Metereologia 24 h

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sábado, 5 de setembro de 2020

Os cães sobre 40º de calor e as leis do animal no UK

 

Saí da clínica em direcção ao jardim. Numa escadaria onde, na semana anterior, devido ao muito calor, sentei-me para abrigar-me à sombra, tomar um gole de água e falar ao telemóvel, vi cães. Não dois, ou três, mas quatro!

Como aquela zona do Parque das Nações tem um café com esplanada no topo dessas escadas, inicialmente pensei tratarem-se de animais com dono. Nem me ocorreu que aquela quantidade de cães fossem de rua. 

Dois repousavam à sombra, deitados na calçada. Outro estava a beber (e de que maneira!) água deixada num contentor plástico, bem ao lado do caixote de lixo onde fui despejar um lenço de papel. E o quarto aguardava, pacientemente, vez, atrás da cadela que bebia água. Quando me aproximei do caixote, a que bebia água sobressaltou-se e afastou-se. Afastei-me eu e a segunda cadela de pé aproveitou para beber água. Com a mesma ânsia que a primeira, pareciam estar com muita, muita sede. Foi então que percebi: eram animais de rua.

Alguém deixou ali um balde com água para eles saciarem a sede. E ao lado, se repararem na imagem, está um daqueles cestos que os estabelecimentos comerciais recebem, onde costuma vir armazenado fruta ou vegetais. Estava vazio mas decerto que continha comida. Para mim, quem pensou nestes animais trabalha num supermercado ou restaurante. 

Atravesso a estrada para a rotunda cheia de árvores na qual me senti tão bem na semana anterior, em direcção ao jardim da Ponte. Nisto um homem faz-me sinal. Ignoro, penso que não é comigo. Porque haveria de ser? 

-"Posso fazer-lhe uma pergunta?" - diz ele entre a máscara.

Não entendo bem o que poderá um desconhecido, naquelas circunstâncias, querer comigo, uma transeunte. Indicações? Não conheço bem a zona e ele pareceu-me local.

-"Sim?" -respondo.

-"Foi ali colocar água para os cães, não foi? Acho bem mas porque é que não colocam água aqui entre as árvores, ou ali (mais afastado?). Os cães já atacaram pessoas a sair do autocarro". 

A rotunda arborizada, onde um quinto cão devorava 
algo comestível que lhe foi deixado


O problema dele era ter os cães próximos da sua habitação. Mesmo à entrada de um prédio. Que fossem para a rotunda, ou para o passeio perto do muro... Também há ali sombra. Mas que não deixassem água ou comida perto das casas. 

(Se calhar é porque é longe para a pessoa que os lá foi colocar, não é tão prático transportar aquele peso ainda mais longe dali)

O homem pediu desculpa e afastou-se. Eu segui caminho, desistindo de ficar na rotunda por uns instantes a fazer um relato e fiquei a pensar na falta de humanização versus o sentido de propriedade. Não que ache que o homem estava contra os animais receberem um gesto que provavelmente lhes salvou a vida num dia tão quente. Mas, claramente, a sua prioridade residia em afastá-los da sua vista. 

Ontem o dia chegou aos 40 graus. Aqueles animais tinham tudo para morrer desidratados. Existiu uma alma caridosa no meio daqueles prédios para gente com dinheiro para ali viver, que lhes deixou água fresca. Parece que, hoje em dia, quem ousa ter este tipo de gestos é mais criticado que elogiado, como se estivesse a cometer um sério delito.

Duvido muito que aqueles cães atacassem fosse quem fosse. Não acreditei nessa parte da história do homem para justificar o seu interesse em mantê-los longe da vista. Os animais tinham mais medo de mim, humana, sobressaltando-se à minha passagem e aproximação, do que outra coisa. Encolheram-se ao meu ver, daquela maneira que só um animal que já foi enxovalhado e enxotado sabe reagir.


Qual é a minha perspectiva diante de animais abandonados ou de rua?
Sou a favor da sua existência e DIREITO a viver com liberdade.

Não defendo que devam todos sair das ruas. Pelo contrário. Sei que por vezes precisam de cuidados médicos mas, ainda assim, defendo o direito que têm de viver em liberdade. Tenho pena mas nunca mais esqueço de um cão vadio que fazia vida sem querer fazer parte da casa de ninguém. Para se alimentar e ter companhia, contava com um número considerável de pessoas e ele sabia a quem recorrer quando queria. Se aparecesse ferido, alguém cuidava dele e depois ele desaparecia para parte incerta. Voltando a aparecer quando lhe dava vontade.  

Prefiro um cão na rua, com possibilidade de se alimentar da caridade de muitos, do que vê-los amontoados em jaulas em canis ou saber que vão ser abatidos. Acho que têm o direito de viver soltos, tal como algumas pessoas também exercem esse direito. Penso ser desnecessário mais leis, ou melhores leis, ou mais peditórios de dinheiro para a defesa dos animais. 

Vivo em Inglaterra, onde a realidade animal é diferente, mais rígida nas leis. Um dia percebi que nunca vi sequer um gato vadio na rua.  - Nunca vi um cão ou sequer um gato de rua! A resposta que ouvi foi: "não há animais a viver na rua em Inglaterra, é considerado falta de humanidade". 

A resposta escandalizou-me pela hipocrisia

-"Mas pessoas a viver na rua já pode!"- tive vontade de ripostar.


Na cidade onde vivo, há muitas pessoas sem-abrigo. Todos os anos parecem aumentar. São homens, mulheres, jovens, menos jovens... a pedir dinheiro sem estender a mão e sempre a beber cerveja e a fumar. Tal como muitos outros que andam por ali a deambular, mas que devem ter pousio algures. A diferença é que o álcool e as drogas que estes consomem, vêm disfarçadas em garrafas de refrigerante somente no rótulo. E o sem abrigo não se dá a esse trabalho. De resto, faça chuva ou sol, dormem num chão de pedra, à mercê dos elementos da natureza.


Mas isto não é proibido em Inglaterra.

Já animais, que, ainda que domesticados, sabem viver no seu habitat de rua, não pode ser. Aposto que esta regra nasceu mais de pessoas que vêm os animais vadios como um incómodo social, uma inconveniência, algo que reflecte mal em si mesmos. Criaram então leis que nasceram disso e não na verdadeira preocupação ou amor por outro ser vivo. 

No meu entender, as leis de protecção a animais que os ingleses têm só servem para pedir mais e mais dinheiro ao trabalhador. Na TV passam anúncios de peditórios para protecção de animais e não se ficam por caes ou gatos: é burros, cavalos cegos, papagaios... Parece-me que a toda a espécie do reino animal foi atribuída uma caridade exclusiva. E todas são um poço insaciável e por isso recorrem ao sentimentalismo barato e procuram chocar as pessoas, apelando ao seu sentido de horror e possível experiência pessoal. 

Considero os anuncios televisivos de peditórios errados e pouco deontológicos. Não só usam situações extremas de sofrimento para pedir dinheiro, como definem uma quantia e logo informam que vai ser descontada MENSALMENTE. Cinco libras, costuma ser o mínimo. Ora, tentem lá separar 5 euros mensais e agora multipliquem isto por centenas de ajuda mensal e vejam quanto dinheiro não estão eles camufladamente a extorquir. Sim, porque considero que caridade é aquilo que a pessoa PODE dar, QUISER dar, QUANDO e POR QUANTO TEMPO desejar. Impor um valor mínimo e uma frequência devia ser ILEGAL. Pelo menos acho que é IMORAL.

Imoralidade é o primeiro adjectivo que uso para definir os anúncios de peditórios a animais que vejo em inglaterra, pois só mostram casos extremos. Usam imagens de animais nas piores condições possíveis de doença, cheios de trauma, feridas, sangue, sofrimento, amputações. Recorrem a imagens de um burro a carregar pesos, como se isso não fosse uma função própria para um animal, uma que o homem atribuiu a burros, touros, cavalos, bois, camelos etc, desde os primórdios do desenvolvimento, mesmo antes da mãe de Jesus montar num jumento rumo ao celeiro.

Para mim, quem usa esse tipo de situação singular para pedir continuamente dinheiro, não tem escrúpulos. E questiono muito este tipo de esquema.

Este tipo de anúncio já vai mais ao encontro do que considero correcto.
Mas encontrei-no no Youtube, está longe de ser o género que passa na TV Inglesa

Em Inglaterra, aqueles que têm animais, particularmente donos de cães, por vezes têm comportamentos de quem se acha com mais direitos. Isto pode parecer estranho, mas é o que acontece neste país em que os animais tem direitos que os donos querem fazer prevalecer. 

Uma vez ia a sair do passeio para entrar em casa, quando uma mulher a puxar três cães por uma trela, se recusa a deixar-me passar. Tive de parar e dar prioridade a ela e aos cães, porque ela não os puxou ou mudou de direcção para me ceder passagem. Coisa que em Portugal se faz por instinto e cortesia. Depois de insistir em não se desviar e ter passado, ainda me diz que os cães são para andar na parte de dentro dos passeios. Não pela margem dos mesmos. Os cães com trela não podem andar na berma do passeio?? 

Os donos de cães lá, também têm deveres. Um deles é simples: têm de apanhar as fezes deixadas por estes. Todos cumprem. O que mais temem, realmente, não é isso. Os donos de animais temem outra lei. Uma muito comum, temida por empregadores em particular: o PROCESSO.

Por isso, cada vez que um cão num parque se aproxima de desconhecidos, os donos começam a chamá-los e, caso não impeçam a aproximação, começam a jurar que eles não fazem mal e pedem sempre DESCULPAS por o animal se aproximar e, às vezes, saltar para as pernas. Ficam mesmo com aquela expressão de medo e receio. Pedem muitas desculpas, falam severamente num tom grave com os cães de estimação. 

Parece que é um crime os animais serem... animais. Têm todos de ter lições de comportamento e obedecer aos comandos do dono. Não há o livre arbítrio, não há aquela liberdade para o animal se expressar, como se um cão que vai cumprimentar uma pessoa no parque estivesse a cometer um delito. Haviam de ver o alívio no rosto dos donos quando, ao invés de reclamar e barafustar, limito-me a dar festinhas na cabeça do animal.

Este tipo de interacção só não é mal visto (ainda) se partir do humano. Se for o animal, que, como as crianças, gosta de se aproximar feliz e contente... é incorrecto. Indesejável. 

Foi até aqui que a lei para protecção dos animais conduziu a sociedade inglesa.





quinta-feira, 2 de junho de 2016

Que venham os Ikeas, que se banem as lojas chinesas!!


Preciso de desabafar.

E no final vou deixar um sincero apelo.

Se existisse um medidor de nervos os meus indicariam neste instante um elevado nível de nervosidade. Mas depois de desabafar volto quase à serenidade.

Há momentos na minha vida em que gostaria de saber aplicar melhor as leis que praticamente não conheço e sair mais a alguns dos "meus" que me são próximos. Que fazem por reivindicar os seus direitos e protestam em circunstâncias legítimas para tal, nem que tenham de chamar a polícia. Este é um desses momentos.


Fui a uma loja chinesa trocar um produto que não estava a funcionar adequadamente. Cheguei, com a simpatia que me caracteriza, aproximei-me do balcão, apresentei o produto e expliquei ao indivíduo, que tinha sido o mesmo que mos vendera, a razão de pretender a troca. O tipo responde: "não entendo". Tenho a paciência e a calma que me caracterizam de explicar pausadamente o motivo. Ele continua a não entender. Eu mostro-lhe: tenho dois artigos iguais, um funciona bem, o outro não. 

É raro trocar objectos danificados e não me agrada ir para trás e para a frente para o fazer. Porque faço todos os percursos a pé, não ando de carrinho. Pelo que me custa e tenho de organizar bem a minha agenda. E ali estava eu. Nunca me passaria pela cabeça que ia ser um dos momentos mais desagradáveis do dia! 

O que me valeu foi a presença de um empregado que fala português e que apontou para o obvio, que nenhuma barreira linguística seria capaz de impedir de se perceber se existisse boa vontade: um objecto funcionava bem, o outro não. E eu queria dois a funcionar bem! É pedir muito?

O indivíduo, que nem se levantou quando cheguei como cliente nem põs de lado o telemóvel no qual está sempre a mexer, faz então um som de escárnio - "hum!, seguido de um aceno negativo com a cabeça. Tira-me bruscamente o objecto da frente, mete-o de lado e diz: "não pode trocar!".

Eu fico na dúvida... se não posso trocar não deveria ele ter deixado o objecto onde estava ao invés de mo tirar? É o empregado que, mais uma vez, serve de esclarecimento: "pode trocar MAS É A ÚLTIMA VEZ, não troca mais". 

Um ultimato, antecedido de escárnio de reprovação. Que maneira de atender o cliente quando este entra pela porta, jesus!

Logo ali fiquei sem fala. Achei rude. Muito rude. Ainda dava um desconto para a diferença cultural mas... diante das circunstâncias não dava para disfarçar os factos com essa desculpa. Antipatia é antipatia, seja em que cultura for e mau atendimento ao cliente também. No acto de compra fui simpática, desejei-lhe sorte, e o tipo nem um sorriso nem um olhar de jeito. Muito evasivo. E eu nem sou de fazer interrogatórios mas, com uma loja quase vazia, não resisti à vontade de saber se iam fechar. Confirmou o fecho, um pouco com má vontade e não deu mais nenhuma resposta. Então desejei-lhe sorte... Como se pessoas que fecham lojas num lado e abrem noutras precisassem de sorte quando o que fazem é fugir ao pagamento de impostos!

Bom, para encurtar a história, eu é que fui buscar um outro objecto, troquei o objecto e o indivíduo, sempre a mascar pastilha de boca aberta e já a atender outro freguês que também foi trocar um objecto que não funcionava, aproxima-se para reivindicar o objecto devolvido. Aí sinto que não posso virar as costas e ir embora sem fazer o que faria em qualquer outro estabelecimento comercial: demonstrar, com educação, o meu desagrado pela antipatia demonstrada. 

E disse-lhe: Até ia para comprar mais coisas, mas o senhor não foi muito simpático. No acto da compra não nos dão o talão, não fazem devoluções (em dinheiro) até por isso acho que deviam ser um pouco mais simpáticos no atendimento. 

- Xau! - responde-me o tipo, sem me olhar no rosto, com outro som de escárnio e a mascar aquela pastilha.

Ora, isso não é enxovalhar o freguês??
Não é nos tratar como cães?
Foi como se me expulsasse. Quer lá saber se eu volto, se fico satisfeita... está a borrifar-se!
Tenho cá para mim que ser mulher e aparecer sozinha até o deixou mais à vontade para ser desrespeitoso. 


AGORA ENTRA O APELO:


Não comprem nada em lojas chinesas. Absolutamente nada. Nem que o produto venha da china e passe pelas mãos de retalhistas que o levam para as grandes superfícies. Vamos boicotar toda e qualquer loja chinesa. 

Acho que não nos damos valor como povo quando permitimos que estes comerciantes ajam diferente dos outros, quando a lei portuguesa é uma e deve ser cumprida igual por todos. 

Estes comerciantes da china não registam as vendas, não entregam talões de compra, não fazem devoluções em dinheiro... Onde pensam que estão? Os de cá têm de o fazer sempre, ou são punidos. E até aceitam devoluções até aos 30 dias após a compra. Estes não. Podes acabar de comprar e nem passar da porta e mudar de ideias. Voltas atrás e já não te devolvem o dinheiro.


Que venham os suecos e as suas Ikeas, que são empresas respeitadoras dos indivíduos e do ambiente. Não escravizam a mão de obra nativa, como o fazem os chineses. Se estes não estão dispostos a trabalhar pelos costumes de cá, alguns ainda fazem por impor a exploração de lá e ainda tratam o freguês com desprezo, então que voltem para a china que pessoas assim não fazem falta alguma na europa. Voltem.  




Posso jurar que vi aquele indivíduo bem impregnado do pior da cultura chinesa. Com ares de superioridade masculina, menosprezando a mulher, desprezando outras culturas. Tenho cá para mim que se não aparecesse sozinha, frágil e doce, se tivesse um homem grandão ao meu lado, que o trato seria um pouco diferente. Se fosse celebridade, conhecida... aposto que também ia ser "aquela" interesseira simpatia... 

Pessoas assim jamais deviam dedicar-se ao comércio. São intragáveis. 
Só lhe desejo o mesmo Xau que me deu... mas para se por daqui para fora recambiado para de onde veio.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Empresas de Trabalho Temporário


Nunca antes tinha tido contacto com o universo da advocacia, até o dia em que fui demitida sem justa causa. Estava empregada através de uma dessas empresas de trabalho temporário fazia um ano. O contrato renovava-se automaticamente todos os meses e assim, eu e uma colega, trabalhámos despreocupadas.

Até o dia em que ela aparece transtornada a querer saber se eu tinha recebido um telefonema da Randstad, a empresa em causa. Não, não tinha. Mas o que se passava para estar tão transtornada? Contou-me que tinham-lhe telefonado para lhe dizer que não precisavam mais dos seus serviços.

Como começamos ambas no mesmo dia e sob as mesmas condições de trabalho, a colega estabeleceu logo um paralelo. Nesse dia depois do emprego, tomou a iniciativa de telefonar para a entidade patronal, a Randstad, para pedir satisfações. Se a estavam a demitir, porque não me demitiam também? Não foi um gesto lá muito simpático, mas assim aconteceu.

No outro dia, no local de trabalho, a colega continuava furiosa, disposta a não deixar as coisas em pratos limpos. Já nem trabalhou direito e continuou a fazer telefonemas para a Randstad. Foi então que me contou que já lhes tinha falado na véspera e perguntado porquê não era eu também demitida. Responderam-lhe que seria. “Então é melhor telefonarem-lhe a dizer, porque ela não sabe” – respondeu.

A manhã passou, continuei a trabalhar com a dedicação de sempre, e nada de ser contactada pela entidade patronal, a Randstad. Isso deixou a outra colega ainda mais furiosa. Por alguma razão, temia que o machado recaísse só sobre a sua cabeça e não achava justo. E foi então, cerca de 40 minutos antes de terminar o meu horário de trabalho, que, talvez em sequência das chamadas da outra, telefonaram para a empresa a perguntar por mim. Lamentavam mas era para me informar que não devia ir trabalhar no dia seguinte, porque já estava no meu último dia de trabalho.

Quiseram ficar certos que entendi que não devia aparecer para trabalhar no dia seguinte. Repetiram-no, e voltaram a repetir. Preocupava-os que causássemos problemas no local de trabalho e o escândalo gerasse a dispensa dos serviços da Randstad. Esse foi o único receio da Randstad. Fizeram questão de sublinhar que a empresa local de trabalho nada tinha a ver com o sucedido.

E foi assim: fui avisada da recessão do contrato de trabalho, 40 minutos antes deste terminar. Que competência. Que profissionalismo! Não é como se não tivessem tido oportunidade de me avisar com mais antecedência. Afinal, a outra colega estava a remoer o sucedido há dois dias. Ou terá o despedimento vindo em consequência?

Fomos pedir informações ao Tribunal de Trabalho na Loja do Cidadão das Amoreiras. Falámos com mais gente esclarecida no assunto e todas manifestaram algum controle para não desatar a maldizer este tipo de entidade patronal. AO que parece, é comum darem-se erros. Ao que parece, a maioria das empresas funciona interpretando intencionalmente as leis conforme a sua conveniência. Ao que parece, existem muitas ilegalidades nos contratos de trabalho. Levámos os nossos para mostrar e logo foram detectados ao menos três irregularidades. O que me surpreendeu. Ao longo do ano de trabalho, tinham-nos feito assinar três contratos. Todos datados com a data do primeiro. Ou seja: haviam encontrado um erro no original, redigiram outro e pediram para que o assinássemos. Lembro que disseram que o erro nos valores de remuneração podia levar-nos a processá-los para receber o que ali estava estipulado, que era superior ao valor real. Já os meses iam avançados, vieram novamente até o nosso local de trabalho com um outro contrato para assinar, para substituir o segundo e o primeiro.

Com tudo isto, como foi possível redigirem um documento ainda com falhas?

Entre outras coisas que recordo, disseram-me que a lei permite, perante a situação de despedimento por injusta causa, que o lesado passe automaticamente aos quadros da empresa para a qual prestou serviços, como efectivo.

Tinha de me apresentar ao serviço e ainda que estes não me dessem nada para fazer, seriam obrigados a me pagar tal como a qualquer outro funcionário. Convenhamos, era o ideal. Mas soa a ilícito e pessoas com integridade moral não consideram esta via.

Então era isto que a Randstad temia! O escândalo no local de trabalho. Sabiam bem os direitos que nos assistia.

Tivemos também uma reunião com a empresa. Muitos pedidos de desculpa pouco sentidos e foi-nos dito que a carta de rescisão, que a lei obriga que seja enviada para casa do trabalhador no mínimo com 7 dias de antecedência, foi emitida mas deve ter-se extraviado no correio. A minha colega logo pediu um comprovativo do envio dessa carta. Não foi possível apresentá-lo. Claro, nunca existiu!

Parte do processo da empresa Randstad para tentar minimizar os danos a si mesma, foi prometer que nós as duas seriamos colocadas noutros empregos, pois não iam deixar colaboradores seus com uma mão à frente, outra atrás. Prometeram empenhar-se para encontrar um novo emprego, satisfatório e imediato.

NUNCA aconteceu.

Ainda lhes dei o benefício da dúvida e quando me telefonaram com uma proposta (daquelas um tanto estapafúrdias) aceitei com toda a boa fé ir à entrevista. A “nova” entidade patronal ficava fora da cidade. Não por poucos, mas por muitos quilómetros. Fui, fiz a entrevista e fiquei a aguardar o contacto da empresa. Garantiram-no. Sim, pois claro… entretanto o outro processo estava em andamento e depressa o meu nome deve ter sido assinalado na base de dados, como pessoa não-grata, já descartada.

Ainda assim, acreditei na boa-vontade que obviamente não existia. Telefonei para a empresa Randstad, para o novo número, da nova pessoa, encarregue do caso, que tirei do cartão que me foi passado pessoalmente para as mãos. Nada. A pessoa em causa nunca estava. Então um dia desloquei-me até à filial e falei com ela. Preenchi uma ficha e ficaram de me telefonar para dizer PARA QUE DIA a entidade ia marcar as entrevistas, que seriam já na semana seguinte. Disseram-me que telefonavam dali a dois dias, no máximo até segunda feira e caso isso não acontecesse, que entrasse em contacto com eles.

NÃO aconteceu. Entrei em contacto com eles. Mais uma vez, a responsável pela área, a rapariga com quem falei pessoalmente e sob a qual preenchi a minha ficha de candidatura, nunca estava disponível ou presente e ninguém mais podia prestar esclarecimentos sobre o caso.

Há, grande Randstad!

Entretanto, no outro processo de despedimento por injusta causa, a queixa foi apresentada ao tribunal de trabalho. A postura da Randstad foi iniciar uma guerra psicológica. Usam as leis para tornar tudo mais penoso. No caso, faltaram de comparecer ás primeiras sessões de esclarecimento. A primeira da qual, marcada para a minha ex-colega. Apesar da coisa ter acontecido a ambas, cada qual teve diferente representação. Meses se passaram graças ás faltas de comparecimento dos advogados da Randstad. Até que finalmente, no caso da ex-colega, apareceram. Comigo levou mais uma ou duas negas de comparecimento. Tudo indicava que o processo dela corria mais avançado porém, depressa começaram a não comparecer ao dela e o meu adiantou-se. É que após a primeira e única comparição da Randstad à nossa sessão de esclarecimento, devem ter concluído que o mais benéfico para eles seria "dividir para conquistar" e enveredar pelo lado mais fraco.
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Passaram-se muitos mais meses de silêncio. Uma estratégia intencional, para enfraquecer a parte lesada. Contavam que a comunicação entre nós esmorecesse com o tempo e deixássemos de trocar impressões. Quando se decidiram a contactar alguém, foi a ex-colega em primeiro lugar.

Foi uma decisão bem pensada. Apesar desta ser muito reivindicativa e mostrar que sabe os seus direitos, aposto que após a minha sessão de esclarecimento, aqueles advogadozinhos saíram dali preocupadíssimos. É que eu não entro em embolição com facilidade, muito menos quando provocada e insultada.

Esta sessão de esclarecimento foi o primeiro contacto que tive na vida com este universo de advogados. Foi muito interessante! Um microcosmos com uma linguagem própria. Um universo feio, mesmo feio, com muitas pessoas feias, num ataque serrado de palavras.

Como todas as entidades, agem em grupo. Não foi um advogado que compareceu à sessão, mas dois. Um a fazer o número de bad cop, o outro a fazer de menos bad cop. Foram tantas as alfinetadas verbais trocadas entre estes dois tristes jovens e a experiente delegada indicada para o meu caso, que não podem imaginar. Um ringue de boxe, um braço de força, em que a experiência depressa esmagou a juventude. Intimidação. Tudo funciona por intimidação.
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Permaneci calma no meio disto tudo. Respondi por monossílabos “Sim” e “Não”. Provocação alguma me tirou a tranquilidade. Dir-se-ia que não estava capacitada de inteligência suficiente para entender o que se passava. Mas entendi muito bem. Ás vezes censuro-me por ser assim, mas em simultâneo fico contente por o ser. Aqueles advogadozinhos estavam em pânico. Uma pessoa em controle é mais perigosa que a que perde as estribeiras. Assim devem ter pensado, para terem contactado em primeiro lugar a minha ex-colega, com uma proposta para o caso não ir a tribunal.

Quando chegou a minha vez de ouvir a proposta, afirmaram na minha cara: “Já não está em contacto com a sua colega, pois não? Vocês não se têm falado.” Já tinha passado mais de um ano. Mais uma vez, dei uma resposta quase monossilábica: “Sim, temos”. A outra não ficou muito convencida. Sei bem onde queria chegar. Queria saber se eu tinha conhecimento da proposta que eles elaboraram à ex-colega e mais importante ainda, se saberia que ela a aceitou.

Sabia sim. Há quase uma semana que o sabia. Devia tê-lo demonstrado logo ali. Aí censuro-me por ser tão introvertida, que pareço desprovida de perspicácia ou inteligência maior.

Uma vez no decorrer da audiência, apareceram mais advogadozinhos a representar a Randstad. Eram umas três ou quatro cabeças presentes em nome da empresa, se não estou em erro. Três delas advogadas. Mas um deles quase me fez rir. Um rapaz, novito. Estava nervoso, quase que atrapalhado por falar. Depois da aprovação de uma colega com o olhar, começou a debitar um texto que, claramente, tinha estudado. Foi assim que fiquei a saber o que já sabia: o valor da proposta da empresa para o caso não ir a tribunal. Quando terminou, o galinho provavelmente estagiário, ficou contente com a sua prestação. Estava a ser bem ensinado: manteve uma postura arrogante e altiva, e um tom (in)seguro de si. “Esta é a nossa proposta e única proposta. (Bluf). Se não aceitar, então partimos para os tribunais (bluf). É muito boa (mentira), a ex-colega JÁ ACEITOU (tentativa de legitimação), é um valor justo, com base em cálculos do salário que a colaboradora recebia (mentira)”.

O que provavelmente não sabiam é que trazia comigo, dentro da pasta que tinha em mãos, um documento elaborado pela minha representante, com uma estimativa, por baixo, dos valores que me eram devidos por lei, com base na interpretação mínima desta. E por esses valores mínimos, a estimativa era quase tripla do valor da proposta deles. Dois salários – foi o valor que apresentaram. No mínimo, deviam ter sido seis.

Depois aqueles galinhos da advocacia, representantes de grandes valores morais e éticos (ironia), saíram da sala para eu poder escutar os concelhos dos meus representantes públicos.
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Devo dizer, com toda a justiça, que fiquei bem impressionada com estas pessoas. Tanto com a senhora que me representou inicialmente, a delegada da audiência de esclarecimento, que manteve a distância e se limitou aos factos e ás leis, como por estes dois indivíduos. Neles reconheci uma integridade ausente naqueles jovens galinhos advogados. De sorrisinhos cínicos e um amor próprio desmesurado. O tempo todo fiquei com a impressão que fazem falta ao sistema mais pessoas como aquelas. Trabalham com a lei e a justiça sem perder a consciência. Não deve ser fácil. Deve ser duro e frustrante. Lidar todos os dias com inescrupulosos como aqueles galinhos armados em advogados, muita crista eriçada, ofensas, provocações e um total desrespeito pelas leis. Senti pena. Por todos nós, pelo sistema. Pela justiça. Aquelas pessoas deviam ser das últimas sobreviventes de uma época em que a lei é encarada para servir todos, e não apenas os poderosos, sem convenientes distorções. Deviam ter abraçado a profissão com muito amor e terem de exercê-la perante estes “controcionismos”, deve ser frustantemente desgastante e desmotivador.

O número de advogadozinhos como aqueles que a Randstad me deu a conhecer – gente jovem, altiva, arrogante, de postura mal educada, porvocatória e mentirosa, que esboçam um sorrisinho cínico a cada palavra “bem enfiada”, deve ser penoso de assistir. Foi para mim, que não sou da área, um lamentável circo. Imagino o que uma pessoa de bom carácter que trabalha com a justiça sente. São cada vez menos, e cada vez mais idosos…

A conselho destas pessoas, aceitei o acordo. Ir a tribunal era coisa que se arrastaria por anos. Seria necessário chamar testemunhas. Eles sabem que é pelo desgaste que cansam uma pessoa. Não foi a postura, nem as palavras ameaçadoras dos advogadozinhos que determinaram coisa alguma. Foi esta realidade. Levei em conta o conselho daquelas pessoas que já admirava e a minha vontade de colocar o assunto atrás das costas. E só.

A minha motivação sempre foi diferente da ex-colega. Nunca esteve no dinheiro e sim no sentido de justiça. Foi isso que lhes disse: "Só quero que se faça justiça". Explicaram-me os procedimentos e eventualidades das duas vias a seguir: o acordo ou os tribunais, aconcelharam-me pelo primeiro e como expliquei, dei-lhes ouvidos. Não queria ter coisas pendentes que me fizessem ter de lidar com aquele tipo de gente.
Uma pessoa tem de assumir as suas responsabilidades. Uma empresa também. Varrê-las para debaixo do tapete, não é digno. Procurava o justo, não a compensação monetária. Não me arrependo mas acredito que o melhor, para todos, seria ter levado o caso a tribunal. Não seria o melhor para mim, mas podia ser a atitude necessária.

Os sorrisos e risadas daqueles advogadozitos da Randstad à saída do tribunal, contentes porque a reputação da empresa não saiu manchada, deu-me a indicação. Eu tinha a faca e o queijo na mão. Eles sabiam. Há casos por onde podem abrir uma frecha e fazer crer que a pessoa também cometeu falhas. Já tinham mentido para ver se me viam perder a paciência. Mas não comigo. Não tinham mesmo ponta viável por onde inventar fosse o que fosse. Aqueles sorrisos cínicos de auto congratulação, estavam em extase.

Aposto que não entenderam o meu gesto. Nem a nobreza dele.
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Nunca mais lidei com a Randstad. Quando a vejo, passo ao lado. O simples nome é um palavrão. Estes também nunca mais quiseram saber de mim, a pessoa não grata... até um dia.
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Tinha-se passado mais de um ano. Toca o telemóvel e uma voz masculina identifica-se como sendo da Randstad. Queriam saber se aceitava um trabalho. Sabem qual? Uma porcaria!!! Deviam estar tão desesperados por cabeças, que até a mim recorreram, mais de um ano depois.
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Vejam só as condições que ofereciam: local de trabalho: um supermercado longíquo. Zona perigosa, de assaltos. Horário: de manhã até anoitecer, só sábados e domingos. Remuneração: nem chegava a 300 euros.
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Para uma pessoa no mercado de trabalho, isto é proposta que se considere? "Venha trabalhar a troco de tostões. Oferecemos trabalho árduo, más condições, e a eventualidade de ser assaltado com arma branca".
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Fui educada como sempre, e recusei.
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Devia ter dito, indignada: Oiça lá: isso é oferta de trabalho que se proponha a alguém??
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Depois de tudo, ainda cá vieram bater à porta, os descarados...
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Com a Randstad, nunca mais.