Hoje quando cheguei do supermercado fui colocar os pacotes de sementes de sésamo e os pãezinhos junto com os das bolachas oreo. Quando para meu espanto, ao invés de lá estarem três embalagens - que foi a quantidade que comprei a semana passada no dia de folga - estavam só DUAS. As de morango e as normais. As de recheio com chocolate tinham desaparecido.
Fiz um esforço enorme para me lembrar se tinha aberto o pacote para as comer no próprio dia em que as comprei. E convenci-me que foi isso mesmo que aconteceu.
Entretanto subo para o quarto com mais dois pacotes de bolachas que tinha comprado hoje. Servem para serem «devoraradas» aquando aquelas crises de apetite noturnas ou matinais (em que não nos apetece ir à cozinha). E dá sempre jeito ter umas já na mochila, que é para quando estou no emprego não me faltar o que comer quando faço uma pausa.
Meti-as na mochila e quando cheguei ao quarto, tirei-as da mochila.
Depois ligo o computador, retiro umas imagens que fotografei do dia de chuva de hoje (que era para ser o post de agora mas vai ser adiado) e adormeço. Adormeço do imenso cansaço que tenho acumulado do trabalho.
Acordei já passava das 20h. Quando desci à cozinha e abri a despensa onde só eu guardo mantimentos (o resto é tachos do rapaz que cá não está e tralhas diversas), para alcançar os pãezinhos, quando reparo que debaixo destes não estão as óreo normais.
Fico aparvalhada. Como que a duvidar de mim mesma. A duvidar do que os meus olhos viram e a minha percepção sabe. Fazia instantes elas estavam ali. Tinha a certeza! Poderia EU tê-las agarrado junto com os outros pacotes e trazido-as cá para cima? Podia jurar que não... Mas se calhar, talvez, mesmo não as querendo e tendo-as comprado para levar para uma viagem que vou fazer daqui a um mês, talvez tenha agarrado nelas. Talvez até tenham caído no chão. Ou talvez as tenha deixado fora da despensa. Mesmo que as embalagens tenham sido colocadas de lado, atrás de uns fransquinhos de compota e por baixo dos pãezinhos de sésamo. Talvez... tenham rebolado e caído? Até isso levei em consideração, mesmo que todos os 12 frascos de compota que impediam que tal acontecesse continuassem ali.
Eu quis acreditar que EU tinha sido a responsável pelo desaparecimento do pacote de bolachas. Porque caso contrário, alguém cá em casa achou-se no direito de se «servir» de algo alheio.
E isso é muito mau.
Costumo partilhar coisas que tenho mas que não vou usar ou estão quase a expirar, deixando-as em locais onde todos podem ver e com um bilhetinho a os convidar a se servirem. Foi assim com o bolo-de-rei que recebi no Natal, embora ninguém o tivesse provado.
Foi assim com os donuts que comprei em demasia, com as baguetes de pão que comprei em embalagem de três, foi assim com o ketchup e maionese que quase nunca uso... Coloquei à disposição, com um bilhete.
Agora se alguém se sentiu no direito de usar o que não coloquei à disposição, indo propositamente abrir uma porta que dá acesso a uma despensa onde não existe nada que outros sem ser eu possa desejar... Isso incomoda-me.
E estou abismada e a tentar me convencer que estou errada até agora.
Porque não quero acreditar.
Não quero.
Não é pelo pacote de bolachas que estava guardado para não ser consumido. É pelo significado do gesto.
Para ser honesta, tudo começou há dois dias, quando reparei que alguém havia tirado UMA LIBRA do pequeno prato onde ficam uns trocos do dinheiro que costumavamos colocar de lado para as compras em comum da casa. Existiam seis libras e uns trocos, passaram a cinco.
Aquilo intrigou-me um pouco, porque antes disso percebi que alguém havia tirado o prato de cima do micro-ondas e o colocado na bancada. Sem nenhum motivo ou necessidade. Quase que tive para o voltar a meter no lugar, mas abstive-me de lhe tocar, não fosse a pessoa que o movimentou achar nisso algo estranho. Então o prato ficou ali um dia até que no outro, voltou misteriosamente ao lugar. Mas nem sequer olhei para a quantidade de moedas lá deixadas.
Foi só por casualidade na noite seguinte, que pelo brilho da luz do teto nas mesmas reparei no número ímpar de moedas. Via sempre pares e agora estava ali algo estranho... eram ímpares. Foi então que dei conta. Mas mais uma vez, tentei convencer-me que estava errada e que nunca haviam ali estado seis libras nos últimos quatro ou cinco meses. Talvez tenha me enganado.
Ao mesmo tempo fiquei indignada porque só três pessoas estão a viver cá em casa. Eu não toquei nas moedas. Tenho total confiança na rapariga do andar de baixo, pois também ela nunca mexeu no dinheiro e foi sempre das primeiras a meter qualquer quantia ali, sem dar grande importância em pagar algo do próprio bolso.
Resta-me apenas uma suspeita...
Que encaixa no perfil.
Mas não quero acreditar.
Porque de todas as pessoas na casa que podem tirar aquelas moedas dali e fazer o que quiserem com elas, a única que moralmente não o pode fazer é a «nova inquilina». Porque não contribuiu com nenhum cêntimo ali. Quando ela chegou - já faz talvez três meses - já não estávamos a dar continuidade à «tradição» de meter os trocos de lado para a compra de detergentes e afins. O papel higiénico passou a ser «cada um traz o seu» ao invés de ser partilhado. E daí os trocos não precisaram ser usados, pois pequenas coisas como sacos de plástico para o lixo, cada um compra quando disso fosse necessário.
Então as moedas acabaram por ficar ali, tal como outros cêntimos estão «abandonados» sabe-se lá por quem na sala. Já lá estavam quando eu cheguei, por isso não lhes toquei. E se calhar ninguém toca porque quem os deixou ali não mora mais cá.
Seja como for...
Onde estão as minhas óreos?
Estou desejosa de ser a responsável pelo seu desaparecimento! Mas já vasculhei tudo. Abri a mochila cinco vezes, apalpei tudo. Desviei o edredon da cama, levantei-o, olhei debaixo do colchão, olhei de lado, olhei debaixo da cómoda, dentro de sacos, debaixo da roupa deixada no caldeirão...
Como que, por magia ou acção fatasmagórica, o pacote de óreos fosse desaparecer da despensa para aparecer aqui. É que ainda por cima lembrei-me que meti o pacote de pãezinhos em cima das óreos. Por isso, para terem desaparecido, se não fui eu, foi alguém intencionalmente. Pois sabia onde o encontrar e teve de levantar os pãezinhos para alcançar o pacote, sem derrubar nenhum dos 12 frasquinhos de compota.
Ainda estou pasma!
Ainda estou a procurar aqui no quarto, enquanto escrevo isto...
Em todo o caso, decidi colocar à disposição dos moradores da casa mais uma guloseima que comprei mas que não apreciei por aí além. Aproveitei o meu ato corriqueiro para, no bilhete que escrevi, deixar uma nota onde pergunto: "Alguém viu as minhas óreos"?
Espero sinceramente que alguém aproveite a oportunidade que lhes estou a dar.
Porque não estou doida...
Mas se coisas assim continuarem a acontecer, vou ficar.
E vou deixar de achar esta casa segura.
Os quartos não têm fechadura - excepção para o quarto do "lord", que está de férias e certamente o deixou trancado à chave.
Qualquer porta aqui de casa abre-se se alguém girar a maçaneta. E isso deixa-me insegura caso se comprove que alguém anda a fazer «pequenos furtos». Tenho o quarto cheio de moedas. De início preocupei-me em deixá-las soltas mas com o tempo despreocupei-me e deixo-as em cima da cómoda e na beira do estrado da cama. Como as coleciono, até comprei um album para as colocar. Sò que este não serve para todas e vou comprar mais. Entretanto deixo-as soltas, num quarto destrancado, junto com todos os meus pertences e, ocasionalmente, passaporte.
Mas acho que vou continuar a ser rigorosa com a minha documentação e esta vai ter de andar comigo sempre. Podem roubar-me dinheiro, roupa, malas e computadores. Mas documentos não.
A rapariga do andar de baixo está de saída. O que lamento, pois era em quem mais confiava e a mais descomplicada das criaturas. Resta-me uma rapariga que ainda não ganhou a minha confiança e que, agora, está em risco de não a obter e o rapaz que, quando chegar, vai regressar a colocação de «defeitos» nas coisas feitas pelos outros.
A rapariga que ainda não ganhou totalmente a minha confiança passa muito tempo em casa. Escutei-a à semanas a dizer a alguém ao telefone que não tinha dinheiro para sair, não ganhava o suficiente e que não estava satisfeita com o tipo de trabalho que tem, embora adorasse as pessoas. Confessou que abusou nas noitadas, que ficava bêbada em todas as saídas e que, nisso, gastava todo o seu dinheiro. Entre outros desabafos de fracassos amorosos, escutei isto porque dá para ouvir conversas de quarto para quarto - a voz tem essa capacidade. Depois ela desceu para o andar de baixo e deixei de escutar seja o que fosse. Isto aconteceu dias depois de eu estranhar o fato dela estar tantas vezes em casa e após ter descoberto as beatas no jardim e tê-la «apanhado» a tentar
fingir que limpou a casa quando de facto não o fez.
Ou seja: isto aconteceu há quase um mês! Porque a vez de ser ela a limpar já chegou novamente...
E vou aguardar, para ver como a preguiçosa vai decidir agir. Se como uma adulta responsável ou como uma adolescente inconsequente.
A «nova inquilina» vai perder o posto para o/a próximo que vier. E eu só espero que essa pessoa seja alguém decente e que cumpra três requisitos essenciais: Entre logo com dinheiro para a conta da luz e gás, limpe bem a casa quando chegar a sua vez e seja silencioso durante todo o dia.