sábado, 28 de dezembro de 2019

A inflacção já começou!


Numa comprinha de última hora, fui à Claire's, uma loja de acessórios de bijutaria. Achei os preços praticados UM ROUBO. Tudo muito caro! Entrei em outras dentro do mesmo género e concluí que em Portugal cobram três vezes mais do que seria de esperar por este específico tipo de bem. Afinal, a loja não vende peças de joalharia! Em nenhuma parte há um pendente que seja, feito com um liga de prata, ou uma pedra semi-preciosa. Mas os preços... estão tão próximos! Tudo ali é feito com o mais reles plástico ou metal que existe. É BIJUTARIA!!!! 

Achei o valor praticado inflacionado. Mas sujeitei-me. Contudo, a pior constatação ainda estava por vir. 




Quando chego à caixa para pagar, a funcionária passa o meu produto na caixa registadora e diz: "Vou oferecer-lhe uma máscara para o rosto". Não quero nenhuma máscara para o rosto e quase lhe disse: "Deixe estar, não quero". Mas antes de processar bem, ela já havia pego numa que estava mesmo ali, e passado o código de barras no scanner. Primeira constatação: se é GRÁTIS, porque é que teve de passar no scanner?

Mas deixei passar. Queria ir embora, precisava despachar-me. Só quando chego a casa e presto atenção, é que verifico o "truque" dela. Acho mesmo que é prática recorrente na Claire's. O valor que o código de barras do produto indicou é inferior em mais de 2 euros ao da etiqueta de preço. Ainda um ROUBO, um exagero para o tipo de produto ali apresentado, mas mais próximo de um valor realista. 


Acabei por PAGAR pela máscara de rosto (a meu ver também inflaccionada) porque a funcionária quis cobrar um valor mais próximo do indicado no autocolante, ao invés do valor exposto pelo sistema como verdadeiro. E deve ter sido instruída para fazê-lo com as máscaras para o rosto, chamando o gesto de "oferta".


Oferta uma pinóia!
Complemento para o roubo, isso sim!



quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Poema sobre o Natal pelo parecer de Gedeão



Dia de Natal


Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.


É dia de pensar nos outros – coitadinhos – nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor anuncia o melhor dos detergentes.


De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?)
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)
Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente acotovela, se multiplica em gestos esfuziante,
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.

Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de cerâmica
.

Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
E como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.

A oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra – louvado seja o Senhor! – o que nunca tinha pensado comprar.


Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.
Cada menino abre um olhinho na noite incerta
para ver se a aurora já está desperta.
De manhãzinha salta da cama,
corre à cozinha em pijama.


Ah!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.

Jesus, o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho do Pedrinho
uma metralhadora.

Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.
Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam que caíam crivados de balas.


Dia de Confraternização Universal,
dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.


António Gedeão, (1906-1997), in 'Antologia Poética'

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Lista de Presentes


Quando era adolescente por vezes escrevia no diário o que recebi pelo Natal. Mas o que a mim mais me entusiasma nesta quadra não é o que recebo, mas o que ofereço. Precisamente o lado que parece que incomoda muitos. Se for a tomar como exemplo desconhecidos que encontro na azáfema das compras e os lamúrios que falam.

É no dar que sinto mais prazer. Gosto de lembrar-me do que a pessoa possa gostar e alegro-me com as reacções, sejam de surpresa, espanto, aversão, riso ou demais.

Não me perguntem quanto já gastei em presentes, não sei especificar. O dinheiro simplesmente sai da carteira, do banco... e vai se juntar aos muitos de muitos outros numa caixa registadora qualquer.


Lista de oferendas:

1) Caixas com biscoitos
2) Conjunto de utensílios para o banho
3) Porta-chaves cómicos e com tripla funcionalidade
4) Blusa
5) Calendários personalizados
6) Queijos com licor
7) Livros
8) Brincos e outra bijuteria (em prata, mas pronto...)
9) Jogo de luzes em movimento
10) Livro "primeiro ano do bebé"
11) Kit de genealogia
12) Caixa com 24 bombons Mon-cherie
13) Perfume (raro de encontrar e muito desejado por quem o vou oferecer)

E julgo estar aqui tudo.


VOCÊS...
Qual vos agrada mais? Já sei, os queijinhos com licor!
Pois, também a mim, eheheh.

FELIZ NATAL E BOAS FESTAS! 





Poupem o vosso dinheiro se pensarem em investir nisto...


Não gastem o vosso dinheiro em tratamentos estéticos dispendiosos.

Este é o meu conselho.


Para quem possa estar a pensar nisso, aqui fica a conclusão da minha experiência fruto da passagem por um consultório médico de uma renomeada médica esteticista.

Entrei para fazer uma avaliação geral (gratuita) e querendo saber como funciona uma técnica específica. Mas as minhas questões tinham de ser respondidas  em consulta. Que tem um custo de 100€ e que foi prontamente disponibilizada, em menos de meia-hora, mesmo com a agenda super intensa da doutora. 


Três mil euros depois e com a promessa que uma máquina que estimula o colagénio na pele ia remover e atenuar rugas pelo menos por dois anos, submeti-me a um procedimento doloroso executado por etapas e seguido à risca. No final, não notei qualquer diferença no aspecto, nem eu, nem ninguém! Nem sequer em fotografias de antes/depois. Diferenças, só na carteira. De resto, continuam a "chatear-me" por ter um ar cansado, exausto, sofrido. As rugas continuam no sítio de onde as desejei deixar de ver. 

A todo o lugar a que fui, prometem resultados que duram anos. Mas depois percebo que é uma sorte se durar um! E quem gasta uma fortuna para remover uma ruguinha que volta dali a um piscar de olhos??

Então aqui fica o meu conselho: Fiquem-se pela aplicação de bons cremes. Produz os mesmos resultados e fica por uma fracção do preço cobrado nos centros estéticos de renome.




Em breve, talvez vos diga o que fazer quando recorrerem a médicos cirurgiões. («Só» preciso avançar com 8.000€. Aquela ladra bem podia devolver os 3000€ por publicidade enganosa). Me aguardem! Ahahah ;) 



domingo, 22 de dezembro de 2019

Coleccionar sabonetes


Não sei o que me deu. Nos últimos meses andei a comprar sabonetes. E não é para usar. É para guardar. Por isso acho que dei para ser colecionadora de sabonetes.


Os aromas são tão bons, acabei por comprá-los em "packs", colecções ditas limitadas. Já perceberam que por altura do Natal saem imensos lançamentos limitados de toda a espécie de produtos? No que respeita a produtos de higiene e perfumaria, creio mesmo que vale a pena comprá-los assim. Durante os restantes meses do ano, o valor unitário de cada embalagem por vezes aproxima-se ao total do Kit.

Perfumes, sei que vale a pena comprar em coffret
Custa 25€ aquele que mais gosto, e traz, além da água de colónia, um gel duche. Porém, este ano não encontrei o aroma que gosto a ser disponibilizado e como já adquiri o coffret da Aveda deixei o outro passar. 

Ainda assim, deu-me para os sabonetes.
(E tudo isto sabem de onde vem, não sabem??)

Ainda me falta esta colecção


Acho que podia ser pior.
Ao mesmo tempo, saber que 40 euros foram para sabonete... ui!
Tenho de colocar um freio nestes gastos.


É mesmo difícil presentear alguém?

Não sei porquê as pessoas acham complicado oferecer algo a outra. Durante todos estes anos de quadras natalícias, ficaria satisfeita com um elástico para o cabelo, uma mola, luvas, meias ou... uma barra de sabonete.


quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Tu és quem quero este Natal


O Natal anterior passei-o sozinha na casa. Senti mais a solidão e a necessidade de ter pessoas à volta. Não foi mau, porque liguei-me ao vivo no chat e acabei por ver todos, falar-lhes e acompanhar a abertura dos presentes através do computador. Quando senti-me cansada da gritaria ou esfomeada, só tive de afastar-me e desligar o computador. 

Por ter tido um natal solitário, este ano pensei no oposto. Mas a Mariah Carrey é que acertou. O que  preciso não são presentes, nem gente, nem confusão. O que queria mesmo era uma pessoa por companhia. Não ia precisar de mais nada. All I wanted for Christmas was me with you. 

domingo, 15 de dezembro de 2019

Decorações de Natal


Uma coisa que aprecio no meu pai, é o seu gosto para decorar a casa para o Natal. 

Entrar na casa de família durante a quadra é encontrá-la com apontamentos natalícios por toda a parte. Mas não é todos os anos decorada por igual - embora as decorações possam ser as mesmas. Há sempre diferenças. Ora as luzes são diferentes, ora os "penduricalhos" são colocados noutros lugares e coisas podem ficar de fora. Este ano não existem autocolantes colados nos vidros de janelas ou portas, a árvore mudou de sítio, tem decorações diferentes, em vez de musgo colocou-se relva artificial e o presépio foi construído com as peças maiores. O presépio nunca sai igual, é sempre diferente, ainda que as figuras centrais tenham de ser as mesmas.

Acabo por gostar mais da quadra por o espírito festivo ficar assim tão impregnado pela casa. Até a floreira vertical, teve direito a chapeu vermelho ahah! E no topo? Um vaso vermelho, com cactos e azevinho de verdade.

Absorvo estas coisas com um discreto deleite.
Sei que, um dia, alguém vai ter de decorar a casa para o Natal e ele não vai cá estar. Sei que, se fosse outra pessoa a decorar, seria mais discreta, dando apontamentos mais suaves. Ele não é exageradoooo como se vê nos filmes, mas também não é comedido. E é nesta altura do ano que aceita que outros queiram também dar o seu toque na decoração.

E lá fui eu lembrar-me que tinha comprado sem ter usado, cortinas natalícias. Sim... mas não de tecido. Cortinas daquelas feitas de figuras recortadas. E vai que fui buscá-las e a ideia de as pendurar foi logo aceite. Quer dizer, com a habitual reprovação imediata de minha mãe, que precisa de ser convencida.

Meu pai acabou por adorar e sei que, para o ano, é bem capaz de ficar entusiasmado com a ideia de voltar a colocar as cortinas. Cada vez que passamos do corredor para a sala, não se percebe de tão integradas que ficaram no espaço, mas as cortinas estão ali, como que a anunciar a entrada para o bom do Natal. Depois da quadra, tudo volta ao normal. É bom, muito bom, ter alguém que se entusiasma, está sempre pronto e com ideias para, ano após ano, decorar a casa para o Natal! 


sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Sair à rua sem guarda-chuva sabendo que se encontram pelo caminho


No Reino Unido está sempre a chover, mas é raro precisar de guarda-chuva. 

Se não puder transportar uma mala, não me incomoda sair sem um. Até porque tenho sempre alternativas. E essas passam pela FACILIDADE com que se encontra chapéus para a chuva descartados.

E foi assim que encontrei este aqui:


Numa noite de chuva mais «molhada», caminhava pela rua quando avistei o primeiro descartado: um guarda-chuva preto, de varetas tortas, atirado para a lama. Esse deixei-o ficar onde estava. Mais uns metros e lá estava este: lançado no meio das ervas, aberto e virado para o ar. Pareceu-me a proteção ideal para chegar a casa. Só hesitei um milésimo de segundo, peguei nele e comecei a usá-lo.

Dá para ver na fotografia qual o problema: falta-lhe parte do cabo.
Tirando isso, o tecido é resistente e as varetas também. 

Não sei porque é que as pessoas não se incomodam com esta poluição de guarda-chuvas. E o único problema que têm, é sempre nas varetas. Um monte de metal atirado constantemente para onde calha. Sem ter onde ser reciclado. Ontem também voltei a encontrar um outro descartado, cor-de-rosa, fechado e empurrado com força em cima de um denso arbusto. Tinha uma vareta torta. (Serviu para ir ao banco e ao supermercado, onde o deixei).

E assim, polui-se a cidade sem se reflectir que é o mesmo que atirar lixo para o chão. 

Ou não é??

Chegando a casa à meia-noite, optei por deixar este chapéu azul e branco listado «abandonado» no canteiro à beira do passeio. Tal como o encontrei. Podia ser que alguém mais precisasse num momento de aflição. Ficou ali, aberto, virado, até o dia seguinte.

Depois fui às compras, estava a chover, e decidi agarrar o mesmo chapéu descartado.

Aconteceu uma coisa engraçada: estava quase a sair do supermercado com as compras e decido voltar atrás para procurar por um outro produto. Nisto uma funcionária vê-me, vai buscar algo e entrega-me o guarda-chuva, dizendo-me que percebeu que o esqueci mas não lhe apeteceu correr atrás de mim. Fiquei surpresa, porque tinha-me esquecido dele de verdade!  


O chapéu serviu-me em mais algumas ocasiões, transportei-o sempre na bolsa exterior da mochila, nunca tive de me preocupar que mo roubassem porque estava partido, era mais leve por isso mesmo e podia usá-lo como arma de defesa. Segurava-o na mão ao atravessar ruelas escuras ou o parque, sabendo que a sua ponta esfacelada podia surpreender um atacante. 

Despedi-me dele ontem, quando o usei pela última vez para caminhar até a paragem de autocarro. A transportar duas malas, rumo a Portugal, achei que serviu o seu propósito e era altura de seguir o seu desconhecido rumo. Pode ser que outra pessoa o utilize por dois ou três meses, como foi o meu caso. Ou talvez seja reaproveitado, reciclado. O que não quero é que vá parar aos oceanos, para matar uma baleia qualquer. 

Tenho orgulho em agir assim e aproveitar coisas que deviam ser descartadas de uma forma mais consciente e amiga do ambiente.  









quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Continuando as leituras


Caminhava para o emprego numa tarde de chuva quando dois veículos passaram em velocidade sobre um lençol de água que me deixou duplamente encharcada!

Tal como nos filmes, mas não tem tanta piada assim.

Estava a pingar. Deixei a alcatifa do escritorio molhada. Precisava secar-me. Providencialmente os lavabos daquele lugar sao fantásticos e tem secador para as mãos dos modernos mas também dos antigos. E assim sendo....




quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

A ingenuidade como chapada na cara



A presença do novo inquilino já me serviu de aprendizagem. 
Não sabia que convidar alguém do género oposto a entrar na tua casa significa que vão ter sexo. Nos filmes, sempre foi assim, eu sei! Mas só depois de um dinner date.  


Pois vos digo que nem isso é preciso mais. Um encontro, um jantar... já não se usam. Basta trocar um olá e nesse acordo mútuo e mudo de palavras diretas entre dois estranhos, sai sexo.  

Agora compreendo porquê o gajo foi embora. Não apanhei nenhum sinal destes modernos que me estava a enviar. Coitado... ficou ali à espera e... nada. 

Quem manda se meter com uma jumenta como eu? Ahah.

Ainda sou do tempo.... um tempo que não existe mais.

Mesmo com rodeios, ainda se usavam palavras claras de interesse. Hoje diz-se tudo menos essas palavras. O sentido da pergunta "onde vais quando acabar o teu turno?" é "anda ter sexo".  Ele bem que me perguntou "onde vais agora? Eu levo-te a casa". 

O simples facto de alguém do sexo oposto abordar-te é de imediato interpretado como interesse sexual. Tudo tem duplo sentido. E eu, na minha santinha ingenuidade... Longe de imaginar tais coisas, pelo menos dirigidas a mim e vindo de alguém como ele. 

Não há dúvidas: Sou mesmo feita de outro molde.
Cai do cavalo, este continuou a galope e eu fiquei a pé. 
Sim, vou pendurar as chuteiras e ficar tranquila.



terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Decorações Natalícias


Ela disse "não".

Não quis que colocasse um azevinho em gel na porta do seu quarto. 
Perguntei-lhe por ter colocado um na porta do novo inquilino. Foi ele que disse para pôr. E eu gostei disso. Estava a decorar a porta do corredor com esses autocolantes que tinha desde o ano passado por estrear, quando ele o sugeriu. Pensei em colocar em todas as portas dos quartos, porque fica bem e descentraliza. Só não o fiz por saber que ela ia detestar. Capaz até de arrancar o seu fora.


Por isso esperei para lhe perguntar. E disse.... "não". 

Ah, o enorme espírito natalício, o desprendimento, a alegria típica da quadra... chegam ali e encontram um muro velho e decrépito. 

Ela decorou a sala toda faz dias. Sozinha, ao gosto dela. E tudo idêntico ao ano anterior. Presumo inclusive, que idêntico a todos os anos desde que cá mora. Nenhum toque de diferença ou laivo de originalidade. Não... livrai-nos! Montou a árvore de Natal no mesmo sítio, da mesma maneira, com as mesmas decorações. A diferença? Este ano montou-a sozinha. Os dois rapazes italianos saíram sem ajudar - creio eu pelos sons que escutei. 

Lembro-vos que, o ano passado, mostrei interesse em participar e até perguntei se precisava de decorações de Natal e ela respondeu que não, pois tinha tudo. Semanas antes encontrei-a no supermercado a segurar decorações natalícias que depois vi penduradas na árvore, que ela montou junto com outros dois italianos, estando eu em casa e nem teve a amabilidade de me convidar a participar. 


Um enorme espírito natalício, o dela!! 

Até vêm lágrimas ao olhos, como é tão benemérita e boa, esta alma caridosa, que trabalha com adolescentes com necessidades especiais. Só pode ser alguém com um fundo muito bom, não é mesmo??


A jarra saltitante - assim a apelidei o ano passado por estar sempre a ser tirada do lugar, voltou a "desaparecer" do cimo da lareira. Foi colocada em cima de uma mesinha volátil, frágil, baixa, que sofre empurrões a cada passagem. Ali a jarra ia acabar por cair e despedaçar-se. Quase que eu própria a deitei ao chão só por aproximar-me. Por isso peguei nela, voltei a colocá-la no centro da lareira e dirigindo-me à mais-velha, que estava estatelada no sofá da sala, disse-lhe:
-"Não faz mal se ficar aqui ao centro, pois não? Ali vai acabar por cair e partir-se".


Ela não tossiu nem mugiu. Ignorou-me. Nem sequer desviou o olhar do jogo no telemóvel. De seguida o inquilino mais-recente que estava no piso superior falou-lhe e ela recuperou a sua audição. Milagre!! Deve ser da aproximação do Natal. E ainda há quem não creia em Jesus...


segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Dó mingo


Passei o Domingo em choro e a recordar o percurso de vida. Deve ser catártico, volta e meia, entro nesta. Depois... passa. Até a próxima «crise». Não quero mais tristezas na minha vida. Mas creio que para se irem embora de vez, é preciso relembrá-las assim, em certos momentos.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2019


E aqui está ele: o presente de Natal para mim mesma.

Veio com um brinde dentro da caixa, em cima da embalagem de champôo. Um bicho. Pequeno, preto que, quando tentei discernir o que se tratava, pulou. Não voou, saltou. Espero que não seja piolho ou pulga! Era só o que faltava... contaminação.


Lembrei-me de ir espreitar se o produto chega selado, para impossibilitar tentativas de contaminação ou adulteração. Como dá para ver pela foto, não é o caso. Tenho a certeza que passa por muitas mãos até chegar ao comprador final, essa garantia devia fazer parte da política de qualidade da marca. 

Não é o género de produto que me passasse pela cabeça comprar para mim. Mas há uns anos, deparei-me com o creme para as mãos shampure da Aveda, coloquei um pouco e o aroma... é delicioso! A sensação também.

Trata-se da embalagem pequena de 40 ml ao centro da fotografia. Não se encontra à venda em nenhuma ocasião, excepção feita nesta altura de Natal, somente integrado neste coffret. Então comprei tudo - shampôo, amaciador e o gel duche de 50ml. por causa de um só produto: o creme para as mãos.

Se valeu a pena? Irei descobrir. O aroma liberto assim que se tira a tampa à caixa é maravilhoso, tranquilizante, como diz o rótulo. As reviews para o shampôo de 250 ml variam conforme o utilizador. Não tenho grandes expectativas mas não importa realmente. O que queria era o creme para as mãos (e nem sou muito de aplicar) e acabei por obter outros produtos shampure! 

Conhecem?

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Leituras adiadas por causas maiores


Ainda não retomei o hábito da leitura de livros.
Andava a ler um seguido de outro desde o início deste ano. Numa média, suponho, de um por mês. Parei, quando se deu o desastre do "Titanic". Não conseguia. Não tinha ânimo, não tinha como me concentrar. As letras juntavam-se e formavam palavras, que o meu cérebro lia, página após página, sem nada interiorizar, por estar mergulhado em sofrimento e buscas por entendimento. 

Quase quatro meses... sem ler livros.
Tentei. Tenho uns quatro iniciados.
Só um, recentemente, pareceu-me bom o suficiente para me devolver a vontade de ler mais.
Mas ainda não lhe toquei.
É preciso disponibilidade para ler livros. Não só de tempo, mas de tranquilidade interior.

Quando esta foi violentamente atacada, não houve nada a fazer. Provavelmente aparentava estar bem. Lembro-me de conversar ao telefone sem nada dar a entender, de ser cortejada sem nada dar a entender, de até falar como se estivesse bem.

Mas chorava. E por dentro, desesperava. Até a vontade de comer desapareceu.  
Lembro-me de ter um pacote de bolachas cracker no quarto e forçar-me a ingerir ao menos aquilo, por uma noção ténue de necessidade. Ia trabalhar sem nada no estômago e voltava sem nada no estômago. Foi assim por cerca de uma semana, até que forcei um hamburguer a descer pela boca.

Foi mesmo mau.
(Não merecia).

domingo, 1 de dezembro de 2019

A minha natureza sobrepondo-se




Não sei se fiz bem, apenas fui genuina e natural. Por isso mesmo é que estou na dúvida e recrimino-me por ser assim. É que, tratando-se da mais-velha, se me manter assim estou numa enrascada.


Ontem de noite desci à cozinha para beber água. Temos um jarro que a filtra. Vejo-o quase vazio e como estou com muita sede, despejo umas gotas para a garrafa que trouxe comigo. Vejo que a água está quente e por isso despejo-a. E volto a encher com água fresca. É aqui que a mais-velha (receando que a julgasse desmazelada por o ter encontrado vazio) diz:
-"Ah, eu ia esvaziar o jarro e trocar o filtro".  


Esta sua intervenção, como se estivesse a falar com uma pessoa a quem quer bem, despoletou uma pequena conversa que, aos de fora, soa normal. A conversa foi só sobre a água, o tempo, perguntou se estava bem porque parecia pálida, falou-se do supermercado, do frio etc. Mostrei-me interessada em saber como se procede à troca do filtro e limpeza do jarro. Já o havia feito antes, quando o comecei a usar, por volta de Março do ano passado. Por esta altura, as poucas palavras mais demoradas que lhe dispensei já pareciam estar a incomodá-la. Como se, para a vontade dela, a conversa já devesse ter terminado, como se não quisesse falar mais.

Quem não soubesse o que ali está, enganar-se-ia. Mas eu, genuinamente incapaz de mostrar fel por alguém, falei-lhe como se não soubesse que, toda aquela simpatia, provavelmente foi antecedida por um enorme "descascar" na minha pessoa que foi tão bem sucedido em influenciar terceiros, que a fez agir com maior falsidade.

Só vi o novo inquilino uma vez mais, ontem de madrugada, quando me preparava para sair para o emprego e ele tinha acabado de entrar. Ao me ver na cozinha, ia eu a sair já enluvada, de gorro, capuz e cachecol rumo à noite de -1º, quis saber se ia "you're going out?" - que significa sair para me divertir. A sério?? Aquela hora com aquele frio?
-"vou trabalhar" - respondi-lhe.

Desejei-lhe um bom dia e só o voltei a ver, de relance, à hora de almoço, preparava-se ele para sair. 

Não consigo deixar de sentir que ele está demasiado centrado no me ter ou não em casa. Tal como o outro. Não posso esquecer que escutei a mais-velha dizer-lhe que eu "estava em casa o dia inteiro" e que o que saiu "disse que eu estava em casa o dia todo". 

Deu a entender que eu era um inconveniente, uma imposição, que eu não lhes dava espaço. Quando a realidade sempre foi oposta!!! Isto é de uma difamação infame, porque retrata-me exatamente o oposto que sou! Eu sou trabalhadora, esforçada, faço horas extra se mas disponibilizarem, vou trabalhar nas folgas se me chamarem... Sempre fui assim. E esta parvalhona anda a espalhar a todos os conhecidos que eu sou... como eles.

Sim, porque o que saiu, era o maior preguiçoso de todos. A maioria deles escolhe a profissão que têm pela quantidade de dias de folga que têm. Pelo facto de poderem ficar em standby (em casa) podendo ser ou não chamados para o trabalho - e ganham à mesma salário. O outro rapaz esteve DUAS SEMANAS em casa e foi trabalhar pela primeira vez, no dia em que o novo chegou. Teve - disse-me ele, 5 dias em standby, antecedido por 2 de folga por estar com tosse, antecedidos por outros 3 ou 4 de standby, antecedidos por um fim-de-semana de folga... 

A rapariga que cá esteve, supostamente detentora de um emprego das 9 às 5, segunda a sexta, ficava em casa amiúde. Era vê-la a faltar com uma desculpa qualquer, vários dias por semana. Ficava em casa agarrada ao telemóvel, pela cozinha, sentada no sofá... toda confortável e a queixar-se que não queria ir para o emprego. Mas na altura de falar dos benefícios e de se descrever como funcionária, foi "exemplar" e até lhe deviam "dias de férias". Isso me deixava atónita. Uma miúda que quase nunca punha os pés no laboratório onde devia trabalhar - e isto certamente não é profissão para se faltar - ainda tinha férias a tirar! E porquê? Porque cada vez que faltava, usava como pretexto uma desculpa de saúde. E esses dias em que ficou em casa por se sentir sem vontade de ir trabalhar, não são contabilizados. No currículo em papel não transparece esta preguiça, a constante falta a dias de trabalho por sempre encontrar um pretexto de saúde. Ela tinha uma "condição rara" mas que não a limitava ou impedia de ir para a farra ou ir trabalhar para sustentar a boa vida que almejava. E usava-a para tirar benefícios e privilegiar a sua preguiça. Usava o que podia.Também estava inscrita na universidade a tirar um curso sem data para terminar e à distância e também isso usava para se baldar áquela que é a prática mais árdua de uma vida adulta responsável: Trabalho!

Que seja EU a que fica com a fama é... revoltante.
As poucas pessoas que me conheceram na outra casa e nos empregos que tive, todas me apontavam o excesso de trabalho como algo em que devia reflectir, pois não fazia bem, etc. Mas eu, não tendo outras coisas com que me ocupar e não podendo usufruir da casa onde pago para morar de forma livre, até me custa quando não tenho trabalho, quando mo cancelam, etc. Quero é trabalhar!

Porém, este verão de facto entendi que eles estão certos. Trabalhar tanto, ganhar uma miséria e no final, se tiver direito a reforma, esta não vai espelhar o que eu fui. Outros, como a tal jovem rapariga que nunca ia ao laboratório, serão aqueles que se pintam de árduos trabalhadores e terão as boas reformas. Não gente como eu. Por isso mesmo, devia aproveitar melhor a vida enquanto ainda me resta alguma energia e saúde. Esperar pelo "final" para o fazer não é correcto. Ter passado pela "paixonite" fez-me entender isso. Que as minhas prioridades deviam ser outras.

Mas sem amigos íntimos, sem amores, longe da família e a viver numa casa com pessoas como estas, quero é trabalhar! Mesmo por uma ninharia. Ao menos não estou aqui rodeada de gente intriguista, maliciosa e muito de meter o nariz na vida dos outros. Que tenha passado o Verão a equilibrar-me entre dois empregos, tendo conseguido estender o diário por duas horas extras além das 8 que me eram pedidas, e juntando a este o outro que mantenho há um ano, que me dá 4h por dia... Sair às 6 da manhã e regressar às 23h.... 

E estou o dia todo em casa?!?!?!!!!

Pintarem-me assim a um rapaz que acabou de chegar já a perguntar sobre a minha rotina de empregabilidade é uma atitude de meter nojo.

E é tudo ELA.
Com quem eu ainda troco palavras genuínas!



sábado, 30 de novembro de 2019

O que vi foi isto:



Um corvo.
Se bem que quando prestei mais atenção ao formato e direcção do "bico" e cabeça, sem dúvida que esse é o de um abutre!! Hoje faria abutre. Um casal apaixonado seguido de um abutre. Sinal de que algo vai correr mal?

Ahah.
Lá vou eu.... para os "sinais".

Ainda se lembra o que viu?

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Previsível

Yap!
Logo na primeira oportunidade que teve, no primeiro contacto com o gajo novo, já lhe proporcionou o relato audio-tour da versão italiana: "falar mal da Portuguesinha".

"Ela não trabalha", "Está em casa o dia todo", "Teve este emprego por estes meses, depois outro por estes meses, depois não esteve a trabalhar por estes meses, depois trabalhou por estes meses",  Não se junta a nós para ver televisão", "Não gasta dinheiro em comida", "trouxe um rapaz cá para casa"....



Fico a torcer (mas com pouca esperança) que este seja mais íntegro que os outros e a maledicência com que ela os presenteia durante as refeições para repelir simpatias a meu favor, se vire contra ela mesma. Tanto veneno. Só maledicência! Nenhum refreio imposto por bom carácter, valores... 

Vi isto no blogue da Elvira, e guardei. É a ilustração certa para este tema.


quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Não gosta que lhe enviem mensagens se podem falar cara a cara


Almocei com o novo inquilino. Parece simpático. Mas tenho receio que o veneno que habitualmente é servido pela mais-velha com um risinho e a partilha de uma refeição caseira "à moda da pátria" o venha a contaminar. 

O que mais gostei nele foi ter-me descrito que odiava pessoas que se comportam como... ela!
É que tudo o que relatou, encaixa-lhe que nem uma luva.
Mesmo! Parecia estar a descrevê-la ao detalhe. 
Fazia referência aos britânicos mas, aos meus ouvidos e na minha mente, reproduziam-se situações vividas nesta casa, no mais ínfimo detalhe.  

Tanto que não resisti e perguntei-lhe:
-"E se essa pessoa for da tua nacionalidade?"

Mas não vou alimentar expectativas. Até hoje o "sangue" tem falado mais alto e, claramente, esta tem sido uma casa italiana onde só aqueles que eles permitem são bem vindos. Nunca fui convidada ou informada sobre a realização de um desses "jantares" que o rapaz mencionou durante a conversa. Ele percebeu na minha confirmação sobre a existência desses jantares, que havia algo errado. Mas não sou de falar mal de ninguém e certamente não é do meu carácter denegrir a imagem de outras pessoas a um elemento que acabou de chegar. É uma indecência que não combina comigo mas que descreve ao detalhe a tipa mais-velha

Ele ter sido seduzido a mudar-se para cá com a alusão a jantares de convívio entre todos os inquilinos, dá a entender que esta é uma casa de família - que é - mas no relato excluem o detalhe que esses jantares são exclusivamente italianos. Em nenhuma ocasião ou circunstância incluíram-me. E isso, por definição, já contradiz o clima de "harmonia e familiaridade" que a italianada pretende passar para os de fora. Mesmo das muitas vezes em que lhes ofereci o que preparava perguntando se queriam jantar comigo, mesmo quando me estava a jantar ao mesmo tempo que eles - ainda assim, nem uma vez foram capazes de me oferecer um lugar à mesa. Não só nunca me estenderam um convite, como nunca me informaram que estavam a combinar um jantar/convívio que fosse. Facultaram muitos. Deram-me conhecimento de nenhum. Eu entrava em casa ou descia à cozinha, e deparava-me com uma multidão sentada à mesa, na maior alegria e diversão. Muitos nem me falavam quando nos cruzávamos. Era como se uma pessoa que vive na casa onde eles estavam de convidados não existisse, fosse invisível, insignificante. Muitas vezes suspeitei que estavam a organizar algo, pelos silêncios e cautelas nas palavras ao me ver aproximar. A cada dia que passava ficava mais claro que não pretendiam integrar-me e repeliam todas as minhas tentativas nesse sentido. Deixaram claro que praticavam a segregação. Talvez no intuito de que o mal-estar me levasse a sair deste ambiente. Só que não... Isso não abona nada a seu favor, só comprova que tenho razão no que alego. Mas como se prova? Sem vídeo? Sem imagem e som? Será a palavra de uma pessoa contra sete, oito, nove... O número tende a aumentar, conforme a eficácia da"recruta". 

Mas têm de ter cuidado, para que não sejam descobertos. Não podem permitir que eu consiga trunfos que comprovem as minhas alegações, caso as queira tornar públicas. Ao manipularem e seduzirem a rapariga mais-nova que cá esteve, têm-na como trunfo. Podem sempre alegar, como "bandeira" a seu favor, caso eu venha a denunciar os seus comportamentos vis, que as minhas alegações "não são verdade" e podem prová-lo, porque cá morou uma não-italiana que sentava à mesa com eles e ficaram amigos íntimos.

Com esse trunfo, fica fácil de acreditar que o problema "é meu". Sei que a rapariga ia confirmá-lo com prazer. Afinal, foi para isso que ela foi por eles usada. E ainda hoje, não faz ideia da verdadeira origem desse "gostar" que eles lhe dedicaram. Claro que ela, ao tornar-se fervorosa simpatizante da causa "vamos odiar a portuguesinha", acabou mesmo por conquistar alguma simpatia. Principalmente da parte da mais-velha, com quem partilhou colúdios e arquitectou formas de me deixar mal vista. Fui constantemente vítima de denegridação de carácter, perseguição e conspiração. 

Não foi um período fácil.

Mas espero sinceramente que venha a acabar. 
Só não posso é ficar esperançosa, só no desejo. Também tenho de começar a ficar esperta. Alerta. Não basta "ficar na minha" e deixar as coisas rolarem. A corda sempre arrebenta para o lado mais fraco. 

Este novo inquilino já conhecia as duas pessoas nesta casa que menos esforços fazem para se dar comigo: a mais-velha e a grande-amiga-do-que-saiu. São todos italianos e trabalham no mesmo lugar. É natural que se cruzem. Mas ele só as conhece superficialmente, de convívios em casas de outras pessoas. Onde todos são sempre simpáticos, ou assim parecem ser. Claro que isso já ajuda. Falam todos com uma naturalidade familiar. Sabem que são bem-vindos, que não existe má vontade, hesitações ou dúvidas. Uma naturalidade que talvez, comigo, não seja tão fácil de manter. Mas já falamos de coisas pessoais. Por exemplo, ele tanto voltou a fazer-me perguntas sobre as horas e dias em que vou trabalhar, que eu simplesmente perguntei-lhe:
-"Queres ficar sozinho na casa?"

Ele ficou um pouco sem acção mas lá acabou por me dizer que ia trazer uma rapariga cá para casa daqui a umas horas. E não sabia se eu ia estar bem com isso. Epá, se é isso, só tem de dizer! Basta dar a entender, que, como adultos que somos, sabemos dar espaço ao outro. Seja para isso, seja por outro motivo qualquer. É preciso saber dar espaço. Seja numa casa partilhada, seja numa relação conjugal. O que não quero é que me andem a metralhar com perguntas não-objectivas sobre as minhas horas de trabalho porque isso dá-me a entender que me querem fora, não sou desejada, não são capazes de ser sinceros e claros na mensagem. 

Sabem o que mais?
É preciso dar tempo ao tempo...
Tudo pode mudar, um dia. Para pior, é verdade, mas também para melhor. 

Se fosse desistir sempre na primeira contrariedade, nunca ia deixar de estar sempre a passar pelo mesmo. Aprendi isso há uns anos, quando me demiti de um estágio que adorava fazer, por estar a ser alvo de bullying serrado por parte de uma gaja insignificante que trabalhava em proximidade comigo. Ao invés de valorizar-me e centrar-me nos (poucos) que ali, como eu, sabiam da coisa e prestavam, deixei o veneno e pura inveja daquela pessoa e da trupe que estava a reunir, ditar o meu afastamento. Decidi que não valia a pena passar por desilusões com estranhos e conviver com gente tão cínica, maldizente e maliciosa e ainda por cima passar por isso de graça, pois o estágio era não remunerado e o fazia pelo prazer, nada mais.

A vida me dirá que esta minha resiliência é a atitude correcta para mim.
Lamento que ele não tenha se mostrado assim, ainda não tenha aprendido a ser assim...

Mas "dele" não vou falar!
Ele vai ser passado. E vai tornar-se uma lembrança querida, pelo afecto que lhe nutri, mas também patética, por não ter estado à altura.

Sejam felizes. 


A Portuguesa


Não me refiro ao nosso Grande Hino e sim à forma como os cá de casa, entre si, fazem referência a mim. Ao invés de me chamarem pelo nome, dizem "a portuguesa", o que comprova a postura pejorativa.

Mas não me afecta. É só um facto que quero partilhar e registar. Sei que tenho de enfrentar o que vier pela frente com a mesma postura que tive até agora. Estóica, resistente, a levar porrada de todos os lados e ter de lidar com o cinismo e falsidade. Tudo bem. Os intentos de me colocarem fora daqui é que não lhes vou conceder. Não sem luta. Mesmo sendo uma guerra travada não com balas, mas com cravos. 

Partilho isto por já fazer algum tempo que não actualizava a situação doméstica. Temo que nada mude, porque o trato depreciativo que adoptaram é transmitido de velho inquilino para novo inquilino. E é essa a novidade: Um novo inquilino chegou ontem. 

Não posso já dizer como é o seu carácter mas é cauteloso de minha parte presumir que será como todos têm sido. Existiu apenas uma coisa que me fez lembrar por demais "o que saiu" e enviou-me uma vibração de alarme. Ele entrou em casa e ao me ver diz:
-"Não vais trabalhar hoje?"

Arrepios... Fez por demais lembrar o outro. 
Foi a única interacção por iniciativa própria que ele se prestou a ter comigo, no início, antes de cessar qualquer comunicação: "Vais trabalhar hoje? Vais trabalhar hoje??"

Até arrepia! Existe lá maneira mais camuflada para sondar uma coisa, fingindo que é outra? Não é preciso uma mente muito inteligente para o perceber.

O novo inquilino trouxe dois amigos para o ajudarem na mudança. Mas eu não soube, até eles passarem pela porta e se apresentarem como tal. E o que é que a rapariga me pergunta? Isto:
-"Não vais trabalhar hoje?".

Sem os conhecer - nem os nomes fiquei a saber, a primeira informação que quiseram sacar de mim foi os horários de trabalho. 

Irra! Tanta insistência transmite a sensação de que pretendem algo e não me querem por perto. O ambiente vai ser sempre assim na casa onde vivo? Vou continuar a sentir-me uma indesejada? Este rapaz acaba de chegar. Só o cumprimentei e dei-lhe umas dicas. Percebi que é vivido, sabido e esperto. Capaz de ser tão cínico ou fingido como os que já cá estão. Ele sai e quando retorna, ao me ver em roupa de estar por casa dispara a questão "não vais trabalhar hoje?"

Mais um que mal pisa este chão, se sente tão seguro, tão no seu direito, como se já cá vivesse há anos. Porque é imediatamente integrado, de uma forma que eu não fui, não sou, nem serei. Sendo a origem desse facto xenofobia disfarçada, não é situação que me aflija. Porque, claramente, não ser integrada não é realidade de responsabilidade minha, fruto de acções erradas, mal intencionadas, infelizes. Não fui cínica, nem falsa, nem mentirosa. Não excluí ninguém da minha companhia e afecto. Muito pelo contrário. Estes comportamentos partiram todos deles. Isso me conforta. 




quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Que nome dariam ao poema?

Sugestões:
                                                                lágrima

1) - "A Lágrima" - Ana
2) - "Lágrima sentida ou Quando o coração chora" - Elvira (eterna poetisa)


Concordei também com o comentário do Joaquim Rosário. O nome está sempre lá, no poema.
Aquele que lhe dei, ou que ele próprio se dá. Deixei-o aqui escrito com sumo de limão. Basta aproximar do calor e encontram-no.





terça-feira, 26 de novembro de 2019

Poema que não rima e não tem nome mas todos conhecem bem


Olhos tristes.
Vontade lânguida.
Ainda me é fácil deixá-los encher de água.
Que teima a cair.
Tristeza habita no meu olhar.
Bem que gostaria que assim não fosse, mas meu olhar se recusa a trair meu coração.

Vontade para as coisas, não tenho.
Ou tenho pouca, momentânea.
Preciso de as fazer - as coisas.
Mas elas não são feitas.
E quero fazê-las.
Mas elas não são feitas.
E quero parar de estar assim.
Mas nada acontece.

É patético - tento convencer-me.
É perda de tempo - tento convencer-me.
É ridículo.
Tento que as palavras me tragam alento ao coração.
E me tirem de vez desta situação.
É inútil.

Perdi a dor do desejo.
Ajudou.
Mas não perdi o resto da dor.
O que não ajuda em nada.

E cá está ela, a lágrima...


segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Comunicação através de flores



Plantei-as há meses no jardim. Sobreviveram ao frio, à chuva, ao sol, continuando vivaças e brancas. Até a semana passada. Até aquele dia em que senti que algo havia mudado na minha condição de sofredora por amor. 

As begonias brancas morreram todas. 


Há quase três meses, escondida a um canto, plantei um rebento sem raiz que havia sido cortado pelo descuidado do senhorio ao limpar o jardim. E pedi. Pedi para o esquecer e que o sinal fosse aquela flor morrer.

Sem raiz, com o pé enfiado num pedaço de algodão manchado, pensei que era certeiro: a flor ia murchar, morrer. Era uma questão de dias, senão, horas.


Só que não. Manteve-se tão roliça e vistosa como as outras com raiz. Três meses! Por vezes ia lá ao canto, remover as folhas caídas e espreitar, desejando encontrá-la seca, extinta. Sinal de que o meu sofrimento ia ter um fim. 

E encontrava-a bela, branca, vistosa.

Morreram todas a semana passada, durante a noite.

RIP.


PS: Decidi investigar o significado da Begónia. Heis o que encontrei:
A flor da begônia significa felicidade, delicadeza e cordialidade, é também indicada para namorados apaixonados, já que estão associadas à inocência e à lealdade do verdadeiro amor. Relativamente ao Feng Shui, a begônia é um símbolo de fertilidade.
(A variedade mais conhecida da begónia é “begónia sempre-florida” (begonia semperflorens) que tem a característica de florescer durante todo o ano).

domingo, 24 de novembro de 2019

Garanto que vai assistir o tempo todo de boca aberta


Passei uma delícia de noite a escutar grandes composições de música clássica. E depois encontrei este vídeo intitulado as 10 peças para piano mais difíceis de tocar. É de ficar de boca aberta!! Vejam.

Na descrição, o pianista diz que não é bem esta a lista de composições mais difíceis, existem outras, mas que o youtube embirra com algumas e por isso teve de selecionar as 10 mais difíceis que o youtube não vai apagar (ahah). 

Vale a pena seguir os links das 10 realmente mais difíceis e ler, gargalhar mesmo, com os comentários nesta que é apontada como a composição impossível de tocar de Beethoven: Hammerklavier. A secção de comentários é hilária, eheh



Gosta de melodias clássicas? Qual a sua favorita, a que mexe mais consigo, o compositor clássico que prefere? Quais as composições mais recentes, geralmente para banda sonoras de filmes, considera que deve constar no mesmo patamar que estas maravilhosas composições? 

Já agora, porque acidentalmente coloquei a tocar, escutem aqui esta voz a dar palavra a uma das mais tocantes melodias compostas por Chopin. 

sábado, 23 de novembro de 2019

Musicoterapia da Semana

Como mencionei anteriormente, descobri que costumo cantarolar e que a música é terapêutica. Não sou muito de escuta música amiúde, mas tenho sempre umas músicas ou refrões a passar na cabeça, como uma espécie de playlist diária automática. Decidi registar estes eventos e anotar quais as músicas que me vêm à cabeça por puro acaso e a ordem de chegada. Curiosos? Aqui fica a playlist da semana.

Playlist de Sábado:


1) Nella Fantasia - Ennio Morricone /Nathan Pacheco

2) Linger - The Cranberries
3) Feel - Robbie Williams

Playlist de Sexta-feira:

1) Ha, ha, ha minha machadinha - Cantiga Popular

(autor desconhecido)
2) Somebody That I Used To Know - Gotye

3) Frozen - Maddona 

4) Yes - Tim Moore 
5) Baby Can I Hold You Tracy Chapman 


Playlist de quinta-feira:

1) Ó Abre Alas - Chiquinha Gonzaga
2) Conquistador - Da Vinci
3) Depois - Mariza Monte
4) Valsa do Desejo - Simone

Playlist de quarta-feira:

1) Busy (For Me) - Aurea 
2) Quem de Nós Dois - Paulo Gonzo e Ana Carolina
3) O Teu Nome - Miguel Gameiro feat Mariza 
4) Homem do Leme - Xutos e Pontapés


Qual a sua favorita?


sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Terei ficado curada?


Sinto-me diferente. Curada, ouso arriscar.
Refeita de uma paixonite que só ficou mais intensa devido ao corte radical da qual foi vítima. Algo em mim sabia disto, mas de nada adiantou para diminuir o sofrimento. Ao contrário: o que fez foi aumentar o desejo, a paixão, a saudade. (A falta de diálogo só causa males).

Ao final de três torturosos e sofridos meses, não existiu qualquer alteração no meu estado. Continuava igual: a sofrer, a ter o pensamento constantemente na pessoa, em dor! Dor... que não havia forma de acabar. Estava a sentir desespero! Afastei-me do país, ajudou um pouco mas, ao regressar, foi como se tudo tivesse sido ontem, foi avassalador. Todas as emoções regressaram, as lembranças, a necessidade. 

Mezinhas, orações, igrejas... tanta coisa fiz. Nada surtiu efeito, nada apagou a dor ou sequer a suavizou. Pareceu maldição. Arranjo. Não será o gostar de alguém isso mesmo?

Até que, em angústia, apelei pela primeira vez a pessoas queridas que já não estão entre nós. Sentindo tanta dor, pedi para que me ajudassem. Que a tirassem de mim, que mo fizessem esquecer caso não pudesse voltar a lhe falar. Ao menos que me dessem amnésia selectiva, para o apagar da memória!


Acho que me ouviram. Quando cheguei a casa, estava melhor. E diferente, com uma sensação menos dolosa. Mas esperei uma semana, só para ter certeza que esta nova sensação não era um acaso e dela não devia reter muita esperança. Uma semana depois, ainda a pensar nele, mas algo diferente. Já conseguia libertar-me. Porém, ainda teimava: queria falar-lhe.

Voltei a apelar aos meus auxiliares, que se compadeceram daquela dor dilacerante, mordaz. Mas não creio que aqui vão actuar. Existe algo, que eu só sinto pela intuição, que não quer que isso aconteça. Não sei para proteger quem: se eu, se ele. A ausência de uma conversa é o que magoou. Preciso disso. Para seguir em frente. E pedi para que isso me fosse concedido. Como aliás, pedi tantas outras vezes. Mas não sinto que aconteça. Continuo a intuir que nunca mais o vou ver na vida. E tenho essa sensação desde o corte.

Quarta-feira à noite, lembrei-me de ir ver fotografias dele mantidas no telemóvel. Não fazia isso há que tempos! Lá estava o seu rosto. Um rosto tão... de rapaz. E voltei a não sentir nada que não um afecto quase maternal por ele. Não fez sentido para mim que pudesse fazer sentido para ele que nós os dois fazíamos sentido. Não por este prisma mas, no calor do desejo, disso não quis saber. O que senti ao ver a sua foto - a tal da qual não gosto - foi um carinho de pessoa que gosta e quer cuidar. Mas não de pessoa que deseja. Que era o que vinha a sentir e de que maneira! Voltei ao início, à emoção inicial, caridosa, de quem se preocupa e quer o bem. 

Fui ver outra fotografia, que tirei em grupo, ainda ele não me dizia nada. Ao seu lado está uma rapariga jovem, bem bonita. E pensei cá comigo: "Combinam tão bem!".

Isto não é pensamento de quem ainda sente paixão!
É? De alguma forma torturosa?

Faz sentido vê-lo ao lado de uma miúda tão jovem quanto o é ele. Não comigo. Embora fosse comigo que ele quis estar, disso não tenho dúvida alguma. Foi essa possibilidade parecer tão remota, tão inconcebível, tanto pela idade quanto principalmente, pela minha convicção e decisão de que tais coisas estavam fora de coagitação na minha vida, que fez com que levasse mais tempo a perceber onde estavam as minhas autênticas emoções: desejava-o. Mas na minha mente, isso não era possível. Já havia cortado essa eventualidade fazia muito tempo. Até que me bateu forte como uma tonelada de tijolos em cima.

Ah,ah,ah,
Nunca, mas NUNCA se diga: "desta água não beberei".
Nunca.


SIM, gosto dele. Irei sempre sentir um carinho especial por aquela pessoa. Mas o milagre que pedi acho que veio a concretizar-se. "Apagou-se" de mim o desejo, a "doença" da paixão e voltei a ficar "normal". A que gosta, cuida, quer bem, quer ajudar. Sem passar a linha que separa "uma coisa da outra".

(Não sei é se o "normal" é agora o que quero para mim. A solidão dói e amar sabe bem).

Quero-lhe bem. Gostava de estar por perto para ver como a sua vida vai rumar. Vejo tanto potencial nele. Tanta coisa que ele não vê em si mesmo. Se souberem como lho mostrar, vai ter uma vida melhor do que a profetiza para si. Vejo-o pai, a descobrir emoções que hoje jura a pés juntos não vir a ter nem desejar. Talvez me reveja a mim mesma quando mais nova: perdida, a necessitar de um guia, um mestre. Que nunca apareceu. Espero que ele rume por direcções certas e não perca muito tempo a rumar por caminhos sem saída... Cortar comigo e com todos com quem falha em comunicar já é, nesse sentido, um bom sinal. Sinal de que se coloca a si mesmo em primeiro lugar, priorizando as suas vontades e "cagando" na dos outros. Tem é de aprender a fazer isto com classe, respeito, caridade. Sem intencionalmente ferir e deixar tudo devastado atrás de si. Desejo verdadeiramente que ter-me conhecido tenha-lhe servido para um bem melhor. Para procurar para si um objectivo de vida, um rumo mais definido e que tenha aprendido a acreditar mais em si e no afecto que pode despertar nos outros. 


Pena é que, não sendo a primeira pessoa a quem ajudo, parece que todos, para serem ajudados, precisam de me deixar pisada, esmagada, ferida. Essa é a parte lamentável e que, sem dúvida, tenho de aprender a não deixar acontecer. Para "dar" boas energias a alguém, não devia no processo arrasar com as minhas.

Sejam felizes.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Saiu como um rato e à francesa


O rapaz já foi embora. Sorrateiramente, como sempre foi a sua postura. 
Toda a gente que é normal, quando muda de casa, enche caixas, faz barulho, arma confusão. Ele não. Tal era a vontade de o fazer sem eu dar conta, escutei-o em ruídos contínuos, em acções quando virei as costas, tirou tudo da dispensa da cozinha sem eu dar conta, tudo do quarto sem se notar, etc. Por mais que eu queira, tanta vez, ir à cozinha buscar algo no frigorífico sem ninguém notar, raras vezes sou agraciada com essa sorte. Não dá. Há sempre alguém a cuscar. Alguém na espreita. 

Ele conseguiu remover até todos os produtos do WC sem que fosse perceptível. E eu sou a única que nada guarda dentro dessa divisão! Devia ser a única capaz dessa destreza impressionante mas não sou. Nem quando fui de férias uma semana sem avisar fui capaz de o fazer sem que a minha ausência fosse quase de imediato detectada. 

As gravações que deixei na box intencionalmente cheia, foram todas apagadas em menos de 24h da minha partida. Fui verificar há poucos dias. Quarta vez consecutiva que isso acontece. Maus hábitos não morrem nunca. E aquela tipa não consegue deixar de os ter. 

Estou aqui há semanas a tentar ter tempo só para mim para poder começar a tirar coisas do quarto - que vai ser alvo de uma expansão daqui a menos de um mês - e não tenho como! Há sempre alguém por perto, sempre alguém no caminho a querer passar ou a observar um movimento por menor que seja. 

O senhorio também anda estranhamente desaparecido. 

Nem apareceu para verificar o estado do quarto ao ser abandonado. Coisa que sempre fez!!
Tal é a confiança (cega) que deposita no rapaz.

Um controlador de primeira que sempre necessitou de ditar quem vinha morar para a casa. Até escolheu o seu substituto. 


E é assim. 
Uns conseguem, outros não. 


Musicoterapia e o além


Este post é longo. Mas leiam até ao fim Sff.

Nos posts anteriores dei dicas de como recuperar de um intenso sofrimento amoroso e falei do quanto ainda tenho o pensamento dominado por lembranças e desejos. O que não sabem é que a ordem de publicação está inversa. Primeiro escrevi o texto sobre a recuperação. Depois, aquele em que menciono o quanto ainda penso no "gajo". 

Pode parecer que um anula o outro, mas não. Creio que esta "bipolaridade" emocional faz parte do processo. Há momentos esperançosos em que se está para cima e momentos de recaídas. 

Vim aqui escrever sobre um dos momentos "up!".
Estranhamente, surgiu na tarde de uma manhã devastadora: Terça-feira. 
(este post será publicado mais tarde para não existir demasiada quantidade diária).


Nessa manhã fui trabalhar de madrugada e durante o turno foi difícil não ter o pensamento invadido por ele. Senti imenso a sua falta. Fiquei em baixo, sem energias para dedicar a outra coisa. Às seis da manhã, fui para casa, comi e dormi quatro horas, acordando pelo meio umas seis vezes. Ao despertar de vez, o pensamento e o sentimento ainda estavam fixados nele. Dou por mim a desejar tanto lhe falar, que decido apelar à oração aos "dois que partiram". Não querendo abusar, que estas coisas não são para ser usadas amiúde. Mas tinha de suplicar para o voltar a ter à minha frente, para podermos falar. Então Pedi... pedi-lhe

O que também não sabem é que algo no meu instinto está a dizer-me que existe uma razão desconhecida que não quer que isto aconteça. Daí nenhuma oração ou desejo resultar. Ainda não entendi o motivo, ou a lição. Por isso apelei a quem acho que podia conceder-me essa graça. Ficaria tão grata pela oportunidade! O ter ou não um envolvimento com ele já não está em causa. O que me faz falta é entender o que se passou. Porquê passar por todo este sofrimento? A ausência de uma conversa de esclarecimento que tudo podia evitar? O que lhe deu? Por isso pedi. Com jeitinho, a "ela". 

Depois decidi cumprir com o que havia dito a mim mesma que ia fazer durante a tarde: sair de casa. Mesmo não tendo uma razão para tal. Foi um esforço, para ver se encontro outra coisa que me ocupe a mente. Talvez pudesse esbarrar com ele... Não é uma coisa tão patética? O gajo sabe onde moro, tem o meu número de telefone e o meu email! Só não contacta porque não quer. Ainda assim, aposto que todos nesta situação pensam o mesmo.

Senti-me deprimida na loja onde entrei. As decorações de Natal.. tudo parece-me sombrio. Não me apetece o Natal... e é talvez a primeira vez na vida que não o sinto como habitualmente. E nada tem a ver com o "gajo", mas com a força bruta e consumista com que o comércio usa a quadra religiosa para impingir produtos e por terem-no feito ainda no verão. Desejo que ele tenha um feliz natal, mesmo tendo-me dito que odeia a quadra e detesta estar com a sua família, preferindo não o fazer. Como será que se está a preparar para a ocasião? Terá agendado uma viagem para fugir?

Ver prateleiras com produtos não surtiu qualquer efeito. Toda a pressão para nos tornarmos pessoas consumistas de bens inúteis causa-me cada vez mais asco. Ainda assim decidi esforçar-me para não me enfiar novamente em casa e fui para a paragem de autocarro, rumo a um supermercado que fica noutra localidade. (Quem sabe o encontrasse lá?). Foi outra decepção. Nada me distraiu. Ele e a dor estavam a ocupar cada vez mais espaço no meu ser, como uma bola a ser insuflada... Foi então que escutei o telemóvel tocar. Chamada não identificada. Atendo. É da agência de emprego, a disponibilizar um turno de trabalho às seis da tarde. "Do you whant it?" - perguntou-me a voz masculina. -"Yes, I'll do it". 

Ao desligar a chamada, olhei para o céu, soltei um suspiro profundo e agradeci por ter algo com que ocupar-me. Não teria de passar o resto do dia somente à mercê do tempo livre e das emoções. 

Fui para casa, para descansar um pouco antes de rumar ao segundo turno de trabalho. Foi a primeira vez que me pediram, no mesmo dia, para ir trabalhar no mesmo local. Fiquei verdadeiramente grata e contente.

Chegada a casa tenho a sensação de estar melhor. Menos pesada com pensamentos dolosos. O facto de me saber necessária e ter de ir trabalhar faz-me bem. Ligo o computador e, quando dou por mim estou a cantar. A cantar e a trabalhar no computador. Canto em voz alta uma música inteira três vezes, até que dou conta o quão inusitado é AQUELA melodia. De onde terá surgido? Porque surgiu na minha cabeça? Deu-me prazer cantá-la, fez-me sentir bem. Mas ninguém canta aquilo. Só em ocasiões solenes. Achei intrigante, mas relevei.


Minutos depois, estava a sorrir. É que estabeleci a ligação. Lembrei-me. Algo que já não lembrava e dificilmente ia relacionar uma coisa com a outra. A pessoa a quem mais cedo "orei", pedindo para que providenciasse um encontro entre mim e ele, estava a cantar esta mesma canção antes de falecer. Foi o último som que emitiu em vida, a sua despedida. Não é espantoso?!?

Coincidência? Não creio. É uma das formas de comunicação a que temos de estar atentos. Talvez quisesse dizer que este amor tem de morrer... que não mo vai trazer porque não é suposto. Sei lá... Digo eu. Só sei que comecei a sentir-me melhor. Passei um batom dourado nos lábios e um lápis castanho nos olhos, ambos "mal dá para ver". Pela altura de sair de casa, estava a sorrir (sem sofrer)

Não deixei de pensar na bipolaridade disto tudo...  Estou de rastos, estou a rir.... Como??

A música continuou a acompanhar-me no percurso até o emprego. Fui ouvindo-a através dos phones pela rua e estava a fazer-me bem. Mas certeza mesmo só tive quando saí do autocarro e comecei a cantarolar e a abanar o "capacete" ao som do Efectivamente, do Rui Reininho. Até dei umas risadinhas com partes como "Cágados de pernas pró ar". 


Uma letra que não faz nenhuma referência a amores ou desamores. Um factor raro, cuja importância mencionei no texto com dicas para recuperar de um intenso desgosto amoroso. Todas as músicas ao acaso que surgiram daí adiante na playlist, tiveram essa particularidade de não falarem de amor.  António Variações com o seu "O Corpo é que Paga" a dizer que a cabeça precisa ter juízo, seguido de melodias sem qualquer letra - que referi serem importantes para ajudar a curar um desamor. 

Durante o trabalho não desliguei os phones e continuei a cantarolar as músicas que escutava. Cantei, gesticulei... ajudou-me a trabalhar mais focada e bem disposta. Mostrei-me mais eficiente, mais segura do que fazia, atenta, prestativa, bem humorada e sem hesitações. Uma grande diferença de pessoa em relação ao turno da madrugada. 

Contudo, existiu uma peculiaridade, peculiaridade essa que há muito tem vindo a incomodar. Todos me perguntaram se estava a sentir-me bem. Assim, de "tiro". Finalmente sinto-me verdadeiramente bem disposta, leve, livre do sufocante amor ferido a dominar-me o pensamento e à minha volta mencionam que aparento estar cansada ou triste. Fui metralhada com: "Estás bem? Tudo bem contigo?". "Pareces cansada... o teu rosto....".

Que onda...! A sério. Tenho mesmo de investir na minha aparência. Foi um dos motivos que me levou a agir (além do principal). Estar farta e desgostosa de escutar regularmente estes comentários. Principalmente porque parecem aumentar quando me sinto bem, não o contrário.

Será que os sinais de sofrimento têm efeitos retardados? Chegam ao rosto depois do seu pico? É que estava a sentir-me realmente bem. Como tal, achei que só podia estar radiante. Mas pelos vistos não. Ou foi o cansaço que realmente surgiu no rosto, ou então a minha falta de talento para a maquilhagem foi responsável pelos "olhos inchados" - como me disseram. (E nesse dia nem chorei!).


É uma droga... a idade. Os sinais de envelhecimento. A falta de mais horas de sono. Quando estou tão mal que penso em terminar com tudo, sou até capaz de receber elogios e galanteios. Ou fico sexy nestas alturas depré ou andam aqui fios cruzados,  Kkkkk.

Ao longo do dia daí para adiante, tenho estado a cantarolar. (escrevo terça-feira, depois do segundo turno). Espanta-me o tipo de músicas que me vêm à cabeça. São muito inusitadas! Devem vir de algum lugar... Melodias infantis que agora não recordo quais, cantares populares e também esta marchinha aqui:


Serei eu? 
Será ela?
Musicoterapia no seu maior!


PS: Amanhã um novo e surpreendente post sobre a evolução desta coisa...  Mas não tema! O blogue não será só sobre isto. É sobre a vida. E, neste momento, a minha está nesta fase. Sejam felizes!