Metereologia 24 h

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sábado, 15 de junho de 2024

Porquê nos ensinam a adiar fazer o que nos dá vontade?

 Já cheguei a uma idade em que penso que me falta tempo. 
Ou então, percebo que muito dele foi desperdiçado. 

Dou por mim a pensar que gostaria de plantar arbustos e árvores para as ver crescer, colher seus frutos, respirar o aroma de suas flores e... penso que já não tenho o tempo que gostaria para isso tudo. Em simultâneo, esta é mais uma vontade adiada - das muitas - se não todas - que fui adiando na vida, porque assim me foi ensinado que era para fazer. 

Nunca concordei. No entanto, foi-me imposto assim - era o "normal" - e assim sendo, seguem-se as ordens "superiores" dos progenitores: «primeiro estudas "para seres alguém" e depois "o resto"... » - esse resto incluiu tudo e mais alguma coisa: vontades, sonhos, pensamentos, gostos, passatempos... tudo o que compõe a vida e a felicidade. 

Mas essa parte - a raiz - ficou para tras. Contudo, os ensinamentos e a prática permaneceram. 100% dedicada ao trabalho, incapaz de me "desviar" da boa conduta, com dificuldades em planear ausências que possam prejudicar a entidade patronal. E para quê? Se quando ficar doente ninguém me vem acudir? E se preciso for, amanhã levo um chute no traseiro e fico sem "nada"?

Bom, reflexões fadistas à parte, a vida continua... segue. Como sempre seguiu. Sem grande tempero. Para o bem ou para o mal. Ao menos isso. 

O que quero dizer é perguntar, a vocês, PORQUÊ ADIAMOS FAZER O QUE NOS DÁ VONTADE?

Porquê adiar para o final da nossa vida (a reforma) o começar a viver de acordo com preferências pessoais? 

Para plantar esses arbustos e árvores, preciso de um terreno meu. Coisa que não tenho. Então é óbvio que terei mesmo de adiar este sonho. Porém, existem outras formas. Podia trabalhar na área e dedicar-me à plantação. Teria, mais uma vez, de voltar aos estudos. Ou então podia ajudar alguém que tem terreno mas não tem capacidade ou precisa de ajuda... 

Nem sempre procuramos outras formas de realizar os nossos desejos. 
Outra coisa interessante sobre vontades é que, algumas vezes, basta as fazer uma vez para retirar delas toda a satisfação que se anunciava e ficarmos felizes. 

Hoje apetece-me plantar para ver crescer.
Amanhã, feito isso, pode ser que me passe e não me apeteça tanto.  

Adiar, é perpetuar o desconhecido. 

(Enquanto isso, ando a plantar girassóis na esperança que floresçam em vaso) 


terça-feira, 13 de junho de 2023

Pensamentos espontâneos

 


Foi ontem. 
Numa rua aqui perto. 

De mãos dadas, a caminhar lado a lado.
Distintos. Conversando e andando. 
Ele carrega os sacos. Ela, segura nele. 
Ambos já com idade avançada. 
Ele alto, ela baixa.
Ela agora corcunda, com um andar um tanto balançante. 

Que rico casal!
Têm-se um ao outro. 

"Ate que a morte os separe".

quinta-feira, 1 de junho de 2023

A idade tem cheiro

 

Já me sinto a envelhecer de uma forma com a qual não me identifico. Nunca pensei que envelhecer ia perturbar-me, porque presumi que se vivia cada momento da vida em pleno. Só que não aconteceu assim. Agora a idade "apanha-me" algo desprevenida. 

O que descobri é que não gosto do meu cheiro. O cheiro da minha pele é uma das últimas constatações sobre mudanças em mim que a idade me traz. Não é falta de higiene - nunca tive mais do que agora. É alteração biológica.  Estranho isto, não é? Não me identificar com o meu próprio odor corporal! 

Não tresando - sosseguem. Mas tenho um suave trave a algo que estranho, me desagrada e não me é familiar. Tomo banho e visto roupas perfumadas, acabadas de lavar na máquina, deito-me em lençóis lavadinhos. 

Será que é das máquinas de lavar? Todos sabemos mas escolhemos ignorar, que são reservatórios imundos por dentro cheias de bactérias e contaminantes. Experimentem lavar as roupas sem recorrerem a amaciadores perfumados e vão sentir um odor desagradável, que detergente e água não elimina. 

Com tudo lavado e fresco, sinto-me bem. Mas isso pode durar apenas umas horas. Em menos de um dia, já não sinto as roupas agradavelmente aromáticas e o odor das mesmas mistura-se com um outro que não me agrada. Busco perceber de onde vem. Quero eliminá-lo. Lavo tudo: lençóis de cama, toda a roupa, colchão, passo detergente aguado na carpete e salpico os cortinados com aroma de lavanda. OK. Agora sim! Vou viver num espaço permanentemente agradavelmente perfumado - penso. Passadas umas horas, depois de estar deitada na cama com lençois lavados, vestindo roupa lavada e fresca, principalmente se adormecer, ao despertar já sinto um suave "trago" a cheiro corporal que me desagrada. Só pode emanar de mim, mas não o reconheço.

Será isto a que chamam "cheiro de velho" ?


Pensava que "cheiro de velho*" era apenas uma expressão para a falta de higiene mais regular que a terceira idade exige, em particular em casos de incontinência. Uma vez que a pessoa está mais cansada e debilitada, é completamente compreensível que deixe de conseguir manter essas rotinas tão amiúde. Agora já não sei se assim é.  Se calhar, não é bem uma escolha, assim como o próprio envelhecimento. "Cheiro a velho" é, na realidade, cheiro a decadência. A podridão. Não me levem a mal, refiro-me ao ciclo da vida.  Somos como uma flor: nasce botão, floresce perfumada e apodrece. 

Subitamente me lembrei de um outro cheiro que quase todos adoram - inclusive eu: "Cheiro a bebé". Nossa! Como o cheiro a recém-nascido é uma coisa maravilhosa. Gostosa. Costumava ser um odor desse género a emanar da minha pele por muitos anos, até quase aos 30, fresquinho, sempre presente, mesmo quando ficava uns dias sem tomar banho e os hábitos de higiene não seguiam as normas da altura. Cheirava sempre bem, adorava "snifar" meu próprio odor. Dava-me prazer. Outros me diziam que cheirava bem e queriam saber que perfume usava. Lembro-me de responder que não usava nenhum e também não usava cremes para o rosto ou produtos para o cabelo sem ser champôo normal - o que os surpreendia.  E não, não eram perguntas irónicas. Eram sinceras. 


Santa ignorância! Porque desaprendemos a nos familiarizar com o ciclo da vida? Lições que pais passavam aos filhos por gerações - desapareceram ou estão a desaparecer. Estes dizeres nos tornava  conscientes, conhecedores, simpatéticos, caridosos. Foi tudo substituído pela falsa sensação de que se pode manter a juventude a todo o custo, se se comprar bons cremes, se submeter a procedimentos cirúrgicos, etc. Como se "ser velho" fosse indesejável e para evitar, quando, na realidade, é inevitável - para todos os que vivem. 

Encontrei uma fotografia onde estou debruçada sobre um bolo com velas acesas e um gigante número indicando: "35". 

O que me lembrei ao ver aquela fotografia, foi que já me sentia no final da vida, sem muita esperança. Uma autêntica parvoíce! Mas também recordei-me das razões que me levavam a sentir assim: Naquele instante de celebração que devia ser feliz, todos na família me disseram que estava velha. Lembro-me em particular de uma frase habitual, sempre dita pela minha irmã com um tom de prazer na voz: "Estás a ficar velha, vais ficar para tia". e que os outros repetiam. Neste instante desta foto em particular, lembro-me que reforçaram a dose e me disseram isto, que instantaneamente senti como uma ferroada em mim: "Tu nunca vais ter filhos!



Porquê deixei? Porquê me abandonei? Porquê não combati eu esta opressão? Porque não me rebeliei - que é o que a juventude DEVE fazer? 

O tempo passou e eu fui deixando que passasse. Agora estou desfasada do mesmo e o que ele me traz é justíssimo - só não foi justo não ter vivido com o tempo.

Podem até me ter dado vinte e poucos anos recentemente. Podem achar que estou ainda na casa dos trinta. Podem dizer-me que pareço mais nova. (será que pareço? Não acho mais!). Mas é o meu corpo que escuto, que vive comigo e que me mostra, por vezes de forma cruel, que o que as pessoas dizem não corresponde à realidade. 

Um destes dias o corpo colapsa de vez, tudo fica flácido, mostrando todo o seu horror e desmistificando de uma vez só o real tempo que estou sobre esta terra.


https://www.campograndenews.com.br/colunistas/em-pauta/-cheirando-a-velho-o-odor-corporal-que-comeca-aos-30

https://www.uol.com.br/tilt/ultimas-noticias/redacao/2016/08/16/clique-ciencia-o-que-causa-e-por-que-os-idosos-tem-um-cheiro-diferente.htm


quarta-feira, 3 de maio de 2023

Vitamina D - de ar livre!

 Hoje apeteceu-me tomar banho de sol. Pude sentir a minha pele a absorver os benefícios desse calor. E soube-me bem!

Este é um desejo adquirido aquando a mudança para o UK. Nos trinta e pouco anos anteriores a viver em Portugal, "fugia" do sol, do calor. Tapava-me toda.

Agora sinto-o como uma necessidade biologica. Depois de meses e meses sem ele, eis que está a vencer a batalha ao Inverno. Faz uns três dias que nao chove e hojr a temperatura chegou aos 14 graus! Esta ventinho. Para muitos, inaceitavel ainda. Para mim foi como sentar numa pedra aquecida pelo sol... sensação confortante. 

E assim, duas horas após sair do trabalho e me ocupar as voltas pelas lojas, para adiar o desprazer de chegar a casa e ser logo seguida pela M., com dor nos pés, calor por ter colocado roupa de inverno, sede e sono, rumei então ao lar. Objectivo: jardim.

Quando cheguei, ninguem na cozinha. Ninguem a sair do quarto. Liguei rapidamente o forno e coloquei no interior uma das pizzas compradas. Sabia que levaria 15m a fazer. Dava para ir tomar um duche rapido e ir para o jardim. Relva recem cortada, cheirinho a natureza...

Assim o fiz. Deitei-me sobre o meu fiel plastico, tao pratico e jeitoso e deixei me secar e aquecer ao sol. 

Sei que foi mais que um banho de água, sol e novamente água. Foi a absorção de vitaminas da luz solar! 

E para tornar o momento mais especial, depressa a ausencia da M. se confirmou, pois nao me apareceu à frente. 

Acreditem: sem ela, sente-se pela casa um bem-estar, uma tranquilidade. Foi um dia bem passado! A energia fica boa, dá para sentir. Fica normalizada e não tumultuosa. 

Falei com o outro rapaz ca na casa e ele também percebe como ela é e já a topou a seguir-me e a implicar comigo. Diz que percebeu que ela é doente, que algo na cabeça dela nao está bem e ao perceber isso não se aborrece e até tem pena.

Eu não tenho pena da M. Sendo como sou, dei-lhe todas as hipóteses e mais 200. Tive pena dela muitas vezes já depois de a saber como é. Questionei e tentei seguir raciocínios para a ver com uma luz favorável.  Ela apagou-as todas. 

Sei que é uma narcisista. Das piores. Vi vídeos no youtube sobre estes casos. Nem consigo vê-los ate ao fim, no pouco tempo que descrevem as atitudes, pensamentos e reaccoes de um narcisista, tudo já esta a encaixar na M.

O narcisismo não é uma doença mental. Não é doença sequer. É característica de personalidade. É como ser homicida. O indivíduo tem total consciência do que faz e ainda assim escolhe fazê-lo, tirando satisfação pessoal. E vai escalando. Não tem limites.

O outro rapaz da casa pensa que a agência acabará por lhe pedir para que saia. Mas eu sei que não. Infelizmente. Já teve múltiplas oportunidades para o fazer. Ela é uma porca. Autointitula-se paranoica com as limpezas mas não limpa nada, só suja. E de forma muito badalhoca. 

Ela fumou dentro de casa, ficou meses a empestar o ar interior com o seu cigarro - e mesmo assim a agencia não lhe colocou uma accao de despejo. Deixa à porta das traseiras um trilho de beatas que seria o céu para qualquer um dos desocupados noturnos que andam com os olhos grudados no chão a procura de uma mal acabada. 

Numa noite fria e escura de inverno, um desses indivíduos seguiu-me. Quando alguém caminha muito próximo de mim a horas impróprias, apresso o passo e ele também, páro e ele também, e mais ninguém está por perto, tento não indicar onde vivo. Por isso, ao passar pelo portão, comum a duas casas, não me dirijo para a porta da frente. Sabia que era alta a probabilidade de encontrar a das traseiras aberta. E como fica num estreito corredor com a casa vizinha, entro nele rápido, para quem vier atrás não ter como ver onde entrei. Se bem que a luz acesa e ser a única porta acessível é uma dica :) Mas presumo que a pessoa já não ia dar tanta bandeira, ao ponto de entrar numa área residencial privada. A menos que suas intenções sejam determinadamente ruins. Ao apressar-me a atravessar a porta e fechá-la rapidamente, encontro o rapaz de baixo a cozinhar. Entro rápido e desabafo:

- "Estava um tipo a seguir-me. Desde o parque de estacionamento. Vinha a olhar para o chão e a baixar-se para apanhar beatas... "

Subitamente sai-me com esta:

- Aqui fazia uma festa. Tem muitas pra se ocupar. - digo casualmente.

O pior é que é a pura verdade. A M. Mantem pilhas de beatas no chão, no corredor que mencionei, nas traseiras e um monte num cinzeiro que tem beatas com mais de um ano! O momento que estes indivíduos descobrissem isto, deixariam de fazer excursões pelas ruas da cidade e se concentrariam nesta casa para se abastecerem várias vezes ao dia e noite. Com acesso direto ao jardim, até imagino que poderiam estender a estada por lá.  

A pesar de um ultimato dado pela agencia - que instalou na parede la fora um cinzeiro especialmente para esse fim - a M. Ignorou e já se tinham passado quatro meses desde que fora instalado.



Num dia de folga apeteceu-me ir ao jardim, cheirou-me e vi o estado em que se encontrava o percurso. Organicamente tirei duas fotos e enviei à a agencia. No seu ultimato tinham dito que iam nos fazer pagar pela limpeza das mesmas, caso não fossemos nós a colectá-las. Ora, numa moradia onde vivem cinco, três não fumam, obvio que esses três não se sentem na obrigação de serem eles a limpar a porcaria dos outros.

Às fotos enviadas a agência reagiu relembrando que tinham gasto dinheiro na colocacao de um cinzeiro de parede e estavam a usar o chão como um. Reforçaram que viriam inspecionar se as beatas seriam recolhidas dali a três dias e se fosse preciso mandar um profissional limpar, o custo seria repartido entre todos.

Por três dias fiquei à espera da reacção da M. Ela ignorou e continuou a deixar as beatas no chão. Típico do narcisista. Ninguém lhes diz como têm de agir. E riem-se de quem tentar.

No dia seguinte recebi um telefonema avisando que vinham inspecionar a casa (o que fazem com regularidade) e precisavam entrar nos quartos. Um dia depois oiço alguém entrar na casa e bater na porta do quarto da M. É a senhora da agência para a informar que precisa de inspeccionar o quarto na semana seguinte. 

É que a M. nao gosta - aliás, detesta a ideia. Então ignora sempre todos os contactos. Sabendo disso o pessoal da agencia teve de vir pessoalmente bater-lhe à porta e falar cara a cara. Porque a M. Nao atende telefones, nao responde a emails ou cartas. 

Nada a diferencia de todas as criticas que teceu aos que a antecederam. Foi tao maliciosa e dura, repetindo que estes nao atendiam as chamadas da agencia porque nao estavam a pagar a renda e ela é a mesma coisa.  

Por isso nao tenho pena alguma dela. Não mesmo. Ai de mim se voltar a ter, por uma fraccao de segundo que seja. Quem ja nos mordeu a mão vezes sem conta, nao vai subitamente abanar a cauda sem voltar a cravar os dentes.

A sua máscara caiu de vez e ela ficou toda exposta para mim.

Por consequência da partilha do meu resignamento com a presença de tantas beatas, ela teve mesmo de as apanhar. Deve ter esperado ate se certificar que ninguém estaria em casa para a observar. O que nao e difícil, ja que todos menos ela trabalham. 

Mas logo voltou a deixá-las no chão. Depois da inspeção aos quartos, choveu granizo. Foi então que notei duas gigantes manchas amarelas na parede. O telhado foi recentemente remexido. Agora tenho duas gigantes manchas de humidade ja a criar mofo na parede do quarto. Tive de comunicar a agencia e esta veio inspeccionar.

Ao fazê-lo, tirou uma foto das beatas que estavam novamente no chão e verificou que, atras da casa, onde ninguém vê, o chão nao tinha sido limpo e ainda estava replecto delas. 

Por isso a agencia SABE.

Se fosse fazer algo já tinha feito. Não faltaram oportunidades. A M. é daquelas que NUNCA vai embora. Só se todos estiverem a berrar e a gritar com ela. Só que somos todos da paz. Evitamo-la. 

Discordo desta abordagem porque só faz é ser permissiva aos abusos da M. Assim ela vai sentir que pode continuar a fazê-lo e vai aumentar os abusos.

Sem querer, acho que fiz muito bem em enviar aquele email a agencia. Fez com que a M. Fosse forçada a fazer algo que nao queria de todo fazer. Limpar a sua própria sujeira!

Ela tem e deve ser contrariada. Sempre. Ou nunca vai deixar de abusar todos que a cercam.

A sua ausência de hoje é bem acolhida mas também é agridoce. Se está ausente é porque secou todos os seus recursos vis para extrair dinheiro sem trabalhar. Sendo assim, teve de andar a fazer telefonemas para salões de beleza a oferecer os seus serviços. Ela diz que é "beautician". Ou seja: esteticista. Mas cá para mim só sabe fazer é unhas. Está LONGE de ser uma esteticista. Nem tem perfil para isso. Não gosta de pessoas, tem nojo de lhes tocar, detesta ter de as servir ou de com elas ter de conversar. Faz estes biscates muito de vez em quando. Por extrema necessidade e em nenhuma outra circunstância. Para ela, trabalho é o seu último recurso. Costuma ser só no Natal e talvez no dia de S. valentim. Trabalhar só mesmo quando a fonte esgota ou se precisar fingir-se funcionária para dar ideia de que não é uma vagabunda que fica por casa só de robe. Se estiver a receber subsídios com essa condição, por exemplo, ou querer comprovar que busca trabalho.

Inscreve-se numa agencia de trabalho temporário, faz um dia, com esforço e raiva, uma semana e nao aparece mais.  Recebe uns trocos e pronto: fica registado que trabalhou no lugar X, Y, Z. Uma vez vi-lhe o extrato mensal bancário aberto na mesa e não tinha nenhuma entrada de dinheiro, só saídas. Noutra ocasião, recebeu de uma agência laboral umas 50 libras e não tinha mais nenhuma entrada salarial. 50 libras corresponde a umas 8h de trabalho. O saldo final abaixo de zero ou quase. E muitas contas por pagar, saldos negativos de valores que deviam ter sido debitados mas não encontraram fundos. As cartas a cobrar a acumulação desses valores continuam a chegar. Até a das finanças - a cobrar o que lhes deve, anda à meses a aparecer. 

O que não entendo no Reino Unido é a FACILIDADE com que permitem que pessoas como ela se safem impunes. Em Portugal, não pagas renda - és expulso. Não pagas a conta do telemóvel e netflix - cortam-te o serviço. Não tens pago a eletricidade, cortam o serviço. Deves às finanças? Tens de pagar. Aqui escrevem, por três anos que tenha dado conta, cartinhas na perspectiva "se tem dificuldades em pagar sua dívida, contacte-nos para encontrarmos uma forma de ajudar". Ao invés de: "Já lhe enviamos 20 cartas, continua a usufruir do serviço, a dívida já vai em 750 euros - agora pague ou vá a tribunal!". 

Uma vez perguntei a um funcionário bancário qual a consequência para os caloteiros e a resposta é cómica: "Não têm crédito". "Quando aplicarem para crédito para, por exemplo, comprar uma casa, ou um carro, não têm crédito". 

Como se estes caloteiros alguma vez se preocupassem com isso! O governo alimenta-os com empréstimos e subsídios e não faz nada para se livrar destes parasitas - prefere aumentar os impostos de quem trabalha. INJUSTO.

 Assim que jorra um pouco mais de dinheiro, ela pára de se "sacrificar". Volta a ficar meses por casa, toda altiva, dona de si, a implicar com todos, a gastar dinheiro que não tem, a acumular dívidas que sabe que nunca vai pagar e sem querer saber. 


E era ela que abria a boca para falar dos outros sobre estes mesmos defeitos. 
Não. Não sinto pena alguma. 

sábado, 14 de janeiro de 2023

O tempo é curto

 

A idade que tenho não me assenta. 

(quantos pensarão assim?)


Quando penso na idade que vou fazer, esta não corresponde ao meu ambiente, á minha vida. Nem à maioria das pessoas que me cercam. A idade, tal como muita coisa, devia variar conforme o estado da pessoa. Há crianças com um comportamento extremamente amadurecido que até faz um adulto questionar se são reencarnações e há pessoas de muita idade que se comportam como imaturos bebés.

A idade que tenho não se adequa a mim não porque não o desejasse. Mas porque não vivi todos os anos que tenho em pleno. Tivesse-os vivido, e a idade que tenho correspondia a mim, aos meus, ao que me rodeia. Assentar-me-ia. 

Acho que essa é a grande diferença entre quem diz que "não tem problema em dizer a idade". Não tem, porque viveu cada segundo e aproveitou-os bem. Porque, entre altos e baixos, fez o que quis, seguiu o seu caminho, sabe que valeu a pena e é feliz com o que conquistou. Quem não fez isso, sente que permaneceu estagnado. O tempo passou mais rápido do que foi usufruido. E esse pecado - porque é "O" pecado, fica para sempre. 

É o meu erro, aquele pelo qual terei de prestar contas quando a minha altura chegar. É o de muitos outros também, quer seja por iniciativa própria ou por imposição. 

Por isso, acho que se deve começar hoje, agora, a realizar algumas vontades engavetadas. Já não se é jovem e o que se percebe nesta ocasião, é que o presente é para ser usufruido como um copo de vinho e as vontades não são mais para adiar. Há que dar prazer a nós mesmos, porque só sendo felizes se pode fazer os outros felizes também.

Respondam-me lá: O que é que sempre tiveram vontade de fazer e ainda não foi feito? Porque não começar já?



terça-feira, 25 de outubro de 2022

Novo país para morar?

 


Noruega ou Suiça?

Que país ia eu "encaixar" melhor?

Estou em Inglaterra mas não tenho aquela sensação de "uau!" ou identidade com algo que me faz falta. 


Vou dar um exemplo: eu adoro andar com a minha trotinete eletrica. Foi o primeiro veículo em que coloquei o olhar e com o qual me identifiquei. 

O tradicional veículo a motor a gasolina nunca me fascinou. Sou claramente uma pessoa virada para o verde, para a natureza, para o belo, para a caminhada, para o silêncio e tranquilidade. Não gosto de andar nos autocarros - são muito barulhentos e o transporte público que sempre gostei mais é o eléctrico de Lisboa - os ANTIGOS.


O meu sonho? Ir ao polo Norte, estar perto de Icebergues e regiões cheias de gelo. 

Definitivamente, nem Inglaterra nem Portugal facultam este tipo de experiências. Chateia-me as multidões, lerdas, burras, sem cortesia que muitas vezes se encontram em locais sobrepovoados. Detesto o barulho de máquinas, principalmente do trânsito automóvel. Não gosto de respirar o AR perto de estradas. O ruído de motores refrigeradores e as suas vibrações (estou a escutar agora vindo do parque de estacionamento sete casas de distância). 

Será que um destes países se encaixaria melhor em mim?
Eu acho que sim. Se não para sempre, pelo menos por um bom tempo. Acho até que a altura ideal já passou. Era quando era mais jovem. Meu corpo a envelhecer agora pede sol. O gelo, a neve, por que tanto clamei... pode agora vir a ser um inimigo. 

Só para poder viver melhor este tipo de experiências, gostava de voltar a ter 30 anos. 

Para poder reinventar o meu destino e ter mais tempo e facilitismos para usufruir dele. 

Alguém por aí sabe dar umas dicas sobre estes ou outros países?



domingo, 15 de maio de 2022

A viagem de uma lesma

 


A viagem de uma lesma pode ser um momento de serena tranquilidade. Estava no jardim quando avistei uma caracoleta, mesmo a tempo de não caminhar na direcção dela. 

Decidi registar o movimento da criatura com a câmara do telemóvel. E fiquei impressionada. Em coisa de cinco minutos, a lesma percorreu uma considerável distância. 

Dizer que as pessoas lentas se movem como lesmas é insultar as lesmas. Para o que são, mexem-se muito rápido.

Neste exercício trivial, encontrei a tranquilidade que precisava para libertar-me dos stresses do dia-a-dia. Sendo hoje, Domingo, o único dia de descanso, observar uma lesma fez-me muito bem. 

Adoro estar rodeada de natureza. Não sei como há pessoas que nunca vão para um jardim, para o parque, nunca observam uma flor. Passam os dias fechadas em casa. Porque as há. A M. é uma delas. Mais uma das suas imensas contrariedades. Para uma pessoa que se diz "ligada" com a energia de tudo o que a rodeia e faz rituais com velas para conseguir para si mesma sei lá o quê - acho que não sabe é nada. Nunca a vi sequer ficar no jardim um dia que fosse. Interesse pela natureza? Nenhum. Não gosta do vento que lhe despenteia o cabelo, não gosta de "coisas" que caem das árvores, não passeia em parques e demonstrou não entender o que me faz gostar de ir lá fora, a apanhar a fresca, no jardim. 

Distraída com esta actividade, descobri que, é a observar a natureza que se aprende. Que se tiram lições. Não me tinha ocorrido - até observar a viagem da criatura, que o estado do tempo influencia os seus movimentos. Está, como dizem os ingleses, drizzling. A caracoleta tem de aproveitar as gotas da chuva miúda para se deslocar, já que as aves ficam pelas árvores, não consistindo uma ameaça maior. 

A humanidade chegou onde está hoje assim: a observar o que a rodeia. 
Assim criou o fogo.

Assim inventou a roda. 

E quando caiu uma maçã em cima da cabeça de uma pessoa, esta percebeu a teoria da relatividade. Daí a pousar na lua, foi um instantinho. 

Ninguém é verdadeiramente sábio, "conectado" com o misticismo, se não souber estar ligado com este todo que é a vida. 



domingo, 10 de abril de 2022

Devia ter uma câmara no capacete

 
Desejei estar a usar uma câmara num capacete para que fosse possível presenciar o que os meus olhos registaram. 

Hoje pela manhã, 6.15h, a conduzir a minha scooter, após sair do emprego rumo a casa. Estava a sentir-me feliz da vida. 

Algo em trabalhar aos Domingos é bastante gratificante. E sei qual é a razão. É a enorme redução de tráfico, de confusão, de barulhos. Subitamente sente-se não isso, mas o que nos rodeia. Um detalhe que faz com que um dia de trabalho seja sentido com mais prazer. 

Desde o lockdown e a escuridão do inverno que não conseguia fazer um percurso como o de hoje. Não surgiu absolutamente NINGUÉM enquanto atravessei o parque. O que gerou em mim uma forte sensação de apreço por me encontrar viva e estar a comungar com a natureza. A scooter serpenteava pelo caminho estreito do parque e era só eu e toda aquela beleza. Mais nada. Nenhum som além do vento e o chilrear dos pássaros. 

Habitualmente não é assim. Existem sempre outras pessoas rumo aos seus empregos, o som  inconfundível do tráfico automóvel, que é um misto de um constante tambor do motor mecânico com o zumbido da tracção das rodas de borracha no asfalto. A ausência da percepção de seres humanos em trânsito enquanto atravessei o parque, seja em suas casas ou na rua. Não avistei os habituais donos a passear cães, nem outros ciclistas, tanto de scooters como de bicicletas. Nenhum desportista a fazer corrida, nenhuma pessoa a passar e muito menos o odor inconfundível de alguém a fumar erva. 

Instantes em que só pulsava com vida eu e o parque. Uma comunhão especial.

Ás tantas enquanto contemplo esta dádiva, com a aproximação da scooter um bando de pombas levanta do chão e começa a voar. Pareceu uma cena saída do cinema! Eu, ali a sentir-me agraciada e grata, tão feliz que até cantarolava e me abanava em cima da scooter e subitamente, um bando de aves como que abençoa o momento. Cena de cinema - digo-vos. 

Bem diferente de sexta-feira de manhã, quando gaivotas que estavam a bicar e ingerir algo na relva perto de uma habitação, à minha passagem decide levantar voo em bando e passar por cima da minha cabeça, regurgitando uma substância sólida alaranjada que me atingiu. Mas foi na manga do casaco, e traseira da scooter, felizmente. 

Dizem que caca de pássaro em cima de nós é sinal de boa sorte.

Já comprovei isso. É verdade
Regurgitação não sei que sinal é. 

Mesmo que seja sinal de sorte não é agradável. Danada das gaivotas! São citadinas. Já deviam estar acostumadas aos movimentos da cidade. Ainda assim "mijaram-se"" todas de susto e não contiveram as suas "body functions". 




Já só se avistam gaivotas em terra. 
Também elas trocaram a vida silenciosa nos oceanos pelos facilitismos das grandes cidades com os seus enormes centros alimentares com fontes inesgotáveis de lixo e desperdícios. E onde não existir grande limpeza, é onde estas aves gostam de estar. Trocaram o peixe por lixo, para não terem o trabalho árduo de mergulhar nas águas de um oceano imenso na tentativa difícil e nem sempre bem sucedida de os pescar usando apenas o bico e gerações de adquirida ancestral mestria. Deve ser esgotante! É mais fácil não fazer nada e aguardar pelo lixo humano.  


Esta travessia pelo parque proporcionou-me um momento de puro paraíso. Senti-me abençoada. Grata e muito feliz.

Já perto de casa, a atravessar a rua principal, minada que está de bares, um bando de umas 40 gaivotas que estavam a bicar no pavimento os restos largados no chão por estes estabelecimentos, também desata a esvoaçar. Desta vez à minha frente. Invadiram o céu inteiro, quarenta - contei por alto. Asas brancas a espalharem-se pelo céu até onde a vista alcança. Bonito de ver. 

Só mesmo uma câmara num capacete para o poder ilustrar.

Fosse a vida cheia destes momentos.



terça-feira, 22 de março de 2022

Benjamin Button

 

A minha vida comecou ao contrario. Tal como no filme estrelado por Brad Pitt.

Na historia, quando Benjamin e uma crianca, e quando sente atracao por manter relacionamentos com pessoas mais velhas e demonstra interesse e conhecimento por assuntos abragentes, desde arte a politica.


 Quando tinha um aspecto de idoso, tinha uma mentalidade mais infantil e era mais limitado. Tambem se sentia jovem, com ansias para se aventurar no mundo e fazer descobertas.


Nao fosse pelos sinais do tempo e eu diria que me sinto mais jovem do que quando era jovem. Tambem sinto vontade de me aventurar em coisas que nao imaginei antes.

Uma vida ao avesso.

Alguem desse lado no mesmo barco?

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Porquê nos cruzamos?

 

Se todas as pessoas que cruzam o nosso caminho são colocadas nele para nos ensinar a grande lição que não estamos a aprender, porquê tantas ruizinhas cruzaram o meu caminho? Porquê, por exemplo, tive de passar por aquele episódio de ver alguém "eclipsar-se" quando nada o indicava, pelo contrário?

Recordo que essa pessoa afirmava peremptoriamente que não queria saber da maioria das pessoas. Que cortava radicalmente com todas assim que não gostava de algo ou as circunstâncias já não estipulassem que interagissem. Censurei-a pela leviandade do gesto. Principalmente porque muitas vezes é do equívoco que se cortam laços. O que nos torna responsáveis, culpados pelo sofrimento alheio. Deve-se sentir amor pelo próximo e dar às pessoas todas as oportunidades e mais algumas. 


Então porquê colocam-se no meu caminho pessoas que me fazem mal ao espírito, à alma? Pessoas que me tiram o sossego e tranquilidade que carrego?

Por vezes percebo que tudo o que aprendi a este respeito, parece estar super errado. 
Não sou eu e todos nós que tentamos seguir a vida com amor ao próximo que estamos correctos. O único amor que se deve seguir é o amor próprio. Ou, pelo menos, não perder nunca o amor próprio. O que é muito difícil quando rodeados de pessoas que vivem a nos reduzir a insignificâncias e nos maltratam.

É esta a lição que teimo em não aprender?

Descartar pessoas, deixar de me importar tanto com as mesmas. Parar de ser tão ingénua (se possível fosse!!) quanto à natureza humana, para de ignorar a tendência para a mentira e manipulação, aprender a atacar, a ferir, a colocar barreiras defensivas com sinais de perigo - para que a fortificação assuste o inimigo e o faça repensar em fazer investidas. 

Não são todos que interessam. Só alguns.

Lições que, se calhar, muitos aprendem bem cedo e que eu talvez, um dia, ainda aprenda. 

A minha lição é não me ralar com pessoas que não acrescentam nada a mim. Só tiram. É ignorar os que me magoam e não me ralar nada nada com isso. É fazer o que aquela pessoa me fez. Para isso é que ela cruzou a minha vida. 

 

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

2022

 

É uma tela em branco. Um passo de cada vez, obstáculo por obstáculo. Que haja saúde e a bênção do criador a nos proteger. Amen.


E que tal manter o foco em coisas simples? A felicidade deve ser o caminho a percorrer. Tem esperança. Para tal: 

Sorri.



Aprecia a beleza que te rodeia.



Reflecte nas razões que tens para sentir gratidão.


Dedica-te a projectos de criação manual. 



Ajuda o próximo.


Sai de casa, caminha, passeia ao ar livre ousa conhecer novos lugares. 


Vê pessoas, conversa, estabelece relações. 



Tira tempo para estar com bebés ou crianças.


Ama os frágeis que podem depender de ti.



AMA



quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Dois anos

 

Ultimamente novas colegas de trabalho falam-me dos filhos e quando lhes pergunto que idade têm, respondem todas:

- "Dois anos".

Mal sabem elas que é a idade mais incomodativa para eu ouvir. 

Se fosse três, quatro, um... mas é DOIS. 

Podia ter acontecido comigo. Exatamente à dois anos. A acontecer teria sido então - a última oportunidade. Não que o quisesse na altura, mas certamente teria acontecido se a coisa seguisse o rumo que estava a tomar. 

Como sempre, algo abrupto interrompe algo que ainda está a brotar. E aquilo que percebi poder vir a caminho, parece que EXPLODE na estratosfera antes de me alcançar, dividindo-se em milhares de pedacinhos, e vai cair em pessoas alheias que mais tarde aproximam-se de mim. 

Tem sido assim. Destino interrompido. Na altura reflecti sobre essa possibilidade. Nenhum de nós queria filhos (ele perguntou-me várias vezes, porque será?). Percebi que, ao contrário do que acreditava e na altura queria, teria ficado inundada em felicidade. Porque gerar um filho fruto de um amor ia ser demais. Descobri que é assim que se descobre que se ama alguém. 

Nessa altura, inesperadamente, a filha de uma amiga que supostamente não devia ter filhos, ficou - sem o desejar, grávida. São os tais pedacinhos da explosão a atingir outros... 

Não queria, não contava, não esperava, temia - foi um choque. A mãe ficou furiosa. Eu achei que ia ser a melhor coisa que estava para acontecer na vida daquela família. Dois anos volvidos, ao que saiba,  está tudo bem e todos adoram a criança, que é linda e saudável.  

A rapariga que cá apareceu em casa com um filho... adivinhem lá a idade que a criança tem. 

Venham até mim, então, as crias alheias com dois anos, ahah.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

sábado, 26 de setembro de 2020

Sinais de Furia : 27

Um pormenor importante aconteceu na casa: o rapaz que a M. não gostava, fez as malas e foi embora. Uma nova pessoa estará para vir. 


Com esta saída, a M. perdeu o seu principal alvo de implicância. Temo que não demore a encontrar um substituto. 

Despertei eram 1.30h da manhã. E desta vez, sem pesadelo, Ahah. 

Tinha sede.

Fui ao WC. 


Nisto, senti a divisão muito, muito quente. Queimei-me no radiador de toalhas. Nem notei que estava totalmente vazio. A M. deixa sempre toalhas e panos ali, nunca os tira. 

Senti necessidade de ir verificar quantos graus apontava o termómetro digital de aquecimento central. Foi apenas ontem que o coloquei de volta na programação automática, alterando a temperatura para valores de um a dois graus mais altos, visto  já não ser verão. Tinha sido colocado na temperatura manual porque durante o pico de calor, continuava a ligar-se. 

Desci então à cozinha para beber água e verificar o termómetro, que fica à entrada. Assim que entro deparo-me com um estendal de roupa. Percebo que é da M. que chegou a casa pelas 19h. Foco-me no que quero fazer: verificar a temperatura. 

Sabem quantos graus estavam?

27 graus!!

Acho que é uma atitude egoísta por parte da M. colocar um valor tão elevado porque quer secar as suas roupas rapidamente. A ausência de espaço para as secar foi o problema que detectei nesta casa assim que a visitei. Foi a própria M. e todos os que cá moravam a achar que a minha insatisfação com esse detalhe não tinha razão de ser, porque eles secavam as roupas nos quartos, sem problemas. 

Secar roupa no quarto? - minusculo como o meu é? Criar humidade? A ideia não me agradou. O que me safa é saber que lavo pouca roupa de cada vez e espaçadamente. Devo dizer que este detalhe dos hábitos de cada qual na lavagem da roupa também me surpreende. Noto que usam a máquina todos os dias. Para dizer a verdade, desde que cá cheguei ainda não fiz 10 lavagens. Devo andar perto, mas ainda não fiz. Vejo a nova rapariga, a M. e o rapaz a serem muito mais assíduos. Muitas vezes usam a máquina de lavar roupa todos os dias, em dose dupla. Será que os meus hábitos de higiene precisam de ser mudados?

Além de hoje de noite, a M. lavou roupa anteontem. A nova rapariga fez duas máquinas também. E o rapaz, ao chegar do emprego, atira a roupa para dentro da máquina e lava-a. Para dizer a verdade, já tive alguns momentos em que quis usar a máquina mas encontrei-a ocupada - vezes e vezes seguidas. Decerto que outros passaram pelo mesmo. É normal, numa casa partilhada. Há que aceitar. DESCOMPLICAR é a regra.

Ontem encontrei uma brecha - ninguém em casa, ninguém a usar a máquina. Lavei os lençois de cama e cobertor, que bem precisavam. Saíram da máquina quase secos e coloquei-os no quarto com a janela aberta, esperando um raio de sol. Secaram de imediato. Quando não dá para ser assim, gosto de secar a roupa perto dos radiadores. mas não a deixo horas nos radiadores. E estou sempre atenta, para a retirar assim que possível. Nunca nada fica de um dia para o outro ou horas e horas nos espaços em comum. Prefiro isso a aumentar a temperatura da casa inteira, incluindo a dos quartos onde todos dormem, para secar a minha roupa rapidamente.

Foi uma das falsas acusações da Gordzilla... se me permitem o aparte para relembrar a injúria.

Baixei a temperatura e dirigi-me até ao frigorífico para tirar um pouco de água e matar a sede. É então que reparo numa coisa. Que me deixa alarmada. A M. estava furiosa. Consegui perceber essa energia no ar. Mas é ela, que se diz uma espécie de detector sensorial, que consegue sentir a energia de todos, mesmo quando dorme. Ia para relatar aqui mais detalhadamente este seu traço de personalidade. Estou em falta, por isso faço agora um aparte para esse fim.

Quando o rapaz teve o seu problema de saúde, não demorou tempo algum para ela relatar que também passou pelo mesmo quando era mais nova. Dias depois dele regressar, ela diz-se com falta de ar e dor no peito. Depressa chega à conclusão que tem o mesmo problema do G. Marcou uma consulta médica, faltou ao emprego e foi consultada para esse fim. Mas nada saiu dali e pelos vistos, as palpitações e outros sintomas que jurava ter, não regressaram. 

Não pensem que não a apoiei por, no fundo, achar que ela imita o que se passa com os outros. Mesmo nessa condição, se existe a possibilidade de haver um problema de saúde, que se consulte um médico. Mas tal como desconfiei, ela regressou e nunca mais sentiu nada. 

Só voltou a sentir problemas de saúde quando eu mencionei que andava a sentir-me com falta de energia e cansada, após subir as escadas. Disse-lhe que por vezes isso me era normal, por ter anemia e problemas de tiroide. Não demorou mais que umas horas e ela estava a queixar-se do mesmo. Mais uma vez, diagnosticando-se com anemia e dizendo que tinha de ir ao médico. 

Também isso lhe passou.

A situação mais flagrante foi quando soube que eu me lesionei. Ela não soube logo. Não a vi nessa manhã, andamos desencontradas. Pensei que ela ia perguntar-me assim que me visse, se algo se passava, porque quando entrei em casa lesionada e ela estava no WC, soltei vários gritinhos de desconforto enquanto trocava de roupa e desinfectava as feridas. Ela deve ter escutado. Surpreendeu-me que não tivesse desconfiado, visto até que está sempre atenta a sons.

Na casa já outros sabiam, ela foi a última a saber. Foi na noite a seguir, depois de eu ter ido ao hospital, que lhe disse que havia me magoado no braço. Ia para lhe dizer que estava partido, mas ela interrompeu-me de imediato, para dizer que também ela tinha sentido dores na mão e no braço, não conseguindo os mover por muito tempo. Só tive tempo de lhe dizer: "Mas eu sei porquê estou assim. Caí". 

Ela não percebeu a gravidade, ficou estagnada no facto de ter despertado com os sintomas que presumiu serem identicos aos meus. Voltou a repetir-me isto no dia seguinte, a queixar-se de dores e preocupada com a sensação de imobilização. 

Mas ainda não sabia que eu tinha partido um osso do corpo. Pensou que era outra coisa. No dia seguinte viu-me com o braço no suporte de repouso. Quando percebeu que eu tinha um diagnóstico médico, havia ido ao hospital, tirado uma radiografia e descoberto que fracturei o ombro, foi quando mudou de discurso. Disse-me que consegue sentir a minha dor, a minha energia. 

Afinal, um osso partido não pode ela alegar ter. 

Autoproclamou-se então uma espécie de detectora de doenças alheias. Ainda que tenha falhado detectá-las no momento em que ocorreram e só as sentir depois de tomar conhecimento das mesmas. Quem sabe? Provavelmente tem mesmo este dom mais desenvolvido. Ou se calhar, é uma boa maneira de se convencer que não tem antes uma doença mais relacionada com o foro psicológico.


Mas que vi eu quando me dirigi ao frigorífico, que me revelou que ela estava furiosa??

Dois panos atirados para o topo do mesmo. Panos que não são os dela, pertencem aos outros dois da casa e com os quais embirra.

 O frigorífico é muito alto. Ninguém coloca nada ali. Não faz sentido ser aquele o local para panos. Mas eu sei, porque ela quase todos os dias mo diz, segurando com nojo um deles e desviando-o do lugar onde o encontrou, que a enerva chegar a casa e ver os panos desdobrados em cima da bancada. 

Se era assim que eles estavam quando ela chegou ontem de noite, eu não sei. A última vez que os vi, estavam enfiados na barra do fogão, onde já estao outros dois, que são dela. Foi a senhora da limpeza que os prendeu ali. 

Como foram parar em cima do frigorífico só posso especular. Mas acho que especulo corretamente. Resta-me tentar entender qual vai ser a reacção dos outros dois na casa, quando precisarem do seu pano e perceberem onde foram colocados.

O rapaz está por um fio... acho eu.

Ele gosta dela, muito. Mas não consegue mudá-la. Não consegue agradá-la. Não consegue fazê-la ver o seu ponto de vista, ela está sempre em desacordo. Com isso ele sente-se rejeitado, incompreendido, vítima de implicância. Fica enervado com as constantes observações e reprimendas que ela lhe faz. Foi isso que o fez desejar mudar de casa. Disse-lho a ela, como quem deixa um aviso. Mas ela não se emocionou. Ou recuou nas suas atitudes. Ele acabou por ficar mas cada vez que ela volta à carga mais implacavelmente, sinto-o a voltar a ter esses pensamentos.

Ele não tem chance com ela, consigo perceber agora. Noutro dia ela confidenciou-me que se irritou com ele, por a interromper quando ela estava a falar. Foi num momento que ambos estavam a falar de um assunto. eu estava presente. Achei que a conversa fluiu naturalmente. Não detectei nenhum atropelamento abusivo. É natural, por vezes, as pessoas falarem algo em cima do que outra diz, para completar, acrescentar. Qualquer pessoa de fora não teria visto nada de anormal ou detectado a presença de uma pessoa insatisfeita com o comportamento de uma outra.

Ela está sempre a confidenciar-me destas coisas em relacção a ele. Disse-me que lhe parecia a ela que ele queria alguma coisa dela, mas que ela não quer saber dele. O que ele quer é sentir que pode conversar com ela e ser escutado. Quer o normal...

Enfim...

Quem nasce para lagartixa jamais chega a jacaré.  


Quando ao rapaz-que saiu, o JA, fez ele muito bem. Muito bem mesmo! Eu também faço as malas e parto para outra assim que perceber que não serei aceite pelos restantes. Bastou-me aquela experiência. Acho que foi uma aprendizagem bem intensiva, que me passou a lição. 

Ter visto o mesmo acontecer com outra pessoa fez-me entender que é assim mesmo que a vida é. E de nada adiantava ao JA tentar agradar. Porque o olhar e a cabeça dos restantes estava pré-formatada na narrativa que lhes foi injectada. Fosse o que fosse que ele fizesse, a tendência dos outros é procurar o errado e não ver o certo. 

Acho que o JA se esforçou um pouco para não incomodar. Notei nele alguns cuidados que não lhe vi antes. Mas ainda assim não eram suficientes. Na realidade, de nada adiantavam os seus esforços. Tinha sentença passada. Herdada até por ex-inquilinos. Ou se anulava e se deixava pisar - como aconteceu comigo, ou fazia as malas e ia embora. 

É sempre a melhor opção - a de ir embora. Nunca se sabe o que se vai encontrar noutro lugar. Mas com sorte, ele vai partilhar casa com pessoas que não se incomodam com a sua maneira de ser e o aceitam.

Creio que não corro novamente este risco. A atmosfera é simplesmente diferente. Nunca nada será perfeito, conflitos podem surgir. Faz parte. Mas aqui estou à vontade. Não fui forçada a alterar quem  sou, abandonar o melhor de mim, por isso "incomodar" os outros. Não preciso deixar de cozinhar para ceder espaço a quem não larga a cozinha e sei que não vão acusar-me de a deixar suja assim que me vêm a acender um bico de fogão ou a ligar a torradeira.

Sou eu mesma. Limpo tudo. Cozinho para mim mas, por vezes, também a pensar em todos. Se estes estiverem com vontade, há comida que chegue. Estão à vontade para se servirem de algumas coisas específicas. Penso que ninguém tem problemas comigo. Mas o melhor mesmo, é nem ter mais este tipo de receio a assombrar-me. Aos poucos, recupero-me. Fortaleço-me.
E na cura, percebo o quanto afundei... a dimensão do mal a que me sujeitei. 

Mas sobre isso não vou mais pensar.


Quando surgir a oportunidade, tenho a certeza que a M. vai desabafar comigo o que a irritou. Vi a vela queimada no WC - sinal dos seus rituais para se equilibrar espiritualmente. Há sempre algo feito pelos outros que a desalinha, que a incomoda. Ela até se esforça muito. Pelo que me contou, estaria sempre a explodir com todos que a rodeiam se não fizer o seu "treino" diário. 

Gosto da M. mas... confesso... preferia não viver com ela. Sou mazinha??

Espero que não. 


segunda-feira, 25 de maio de 2020

A analogia da rã

Ainda estava a gargalhar do video-apanhado anterior, quando veio a ilustracao do video seguinte, que segue automaticamente.

De imediato o sorriso vira uma expressão séria. A analogia que usei para descrever como desenvolvi sentimentos por ele foi a primeira coisa que me veio à lembranca. E hoje ja me lembrei dele duzias de vezes. Nao sei o que vinha ai, mas adivinhava.


Também posso usar esta analogia em tantas outras coisas que sempre se passam comigo. A minha tolerância, paciência e recusa em entrar em conflito transforma-me numa rã dentro de um tacho com água ao lume. Tolero tudo e depois, quando percebo, é tarde para mudar. Move on.

Vejam, merece a pena.


https://www.facebook.com/jerseydemic/videos/229128051420548/?extid=jnXRlqs8amBl3YMn&d=null&vh=e


terça-feira, 12 de maio de 2020

Gostava de voltar aos meus 25 anos


Gostava de voltar a ter 25 anos apenas pela quantidade de tempo que ainda ia ter para colocar a minha vida nos eixos.

Sabendo o que sei hoje porque a experiência de vida mo fez vivenciar, gostava de poder "recomecar". Acho que esta ideia deve passar na cabeça de todos nós. Até mesmo na cabeça dos que estão felizes e não mudariam nada nas suas vidas.

Não que queira mudar. É mais querer viver com mais controlo da minha vida e, em situações pontuais, fazer outras escolhas. As que queria fazer o tempo todo e não fiz, por dar ouvidos às opiniões alheias e ceder a pressões familiares.

Uma das coisas que mais me disseram da pré adolescência ate os 25 anos, foi a frase: "Tens tempo".

"Deixa-te estar, tens tempo".

O que significa, adia, fica passiva, espera... tens tempo.

Pois o maior pecado que se pode cometer é desperdiçar tempo. Se tens em ti algo que precisas ver acontecer, não adies. Vai atrás.
Não é por teres 18 anos que "tens tempo". A vida são momentos. Se os deixarmos passar porque "outros  certamente virão", comete-se o pecado do desperdício.


No fundo, sinto-me confortavel com quem sou e não desejo voltar a passar pelas lutas que travei. Mas gostava de emendar algumas coisas. Talvez numa segunda chance, saísse vitoriosa?

Mal a outros nunca fiz, pelo menos intencionalmente. Se soubesse que, involuntariamente, tinha magoado profundamente alguém, ia resolver a situação. Não há necessidade de nos estarmos a odiar uns aos outros, a maior parte das vezes sem motivo ou com base em difamações injustas.  Sei o que é ter o nosso estado de espírito magoado por injustiças ou mal entendidos.  Morre-se por dentro. Dói. A minha natureza é desejar ir logo esclarecer tudo, deixar tudo bem. Tirar aquele "peso dos ombros" e sentir como subitamente o bem estar regressa em pleno.

Há  tanta gente que me deixou com mágoas que até hoje se fazem sentir. Pergunto-me quantas o fizeram sem perceber.

Voltava atrás no tempo para poder  ter a filha que sempre desejei. Que hoje já estaria a dar-me netos.

Estas fantasias... sinto-as como algo que era suposto ter acontecido. Estavam no meu caminho. Algo me desviou dele.

Lido bem com isso, apenas tem alturas em que se fica a imaginar o que teria sido a vida com diferentes escolhas.


domingo, 19 de abril de 2020

Como se morre aos bocadinhos


No Domingo passado fiz uma video-chamada a um familiar que na altura não pode atender, pois estava nas compras. Disse-me que ligava depois. 

Há três semanas, mantive contacto com outro familiar, pedindo-lhe que aderisse às redes sociais, para que a comunicação fosse mais fluída e menos dispendiosa. Respondeu-me que o ia fazer. Desliguei a chamada, para que não gastasse muito dinheiro e fiquei com a impressão que era desta. Depois enviei-lhe uma mensagem de texto, à qual ele respondeu por email. Email esse que também é muito alusivo a usar e para o qual já o tinha contactado noutras ocasiões diversas, sem receber resposta. Passados mais uns dias e chegando o Domingo de Páscoa, não tendo ainda recebido notícias, decidi desejar-lhe que tudo estivesse bem, em vídeo, que enviei para o mesmo email que usou para me contactar uma vez.

Presenteei outro familiar jovem com uma série de envios de filmes online. Fiz a transferência por um programa gratuito que apaga os ficheiros ao final de sete dias e recebo mensagens a dizer se o download foi ou não feito. Adivinhem lá como foi recebida esta oferta? Já lhos tinha dado antes porque todos eles tinham um significado especial. Como não teve como os ver - disse-me, decidi ajudar a quebrar a rotineira quarentena de que se queixava, sugerindo, pelo menos, que tentasse uma destas distracções. 

Até hoje, sete dias volvidos, nenhuma destas pessoas deu-me retorno.

De vez em vez também procurei saber se um familiar já deu uso a um presente que lhe ofereci no Natal. Tenho sido ignorada. Não vou especificar qual é - não me apetece - mas é algo único, particular, com um valor de cerca de 70 euros e que se não for usado dentro de meses é capaz de perder as suas características e tornar-se inútil. A pessoa ficou tão entusiasmada quando o recebeu, fiquei feliz por saber que tinha agradado. Isto foi em Dezembro, estamos em Abril, o presente que lhe ofereci é todo feito online e sem sair de casa... E nem na quarentena??

Depois recordo-me de outras ocasiões. De outras alturas, com as mesmas e outras pessoas e é tudo tão... desanimador.

São estas pequenas coisas.
Estes pequeníssimos sinais de desinteresse e falta de consideração....
E mentiras, que nos matam aos poucos, como um veneno.


Não é que me incomode por aí além, pois sou adulta e sei que a vida é assim. Mas tudo o que é dito a alguém que se vai fazer, e não se faz, é uma pequena morte. Contribui para o descrédito na palavra do semelhante. De que adianta te dizerem que gostam de ti, que és uma pessoa especial para eles, se depois há coisas assim?

Morre-se aos bocados. Um bocadinho aqui, outro ali. 
O pior, o mais devastador, é perceber que só se lembram de ti se eles se sentirem sozinhos. A solidão é um sentimento transversal. Dá em todos. Não nos devemos lembrar dos outros apenas quando nos é conveniente. 

Tenho receio que apareça alguém especial na minha vida e que eu a afaste, influenciada por toda a decepção. 

No campo pessoal, temo que isso já me tenha tornado uma pessoa aparentemente distante, fria. Aparentemente, porque no fundo, não sou assim. Mas não sei o quanto no fundo está o fundo, quando estou com outros. Parece-me que está cada vez mais fundo. 


Boa semana a todos.

Como estás?


How are you?

Estou com uma vontade imensa de lhe enviar este simples sms.

Mas não devo.
A forma como decidiu não responder a qualquer contacto impõe-me esta atitude. Eu não posso mais ser eu. Preocupo-me e não posso mostrar que me preocupo.

Isto não consigo perdoar. Não ter interesse em se envolver, tudo bem. Mas mostrar-se presente e atencioso para depois não permitir que nos falemos de todo, dilacera-me.

Não posso estender a mão até ele para saber como está.
Dilacera-me.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Histórias de amor na telinha


Uma novela que me apaixonou há uns anos está em reprise. Uma mulher e um homem perto dos 30 conhecem-se e perdem-se de amores. Mas por contratempos e interferência de terceiros, os dois separam-se, acreditando que foram traídos pelo outro. 

Ela é a primeira a sofrer. Já se imaginava casada e com filhos - sonho que havia enterrado e que, por aquele sentimento que ele lhe despertou, voltou a ser real e tornou-se desejado. É nesse instante que se dá o golpe emocional: é subitamente atirada para a lama ao receber uma carta de rompimento (que não é dele mas pensa ser por não ter tido tempo de lhe conhecer a caligrafia). Julga-se abandonada, percebe-se usada de forma vil e cruel. Isso praticamente a destrói. 

Ela não vê mais sentido para continuar a viver! A menos que encontre o sacana para se vingar das mentiras e da forma vil como a usou e brincou com os seus sentimentos. O tempo que teve para viver o romance foi tão curto, que não deu para saber nada realmente sério sobre ele: quem era a sua família, onde morava. Só lhe sabia o nome, nada mais!

Ela faz disso o seu motivo para continuar viva e fica obcecada: quer descobrir onde ele anda, qual o seu paradeiro. "Vingar-se" - diz ela.

Começa a gastar rios de dinheiro - todas as suas poupanças (de mulher rica), em investigações que não levam a lado algum e quase colocam a sua vida em risco. Fica à beira da falência. Até que decide aceitar o afecto de um cavalheiro igualmente sofrido, que lhe oferece o casamento e a vida com a qual passou a sonhar e que viu ser brutalmente esmagada.


Revejo-me um pouco nesta história. Removendo a parte da vingança, pois já não sou dada a esses impulsos juvenis. Tenho maturidade suficiente para não ir por aí e a minha inclinação é desejar bem às pessoas, mesmo as que me ferem. Pelo menos costumava ser assim. Agora talvez abra excepções.

Revejo-me também na parte em que ela gasta rios de dinheiro - todas as suas economias, para o tentar encontrar. Ainda não tive tempo para contar essa parte da minha actual história. Continuo a rever-me na de ficção, mas optei por um caminho diferente, embora o resultado seja o mesmo: esbanjar as poupanças.

No pico daquele desespero de lágrimas sem fim e angústia no coração, sei que mencionei aqui que fiz umas compras por impulso. Soube de imediato porquê as fiz. Foi a minha maneira de me agarrar a algo. um impulso que nunca antes tive. Assim como ela se agarra à vingança, eu decidi investir em mim. Por impulso, entrei numa loja oculista e fiz um teste à vista. Que, claro, acusou necessidade de usar uns para combater o "cansaço e esforço" ocular. Deixei-me levar e paguei por algo que não uso e coloco em causa que faça falta. Depois comprei roupa, acessórios. Uns estão ainda por usar. Logo de seguida decidi ir em frente com algo interrompido, e optei por arranjar os dentes, não importa quanto me fossem cobrar. E depois, decidi seguir os concelhos de uma especialista, para melhorar a minha aparência. E decidi afastar-me viajar mais. Comprei mais passagens de avião. Ao todo, desde que tudo aconteceu há pouco mais de dois meses, já esbanjei 15.000€. 

E não teria gasto um centavo, não fosse pelo impacto emocional causado pelo seu comportamento inexplicável.

Podia tão bem ter gasto o mesmo em coisas tão melhores, feitas a dois... ai.


Mais gastos podem vir a caminho. Não vejo resultados alguns no "aperfeiçoamento" da imagem e isso pode levar-me a fazer experiências ainda mais caras. Nesse sentido, sei não ter economizado o suficiente para tamanha ambição. 15.000€ é muito dinheiro, mas não é nada se pretender enveredar pelo caminho dos tratamentos estéticos. Por exemplo: se um especialista dizer-me que necessito de implantes mamários, isso não faz parte dos meus planos mas, se ficar convencida que faz sentido e como sei que não estou satisfeita com a direcção para a qual os seios estão a ir, ele poderá convencer-me que é o melhor. E eu vou considerar essa opção. Estou disposta a isso. 

Tudo por causa do que me motiva a investir em mim: recuperar-me e esconder uma dor, um conjunto de muitos sofrimentos de uma vida inteira, decepções a perda de sentido em continuar respirando. Uma última forma de vir à superfície em busca de ar. 

Ao mesmo tempo, talvez não queira fazer nada. Não tive grande saída: ou era isso, ou desistir de vez. As duas decisões em si podem parecer opostas, mas não estão afastadas. Ambas são um acto extremo para um sentimento idêntico: uma dor tão poderosa, que se torna incapacitante e remove o sentido a tudo.


A história da novela não tem qualquer hipótese de acontecer nos dias de hoje - podem estar a pensar. Enganam-se. Basta substituir a carta por um SMS e é tão contemporânea quanto sempre será. Decepções amorosas são eternas e, pessoas a querer intervir numa história de amor e alterar a vida das outras também. 


Agora que estou a ficar mais velhota (e menos observada na rua), cheguei a contemplar a ideia de um dia vir a saber o que é ser rejeitada. Não que nunca tenha acontecido gostar de quem não gostasse de mim, e ser ignorada, ou preterida ou ter sofrido antes... Mas assim, de chapada na cara, seca, agressiva... Nunca. (Ou quase nunca, não sem ficar com uma ideia de um possível motivo).

Cresci a ser assediada, a ser mirada, achei que era assim com todas as mulheres. Não sabia que não era. (sorte das que não são, aproveitam melhor a vida). Aprendi a fazer cara feia, para dissuadir esses comportamentos, que sempre me deixaram desconfortável ou irritada. E descudei-me, apreciando a alteração de comportamentos que isso trouxe. Embora bastasse vestir-me um pouco melhor, para os ver regressar. Porém, a flacidez idade não perdoa nem a mais bela das mulheres (não, não me considero uma, nunca considerei). Acho que devo começar a contemplar coisas melhores, pois, mesmo na fantasia, o cupido sádico só sabe apanhar as partes que lhe interessam.

Sejam felizes.