terça-feira, 30 de setembro de 2014

Regresso ao banco da escola


Voltei a ser aluna na escola.

A primeira sensação ao pisar novamente o interior de uma Universidade foi normalíssima. Até me movimentar dentro de todos aqueles pisos e salas pela primeira vez foi feito sem erro e com naturalidade, como se já conhecesse todo o espaço. Integrei-me e mesclei-me com os outros, como se ali andasse sempre e tudo me fosse familiar. 

Ocorreu-me que a diferença de idade entre mim e a grande maioria dos outros estudantes pudesse ser incomodamente notória. Afinal, faz 15 anos que me licenciei. No entanto depois de lá entrar depressa isso não se tornou uma questão. Tirando uns poucos moiços e moiçolas com ar imberbe e com jeito assustado, os restantes pareciam tão comuns e ninguém se pôs a olhar fixamente para mim. Também não esperava tal exagero, claro! Mas a verdade é que não existiram nem dedos a apontar nem olhares fixados ou alguém adotou aquele ar: «o que é que esta cota está a fazer aqui?»  LOL ;)

Quais são as diferenças que senti, perguntam vocês, desta segunda vez?

Bom, para começar e com um sentimento de lástima e desistência de minha parte, quando me solicitaram o número de ALUNA e fui consultar o papel que acabara de receber, constato que também aqui sou referida com a designação CLIENTE. Isso meio que esmaga a «ilusão», a ideia de que estou num antro de aprendizagem e é ela o propósito tanto do estudante quanto da entidade formadora.

Relembrei o quanto temos de saltar de fila em fila, aguardar longos minutos, só para tratar de coisas burocráticas. Fiquei horas por lá. A principal diferença contudo está no recurso das novas tecnologias. Já não é preciso transportar fotocópias ou fotografias tipo-passe, tudo está digitalizado e informatizado. Os processos são imediatos. A propina foi imediatamente paga por multibanco. Uma quantia considerável, que julguei ser impossível realizar de uma vez só, mas equivoquei-me. A fotografia é tirada no momento, no local, através de uma webcam. A minha saiu um tanto feia e com péssima qualidade mas quero me convencer de que isso que nunca teve importância antes não terá agora que estou muito mais velha (agora é que começa a ter, claro!). Todo este processo culmina com a abertura de uma conta no banco. Já me havia esquecido que as Universidades são uma fonte, um elixir irresistível para umas tantas empresas e negociantes, que querem aliciar os jovens adultos a se vincularem aos seus produtos. Foi-me oferecido um cartão de telemóvel com não-sei-o-quê de promoção, fui informada de que teria desconto numa escola de condução quando fosse tirar a carta, etc, etc, etc. Nada me aliciou na realidade. Mas agradeci e abri conta, deixando um não-tão-simbólico depósito, porque alternativa não existia, pelo que pude perceber. Se 100.000 alunos ingressaram naquela faculdade este ano, 100.000 novas contas (ou quase) foi o que aquele banco conseguiu «agarrar». Agora multipliquem isto por todas as universidades deste país e imaginem, imaginem só o que um aluno representa para um Banco. Aqui a designação CLIENTE realmente aplica-se. 

Mas sabem o que realmente se diferenciou aos meus olhos? A quantidade de jovens (e menos jovens) a se inscreverem num MESTRADO. Fico a pensar para quê todo aquele conhecimento, será que será um investimento com retorno? Vão alongar os anos de estudo e valerá a pena? Irão as portas se abrir para todos estes «mestres» ou poderá acontecer, após tantos anos de esforço e dedicação, irem parar a um trabalho básico qualquer, como um call center, a receber uma miséria que dispensava todo aquele investimento? 

Enquanto aguardava vez numa das muitas filas para burocracias (apresentadas com simpatia e sorrisos) olhava para fora, para a multidão de alunos espalhados pelo pátio. Olhando para a diversidade me interroguei qual deles teria sido eu, há uns anos atrás. Certamente não era a rapariga muito jovem, sentada num grupo, com ar tímido de quem não abria a boca para dizer nada e nem  está confortável ou integrada. É próximo do que posso ter sido, mas não tanto. O olhar depois saltou para o casal à minha frente. Não, seguramente não seria eu nenhum daqueles ali. Dois indivíduos com ar desajeitado e pouco desejado, ele semi-careca, ela baixa e nada atraente, mal vestidos, que se beijavam de forma desajeitada e abusada, como se andassem às «experiências», nas «curtes». Às tantas a falta de jeito dá lugar a um outro beijo mais longo e intensificado e desvio o olhar porque a coisa está a ficar repelente. Ainda vejo a rapariga se levantar e sentar no colo do rapaz que momentos antes parecia querer devora-la tão somente por esta permitir um avanço. O "casal" de pombinhos com ar pouco romântico depressa se separa sem parecer existir sequer trocas de olhares afectuosos. 

Também não seria eu uma daquele grupo de raparigas trajadas. Não, jamais. Jamais ia gastar uma fortuna, ainda por cima dinheiro de meus pais, para ter uma roupa absurdamente cara que não é realmente necessária ou pode ser usada noutras ocasiões, somente para me sentir melhor ou dentro de uma «classe» diferenciada. E entre todos estes observados reparei ainda nos "loners", rapazes que estavam sozinhos e eram aparentemente mais velhos. Coincidência? 


Creio que vai ser óptimo para mim voltar a integrar os bancos da escola. Queira-se ou não, é uma atmosfera diferente. Ali estão pessoas empenhadas, decididas a seguir um percurso, a lutar por boas notas e bons conhecimentos. Pessoas que sabem falar e desenvolver opiniões sobre vários temas, em princípio pessoas educadas e respeitadoras, que sabem se expressar usando uma linguagem mais erudita. Estou a precisar disto. De estar rodeada de outras perspectivas e de gente bem formada.  É muito diferente daquela que tem sido a realidade dos últimos anos.

Vou empenhar-me muito neste regresso aos bancos da escola. Vou estudar bastante, frequentar a biblioteca, usar os recursos que tiver ao meus dispor e acreditar em mim. É com outra segurança e outra perspectiva em mente que volto a ser uma ALUNA UNIVERSITÁRIA.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Pérolas de Sabedoria - tweet02

«Hoje em dia nas empresas os que ocupam posições hierárquicas superiores e a seu cargo têm subalternos tomam as  Boas Maneiras por Incapacidade e a Humildade e Vontade de Aprender por Inaptidão» - euzinha, agora


Ah, e são cegos para a eficiência e produtividade. Vêm e tomam decisões tendo por base o gosto pessoal e não o profissional. São facilmente comprados e manipulados com beijinhos na cara seguidos da palavra «amor», «amorzinho», «querida», «chefinho».

Pérolas de sabedoria - tweet01

«As pessoas bem educadas são tratadas com desrespeito. As pessoas sem educação são tratadas com veneração» - eu, agora.

Pérolas a Porcos


Se há uma coisa que de certo modo pode definir a minha vida é que sempre estive anos à frente do meu tempo. E percebendo isso interrogo-me, hoje, como será daqui a várias décadas (infelizmente pressinto que vai levar todo este tempo) quando finalmente este povo perceber que no ambiente de trabalho tem de reinar a educação, comunicação eficiente e cortesia.

Imagino que daqui a muuuuuuuito tempo finalmente se vai constatar e implantar nesta sociedade "evoluída" e comospolita, este princípio de cordialidade, foco e eficiência que, de resto, imagino já existir noutras partes do mundo. E penso também nos meus antepassados, nos que vieram antes. Em todos aqueles que nasceram e viveram "noutros tempos" e que tanta vez escutei dizer: «já não existe respeito» ou «no meu tempo tinha-se respeito» ou «no meu tempo não era como é hoje. Hoje as pessoas não têm educação, não sabem trabalhar e não respeitam os outros».

E estavam certos. Oh, como estavam. Gostaria de ter nascido e vivido, num sentido, no passado. Nesse tempo em que o respeito ainda proliferava nas interacções humanas. E gostava, noutro sentido, de viver no futuro, onde de certa forma sempre pertenci. O mundo evoluí muito lentamente como o ranho de um caracol e eu envelheço nele muito depressa.


sábado, 27 de setembro de 2014

Facebook fashion waves - p1

O que é que se passa com as fotografias de quando se era criança publicadas por toda a gente no facebook?

É a nova moda depois dos baldes de água fria?

É que não consigo entender, por mais que me esforce, esta necessidade de exibicionismo, este desinibido exibicionismo facebookiano.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Los Castratti - parte1 (de muitas)


Tinha uns 13 anos de idade quando fui naquela que seria a última vez, fazer uma visitar à minha professora primária na sua sala de aula. Uma menina sentada nos bancos da frente mexeu-se e foi quando a minha ex-professora virou-se e a berrar num tom que conhecia tão bem e mandou-a ficar quieta no seu lugar, sem se mexer, durante uma hora, ameaçando-a também com algo. 

Percebi logo ali que aquela seria a última vez que iria visitá-la. A minha vontade era baixar-me junto da menina e falar-lhe com bons modos. E censurar a minha ex professora.

Imagem retirada da net

Hoje recordo este episódio porque evoca muitas implicações. Até hoje «sofro» as consequências da educação rígida e disciplinaria que recebi. Tanto na escola, como em casa. Ensinou-me, basicamente, a baixar as orelhas. A ser submissa e a permitir receber maus tratos. Eu aguento tudo. Sou muito forte. Nem se imagina a quantidade de pressão que suporto sem ceder. Aguento por décadas. E por isso mesmo, na prática tornei-me fraca. Acho que a disciplina "rígida" que «mais tarde quando cresceres vais agradecer-nos» não me ensinou efectivamente mais nada. 



sábado, 20 de setembro de 2014

As NOVAS TECNOLOGIAS e os comportamentos sociais mais insólitos


Existe um novo comportamento aquando uma emergência num avião...
Consiste em tirar selfies, fazer filmes e sorrir para a câmera com uma máscara de oxigénio enquanto não se sabe se vai ser possível aterrar em condições ou despenhar-se num acidente...




Não querer ter filhos - quando perceber que a pessoa se desconhece

Durante anos uma amiga repetiu de forma muito convicta que não tinha desejo de ser mãe. Nunca lhe apeteceu, a ideia não lhe dizia nada, não sentia o apelo da maternidade nem fascínio, gostava de criancinhas... dos outros. E dizia peremptoriamente:
-"Eu não quero ter filhos".

Eu escutava e dizia-lhe que acreditava que ela acreditava nisso, por um tempo, mas que um dia ia mudar de ideias.
-"Não vou não. Eu não quero ter filhos e sei que nunca vou mudar de ideias" - respondia-me.


Há muitos anos abri uma revista e uma atriz/apresentadora em início de carreira repetia estas mesmas palavras, com o que imaginei ser a mesma convicção. O seu nome, Adelaide de Sousa. Imediatamente soltei um som, aquele som que produzimos quando não se acredita no que a pessoa diz, um som nasal, que expele ar ruidosamente, semelhante ao que atribuímos a algumas ideias rocambolescas dos pré-adolescentes.


Hoje abri outra revista. Vinha noticiado a presença de António Fagundes em Portugal, para apresentar uma peça de teatro. No entanto, a notícia foi mais um pretexto para dizer que o ator de 65 anos trouxe a namorada de 36 (frisando que tem menos idade que os anos de carreira do ator), e esta presta a seguinte declaração: "não quero ter filhos". Outro som nasal se desprendeu de mim e imediatamente consegui visualizá-la se calhar até daqui a poucos meses, noutra relação e já como mãe. 

Não me interpretem mal, existe tudo no mundo e por isso acredito que também existem mulheres que não querem ter filhos e levam essa ideia até ao fim. Eu só não conheci uma ou acreditei das vezes que ouvi/li essa afirmação. E se no caso da minha amiga e no caso da Adelaide de Sousa não só o facto se veio a verificar como estas mulheres viraram mães com maiúsculas, tornando o filho o centro do seu universo. 
A minha amiga mudou de ideias a meio dos 30 anos, após várias relações e aprendizagens. Mudou de ideias e passou a desejar mais do que nunca aquilo que sempre jurou nunca querer ter. Quis o Karma que a primeira tentativa falhasse e resultasse num aborto mas agora ela é mãe, de um rapaz, que é o centro do seu universo, o motivo de todas as publicações no facebook e mais uma razão que encontrou para tatuar o seu corpo. Já Adelaide de Sousa só posso adivinhar por aquilo que diz nas revistas, entre o quê, disse que se soubesse o quanto era bom desejaria ter sido mãe antes. Não sei se custou a engravidar, vou supor que sim (é uma espécie de intuição) contudo soube que quase faleceu e a vida do filho correu risco devido a ter optado por um parto em casa, que durou acho que dias! Lá que padeceu para o ter, parece ter padecido. Mas agora também ele, a criança outrora "relegada" em pensamento, em conceito, é o centro do seu universo.

Por tudo isto vou pressupor que a atual namorada do ator brasileiro António Fagundes vai pelo mesmo caminho. O que me faz pedir que me dêm exemplos de mulheres férteis e em relações estáveis que passaram a vida toda sem desejar ter filhos e de facto nunca mudaram de ideias. No meu entender mulheres com uma vida afectiva normal, muitos namorados, amizades, diversão, boa profissão, etc., satisfeitas em todas as áreas... essas não querem ter filhos nunca? Não acredito. O apelo da maternidade acabará por ser a etapa seguinte, ainda que não tenham a inteligência de o perceber.

Alguém conhece efetivamente um caso diferente?

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A independência super dependente


Ainda me surpreendo como, em tantos anos de independência por casamento, meus pais ainda correm a fazer toda a espécie de favores ao outro filho. Quase uma década de união, netos, uma casa própria, e ainda vejo a minha mãe a lavar e engomar roupa, a ir à farmácia levantar receitas, a ir ao supermercado comprar mercearias, a fazer de babysitter, de motorista e basicamente a prestar-se a tudo. No fundo nada mudou, a não ser as aparências.


Aparentemente o filho que «saiu» primeiro do ninho é independente, sabe safar-se sozinho. Mas basta apanhar um resfriado e em menos de duas horas precisa que os pais lhe levem ao médico, comprem medicamentos, façam as lidas da casa, encham a despensa de mercearias e lhe façam a sopinha, para dar à boca. 


Como pode a sociedade evoluir se as aparências enganam tanto?

terça-feira, 16 de setembro de 2014

PortugaLIDADES - o não saber



O chefe mandou-nos buscar uma coisa que estava perto de um sítio que eu não sabia onde era. Vai uma colega sai de imediato para a buscar. Sigo-a. Mal nos afastamos ela pergunta-me:
-"Sabes onde fica o sítio?"
-"Eu não! Pensei que tu sabias, arrancas-te logo".


Para mim isto é um exemplo perfeito de uma característica bem portuguesa. Acho que é transversal e se encontra em cada empresa, seja qual for a sua área de especialização.

Ninguém sabe o que é pretendido fazer ou onde fica um lugar. Mas ao invés do interlocutor UM explicar, só ordena. Ao invés do interlocutor dois PERGUNTAR, obedece. E com isto perde-se tempo, envolvem-se mais pessoas do que as necessárias na demanda pela "busca" que a tarefa exige, pois vai-se perguntando pelo caminho «alguém sabe onde fica....». Mas é esta a metodologia aceite e amplamente praticada no sector de actividade laboral português.

Faz muito tempo recebi uma ordem parecida. Ousei perguntar:
-"Onde fica?"
-"Não sabes onde fica? Sinceramente! Há quanto tempo estás aqui?!" (duas semanas)
-"Não. Sempre me indicaram que era para ir buscar ali (onde tinha ido e não estava nada). Nunca ninguém me disse e nunca precisei lá ir antes".


O Português é adepto do "desenrasque". Isso não tem mal algum, pode ser uma vantagem. Mas no contexto laboral muitas vezes essa incapacidade de interrogar e assumir-se uma postura de quem sabe o que faz sem ter a mínima ideia, oculta incompetência, nada mais. Mas é isto que é aceite na nossa sociedade dentro deste contexto. O indivíduo que comunique de forma mais interrogativa - e nem precisa ser muito, é quase um pária. Tem de se agir como se já se soubesse fazer tudo. Ser um autêntico Faz-de-Conta. "Faz-de-Conta" que sei o que faça, "Faz-de-Conta" que sou eficiente, "Faz-de-Conta" que não estraguei o trabalho todo e ficou tudo mal.


Salto para outra situação laboral. Contexto: Inglaterra.
O chefe manda alguém ir buscar algo. De seguida pergunta se a pessoa sabe onde fica o local.
- "Do you know where it is?"
Por vezes sem mesmo esperar resposta ou ainda que escute uma positiva, quase sempre dá indicações onde o local fica, como lá chegar e o nome do responsável com que falar.
-"Just go strait ahead until you find an intersection, then turn right, there's a sign in the wall saying "Staff", turn there and speack to mr. X"


Eu adoro Portugal e a nossa portugalidade. Mas tem certas situações em que gostaria de sentir o que é trabalhar num contexto mais civilizado e menos de desenrasque.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Porque é que coisas más acontecem


Todos já nos interrogá-mos a razão de ser de tragédias, misérias, crueldades, injustiças.

Daniel Morcome foi um rapaz de 13 anos australiano que desapareceu subitamente sem deixar rasto. Foi visto pela última vez a aguardar a chegada do autocarro, debaixo de uma ponte, perto da altura do Natal. Decorria o ano de 2003.

Suspeitou-se que Daniel foi raptado e assassinato, mas não existiu corpo, vestígios ou boas pistas. Testemunhas a passar na estrada dizem ter visto um rapaz na paragem junto com um ou dois homens e um carro parado. 

A família de Daniel, que incluía mais dois irmãos, um dos quais seu gémeo, foi incansável. A sua tragédia comoveu a comunidade e o país, levando a várias acções com vista a se descobrir Daniel. Cartazes gigantes, panfletos, uma réplica da criança na paragem de autocarro, camiões publicitários, caixas de pizza com a fotografia do rapaz desaparecido. Durante anos o desaparecimento de Daniel não caiu no esquecimento e recebeu o contributo e ajuda de muitos, mas pista alguma alguma vez surgiu para desvendar o que aconteceu a Daniel. 

Em Março deste ano foi condenado a prisão perpétua o homem que sodomizou e assassinou Daniel. 

A verdade parece ser que Daniel teve de morrer porque ele era o rapaz que ia fazer a diferença na captura e detenção definitiva de um pedófilo, psicopata e impiedoso assassino

BPC, o assassino cujo nome nem merece perda de tempo a ser escrito molestava crianças desde que ele era uma. O mais relevante no seu historial é que já havia sido enclausurado DUAS VEZES pelo crime de rapto de rapazes menores (6 anos) seguido de sodomia. Primeiro cumpriu UM ANO de cadeia pelo primeiro crime (numa sentença de dois) e quatro anos (numa sentença de sete) pelo segundo, pois tentou matá-lo após brutalmente o sodomizar. Aliás, deu-o como morto. Mas o menino de seis anos, miraculosamente porque não existe outra explicação, sobreviveu a mazelas que o deviam ter matado. Com um pulmão perfurado nem de pé devia estar e no entanto, conseguiu caminhar até uma estação de gasolina onde a sua aparência nua e coberta de sangue, o seu rosto desfigurado cheio de bolhas de sangue, os seus olhos e demais lesões grotescas chocaram todos os presentes. 

 Ainda assim, perante este horror que devia bastar para afastar de vez um perigoso psicopata da sociedade, a justiça dos homens falhou. A sentença foi demasiado leve para o crime e isso deveu-se tão somente porque decorreu o milagre que foi o menino ter sobrevivido. (Com que traumas e mazelas!)

Percebe-se assim o porquê do destino de Daniel. Daniel morreu porque só com ele se ia conseguir encarcerar para toda a vida um perigoso assassino de crianças. Um perpetuo predador pedófilo, que já havia cometido crimes terríveis e que, por alguma razão, a justiça dos homens não achou por bem a sua retirada perpetua da sociedade. "Deus", ou o que preferirem acreditar, não pode fazer tudo sozinho. Precisa que sejamos nós a fazer algo também. TODAS AS PESSOAS que podiam ter feito alguma coisa para impedir este monstro de continuar a torturar, sodomizar e assassinar crianças não fizeram o suficiente. Desde a ex-namorada que desconfiava ter sido ele o percutor do crime a Daniel, até à mãe, passando pelos juízes que anteriormente o condenaram a penas tão leves. Tudo gente que, se calhar, podia ter feito algo diferente, algo que fizesse a diferença e conduzisse ao desfecho esperado e necessário: o cárcere perpétuo do mais cobarde dos predadores: os que caçam pequenas e indefesas crianças.

As circunstâncias em que Daniel se tornou uma presa parecem indicar que estava "escrito" que tal tragédia tinha de acontecer. O rapaz quase nunca estava sozinho ou andava sozinho. No entanto naquele dia nenhum adulto estava disponível nem qualquer dos irmãos quis ir com ele até à cidade. Excepcionalmente ele foi sozinho apanhar o autocarro, tornando-se assim uma presa fácil. Parece que tinha de acontecer. E era vésperas de Natal, Daniel saiu de casa para comprar presentes que ia oferecer aos pais, como surpresa. Uma altura do ano diferente das outras no que respeita a consciência e amor ao próximo, altura em que tragédias comovem famílias, que se reúnem e estão mais próximas. O autocarro que Daniel queria apanhar excepcionalmente não apareceu a horas, porque avariou alguns quilómetros antes. A empresa enviou outro, que passou muito tempo depois mas cujo motorista não pára ao sinal de chamada de Daniel. O motorista recebera ordens para não apanhar ninguém fora das paragens oficiais e aquela não o era, apenas se tratava de uma de conveniência e costume. Outra excepção é a própria família de Daniel, nomeadamente os pais, aparentemente abastados e bem formados, prontos a lutar com conhecimento e garra. E o predador, que viu um rapaz sozinho à beira da estrada a perder o autocarro e com pressa de chegar ao centro comercial para ter tempo de regressar a horas. Ofereceu - diz ele, boleia ao rapaz. 

O predador e a presa que fez finalmente a diferença na sua captura e cárcere vitalício. "Daniel" merecia o direito à vida e podia estar agora a respirar. Mas não está. A sua morte acabou por ser "o" acto definitivo que conduziu um previamente identificado pedófilo ao lugar onde merece para sempre estar: a cadeia. 

Acredito também que antes de nascermos todos nós "acordamos" em sermos os «sacrificados». Os mais iluminados, capazes de suportar mais sofrimento, capaz de aceitar ser uma provável vítima de uma grande injustiça para que através do exemplo algo de maior se aprenda. É assim que passei a entender a maioria das tragédias que não parecem fazer sentido e serem inaceitáveis. É assim que recentemente apreendi ao saber da morte de Nôno, a menina de 5 anos cujo exemplo «pintou» de rosa a imprensa e as redes sociais. A criança que sonhava em ser princesa daquelas todas cor-de-rosa teve até um castelo iluminado com essa sua cor predileta, concretizando assim o seu desejo e transmitindo assim que tudo está bem. Acredito. 

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Como uma UNIVERSIDADE vê o aluno que acolhe



CLIENTE

Esta é a designação com que a Universidade onde estudei me atribui numa comunicação.

Solicitei informações sobre um certificado que necessito e enviaram-me um documento com o título "Lista de documentos A LIQUIDAR".

 A liquidar... como se tivesse dívidas para com o estabelecimento de «ensino». Se a Universidade se preocupasse mais em facultar aprendizagem e conhecimento e menos em fazer lucrativos negócios não se referiria à minha pessoa como "cliente" nem me enviaria uma lista personalizada de documentos a «liquidar». São surpreendentes erros de designação que considero inadmissíveis vindos de quem vem. 

Como pode existir uma lista de documentos a LIQUIDAR se não lhes devo nada? Quaisquer certidões ou diplomas o aluno só pede se desejar, não é obrigatório, logo, não tem nada a «liquidar». No máximo devem-me eles porque enquando lá andei foi necessário um ano para me entregarem um documento já pago. Quanto lhes custaria isso só em «juros»? 

As Universidades vêm todos os alunos como um negócio e não há forma de alguém me convencer, ainda mais depois desta, que a formação é a prioridade. Não é nada! Se eu contasse... No início do meu curso ainda foi. A preocupação em facultar um plano curricular importante para que o curso não «desaparecesse» era o principal. Mas para o final a preocupação era totalmente outra, onde o aluno de NADA importava e cada professor estava a pensar na própria pele e em como não se prejudicar na linha do poder para rapidamente conseguir progredir hierarquicamente e atingir um cargo maior. 

 O que existe é um potencial de extorsão da parte da instituição que não foi bem sucedido. E por essa razão o ex-aluno, ou devo dizer, o CLIENTE, pois pelos vistos as universidades já não possuem alunos mas sim CLIENTES pois é assim que sou IDENTIFICADA na referida comunicação, permanece na base de dados do arquivo morto durante tantos anos, na esperança que um dia este "salde" e "liquide" a dívida.



PS: Na busca de uma ilustração para este post encontrei uma notícia sobre um projecto no Brasil que proibe as faculdades de cobrar a 1ª via de quaisquer Diplomas. Pois é assim mesmo que devia ser! Sem dúvida alguma. O aluno GANHOU por MÉRITO essa certificação. Nada mais justo que a receber. Não está a comprar, pois não? Teve de se esforçar para a obter, não é algo na qual não teve nenhuma participação e por isso compra e leva para casa a seu belo prazer. Sou tão CONTRA a cobrança de valores monetários pela emissão de um Diploma de Habilitações que até hoje deixei os Serviços Académicos da Universidade ficarem lá com o meu. Bem podia ganhar teias de aranha. Raios!