Tomei uma decisão: avisei o emprego que provavelmente não ia aparecer amanhã às 7am para trabalhar, por me encontrar doente. Foi a PRIMEIRA VEZ em toda a minha vida de trabalhadora.
Estou sozinha num país estrangeiro. Cuidar de mim passou a ter mais importância pois, em caso de necessidade, não terei ninguém á minha volta para me acorrer. E decerto não será o chefe que irá fazer canja e cuidar de mim enquanto estiver doente.
Então, pela primeira vez, como disse, avisei que estava doente e que provavelmente iria faltar um dia. Como sempre os contactei por email, decidi voltar a fazê-lo. Mas achei que poderiam duvidar de mim, achar que estava a mentir. Então decidi pegar no telemóvel e fazer um curto vídeo onde explico que tenho andado doente e estou a tentar curar-me a tempo para ir trabalhar. Faço o vídeo e anexo-o à mensagem. Também já havia anexado vídeos antes, aquando um problema de acesso à base de dados online. Portanto, não fiz nada que não tivesse feito antes.
Uma hora após tomar o comprimido para a constipação, toca o telefone estrangeiro. Atendo e reconheço de imediato a voz. É a minha «chefe». Ela põe em causa eu estar doente porque - imaginem, eu havia pedido para começar a semana com um dia de folga. Nunca sei os meus horários com antecedência. Trabalho por turnos e só sei a que horas uns 2 ou 3 dias antes da mudança da semana. Por vezes estou de folga e tenho de ir propositadamente descobrir quando vou trabalhar...
E como havia pedido para a semana começar com um dia de folga - coisa que foi rejeitada, ela logo deduziu que eu estava a mentir. "Tu pediste este dia e agora telefonas a dizer que estás doente".
PAGA O JUSTO PELO PECADOR - disse-me uma pessoa ao telefone, após lhe contar a história. Acho que acertou na muche. Como já contei aqui várias vezes, eu já fiquei doente noutras ocasiões e sempre optei por ir trabalhar à mesma. Até que o meu corpo não aguentou mais a falta de descanso e meteu-me na cama à força.
Mas agora, além de mais velha, o que significa uma saúde mais fragilizada, mais sábia e, espero, a aprender com os erros do passado, estou também sozinha. O trabalho que faço é puramente físico. E os meus joelhos nem tinham forças para descer os degraus das escadas cá de casa... Como aqui valorizam (ou dizem que valorizam) a saúde e o bem estar dos empregados, não contava que a reacção da «chefe» fosse suspeitar que estou a mentir.
Nunca minto quando se trata de saúde. Sou péssima a mentir, acho que isso vê-se na minha cara, por isso não sou grande praticante. A razão porque lhe pedi o dia, foi porque este seguia-se à folga e eu precisava descansar. Porquê? Porque meteram-me a trabalhar 11 dias seguidos, sem folgas, e nas anteriores, deram-me apenas UM dia para folgar. Após uma semana de mais de 9h de trabalho diário. Ou seja: andam a sobrecarregar-me e o meu corpo começou a dar sinais de que precisava descansar....
Por isso pedi o dia. Ela recusou mas deu-me 2 dias de folga a meio da semana, o que achei ainda melhor, pois a minha prioridade antes mesmo de ficar doente, é usar um desses dias de folga para tratar de descobrir como ir a um médico aqui no UK.
Todos dizem que é super fácil e que conseguem tudo sem grandes despesas.Mas não foi isso que encontrei no meu caso. A primeira ida ao centro médico local deparei-me com um cenário pior que em portugal. NÃO ESTAMOS A ACEITAR MAIS PACIENTES- diziam os cartazes espalhados por toda a parte. AS RECEPCIONISTAS NÃO SÃO CULPADAS PELA FALTA DE MÉDICOS, QUALQUER PESSOA QUE CAUSAR DISTÚRBIOS SERÁ EXPULSA - diziam outros tantos.
E como não estavam a aceitar mais pessoas, deram-me um nº de telefone para ligar e me inscrever, depois disso enviaram-me uma carta dizendo qual era o outro centro de saúde ao qual podia ir. Um que fica a UMA HORA de distância de autocarro de pouca frequência!| Numa outra localidade, bem longe. Ora, para isso prefiro ir a londres, que também fica a uma hora daqui!
No aspecto da saúde, dei-me muito mal por cá. Fui logo parar a um sítio sem nada para oferecer.
Preciso urgentemente de fazer análises ao sangue. Só isso... tirem-me sangue e mandem analizar. E para tal tenho de me enfiar num bus e viajar uma hora??
Mas estou no UK ou na china??
PS: Ninguém gosta desta chefe, que é francesa de nacionalidade, porque ela fala de uma maneira que faz com que os outros pareçam estar sempre em falta. Além disso, ela não resolve a maioria dos assuntos de sua competência, diz que são transferíveis para os seus «subalternos», não é pontual com os próprios horários, combina coisas e deixa as pessoas penduradas ou combina a contar que outra faça o trabalho e nem a avisa. Portanto não me preocupa assim tanto que ela possa ter deduzido o que deduziu. Provavelmente, como é sempre o caso, estava a falar por experiência própria...