sexta-feira, 27 de junho de 2008

Hemisfério estampado no Rosto

Estava a reparar na fotografia que tirei para os documentos e saltou-me à vista um contraste entre o lado esquerdo e direito do rosto. Sei que não são simétricos mas o que vi foi uma janela para o passado, em que os traços se mantêm num dos lados e alteraram-se no outro.
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Identifico-me mais com um e menos com outro mas ambos mostram a mesma pessoa. Logo pensei que tal se deve ao cérebro e suas funções. Se uma pessoa vive um tanto em desequilíbrio entre o interior e o exterior, penso que isso acaba por se mostrar no rosto. Foi uma descoberta!
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Dizem os especialistas, que o lado esquerdo do cérebro, é o analítico. Bom para tomar decisões e tirar conclusões. É o lado "frio" da personalidade de uma pessoa, se quisermos seguir um rumo linear. Sabem aquelas pessoas muito racionais, pouco emotivas, práticas, egoístas, sem um pingo de aptidão ou paciência para trabalhos criativos? Aquelas que compram os presentes de Natal num único dia na mesma superfície comercial e mandam outra pessoa embrulhar. Mal olharam para o que tem dentro dos embrulhos ou sabem o que calha a quem. Essa é a pessoa com o lado esquerdo do cérebro dominante.
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Do outro lado, o do hemisfério direito, temos as pessoas predominantemente criativas. Aquelas que, no Natal, fazem os laços com ramos de árvores, são criativas com o material de embrulho, sabem exactamente o que vão dar a quem, porque foi uma decisão reflectida, tomada com base no carácter, necessidades e gostos particulares de cada indivíduo. Levam tempo a fazer as suas compras e depositam boas energias no embrulho dos presentes, que escolhem personalizar.
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Pegue numa fotografia e olhe bem para cada lado do seu rosto.
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O que ?
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quinta-feira, 12 de junho de 2008

Alfacinhas sem Alface


É o que dá mudar muito as coisas e fazê-las funcionar num único denominador comum. Com o protesto dos camionistas, os Alfacinhas (e o país) ficaram sem alfaces. Alfaces, couves e outras verduras e legumes. Os bens da Terra, que costumavam plantar-se nas hortas espalhadas pela cidade, vêm agora de um mesmo fornecedor, sobe as rodas de um camião.

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Os hipermercados e supermercados amanheceram neste dia seguinte ao dia de Portugal, sem verduras nas prateleiras. Salvaram-se, espero eu, aqueles que se abastecem também nouros locais. Quem sabe, às mercearias e mercados de bairro não faltaram verduras, por algumas ainda irem buscar parte do seu stock localmente.

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Um alerta, que exemplifico com as Alfaces dos Alfacinhas (que tão bem sabem no verão) mas vai da verdura à gasolina. Um alerta, senhores governantes! De que tudo vai mal e o povo manifesta-se.

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Buzinem sim, enquanto tiverem combustível para passear de carro. Mas façam-no não apenas por um jogo de futebol. Mas por um Portugal melhor! Buzinem em frente ao Parlamento, nos degraus da assembleia da República, junto à casa do presidente em Belém. Buzinem, sejam solidários e reinvidicativos.

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A continuar, teremos um 10 de Junho com sabor a 25 de Abril de 74.
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terça-feira, 10 de junho de 2008

O Parente Famoso

Nesta minha insistente busca para compreender as coisas que me cercam, dei comigo a estudar as minhas raízes. O hábito era antigo, mas o processo, de realmente ir atrás dos antepassados - a chamada Genealogia, esse chegou décadas depois.
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Sabem o que todos dizem quando o assunto vem à baila? Pensam em si mesmos e não poucas vezes saiem com esta afirmação:
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-"Quem sabe descubro um parente podre de rico, um nobre qualquer e, deixo de trabalhar!"
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Esta afirmação sempre me perturbou. Que mania! Mania das grandezas, mania que a nobreza está num título e que a riqueza é tudo.
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Nunca ocorre a estas pessoas pensar que, os que foram "nobres" e "ricos" ás tantas o eram pela capacidade de se aproveitar dos outros? Quer dizer, um antepassado rico e mau carácter, não é coisa que me agrade como contributo genético...
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Porquê querem todos ter um antepassado ilustre? Sentem que ganham imediatamente um status? Não entendo...
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Quis conhecer os meus porque, instintamente, senti que já os conhecia. Ainda que inconscientemente, quis ir ao encontro deles para os conhecer e saber se foram o que os meus instintos me diziam que tinham sido. Não achei que ia deparar com riqueza ou nobreza. Mas queria deparar com pessoas de bem, trabalhadoras e honradas, pois sentia isso em mim, como uma herança de séculos.
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Este instinto inconsciente, provou-se correcto. Recuei quatro séculos nas minhas raízes mais directas e não encontrei nada além do que descrevi em cima. Pessoas do povo, pessoas comuns, trabalhadoras, honradas, que tiveram muitos filhos e criaram todos. Viveram muitos anos e com baixos índices de mortalidade infantil na família. O que pode indicar a inexistência de negligência ou outros cenários mais macabros. Do muito e do pouco que compreendi, em nada me decepcionou o que encontrei. Ali estava: pessoas comuns, simples, humildes, trabalhadoras e honradas, de bom coração, boa saúde, perspicácia, inteligência, bons genes. Não podia querer melhor.
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Claro, carrego comigo o peso que décadas de pobreza transmite de geração em geração. Mas não se perdeu a virtude. Conheci outros familiares distantes e em todos encontro uma doçura, uma bondade e simplicidade, que dá gosto de perceber. Todos passaram pela mesma pobreza característica da classe e da sociedade. As mesmas dificuldades, os mesmos problemas e sempre, sempre, a mesma disposição para a luta, para a honra, para a sobrevivência, sem recorrer a artimanhas pouco nobres ou criminosas.
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E deixem-me dizer esta grande verdade: A GENEROSIDADE É PROPORCIONAL À MISÉRIA.
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Quem mais dá, é quem menos tem. Quem mais sente, é quem mais sofreu. Quanto mais pobre, mais generoso. Um pobre nunca deixa de partilhar um pão, dar uma moeda. E quem em tudo isto já nasce com um bom carácter, conserva-o até o fim da vida. É feliz em espírito e faz os outros felizes também. Mas lá por ser um ser sorridente, não desconhece de todo a dor do sofrimento.
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Atrás de um grande e caloroso sorriso, está alguém que sabe o que é a dor.
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Voltando aos antepassados, fiquei à espera de encontar alguém que também procurasse alguém. Em fóruns de genealogia e artigos, li todos os nomes, verifiquei todos os apelidos. Mas nada. Nomes parecidos, homónimos até, mas nenhuma correspondência.
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A menos que se tenha um antepassado mais "famoso", dificilmente alguém vai escrever o nome de um perfeito desconhecido. Mas a esperança não morre. E assim, a cada região e localidade mencionada, lá ia espreitar por um nome familiar. Entrei então num tópico sobre uma "celebridade".
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Bem, o termo, celebridade, não é muito do meu agrado. Tenho a certeza que também não lhe agradaria a ela. A pessoa em questão, foi mais uma figura. Uma figura do panorama português. De relevo, de importância e do povo.
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Saber que, há 200 anos, tinhamos parentes em comum, não me surpreendeu, nem a uns outros poucos parentes a quem o mencionei. Era conhecida a localidade de proveniência e apelidos desta figura que se tornou de relevo no panorama artístico português. E assim, feita a descoberta, pouco impacto teve.
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Por curiosidade, fui ler uma sua biografia. Sem espectativas. Só aquele instinto, que me insinuava que não ia encontrar nada que no fundo, já não sentisse...
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Fiquei surpresa sim. Fiquei muito surpresa com as semelhanças. Gerações tão diferentes, de tempos diferentes, com experiências e oportunidades diferentes e, no entanto, lá estava: tudo igual.
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Será o peso dos genes? Das gerações de pessoas do povo, pobres, mas de carácter? Acho que sim. Muito do que os outros viveram passa para nós não só como traços físicos, mas também na forma de ser e da energia que carregamos. Acho até que, algumas vezes, estamos aqui a pagar pelos pecados dos outros, não pelos nossos. Sentimentos e emoções TAMBÉM são transmitidas genéticamente. Ainda mais, com o peso de séculos em cima.
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Ora, se se transmitem doenças, problemas, tiques, maneirismos e até gostos peculiares, claro que se transmitem emoções, experiências de vida, carácter.
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Fiquei surpresa com as imensas semelhanças entre a história de vida dessa pessoa, no que respeita ás suas origens, e muito, muito mais, pasmada com as semelhanças de personalidade. É como se a tivesse conhecido por dentro. Vi o lado conhecido mas também o oculto. Aquele que poucos conseguem imaginar.
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Pobre menina rica! Pobre menina pobre, que ficou rica, que era nobre sem o ser, que tinha medo e não sabia...
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Pois não podia ter-me "saído" na "rifa", "melhor" figura! .
Uma pessoa do povo.
Ganhei a taluda porque já nasci com a cautela.
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Sou Portuguesa da mais pura essência deste povo.
Não há como negá-lo!
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Saiu-me a sorte grande.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Pais, Filhos e Órfãos

Aquilo que vamos conseguir na vida, e a forma como a vivemos depende, muita vezes, dos pais que temos. Se os temos, ou se não os temos, para começar.

Em determinados sentidos, não tê-los é uma benção. Mas quem nunca os teve, não sabe se lhe foi atribuído a benção ou a desgraça. Outros, talvez o possam adivinhar.

Um órfão pode idealizar os progenitores. Na sua cabeça, se tivesse pais, ia experimentar um certo tipo de felicidade, viver determinadas experiências, receber amor, carinho...

A maioria das crianças recolhidas em centros não são órfãs. Têm pais e outros parentes. A história delas é bem mais triste que a simplicidade do órfanato. Estão abandonadas. Vêm de um meio de miséria, tristemente mais mental que económica. Muitas são abusadas, maltratadas.

É por isso que o órfão nunca saberá que versão da paternidade o destino tinha-lhe reservado.

Depois temos as que não são órfãs e não vivem em instituições mas em família. Têm um tecto, vão à escola e têm os progenitores ao seu lado. Fazem festas de aniversário e recebem presentes. Mas nem por isso a vida vai-lhes correr melhor.

A miséria atinge todos estes casos. Não existe excepção. A criança que aparenta ter tudo por vezes não tem o que realmente importa: afecto. E por estar menos exposta que aquelas que a sociedade "classifica" como carenciadas, muitas vezes são as que menos chances têm para um futuro melhor.

Não é que alguns pais não sintam afecto pelos filhos. Mas muitas vezes não sabem como expressá-lo. Têm de ser ensinados mas como adultos que são, criaram já uma arrogância e uma ignorância que os impede de ser humildes e procurar ajuda. Temem os rótulos e não querem ser apontados por outros pais como uns fracassados.

Mantêm as aparências e a verdade fica oculta entre as quatro paredes.

Muitas vezes reproduzem décadas de erros aos quais, provavelmente foram expostos. Abusam dos gritos, ameaçam, recorrem á violência física, são castradores e proibitivos. Responsabilizam a criança pelos seus erros, atribuem-lhe defeitos e responsabilidades que não lhe pertencem. Não sabem ouvir. E assim permanece a relação até a idade adulta.

Uma criança nasce com capacidades incríveis. Ela tem uma percepção do mundo que tantas vezes serve como elixir curativo para um adulto. Esta aprende, mas também ensina. Um adulto só tem de escutar o que ela diz.

É um erro achar que aquele pequeno indivíduo é inferior e deve submeter-se ás ideias do adulto. Porque o adulto é que sabe tudo. Não. A criança ensina. E a uma determinada altura da vida, ela tem de ensinar os pais a lhe darem liberdade para se desenvolver feliz.


CASOS:

Um episódio que jamais esqueci e remonta aos tempos do inicio da adolescência, passou-se comigo. Meus próprios pais, apontaram na rua um rapaz que sabiam órfão e a viver com a avó. E me disseram: "Estás a ver a sorte que tens?" "Deves dar graças a Deus por nos teres. Aquele ali é um pobre coitado, que vive com a avó. Vivem do dinheiro da reforma e ela pode morrer a qualquer momento. E depois, ele vai ficar na rua, sem ninguém para cuidar dele. É um desgraçado. Já viste a sorte que tens em nos ter?"

Bem, não vou falar o que achei desta intervenção muito pouco adequada de meus pais. Vou falar do rapaz.

Conhecia-o, estudava na minha turma. E embora nem sempre as coisas são o que aparentam ser, a verdade é que dele saía uma energia positiva que me pareceu legítima. Ele era feliz. Não podia dizer o mesmo a meu respeito. Eu parecia estar bem, mas não estava. Ele parecia ter menos a seu favor, mas teria?

Não deixei de lhe atribuir os seus momentos de tristeza, e de receio, medos. Saudades do que poderia ser, de se imaginar a viver com os pais como os outros vivem... mas achei precipitado colocarem-no na categoria de "pobre coitado". E também que minimizassem a capacidade da sua avó. Podia jurar que ele era muito amado e ia ter sucesso na vida. Dinheiro não é tudo. Afecto e saber como demonstrá-lo é. Ele sentia-se de bem com a vida. A avó soube educá-lo com afecto, sem o estragar com mimos, pois sempre se rectificava das suas traquinices e não ia longe demais.

Este rapaz não foi o único indivíduo que conheci, criado pelos avós. Outros casos obervei e todos vieram a comprovar esta minha teoria de que o que importa para uma criança é receber afecto. Que este venha de pessoas menos "convencionais" - avós, primos, tios, vizinhos, é tão legítimo como o que vem de um casal parental.

Os casos que conheci, mostram que estas crianças crescem saudáveis e atingem o sucesso na vida, tanto profissionalmente como emocionalmente.


Ninguém nasce ensinado. É difícil ser-se pai, é mais difícil ser-se filho. Tudo é melhor quando chegam netos e depois se vira avós.

Mas porquê esperar tanto tempo?
Mude já!