Metereologia 24 h

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quarta-feira, 12 de julho de 2023

"Somos diferentes" - que o diga as Finanças

 

Por vezes recordo de coisas que me foram feitas e ditas quando me mudei para esta casa há três anos e percebo que já estava ali os sinais de como a M. realmente era. Tanta mas tanta coisa, que é incrível como eu, por ansiar como uma esfomeada por normalidade, continuei a preferir não interpretar pelo pior. 

Recordo que uma das coisas que a M. me disse bem no início, depois de me ter "esmiuçado" de cima a baixo, interrogado, ter feito os seus questionários e até, usar de NUMEROLOGIA de data e hora de nascimento para definir afenidades, foi: "não me vejo a ser tua amiga". 

Ela não é capaz de ser amiga de ninguém - essa é que é a verdade. Mas é uma coisa que não se diz assim, parece-me. Mas foi o que ela me disse, acrescentando que não eramos iguais. No sentido de, ela ter umas tantas qualidades que enumerou e eu.... não. 

Oh! Ela dizer isso, achando que a vantagem estava no seu lado, já diz tudo, não é verdade? O sentimento de grandiosidade do narcisita já a revelar-se. Talvez mesmo uma certo transtorno de personalidade antisocial. 

Mas eu não me abalei nem um pouco. Nos primeiros três meses, existiu cordialidade e muita conversa, onde tudo parecia correr pelo melhor. Embora eu já me sentisse incomodada com comportamentos repetitivos e de total desconsideração que lhe observava. Ainda assim, preferia achar que ela não tinha percepção que os fazia. (Santa ingenuidade!).

Neste tempo, ela e o rapaz do andar-de-baixo já discutiam dia sim, dia não, logo pela manhã. Chegava eu a casa vinda do meu turno da noite, adormecia e em 50 minutos acordava com os insultos trocados entre os dois, aos gritos. 

Daí adiante ela seguia-me pela casa a todo o instante, para fazer queixas dele e de todos os outros. Querendo que eu agisse e baragustasse. Foi muito desgastante para mim. 

A M. nunca deixou de procurar criar conflitos. Apenas foca-se mais intensamente numa pessoa de cada vez. A minha altura ia chegar. E foi este ano em Janeiro, quando o rapaz, finalmente, se foi embora. Agora ela deseja que eu seja a próxima. Estou a contrariá-la, permanecendo nesta residência. 

Segue-me pela casa inteira. Nem 30 segundos me dá - que é o tempo que leva para descer as escadas, abrir o frigorífico e tirar um iogurte, voltando de imediato para cima. Tem alturas em que é 24h/7 obcecada pela minha pessoa. Segue-me, entra dentro do WC se dele acabei de sair, não o usa, vai só espionar. É doente. Faz-me doente também. Tenho receio de me vir a tornar como ela. Mais anti-social. Ou totalmente anti-social. Agressiva ou irascível. Prefiro o isolamento do sossego - sempre fui assim. Mas agora temo me tornar numa pessoa inapta socialmente. Tal são as más influências que me rodeiam e as más situações às quais me sujeitei nesta vida.  

Será que pessoas como a M. nunca se dão mal? Nunca enfrentam as consequências dos seus actos e por mais que aprontem, caiam sempre de pé, que nem os gatos?



Voltando ao tema principal, dela dizer logo de início, muito convicta de si mesma que "somos diferentes". Sim, somos. E ainda bem! As pessoas devem ser diferentes e não todas iguais - para que possamos aprender umas com as outras. Mas ela não tem percepção disso. Mais recentemente, me disse: "Tu não és nada como eu!". Ao que instintivamente lhe respondi com uma sinceridade que deve se ter projectado nitidamente: "Thank God for that!". (Graças a Deus!).

O que a deve ter surpreendido, pois ficou muda. No seu entender, as pessoas devem almejar ser tal como ela. Inteligente, esperta, melhor que todos, sabe tirar benefícios próprios de tudo, levar a dela adiante, etc, etc. 

Mas ser como ela significa, por exemplo, estar cheia de dívidas. Tirar dinheiro de pessoas, instituições e prestação de serviços sem ter intenções de pagar. Surpreende-me que, no Reino Unido, isso seja tão simples. Porque é.

Recentemente recebi uma carta das "Finanças", sobre os impostos que paguei no ano passado. Tenho a receber o valor de £160. Como não reclamei o valor online, irei receber um cheque pelo correio. Hoje fui à caixa da correspondência e lá estava um envelope das Finanças. Mas não era adereçado a mim, mas à M. É fácil de adivinhar o conteúdo. Surpreende-me que, passados meses, ainda seja o mesmo! A leveza do envelope castanho e a sensação fina ao toque já diz o que se trata. É dinheiro em dívida.

A M. DEVE DINHEIRO às Finanças. A primeira carta que tirei da caixa deve remontar a Abril. Desde então já lhe vi outra em envelope castanho. Isto sem prestar atenção. Apenas estando a tirar a correspondência e a colocá-la na beirada da janela, onde a vamos consultar. Só com o primeiro envelope tentei perceber o que dizia. Consegui reconhecer as palavras "dívida" e também "multa". Sendo que a multa era já diária, por ter sido ignorada um contacto anterior.

Presumi que a M. se precipitaria a pagá-la, visto que é uma dívida ao Estado. E ia ter de pagar já com uma multa, eheh. Até recordo de pensar que, finalmente, agora veria-se forçada a arranjar uma ocupação e ir trabalhar! Depois não pensei mais nisso. 


Hoje quando vi aquele envelope das finanças endereçado a ela sentindo a sua leveza nas mãos, lembrei-me logo do que acima descrevi. Senti revolta. Caramba! Nem às finanças ela perde o sossego ou paga as dívidas! Sim, somos diferentes. Eu tenho a receber, ela tem a pagar. Isso diz muito sobre as nossas diferenças. Eu trabalho bastante e desconto. Ela não trabalha quase nada e não paga o que deve. Eu estaria toda temerosa, a querer pagar a dívida o quanto antes, porque dizem que sobe £10 por dia! E ela a deixar os meses passarem. Cada 24h são cerca de 12 euros a mais em que fica endividada. 

E os envelopes castanhos a chegarem, todos os meses... 

Até quando?

Até quando poderá ela safar-se com todas estas tramóias?

Agora temo que o meu cheque chegue pelo correio e seja interceptado por ela, e que ainda acabe por arranjar uma forma de se benificiar. Não que acho que vá acontecer mas, não estou exatamente a tratar com uma pessoa muito correta, estou? 

Vou ausentar-me daqui a uns dias. Não vá o envelope castanho, mas mais espesso, chegar nessa altura. Da última vez que fui de férias, duas semanas, ninguém tirou a correspondência da caixa do correio. Na volta fui eu que o tive de fazer. O que não quer dizer que se repita.

Agora outra curiosidade:

Ao entrar no site das finanças, vi estipulado como o dinheiro que eu paguei de impostos, foi utilizado. Surge assim:


No ano anterior, contribuí com £2.736 para impostos. 

Para minha surpresa e felicidade, quando fui buscar a carta enviada faz umas duas semanas, puxei de um envelope castanho que correspondia ao ano fiscal 2021-2022, ao invés de 2022-2023, o anterior.  Ou seja: dois anos fiscais atrás. E ali estava... um cheque. No valor de £81. 

Ri tanto, mas tanto! Tinha esquecido completamente dele. Havia colocado esse envelope em cima de uma caixa, para ficar bem visível. Porém, ele deve ter deslizado para trás do móvel. Na rotina diária de trabalho e com o stress doméstico, sem o ter à vista, devo ter esquecido da sua existência. Recentemente removi o móvel e arrumei um envelope castanho que encontrei caído, nem tinha percebido do que se tratava. Pensava ser uma documentação solicitada. Datava de Outubro de 2022, mas ainda foi possível descontá-lo. Eu a precisar de um boost de dinheiro lá na altura do Natal.... com £81 caídos atrás do móvel.

Bem sei que não se trata de um presente. É dinheiro restituído por pagar impostos em excesso. Mas é uma boa sensação, ter a receber. Ao invés de ter de pagar ou tudo estar correto. Subitamente foi quase como que tivesse ganho o euromilhões. 

Queria partilhar isto. 


sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Limpando a Casa

 
Hoje deu-me para as limpezas. O cheiro desagradável que consegui sentir pelas narinas a dentro estava a incomodar-me. Não sabia o que se tratava. Por isso decidi ir até ao caixote do lixo, onde na véspera a M. tinha-se queixado, mais uma vez, que havia mau cheiro. 

Mas ela tinha despejado o saco. Quando abri o cesto, vi que estava quase cheio até cima. E o cheiro vinha de lá. Além disso, faz quase duas semanas que temos a cozinha infestada de mosquitos. Até deixei um papel humorístico colado no frigorífico, à semelhança de outros que lá coloquei, mas a respeito da situação dos mosquitos.

Queria livrar-me de tudo: a sujidade, o cheiro, os mosquitos. Apeteceu-me.

Então lá fui eu, a inquilina com um ombro partido, pegar no cesto de 50L. Levei-o lá para fora, coloquei detergente da louça para o interior e, como gosto de fazer, despejei-lhe água a ferver. Usei a esfregona para lavar por dentro, visto que o cesto é fundo e eu não tenho grande mobilidade de movimentos tendo o ombro partido. 

Resultou muito bem. Esteve um pouco de sol e ali o deixei a secar. Mas depois não gostei... parecia-me que ainda conseguia cheirar ao de leve um odor desagradável. Trata de despejar lixívia e esfregar de novo. Gostei mais. 

Lavei as bancadas, varri o chão e lavei-o com lixivia. Aproveitei e tirei as dedadas e sujidade que estavam à semanas na porta do frigorífico. Aguardava que alguém "se tocasse". Ou seja: que alguém percebesse que deixa marcas porque abre as portas com as maos sujas e sentisse que tinha de limpar atrás de si. Mas como ninguém o fez, decidi aproveitar que estava numa onda de satisfação com as limpezas e limpei isso também. Abri as portas do congelador para poder aceder à mancha castanha no chão e também essa esfreguei. 

Infelizmente acredito que não vão passar nem 24h até eu notar um sinal de descuido por parte de alguém. Tudo o que mencionei: o mau cheiro, as dedadas, a sujidade... é mais da responsabilidade da M. 

Ontem ela queixou-se a mim que "alguém na casa" deixava mau cheiro no caixote. É para aí a quinta vez que mo diz.  "Não és tu. Eu sei que não és tu" - diz-me com sinceridade. Quando ela cisma, eu sei que não se cala com um assunto. Todos os dias vai "notar" aquilo, mesmo que não haja nada para notar. 

Estive para fazer um post disto. Porque não me agrada que ela esteja sempre a implicar com "os outros". Até me fez pensar que o Karma existe! Eu, vítima que fui na outra casa deste tipo de comportamento, aqui ninguém implica comigo. Pelo contrário: sou aquela que todos acham, ou aparentam achar, que deixa tudo limpo e arrumado atrás de si. 

É mesmo o Karma a funcionar. A dar-me o oposto daquilo que vivi e aquilo que me é devido. Amén.

Agora quando a M. regressou a casa, disse-lhe o que tinha feito. A reacção dela não foi de surpresa. "Cheirava a peixe" - disse-me. Respondi-lhe que não sabia. Mas ela estava naquele instante a fazer uma refeição de peixe. E percebi que era o mesmo cheiro. 

Foi ela!!

Claro que foi ela. É sempre ela. Diz que é os outros, mas é ela. Bagunçada, suja... Acho até que fez de propósito.

Ontem ela passou o dia inteiro em casa. E foi chato. Era outra coisa que ia para mencionar quando fizesse um post sobre isto. 

Ela começou a lavar roupa na máquina eram umas nove da manhã. De tardinha, lá para as 17h, a máquina ainda estava a funcionar. Foi máquinas e máquinas de roupas seguidas, sem parar. E os outros? Quero dizer: ela fez duas máquinas ou quatro na terça-feira. Tudo bem, pode fazer outras na quinta. Mas ela passou o dia inteiro nisso. Acho demasiado. E penso que é uma demonstração de egoísmo. Porque por mais necessidade que se tenha, há que pensar que outro alguém também poderá querer lavar algo naquele dia. 

Roupa que a M. 
Deixou cinco dias em cima das cadeiras.
Um dos casacos ainda o tem la.


Mas o que me aborrece mais na M. e sem dúvida que ontem ela fez isso, é que ela também vai para a cozinha e de lá não sai. Faz lembrar demasiado as experiências que passei com a Gordzilla. Não porque cozinha, atenção, mas porque o que faz deixa sempre um cheiro pestilento pela casa que não desaparece nem quando já chegamos à madrugada!

Neste instante, o mesmo cheiro de ontem, o mesmo cheiro de hoje pela casa inteira, é o que se faz sentir novamente: cheiro a peixe.

APOSTO que ela despejou' sem grandes cuidados' os restos pestilentos para dentro do caixote que eu passei a manha a lavar e nem quer saber.

Ontem, quando ela fez uma pausa, desci ao primeiro piso e tive de espalhar ambientador. O cheiro era horrível. Já o conseguia sentir no piso de cima, com a porta fechada. Mas pensei que era provisório, porque cada vez  que se cozinha algo, obviamente que tem de existir cheiro. Mas este depressa vai embora. Só que não. Com ela, tal como com a Gordzilla, o cheiro é incomodativo e parece que fica entranhado nas paredes. Acho que nenhuma das duas gosta de usar o exaustor ou abrir uma janela. Têm esse hábito somente se o seu nariz sentir-se incomodado com a cozinha dos outros.

Eram 18h o cheiro persistia. Não me sentia bem, decidi sair de casa para arejar. Ir ao supermercado. Regressei passava das 20h. Para minha supresa absoluta, a máquina de lavar roupa estava a funcionar. Consigo perceber que dentro dela giram as toalhas que a M. deixa sempre penduradas no toalheiro aquecido do banheiro. 

Mas quem é que usa uma máquina de lavar roupa de manhã até de noite??
Não acho normal.

Até me enoja um bocadinho. Porquê? Porque a renda da casa inclui todas as contas. E isso, para pessoas como a M., significa que pode usar à descrição, paga sempre o mesmo. Eu acho que abuso é abuso, exagero é exagero e que se devem manter hábitos normais. Não é porque não lhe faz diferença no bolso que deve ligar o aquecimento ao máximo 24h por dia. Tudo se paga. Se não for hoje, será quando a situação melhorar. E depois, face aos gastos, ou aumentam a renda, ou decidem parar de arrendar a casa porque dá muita despesa e pouco lucro.


Disse que me enjoava um bocadinho porque são exatamente pessoas como a M. que, se um dia tiverem a própria casa e tiverem de pagar cada grama e consumo de água, luz, gaz, vão mudar radicalmente de hábitos, passando a apagar todas as luzes onde não estão, a juntar roupa para lavar de uma vez só, a deixar de ligar o aquecimento a toda a hora. Não sou muito poupada, mas também não sou exagerada Façam-se 2 ou 10 máquinas de roupa por semana, pode-se não pagar mais por isso. Mas em termos ambientais não é nada bom para o ambiente. 

Há que ter bom senso.


 

sábado, 26 de setembro de 2020

Sinais de Furia : 27

Um pormenor importante aconteceu na casa: o rapaz que a M. não gostava, fez as malas e foi embora. Uma nova pessoa estará para vir. 


Com esta saída, a M. perdeu o seu principal alvo de implicância. Temo que não demore a encontrar um substituto. 

Despertei eram 1.30h da manhã. E desta vez, sem pesadelo, Ahah. 

Tinha sede.

Fui ao WC. 


Nisto, senti a divisão muito, muito quente. Queimei-me no radiador de toalhas. Nem notei que estava totalmente vazio. A M. deixa sempre toalhas e panos ali, nunca os tira. 

Senti necessidade de ir verificar quantos graus apontava o termómetro digital de aquecimento central. Foi apenas ontem que o coloquei de volta na programação automática, alterando a temperatura para valores de um a dois graus mais altos, visto  já não ser verão. Tinha sido colocado na temperatura manual porque durante o pico de calor, continuava a ligar-se. 

Desci então à cozinha para beber água e verificar o termómetro, que fica à entrada. Assim que entro deparo-me com um estendal de roupa. Percebo que é da M. que chegou a casa pelas 19h. Foco-me no que quero fazer: verificar a temperatura. 

Sabem quantos graus estavam?

27 graus!!

Acho que é uma atitude egoísta por parte da M. colocar um valor tão elevado porque quer secar as suas roupas rapidamente. A ausência de espaço para as secar foi o problema que detectei nesta casa assim que a visitei. Foi a própria M. e todos os que cá moravam a achar que a minha insatisfação com esse detalhe não tinha razão de ser, porque eles secavam as roupas nos quartos, sem problemas. 

Secar roupa no quarto? - minusculo como o meu é? Criar humidade? A ideia não me agradou. O que me safa é saber que lavo pouca roupa de cada vez e espaçadamente. Devo dizer que este detalhe dos hábitos de cada qual na lavagem da roupa também me surpreende. Noto que usam a máquina todos os dias. Para dizer a verdade, desde que cá cheguei ainda não fiz 10 lavagens. Devo andar perto, mas ainda não fiz. Vejo a nova rapariga, a M. e o rapaz a serem muito mais assíduos. Muitas vezes usam a máquina de lavar roupa todos os dias, em dose dupla. Será que os meus hábitos de higiene precisam de ser mudados?

Além de hoje de noite, a M. lavou roupa anteontem. A nova rapariga fez duas máquinas também. E o rapaz, ao chegar do emprego, atira a roupa para dentro da máquina e lava-a. Para dizer a verdade, já tive alguns momentos em que quis usar a máquina mas encontrei-a ocupada - vezes e vezes seguidas. Decerto que outros passaram pelo mesmo. É normal, numa casa partilhada. Há que aceitar. DESCOMPLICAR é a regra.

Ontem encontrei uma brecha - ninguém em casa, ninguém a usar a máquina. Lavei os lençois de cama e cobertor, que bem precisavam. Saíram da máquina quase secos e coloquei-os no quarto com a janela aberta, esperando um raio de sol. Secaram de imediato. Quando não dá para ser assim, gosto de secar a roupa perto dos radiadores. mas não a deixo horas nos radiadores. E estou sempre atenta, para a retirar assim que possível. Nunca nada fica de um dia para o outro ou horas e horas nos espaços em comum. Prefiro isso a aumentar a temperatura da casa inteira, incluindo a dos quartos onde todos dormem, para secar a minha roupa rapidamente.

Foi uma das falsas acusações da Gordzilla... se me permitem o aparte para relembrar a injúria.

Baixei a temperatura e dirigi-me até ao frigorífico para tirar um pouco de água e matar a sede. É então que reparo numa coisa. Que me deixa alarmada. A M. estava furiosa. Consegui perceber essa energia no ar. Mas é ela, que se diz uma espécie de detector sensorial, que consegue sentir a energia de todos, mesmo quando dorme. Ia para relatar aqui mais detalhadamente este seu traço de personalidade. Estou em falta, por isso faço agora um aparte para esse fim.

Quando o rapaz teve o seu problema de saúde, não demorou tempo algum para ela relatar que também passou pelo mesmo quando era mais nova. Dias depois dele regressar, ela diz-se com falta de ar e dor no peito. Depressa chega à conclusão que tem o mesmo problema do G. Marcou uma consulta médica, faltou ao emprego e foi consultada para esse fim. Mas nada saiu dali e pelos vistos, as palpitações e outros sintomas que jurava ter, não regressaram. 

Não pensem que não a apoiei por, no fundo, achar que ela imita o que se passa com os outros. Mesmo nessa condição, se existe a possibilidade de haver um problema de saúde, que se consulte um médico. Mas tal como desconfiei, ela regressou e nunca mais sentiu nada. 

Só voltou a sentir problemas de saúde quando eu mencionei que andava a sentir-me com falta de energia e cansada, após subir as escadas. Disse-lhe que por vezes isso me era normal, por ter anemia e problemas de tiroide. Não demorou mais que umas horas e ela estava a queixar-se do mesmo. Mais uma vez, diagnosticando-se com anemia e dizendo que tinha de ir ao médico. 

Também isso lhe passou.

A situação mais flagrante foi quando soube que eu me lesionei. Ela não soube logo. Não a vi nessa manhã, andamos desencontradas. Pensei que ela ia perguntar-me assim que me visse, se algo se passava, porque quando entrei em casa lesionada e ela estava no WC, soltei vários gritinhos de desconforto enquanto trocava de roupa e desinfectava as feridas. Ela deve ter escutado. Surpreendeu-me que não tivesse desconfiado, visto até que está sempre atenta a sons.

Na casa já outros sabiam, ela foi a última a saber. Foi na noite a seguir, depois de eu ter ido ao hospital, que lhe disse que havia me magoado no braço. Ia para lhe dizer que estava partido, mas ela interrompeu-me de imediato, para dizer que também ela tinha sentido dores na mão e no braço, não conseguindo os mover por muito tempo. Só tive tempo de lhe dizer: "Mas eu sei porquê estou assim. Caí". 

Ela não percebeu a gravidade, ficou estagnada no facto de ter despertado com os sintomas que presumiu serem identicos aos meus. Voltou a repetir-me isto no dia seguinte, a queixar-se de dores e preocupada com a sensação de imobilização. 

Mas ainda não sabia que eu tinha partido um osso do corpo. Pensou que era outra coisa. No dia seguinte viu-me com o braço no suporte de repouso. Quando percebeu que eu tinha um diagnóstico médico, havia ido ao hospital, tirado uma radiografia e descoberto que fracturei o ombro, foi quando mudou de discurso. Disse-me que consegue sentir a minha dor, a minha energia. 

Afinal, um osso partido não pode ela alegar ter. 

Autoproclamou-se então uma espécie de detectora de doenças alheias. Ainda que tenha falhado detectá-las no momento em que ocorreram e só as sentir depois de tomar conhecimento das mesmas. Quem sabe? Provavelmente tem mesmo este dom mais desenvolvido. Ou se calhar, é uma boa maneira de se convencer que não tem antes uma doença mais relacionada com o foro psicológico.


Mas que vi eu quando me dirigi ao frigorífico, que me revelou que ela estava furiosa??

Dois panos atirados para o topo do mesmo. Panos que não são os dela, pertencem aos outros dois da casa e com os quais embirra.

 O frigorífico é muito alto. Ninguém coloca nada ali. Não faz sentido ser aquele o local para panos. Mas eu sei, porque ela quase todos os dias mo diz, segurando com nojo um deles e desviando-o do lugar onde o encontrou, que a enerva chegar a casa e ver os panos desdobrados em cima da bancada. 

Se era assim que eles estavam quando ela chegou ontem de noite, eu não sei. A última vez que os vi, estavam enfiados na barra do fogão, onde já estao outros dois, que são dela. Foi a senhora da limpeza que os prendeu ali. 

Como foram parar em cima do frigorífico só posso especular. Mas acho que especulo corretamente. Resta-me tentar entender qual vai ser a reacção dos outros dois na casa, quando precisarem do seu pano e perceberem onde foram colocados.

O rapaz está por um fio... acho eu.

Ele gosta dela, muito. Mas não consegue mudá-la. Não consegue agradá-la. Não consegue fazê-la ver o seu ponto de vista, ela está sempre em desacordo. Com isso ele sente-se rejeitado, incompreendido, vítima de implicância. Fica enervado com as constantes observações e reprimendas que ela lhe faz. Foi isso que o fez desejar mudar de casa. Disse-lho a ela, como quem deixa um aviso. Mas ela não se emocionou. Ou recuou nas suas atitudes. Ele acabou por ficar mas cada vez que ela volta à carga mais implacavelmente, sinto-o a voltar a ter esses pensamentos.

Ele não tem chance com ela, consigo perceber agora. Noutro dia ela confidenciou-me que se irritou com ele, por a interromper quando ela estava a falar. Foi num momento que ambos estavam a falar de um assunto. eu estava presente. Achei que a conversa fluiu naturalmente. Não detectei nenhum atropelamento abusivo. É natural, por vezes, as pessoas falarem algo em cima do que outra diz, para completar, acrescentar. Qualquer pessoa de fora não teria visto nada de anormal ou detectado a presença de uma pessoa insatisfeita com o comportamento de uma outra.

Ela está sempre a confidenciar-me destas coisas em relacção a ele. Disse-me que lhe parecia a ela que ele queria alguma coisa dela, mas que ela não quer saber dele. O que ele quer é sentir que pode conversar com ela e ser escutado. Quer o normal...

Enfim...

Quem nasce para lagartixa jamais chega a jacaré.  


Quando ao rapaz-que saiu, o JA, fez ele muito bem. Muito bem mesmo! Eu também faço as malas e parto para outra assim que perceber que não serei aceite pelos restantes. Bastou-me aquela experiência. Acho que foi uma aprendizagem bem intensiva, que me passou a lição. 

Ter visto o mesmo acontecer com outra pessoa fez-me entender que é assim mesmo que a vida é. E de nada adiantava ao JA tentar agradar. Porque o olhar e a cabeça dos restantes estava pré-formatada na narrativa que lhes foi injectada. Fosse o que fosse que ele fizesse, a tendência dos outros é procurar o errado e não ver o certo. 

Acho que o JA se esforçou um pouco para não incomodar. Notei nele alguns cuidados que não lhe vi antes. Mas ainda assim não eram suficientes. Na realidade, de nada adiantavam os seus esforços. Tinha sentença passada. Herdada até por ex-inquilinos. Ou se anulava e se deixava pisar - como aconteceu comigo, ou fazia as malas e ia embora. 

É sempre a melhor opção - a de ir embora. Nunca se sabe o que se vai encontrar noutro lugar. Mas com sorte, ele vai partilhar casa com pessoas que não se incomodam com a sua maneira de ser e o aceitam.

Creio que não corro novamente este risco. A atmosfera é simplesmente diferente. Nunca nada será perfeito, conflitos podem surgir. Faz parte. Mas aqui estou à vontade. Não fui forçada a alterar quem  sou, abandonar o melhor de mim, por isso "incomodar" os outros. Não preciso deixar de cozinhar para ceder espaço a quem não larga a cozinha e sei que não vão acusar-me de a deixar suja assim que me vêm a acender um bico de fogão ou a ligar a torradeira.

Sou eu mesma. Limpo tudo. Cozinho para mim mas, por vezes, também a pensar em todos. Se estes estiverem com vontade, há comida que chegue. Estão à vontade para se servirem de algumas coisas específicas. Penso que ninguém tem problemas comigo. Mas o melhor mesmo, é nem ter mais este tipo de receio a assombrar-me. Aos poucos, recupero-me. Fortaleço-me.
E na cura, percebo o quanto afundei... a dimensão do mal a que me sujeitei. 

Mas sobre isso não vou mais pensar.


Quando surgir a oportunidade, tenho a certeza que a M. vai desabafar comigo o que a irritou. Vi a vela queimada no WC - sinal dos seus rituais para se equilibrar espiritualmente. Há sempre algo feito pelos outros que a desalinha, que a incomoda. Ela até se esforça muito. Pelo que me contou, estaria sempre a explodir com todos que a rodeiam se não fizer o seu "treino" diário. 

Gosto da M. mas... confesso... preferia não viver com ela. Sou mazinha??

Espero que não.