quarta-feira, 31 de julho de 2019

Não saber estar num autocarro


Cheguei à conclusão que aqui nesta cidade as pessoas que andam de autocarro são todas burras.
Calma! Não estou a ofender ninguém à toa. Então justifiquem lá isto: quando entram e os lugares sentados estão ocupados, ficam-se pelas portas traseiras. Ninguém sobe para a parte de trás, onde certamente vão vagar mais assentos na paragem seguinte. Eu se poder, fico por ali, porque além da possibilidade de me sentar ser mais elevada, é também o único lugar num autocarro por vezes lotado onde não se viaja apertado.

(estes ingleses são muito burros!)

Todo o cuzinho que entra no autocarro, acumula-se ali na porta traseira, entre o degrau para subir e o piso inferior, com a barriga e as malas enfiadas no sentido onde gostariam de ir, quase a meterem-se no "colo" do passageiro sentado na cadeira perto do degrau. 





Mas o que me enerva todos os dias é um hábito que todos aqui têm. Acho-o repulsivo. Tenho vontade de dar uma lição de civismo nestas pessoas. 

Então não é que assim que alguém desocupa um lugar, os que já viajam sentados correm para o apanhar? Falo, claro, dos lugares à janela... Podem vagar cinco e tu, que acabaste de entrar para sentar, não tens hipótese. Só vês vultos a mexer e subitamente os lugares vazios são todos à coxia. 


Para mim é um comportamento altamente condenável. De bom tom é, se já viajas sentado, deixas-te estar sentado. Ou trocas de lugar sim, mas não quando outros estão para se sentar, não quando estão passageiros a entrar com essa finalidade. Se o teu CU já viaja sentado, que direito pensas ter de especial para poder fazer "upgrade" do trono??


E tem outra... Quando está sol, o comportamento é oposto. Fogem dos lugares à janela e vão para a sombra na coxia. É ou não é repulsivo? Demonstração pura de egoísmo. 

Para não falar dos lugares reservados a idosos e deficientes. Em Lisboa, de vez em vez, ainda se vê o autocarro com gente em pé mas esses lugares continuam vazios. E as pessoas cedem sempre a quem de direito. Aqui sentam-se neles quem quiser. Jovens principalmente. Se aparecer alguém mais idoso, ninguém oferece o lugar. Esperam que o peçam e, na realidade, a menos que a pessoa venha a coxear ou use uma bengala, tornando assim a sua necessidade obvia, ninguém se move. 

Uma vez ofereci o meu lugar a um casal de pessoas enxutas, mas mais velhas, pois percebi que era-lhes difícil segurarem-se e equilibrarem-se com o movimento do veículo. Ela estava a amparar o homem. Ofereci e ela recusou. Logo de seguida duas pessoas ao meu lado largam o lugar e o casal senta-se e relaxa. Bem que podia ter aceite o meu lugar, não os estava a chamar de velhos por causa disso. O alívio e conforto que retornou aos seus rostos quando se sentaram foi obvio. E o casal que se levantou, se ia sair na paragem seguinte, também podia ter demonstrado a mesma atitude que eu. Mas não. Preferiram continuar a viajar sentados até o último minuto. O casal podia ter pedido os lugares reservados, mas também não o fazem. Só pessoas com bengalas ou a coxear são capazes, diante do obvio, solicitar ou esperar que o simples visualizar da sua situação faça com que esses lugares vaguem. Pessoas idosas, sem dificuldade de locomoção visível, parece que são orgulhosas demais para tal.

À entrada do autocarro estão dois lugares individuais isolados, um em cada lado, à semelhança do que acontece em Portugal. Um atrás da cadeira do motorista, outro do outro lado, idêntico. Noutro dia enervei-me em silêncio com o que vi. Viajava atrás e os lugares à minha frente estavam todos vazios. Vejo duas mulheres que conversavam sem parar, a entrar em primeiro lugar e percebo que, mesmo viajando juntas, vão cobiçar os lugares individuais. Dito e feito: A primeira a validade o passe sentou-se na cadeira individual e a outra fez o mesmo. Antes mesmo do terceiro passageiro passar, já o palrrear das duas, mais os movimentos dos braços, atrapalhavam quem queria passar. Cada uma delas virada para o centro, cada qual a falar mais alto para se escutar.

Não era mais civilizado não imporem a conversa privada a todo o autocarro e terem-se sentado uma ao lado da outra, num dos tantos lugares disponíveis? Claro que sim. Mas as pessoas aqui regem-se por um princípio de egoísmo que não entendo.

Outra coisa que aqui não se faz: não existe respeito pela ordem de chegada na paragem. Tanto pode entrar primeiro no veículo a pessoa que chegou naquele instante, como outra qualquer. A que estiver mais perto da porta, entra. Não há cá "direitos" civis não pronunciados mas seguidos, regras de etiqueta, de cortesia, de educação, que ditem que é de bom tom permitir que as pessoas que aguardam a chegada do veículo há mais tempo, entrem primeiro. 

Nada!
Aqui até se surpreendem comigo, quando digo à pessoa que estava à minha frente, para fazer o favor de entrar.


Conclusão: aqui as pessoas não sabem utilizar o autocarro. 
Não digo em toda a inglaterra, porque creio que no centro de Londres é diferente.
Mas nesta cidade da periferia... é como descrevi.



segunda-feira, 29 de julho de 2019

Achei um tostão...

...Perdi um milhão!

Encontrei um penny na rua. No dia seguinte descobri que perdi uma nota de cinco libras que tinha enfiada entre os cartões de multibanco e o passe. "Deve ter caído" - pensei.

Se caiu, alguém achou.
Que sorte tenho eu, que só acho pennys enquanto outros andam a apanhar notas de cinco libras!


Nota:  Hoje de manhã tinha acabado de perder o meu querido porta-chaves poop emogi quando voltei a achar outro penny na rua. Vinha ferrugento. 



domingo, 28 de julho de 2019

A vida matou o que sonhei viver

Ainda me emociona como da primeira vez. Acho que vai emocionar  sempre.
Lembram?


sábado, 27 de julho de 2019

Ida ao WC e baterem à porta


Tinha acabado de entrar há menos de 20 segundos, quando oiço o trinco da porta a mexer. Penso cá comigo: percebem que está ocupada, vão-se embora.

Nisto, estou eu a limpar o cuzinho, uma voz do outro lado chama o meu nome.
-"Vais ficar aí muito tempo"? - pergunta a mais-nova que sai HOJE.
-"Claro que não. Nunca fico"- respondi calmamente.


Menos de trinta segundos depois, estava fora do WC. Deixando a sanita limpa, espalhando air-freshener no ar, certificando-me que a janela fica aberta, tal como ordena a "inspectora". 

Quando entrei senti de imediato o cheiro forte e estranho a urina. "Urina de gajo" - pensei. Foi a primeira coisa que detectei. Ela meteu cá a dormir um rapaz faz duas noites. Das vezes que andei pela casa, não esbarrei com ninguém estranho. Mas sei que alguém estava cá.  Se detecto um carro estacionado à entrada da casa há duas noites, sei que algo se passa. É o secretismo que me incomoda, não a presença de estranhos. Parece que esperam que eu esteja a dormir para se porem a conviver na sala, todos juntos. E isso é feio. Tão feio como sempre foi fazerem festas sem o mencionarem à minha frente e depois mas imporem sem sequer estenderem um convite. 


Tanta urgência para entrar no WC quando fui c*G*r e meia-hora passou e ainda não lá foi. É que não lhe bastou perceber que o espaço estava ocupado, teve de bater e perguntar se vou demorar. Só a ironia de ser ela a pronunciar tais palavras devia ter-lhe bastado para que se calasse. Porque tem o hábito de se enfiar no banheiro pelo início da noite e ali ficar por duas horas consecutivas, a ver séries de televisão. Nem devia abrir a boca, ou ainda lhe cai algum castigo divino em cima.


Tive o cuidado de não ir ao WC de imediato, quando senti vontade. Esperei não escutar barulho de pessoas no andar de cima. Só então socorri o desejo. Mas não foi o suficiente para me proporcionar uma ida curta e rápida ao "trono de porcelana" sem que me viessem bater à porta.

Nunca ouviram falar no gesto de cortesia de aguardar um pouco??

Tanta urgência e até agora não lá entrou. 
É preciso ter uma grande lata. E ela tem-na toda.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Deixar e ser



Sou eu. Mas eu já não sou. 
Eu que fui, não sou mais. 
E o que sou, este novo eu, 

Sou eu. E não sou.

minha autoria, agora.

domingo, 21 de julho de 2019

Alguma coisa boa devo ter feito


Desde que saí do primeiro emprego em solo Inglês, no qual permaneci quase um ano, ocasionalmente sou reconhecida na rua por antigos colegas. A última ocasião em que isto aconteceu foi apenas há duas semanas. Aqui, perto de casa. Não estava nada à espera, principalmente na hora avançada da noite. E isso deixou-me contente. Alguma coisa de bom devo ter feito, para ter pessoas que me reconhecem na rua e ao invés de fingir que não me reconheceram, virem falar comigo.

Faz-me perceber que nem tudo deve ter sido mau, pois saí desse emprego a sentir-me uma párida. Foi uma saída injusta, embora eu tenha saído de cabeça erguida e tranquila com a minha prestação. A reacção das pessoas ao me encontrarem, um ano depois e agora já passados dois anos, traz-me alento. Nem todos eram ruins ou indiferentes à minha pessoa. Tive foi muitos maus momentos com quem trabalhava mais de perto e essas memórias marcaram mais, chegaram a torturar aquando as vivia. 

Hoje encontrei em ambos supermercados onde fui, duas outras pessoas com que convivi nesse emprego. A primeira uma colega da cozinha, que me reconheceu de imediato disse-me olá mas logo desviou as atenções para outra pessoa. Ainda assim é bom ser reconhecida como um rosto que um dia te disse algo. No supermercado seguinte, uma manager cumprimentou-me em português, mas também logo seguiu o seu caminho. Pela forma como me cumprimentou percebi que me avistou bastante tempo antes de eu a ver. Emiti-lhe um sorriso espontâneo e autêntico de surpresa mas antes de poder desenvolver o cumprimento que lhe devolvi de igual forma, ela logo seguiu caminho.

Já estive para vir fazer um post sobre este assunto há meses. Dos empregos que tive a seguir, algumas pessoas disseram que queriam manter o contacto, uma até disse que não queria que eu me fosse embora, queria que nos encontrássemos fora dali e manter a amizade. Mas delas não recebi mais contactos. Neste primeiro emprego onde sofri tanto, no qual tanto desejei mas não senti que dava para criar amizades, tem sido este a me devolver pessoas ao meu presente. Pessoas afáveis, que não viram o rosto e fingem não me conhecer. 


sábado, 20 de julho de 2019

10 ou 40 anos?



Logo de cara, não gostei dela. Em que ano foi? 2001?
Com o tempo, fui-me habituando e tentando remeter a sensação de deslike injustificado para o sítio onde acredito que todas devem ir: para o nada.




Falo de uma actriz americana, adolescente na altura, que fez parte da série de TV Smallville - A história do "super-homem". "Cloé" - o nome da personagem da atriz Allison Mack foi um "deslike" imediato. Não pela personagem, mas pela atriz que lhe dava vida e não sei explicar porquê. Ela reunia uma quantidade absurda de fãs. Colegas também a elogiavam por todos os ângulos: a sua postura no trabalho, a sua pontualidade e disponibilidade, a sua boa disposição e como era "parecida" com a personagem que encarnava: uma mulher independente e inteligente, a lutar por um bom lugar no mundo, para si mas também por todas as outras mulheres.

Acho que foi até eleita como a mais amiga do elenco. 
Mas ao vê-la tive aquela sensação de "não és o que aparentas". Como se dois personagens vivessem ali e as pessoas só vissem um. Tive a mesma sensação de deslike instantâneo com Bill Cosby quando o vi actuar na sua sitcom. 

A actriz está agora a aguardar sentença por tráfico sexual de mulheres, pois recrutava-as dizendo que iam aderir a um grupo feminino para melhorarem de vida. Na realidade, tratava-se de um culto e práticas muito crueis, de humilhação e desumanas foram executadas, incluindo pelas mãos da "atriz".

Em Setembro vai saber quanto tempo de cadeia vai levar. Pode ir até 40 anos.

Fiquei surpreendida e ao mesmo tempo, não. Foi um choque, mas de certa forma veio a recordar e a validar aquele "deslike" sem motivo. Contudo, lamento. É sempre triste quando qualquer pessoa se deixa levar por um "guru" de um culto qualquer. Ela fez mais que isso - não se entende bem quando se iniciou no Nxivm mas remete aos tempos da série.

Percebo que mesmo nos dias que correm e com tanta informação continua a ser muito fácil recrutar pessoas e sujeitá-las a ingressar num culto. O facto destas mulheres terem de se sujeitar a ter sexo com o "guru", o "mestre", o "Vanguarda" devia servir de pista, mas por essa altura já têm os cérebros baralhados.

Nenhum de nós está imune de um dia seguir um "Charles Manson". Mas existe um denominador comum: extrema juventude. A maioria destas mulheres entrou no culto na casa dos 20 ou ainda mais novas. A própria Allison devia andar pelos 24 anos. Tem agora 36. Só mais tarde, nos 40, algumas destas mulheres "abrem os olhos". Isto não se dá por acaso. Por muito sucesso que se obtenha aos 20 e poucos ou mesmo antes, por mais independente e bem resolvida que se pense ser e se ande a somar diferentes experiências de vida - a matemática está toda ali: ainda não se viveu o suficiente.

Ver canal Crime&Investigation, série Crenças Extremas, episódio 1, que foi para o ar hoje, dia 20 de Julho


ver aos 2 minutos e 20 segundos

ao 1 minuto e 38 segundos

Os que têm filhos lembrem-se disto:  o espírito de muitos jovens busca algo indefinido que os pode conduzir a más escolhas. É sempre preciso andar alerta, estar disponível para acompanhar o desenvolvimento das suas vidas, mesmo quando a prole, na ânsia de começarem sozinhos, preferem não interagir a certos níveis com as figuras máximas de autoridade que um dia os pais foram.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

No que me fui meter?


Conheci no supermercado um homem simpático com quem mantive uma conversa fluída. Pensei que ia falar-me de uma oferta de emprego mas ao invés disso pede-me o número de telefone.

Eu respondi que sim, que lhe dava. Depois ficámos quase duas horas fora do estabelecimento comercial, a falar. A conversa foi tão fluída tão natural e honesta, entrei por ela a dentro, a pesar de estar a anoitecer, sentir sono e estar com as pernas a tremer de frio.

Ao entender que ele poderia imaginar algo mais que amizade, disse-lhe que gosto de conhecer pessoas e gostei de falar com ele, mas não com um interesse romântico. Ele respondeu que não posso afirmar isso com toda a certeza.

Acabei por lhe fornecer detalhes que nunca contei a ninguém, tal foi o poder da fluidez da conversa.
Ele ficou com o número de telemóvel e de certeza absoluta vai ligar-me no Domingo. Ficámos de ir jogar uma partida de ténis. Ele profissional, eu curiosa.

A minha cabeça preocupa-se com a sobrevivência. Com o emprego que vai acabar ao final do mês, com os meses depois desse, com o ordenado anual que não chega para as despesas com a renda e o quanto me limita não ter casa própria.

Sempre fui assim. Se não me sentir estável e não sentir a minha independência firme e segura, não tenho como mergulhar noutras coisas. 

A verdade é somente esta: sinto-me só, a precisar de amigos. Simples. Essa necessidade "cura-se" ocasionalmente, com conversas deste género.

Mas para o resto? Sou eremita. Gosto muito do meu cantinho, de sossego, de paz e da ausência de conflitos. Sou também preguiçosa para esses afectos, confesso.

Tentei explicar-lhe. Disse-lhe que não procurava companhia masculina íntima. Ele apreciou cada palavra que trocámos, foi muito sincero e eu também. Receio que a minha franqueza lhe tenha parecido não um sinal de stop mas um interessante desafio. Acho que não consegui tirar-lhe da cabeça a possibilidade de eventualmente daqui surgir um romance. 

Sou uma pessoa de palavra e irei encontrar-me com ele. Mas sinto que não vai resultar.

Suponho que quem me lê tem mais experiência nestes assuntos. O que vos parece?

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Mais um livro lido


Tirei-o da prateleira por impulso, entusiasmada com as "review" na capa: Cativante (Sunday Times), "Hipnótico" (Elle), "Perturbador mas refrescante" (Stylist). Tem reviews até no interior da capa, na contra-capa e as primeiras quatro páginas são também reservadas aos "elogios" à autora, que é "licenciada em Harvard e antiga editora de livros" - diz no interior da contra-capa, o único espaço livre desse tipo de auto promoção.

Serviu-me de lição. 
Já tinha concluído que livros que imprimem na própria obra as reviews dão as piores leituras.




Girls on Fire, de Robin Wasserman fala da vida de miúdas adolescentes numa localidade americana algures no meio do nada. A linguagem é maçante, são páginas e páginas de história que não sai dali, só enrola de um lado para o outro. É como assistir a um jogo de ténis, em que a bola passa da esquerda para a direita, depois da direita para a esquerda e nada mais. "Fos-te tu, Não fos-te tu.". É uma leitura que se faz bem se se saltar a maior parte dos capítulos. 

Experimentei saltar linhas e dei conta que as frases começavam sempre com a mesma expressão e isso é frequente pelo livro inteiro "uma menina bem comportada..."  "uma menina bem comportada"... "Uma menina bem comportada"... Entendo que se quer dar ênfase a uma ideia mas percebe-se à primeira, não é preciso repetir. 

A história não me atraiu. Mas li até ao fim. Acho que lhe falta densidade, as personagens são pouco desenvolvidas e insuficientes. Está previsivelmente cheio de linguagem sexual, com enfadonhas descrições detalhadas de actos sexuais. Perversidade e linguagem vulgar brotam a rodos. Adolescentes com juízos de valor a torto e a direito, a detestar os pais e pais passivos que não sabem nada da vida dos filhos. Ninguém gosta de ninguém, ninguém é feliz, todos são falsos uns com os outros e todos se portam mal.





quarta-feira, 17 de julho de 2019

Viver num estábulo?


Despertei subitamente às 5 da manhã com o barulho de portas a serem fechadas ao empurrão. 

O ruído despertaria qualquer um.
Sempre a mesma coisa.
A rapariga-mais-recente só pode desconhecer a existência de maçanetas e para que servem. Sempre que sai e volta a entrar no quarto - o que faz várias vezes seguidas, fecha as portas da mesma forma: empurra-as até fecharem com o estalo. O trinco é forçado a entrar na ranhura, produzindo um som de «tiro de canhão». Ela nunca coloca a mão para fazer girar o manípulo do trinco como qualquer pessoa normal. 

Meu pai diria que é falta de educação e que esta pessoa foi criada num estábulo. 
A julgar pela forma como mastiga de boca aberta e o ruido surpreendente que também aqui faz, se calhar ele pode estar certo e ela é arraçada de cavalo. :)))





terça-feira, 16 de julho de 2019

Janela fechada, porta aberta - o pior é?


Agora já me sinto melhor mas passei o dia triste. 
O motivo? Estive a escutar o que as colegas da casa conversaram quando lhes virei as costas ontem de tarde. Após o duche, fui para o jardim deixar o cabelo secar ao ar. Elas estavam na cozinha/sala. Nisto escuto as portas do pátio fecharem-se com trinco. Como elas têm o costume de as abrir e deixá-las abertas toda a noite até irem dormir, fazendo com que todo o insecto entre na casa, estranhei terem-nas fechado. O que imaginei? Não podia ser diferente, tive de pensar que iam cortar-me na casaca e queriam certificar-se de que eu não as escutava. 


Não quis saber. Mas depois de sair do jardim, deixei o gravador a funcionar. Só assim para tentar obter algum comprovativo inegável do que se passa. O som é mau - o aparelho não é bom e capta mais ruido que voz, mas está perfeitamente audível. 

"She's such a bitch. She keeps them in her room".


"Ela é uma grandesíssima cabra/filha da mãe. mantêm-nas no quarto"- disse a mais-velha.


Fiquei estarrecida. Do que estariam a falar? Como gostam de shows de culinária e falavam sobre colheres, pensei que estavam a falar de receitas mas quando surgiu esta frase, percebi que estava a ser acusada de manter no meu quarto colheres. Se de sobremesa, se de sopa, não sei. Não tenho nada no quarto. Sabem qual é o meu hábito desde que cá cheguei? 

Lavo a louça que sujo antes mesmo de comer a refeição que preparei. Se for tachos, pirex de ir ao forno, o que for. Só deixo a comida no prato e no final lavo este e os talheres de imediato. Separei para mim dois talheres de cada assim que cá cheguei, porque a casa tinha muitos e eu não queria privar ninguém de nenhum. Além disso, trouxe talheres meus e as colheres de sobremesa são minhas. Estão marcadas desde da outra casa, onde todos tinham talheres próprios a uso. Para diferenciar dos meus, marquei-os com dois traços de verniz para as unhas.


Acusaram-me também de ter visto uma delas no WC e ter saído de rompante para usar a outra WC - não sendo boa pessoa por isso, o correcto seria ter uma conversa sobre o querer usar o WC. Isto é totalmente inventado. Não lembro de ver ninguém no WC e se usei outro foi porque quis e porque posso. Agora tenho de justificar qual dos WC's vou usar a certas horas? 

É constantemente assim. Sempre com mentiras com o propósito de gerar conflitos. Noutra ocasião sumiu uma tampa de um tacho da mais-gorda e uma mensagem surgiu no quadro. Não ia aparecer mensagem nenhuma se não quisessem insinuar que a responsável era eu. Até pedi para ma descreverem, porque não sabia do que falavam. Só uso uma e nunca reparei noutra. Uso muito ocasionalmente, talvez uma vez por... cada dois meses. Porque raramente cozinho e isso deve-se bastante ao saber que se o fizer, vão inventar 1001 mentiras sobre o acto. A tampa a que ocasionalmente  dou uso é a única que serve os dois tachos que a casa dispõe. Os mesmos tachos que esta que me acusou de ter as colheres no quarto manteve dois dias em cima do fogão, com comida no interior. Ninguém os pode usar nessa ocasião, por dois dias. Onde está o ser-se correcto nisso?? Também, por duas vezes, usou um tacho colocando-o na dispensa onde se estende roupa para descongelar comida, tendo-se esquecido do mesmo ali por 48 horas. Ninguém o pode usar. Ninguém sequer saberia onde o encontrar!

É esta tipa que se acha com moral para atirar tijolos no quintal dos outros. Esquece-se que os telhados dela são de vidro. E do rasca.

A realidade é que no que respeita a respeitar o espaço e as coisas partilhadas não podiam pedir melhor que eu. Não existe ninguém como eu! Vejam só que, até quando comecei a trabalhar, pensei em recusar entrar mais cedo, só por saber que elas as duas tinham de se levantar quase à mesma hora para irem para os empregos. E elas fazem o género de quem demora horas no duche, horas para se prepararem. Eu não. Eu sou "faz xixi, vai-te embora" - tipo de pessoa. 

Por dividir casa, não fico no duche por horas e horas. Sou rápida, principalmente se sei que todos estão em casa ou para chegar. Tenho imensa consideração por todos, todos os dias, em cada gesto. Nunca os critiquei ou tentei os comprometer com o senhorio. E a paga que recebo é esta vilania.

Tenho de dizer que li hoje no chat uma mensagem com três dias, deixada pela mais-nova que está para ir embora mas a agir assim nos seus últimos dias já está a estender a sua presença para além do que é desejável. A mensagem voltava a referir a janela fechada. Um grande testamento, dirigido a mim, a exigir que lhe explicasse porque é que fechava a janela do WC. 


Epá... a sério?
Ela não sabe para quê servem as janelas?? Será que fechar uma é assim um acto tão extraordinário? Que precisa de ser explicado??

Vi-a ontem de tarde quando entrei na sala. Falei-lhe, ela ruminou um som, sem tirar os olhos do telemóvel. Ainda tentei ir mais longe na conversa, dizendo que me assustei com a mala castanha dela, deixada no chão - pois pareceu-me um cão. Nada disse. Dão-me o tratamento silencioso, mas para falarem de mim pelas costas e inventar problemas, olha quem!


Ela podia ter aproveitado que me estava a ver e falado sobre a janela. "Olha, já que estás aqui, porque é que fechas a janela?" - isso seria «normal». Mas calou-se. Sabe bem que eu não li a mensagem porque a tecnologia informa a pessoa disso. E sabe que estive online só hoje. Só hoje no emprego, li a mensagem de assédio. Sim, porque isto é puro assédio. Mais uma mensagem maliciosa, para deixar a pessoa mal disposta, para para criar pressão, para magoar e prejudicar.  

Como estava a ser assombrada pelo choque do que escutei - ser chamada de cabra, o inventarem atitudes que não tenho, ao ler aquilo escrevi uma resposta. 

Não a enviei, mas soube-me bem escrevê-la. Disse mais ou menos o seguinte: " E depois? Já está aberta, não está? Então pára de me chatear. Eu nunca agi assim com nenhum de vocês e não me faltam motivos. E já agora, parem de falar mal de mim quando viro as costas. Que tal portarem-se como as pessoas que alegadamente dizem ser e pararem com o bulling? Sê decente". 

Na hora de almoço, deu-me uma vontade de ler o livro que deixei em casa. Também, por estar triste, apeteceu-me andar, gastar energias. Não estava boa companhia para ninguém. Decidi ir buscar o livro a casa, mesmo sabendo que a deslocação consumaria todo o meu tempo livre. Apanhei o autocarro, ainda fui ao banco, a uma loja e segui a pé para casa. Quando fui abrir a porta, esta não estava trancada. Bastava rodar a maçaneta e qualquer um entraria.


Estranhei. E depois assustei-me. Estaria alguém cá dentro? Algum estranho?

Então anunciei-me:
- "Hello?"


Nada. Nisto vejo umas pernas nuas com pés descalços a enfiar-se no quarto do rapaz. Percebi de imediato o que se passava. Subi ao quarto e a porta do quarto dele abriu e fechou. No wc a água corria livre na torneira. A porta volta a abrir e ele sai, com cara de sono, embrulhado numa toalha. Perguntei-lhe se acabou de sair do WC e ele disse que sim, que ia fechar. Fechou e fechou-se no quarto. Claro que tinha uma rapariga com ele, a dona das pernas magrelas que vi correrem para o quarto. Isso não me incomoda. O secretismo sim, a mentira também, mas o acto de querer transar não.  O que realmente me incomoda mais é ele deixar a porta de casa aberta! Que faça como qualquer outra pessoa: quando o convidado chega, vai abrir a porta. Deixá-la acessível a qualquer um que se aproxime é perigoso. Bem mais do que deixar uma janela de WC num segundo andar, fechada ou aberta! Podia surgir um assassino e matá-los aos dois no quarto, sem eles mesmo perceberem o que lhes caiu em cima.

Já encontrei a porta aberta mais de 10 vezes. As primeiras vezes às 4 da madrugada, quando saía para o emprego. Numa rua cheia de gente mal encarada, que briga à porta de casa, drogados e bêbados... Agora, novamente, porta aberta, a uma terça-feira, ao meio-dia e meia. Bem perto da hora e do dia da semana em que surgiu aquele estranho homem a querer forçar entrada na casa, até a polícia aparecer.

Tivesse ele aparecido hoje ao invés de mim... e??

Uma janela foi inventada para se manter aberta ou fechada. Uma porta, para alguém entrar ou sair, e os trincos para impedir estranhos de invadirem o espaço alheio. 

O que é uma janela de WC fechada no segundo andar comparado com a porta de casa aberta??

Até me fez ver melhor as coisas.



Tenho andado a plantar flores no jardim. Algumas já brotaram, outras não há meio. Dentro de casa, tenho tomates em vasos. Ou melhor: plantei as sementes, germinaram, deram rama, esta cresce, cresce, cresce, mas o fruto ainda não apareceu. O cheirinho é tão bom!


No domingo, sem planear, desci à sala e decidi aproveitar a tranquilidade para terminar de plantar umas plantas compradas quase duas semanas antes. Não fosse o senhorio começar a implicar com a presença das mesmas nas traseiras do jardim. Enquanto ali estiveram, apareceu uma praga de formigas e de bichos-de-conta. As formigas simpatizaram com uma planta em particular: a french marigold-bee e roeram quase todas as folhas. 

Mas agora já as plantei (quase) todas. Espero que a french marigold-bee venha a florescer bonita e sirva para as muitas abelhas ao redor terem onde ir buscar mais pólen. 

Foto tirada da internet

Também plantei calendolas - não parecem muito animadoras. Mas tenho esperança que arrebitem. Preciso de averiguar como se faz o cuido da mesmas. Se é preciso arrancar folhas ou flores murchas, como é a régua, etc. Por agora dou-me por satisfeita ao dar-lhes bastante água.

foto minha


A outra aquisição foram begonias brancas. Semperflorens.
Pela foto achei-as bonitas mas não é o tipo de planta que me atraia de imediato. Tem aquela folha suculenta, espessa, a fazer lembrar as dos cactos. Parece-me que precisa de pouca água para se manter e por isso plantei-as na zona mais reclusa do jardim.


Outra coisa que fiz foi enterrar no solo três favas. Pensei que dali não ia sair nada. Afinal, já havia tentado germinar umas num vaso dentro de casa, e não resultou. Enterrei-as ali a pensar na fábula do pé-de-feijão e não meti fé nenhuma. Passaram-se semanas e nada de nada de aparecer fosse o que fosse.

pés de favas - foto minha
Dava aquilo como falhado até que um belo dia, do nada, surgiram duas enormes e vistosas ramas verdes, cheias de folhas. Só me fui lembrar da terceira quando esta, mais tarde, também decidiu emergir do solo em direcção ao sol. Agora estão cada vez mais altas e já têm flor. Não faço ideia o que vai sair daqui mas é interessante acompanhar o desenvolvimento. Entusiasmada, plantei mais duas entre os pés das três. Agora arrependo-me, pois se calhar estão muito próximas umas das outras para a coisa funcionar. Mas a ver vamos. Talvez ainda consiga uma dúzia de favas para cozinhar um destes dias!



segunda-feira, 15 de julho de 2019

Querias, não querias? Mas não


Senti o músculo do braço dorido e pensei: "Epá, se calhar foi do exercício no trabalho ontem. Querem ver que começo a fazer músculo?"

Quando avisto o braço, tenho é umas grandes nódoas negras!


domingo, 14 de julho de 2019

Pela cabeça


Tenho estado a ver anúncios de aluguer de quartos. Só encontrei dois de que gostei. Ambos pertencem a casas do meu actual senhorio. Só me fazem que não esqueça que desta vez ele não me ofereceu um quarto numa das suas muitas casas. "Sorry, you have to go". Foram as palavras que me disse com o que me pareceu falsa consternação quando os inspectores abandonaram a casa confirmando as suspeitas sobre as dimensões do quarto serem abaixo dos requisitos exigidos por lei.

Não devia ter sido tão precipitado em dizer "lamento, mas tens de ir embora" se afinal o despejo não tinha de ser imediato. Eles dão-lhe 18 meses para solucionar o problema, que tem duas soluções: aumenta o quarto e paga para ter a casa certificada contra incêndios ou elimina o quinto quarto, dispensando assim a renda extra.

Neste momento tenho plena consciência que sou a peça mais importante da casa. Mas também a menos desejada. Receio que até por ele. O que me entristece. Mas adiante, que tristezas não pagam dívidas. Disse que me considero a peça mais importante da casa porque enquanto cá estiver, dou-lhe renda. Assim que sair e até ele alargar o quarto, não será possível meter outro arendatário, pois a lei não o permite.

Assim sendo, tem de levar comigo porque isso significa dinheiro a mais. Sem mim, seria dinheiro a menos.

Nesta cidadezinha os quartos são tão deprimentes, em casas tão sem jeito, e tão caros! Procuro algo que me comunique bem-estar. E tenho encontrado apenas em anúncios de casas dele. Que coisa!

E ele tem uma porrada de casa na localidade. Pelo menos seis. O não me oferecer como alternativa um quarto quando vejo que tem tantos a vagar, magoa-me. Mas também posso interpretar esta sua atitude como oportunista. Se me "oferecer" outro, perde de imediato a renda deste. Assim sendo, não lhe é conveniente fazê-lo. Nunca vai me oferecer porque isso significa perder dinheiro.

O meu receio é que quando chegar a hora dele tomar uma decisão - ou o fim do prazo dos 18 meses - ele me repetir as palavras "Sorry, you'll have to leave" com o que me pareceu uma secura disfarçada de falso lamento. "Existem mais casas, o que não faltam são quartos" - outra coisa que me disse aquando me deu a notícia de que vinham inspeccionar a casa.

Outra coisa que lhe está a falhar é comunicar no chat quem é que vem para cá morar. Isto é muito sério e grave. Porque em todas as outras ocasiões, ele sempre comunicou a todos na casa o nome do novo morador, idade, profissão. Agora... silêncio. A mais-nova vai sair dentro de 18 dias e NADA dele dizer ai ou ui. E eu sei porquê. Porque a única pessoa que não sabe de nada SOU EU.

Foi o senhorio que pediu diretamente aos italianos para lhe indicarem alguém para a casa. E eles logo começaram a fazer telefonemas. Ao todo apareceram QUATRO rapazes, todos italianos, todos "amigos" dos que cá moram.

Ninguém me disse isto. Eu é que ouvi. Primeiro, ouvi o senhorio entrar em casa naquele dia da inspecção, ficar surpreso ao ver três pessoas dentro quando só contava com uma, demorar para me olhar no rosto e cumprimentar e depois chamar um pouco à parte os dois italianos e pedir-lhes para arranjarem alguém para cá morar.

Mas ao mesmo tempo sei que o rapaz disse: "Ela já sabe do amigo da X". Quando a mais-nova "comunicou-me" que ia sair - coisa que o senhorio também omitiu de MIM - respondi-lhe que já sabia e perguntei ao rapaz se sempre vinha para cá um amigo da X.

Quando virei as costas, entre eles, ele desabafou surpresa por eu saber que procuravam para cá morar um dos deles. E colocou a hipótese de eu ter ficado a saber disso por ter falado com o senhorio nesse dia no jardim. Mas o tema da conversa entre nós dois foi só o jardim em si. Eu comprei flores e ele autorizou-me a plantá-las em sítios específicos. Eu queria "jardinar" e ele queria ver umas áreas secas do jardim com plantas. Juntou-se a fome com a vontade de comer. Só isso.

Ele nem me ofereceu o uso de ferramentas de jardinagem, já que eu entrava com o trabalho e o material principal. Não tinha que oferecer mas seria uma cortesia que eu esperaria dele no início ou se se tratasse de um dos italianos. Ele permitiu que usasse uma pá que está na arrecadação, que durante todo este tempo tinha um trinco na porta, aberto. Eu julgava-o fechado, até me meter na jardinagem. Um destes dias encontro o trinco fechado e um pequeno garfo cheio de teias de aranha e ferrugem deixado do lado de fora. A pá, eu própria tinha-a deixado fora.

Até hoje não sei se foi ele que fechou o cadeado. Se foi, entristece-me porque, mais uma vez, este sempre esteve aberto, o que permitiu aos cá de casa retirar de lá, o ano passado, uma cadeira que nunca devolveram ao barracão. Não sei se foi ele que colocou uma planta perto das minhas de compra. O que sei é que, noutros tempos, ele teria a cortesia de comunicar por mensagem escrita "deixei um vaso com flores no jardim, por favor cuidem". Ele envia mensagens para tudo e mais alguma coisa. E até respondeu a uma mensagem-ataque (mensagens destinadas a mim) depois da meia-noite, a semana passada. A mais-nova, tendo-me escutado a sair do WC, foi-se lá enfiar de seguida e de imediato escreveu uma longa mensagem no chat dizendo para não se fechar a janela do WC, que ela e a mais-velha estão sempre a abrir a janela, que esta deve ficar sempre aberta, porque impede a formação de bactérias e estamos no verão, está calor, deve ficar aberta, porque senão criam-se fungos disto e daquilo, que é prejudicial para a saúde, pode causar doenças, etc, etc.

A sério: uma longa e extensiva mensagem fora de horas que podia muito bem ser transmitida pessoalmente no dia seguinte. Se a pessoa fosse bem intencionada, claro está. Mas ele, o senhorio, que já me deu um raspanete uma vez por lhe enviar uma mensagem depois da meia-noite, Decidiu não ignorar aquela e escreveu: "Concordo e apoio".

E a parvalhona, tal e qual uma criança a precisar de validação e que tomem o seu lado, respondeu: "Obrigada, papá".

Nessa noite em que fui ao WC e fechei a janela, CHOVEU e estava ventoso. Eu há uma semana que estava com tosse e nariz entupido, sempre a fungar e a tirar ranhoca. Mas pronto... é "verão", que não se cometa o crime de se fechar uma janela numa noite fria durante cinco minutos!

Mas são por estes episódios que denoto que o senhorio é mais afável com a italienada e menos atencioso comigo. Não costumava ser assim. Ele era igual. Mas desde que aquela mais-velha andou a tentar soprar aos ouvidos dele... naquela primeira semana em que eu fui trabalhar e eles perceberam os meus horários... Ela andou a encher-lhe os ouvidos. 

Por isso é que acho que ela é a pior de todos eles. É calculista, manipuladora, não dá ponto sem nó. E disfarça o seu fel e desprezo com um sorriso e voz doce. O rapaz é desprezível - porque nunca me fala nem nunca me falou, para ser honesta. Fui sempre eu a puxar conversa e a ter quase nenhuma resposta em troca. É muito frustrante. Mas ao invés de perder os meus pensamentos no: "mas o que foi que eu fiz?" decidi cagar porque o problema nunca fui eu - mas eles. Que teimaram em não ser receptivos e sempre foram de rejeitar qualquer tentativa afável de convívio. 

Posso ser eu a sair prejudicada mas se depender da minha vontade e interpretação de justiça, este karma vai-lhes cair em cima. Só lhes desejo que venham a passar pelo triplo do que me fazem passar e que a vida futura lhes traga o dobro do que me desejam. 

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Dando notícias


Não há dia que não me lembre de um assunto para transformar em post. 

Mas tem-me faltado tempo/energia para aqui escrever. 
E para visitar os vossos blogues.



Novidades?
Nem por isso.

Tenho trabalhado. É aproveitar enquanto o trabalho existe.

Afinal o emprego não é "de escravo". Encontrei pessoas simples mas muito prestativas, atenciosas e calmas. Nada de stresses e até mostram ser humoradas e levar o trabalho de forma descontraída. Estou sempre a trabalhar mas o tempo até passa depressa e de forma agradável.


Não podia pedir melhor. 



sábado, 6 de julho de 2019

Os meus 15 minutos de praia


Decidi valorizar o dinheiro que apliquei na compra mensal do passe para ir até à praia. A cidade mais próxima com um pouco de mar para apaziguar as vistas fica a hora e meia de autocarro. 

Mochila às costas, chaves no bolso, carteira com cartões de débito, passe e cinco libras em dinheiro, telemóveis e lá fui eu. Não me apetecia ficar em casa. Não com estes que cá estão dentro e com este ambiente podre de joguinhos infantis e vis. Caguei neles e saí rumo à vida!

Encontrei gente, movimentação, alegria, normalidade. 

Ao descer do autocarro perto de um de muitos jardins, fiquei a olhar as aves que andavam pelo relvado e pousavam na estátua/fonte. Se estivesse em Portugal, sem dúvida que estaria a olhar para pombos. Mas no caso estava a ver gaivotas a se comportarem como pombos. Insólito.

Tirei fotos e dirigi-me de imediato até à praia. Estava apinhada de gente e senti de imediato um rasgo de alerta. Mas foi para estar à beira da água que tinha viajado até ali, pelo que percorri o percurso sem areal até à margem onde a água sem ondas bate nos calhaus para ali se deixar morrer. 

Tirei fotografias e fiz videos. Depois deitei-me para relaxar e nesse instante subitamente intuí que estava sem a carteira. Não foi sentir, pois não era suposto senti-la no bolso da frente das calças. Foi uma intuição. Levanto-me e enfio a mão no bolso onde ela devia estar. Encontrei as chaves, um lenço de papel, mas nada de carteira com cartão de débito, passe, dinheiro e dois outros cartões. 


Novamente a sensação de alarme. Mas estou tranquila. Estranhamente, sinto que não vou encontrar a carteira, ainda que a procurasse por todos os bolsos, nas calças, no casaco, na mochila, nos sacos, uma, duas, cinco vezes. Intuí que não a ia encontrar, que já estava perdida e nas mãos de alguém, mas estranhamente estava a receber a sensação de "está tudo bem". 

Claro, fiquei alarmada. Sem dinheiro para comprar o que fosse, sem passe para regressar e correndo o risco de ver a minha conta passar a zeros se alguém desse para usar o cartão em modo contactless. Mas estranhamente, diante destas eventualidades, senti que estava tudo bem.

O meu tempo na praia passou de calculadas duas a quatro horas relaxantes para 15 minutos. Tinha de abandoná-la para encontrar uma esquadra de polícia (porque aqui nunca se vê um polícia em zonas com gente apinhada, esse fenómeno só se encontra mesmo em Portugal, aqui eles ficam sossegadinhos nas esquadras sentados atrás das secretárias, nem sequer fazem ronda em automóveis, era vê-los todos estacionados ali no parque da esquadra, com um quarteirão de comprimento).

Fui perguntando pelos estabelecimentos comerciais que vi ainda pela praia se alguém tinha encontrado uma carteira e onde ficava a esquadra. Quando percebi que me deram indicações contraditórias, desisti da caça a gambozinos e dirigi-me a um hotel. Aí as pessoas na recepção foram simpáticas e passaram-me informações práticas e úteis. Com um mapa da cidade indicando onde era a esquadra, pedi ainda se  podia ligar-me ao WI-Fi para então cancelar o cartão de débito, pois graças a eles, soube que era possivel fazê-lo de imediato, não seria preciso esperar até segunda-feira até os bancos abrirem.


Foram muito úteis, e eu fiz o meu melhor para anular aquele cartão. Por mais que eu repetisse o meu código postal e o meu nome, soletrando cada letra incontáveis vezes - P de Papa, O de Oscar, R de Romeo, T de Tango, U de Uniform, G de Golf, U de Uniform, E de Echo, S for Sierra, I de India, N de November, H de Hotel e A de Alpha - não havia meio de "encontrarem-me" no sistema. Mas após muitas tentativas,  graças ao sinal do online baking ter voltado a ficar disponível, finalmente, lá consegui os dados da conta. Porque sem eles e só com a identificação pessoal, ainda que com tudo soletrado, nunca iam chegar lá. 

Raios parta os britânicos que sempre se atrapalham todos com nomes! 

Adiante: Agora era suposto ir à esquadra. E fui. Mas foi perda de tempo. Já não registavam casos de perdas - só de furtos. E como pode ter sido um e outro mas certeza não tenho, claro que eles descartaram-se de imediato e mandaram-me registar o caso online. Quis saber mais informações na esquadra de polícia, nomeadamente quais as minhas chances de encontrar um bom samaritano que, em último caso, se oferecesse para me pagar o bilhete de volta a casa e principalmente, caso tivesse de caminhar de volta, quanto tempo levaria a fazer o percurso.  Totalmente sem compaixão, trataram de me mandar embora. 

Fica o aviso: procurem hotéis e esqueçam esquadras de polícia.

Chegou a altura de ir para a paragem de autocarro tentar a sorte. O primeiro motorista disse-me que podia entrar. Fiquei muito aliviada. Mas tinha reconhecido uma passageira que viajou comigo até lá e pedi para que fosse minha testemunha de que viajei com bilhete. Ela preferiu ir no autocarro que vinha atrás - eu também pretendia usar esse que faz o percurso mais rapidamente. Porém a reação desse motorista foi diferente. Sem comprovativo de compra não me deixou viajar. Tentei ligar-me online para mostrar a compra mas não deu tempo. Ele estava a pedir-me para sair. Uma senhora de idade perguntou quanto era o bilhete que mo pagaria. Mas ao escutar 5.60 disse que não tinha dinheiro. Inspirada, numa última tentativa perguntei se alguém podia pagar-me um bilhete. Todos acenaram que não. 

E saí do autocarro. O próximo, só dali a uma hora. O meu coração ficou a desejar que esse motorista fosse como o primeiro. Entretanto meti conversa na paragem e perguntei logo ali se por acaso... se fosse preciso... disseram logo que não. Responderam que escutam isso todos os dias e já não querem saber. Eu aceitei. Compreendo. Em alguns casos eu também faço o mesmo. Se vejo que a pessoa que pede dinheiro para um bilhete mas aparenta ter um ar de quem quer o dinheiro para vícios, também não tenho o impulso de ajudar. Mas já ajudei, noutras ocasiões, com pessoas que me pareceram realmente vítimas de um súbito infortúnio. 

Conversei muito com o casal que me "negou" ajuda financeira. Mais para o final, surgiu um rapaz, muito conversador, e a conversa engendrou em vários temas até que o autocarro apareceu. O meu coração aos pulos. Não sabia se ia viajar naquele, ou se ia receber outra nega e a minha última chance ficaria para o último autocarro do dia. Mas a sensação de que tudo ia correr bem ainda permanecia. 

Assim que abri a boca e disse.... «roubaram-me a carteira com o passe e o cartão com dinheiro» o motorista respondeu: "Sim, claro, entre". Agradeci e entrei logo. Nem hesitei. Talvez o motorista anterior tenha avisado por rádio do sucedido. Soprei um beijo de agradecimento à senhora a quem pedi para me meter na frente, pois precisava perguntar ao motorista se me deixava viajar sem a carteira que me tinha sido roubada. Ela logo se ofereceu para me pagar bilhete. Fiquei grata. Porque assim, independentemente da resposta do motorista, ia poder viajar. 

Agradeci-lhe e logo lhe disse que queria a morada dela para lho devolver, mas que me deixasse perguntar primeiro ao motorista se podia viajar sem comprar novo bilhete, uma vez que tinha passe mas este foi furtado. 


E pronto. Foi assim a minha ida à praia. Voltei a procurar a carteira em tudo o que é orifício, e de facto não a tenho comigo. Provavelmente deixei de a ter assim que pisei os pedragulhos que fazem as vezes do areal. E dei conta disso graças a uma misteriosa intuição. Não me desesperei como podia, também graças a uma sensação de "está tranquila" que me surgiu em simultâneo. 

Foi só uma inconveniência. Não tive quase nenhum minuto de praia, só horas a procurar soluções para uma carteira desaparecida e falta de meios para regressar a casa. Entre estes factos, o tempo todo senti que tinha saído de casa para viver uma aventura e calhou ser esta. Senti que estava a passar por isto por um motivo e com algum propósito benéfico. Só mais à frente saberei que lição daqui vou tirar. 

Acredito que ainda existem bons samaritanos neste mundo. E eu só tinha de encontrar alguns.

Fiquei imensamente grata a todos os que me prestaram auxílio, por pequeno que fosse. 
A todos queria agradecer - e agradeci, mas queria também mostrar gratidão. 

Se pudesse, enviava a todos um ramo de flores, uma garrafa de vinho e voltava a enaltecer os gestos que tiveram.  Pequenas coisas, fazem grandes diferenças. 


Hoje já vou dormir na minha cama e não no asfalto de um passeio qualquer. 
Sim, pequenos gestos fazem grandes diferenças.

Bem-haja!

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Falar, calar, comunicar e manguito


Falar ou calar? - Pergunta deixada neste blogue.

Esta questão motivou-me a vir aqui escrever sobre este lado da natureza humana: do falar e do calar.


FALAR:
Na viagem de autocarro ontem de noite, entrou um passageiro com aspecto de morador de rua e lentidão nos movimentos. Comprou bilhete com o motorista e enquanto lentamente colocava o bilhete na carteira  fez um comentário qualquer. 

O motorista parou o veículo, perguntou-lhe se estava bêbado e disse que queria-o fora dali, que recusava-se a transportá-lo. Portanto, ou ele saia, ou o autocarro não andava.

Quase 23h da noite. O autocarro cheio de pessoas ansiosas para chegar a casa. Todas a querer ver o autocarro a mexer. O homem, ficou parado e imóvel no mesmo sítio.  Um outro passageiro de fato e  gravata dirigiu-se a ele de forma autoritária, fazendo o papel que devia ser do motorista e disse com voz muito firme: "saia deste autocarro. O motorista pediu-lhe para sair, ele não vai arrancar com o veículo consigo cá dentro. Todos nós queremos chegar a casa, você já está a fazer-nos perder tempo.". Foi aqui que o homem estranho finalmente falou. E apenas disse: "comprei o meu bilhete quero viajar neste autocarro". Ao que o homem bem vestido retaliou: "Tem de sair deste autocarro agora. Comprou bilhete mas o motorista não o quer transportar. Portanto saia. Simplesmente saia. O motorista disse que podia usar o bilhete no próximo autocarro". E nisto toca no braço do homem estranho, querendo dirigi-lo à porta de saída. "Acalme-se. Não seja violento" - diz o homem-estranho. (aqui não se pode ter qualquer contacto físico, é onde estabelecem o limite, identificam quem toca como a primeira pessoa a iniciar o assédio).  Enquanto este diálogo entre passageiro indesejado e outro passageiro ocorria, o motorista manteve-se calado. E sossegado, no seu cubículo protegido por flexi-glass

O homem bem vestido, que se nota que é culto, inteligente, capaz em todas as suas faculdades físicas e psicológicas, continua o confronto verbal com o homem estranho, a maior parte das vezes mudo e sem reação. Repete-lhe a ordem para sair do autocarro e às tantas diz-lhe: "Quer discutir leis? Pois muito bem. Vamos falar da lei!".

O que achei inapropriado. O homem-estranho estava claramente numa posição de inferioridade e também não me pareceu ter capacidades intelectuais muito desenvolvidas. Nesse instante não gostei da atitude do homem-bem-vestido. Acho que não gostei quase de imediato. Acho bem que fale, que expresse a sua opinião. Mas há um limite entre o falar, o ordenar, o se mostrar e o tirar proveito de uma situação desfavorável para outra pessoa. Ele estava a ser mais confrontacional que a suposta ameaça e a retirar do motorista o dever de impor a autoridade. Este bem que se calou e não impediu ninguém no autocarro de confrontar o homem-estranho

A quietude deste tanto podia dar para a violência súbita, quando para a total incapacidade de reagir. Por isso cabe ao motorista zelar pelo bem-estar de todos os passageiros. Neste país faria todo o sentido se o motorista pedisse ao homem-bem-vestido para não intervir mais, pois já estava a chamar a polícia pelo rádio. Mas o motorista deixou as coisas rolarem. E se o homem-estranho, ao ser tocado, desse para desatar a bater em alguém? Podia ou não o motorista ser responsável já que não fez nada para acalmar os ânimos? 

Não simpatizei muito com a intervenção do homem bem-vestido. Que depois foi reforçada por outro homem bem-vestido que estava sentado ao meu lado. Dois galos de capoeira... contra um homem barbudo, transportando uma mochila de campismo nas costas e segurando um pau de caminhada. Dificilmente os seus movimentos podiam estar soltos para atacar alguém. Mas no caso de um ataque de fúria tudo é possível.

Este homem não falava, não se movia, foi como se tivesse sido apanhado de surpresa. Só então, muito depois, o primeiro passageiro que interviu decidiu entrar pela abordagem mais serena: "Tem algum problema médico? Precisa de tomar alguma medicação?". 

O homem nada dizia e não se movia. Eu é que me movi. Pedi licença para passar, dizendo que ia apanhar o próximo autocarro já que aquele não saia dali. Na realidade, mexi-me para ver se o homem-estranho também se decidia a sair, ao ver outra pessoa abandonar o veículo. E também porque não queria estar ali a presenciar mais aquilo. Sinto-me muito voyerista, embora o meu lado que sempre gostou de registar o quotidiano sentisse uma vontade compulsória para começar a gravar. Hoje em dia todos fazem isso porque existem smartphones, mas eu sinto estes impulsos desde criança, antes mesmo de câmaras de filmar estarem ao alcance do cidadão comum, quanto mais existirem telemóveis ou smartphones. Mas Mas agora que fazer gravações é algo banal e tão criticado, algo que me dava gosto fazer com todos os cuidados e respeito, já não faço com tanta normalidade. Resisto ao impulso.

Basta recordar aquele post onde contei que fui insultada por duas tipas que passaram por mim enquanto tirava fotografias a uma igreja. Por acaso esta é uma boa história para recordar, pois passei por lá faz dois dias e no exacto lugar onde eu me encontrava a tirar a foto, estava uma outra rapariga a fazer o mesmo. LOGO me ocorreu que ela era uma sortuda. Porque eu não ia parar e recriminá-la por aquilo que estava a fazer como as outras duas doidas fizeram comigo. E ela pode seguir caminho sem nunca conhecer a sensação que é passar por aquilo.

Bom, regressando ao episódio no autocarro. Eu saí, outra passageira veio atrás, depois outro mas a verdade é que a pesar de o autocarro estar imobilizado fazia já muito tempo, o próximo ainda estava a 12 minutos de distância! Não sei como mas o homem-estranho acabou por sair. E nós regressamos ao veículo. Eu agradeci ao homem-estranho, que estava como um zombie parado no lado de fora do autocarro e agradeci ao motorista ao entrar. Sentei-me e senti um tanto de desconforto com a gargalhada e risos que o homem-bem-vestido exibia à medida que relatava o seu confronto com o estranho. Disse ele que era capaz de o arrastar para fora do autocarro se fosse preciso.

Um tanto gabarolas para o meu gosto pessoal. 

Quanto ao homem-estranho, não sei o que lhe aconteceu. O motorista alertou o motorista seguinte, fez a descrição física completa do indivíduo e acusou-o de o ter insultado e recusado a abandonar o veículo. Não cheguei a entender se existiu insulto, embora o homem tenha ruminado algo ao entrar. Agora ficou marcado, como se calhar também eu podia ter ficado naquele mesmo dia, caso o motorista ao qual fiz o gesto do manguito, tenha achado esse gesto ameaçador e impróprio para a sua nobre pessoa. 

Acho que aqui abusam nos direitos e esquecem-se um pouco da educação. Como se sabe, em Lisboa, se um motorista passa com o autocarro cheio de passageiros e não pára quando fazes sinal, é costume ele assinalar com um gesto de mão ou abanando a cabeça - mas é RARO não existir essa comunicação. Existe o cuidado, a atenção, de deixar saber aos passageiros à espera na paragem o que está a acontecer. Aqui não. Estou à espera do veículo, vejo-o a aproximar-se, faço sinal. Espero que se aproxime mais, volto a fazer sinal. E este passa por mim sem reduzir velocidade, o motorista nem me olha na cara, vem a mascar pastilha e ignora-me! Acho isto do mais rude que pode existir. Acho-os muito rudes muitas vezes, naquilo que podiam ser gestos muito simples e fáceis de ter.

Custava acenar com a cabeça? Fazer um gesto? Deixar-me saber que não ia parar?
Como era a única na paragem e obviamente ninguém tocou na campainha para sair naquela onde me encontrava, o motorista ignorou-me! Senti-me insultada. Fiz-lhe rapidamente um manguito que espero sinceramente que ele tenha visto através do espelho retrovisor.

Já que não sabe comunicar, eu sei! Se não aprendeu o que é comunicação visual, eu ensino-lhe.
Se eles, motoristas, sabem acenar uns aos outros quando se cruzam e sabem fazer sinais de luzes para se cumprimentarem, o que custa? O que custa comunicar ao passageiro que ignoras que não paras por algum motivo de força maior?

É que é muito rude.
Muito mesmo.

Novamente hoje, já com a paragem cheia, o autocarro passa a alta velocidade e não pára para nos deixar entrar. Todos olharam uns para os outros. Obviamente. Ninguém gosta de ser ignorado! Não sou só eu, foi a paragem inteira. Mas desta vez, viu-se um outro autocarro a aproximar-se. No meu caso, eu vi DOIS passarem enquanto caminhava para a paragem mais próxima e aguardei aquele por cinco minutos.

Estava longe de esperar que fizesse aquilo. Já tinham passado DOIS! Esperei mais 17 minutos pelo próximo. E aqui é muito tempo! Porque é suposto eles passarem em intervalo de seis minutos entre si. 


Bom, mas desviei-me muito do tema principal. Há dias assim. 

FALAR ou CALAR?

No caso do homem-estranho, ele devia ter-se calado ao entrar. Não calou, o motorista achou que tinha sido insultado e reagiu de forma extrema. Escudado pela lei, ninguém o podia punir. Está no seu direito e nem digo que tenha feito mal, pois quando vi o homem estranho entrar, pensei comigo mesma que ele não devia entrar. Era muito lento nos gestos, estava a tomar o seu tempo... como se vivesse num tempo próprio, só seu. E isso não cai bem ali. Até nem procurou se sentar de imediato, levou o seu tempo, tanto tempo que ruminou alguma coisa que despoletou tudo o que aconteceu de seguida.

E FALAR?
Devia ter falado quando lhe dirigiram a palavra. Devia ter tentado justificar-se, defender-se, até mesmo desfazer qualquer equívoco. E agir. Mas calou-se quando não devia e falou quando devia estar calado.

Quantos de nós não faz o mesmo?
Infelizmente identifico-me bastante com essa parte do estar calado quando se devia estar a falar. Há situações em que se está tão certo que quando se escuta tanta coisa errada, fica-se mudo. Pela injustiça. Já vos aconteceu?