alguém. Ai, se isto existisse!...

terça-feira, 31 de março de 2009

Chorar para Mamar

Dizem que não têm inveja de pessoas com dinheiro, mas não páram de comentar o quanto é injusto viverem com o que dizem ser pouco, quando outros têm tanto e nem se esforçam.
Estas teorias "de bolso" deixam-me entristecida com o futuro da humanidade. É fácil dizer estas coisas. Difícil é olhar para o próprio umbigo e assumir que nos outros se projectam os próprios defeitos e as críticas que lhes fazemos é pura inveja.
Observo isto todos os dias. Volta vai, volta vem, oiço pessoas a falar do quanto "estão pobres". Como salário, recebem cerca de 1500 euros por mês, mas estão sempre tesos. Tão tesos, que comem do prato dos outros, atacam todas as sobras da sobremesa alheia, e fazem com que os outros lhes paguem o cafezinho. Tentam passear em carros alheios, dormir na casa de amigos, comer e tratar da higiene na casa dos outros, a consumir o shampôo dos outros, o gás e a elctricidade dos outros e quando convidam alguém para algo, têm uma intenção oculta, que normalmente é dar paleio para fazer com que lhes dêm dinheiro «espontâneamente». Pedincham tudo e mais alguma coisa.
Fazem-no com grande habilidade. É-lhes quase natural. E quase não percebem (ou não assumem) aquilo que são! Falam como se fossem os únicos a ter despesas. Como se os que os escutam também não tivessem rendas de casa para pagar, gasolina para colocar, supermercado para fazer. E fazem-no com menos dinheiro!

Estes são "tio Patinhas" de araque, sem filhos para sustentar e grandes "cravas" de favores alheios. Só se queixam. Invejam-lhes os carros, as roupas, o estilo de vida, o suposto dinheiro...


Ultimamente tenho reparado numa "estirpe" em particular. Nas pessoas que dizem ter sido criadas entre gente com muito dinheiro, mas que não vivem com o mesmo nível económico. Louvam-se a si próprios, por trabalharem com relativo sucesso profissional, mas se acham mais do que aquilo que valem. Escolheram profissões de alguma alta rentabilidade e pouco esforço. A maioria das profissões requerem raciocínio, acumulação de informação, selecção e divulgação mas as escolhidas por estas pessoas não lhes prendem desta forma. Normalmente, não cumprem horários e conseguem dedicar-se a outras actividades durante o horário laboral. Como ir fazer uma manicure, uma limpeza facial, ir ao café, ao médico, ir namorar, etc...

Quando sabem que um colega pensa num aumento de salário, a coisa não lhes cai bem. Se um colega mal pago desabafar que precisa de ganhar mais dinheiro, respondem-lhes que precisa de arranjar outro trabalho. Isto vindo de pessoas que poucas vezes põem os pés na empresa onde trabalham! Quer dizer: os que mais trabalham recebem menos para sustentar os que menos gostam de trabalhar, a ganhar mais...


Bravam ao vento que são pessoas que se emanciparam cedo. Mas a dita independência continua dependente do jantar da mãe, que ainda lhes lava e passa a roupa a ferro, lhes fazem recados e lhes dá dinheiro quando começam a «chorar para mamar».

As aparências enganam tanto!

quinta-feira, 26 de março de 2009

O Medo e a acusação

Quando era nova os miúdos acusaram-se uns aos outros, porque a professora queria saber quem tinha descoberto as soluções para um problema e feito batota. "Não fui eu! Não fui eu! Foi «x» que me disse! Pergunte a «x»! A professora dirige-se a «X», que repete o mesmo discurso, e transfere a ira da professora para «Y». «Y» transferiu para «Z» e assim sucessivamente. Achei tudo isto muito feio e lamentável e de imediato, tomei a decisão de não agir assim quando chegasse a vez de «A ou B ou C» passar a acusação para o meu lado. E assim o fiz.
Já se passaram muitos anos, não lido mais com crianças, mas com adultos. Mais velhos que eu, inclusive. Isso não impediu de estar a viver este «dejavú» novamente. "Eu não fui! Eu passei as coisas para ti! Foste tu!".
Ver adultos, na casa dos 50, com esta atitude idêntica há das crianças, não me faz ter mais fé na raça humana. Nas crianças, ao menos, são crianças, sentem medo porque são menores que os adultos e estavam a ser intimidadas. Qual o pretexto de pessoas com mais de metade de um século de vida?
Vinte anos de diferença nos separam, podiam ser meus pais e, no entanto, continuei eu estóica, um exemplo de nobreza de carácter, ao limitar-me a dialogar sobre a situação sem apontar de imediato o dedo na direcção de alguém em acusação. Não sou culpada, mas ajo como que a dividir uma parcela de responsabilidade na questão. Coisa que só fica bem num trabalho em equipa, mas que não vejo ser a atitude das outras pessoas em volta. Cada uma só quer se certificar que fica assente que a culpa maior é de outro. Procuram o derradeiro culpado, alguém que fique com as culpas e sofra a punição, o bode expiatório.

terça-feira, 24 de março de 2009

Borboletas



Quando era criança sabia apanhar borboletas.

Com a mão, agarrava-lhes as asas. Não sei quem me ensinou ou se aprendi. Nem tão pouco sei se esta era uma habilidade comum entre nós, crianças dos anos 80.

Recordo a sensação distinta do toque. A impressão digital pintada de multicores cintilantes. O toque era aveludado. Observava-as e depois deixava-as ir. Alguém me disse que as borboletas vivem pouco. Uma ou duas semanas, talvez.



Depois alguém disse que, por agarrá-las, tirava-lhes o pó das asas e assim, deixariam de poder voar e morreriam. Foi então que deixei de as apanhar e passei a admirá-las sem lhes tocar. Elas parecem saber que não lhes faço mal e quando caminho pelos campos, gostam de esvoaçar à minha volta.


Agradeço-lhes pelo presente da sua companhia. Aprecio-as com o olhar, tal como aprecio tudo o resto que a Primavera trás. Como a beleza pura que são, duram pouco. Poder observar o esvoaçar de borboletas e sentir o aroma das primeiras flores da Primavera, é uma benção que adoro sentir.



A Primavera é uma estação tão bonita, que se torna perfeita para a morte.

É a altura da renovação da vida!



Poema de Fernando Pessoa:

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.


Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" Heterónimo de Fernando Pessoa