sábado, 12 de abril de 2025

lua Rosa (a menor de 2025)

 

Hoje de madrugada, ao sair do emprego, notei que a lua estava  brilhante e redonda no céu. 

Tirei uma fotografia e achei piada. 

Parece mais um foco de luz no alinhamento visual dos postes de iluminação à beira da estrada. Mas este "globo" brilhante não era, de todo, artificial.

Li agora que esta lua de hoje é especial. Chama-se Lua Rosa - não que a cor mude. Mas seria giro se fosse esse o motivo.




terça-feira, 8 de abril de 2025

Reflexões instantâneas - 02

 

Como pude me desviar tanto da rota?

Podia fazer parte daqueles 10% e fui parar no lado dos 90%.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Dia começa em solidão mas termina com 😂

 

No meu dia sem ir trabalhar, sentia-me um tanto em solidao. Saí de casa porque tinha de ir levantar os óculos com a nova graduacao. Já nao leio livros como fiz a vida inteira e acho que parte disso ter acontecido se deve a ter deixado de conseguir ver nitidamente ao perto. Nao quero acabar por agir igual a minha mae que desiste com repudio e desdem de tudo o que sabe fazer bem, assim que lhe aparece o primeiro contratempo.

Levantei os óculos, satisfeita por ter investido na qualidade e profissionalismo de um oftalmologista ao inves de ter ficado com os oculos de ver ao longe que ja tinha e complementar com uns outros para leitura com variada graduação que se vendem ao desbarato em todo o tipo de lojas. Sao uma tentacao: baratos e com grande variedade de armacoes. Mas a saude merece qualidade. Foi a opcao que tomei.

Á saída, decidi ir comprar leite numa loja que tem uns pacotes de longa duracao dos quais gosto e confio. Nao havia em stock então decidi  espreitar a minha secao favorita daquela loja: a da eletronica e eletrodomésticos. 

Pelo caminho passei pela dos pets - pois agora existe um cao na familia e acabo por nao resistir em ir espreitar os tipos de alimentos que existem para o jovem canídeo. Passo pela secao de casa... e é onde me perco.

 Coisas lindas, a combinar, com motivo e em conta. Fiquei ali a namorar e a escolher quais colocar no cesto. No intuito de as oferecer a alguem. Porque compro muita coisa que gosto para oferecer. Fico a olhar o que combina com quem e a pensar quem iria gostar de os receber. E compro.

Uma mulher aproxima-se e logo me diz: "que coisas lindas! Dá vontade de comprar tudo nao é?" Respondo que dá vontade de comprar uma nova casa só para a decorar com novas coisas".

Saio dali maioritariamente com umas velas em formatos originais em vidro, que depois de usadas tem serventia como caixinhas e copos. Um amor! Tambem trouxe uma pequena lancheira em formato de morango, ideal para guardar frutas e as transportar para o emprego etc. Isto a pensar numa pessoa doida por morangos. A pensar nela tambem trouxe um ambientador de varetas com um morango em louça. 

Para mim só comprei chocolate e bolachas. 

Para minha surpresa deixei na caixa registadora mais de 20 libras. Mas valeu a pena. Saí feliz. 

Tinha de ir ao wc do shopping, que fica no piso inferior. Visto que as escadas rolantes e o elevador ficam longe, decido cortar caminho usando as escadas rolantes da Primark, loja de dois andares. Entrei e acabei por espreitar o que tinham. Uma variedade de óculos para o sol impressionante chamou a minha atenção. Tive de os ir ver. Acabei por escolher uns enormes mas as opções eram variadas e originais.

 Gostei bastante do que lá encontrei. Depois avistei pelo canto do olho velas... em formato de fruto. Não resisti! Tive de ir ver. Acabei por trazer velas normais, por o perfume parecer agradável. Trouxe tambem uns paus ambientadores de baunilha negra... que achei soltarem um aroma delicioso.

O curioso sobre mim é que estou SEMPRE a comprar destas coisas, principalmente velas. Mas usar... usei uma vez uma pequena vela de aroma a morango faz uns 4 anos. E ainda é essa a vela que ocasionalmente acendo para aromatizar o quarto. Deixo ficar pouco tempo e apago, por já nao gostar de a cheirar.

Uso muito mais paus de incenso. Mas tambem esses comprei-os faz muito tempo e me duram decadas. Adoro os colocar nas gavetas com roupa, pois as perfuma. Ultimamente, antes de entrar no duche, é algo relaxante que, se vivesse sozinha, faria mais vezes.

Mas voltando ao esbanjamento de dinheiro em coisinhas bonitinhas que se vem nas lojas... é primavera. Ou quase. Acho que isso nos entusiasma a ser mais maos largas e a gastar mais. No final do ano tudo fica tao mais caro que uma pessoa, junto com a escuridao do inverno, desanima. Ate os produtos que as lojas colocam a vender sao sem animo. Parecem restos de colecao, em cores deprimentes e sem originalidade.


Escolhidos mais itens, dirijo-me para a fila para pagar, que era enorme. Há minha frente encontra-se uma mulher com um carrinho de bebe. Demora-se a avançar na fila e eis que surge uma outra que se mete na frente, como que a fingir que era ali o fim.

Digo-lhe que não foi rápida o suficiente e, sem mais nada, começamos a conversar. Uma moça simpática e bem disposta, que não resistiu, tal como eu, as tentações das compras mas estava receosa  que a sua "pequena aventura" a deixasse em problemas com o marido e a mãe, que eram da opinião que não era preciso comprar mais nada.

 Compreensivelmente qualquer futura mãe de uma menina que entre numa loja cheia de coisas fofas e bonitas, é incapaz de resistir à compra de algo lindo na qual já imagina a criança. Entendi-a perfeitamente e demonstrei que, na minha perspectiva, era só dinheiro... este vai e volta. Comprar de vez em quando aquilo nos deixa feliz, com um sorriso no rosto, não ha mal algum nisso.

Conheci a Charlote, talvez antes de outros saberem que este ia ser o seu nome. Daqui a uns meses ia estar aqui, connosco, uma nova vida, linda, já com um irmão dois anos mais velho.

Depois fui comprar Frango frito para almoçar e as pessoas atrás do balcão fizeram-me perguntas pessoais e foram muito interessadas e simpáticas.

E assim, num dia que começou com uma sensação de isolamento e solidão, acabei por experienciar a simpatia e amizade de estranhos.



 






nova prescricao de oculos

sexta-feira, 14 de março de 2025

Ácido Hialuronico - Onde ir?

 Uma pesquisa exaustiva para encontrar onde aplicar Ácido Hialuronico deixa-me sempre exausta e sem encontrada uma solução. Por isso pergunto: quem aí já se sujeitou a essa intervenção e onde a fez? Incluiu outros procedimentos? O que achou do resultado, qual a sensação? Existiram consequências?



Acho muito ruim que a comunidade Médica em Portugal não consiga por ordem na desordem que são os procedimentos estéticos em Portugal. Cair em mãos erradas não é uma probabilidade baixa. 

Fiarmo-nos no que a Internet diz sobre um médico ou instituição é um erro crasso. Institutos criados há um ano com 100% de boas críticas no google - embora só se consigam ler umas dez, é comum e é, a meu ver, um sinal de alerta VERMELHO. Também é preciso perceber no quê esses elogios se referem - não vá ser à parte de... cabeleireiro. Elogios rasgados dos próprios doutores a si mesmos e um curriculo demasiado bom para ser verdade e muito conveniente, reforça a bandeira vermelha. Ou não? 

Devia ser a ERS (Entidade Reguladora de Saúde), a Ordem dos Médicos, ou outra mais específica, como a Sociedade de Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética a EXPLICAR claramente quais os sinais que devem estar presentes para garantir uma intervenção nas mãos de alguém qualificado e facultar meios para qualquer cidadão ficar bem informado. 

Pelo que entendi da pesquisa, em Portugal só um médico pode fazer injeções de "botox". Em países com o Brasil, um técnico de estética pode fazer o mesmo. Assim, alguns esteticistas brasileiros ao chegar a Portugal vêm-se impedidos de ganhar dinheiro com esta especialidade. Só um médico pode aplicar Ácido Hialurónico. INFELIZMENTE isso não é GARANTIA de segurança. Pois um médico pediatra pode fazer o mesmo. Não deve, mas pode, com base no facto de ser médico, embora não necessariamente tenha formação adequada. E quantos não andam por aí na Internet a exibir um currículo de "três meses num curso disto e um mês do curso daquilo?". 

São preciso um mínimo de SEIS ANOS de prática em Cirurgia Estética em Portugal para se considerar apto. Para procedimentos estéticos não cirúrgicos, como o "botox", não sei. E não é só A PESSOA que faz o procedimento que nos deve preocupar. É também a QUALIDADE do produto injetado. 

Será que é mesmo aquilo que é dito? E se sim, qual a qualidade? Muitos "self-employed", alguns médicos a trabalhar por conta própria, devem de precisar encomendar o produto de algum local. E para maximizar o lucro, têm de cobrar o dobro e comprar barato. Será que compram substâncias no mercado negro chinês?

A entidade de Saúde devia impor regras específicas, pois esta área tende somente a crescer. MUITAS PESSOAS DESLOCAM-SE AO EXTERIOR para fazer intervenções cirúrgicas de grande complexidade - uma mummy makeover total. Removem gordura de todo o corpo, adelgam a cintura, mudam o rosto... são cirurgias de elevado risco. Dispendiosas em Portugal e outros países desenvolvidos, pela metade do preço em países com o Brasil ou a Tunísia. 


Recebi uns contactos de clínicas em ambos os países e, de facto, o valor cobrado por muitas intervenções é bem acessível. O feedback de que recorreu às clínicas, super positivo. E isso CONTA MUITO. 
Em Portugal, o "feedback" surgem nas revistas cor-de-rosa, vem de indivíduos dúbios, que só podem falar bem porque recebem cirurgias de graça em troca de as publicitar. Não é garantia de NADA. 

Estes procedimentos só tendem a ter uma procura aumentada. Qualquer pessoa hoje em dia, o porteiro da discoteca, o rapaz estudante, a empregada de limpeza, a professora - qualquer pessoa, hoje em dia, recorre a estes procediementos para melhorarem algo em si. Para se sentirem melhor. Devia estar bem seguro. Em países que oferecem estas intervenções por 1/3 do que se cobra em Portugal, se bem escolhido, pode-se, de facto, encontrar bons profissionais. O risco é tão elevado quanto é... em Portugal. Mas o preço, tão acessível!! 
  

Quem desse lado já fez qualquer intervenção estético-cirúrgica plástica, pode partilhar a experiência nos comentários?


terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Quem entende alemão? Sabe o que é isto? (série: Na primeira pessoa)

 

Um excerto de um relatório em que um funcionário esta a tentar mostrar ao patrão o elevado número de eficiência. Aposto que até existia COMPETIÇÃO entre colegas, para ver quem apresentava o número mais elevado e assim cair nas boas graças dos seus superiores. Quem sabe, inclusive, ser distinguido e ter a honra de ir conhecer o seu chefe à sua casa, para receber os parabéns por um trabalho bem feito.

Total numérico: noventa e um mil, seiscentos e setenta e oito "unidades". 

Só que isto não é sobre a compra de produtos e mercadorias para aumentar os lucros de um negócio. Embora fosse assim que foi encarado. 

Nós podemos apenas IMAGINAR o que foi. Outros, SABEM o que foi. Não porque herdaram as palavras de quem o viveu. Mas porque o VIVERAM REALMENTE. Vejam de seguida, pois vale sempre a pena. Na primeira pessoa.  



segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

A borboleta dos descontos

 Fui às compras e acabei por trazer uma série de alimentos com desconto. Aqueles cujo prazo de validade expira nesse dia e por isso o valor é reduzido para ver se o cliente pega.

No total paguei um valor que achei curioso. Porque nunca na vida surge um valor cujo total, em euros e em cêntimos é todo feito com um número. Neste caso foi o n. 1.

Desde o tempo antes do COVID que não via descontos tão razoáveis. Costumava-se encontrar carnes a 50 cêntimos, legumes a 30, e refeições pré preparadas a 0.25 cêntimos a unidade.

Isto fazia com que certas pessoas corressem todos os supermercados e até fizessem compras em grupo para assim apanharem tudo. 

Era uma vergonha - a meu ver. Podiam até levar uma boa quantidade de artigos a preços reduzidos. Afinal, um saco enorme de pão de forma a custar 0.15 cêntimos é uma tentação. Entendo. E até compraria dois ou três, congelava um e ia comendo.

Mas haviam pessoas que levavam um carrinho de compras daqueles fundos e enviavam dezenas de embalagens de pão. Deixando quase nada ou nada para os restantes. Eram sempre os mesmos rostos, a rondar a área das promoções, a ficar horas dentro do supermercado de cesto ou carrinhos vazios, a posicionaram-se pelo momento da chegada dos preços reduzidos. 

Depois do COVID surgiu o aumento dos preços e subitamente *deixou* de haver produtos tão reduzidos nos supermercados. Apenas cerca de 10% mais baratos - o que, para artigos que estão expirados é um valor bem caro. Quem quer uma pizza expirada a 2.99 quando o valor de outra idêntica e ainda no prazo de validade deve rondar os 3.49?

O que eu gostei quando percebi que todos aqueles rostos oportunistas desapareceram de vez!!

Foram anos e anos sempre a bater com as suas caras no supermercado. Todos a aclamar que eram decentes, que eram os outros que não sabiam ter maneiras e levavam tudo das prateleiras.

Assim que os preços dos descontos subiram apenas 0.50 cêntimos, e uma embalagem de comida pré preparada passou a custar 1.20 ao invés de 0.25 ou 0.50  - a turma dos cêntimos desapareceu. Cheguei a escutar uns dizerem que estava muito caro. Que 1 libra já era muito. 

E desapareceram totalmente. É que nem se vêm ocasionalmente a fazer compras. Eles não compravam. Eu comprava outros artigos sem ser os promocionais. Considerava-me cliente. Não me sentiria bem se dali só levasse as coisas em promoção e não comprasse outras.

Eles eram as ratazanas dos cêntimos. Vira os artigos a passarem da margem dos 0.50, resmungaram, passaram a levar menos e desapareceram, queixando-se que saia caro. Aleluia!

Agora nem a 1.20 se encontra mais. É muito raro.

Esta compra espetacular que fiz não aconteceu no supermercado mas na loja dos "300". A Poundland.

É lá que encontro o gênero de comida fast food que gosto mais. As sandes deles são mais saborosas que as do Asda e mais em conta também.

Hoje acordei bem cedo - involuntariamente - e fui lá espreitar. Decidi trazer em quantidade para durar uns dias - pois passei o fim de semana sem comer nada porque tudo fecha cedo e eu trabalho continuamente e sempre que saio já está tudo fechado. Pelo que, de quinta a domingo... Não tenho hipóteses de entrar num supermercado para comprar seja o que for. Desta vez andei a iogurtes e umas sopas enlatadas. Apeteceu-me tanto umas sandes e bolachas como snack que agora abasteci-me. 

E não trouxe tudo o que estava disponível. Existia cinco ou seis vezes mais do que mostro aqui.


O chato é que cada artigo tem de passar na caixa registadora a preço normal e tem de ser um funcionário a introduzir o desconto. Tudo manual, tudo demorado e tudo muito dependendo de erro. O que quase sempre acontece - para prejuízo do cliente, que paga mais.


Deixo aqui a foto com os preços marcados nas etiquetas mais 4 libras que gastei em gelados. Somando tudo isto dá os acima referidos 11.11?

Claro que não. Paguei 1 libra a mais. O que me chateia não é o valor, pois comprei tudo reduzido, logo não é muito grave. O que me chateia é que já comi uma embalagem dos wraps, quero comer outra (isto não tem nutrientes come-se e fica uma insaciedade) e a libra que me levaram dava para comer outros dois wraps!!😅


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Como as coisas mudam : tirar uma foto

 Lembro-me de fotos tipo passe que tirei na vida. Lembro-me da expressão que tenho nelas, no cabelo. As fotos eram necessárias para a identificação do cartão escolar, do Bilhete de Identidade etc. 

Muitas delas tiradas numa boot telefónica como aquela onde me encontro agora, sentada, a aguardar a chegada de uma amiga que vai demorar. 

Nisto olho para as instruções de como se posicionar para tirar uma foto corretamente e noto as diferenças. As mudanças sociais que tudo transformam até nós menores detalhes.

A primeira coisa que notei foi o dizer: "só uma pessoa na fotografia".

Lembrei-me dos muitos filmes em que um casal feliz de namorados ou de amigos sempre entram nas cabines de fotografia automática para tirarem fotos engraçadas juntos.

Não pode.

Ou melhor: não deve.

Depois diz que não se pode sorrir.

Antigamente até os fotógrafos profissionais nos mandavam sorrir.

Diz também para manter o cabelo atrás das orelhas. Mais uma coisa que antes não fazia diferença e até preferiam ter o cabelo comprido na frente para ficar bonito.

E por último um aviso em letras vermelhas: não use nada a cobrir a cabeça a menos que seja por motivos religiosos ou razões médicas. 


E é isto.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Novo ano chinês: wooden snake em trafagal square

 Trafagal square encheu-se de pessoas para ver o espetáculo que a camara de Londres ou a London Chinatown Association organizou para celebrar o novo ano chinês.

Fui convidada por amigos para ir e lá fui. Mesmo a tempo de abrirem as cancelas e ver a multidão a invadir a praça e a correr para ocupar a escadaria situada diante do improvisado palco.

Também entrei. Assim que me posicionei as duas pessoas mais altas que vi entre a multidão meteram-se descaradamente á minha frente e fincaram pé que nem estátuas. Achei má educação. Haviam outros espaços, elas viram-me e ainda assim posicionaram-se mesmo coladas a mim tapando-me toda a visão. Tive de mudar de lugar, fazendo questão de me posicionar novamente de modo a não incomodar quem estivesse atrás. 

Em poucos minutos conclui que não gostava da nossa posição porque ficamos muito atrás das cabeças de uma enorme multidão e mesmo atrás de um corredor de movimentação de pessoas. É o mesmo que tentar me concentrar num ponto ao longe ou tentar ver um programa de TV mas à entrada do metropolitano: um horror.

 Estava a sentir a cabeça a ficar zonza devido ao constante movimento que meus olhos captavam vindo de todas as direções. Parece magoar a vista e causar dor de cabeça. 

O evento lá começou. Só que não. É que primeiro chamaram ao palco uma série de vips. Cada um fez um discurso que não acrescentava nada ao anterior. Alternados apenas pelos diálogos introducionais de dois apresentadores, que recorriam entre discursos, a adjectivações generalistas, exageradas e ocas de sentido: "obrigada sra. X, por esse discurso Inspirador/Fantástico/maravilhoso"

E a multidão já a vaiar.

 Uma hora depois ainda estavam nisso. A multidão vaiava e o palco parecia ignorar. Quando parecia que iam acabar, voltavam a chamar outro VIP ou liam a carta de um VIP, tal como leram os desejos escritos de Sua Magestade.

Além disso, estar ali de pé quando já fico várias horas de pé no trabalho não fazia sentido para mim. Minhas pernas sentem sensações esquisitas e incomodativas. 

Ficar ali de pé para nada ver, só para ouvir longos e chatos discursos de cada membro envolvido na organização do evento não valia a pena. Ficou claro que o melhor a fazer seria  abandonar o evento e começar o quanto antes o passeio por Londres. Porque o melhor do dia estava a ser o próprio dia. Um dia com sol!

Sol, céu azul, frio mas um dia abençoado por luz. Em Inglaterra isso não dura muito e quase nunca para além do meio dia. E era quase 1 da tarde. 

Os organizadores do evento não eram lá muito inteligentes para achar que podiam manter uma multidão interessada em mais de uma hora de discursos que ultrapassam as horas de almoço, sem sequer mostrar um pouco de entretenimento.

Temi que o frio predominasse, que o sol ficasse encoberto e o passeio que íamos dar pela cidade depois fosse menos agradável.

Mas nada disse aos restantes e deixei que fosse o grupo a decidir quando partir. Para quebrar o tédio avisei que ia ao WC. Esses foram os melhores minutos de tudo aquilo. Sai quando os apresentadores do evento estavam há uns 20 minutos a dizer que iam acordar o dragão 🐲.

Dirigi-me aos lavabos da trafagal square e percebi que existia muita mais espaço livre por ali, mais conforto, muitas pessoas sentadas. Por mim teria procurado melhor posição pois não via nada sem ser cabeças e corpos sempre em movimento. Mas não quis dizer nada ao grupo. Afinal, foi a primeira vez que saí com estas pessoas, elas é que tinham experiência.

Meti-me numa cabine de WC, aliviei-me, abri a mala para beber um gole de água mas acabei por tirar um iogurte. Enchi o estômago de sabor a frutos silvestres... Delícia.

Nem me apetecia voltar. Estava com vontade de explorar a cidade, antes que escurecesse ou o sol perdesse a força do seu calor. Sem muita pressa, lá sai do lavabo, lavei as mãos e voltei a juntar-se ao grupo. O meu consolo estava em achar que, pelo tempo demorado, o tal do dragão já tinha sido acordado. 

Cheguei ao sítio e os colegas tinham avançado para a frente do corredor de tráfego, o que por si me deixou bem aliviada. Quando percebi que ainda não tinham acordado o dragão e iam chamar mais alguém ao palco para discursar fiz o primeiro comentário a respeito: "O quê? Ainda não acordaram o dragão? Quando fui ao WC ja o estavam a acordar". 

- "É por isso que as pessoas acabaram de vaiar. Não ouviste?"

Pouco depois escutou-se um forte e sonoro som de desagrado vindo de parte da multidão: um grande "Vooooo".

Pensava nos ensinamentos daquela situação. Ali estava espelhada o que é, na realidade, a verdadeira e mais forte faceta da China: a burocracia. O mascarar da realidade. Uma multidão descontente e aborrecida e as pessoas no palco a pedir para que gritassem que estavam a gostar. 

Os meios de comunicação que forem informar o que ocorreu no evento vão falar bem de tudo quando na realidade foi tudo muito poucochinho e muito secante.

Fez-me perceber que a China é um país comunista e o que se divulga não é a verdade. 

Percebi que culturalmente dão muita importância a rituais burocráticos de faz-de-conta, mais do que são capazes de honrar o muito anunciado entretenimento que foi o que levou as pessoas até ali. 

Finalmente, com o dragão já acordado e com uns 50 envelopes vermelhos distribuídos aos vips, lá veio o espetáculo de acrobacia, com os artistas enveredando um fato de dragão e a pular de poste em poste.

As pessoas começaram a abandonar o recinto por essa altura. Era quase uma da tarde.

Esperamos para ver se existia outro ato artístico mas como foram para INTERVALO.... Nós e muitos outros fomos embora.

Achei aquilo mal organizado porque faltou a todos a percepção do que é entretenimento. Aquilo esteve mais para canal de parlamento que outra coisa. Só que pior, porque ao menos no parlamento ainda se trocam uns insultos e a coisa aquece...

Lamentei pelo povo na China, que tinha aquilo como o pão de todo o dia. Sem se perceber é assim que se cansam as pessoas e as fazem obedecer e ignorar outras formas de viver a vida.

Fomos então passear para China Town. Cheia de gente, também com vários dragões ao som de tambores. Nem seria preciso ficar na praça trafagal, bastaria andar pelo bairro.

Enquanto por todo lado se escutava o som de estalos com pólvora a rebentar no chão, o que me deu uma saudade de memória de infância, dei com uma faixa com o nome FALUN GONG e me interessei de imediato. Disse aos meus colegas: olhem, aquilo é importante. Vou lá espreitar

Eles não pararam de caminhar entre a multidão e se afastavam de mim, então aproximei-me muito rapidamente e estiquei a mão. Outra foi estendida de volta e me entregou um panfleto, com um simples "thank you". 

Não quiseram discursar nada, falar nada, explicar nada. Estava uma senhora idosa em posição de pernas e braços abertos, imóvel como uma estátua diante da faixa que juntava as palavras FALUN GONG +ORGANS + SIGNATURE.

Apressei-me para não perder de vista o meu grupo e olhava o panfleto, procurando perceber se podia dar a minha assinatura uma vez em casa. Senti incómodo. 

Aproximei-me do grupo e disse-lhes que aquilo era importante. Depois, olhando de volta, percebi que podia deixar a minha assinatura ali mesmo. Pelo que voltei a avisar o grupo que ia me afastar e assinei uma folha de papel que continha, até o momento, poucos nomes.  

Não me pediram nada. Nem dinheiro, nada. 

Escutei um outro "muito obrigado" e voltei ao grupo, dizendo que eles não pediam nada a não ser uma assinatura não custava nada. Eles deviam assinar também porque era sobre retirar órgãos de pessoas com estas ainda vivas. 

Mas ninguém pareceu entender. Depois, passeando e vendo a alegria das crianças, lembrei-me das saudades que tive e que nunca mais vi - por ser proibido, os tais "estalinhos" de carnaval - pois era assim que se chamavam no meu tempo. Vinham embrulhados em papel fino e colorido e era tão divertido atira-los ao chão para ver a faísca e ouvir o estalo.

Enquanto o grupo olhava para mais um tipo aos pulos vergando um fato de dragao, avisei que ia até uma bancada improvisada para ver o que estavam a vender como souvenirs. O mais barato e mais interessante eram mesmo os estalidos. Acho que já ia com essa ideia em mente, ainda que não o soubesse.

Comprei os estalidos com alegria de nostalgia. Infelizmente não mais em papéis coloridos, nem vendidos á unidade na papelaria como em saudosos dias de carnaval... Mas ainda assim, algo que não existe mais em Portugal e que agora posso recordar.

O pó dos mesmos não é escuro como me recordo ser os de antigamente. É branco. Embora escutasse os estalidos por toda a parte não detetei de onde vinham nem vi clarões de súbita faisca. Talvez hoje sejam diferentes mas pronto. Pela nostalgia... Comprei uma caixinha com 50 unidades.

Depois fomos almoçar e caminhar por Londres, só a ver a paisagem.

De toda esta experiência o que concluo ter sido a de maior valor e importância foi mesmo aquela petição de recolhas de assinaturas contra a prática de genocídio e recolha de órgãos em pessoas vivas, tendo como alvos preferenciais as pessoas pacíficas e inocentes que praticam a meditação FALUN GONG. Mas também qualquer pessoa que o estado da China considere traidor pode ser vítima desta atrocidade de fazer dinheiro com órgãos removidos de pessoas saudáveis e vivas.(E não pensem que colocam anestesia).

O lado da China que se varre debaixo do tapete - assim como tanta outra atrocidade.

O mundo tem de começar a ver o real e não procurar só o entretenimento. Dragões coloridos aos pulos não define tudo o que vem da China.

Agora é na China. Amanhã...

Se é crime contra a vida humana é contra todos nós e a todos diz respeito.