sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Quem decide é a Natureza


As minhas ideias sobre situações em que se fica entre a vida e a morte MUDARAM MUITO desde a adolescência. O que pensava antes tinha como base pouca informação. Imaginava que, se os médicos me dissessem que uma pessoa muito amada estava em coma e o melhor seria desligar as máquinas porque o cérebro jamais ia recuperar, era isso que devia ser feito porque eles certamente não diriam uma coisa dessas sem antes se certificarem do que estavam a dizer e fazerem todos os testes. 


Mas isso era o que eu pensava há uns 20 anos atrás

Com mais informação digo que tudo é possível e os médicos não sabem nada com 100% de certeza. Sei também que consideram pacientes assim casos perdidos, que consomem recursos que muitas vezes não têm como disponibilizar. Quero dizer... se fores o Michael Shumaker e tiveres muito dinheiro, podes ficar ligado às máquinas por décadas em hospitais privados. Mas uma pessoa sem recursos é logo "convidada" a desligar as máquinas. 

Dito isto, este documentário relata dois casos: o de Sarah Scantlin e o de Shawna. Ambas ficaram em coma após acidentes de aviação (se conduzir, não beba!!!!). Aos pais de ambas foi dito para... considerarem a hipótese de desligarem as máquinas, pois os danos cerebrais eram bastante severos. Os pais de ambas escolheram manterem o coração a bater, ligado às máquinas. SARAH esteve em coma por 20 anos! E espantou todos quando um dia começou a gritar. Os gritos duraram 3 anos. Até que um dia, passaram a palavras. Shawna esteve em coma três semanas. Os pais foram várias vezes pressionados pela equipa médica, em separado e em grupo, para que considerassem desligar as máquinas e doar os órgãos. Imaginem agora que isso tinha sido feito. Não é homicídio?




quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Para os que quiserem saber...


Confrontei cada colega de casa com o desaparecimento de artigos pessoais durante a minha ausencia. O primeiro respondeu que não tocou em nada nem tem o hábito de recorrer aos pertences de outras pessoas. O segundo abanou logo a cabeça, dizendo que não. A terceira - adivinhem quem - reagiu assim:

-" Hum... arroz e pasta?"
-"Talvez... sim, acho que peguei".


- "E os três copos e pratos azuis?"
-"Eram copos que estavam guardados aqui?"

-"No meu armário? Sim."
-"Eram copos azuis?"
-"Sim, três copos azuis e três pratos".

- "Ah, acho que também usei.
Tavas fora e pensei..."

Fiquei escandalizada com esta última constatação. Então não existe qualquer noção de que pegar as coisas dos outros não é correto. 


Seja como for, continuei a ser cortês e não fiz um escândalo. Estaria pronta para isso, caso ela não tivesse saído assim que disse aquilo. Porque era ali que lhe ia perguntar se entende que não se deve pegar as coisas de outra pessoa nem que esta se ausentasse 1000 dias. Caso lhe escapasse esse conceito, informá-la-ia que a partir daquele instante estava proibida de se servir de qualquer coisa minha. 


Mas como se pirou não desenvolvi o tema. Voltei a lhe pedir para ao menos deixar um bilhete escrito dizendo que tirou algo meu. Não a autorizei nunca a fazê-lo mas se o voltar a fazer, que me informe, para eu não andar que nem doida à procura de coisas que não vou achar, porque ela as comeu ou as tem no quarto.

Sim, ela tinha três copos e três pratos consigo, dentro do quarto... Sei dá desde quando.
Quando a vi levava nas mãos um outro copo... E entrou na sanita com ele. Para quê alguém precisa de levar um copo para a sanita? É que aqui a sanita é separada do resto da casa de banho... nem prateleira para pousar o copo existe. Bom, deve ter ido despejar o conteúdo... Só espero que não tenha sido nada muito nojento! Já basta os restos de comida semi-digerida que encontrei misturada com cabelos no ralo da banheira...

Bom, mas para que se saiba, a paz voltou a reinar porque, ao expor a situação às claras e ao perguntar a todos, de forma não agressiva, ela se resolveu a bem. A louça voltou à cozinha, lavada. Uma mal lavada mas... lavada. E a comida, a preguiçosa assumiu-se preguiçosa sem vontade de fazer compras, então entregou-me dinheiro para reparar a situação.

Aceitei.
Desta vez aceitei porque me senti lesada. O que ela consumiu foi por mim escolhido a dedo, num supermercado de outra cidade. A marca, o tipo... e só existe ali. Agora teria de ir lá novamente, gastar dinheiro na passagem de ida e volta pois já não tenho o passe, e procurar novamente aquilo que gostava, pois em abundância só existe o que não gosto. 


Senti também que poderia estar a querer me "comprar" o silêncio...
Porque a verdade é que, uma coisa destas é o suficiente para se fazer pressão para expulsar alguém de uma casa, aqui no UK. O tipo a quem tomei o quarto foi embora por isso. Os outros queixaram-se que ele chegava a casa bêbado e não acertava na sanita quando ia urinar...  Ora, ela também entra bêbada, faz barulho, manda vir pizzas às 3 e tal da manhã, e vomita na banheira. Além de não fazer quaisquer limpezas na casa, assim, tão à descarada como descarada foi para se servir da minha comida. Eu não sou supermercado!

Numa situação de igualdade de factos, se o outro saiu por iguais motivos, esta também poderia sair.
Mas quem vai sair é o último que entrou. E diz que mal pode esperar. Não gosta da forma como os outros demonstram não gostar dele.  

E virá um outro/a....

É assim o ciclo de vida de uma casa partilhada. 


quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

De volta


De regresso ao UK.
Cheguei feliz mas de momento estou menos feliz.


Na minha ausência algum colega de casa decidiu «servir-se» de coisas que estavam guardadas no meu armário na cozinha. Ora, que raio de casa partilhada é boa de se viver se alguém tira comida e  faz que não tirou? Que confiança pode-se depositar e o que impede alguém de temer que quem tira comida no armário particular de outra pessoa não se serve também de dinheiro deixado no quarto?

Quem o faz só se prejudica.

Já disse uma vez, à «nova» rapariga que me roubou bolachas da dispensa - estão lembrados? Foi em Julho. Eu virava as costas e assim que isso acontecia, um pacote de bolachas desaparecia da minha dispensa, que ninguém deveria abrir sem ser eu. Horas depois, outro pacote. Ambas em casa e ela sem me dizer nada, só se servindo. Quando a confrontei muito simpaticamente e sem me mostrar chateada, pedi-lhe que me avisasse se voltasse a precisar se servir de algo meu. Vindo ter comigo para me informar ou deixando um bilhete.

Divido casa com outras três pessoas. A mais recente já me disse que está de partida - ainda não pude apurar os factos mas ao que parece existiu um conflito entre esta e a rapariga «nova» e o uso de um palavrão (estamos no UK!) é capaz de ter sido o factor que influenciou que as «cartas» ditassem a partida dele. Isso e o facto do terceiro indivíduo estar, estranhamente e desde o início, sempre a tomar o partido da moça. A sua incapacidade para criticar algo que parta dela contrasta com a prática implacável e omnipresente que sempre demonstrou com os outros. 

Agora, quando lhe perguntei se sabia de alguma coisa sobre o desaparecimento daqueles artigos, assim que abri a boca para mencionar que havia pedido a ela que me avisasse se tirasse algo, ele corta-me a fala para dizer: "Porque não perguntas ao outro?". 

Foi só preciso eu a mencionar de leve. Não com leviandade mas dando um exemplo real e fundamentado. Nem sequer levantei suspeita ou a acusei. Só estava a mencionar um facto consumado que não lhe contei nem mais mencionei (mas certamente ele já saberia por meio da outra que deve ter contado a história de forma divertida). Ora, um tipo que tranca os seus pertences no quarto, que não gosta nem de imaginar que lhe tocam nas coisas... que por qualquer coisinha insinua coisas dizendo que "não está a dizer que foi fulano mas...", não faz sentido que, principalmente existindo antecedentes, um tipo destes não direcione suspeitas na direcção da moça «nova».

Por qualquer coisinha a rapariga que cá estava antes e saiu em agosto, estava sempre a ser criticada por ele. A pobre mal se podia movimentar, fosse para a esquerda ou para a direita, ele tinha algo a dizer sobre isso. Como quem não quer a coisa, manda umas tantas insinuações para o ar que estraga o dia de qualquer um. Comigo não tem resultado, porque com ele adotei uma estratégia de "está sempre bem". Mas topo-as todas. Comecei até a reparar na linguagem gestual, do significado de cada movimento que visa, de alguma forma, transmitir uma mensagem crítica a alguém da casa.  

Ele já me "convidou" a sair desta casa umas tantas vezes, desta forma «indireta». É o que cá vive há mais tempo, tem cumplicidade com a senhoria e sabe como «falar» com ela (manipular). Mas o seu maior defeito é achar que é o que manda e decide tudo. De uma forma ou de outra, todos acabam por se vergar à sua vontade. 

A forma como se dirige à «nova» rapariga desde o início não faz sentido algum, não corresponde ao que se mostra ser com todos os outros. Outra coisa que ele fez foi, assim que eu mencionei que me desapareceu algo, ele diz que também lhe tiraram algo que tinha guardado na sala. "Acho que foi o amigo do outro" - "mas não estou a dizer que foi ele" - diz-me. 

É que por uns dias esteve cá um amigo do «outro» a viver. Uma pessoa bem educada, simpática e todos pareceram querer conversa com ele. Principalmente este tipo mais velho, que o monopolizava. Mas BASTOU o facto de alguém que não ele trazer um desconhecido para dentro desta casa para agora ele insinuar que desapareceu uma coisa que lhe pertencia. "Não quis dizer" mas mencionou de imediato o «estranho». Não mencionou a rapariga, que deixa coisas ali na sala durante dias e é um tanto de tirar se lhe apetecer. Se calhar precisou daquilo para algo e simplesmente foi lá e se serviu. 

É só porque o "perfil", essa eventualidade, encaixaria mais na sua personalidade. E ela tem antecedentes. Mas não. Suspeitar dela? Jamais! Foi um estranho... E por causa disso, por causa dos "outros" colegas da casa não saberem escolher quem trazem cá para dentro, a regra silenciosa e ditadora vai permanecer, refortalecida: é proibido trazer pessoas para dentro desta casa.
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Eu gostaria muito que ela tivesse a atitude adulta de vir ter comigo e me contar que se serviu da minha dispensa e da louça do meu armário (que está em parte incerta, mas não está na cozinha). Quando ela me viu chegar falou-me só de passagem, como se não conseguisse encarar-me e logo virou as costas seguindo caminho como se a minha chegada após algum tempo não merecesse mais que um abafado "ah, estás de volta?". 

Mas tenho quase a certeza que vai manter-se TRANCADA no quarto, receosa que a confronte. De momento é o que quero fazer. Ou melhor: preciso.

Preciso de confrontá-la para reestabelecer a paz e a confiança nesta casa. Mas não deveria ter de ser eu a fazê-lo. Devia partir dela essa atitude. Ela é que não me deixa alternativa. Se eu quiser ficar de bem tenho de esclarecer as coisas e a confrontar. Se não o fizer, não vou ficar bem, nada ficará bem. Louça e comida não podem desaparecer de uma casa e "ninguém tirou".

Voltou a ser o tal fantasma??

Sei que pode ter sido o outro. E estou a aguardar por ele para entender se de facto foi. Mas digamos que quando se divide uma casa com estranhos, acaba-se por conhecer como são as pessoas em relação aos pertences dos outros bem no início. E digo: não suspeitaria de ninguém aqui dentro, excepção feita da «nova».


quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Claudette ainda está viva!


Há muito tempo que não via um filme.
Na TV estava a começar "Homens de Negro III". Já não me recordava da história.



Há uma parte que me chama a atenção. Quando J se prepara para viajar no tempo até o ano de 1969, é avisado para ter cuidado pois aquela não era uma boa altura para a «sua gente». "J" (Will Smith) é negro e daí a referência à América de 1969. A história avança e já se sabe que J descobre quem era o seu pai: um general militar encarregue da segurança do cabo Canavial. E sim, o pai de J é negro. 


Então fiquei a pensar na referência. Como era a américa para o negro, em 1969? 
Podia o pai de J ser realmente um general tão importante? Era o filme verosímil?



Fui pesquisar. E descobri que em 1969 jamais poderia um negro estar a ocupar uma posição no exército americano, menos ainda como general, cheio de subalternos que à primeira ordem obedecem sem sequer questionar o que lhes é dito. Não poderia quando, apenas alguns anos antes, ainda estavam a lutar para poder frequentar a mesma escola que os brancos. 

E então vi uma fotografia. De uma senhora chamada Rosa Parks.
Basta o nome, para saberem quem foi, certo?
Espero que sim...

Nós, em Portugal, somos tão bombardeados com história americana que é natural que a maioria saiba que Rosa Parks ficou «mundialmente» conhecida por se recusar a ceder o lugar que ocupava na dianteira de um autocarro. E rosa era negra.

Ou melhor: mulata. A primeira surpresa que apanhei ao olhar o seu retrato foi o quanto estava mais para branca do que para negra. Ao fundo vê-se o rosto de um senhor, de tom de pele mais escuro, e isso até destaca o quanto Rose era, afinal, mais clarinha de pele do que escura.

Se bem que, naquela altura (e suspeito que até hoje mas de forma totalmente oposta) qualquer indício de um tom de pele para o diferente do pálido podia ser visto com maus olhos. 

Aqui fica a imagem de Rosa Sparks.

Uma mulher bonita, espantosamente parecida... com qualquer mulher de outras etnias.
Se fosse possível mudar o tom de pele como faz o camaleão, podia encaixar na perfeição em qualquer etnia. Rose possui o prototipo de beleza que se ajusta a todas, bastando para isso, mudar. Se tivesse a cor de pele mais escura e a usar um véu, podia passar por muçulmana, com um Bindi (pontinho vermelho no centro da testa) passava bem por indiana. Também passava bem por mexicana e, se totalmente branca, também ia «encaixar» perfeitamente nos traços gerais dessa etnia e assim sucessivamente.

Não vos parece?


Em Montegomery, Alabam, EUA, ela sentou-se num autocarro, num lugar que estava vago à frente, e  recusou-se sair e ir viajar de pé no fundo do veículo, quando o motorista lho pediu, visto que a secção destinada aos brancos (onde Rose se encontrava) já estava cheia e a norma era os não-brancos terem de ceder os seus lugares caso o autocarro lotasse. Isto aconteceu a 1 de Dezembro de 1955, exatamente nove meses depois de Claudette Colvin ter feito o mesmo, na mesma cidade, num outro autocarro. 

Sim, perceberam bem: este ícone e símbolo da luta pelos direitos, apelidada até hoje de "primeira dama dos direitos civis" e "mãe do movimento pela liberdade" não foi pioneira em coisa alguma. Na verdade, nem sequer Claudette Colvin, na altura com apenas 15 anos. Claudette, no dia 2 de Março de 1955, foi presa, juntamente com outros, por se recusar a fazer exatamente o mesmo: ceder o seu lugar dianteiro no autocarro que estava a encher de passageiros. Mas a sua recusa - pasme-se, também derivou de uma circunstância em que a iniciativa partiu de outra pessoa. 

A dois de Março de 1955 Claudette sentou-se dois lugares de distância da saída de emergência na secção dos "coloridos". A convenção da altura ditava que, caso o autocarro ficasse cheio e os supostos "lugares para brancos" na frente não estivessem disponíveis quando uma pessoa branca entrasse, um negro que tivesse sentado teria de levantar-se, ir para a secção de trás do autocarro e viajar de pé, para ceder o lugar ao branco, pois a companhia rodoviária impunha essa prática anti-constitucional. 

(é o que dá não fazerem autocarros segregados, ahaha. Pois, a lei já não permitia...)

Nesse dia uma mulher branca entrou no autocarro e já não tinha lugar sentada. O motorista, Robert W. Cleere, cumprindo o estipulado, mandou que Claudette e outras três mulheres negras sentadas na mesma fileira de assentos, se levantassem e fossem para a traseira do autocarro. As outras três levantaram-se e foram. Mas aí uma mulher negra grávida, Ruth Hamilton, entrou e sentou-se ao lado de Claudette. 
(fica esquisito entender como entra uma mulher negra e grávida na história e a branca que estava de pé terá se sentado?)
O motorista observou pelo espelho retrovisor e pediu para que saíssem. Ruth, a grávida, disse que não ia levantar-se pois pagou o bilhete e não lhe apetecia ficar de pé. "Então eu respondi ao motorista que também não ia sair do assento" - contou Claudette. 
-"Se não se levantam, eu irei chamar a polícia".
A polícia foi então chamada e convenceu um homem negro sentado atrás das duas mulheres negras a ir para o fundo do autocarro, de modo a que a sra. Hamilton, que estava grávida, pudesse viajar sentada. 
(nossa, que o cavalheirismo continuava morto até nestas alturas! Um homem assiste a mulheres a viajar de pé e não cede o seu lugar? Nem em 1969? Nem a uma grávida?? PORRA! Não esperava esta desilusão...)

Feita esta troca, Claudette continuou a recusar-se a abandonar o lugar onde se sentou e gritou que era um direito constitucional seu. Foi removida à força do autocarro e presa pelos dois policiais que compareceram à ocorrência. (Só dois, hoje seriam uma dezena), acusada de perturbar a paz, violar a lei e conduta violenta.


Como disse, isto aconteceu na mesma cidade de Rose Parks, mas 9 meses antes. Claudette contou que, quando se recusou a sair do assento, estava a pensar num trabalho de casa que tinha escrito naquele dia sobre o costume local de impedir negros de experimentar roupas nas lojas de venda de vestuário e usar as cabines para esse propósito. 

-"Não podiamos experimentar as roupas. Tinha-se de usar um saco de papel castanho para desenhar os contornos do nosso pé e levá-lo para a loja". 


Porque não é Claudette, então, a "filha do direito pela liberdade"?
Claudette Colvin em 1953

Como a descriminação sempre existiu (e sempre existirá), acontece que Claudette era uma miúda muito nova, dizia-se que tinha engravidado de um homem casado e isso era extremamente mal visto na altura... Há coisas que demoram mais tempo a mudar do que o racismo: a condenação social de uma mulher solteira que não é mais virgem e engravida, por exemplo. Não há cor que se sobreponha à descriminação de género.

Adiante: Antes de Claudette Colvin ou Rose Parks existiram, documentados, casos que remontam até o ano de 1942. Curiosamente, excepto pelo primeiro, só exemplo de mulheres...  Bayard Rustin é a excepção e encabeça a lista documentada na wikipédia do pioneirismo dos freedom riders, por ter recusado sair da segunda fila do autocarro numa viagem de Louisville para Nashville, corria o ano de 1942. O «pobre» rapaz, além de activista pelos direitos dos negros, também defendia a causa gay... (pensando bem, faz sentido). Ui! Conseguem imaginar o fardo?? Que coragem! Ou falta dela...

Bom, figuras "controversas" não eram bem vistas fossem negras ou brancas. Por isso, tanto Bayard, que era gay e conhecido por proceder a encontros sexuais na via pública com prostitutos brancos (aqui a cor sempre teve pouca importância, não é mesmo?) quanto Claudette foram um pouco afastados (bastante) das luzes da ribalta pelos próprios colegas de causa, que pretendiam pessoas menos controversas. 

A surpresa é que Claudette é viva!
De toda esta geração surpreendente de pessoas que SABIAM na sua maioria, o que é ter uma causa e lutar por ela (o que me entristece que hoje se faça uma palhaçada de tudo e se envergonhe com lama a nobreza dos gestos destes pioneiros) Claudette é a única que ainda habita o planeta terra. Tem atualmente, segundo o wikipédia, 78 anos. 


Voltando ao MIB 3, a história perdeu toda a credibilidade assim que apresentam o pai de J. como um homem negro, que chegou a uma patente bem elevada no exército, corria o ano de 1969 e o dia e hora do lançamento dos astronautas americanos à Lua.

Tivessem feito o pai de J um homem branco e a história, além de verosímil, teria ficado bem mais interessante! Será que J alguma vez teria imaginado ser filho de homem branco? Esse detalhe ia ajudar, inclusive, a eliminar remanescentes noções de racismo. Afinal ia mostrar que o herói, o homem de quem todos gostam, é, afinal, filho de pais de etnias diferentes. 

E já agora, a "pioneira" Rosa Sparks, clarinha como era e com aqueles traços em que nem o cabelo saiu igual ao característico da etnia negra, tinha ascendência irlandesa. 

É mesmo uma estupidez descriminar por género, opção sexual ou cor de pele.
Descrimine-se sim, mas pelos motivos certos: falta de carácter, malícia, falsidade...


quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Ainda não foi desta...

... que consegui comprar um bilhete para o evento Eurovisão.
Foi hoje, a partir das 10h da manhã que abriram as bilheteiras.
Consegui aceder ao site de compra 20 minutos depois e... tinha mais de 80 mil pessoas na fila de espera.

Pelo menos 5000 conseguiram bilhetes...
As outras 75000 não sei.


Fiquei a perguntar: Mas para quê que aquilo vai realizar-se cá??
Se um português que vive cá não consegue comprar bilhete... para quê serve então que o evento seja feito aqui? Se está tão inacessível como se fosse na lua?
É para sentir-mos o gosto que é aproximar um doce da boca de uma criança e depois puxá-lo para fora do seu alcance?

Mais valia terem escolhido uma sala algures numa parvalheira qualquer no norte de portugal... Ao menos teria graça. Altice ou em marte dão as mesmas oportunidades de acesso: zero.


Só pretendia fazer parte do momento e saber: estive lá.
Afinal, não estarei aqui daqui a 120 anos... que é quando deve surgir a próxima oportunidade de vitória. Se a primeira "só" se esperou 60 anos, vou estimar que a segunda leve o dobro. Mesmo que seja metade, vá lá: 30 anos... É muito tempo.

Para a expo98 todos poderam ir...
Mas para o eurofestival só os sacanas que sabem-na toda....

Já não vou poder ver o Sobral a cantar.
Sim, eu sei que ele vai cantar muito, muitas vezes, em muitos lugares.
Mas era ali. Aquela música. Aquela magia que ele empregou em kiev que provavelmente irá replicar no palco da eurovisão. Queria estar presente para ouvir qualquer galhofa e cenas de bastidores... isso é que é viver o momento. O resto, vê-se na televisão. Mas não é a mesma coisa.


O Salvador que for aparecer ali é o mesmo e é outro. 
É um salvador que já passou por muito em apenas um ano.

É um salvador com o espírito de sempre, acrescido do uma mudança extraordinária. Que crescimento lhe proporcionará?


Sabem do que venho a sentir falta para esta quadra do Natal?



De estrear roupa nova.
A sensação de usar roupa nova, ou então, não sendo nova, era para a ocasião.

Tenho saudades do vestir "bonito", de usar um bom penteado, sapato novo, estar toda nos "trinques" e cheirar a banho recém-tomado misturado com o cheiro de roupas lavadas e perfumadas.

Ainda que a seguir, o Natal - na casa dos meus avós - significasse ajudar nos preparativos, nada disso apagava a alegria de sentir que a ocasião era especial ao ponto de se usar roupa bonita e ter adormecido num pijama novo e perfurmado.


Nem me lembro mais quando ocorreu a última vez que me vesti para a ocasião, com botas novas, camisola e calças também. Acho que tinha 17 anos...

Pelo menos nos anteriores 17 Natais tenho estado até o último minuto a limpar ou a cozinhar. Toda suada e com roupa confortável que se pode sujar. O banho é tomado a correr, apenas minutos antes de aparecer os primeiros familiares. E veste-se algo prático, mantêm-se os chinelos nos pés e o cabelo? Esse ainda está húmido e é preso com uma mola por ser mais rápido.



Gostava de passar um Natal toda arranjada. Bonita. Maquilhada e com o cabelo saído do cabeleireiro, onde foi apanhado por um profissional. Sem obrigações de fazer nada, só de estar cativante.

Mas esse natal só em sonhos.
Cresci e não sei mais o que isso é :)

Mas um dia, um dia vou repetir estas lembranças.
No dia 25 vou usar tudo novo da cabeça aos pés. E terei adormecido na véspera em lençóis limpos e perfumados, usando o pijama novo,  acabado de desembrulhar. 


(A probabilidade disso acontecer talvez seja quando já não existir família para vir comer e estiver sozinha num lar. Nesse lar os «tomadores de conta» de velhos irão tratar-me como se fosse deficiente mental e impor uma celebração natalícia infantil e débil).





sábado, 16 de dezembro de 2017

encontrei no youtube e gostei



Gostei deste videoclip e de outras músicas desta banda de música espanhola. 
Já tinham ouvido falar de Morat?




quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Falta de noção com falta de moral


Isto aconteceu comigo à pouco e achei que era um bom assunto para trazer até o blogue.
(mesmo existindo uma hipótese de exposição)

Estava a sair da estação do metro (quase meia-noite) rumo à paragem de autocarro. Nisto escuto a música ambiente bastante alta. 

«Há noite o metro vira uma discoteca!» - pensei a ironizar. 
«Podia já fazer-se uma festa aqui» - acrescentei.

E como quase sempre acontece quando me deparo com uma situação caricata, "saco" do telemóvel na intenção de registar o insólito. 


E como quase sempre acontece, quando se tem algo mesmo «giro» que se quer registar, o telemóvel está a perder a bateria e o armazenamento atingiu o limite :)

Pela altura em que consigo chegar à camara, carregar no botão e ver aquilo reagir ao comando, já a música tinha chegado ao fim. Quando regressou, como temi, veio um pouco menos alta. E manteve-se assim, oscilando entre o baixo e o alto, mas não aos berros como estava quando me surpreendi com o inusitado. Fiquei a pensar quem é que estava responsável pela sonoridade da estação e se estavam a pensar se divertir naquela noite, quanto todos tivessem ido embora...


Há medida em que fui avaçando, fui percebendo que outra música ambiente da estação estava a tocar no fundo. Muito ténue, quase imperceptível. Existiam então DUAS fontes de som ambiente? Estranho. Nunca percebi tal situação. Observei ao redor enquanto me dirigia para a saída da estação, a tentar perceber se estavam em reparações ou a fazer testes. Nada percebi nenhum indício. Mas era distinto a presença da música alta com a ténue e discreta. DUAS fontes de música inundavam o mesmo espaço público.

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Saio então da estação e, cá fora, na rua, após sair do elevador que me isolou do subterrâneo musical, os ouvidos foram novamente surpreendidos pelo mesmo volume de decibéis exageradamente elevados. De onde vinha a música? De um aparelho transportado a tiracolo por um rapaz. Deve ser aquilo a que chamam boombox. Em termos sonoros é o equivalente às colunas de som stereo daqueles automóveis mais irritantes, que quando param num semáforo com a música aos altos-berros, só dá é nos nervos de quem está em casa a tentar se concentrar numa qualquer tarefa. Só que, desta feita, fizeram-nas portáteis para humanos. 



O rapaz também se dirigia à paragem. Onde já se encontrava um outro. Este também estava a escutar música, mas usava phones nos ouvidos. Daqueles que não deixam transbordar ruído para fora (esses são um atentado!). Este rapaz, que já se encontrava ali, teve de se afastar. Certamente para não se sentir incomodado. Afinal, se já estava a escutar música - certamente da sua preferência, não tinha porquê ter de ser sujeito a escutar outra, que não podia escolher se queria ouvir ou não.

Eu fiquei curiosa e quis registar o inusitado. Mas com o telemóvel a dar as últimas, fiquei ali a tentar apagar cenas que ocupam espaço para ver se apanhava um pouco daquela curiosidade. Discretamente, ou tentando ser discreta. Gosto de registar, mas não torno público coisas que, mesmo sendo feitas em lugares públicos, possam afetar a identidade de terceiros. Quem me conhece daqui sabe o que penso a respeito dos direitos de cada um.

E por isso mesmo tive o ímpeto de chegar perto do rapaz e lhe perguntar: "O que te faz pensar que não faz mal impores assim a música às outras pessoas?". 


Sério... tive curiosidade. Inclusive dirigi até o rapaz, que por esta altura conseguiu a proeza (imagine-se como) de ter o banco da paragem exclusivo para seu usufruto. Nem eu, que pretendia aguardar a chegada do autocarro ali sentada, nem o outro rapaz, ficámos por perto. Tanto ele como eu nos afastámos um tanto. Os décibeis eram realmente altos. Tenho a certeza que se faziam ouvir nitidamente nas habitações dos prédios à volta. Aquela música podia ser escutada nos arredores e num raio enorme de alcance. Cada uma das pessoas já em suas casas, dentro daqueles apartamentos, nos prédios de 10 andares, três ou quatro fogos cada, mais de duas centenas de áreas de habitação, cada qual com o seu número variável de ocupantes - todos podiam escutar a música.

O que justifica a minha curiosidade. Queria mesmo saber o que fazia o indivíduo achar que fazia bem ouvir música assim. Alta, àquela hora da noite - quase meia-noite. 

O indivíduo até me pareceu que podia ser boa gente - embora com falta de respeito e provocador. Sorriu, percebeu que os restantes se afastavam e até aumento mais ainda o volume da música por causa disso. De alta passou a altíssima. E ficou ali, senhor e rei do espaço, sentado ao centro do banco que dá para três se sentarem, de pernas ligeiramente abertas, mãos nos bolsos, por onde controlava o volume da maquineta. De vez em vez, olhava para nós - que nos afastámos.

Olho no seu rosto, ele olha no meu. Avanço dois passos na sua direcção para lhe perguntar o que o faz pensar que está bem ouvir música assim, e fazer todos ouvi-la também. Mas opto por recuar, abanando a cabeça e esboçando um sorriso intrigado, mas não crítico. Quero é registar o inusitado - sem com isso pretender incomodar o indivíduo - mesmo este estando a incomodar todos. 

Ocorreu-me até pergunta-lhe se o podia filmar um pouco - só para registar a situação. A pesar de ele estar num local público e não ser proibido recolher imagens em sítios que são para usufruto de todos e pertencem aos cidadãos no geral. É uma questão de ética pessoal. Mas ia pensar nisso assim que conseguisse por o telemóvel a funcionar. Tive até de o re-iniciar, porque é tão velho que fica "cansado" e reage com lerdeza a quase todos os comandos, podendo até "apagar-se" se puxarem muito por ele.

Quando finalmente deu sinais de vida, o autocarro tinha acabado de abrir as portas. Apressadamente ainda carreguei no botão, que demorou a reagir. Primeiro, "fugiu" o menu, tive de voltar a este e então carregar novamente, já o indivíduo estava dentro do veículo, onde reduziu consideravelmente o volume da música, embora não a desligasse. 

Assim que pisei dentro do veículo com o meu telemóvel em riste, como o vinha a ter desde que saí do metropolitano (até então estava no bolso), o rapaz de imediato começou a fixar-me. Acho que achou que o estava a filmar e pareceu que talvez não gostasse. Mantive o telemóvel na mão, mexendo nos menus e vendo a imagem do rapaz. Ainda que não conseguisse registar o momento mais alto de toda a situação, quis registar algo. 

O rapaz parece olhar muito para mim mas para ser honesta, eu nem liguei. Estava mais a olhar para fora da janela, a tentar absorver um pouco das parcas decorações natalícias. 

Nisto o autocarro chega a uma paragem, o rapaz sai e quando o pé já vai meio de fora diz-me assim: "Se isso aparecer nas redes sociais processo você".



Aquilo desiludiu-me. Deixou-me chateada.
A lata, o descaramento... e a cobardia.
Se tem algo a dizer, que o diga de modo a poder escutar uma resposta. Se quer fazer uma ameaça, que a faça quando já não está a fugir do local onde deixa a ameaça. 

Mas o que realmente me incomodou foi ele me nivelar ao seu patamar. Eu jamais colocaria nas redes sociais. Tenho noções de ética e respeito que claramente lhe escapavam. Estar a nivelar-me pelo seu exemplo deu-me asco. 

Gosto de registar momentos - todos os que poder, de inócuos a aparentemente relevantes. Gosto de fotografar sombras e paisagens. E geralmente aguardo as pessoas desaparecerem destas ou não ficarem identificáveis. Ainda assim, o que registo é para mim, não exponho ninguém em fotos que possa disponibilizar a mais alguém. A menos que não tenha hipótese, como por exemplo, se achar inusitado uma fila enorme para... comprar pastéis de Belém, por exemplo. Aí, se fotografo ou filmo a fila, esta é composta de seres humanos com rosto... algum terá de ficar mais exposto. Mas também, aí é local público. Até eu, por ter a semana passada circulado na baixa para ver as decorações natalícias, sei que fiquei registada por uma dúzia de câmaras que filmavam e fotografavam. Haviam turistas que, quando eu dava por ela, já me tinham enquadrado na sua mira fazia tempo.

Nessa ocasião, ao me dar conta que uns indivíduos estavam a tentar vender maconha aos que passavam, tentei registar a situação - mais uma vez pelo inusitado. Sempre ouvi falar mas nunca tinha "apanhado", ali, no centro da rua augusta, tal coisa. Mas claro: assim que o telemóvel que já trazia a gravar o ambiente tentou discretamente apanhar os indivíduos a abordar alguém, os mesmos pararam de o fazer. E eu acabei por afastar-me.

No fundo, sou uma colectora de vida. Só gosto é de registar os momentos tal como eles são. Fico triste quando os observo mas os perco, e lamento quando cessam só porque notaram que os tentava registar. Não pretendo com isso mais nada senão apanhar o quotidiano, o dia-a-dia, os costumes. Daqui a uns anos estes mudam tanto que será uma preciosidade existir qualquer registo dos mesmos. Basta pensar na dificuldade que é hoje ter em registo em vídeo ou fotografia de uma qualquer cena quotidiana dos anos 80 - como por exemplo aqueles rádios portáteis gigantes, com um deck para cassetes, usados na rua pelos "rockeiros", que se balouçavam ao som daquilo e que geralmente transportavam em cima dos ombros, bem perto do ouvido (como se fosse possível não escutar, ahaha) enquanto mascavam pastilha elástica para ter «estilo».  Este «puto» no metro não inventou nada que ninguém não tenha vivido antes, apenas era uma versão modernizada de um mesmo costume. 



Mas isso que descrevo é outro tema. Contudo foi essa situação que me enervou. O descaramento! A «ameaça» do rapaz, por temer ir parar a uma qualquer rede social. Ameaça essa que, se me tivesse afectado, seria no sentido de me alertar para ponderar fazê-lo. Nem se deixa rasto... Certamente ele o faria, sem pensar duas vezes. Se calhar já o fez a outros. Só posso deduzir assim, devido às circunstâncias.

Quem estava a cometer uma ilegalidade ali, que eu saiba, era ele. É mesmo proibido pela lei do ruído (e isso inclui o volume de música) produzir sons altos ou ritmados que possam interferir com o sossego e descanso das pessoas. Fazê-lo dá direito a coima. Penso até que nem é preciso esperar pela meia-noite - hora para a qual os ponteiros do relógio estavam quase a chegar. Julgo que é logo a seguir ao final de um típico expediente de trabalho das 9h Às 18h que não se pode mais fazer ruído. E este tipo estava a cuspir música a altos décibeis para toda a região escutar, desrespeitando o espaço dos outros. Quando pressente o seu invadido, aí é que se sente incomodado?
Achei de uma evidente falta de noção e falta de moral.



PS: gravei uns segundos da música, quando esta estava alta, não no volume máximo em que o tipo a pôs mas perto. Mesmo com um mau gravador - um gravador de tanga e com uns metros de distância, surpreendeu-me a clareza e nitidez que ficou registado. Quando souber como colocar aqui um clip de som - ou quando me apetecer saber, incluo porque isso é aquilo que falei acima: gosto de registar os momentos. Ler é bom, mas nada explica melhor do que ver ou ouvir.


domingo, 10 de dezembro de 2017

O susto que é o Facebook


Na última semana o facebook tem-me assustado.

Tem surgido como "sugestão de amigos" pessoas que já passaram pela minha vida. Algumas há muito tempo, mais de 20 anos, outras há dois. Pessoas que nunca mais vi, das quais não tenho contacto, nem conta de email... Reparem: há 20 anos NEM EXISTIA facebook.

E se perdes o contacto com pessoas que remontam a uma altura em que poucos tinham telemóvel, quanto mais redes sociais, digam-me lá, como é que o facebook faz isto??


É que não existem AMIGOS EM COMUM.
Se não existem, não podem ser sugeridos por esse meio de "coincidência".



Outra hipótese é terem ido buscá-los - pelo menos alguns - a uma outra conta de facebook que possa ter aberto num mesmo computador. Mas ainda assim, isso não justificaria o DESFILE de caras conhecidas e há muito perdidas que se tem verificado na última semana.


Desfile não é uma expressão mal empregue, pelo contrário. Já perdi a conta ao número de indivíduos do passado que regressaram fantasgoricamente através do facebook.


Ainda à instantes foi-me sugerido como amizade um indivíduo que quase nem liguei, até reparar duas vezes no nome. Bastou olhar para a localidade e os estudos para imediatamente confirmar a identidade. Há quanto tempo não lhe punha a vista em cima? Há 17 anos!



E há 17 anos - volto a repetir para quem não tem conhecimento de como se viveu no ano 2000, não existiam redes sociais. No máximo, deste indivíduo, fiquei com um antigo número de telefone. Nem conta de email dele alguma vez tive. E se tivesse, jamais a ela teriam acesso, pois o endereço que usava na altura não uso mais. Foi o primeiro que tive e o único até hoje a ser pirateado. 

Assim que me abstraí desta sugestão tremendamente espantosa, pus as vistas em cima de um outro indivíduo sugerido. Desta vez foi o rosto que me pareceu familiar. Abri para ver quem se tratava. Julgando que era um colega de um curso, reparo então que é um rapaz que conheci faz dois meses!


Conheci porque estava interessado em algo e escreveu-me por email. Trocamos correspondência parca e depois, como ele foi para inglaterra, encontramo-nos só para nos conhecer-mos. E nunca mais lhe pus a vista em cima, nem ele pareceu interessado em manter contacto.

Neste caso existe um fio condutor: o endereço de email.
Foi por ele que me escreveu, e por ele que falámos por um chat - que não é o messenger (que funciona dentro do facebook).



Voltando ao primeiro exemplo do indivíduo que deixei de ver há 17 anos, onde está a correlação? Não existe! O endereço de email que uso hoje não é o mesmo de então. E sem amigos em comum, sem nada... porquê mo sugeriu?

E isto é só a ponta do icebergue. Na última semana a quantidade de sugestões de amizade de pessoas que realmente conheci tem sido elevadíssima. Por volta de 20 sugestões são de pessoas que um dia cruzaram a minha vida. Se algumas são de há pouco tempo, podendo a sugestão ser justificada por pertencerem ao circulo de amizades de outras contas abertas no computador, não é o caso destas. E falo do computador de CASA, não de um público, que fica numa escola, por exemplo. Esses podem e certamente estão repletos de contactos diversos que podem ser sugeridos ao próximo que se conectar na rede do facebook.

Se isto acontece comigo, o mesmo deve acontecer aos outros. Ou seja: o meu facebook também deve ser sugerido a outras pessoas. A diferença - que eu espero ser significativa, é que no meu face tento não ter nenhuma fotografia minha ou de pessoas que me possam identificar, seja por grau de parentesco ou por amizade. Posso ter os meus pais como "amigos" no facebook. Mas não tenho porquê os identificar como pais. Isso já é disponibilizar demasiado pormenor num lugar público. E se não ando na rua a gritar o parentesco das pessoas que estão comigo nem transporto nenhum cartaz com essa informação, porque haveria de o fazer nas redes sociais? Por acaso é mais seguro lá?? Não me parece.


Se há uma coisa que desde cedo e por instinto entendi, é esta necessidade de privacidade, como forma de segurança. O que acabei de escrever é até uma falácia - pois estou numa rede social e SEI que não há segurança nem privacidade. Mas dentro dessa ausência, existem níveis que preservam ou expõem mais os indivíduos e a sua identidade.

Não entendo como pode alguém sair à rua e ter cuidados com a sua segurança pessoal, porque foi alertado para isso desde criança, e não sentir o mesmo ímpeto quando usa as redes sociais. A exemplo: Eu lá preciso de dizer o meu nome para escrever este blogue? Sou a portuguesinha e não sou menos autêntica por isso. Desde o tempo da escola primária, quando só existiam endereços e números de telefone de casa, sempre senti - ou foi-me ensinado - que a preservação dos dados pessoais proporcionava segurança.

A sobreEXPOSIÇÃO nunca trás nada de bom e talvez por intuir isso desde muito cedo, esta postura de preservação é algo intuitivo em mim e aplicado também nas redes sociais.

O meu facebook não tem o meu nome.
Tem um apelido. 
O meu facebook não tem a minha imagem.
Tem uma imagem.

Espero que, pelo menos assim, consiga alguma privacidade.
E caso seja sugerida a alguém, me ignorem.




sábado, 9 de dezembro de 2017

Lisboa não é amiga dos Lisboetas


Lisboa não é para os Lisboetas.
Não sei para quem é, mas talvez seja para os turistas.

Desde que cheguei que tenho tentado não me aborrecer com aquelas coisas que sempre me aborreceram. Coisas relacionadas com incompetência, falta de respeito, maus serviços, etc, etc.

Estou que não posso...
Tudo o que vou relatar gera um nível de stress brutal.



Seja em que hora for, andar nos autocarros da Carris é difícil, mas a um sábado é impossível! Só para quem gosta de ser torturado. Gostam de tortura? Viagem pela CARRIS

Se gostas de viajar apertado entre muitas pessoas, que ficam a respirar em cima de ti, a cuspir em cima de ti, a gritar nos teus ouvidos, a pisarem-te os pés, a darem-te encontrões, a segurarem-te a ti como se fosses um poste -- então Lisboa É PARA TI.

Os únicos que parecem não se incomodar com esta situação são exatamente os turistas. Estão sempre a gargalhar. Para eles tudo é uma festa. Estão de passagem, o que custa andar num autocarro/elétrico sobrelotado? 


É ouvi-los a rir, a falar uns com os outros sem parar, a dar gargalhadas. Acham piada. Piada ao facto de não se poderem mexer, de estarem num espaço confinado, de verem mais e mais pessoas a entrar e nenhuma a sair. Amanhã apanham um avião rumo a outro destino e a experiência teve graça. Mas para quem vive em Lisboa como é que é?

Divertido?
Dá vontade de rir?
Fica-se bem disposto?
Sente-se descontraído?

Dá vontade é de matar uns tantos...
Dá vontade de meter todos os ministros e políticos a viajar de autocarro!



Desde que cheguei a Portugal, seja a que hora for, não há um Sábado em que consiga viajar num transporte da Carris que não esteja sobrelotado. 

Se este é um dia da semana de muito movimento, então aumentem as carreiras, a frequência de carros e, no metro, ao invés de escolherem carruagens com apenas três elementos na linha verde e afins, continuem a usar os mais longos! 


Porque como está, é um desrespeito pelos utentes. Haviam pessoas a queixarem-se que não viam um autocarro passar fazia uma hora! E o pior, a meu ver, é a inutilidade das carreiras. Não há alternativas. Só se pode apanhar UMA. Podem passar cinco veículos numa paragem mas, para ir ao ponto C, só uma carreira serve. Principalmente a certas horas e aos fins-de-semana. É tudo tão mal feito - feito apenas para contenção de custos. Isso é tão visível que eu até já sei que, aos Sábados, vou encontrar um dos acessos ao metro vedado e metade das escadas rolantes desligadas. 


E depois vejo aquelas pessoas de mais idade, com uma mobilidade mais reduzida, a quererem sair do autocarro... e penso: bolas pá! Nem para estas pessoas são amigos. Não pensam no conforto das pessoas. Obrigam todas a viajar apertadas como sardinhas em lata. E se uma destas cai? E se magoa? Quem é o responsável? É que TODOS os autocarros em que hoje pus a vista em cima circulavam sobrelotados. Não havia alternativa. Para que entendam, hoje passaram pela paragem onde eu aguardava o meu uns três e nenhum parou! Por não terem mais espaço para receber passageiros!! 

É inadmissível.


E tu ficas ali, a vê-los passar sem parar para entrares, enquanto um electrico verde, decorado com azevinhos e conduzido por um pai Natal, passa pela rua a acenar...

O Pai Natal que vá mas é de trenó, que o que os passageiros precisam é de um elétrico livre! 


quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Uma pitada de Humor


Faz tempo que venho a querer deixar aqui umas tantas piadas que tento memorizar. É difícil, por isso, aqui vão:

Sketch de Humor - o jantar:


Dois amigos conversam sobre as namoradas. O moreno queixa-se que a dele está sempre a obrigá-lo a trabalhar nas lides domésticas.

-"Não te passa pela cabeça! Ontem quis que eu limpasse o pó à casa toda."
-"E tu, o que fizes-te?" - diz o louro.
-"Limpei..."
-"Xi.... A minha não é assim!" - o louro diz a sorrir.
-"Então? Não te pede para lavares a louça? Ou fazeres o jantar? "
-"Nã. Ainda ontem apanhou-me a sair do duche e recusou".
-"Como é que foi isso, pá??"
-"Então, saí nu do duche, agarrei o secador e pus-me a secar os colhões quando ela entrou e perguntou o que fazia. Depois zangou-se comigo porque respondi que estava a aquecer-lhe o jantar.


Sketch de Humor - o sexo e a idade (dupla)


Um velhote ia a passar numa rua de prostituição quando é aliciado por uma trabalhadora.
- "Olá. Vai experimentar?"
- "Não filha, já não posso". - responde o velhinho.
A prostituta não desiste: "Animo! Tente. Aposto que ainda consegue, hum?"
O velhote segue-a e, como um jovem de 25 anos, dá três... sem descanso.
A prostituta, espantada, responde:
-"Nossa! E dizia que já não podia!"- diz, cansada.
O velhote responde:
-"Sexo eu posso filha, o que não posso é pagar!"



Um jovem prostituto decide anunciar os seus serviços colocando um cartaz à porta de casa, onde diz assim:
Na cama - 100 euros
No chão - 50 euros
No sofá - 25 euros 

Uma velhota que passava nesse instante saca de 100 euros e dirige-se ao rapaz.
-"Sua safadinha!" -  Diz o rapaz. "Quer uma na cama".
-"Não é isso. Na minha idade quero quatro no sofá!"

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Jornalismo que é uma seca


Quando cheguei a Portugal contaram-me que a seca fez com que ficasse a descoberto uma ponte do tempo dos romanos, em Alcácer do Sal, que ninguém punha a vista em cima fazia séculos. A minha curiosidade ficou ao rubro. E eis que encontrei na internet essa notícia, em duas fontes audio-visuais diferentes: TVI e RTP.


Para meu (pouco) espanto, ambas as notícias, sobre a mesma ponte, contam histórias diferentes
Afinal, como suspeitei, a história que me foi contada não é autêntica (a fonte deve ter sido a TVI).
A realidade é que a existência da ponte, normalmente submersa pelas águas da barragem do Pego do Altar, no rio Mourinho, era do conhecimento da gente local. Um miúdo mais novo que eu lembra-se de, em menino, ir para lá pescar com o pai. Ora, sendo assim, a reportagem da TVI, intitulada "Seca mostra ponte que não se via há 60 anos"  já começa no erro. 


No meu entender a TVI apresentou uma notícia muito mal construída, vergonhosa, com factos errados, superficiais e nada fundamentados. Datada do dia 28 de Setembro, devia fundamentar-se em factos conhecidos e já divulgados na véspera pela imprensa escrita, que suspeito ser onde os jornalistas das TVs vão todas as manhãs para obter fontes. O jornal Diário de Notícias, ao abordar o assunto no dia 27, facultou dados que contradizem os da TVI no dia seguinte. Em que ficamos? 

Foi TENDENCIOSA e superficial a forma como a TVi reportou esta notícia da descoberta da ponte em Alcácer do Sal, colocando unicamente o depoimento de pessoas que diziam nunca ter conhecimento da mesma. O «jornalista» repete que a ponte nunca foi vista por "esta geração" (e qual é "esta"? A do jornalista? A das pessoas de mais idade que entrevistou? Ou qualquer outra que ignorou?) e acrescenta «diz-se ser do tempo de napoleão». . 


Diz-se... "pode ser e pode não ser". Como não sabe, diz que «pode ser». E quem é que diz isso? Tudo bem se, de facto, fosse impossível saber-se quando a ponte foi feita, porquê e por quem. É esse o caso?

Não. Porque outros jornalistas, de outras fontes que encontrei, souberam responder a estas questões. Penso que até um idiota sabe que o «quem, quando, como, onde, porquê, o quê» são a base das notícias, tal como sempre foram a primeira coisa a ser contada em qualquer cusquice. E se outros descobriram esse facto, então foi preguiça do jornalista que não fez o trabalho de investigação que toda a peça - mesmo estas com este teor light- precisam. Não contente com o superficial trabalho, ainda aparece na própria peça, para repetir a rala e duvidosa informação que disponibiliza: a ponte não era vista «nesta geração» - informação repetitiva, por isso mesmo desnecessária e dispensável. Mesmo que não fosse, podia muito bem (e devia) continuar a ser contada com imagens locais. Mas não. O experiente jornalista teve de meter a sua cara junto com a notícia, para, suspeito, satisfazer o curriculo da vaidade... 


 Comparativamente, a jornalista da RTP fez o trabalho de casa e pelos vistos, encontrou informação sobre a ponte. Informa que a última vez que ficou à vista foi em 1999 (e não há 60 anos), entrevistou pessoas que assim o atestam e mais: sabe QUANDO a ponte foi construída: 1815. Ao entrevistar o presidente da união de freguesias de Alcácer do Sal (alguém com credenciais), ficou a saber que a maior ameaça à ponte são os turistas que aparecem e levam uma pedra para "recordação" e mostrou o acesso à mesma a ser vedado. Achei bem mais interessante falarem da ponte e não dos peixes que ficam nas poças... Que é o que acontece nas secas e não acrescenta novidade nem é sobre a ponte em si.

Dois jornalistas televisivos, duas formas tão diferentes de dar uma notícia. Um muito experiente, outra desconheço, mas vou deduzir menos experiente. 

Isto de se ser bom naquilo que se faz tem muito pouco a ver com os anos de experiência. Descobri este facto há pouco tempo, apenas. Uma pessoa pode ter fama, reputação e assim a manter por anos até a sua morte. Sem que a mesma corresponda à verdade. É comum todos os outros serem capazes de fazer o mesmo, mas cinco vezes melhor. Porém, por vezes quem já apanhou com luzes de estrelato, continua debaixo delas, sem mérito para tal.


Vejam ambas e digam-me o que acham destes dois exemplos de trabalho jornalístico.

TVI 

sábado, 2 de dezembro de 2017

Na quadra natalícia caem que nem moscas



Cansei-me. Todos os dias sou brindada com mais uma notícia da morte de alguém. Neste momento quero uma pausa, uma break, um intervalo. Parem lá de falecer, sim??


Foi o «tio» Belmiro, o grande João Ricardo, o Zé Pedro que ao que parece deixou mais de metade das pessoas aos prandos, e foram também uns ilustres desconhecidos mais próximos de amigos meus. Gente toda invejosa, que não pode ouvir falar de um falecimento que vão logo imitar!

Por isso parem lá de falecer, sim??

É que já nem me apetece sair de casa, não vá nesse pequeno passeio ser informada da morte do dia.
É Natal... sei que todos os dias morre alguém. Mas façam uma pequena pausa, ok?

E vocês, leitores, livrem-se de aprontar uma dessas!

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Só se assaltar alguém



Vocês não imaginam.
Fiquei surpreendida. Não sei se é sempre assim que funciona porque tenho falta de experiência nestas coisas. Passo a explicar: Os bilhetes para ir assistir à Final da eurovisão que vai acontecer pela primeira vez cá em Portugal foram colocados à venda "hoje", dia 30 de Novembro, pelas 10h.

Havia decidido que queria acompanhar de perto este acontecimento único, que provavelmente não terá repetição no meu tempo de vida. Desde que em Kiev ficou definido que o próximo festival ia ser em Portugal que havia decidido que queria estar presente para ver. 


Queria comprar bilhetes para oferecer e ia também assistir. Mas os bilhetes, colocados à venda nos «locais habituais» (seja lá o que isso quer dizer) e no site online blue Ticket, em segundos após as 10h da manhã já tinham uma fila de espera que ascendia as 30.000 pessoas! 

Às 10h e 10 minutos fiquei na FILA DE ESPERA, com mais de 30.000 pessoas à frente!!!



Não sou muito experiente nisto de compra de bilhetes mas já percebi que vai ser muito difícil. Mesmo impossível. Sei que é melhor comprar online, pois nos "locais habituais" existem filas intermináveis, problemas e imprevistos e, os bilhetes são mais caros. Mas já nem sei. 


Passado uma hora deram a venda por terminada, sendo que apenas cerca de 1000 pessoas conseguiram adquirir bilhetes. Os preços deste primeiro lote rondavam os 300 e 120 euros!! E eram para a plateia em pé, que fica junto ao palco. Como sou "velhota", prefiro lugares sentados. Ainda assim, como não tinha a certeza se a venda estava limitada ou não, a minha intenção era comprar. Mas não tive qualquer chance. 30.000 pessoas não saem da tua frente assim num ápice.


Cheira-me que muitas pessoas vão tentar fazer negociatas com bilhetes...


Percebi de imediato que conseguir ingressos para este evento será tudo menos fácil. Se o Eurofestival fosse na Patagónia ao invés de Portugal não seria mais difícil conseguir um ingresso. Pode até ser uma tarefa herculana, difícil e desesperante. Tenho mais hipóteses se assaltar alguém.   


A venda de mais um "lote" regressa dia 20 - e nem sei se vale a pena tentar, mas vou tentar. Desta vez provavelmente os lugares que vão disponibilizar será os de bancada, mais afastados do palco.

Uma coisa sei: gostava de lá estar. Para presenciar o momento, vivê-lo. Não tanto como espectadora mas também como alguém que observa os meandros da produção de um evento daquela envergadura. Gosto de cenas de bastidores, gosto de ensaios... Se calhar vou tentar comprar um bilhete para os ensaios, pois acho muito mais giro. 

Este evento faz-me lembrar a Expo 98, que não aproveitei. E depois andei ANOS a ouvir os outros constantemente a recordarem com sorrisos nos lábios e muitas boas memórias tudo o que lá viveram. Sinto que o destino está em «dívida» comigo... eheheh. Passados 20 anos, que venha a «segunda expo».


A julgar por esta amostra de venda de bilhetes, este festival vai ser uma loucura. É que são pessoas de todos os cantos do mundo! Vêm todas para Lisboa! Para o pavilhão atlântico (ainda o chamo assim mas agora chama-se altice e antes disso Meo Arena). A cidade vai estar ao rubro. Só espero que tenhamos envergadura para um evento destes e não envergonhemos os técnicos e toda a equipa da ESC que fez um trabalho esplêndido em Kiev.

Nunca mais lá entrei. COMO é? 
Vocês... querem ir?