quinta-feira, 28 de março de 2019

Um trabalho de lazer e a memória celular


A agulha penetrava pelo tecido e as mãos repetiam um gesto que subitamente entendi que era adquirido pelos genes. Fosse com a mão direita, ou com a esquerda, lá estava eu a alinhavar o edredon após o cortar em pedaços menores.

O que percebi foi que nós somos o conjunto de todos os que nos antecederam. Não somos somente fruto da época onde calhamos e do que nos rodeia. Carregamos sempre algo transmitido nos genes - e não falo apenas de doenças. Falo de formas de pensar, agir, temperamento... 


Um documentário que vi recentemente - três idênticos desconhecidos - revelou que existiu um projecto nos anos 60 que visava estudar gémeos separados à nascença, colocando-os em ambientes distintos: classe alta, média e pobre. Três desses bebés encontraram-se por acaso aos 19 anos. Foi um tema mediático, encarado como algo divertido, fantástico e engraçado. Mas por detrás do que lhes aconteceu como órfãos, estava um intento: um estudo sociológico sobre aquilo que somos: iriam os gémeos demonstrar características em comum ou iriam distinguir-se de formas diferentes conforme o meio em que foram inseridos?

O estudo nunca viu a luz do dia mas a determinada altura uma das que sabia que o mesmo estava a decorrer, disse: "Não é bom, pois não? Nós gostamos de pensar que temos algum controlo sobre aquilo que somos e o que fazemos. Se a hereditariedade for mais forte e não importa o que alteremos então qual é o propósito?".

Nós somos sim um misto de tudo. Mas agora, enquanto alinhavava com linha e agulha um pedaço de tecido, senti que aquele gesto nem era meu. Foi-me "colocado" na memória celular por gerações e gerações de mulheres. Essas sim, conhecedoras de tudo na arte da costura, do remendo, da transformação. 

Não posso dizer que aprendi a costurar, porque não é verdade. Nunca tive aulas. Minha mãe deu-me uma agulha e linha, mostrou-me como a enfiar no buraco de agulha (coisa que até hoje faço com a maior das facilidades no mais pequeno buraquinho enfia-se a linha, quase sempre à primeira). Pelos 11 anos estava a fazer vestidos para a única boneca Barbie que tive na vida. E já então, com essa idade, algo nessa prática vinha dos genes. Falta-me conhecimentos, falta-me técnica mas o trabalho é feito. Com gestos transmitidos por indefinidas mulheres da minha linhagem que os reproduziram incontaveis vezes, sentindo orgulho e satisfação em poder ajudar a família e os necessitados com essa sua habilidade. Sinto que outrora havia prazer em dar nova vida a algo que de outro modo não teria serventia. 



A decisão de fazer isso ao edredon de casal que tinha na cama de solteiro foi tomada há um ano. E finalmente pus mãos à obra. Aqui vêm-se muitos a ser descartados, pois esta é uma cidade de  trabalho sazonal cheia de indivíduos a cá trabalhar por curto tempo. As pessoas estão em constante mudança de casa, abandonando o que não lhes é conveniente transportar. São centenas os edredons que vão para o lixo, novos que são comprados... E não me parece que sejam feitos de um material reciclável. Sabia que, assim que o Inverno nos abandonasse, ia querer transformá-lo, dar-lhe outra vida. Nem que fosse na forma de almofadas. 

Decidi forrar a capa do colchão com parte dele, assim seria fácil enfiá-lo na máquina e o lavar. Além de dar mais conforto lombar e protecção de formação de odores. O edredon mal chegou "vivo" aos dias de hoje após a última tentativa que fiz para o lavar à mão, o ano passado. Já estava todo rompido e com forro a aparecer por todos os lados. O tecido ficou frágil depois da lavagem, fácil de rasgar. 

A mão que alinhavava não era só a minha

Teria sido muito mais fácil deitar fora (não, por acaso não teria sido porque deitar coisas fora não é uma ideia que combine muito com o meu ser). E não é por ser sovina, é mesmo algo intrínseco, algo de alma criativa e questionadora. Não há coisa que não olhe que não ache que tem utilidade. Acredito que tudo se re-aproveita e não existem bons motivos para deixar um produto contaminar o ambiente e ser apenas lixo. Mais uma vez, parte deste sentir acho que é hereditário, vem dos meus antepassados. Antigamente não se desperdiçavam coisas, nada era considerado lixo. Se de tripas fazem chouriços e de merda se faz adubo, de facto não faz sentido existir desperdício do que quer que seja. A natureza providencia tudo e assegura-se que tudo o que providencia recicla-se. Não há muitas gerações, tanto ricos como pobres, sabiam que tudo tinha uma utilidade. Para mim este é o conceito que faz sentido. Algumas vezes sou criticada, chego mesmo a ser ridicularizada, mas acho que isso só acontece por ter nascido numa era em que o "aceitável" é considerar tudo descartável e o socialmente correto é correr às lojas compras coisas novas. 

Não dei conta do tempo passar. Calculo ter ficado quatro horas de volta do alinhamento, do corte, e das medidas. Tanto tempo naquilo e o meu corpo não se sentiu cansado, a minha vista que teve de afunilar a cada espetada de agulha, não se sente cansada. Foi um trabalho laborioso mas... de prazer. Tarefa terminada!

Acho que até isso, essa satisfação e ausência de cansaço, deveu-se a sensações vividas pelos que me antecederam. De alguma forma, consigo-as sentir também, ao executar algo semelhante. 

Viram nas fotos? Nada de especial, não é mesmo? Contudo, aprazível.




quarta-feira, 27 de março de 2019

Elogio a quem é devido


Nada melhor do que quando nos vemos num aperto, precisamos de uma resposta rápida no meio de burocracia e esta... ACONTECE!

Gosto de congratular quando acho que as coisas correm bem. Por isso deixo aqui o meu elogio ao Banco CTT. Tornei-me cliente do banco não quando quis - logo no início, mas mais tarde, quando o Banco Santander mostrou ser extremamente oportunista e desleal. A história, já a contei aqui. Cobravam dinheiro quase diariamente, depois de uma certa data após ter tentado encerrar a conta. Como naquele dia a filial onde fui estava sem os sistemas informáticos a funcionar (uau!) no dia seguinte quando fui fechar a conta, já tinha um valorzinho para ser descontado. Há profissionais muito bons em todo o lado mas neste banco encontrei a funcionária mais incomoda, mal educada e que revelava regozijo na tua desgraça. Dessa loura nunca mais vou esquecer. A petulância, a altivez, o fazer olhos cegos para a ordem de chegada dos clientes querendo apanhar os que lhe pareciam melhores e a empatar o atendimento. 

Ator Albano Jerónimo dá o rosto (e abre o bolso)
à nova campanha do Banco CTT


Fechar a conta no Santander foi a melhor coisa que fiz, só suplantada pela abertura e uma nova conta no Banco CTT. Nunca revelaram burocracia desnecessária e chata, não pago comissões por coisa alguma (no Santander cobravam-me tudo e mais alguma coisa e nem avisavam), e são prestativos.

Hoje precisei de aceder à conta bancária e estando no estrangeiro, isso é difícil. A password não estava a funcionar, a terceira tentativa era a última, e não queria que me acontecesse o que aconteceu com o Banco Santander: telefonei para a linha de apoio deles, gastei 10 euros no tempo que fiquei em linha e a funcionária (outra mal informada) garantiu-me que podia tentar inserir novamente a password depois de ter definido "apagar registo". Pois sim... Aceder ao homebanking depois das instruções dela só se fosse a uma filial em Portugal! 

Ora, para isso não tinha telefonado especificando que estava no estrangeiro e não pretendia perder o acesso online à conta. Enfim... sobre o Santander só tenho coisas obviamente muito ruins a dizer. 




Nem tinha ainda desligado a chamada super curta em duração e que foi atendida de imediato pela central de apoio ao cliente Banco CTT, quando recebi no telemóvel o código de confirmação para aceder ao portal. Após o introduzir e definir o código secreto, recebi no mesmo click um aviso sonoro no telemóvel, fornecendo outro código para confirmar tudo. Simples, super rápido e descomplicado. Em meio-minuto acedi à conta online. 

É assim que eu gosto. Bancos descomplicados para clientes descomplicados.
Espero que assim se mantenha porque quando deixar de o ser, vou procurar quem o seja.

A nova campanha televisiva promocional para o crédito à habitação do banco CTT foca-se na sua simplicidade. É uma campanha simples mas direta e por isso eficaz. Ainda por cima mostra um pouco das ruas de Lisboa. Tem charme. A meu ver ganha com a música que escolheu para o seu slogan "Sem Blá, blá, blá". E já agora, porque não escutar o original?



                                                   Joe Dassin: l'ete indien


domingo, 24 de março de 2019

Animais inteligentes

O sinal na estrada diz:
"Corredores, posicionem-se na berma da estrada quando na aproximação de veículos"


Parece que na Flórida alguns animais descobrirem uma técnica toda especial de caça Ahahaha!

quinta-feira, 21 de março de 2019

Que ideia FANTÁSTICA!!!

A do Google em nos permitir COMPOR música através da "Celebração de Bach", hoje, na sua Banner de identificação.


Se ainda for a tempo de experimentar, tente. Eu compus esta obra de arte, ahaha!


Adorei os bonequinhos. Tão simpáticos. Além de uma intro sobre o que é música, dá para compor, receber uma "ajudinha" dos outros músicos com a harmonia e fazer o download da peça criada por ti. No youtube descobri o trabalho por detrás desta criação e os seus (quase sempre exclusivamente) jovens criadores. Que mundo lindo, o da arte.



quarta-feira, 20 de março de 2019

PRIMA VERA


começa HOJE


Quem gosta?

domingo, 17 de março de 2019

Para combater a INSÓNIA (novo remédio)


Têm dificuldade em cair no sono? Acordam com facilidade?

Há quem use tampões nos ouvidos. Há quem tome soníferos. Há quem beba leite morno... Tentei todos esses, sem grandes eficiência (para que saibam o mais eficaz ainda é o «famoso» leite morno*)

Há quem adormeça todas as noites com a TV ligada. Costumava sentir algum incómodo com esse método. 

Hoje dou por mim a usar o computador para esse fim. Sim, adormeço com muita parnafenalha electrónica ao meu redor. Descobri que não é o som de qualquer programa televisivo que pode funcionar. Usar o youtube é diferente de usar a TV, que nos intervalos publicitários brinda os nossos ouvidos com decibéis mais altos.

Ora, por incrível que pareça, costumam ser vozes a relatar casos de investigação criminal as que me "caem" melhor. Lendo os comentários deixados nesses programas, percebe-se que esta prática é muito comum. Existe até consenso: a MELHOR voz (e tenho de concordar a 200%) off que alguma vez existiu foi a do locutor americano Peter Thomas


Aqui está um exemplo do seu trabalho. Ele foi o locutor da série Forensic Files e a sua voz a relatar coisas desagradáveis soa ao mesmo que escutar uma história infantil contada a crianças. Agradável, serena, perfeita. Ao mesmo tempo, não deixa de ser perfeita também para a função que está a cumprir. Esta voz costuma ser aquela com que vou entrando no sono. Já vi todos os episódios repetidamente, mas a percepção de familiaridade não se sobrepõe ao prazer da sonoridade. 


Porém, este método de deixar o Youtube ligado também pode causar um efeito contrário. Por vezes as vozes entram dentro do cérebro já adormecido e interferem com o descanso. Acaba-se por acordar. E no cérebro, parece que estão a "martelar" as mesmas frases, com a sensação de "já ouvi isto antes".

Mas hoje vim aqui revelar que encontrei um novo remédio dentro da mesma linha, muito mais eficiente. Apareceu ao acaso, pois adormeci com scketchs de comédia do SNL e fui acordando com vozes serenas que me puseram novamente a dormir. Sabem o que foi? Uma discussão do Comité Judicial no Senado Americano! Ora oiçam lá:

Vou passar a usar este video para adormecer. Como falam todos com calma, serenidade, respeito... o assunto ia entrando, mas o sono também. Coisa estranha!



 * (Leite gordo. Água disfarçada de leite não resulta)

sábado, 16 de março de 2019

Guardado no baú...


E acrescento que a INDIFERENÇA é cruel em qualquer idade. Indiferença para com os idosos ou para com os adultos.

sexta-feira, 15 de março de 2019

Mais um... desabafo


Ontem passei uma boa parte do dia na sala. Foi um milagre.
Explico:

Em julho comecei a fazer uma estante a partir de cartão. Aproveitei os momentos em que ninguém estava em casa, que não foram muitos. A última vez que consegui dedicar-me a essa bricolage foi em Setembro. Passaram-se seis meses!

Ontem acordei cedo para ir ao centro de emprego, e regressei mais cedo ainda. Assim que me ouviram desperta, o casal-amigo-que-quase-nunca-trabalha tratou de ir para a sala. Mas pouco depois de eu ter terminado o post anterior, vi os dois sair. E dei-me conta que podia adiantar, quem sabe até, finalizar o meu trabalho. Estava inspirada e motivada pela recente aquisição de materiais mais apropriados.

Material esse armazenado no meu ovo de quarto. Contudo, tudo cabe nele. É que não acho correto impor nos espaços comuns coisas que não precisam de lá estar. Não é muito bonito de se ver. Dá um ar desleixado de acumulação de lixo. 

Antes mesmo de reunir tudo no andar de baixo,  eles os dois entraram e, como sempre, ficam pela sala. Pergunto se posso ficar a usar a mesa, o rapaz responde: "Tudo bem".

"Tudo bem" mas sinto que preferiam não me ter ali, como habitual. Mas nem sempre posso estar a enfiar-me num buraco só porque eles permanecem naquele espaço sem nunca o deixar a não ser para dormir. Dei conta que não foram fazer compras. Mais tarde reparei que trouxeram uma gorda mochila, que deixaram em cima do sofá, tentando ocultá-la com um casaco.


Porquê ficou ali e o seu conteúdo não foi mexido, só entendi às 2 da madrugada. 
Adiante:

Acabei por ficar na sala e adiantei um pouco o meu projeto. Mas depois de umas três horas, não dava para continuar. A mesa não fica numa zona iluminada e a luz artificial não deixa ver bem. Pelo que comecei a arrumar. Senti o tempo todo que estavam à espera desse momento. 

Mal entrei no quarto carregando as últimas coisas, batem à porta. Já sentia animação vinda do andar de baixo. De seguida escuto uma voz feminina italiana, e outra, e outra, e escuto muitas portas a abrir e fechar. Ouvi a mais-nova chegar e entendi que tinha sido avisada e convidada a participar no que quer que fosse que FINALMENTE tinha começado a acontecer no momento em que me afastei. 
Estavam só a aguardar me ver fora dali.

Opá. Sinto-me mal, pois sinto. Fiquei triste. Percebi que não ia voltar a descer à sala. Até me incomodou a ideia de ter de cumprimentar aquela gente, que depois nem me fala. Ver rostos altivos, cheios de contentamento e à vontade no espaço que eu pago para viver e elas não, como se isso não fosse uma imposição de presença.

Só começaram a dispersar à 1.30 da madrugada. Mas eu escutei ruidos alarmantes. Pessoas entram, mas não saem. E isso É alarmante.

Lembram-se da "amiga"? Que era suposto vir de visita e dormir cá a 28 de Fevereiro por uma semana? E que acabou por ser hóspede ocupando a casa na ausência de quem a trouxe cá para dentro? Essa trouxe outra com ela, ficou por seis dias consecutivos a usar o espaço sem dele sair. E sem se apresentar ou cumprimentar quem cá mora. Foi um martírio. 

Disseram-me que "não regressava". Mas percebi agora que sou ingénua por acreditar no que me dizem. O que me disseram foi que vem outra para cá já no dia 18, quando o rapaz for de férias. A tal trazida pela outra. Chama-se Laura - foi-me dito. Então eu estou à espera de uma Laura, no dia 18. E de mais ninguém! Porque o rapaz também me disse que a «outra» não vinha. Pois! Deve ser deve... Foram embora mas as merdas todas que possuem continuam cá. As áreas comuns estão a abarrotar de sacos, malas, roupa... e o que mais me espanta, comida. Mas não comida que já se tinha comprado e não se vai deixar para trás. Comida acabada de comprar, perecível em dias, perecível sem frigorífico.

A tal de Laura disse-me que vinha para cá mas ia trabalhar, pelo que mal a ia ver. Não ia ficar pela casa. Perguntei ao rapaz se a outra que ainda cá estava também ia ficar. Respondeu-me que não. MAS ele também disse que ele e a outra iam os DOIS de férias. Vai o quarto dela ficar vazio??

Opá, eu estou... que nem consigo adormecer.
Não consigo relaxar. Sinto-me tensa. 

Daqui a seis horas a sala vai estar novamente ocupada por os habituais e se calhar mais um bando de rostos novos. Ninguém me disse nada. 

Desci à sala a receio... do que poderia encontrar. E encontrei-a ainda com mais tralha enfiada pelos cantos. Uma das malas, com uma etiqueta de identificação, refere-se a um nome de mulher italiana, que não é Laura nem é a da outra... 





Querem ver??
Arrebento ou não arrebendo?


PS: Na segunda-feira ao chegar a casa tinha cá o senhorio que veio arranjar a porta do chuveiro respondendo a um chamado deles - os italianos. AMBOS decidiram chamá-lo. Enviaram mensagem privada - não no grupo referente à casa. Eu não estava a par. Ora, eu sei que eles não se preocupam nem tinham intenções de o chamar. Desvalorizaram o assunto quando eu o mencionei! Acho que o fizeram para evitar que pudesse ser eu a fazê-lo numa altura que não lhes fosse conveniente. 

E pergunto-me se isto foi feito na segunda, porque a altura não conveniente é esta sexta?

quinta-feira, 14 de março de 2019

Apeteceu-me esmurrar-lhe os dentes


O seu tom condescendente, a preocupação falsa, a atitude a descartar e os constantes "Okay?" em voz infantil fez-me visualizar um punho a dirigir-se com velocidade até os dentes da sua boca.

Falo de uma funcionária que me atendeu hoje, no centro de emprego. Era suposto ter uma hora marcada com um "working coach". Finalmente, desde que a lá me dirigi em finais de Fevereiro, ia poder receber a orientação de alguém formado em ajudar quem procura emprego.

Aqui no UK a burocracia dita que se sigam procedimentos. Até para te verem o CV e ser orientado no rumo a seguir. Que era só o que pretendia, realmente. AJUDA. Mas aqui, para qualquer coisa, é preciso fazer uma "clame" e pedir ajuda financeira ao Estado. Se não estiveres a receber "beneficts" o Centro de Emprego não pode legalmente fazer algo por ti. O que para mim sempre soou a absurdo! Para receber orientação sou forçada a receber dinheiro do Estado! 


Então, para poder chegar a um orientador de emprego, para poder inscrever-me num dos (quase não divulgados) programas de estágio, tive de fazer uma "clame". Burocracia vai e vem, toma lá os extratos do banco de Portugal e os de cá, toma lá cada recibo de vencimento, toma lá os P45 (um impresso muito útil que aqui faz as vezes de impostos, vem em triplicado e comprova muita coisa), cópia do contrato de arrendamento, cópia de Passaporte (eles nem querem saber de Cartão de Cidadão. Ou é carta de condução Inglesa ou Passaporte - o resto não existe). Uma mão-cheia de documentos que são constantemente pedidos seja qual for o propósito.

Fiz a clame e marcaram-me um dia com o working coach. Que era o meu principal objectivo o tempo todo. Essa marcação ficou para hoje, às 10 da manhã. Sobre a clame no dia 8 recebi a resposta: foi rejeitada porque a legislação considera-me uma pessoa "com direito a viver e trabalhar no UK e que está à procura de emprego". Aparentemente a clame ao que eles chamam de Universal Credit não é destinada a quem procura emprego, mas aos que já têm emprego.

Ora bolas!
Mas não podiam ter dito isso logo? Escusava de meter a clame nesse tal de Universal, apresentava-a então no local mais adequado. 

Uma total falta de tino da parte dos funcionários. É que nem pensam. Se não tenho direito para quê aceitar e pedir documentos? Avisem logo que a rejeição é certa e orientem-me para o caminho certo.

Só depois, consultando o site, é que vi que afinal o Universal Credit não é o substituto para o Jobseeker allowence. Foi-me dado a entender que este tinha sido extinto, porque disseram-me que "já não existe" e que tinha sido substituido pelo "Universal Credit". 

Então, a semana passada, online, fiz uma nova clame, desta vez para "quem procura emprego". Ai!

Mas estava expectante para esta marcação de hoje. 
Preciso do tal mentor... 
Sou péssima a procurar emprego, tenho de interiorizar isto. 

Estava tão contente por finalmente ter alguém que me ajudasse e chego lá, o meu nome não consta em lista nenhuma. Não tenho marcação.

Então não é que eliminaram a marcação?
Sem me dizerem nada!
Deve ter sido automático.

Mas que coisa sem sentido!

Tenho nova marcação para outra clame dia 18. Acontece que o funcionário que recebeu os anteriores  documentos frisou bem que não me podia orientar porque eles não são working coach. Contudo, hoje foi-me dito que quem ia receber a minha clame era um e podia substituir esta marcação. So que eles cumprem a função específica para a qual estão escalados. Por isso perguntei: "E em que categoria é que ele me vai receber? No papel para a clame ou como working coach?".

-"Ele é um working coach" - repete ela sem responder à pergunta.

Estava novamente num tom condescendente, de falsa preocupação e visivelmente preocupada consigo mesma, não queria dizer nada que a comprometesse. Só se desviou das questões, demonstrou comportamentos estudados e repetidos como se uma atriz fosse, expressou frases-feitas, ocas...

Como começo a detestar pessoas que se colocam em cima do muro!

E visualizei aquele punho a viajar até os seus dentes...


O pior é que, no fundo, SEI que estou a perder tempo com o Centro de Emprego.
Mas lá vou eu, esperançosa... que me surpreendam e façam um trabalho eficaz.


terça-feira, 12 de março de 2019

Descobrir onde está o coração das pessoas - pt1


Ia para contar esta história. Mas depois adiei. Sei que os meus relatos domésticos não devem ser bem acolhidos por quem me lê, pois não recebem comentários. Mas às vezes simplesmente preciso de desabafar. Na última vez que o fiz, contei que escrevi no quadro "Eu Existo". Foi mais uma auto-afirmação, um resquício meu a recuperar a minha auto-estima.

O que ia para contar é que no dia seguinte a mensagem no quadro havia sido substituída por "é favor limpar o fogão DEPOIS de usá-lo. Esta noite estava absolutamente nojento!".

Ora, eu tomei a mensagem a peito. Não gostei. E porquê? Porque sabia que a mensagem era destinada somente a mim. E eu não tinha nada a ver com o fogão estar sujo. Nunca tenho. Tenho o hábito de limpar tudo antes mesmo de começar a comer! Considerei a insinuação ofensiva. O fogão foi deixado sujo muitas vezes antes. Nunca ninguém deixou uma mensagem escrita em qualquer uma dessas ocasiões. Porquê deixar no dia em que usei a cozinha pela primeira em mais de duas semanas para fazer uma sopa? 

Vivendo eu nesta casa há quase um ano, tendo sempre demonstrado que limpo atrás de mim, nunca deixei nada sujo e sabendo-se muito bem quem repetidamente deixa o fogão sujo (o rapaz) considerei a insinuação de carácter caluniosa. A malícia implícita caiu-me mal. 

Como a comprová-lo, nessa noite não sai do quarto, mas escutei-os todos lá em baixo. A cozinhar, a ver TV... a falar uns com os outros. Pelo que não é credível que a mensagem no quadro realmente tivesse ali sido deixada para "todos". Ou eles deixam a si mesmos recados no quadro enquanto conversam animadamente?


Vi que o fogão estava sujo às 10h da manhã, quando desci à cozinha. Até tirei a fotografia acima. De tarde, animada pela perspectiva de poder cozinhar pela primeira vez no que me pareceu DÉCADAS e não querendo que uns legumes comprados dois dias antes se estragassem, cozi-os em lume brando. Nem um salpico fez. O fogão já estava sujo. Animada pela antecipação de comer algo quente e feito na hora - o que já não acontecia há milénios principalmente pela presença constante das "hóspedes", lavei o tacho e fui embora. A sujidade permaneceu onde já estava desde a noite anterior. Noite essa em que as "visitas" cozinharam ficando pela cozinha e pela sala o dia inteiro. Pela hora de jantar voltaram a cozinhar, e o rapaz também, junto com elas. Tendo depois sentado-se no sofá agarrado ao computador. A limpeza foi deixada ao encargo de quem?

A palavra "nojento" é muito agressiva. Nojento está o forno, que eles usam diariamente extensivamente. O rapaz, que foi quem deixou o fogão sujo (aliás, a mancha maior está sempre no mesmo local, ele cozinha sempre o mesmo e suja sempre da mesma maneira) gosta de pré-aquecer o fogão vazio na temperatura máxima durante muito além de 30 minutos. Consegue-se sentir o oxigénio a ser sugado do ar. É claro que esta prática faz com que tudo escureça no interior. Depois está sempre a assar pedaços de frango o que acabou por resultar num vidro castanho de gordura.

Mas aparece alguma mensagem no quadro a chamar aquele amontoado de gordura de "nojento?". Não. Porque ainda não podem impingir-me essa responsabilidade. 

Ao ver a mensagem, que preenchia o quadro quase todo, rabisquei uma resposta. Nem foi acusativa, foi mais para deixar claro que o fogão estava sujo desde a noite anterior. Escrevi: "Foram as hóspedes ou quem mais cozinhou na noite anterior".

Ninguém me disse nada. O assunto não foi abordado comigo. Vi alguns entre-olhares entre eles e a sensação de silêncio quando de noite entrei na sala. Tenho a certeza que a mais-velha, que trabalha pela manhã, ficou logo a par da mensagem de resposta através do whatsapp. Esta foi apagada algures durante a hora do almoço.

E pronto. Acho que isso deixou-me "suja" diante deles. Porque "ousei" dar resposta.

É que não aguentei a insinuação!
Bolas. Até parece que estavam à espera de me ver chegar perto do fogão para me acusar de algo.
Aliás, vivo em gelo muito fino....

Sei que esperam que cometa um deslize para assim conseguirem sustento para futuras implicações. Não é por isso mas, ainda não quebrei o calendário das limpezas por tê-lo percebido. Tirando a mais-velha e eu, o resto não limpa.

Mas eles encobrem-se entre si.
Tanto assim é que a mais-velha agora deu para limpar na vez do rapaz. Que só suja. Isso é um pouco revoltante, porque ela está sempre a encobri-lo. Protege-o e defende-o de qualquer coisa. É ele que traz para dentro desta casa pessoas, e pessoas é o que ela mais deseja. Italianas, claro. Porque se fossem de outra nacionalidade decerto acabaria por se focar nos defeitos, tal como acontece quando fala de ex-inquilinos de outras nacionalidades que viveram na casa. Mas se forem italianos, por pior que se comportem, a esses arranja desculpas. A arranjada para a que-não-limpou-nunca era que vinha de uma família posh. Portanto, podia ofender os restantes sujando e não limpando... entendem? Ela quer cá pessoas para não se sentir só e poder exibir-se na cozinha, mostrar os seus dotes com pratos italianos, fazer receitas tradicionais que diz secretas, poder explicar que cada ingrediente é especial porque veio da itália e, claro, conviver.

A pesar de dizer que tem muitos amigos, não me esqueço que passou o fim-de-semana do seu aniversário sozinha na sala. Recebeu postais sim... mas não conviveu com ninguém. Para isso ela precisa do rapaz. Caso contrário ninguém aparece. E se para ter isso ela precisa fechar os olhos ao que quer que seja, defendê-lo ou juntar-se a ele numa qualquer perseguição, é exatamente isso que vai fazer.

Vamos rir?


segunda-feira, 11 de março de 2019

Até onde leva o histerismo


Não sou nada invejosa. Não invejo esta pessoa em nenhum aspecto. Mas se algo me incomoda é a injustiça. A monarquia já acabou mas continuam os males que esta distribuía... porque o povo continua a idolatrar as "rainhas". A diferença salarial entre Cristina Ferreira e um comum dos mortais é... criminosa. 

Esta diferença salarial explica-se pelo HISTERISMO das massas. 
São as próprias pessoas mais miseráveis e o seu deslumbramento pelo banal televisivo que as prejudica. A bajulação cega às figuras que aparecem em suas casas apenas através de um monitor faz com que sejam essas as pessoas mais bem pagas no mundo


E o que é que isso representa? Que muitas outras sejam exploradas. Para a Cristina Ferreira receber o seu ordenado milionário na TV, é preciso demitir uns tantos. Descer o salário a uns outros e, principalmente, introduzir muitos estagiários não remunerados e aproveitar a ambição de cada um para lhes chupar o tutano em troca de... tudo menos dinheiro.

E depois é a senhora da limpeza, os motoristas, a senhora na cantina, etc, etc que tem de contar os tostões a cada semana e perpétuamente adiar qualquer sonho como este:


Segundo o site Dinheiro ao Vivo, o salário de 80.000 euros por mês da referida pessoa dá para fazer muitas coisas: comprar três Lamborghini, a sanita de outro do Donald Trump, uma certa ilha privada no valor de 1 milhão de dólares e esta fantástica oportunidade na gravura acima: dar a volta ao mundo num luxuoso navio cruzeiro escolhendo a suite mais cara. Mas atenção: não apenas UMA volta, mas VINTE E SEIS!


E você, que sonha com apenas uma, vai continuar a ver navios...

Porquê?





sábado, 9 de março de 2019

Está de parabéns...


... a SIC.


Estava a ver o final do telejornal na TVI e ao final de três notícias muito superficiais e de necessidade duvidosa, não aguento mais: Mudo de canal dizendo até em voz alta: "O noticiário da TVI é de vómito!".

Na SIC, onde fui parar, estão a falar da Quinta do Lage, na amadora. Uma reportagem que me mantém colada ao ecran. Tem qualidade e está bem feita. Até o grafismo está excelente. 


Desta realidade salta para uma outra totalmente diferente e igualmente fascinante: passa-se na aldeia da Quintandona, aldeia em xisto, que foi toda recuperada e está a tornar-se um lugar de turismo de luxo. É nesta aldeia que se encontra o melhor Wine Bar de Portugal. Não dizem quando essa categoria foi atribuída - até pode ser que outro estabelecimento já tenha arrecadado essa distinção, mas torna-se irrelevante diante da beleza e das promessas da região.

Seguindo para o Ramén. O tal prato chinês mais conhecido como Japonês, que é uma espécie de sopa, só que com caldo mais aguado e com noodles. 


Senti-me a viajar, preenchida e a receber informação quando comecei a assistir ao noticiário da SIC. Por isso digo que está de parabéns. A reformulação que recebeu - há muito planeada - parece ter sido proveitosa. Os estúdios desapareceram daquele amontoado de tijolo em Carnaxide, e passaram para o sofisticado edifício da empresa em Paço de Arcos, onde já funcionava tudo o resto. 

Munidos de novo ânimo, talvez apresentem coisas novas e melhores.

Quem vê regularmente, o que tem a dizer

Rumos... alguém sabe?

Pergunto aos mais experientes. Mais aos que possam ter vivido algo parecido e menos aos que viveram o oposto. Mas todos os contributos são preciosos. 

Aqui vai: 

Se uma pessoa é da opinião que desperdiçou toda a sua vida (metade dela, não apenas os primeiros anos) e gostava de fazer algo... O que faz?  


Vieram-me lágrimas aos olhos

https://www.facebook.com/delegadobrunolima/videos/2291040671136001/?t=13

quinta-feira, 7 de março de 2019

Um pouco de... ARTE

Sabem aquelas pessoas que estão "por detrás dos "bastidores"?

Hoje vim falar de George Martin.
Nem eu própria sabia a extensão do talento deste senhor mas uma coisa sabia: adoro os arranjos musicais dele. Descobri que as partes que mais gosto nas músicas do famoso grupo Os Beatles, são de sua autoria.

Acho que o que me cativou começou por aqui: 


E este tane -na -na na -ne? 



Para vocês se deliciarem. Afinal, este blogue não é só problemas! ;) 

Falo por mim...



quarta-feira, 6 de março de 2019

Humor e de-humor

O senhorio estava na sala quando desci para apagar o lume. Espantei-me ao vê-lo, porque fazia meses que não aparecia. O rapaz também estava na sala. Excepcionalmente, hoje é o primeiro dia em semanas que a casa não está em pavorosa. Geralmente apanha-se sempre muita fanfarra e muita gente na sala. O senhorio está a perder o sentido de inoportunidade... aparece nos curtos períodos em que nada se passa.


Mas isto tudo para dizer que senti-me feliz por ver alguém que me respondeu como deve de ser e com quem troquei uma curta conversa totalmente natural. Sentia saudades disso. 

Até mudou a minha disposição. Que estava muito em baixo.

Nisto o rapaz sai e eu continuo a lida na cozinha: decidi fazer uma sopa muito rapidamente. Aproveitar a reduzida afluência de pessoal no espaço, para cozinhar algo pela primeira vez em cerca de duas semanas. 

Quando estou a lavar o tacho, oiço a porta da rua abrir e alguém entrar. Por mim até podia ser o rapaz - que saiu se calhar por um curto período de tempo. Não escuto nenhum outro ruído, talvez a pessoa tenha subido. Mas nisto sinto alguém a aproximar-se, a passar atrás das minhas costas e algo é colocado no meu lado esquerdo. É que teve mesmo de "raspar" nas minhas costas. 

É a mais-nova. Entra e não cumprimenta
Estive quase para lhe perguntar:

-"Ouve lá, foi essa a educação que os teus pais te deram? Eu estou aqui, não me vês?? Entras e não cumprimentas quem cá está?" 

Mas não deu tempo, ainda estava com a água a tirar o detergente do tacho e ela pirou-se para o andar de cima. Enquanto estava a pensar nisto e estava de saída, tive um gesto impulsivo e escrevi no quadro "Eu existo". Bem debaixo da frase que ela apropriou de alguém, onde diz que "o dia de amanhã prepara-se hoje".

Pena que não entenda que se não planta cortesia, amanhã não a vai receber. 

Esta juventude que acabou de sair de um curso e começou a trabalhar, já está toda frustrada porque a vida não lhe corre como quer, porque não é rica e porque tem de gastar dinheiro...

Os pais são pastores. Deram liberdade de escolha à filha, mas esperam que ela siga alguns ensinamentos da igreja. Esperam, pelo menos, que ela a frequente aos Domingos. Por isso não quis chamar os pais para a conversa. Decerto que estes valores básicos estes lhe devem ter passado. Ela é que quis rebeliar-se e nisso, a fronteira entre rebelião e falta de educação ou gratidão ficou toda baralhada. 

Os pais nem sonham que a filha é toda de bebedeiras e presentemente anda com três homens ao mesmo tempo. 


Quando ainda estamos por cá mas a vida desistiu de nós


Encontrei este recorte e não podia concordar mais com estas palavras. Mas subitamente reflecti no oposto: O que será de alguém que por cá anda quando a vida já desistiu de si?


"A vaga já não existe"

;(

terça-feira, 5 de março de 2019

E já está!


E pronto: disse.
Confrontei a situação.
Alguém tinha de mostrar a esta gente como se faz, pelos vistos nunca aprenderam regras básicas de etiqueta. (E ainda criticávamos a bobone... aprender etiqueta faz falta).


Estava na cozinha a lavar louça quando a visita entra. Não oiço nenhum cumprimento. Isto azeda-me de imediato o dia. Estava particularmente feliz por ter estado a banhar-me com o sol matinal antes de meter as mãos à loiça. 


Enquanto lavo olho para o lado vejo-a passar da dispensa para a sala. Quando termino com a louça vejo-a sentada na mesa, a ouvir algo no telemóvel e a tomar o pequeno-almoço.

Não aguentei. Era agora ou nunca.

-"Viste-me na cozinha quando entraste?"
-"Sim".
-"Então da próxima vez cumprimenta-me. Não suporto que não digam os bons-dias".
-"Estavas ali assim... por isso é que..." - diz ela pouco afetada com a situação.
-"Estava a lavar a louça."

O que era suposto fazer numa cozinha para merecer um cumprimento? - fiquei a pensar. 
Ficar ali parada, espetada, a olhar quem aparece?

Continuei caminho. Ia para o quarto. Mas a pesar de ter pedido para ser cumprimentada, ainda sentia um amargor na alma. Não quis parecer brusca mas... já me chega algumas pessoas que moram na casa. Têm esse péssimo hábito também. A falta de educação é algo muito contagioso, que se espalha rápido. Ás tantas nem eu estou tão imune de me tornar igual. E se continuar a engolir estes desaforos, provavelmente eles vão alterar-me como pessoa. Tantos já alteraram. (Fiquei idiota).

Depois de recolher a roupa que ia por a lavar, desci, passei pela rapariga, coloquei a roupa na máquina e voltei a dirigir-me a ela:

-"Outra coisa que devia ter sido feita: (e estendo-lhe o braço num cumprimento). 
-"O meu nome é Portuguesinha, e o teu?"
-"Chamo-me Emma".

Perguntei se estava tudo bem, disse-lhe que era bem vinda e desejei-lhe sorte. 

CUSTAVA muito terem feito isto no início?


PS: surprise, surprise: a miúda vai ficar a morar aqui muito mais que os sete dias que me foram ditos (!!) e ia ser sempre assim. Sem cumprimentar, mas a usufruir de tudo na maior. Conseguem imaginar ao que me estão a sujeitar? Tenho tantos problemas importantes para resolver - a falta de emprego, a busca por um melhor, a minha saúde... e estou a desgastar-me com isto.

Não dá. Decidi ser mais verbal. 

Ao escutar as nossas vozes o rapaz apressou-se a aparecer, com aquele olhar persecutor. Também entrou sem cumprimentar. (argh, nada muda). 

A parte da hóspede ficar cá sem a amiga e durante mais que sete dias foi CONVENIENTEMENTE excluída da conversa que a P teve comigo para me alertar para a chegada da estranha. Ela disse-me que ia receber uma amiga (mas para tal tinha de estar presente, caso contrário não está a receber ninguém) e esta ia cá ficar sete dias. Mencionou que a amiga já tinha encontrado uma casa para morar, só ela e uma outra. (deve ser a tal que daqui a uma hora já cá deve estar para almoçar). A P. não mencionou que ia estar fora, nas ilhas canárias... enquanto a estranha passeia-se pela casa, com uma amiga, sem dar cavaco aos que cá moram. 

Isto é com cada situação...
Interrogo-me se a juventude na casa dos 20 é toda assim. Será?

Não imagino a minha enteada a ficar na casa de uma amiga e não cumprimentar os seus familiares e amigos que lá estejam. Nem me passa pela cabeça. É totalmente inconcebível. 

Mas aqui acontece. Sempre.
Espero que este seja um gene defeituoso exclusivo de italianos!


ADENDA:
Hora do almoço: tal como previsto, as italianas duplicaram-se. Em vez de uma encontro duas na cozinha, em volta do forno e dos bicos do fogão. A minha conversa matinal surtiu efeito. Ao passar, escuto um ténue e tímido "Hei" da parte da convidada-da-convidada. Ao qual dou retorno.

De seguida lavo a caneca que me levou até ali e pergunto:
- "Ès tu a amiga que vai dividir casa com ela?"
- "Sim".

O rapaz, que está presente, subitamente diz-me que ele e a P vão de férias daqui a 10 dias.

Quando eles dizem-me algo voluntariamente, para quem lê o que aqui escrevo, sabe que é porque querem alguma coisa. O que é que ele queria?

Dizer-me que a convidada-da-convidada ia ficar a dormir no quarto dele nesses dias.

Lol!





segunda-feira, 4 de março de 2019

Aprender a ser MALEVOLA Ahahahah!


Há uma coisa que nunca aprendi: ser malévola.
Saber manipular as situações e ser oportunista.
Mas gostava de aprender.

Acho que um pouco de know how nestas artes ia trazer algo de bom.
É que por vezes, a minha ingenuidade espanta-me.
Já não tenho idade para ser tão idiota.
E dou por mim a ser.



Dito isto, hoje vejo a rapariga-amiga a passar pela sala, banho tomado, toalha na cabeça, enquanto eu estou a comer uma sopa que aqueci no microondas. Passadas umas horas, a casa está toda pestilenta com o cheiro forte de cozinhados. É quando volto à cozinha. Quero preparar algo para comer enquanto todos já a usaram e a tenho disponível, não ando a alimentar-me bem. Sei que todos saíram, porque só cá estava a rapariga "emprestada" e o rapaz. Que foi trabalhar. Desci e deparei-me com duas italianas na cozinha. Duplicam-se. Estavam a lavar a louça que usaram para comer. DUAS. Não uma... duas. A mesma que cá esteve ontem. 

Mas será que dormiu cá?

Não pude mais avançar com os meus planos, pois precisava de usar a torneira e tive de esperar que elas terminassem. Isto tudo sempre com elas a falar entre si, em italiano e eu ali, a remexer na minha gaveta de congelados, à procura de algo nutritivo que fosse rápido de fazer. Eu é que parecia ser a sobresselente. Está SOL na cozinha. O tempo está horrível e o sol aparece pouco. Apeteceu-me ficar por ali. Olhei para a sala, espreitei a televisão. Continuava acesa com a imagem pausada no menu com os picks de vários episódios de uma série. Ponderei se podia usar a TV. E depois percebi...  para todos os efeitos... esta é a casa onde moro. Supostamente TODOS os meus colegas estão ausentes. E nem assim tenho a TV disponível? 

Foi quando reparei que uma estava com o comando na mão, bem sentada no sofá em frente ao televisor. Ficou claro que iam ficar ali a ver episódios da tal série. 

Sem ser pelo sol, nem me apetecia muito ficar. Mas aquela «apropriação» do espaço, o não poder estar sozinha em casa quando todos estão fora, esta hóspede que traz outra para se entreter, que encontro pela casa sempre a comer, em horários em que tantos estão nos seus empregos... subitamente tudo isto pareceu-me de mau tom. 

Fazem-me sentir má pessoa. E eu sei que não sou. Gosto de ajudar o próximo. Teria gosto em as integrar. Mas não consigo digerir estas novas formas de sociabilizar. Chegam e não são sequer apresentadas, não se apresentam, não puxam conversa com quem cá mora e não conhecem, nem sequer perguntam onde meter um prato, um copo... enquanto usam os utensílios da casa. Usufruem do espaço na boa, batem com as portas ao ponto de ser irritante, dão gargalhadas atrás de gargalhadas. Nada de cerimónias. 

Bem sei que a casa é toda italiana e que as duas, sendo italianas, devem ter deduzido que iam ficar na casa de italianos. Como eles mesmos tanta vez o disseram: "Esta é uma casa de italianos". Mas eu existo... também estou aqui. Caramba!  

O que fiz de seguida não devia ter feito. Digo que não devia, porque acho que foi um indicativo. De telemóvel em riste, fui aos interruptores verificar se as lâmpadas da sala se mantinham avariadas. É que, tirando as do teto, as das paredes subitamente deixaram de ligar. Isto já faz algum tempo. 

Nós temos um senhorio que, felizmente, gosta de ser avisado quando algo nao está bem. Mas ninguém lhe disse nada. Talvez para não o ter por perto. Agora que a vida dele ficou mais ocupada, a verdade é que deixou de aparecer quase diariamente, como fazia.

E com isso, notou-se que certos hábitos que mantínhamos por causa da sua vigilância, decaíram. Como por exemplo, o de desligar a tomada do televisor. É um requisito dele: ele não quer o aparelho em stand-by. Quê-lo sempre desligado. A porta do chuveiro também se soltou e está mal encaixada. Aos poucos, a casa começa a acumular avarias e isso nunca é bom.

Depois fiz aquilo que queria fazer desde que notei o problema na electricidade: avisei o senhorio da avaria, para que ele pudesse verificar o que se passa. Não sabendo quando ia aparecer. Ele tem os seus compromissos e já não está a morar perto. Só o alertei.

Como eu gostaria que ele apanhasse estas situações em flagrante! Como é que ele ia agir, caso visse duas estranhas dentro da sua casa, a lavar a louça, à vontade e de pantufas?? COMO é que ele ia agir se as visse sentadinhas no sofá a ver televisão? Sozinhas, desacompanhadas de quem cá mora?

E é por isto que eu digo que devia aprender a ser MALÉVOLA.
Um pouco de tudo na dose certa não faz mal a ninguém...

Podia ter planeado isto. Tentado atrair o senhorio para o flagrante. Duvido muito que ele esteja a par da situação da "hóspede". 

Ele acabou por aparecer dali a minutos. Mas nessa altura, as duas até parece que foram alertadas. Subitamente enfiaram-se no quarto e, ao contrário do comportamento dos outros dias, ficaram em silêncio. Nada de horas de risadas e portas a abrir e fechar. Que aliás, é o som que escuto delas agora. Depois de sossegadas lá devem ter percebido que já podem estar à vontade.

Sou uma idiota.
A frase acima de facto confirmou-me isso.

Mas nunca se sabe se um dia conseguirei ser malévola.
É preciso ser-se idiota para se entender os benefícios na dose certa de certas atitudes tidas como menos adequadas. É que de atitudes e comportamentos bons entendo eu. E a frase acima está correta. Pessoas muito boazinhas são idiotas. 

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Actualização:
De noite uma colega deixou uma mensagem no chat a dizer que alguém estava a usar a sua gaveta de congelados e ela precisava do espaço. Por isso ia deixar embalagens de carnes, feijão verde, batatas para fritar e batatas para assar na bancada. Não sabia de quem eram. Como nas primeiras semanas ela não usou a sua gaveta e eu precisava de espaço, pedi-lhe se uma comida que tinha podia permanecer ali e ela consentiu. Não quis que pensasse que desde então não as tirei como prometido e continuei a colocar lá mantimentos. Pelo que respondi-lhe que não tinha lá mais nada.

Só tive tempo de escrever isso e logo escutei vozes femininas jovens a dialogar com a dela. Só então ocorreu-me que pode ter sido a "hóspede" a meter as coisas lá. Ao ouvir a comoção, lembrei-me de colocar a possibilidade no chat. E escrevi: Pode ter sido a nova rapariga. Talvez o rapaz tenha espaço livre na sua gaveta. (para as coisas não ficarem na bancada a estragar). Espaço de congelador é o que menos há na casa. Sempre foi do que me queixei. É pouco para os que cá estão, está tudo cheio. E vem para cá viver de favor uma miúda (ou duas, já nem sei) e... compra congelados para os ir consumindo quando lhe apetecer? Mas quanto tempo pretende cá ficar? Um mês??

Lembro-me que fiquei cinco dias a viver na primeira casa a "favor", embora a contribuir para as despesas. Mas fiz questão de dizer que só ia puxar o autoclismo, de resto não ia cozinhar nem lavar roupa. Só precisava de internet e do sofá, onde dormi até o meu quarto ficar vazio.

Enquanto não ocupei o quarto não usufrui do espaço como normalmente. Na hora do almoço, saía de casa para deixar os restantes à vontade. Comi sempre saladas do supermercado, na rua. Não cozinhei, só tomei dois duches... pedindo permissão e dizendo que ia ser rápida.

Sou tão diferente que não sei... Muita vez duvido de mim mesma - outra coisa que tenho de aprender a equilibrar. Uma pessoa põe em dúvida os valores que lhe foram transmitidos como corretos para aquela circunstância.

Mas quando coisas destas acontecem é que percebo que não estou errada nas minhas presunções.

Cá está o que disse acima... se as raparigas tivessem dialogado, se comportado normalmente numa casa onde estão de favor, não dava em merda. Estão a usar o espaço como se fosse delas, sem cerimónias, sem perguntar onde colocar um prato... fica mal. Dá problema.


Mas a "malévola" não soube entrar em acção. Ia para deixar escrito "talvez tenham sido as miúdas que estão no quarto da P" - o que deixaria explícito a presença de hóspedes.

Não escrevi assim. Não especifiquei.
Ainda tenho muito a aprender ahah.




domingo, 3 de março de 2019

Não cumprimentou


Mais uma vez, não cumprimentou.


Posso ter muitos defeitos mas, quando entro numa sala e vejo pessoas, dou os cumprimentos. 
Foi o que fiz, quando desci agora à cozinha e apanhei a mais-velha. Disse "Olá", até de uma forma entusiasta. Ela respondeu "oi", de forma apagada. 

Mas os cumprimentos foram dados.

Enquanto estou na cozinha, oiço os passos do rapaz a aproximarem-se. Estou de costas, pelo que não me vou virar para o confirmar. Oiço-o, escuto-o, fica-se por ali e vai embora. Sem dar o cumprimento de quem entra numa divisão e encontra outra pessoa lá.



Assim, mas assim que ele fecha a porta da rua, começo a escutar mais ruidos no piso de cima. Afinal não fiquei sozinha em casa. A mais-nova estava fechada no quarto e, ouvindo o outro sair, decidiu sair da toca. Mais uma vez, por estar na cozinha ao pé da bancada, estou de costas para quem quer que seja que se aproxime. Ela entra na sala, pousa coisas na ilha da cozinha, passa pela cozinha, entra dentro da salinha onde estão as máquinas, mexe em alguma roupa talvez... enquanto eu estou a fechar o tampo de uma caixa. E nada diz. Nem um único cumprimento. Ontem fez exatamente a mesma coisa.



Acho que é má educação.
Mas já cansei. Cansei de querer ver um comportamento normal nestas pessoas. Elas que façam o que bem entenderem. Eu fico na minha. Continuo a limpar a casa na minha vez, não atrapalho ninguém... Espero que não me chateiem, é só o que peço.

Não querem falar, não querem trocar umas palavras? Tudo bem. Cada qual tem os seus problemas, não é mesmo? Eu estou cheia deles. Mas não é por isso que perco a mania de dizer "Olá" ou "Bom dia" quando entro numa sala. 



Sinceramente, já não quero mesmo saber. 
Até acho que cheguei a este ponto tarde demais. 


Só lamento que esta miúda tenha ido trabalhar cinco dias na semana passada e na sexta-feira escutei-a dizer que pediu a semana seguinte para ficar em casa. Que foi exatamente o que andou a fazer nos 20 dias que antecederam a semana em que trabalhou.

Ou seja: descansa duas semanas, vai trabalhar um dia, cansa-se, com esforço trabalha até sexta e depois tem o fim-de-semana livre e ainda pede a semana inteira. 

Isso significa que o que aconteceu hoje e ontem provavelmente vai repetir-se os restantes dias

Escutei-a dizer que talvez vá embora - caso obtenha emprego noutro lugar. Quer ter muito dinheiro sem trabalhar. É um defeito que vejo por toda a parte e não entendo. Não é só nas gerações mais novas. A mais-velha também conta histórias e revela até invejar aqueles que estão melhor na vida, ganham mais dinheiro e parecem fazer menos que ela. Mas ao menos a mais-velha cumpre a sua rotina de trabalho. Muito raramente procura ficar em casa sob um falso pretexto qualquer. 


Estes mais "jovens"... é espantoso. Como conseguem? Não sei. Como não são demitidos? 
É o que dá ter um contrato fixo, cheio de regalias... depois esquecem-se que as obrigações são de ambos os lados. Foi gente desta que ajudou a destruir o mercado de trabalho, pois os empregadores não estão para fazer contratos e deixar os empregados afectivos se estes depois ao invés de darem ao litro, perdem a produtividade e começam a preguiçar. 

Mas também já percebi que o trabalho não enriquece ninguém. Trabalho é bom para se morrer a fazê-lo. Para viver a vida em mordomia, raramente apenas "trabalho" te leva lá. Há sempre mais coisas que se comprometem pelo caminho, até mesmo no caminho daqueles que começaram a subir de forma esforçada e honesta. Não dá para permanecer assim no mundo da riqueza.

Pensava que estavam a brincar, a sonhar a história da cinderela, quando se punham a suspirar por um homem rico e bonito que se interessassem por elas. Sempre penso que é a fantasia, a brincadeira a falar. Mas agora percebo que não. A ideia de sair à noite, em busca de uma carteira recheada, está viva e de saúde. E eles, também pensam que é assim que obtém qualquer coisa. Então trata de, se não for, ao menos parecer ser rico. Os ricos também não se vão contentar com qualquer uma. Já que são ricos, elevam o patamar daquilo que procuram numa mulher: uma gaja toda boa dos pés à cabeça, que seja uma grande p... na cama. E talvez depois, até gostassem que fosse divertida e inteligente. E é assim, minha gente, que anda a "corte" nos dias de hoje. Tudo à procura do superficial. 

sábado, 2 de março de 2019

Até quando vou viver num hostel?


Estou aqui incomodada de tanto ouvir risadas. A italiana-que-não-conheço convidada pela outra italiana a cá ficar sete dias, está a entreter uma amiga que não-conheço e as duas não param de gargalhar e de bater portas faz mais de uma hora.

Incomoda quando é barulhento. Terei também sido assim nos meus vinte e tantos anos?
Irritante?

Não me incomoda a felicidade. Mas esta pessoa está a viver dentro da mesma casa que eu e não me foi apresentada. Lavou roupa, cozinhou, usou o forno, trás amigas para cá, agora passeia pela casa e está tão há vontade a viver de "empréstimo" num quarto que não é dela, fazendo até convívios.

A amiga, que paga para cá morar, mais uma vez não cá está.

Cá para mim sub-alugou o quarto. Por isso enquanto a outra cá está, ela não aparece.
É muito descaramento.

Sinto-me num hostel.



Uma história real de sábado de manhã


Não preciso de sair de casa para procurar entretenimento. Da janela do meu quarto vejo filmes. O de hoje, foi uma história sobre a custódia de um filho e os dias de visita.

Já se tinham passado mais de 10 minutos e o motor de um veículo ainda roncava à porta. O som a entrar pelo quarto, incomodando a leitura do livro que me estava a proporcionar tanto gosto. Os automóveis não têm razões para pararem aqui. Ou estacionam ou vão embora. A curiosidade e o incómodo fez-me levantar o rosto do livro e espreitar na janela. Uma camioneta de caixa aberta estava parada à frente da porta da casa, com o motor a roncar ruidosamente.


Não menos de três segundos, surge um automóvel renault, que abruptamente estaciona à frente. 

Mas que é isto? Pensei. Nem se pode estacionar ali. 

Tão depressa como o veículo estacionou e travou, a porta do condutor entre-abriu-se e a voz de uma mulher gritou do interior. A voz de um homem respondeu. E nesse mesmo segundo "materializou-se" o indivíduo, caminhando até a frente do seu veículo, respondendo algo à mulher que permaneceu no interior do carro.

Trocam poucas e cautelosas palavras que sinto que é ela a querer saber algo em tom algo repreensivo e ele a responder. Ele atravessa a frente do seu veículo e abre a porta do lado do passageiro. Que aqui em inglaterra, como se sabe, é a do lado esquerdo. Depois de uns segundos, caminha até a porta do passageiro do automóvel onde está a mulher. Retira um saco, outro saco, puxa o assento da frente para a dianteira e enfia metade do seu corpo na traseira do automóvel. Segundos depois sai de lá a segurar uma criança.

Transporta-a para a carrinha e coloca-a na cadeirinha colocada no assento de passageiro.

A mulher então sai do carro. É loura, cabelos esticados, longos. Bem cuidada, boa aparência, jovem. Mas tem na atitude algo de insatisfação. O homem veste um blazer azul claro, com barrete, tem o cabelo louro e curto e um rosto cheio de sulcos, que o faz parecer bem mais velho que a mulher.

Ela, num carrinho novo e brilhante, ele, numa camioneta de serviço, de caixa aberta e com pedaços de troncos de árvore como carga.

Entre os dois sente-se algum incómodo. Mal se aproximam um do outro. Ela aguardou que ele se dirigisse ao automóvel e fosse buscar a criança. Não lha entregou. Ele foi buscá-la e só depois é que a mulher, perguntando se ele tem fraldas e remexendo numa malinha vermelha e branca, consegue atrair as atenções do homem. Que caminha até ela. com as mãos nos bolsos. Mas logo regressa à carrinha. É a vez de ser ela a ir ter com ele. Talvez para verificar a criança ou despedir-se? Não dá para ver, o arbusto tapa a percepção. Ela regressa ao carro dela, tira o que parece ser uns doces, e volta para os entregar na carrinha. A coisa é rápida. Se algum deles gostava de ter uma reaproximação, nota-se que muita coisa má já rolou entre eles. É paupável um mau estar, uma cordialidade forçada e desejada curta para não azedar. Tensão, um olhar na mulher, um gesto a criticar, a postura do homem. De outro modo... como explicar a entrega de uma criança ao pai, num sábado de manhã, em plena estrada?

E é assim que "vejo filmes" da vida real, ehehe.
Os seus sons estão sempre a "tocar" à janela.
Tudo se desenrola à entrada da porta de casa. 

Isto não é surreal?


A importância de um MENTOR


Durante a minha vida senti falta de quem me orientasse. Nas decisões importantes, que pareciam difíceis e geravam angústia. No rumo a seguir, na forma como seguir... Precisei muito de um mentor.


Para alguns, os pais exercem esse papel. Um tio, um irmão ou mesmo um professor.



Cresci a senti-me desamparada. O rumo que seguia foi mal traçado. Faltou-me perspectiva. Caminhei sozinha, sentindo incerteza e desamparo. Faltou-me a "sabedoria da experiência" e o bem-querer. 



Se hoje sou e estou onde estou devo-o a essa falta de orientação. E ao que a substituiu.


Quando penso em órfãos, filhos adoptivos ou qualquer pessoa cuja sociedade estipula que se encontra numa situação desvantajosa, não sou rápida a concordar. Não acho que filhos adoptivos, ou órfãos de pais sejam necessariamente menos afortunados. Afortunado é aquele que consegue ter na sua vida as pessoas certas. Se alguém se preocupa contigo e está ali para te orientar, já tens muito.


sexta-feira, 1 de março de 2019

Devo ser a única que não tem interesse no filme do Bradley Cooper com a Lady Gaga.

Lições da vida aprendem-se tarde


Durante grande parte do início da minha atividade profissional, era a que tinha o CV mais completo e diversificado, cheio de qualificações e experiências que iam muito além do que quer que fosse a que me candidatasse. 

E isso por vezes, era o que me excluía de uma candidatura: "tem qualificações a mais, com isto você pode arranjar melhor".

Agora dou por mim a querer um emprego num escritório - algo simples, como introduzir dados num sistema operativo, talvez atender umas chamadas... e, nada.

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Durante o início da minha atividade profissional, na maioria das oportunidade que tive (estágios), fui encontrar pessoas que não tinham estudado ou adquirido especiais qualificações para exercerem a actividade onde se encontravam. Estavam, claramente, a trabalhar em algo muito acima dos seus estudos. Faltava-lhes a base, aquele conhecimento e entendimento do todo. Sabiam fazer aquilo que era preciso fazer, e pronto. 

Sem perceber, para essas pessoas fui, muitas vezes, considerada uma ameaça.

Nesse tempo - no meu caso, o conhecimento era visto como uma ameaça. Não para todos, mas grande parte dos colegas, que se sentiam ameaçados pela "vaga" de estudantes universitários qualificados que iam ali bater à porta à procura de emprego, podendo ameaçar a posição deles, que estavam ali há uns anos mas sem qualificações. Aquele que aparecesse com capacidade virava um alvo. Como se ameaçasse os que já lá estavam. E assim existia um lobby

Se uns achavam positivo incluir na equipa alguém com mais qualificações - outros detestavam a perspectiva. Então testavam a jovem, a ver se, pelo menos, era uma "delas". Se falar mal da vida alheia fosse algo que demonstrasse fazer com naturalidade, ficava bem vista. Se me queixasse do trabalho ininterruptamente e do mau salário, ao menos era uma "boa" colega. Só que, como estagiária, nem salário recebia, pelo que fazia o que fazia com imenso gosto. O que também não lhes agradava. Numa ocasião em particular da minha vida, cansei de ouvir tanto mal dizer. E quando me pediam para participar, respondia que não sabia - porque realmente não sabia NADA da vida alheia. E opinar sobre a mesma era algo que não ia mais além do: "Ah, não sabia." ou "isso é boato". - o que deixava uma das colegas em particular furiosa. Uma que foi ali parar por cunhas, cuja formação nada mas nada tinha a ver com a profissão.


Porém ela exercia com uma certa falta de mestria uma prática que costuma ser infalível: lançava charme a tudo o que era homem (ou mulher) numa posição acima da sua. 


Um belo dia no refeitório, um desses homens dirige-se à nossa mesa e põe-se a falar com ela. Mais uma vez estranho... a falha dela em ter aquela cortesia de fazer as apresentações. Se bem que eu estava a comer. E como não era nada comigo, continuei, deixando o casal a conversar. Mas o homem olhava-me e ele mesmo apresentou-se. Cumprimentei-o, respondi a uma pergunta que me fez com a simpatia que a situação demandava e não fui mais além. 


No momento seguinte a ele se afastar, ela disse-me que eu tinha sido muito rude com o "fulano" x, que era uma pessoa "importante" porque mal lhe falei. E que ela sentiu-se mal e eu tinha-a super-envergonhado. Dali a dias, a versão já estava no "eu ter-me atirado a ele".


Não fiquei até ao fim deste estágio. Por causa das maledicência dela, que já tinha recrutado seguidores.

FIZ MAL.

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Mas o que vim aqui escrever é que a vida está cheia de ironias. Se no início da minha vida profissional percebi que aquele era um meio onde quase todos tinham ido parar por acaso e sem qualificações - sendo eu das poucas da primeira ou segunda geração saída da universidade com ampla formação e estudo, agora dou por mim a tentar executar uma função que não exerci nestes anos e não me abrem as portas. Preferem os currículos com experiência recente. 

Oh, ironia!