sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Brexit - 23h: day ONE


Neste preciso segundo, o Reino Unido acaba de sair da União Europeia.


Será o pioneiro, a ver vamos como se sai. Mas se a história diz-me alguma coisa, é que esta espécie é como o gato: cai sempre de pé. Novos aliados económicos irão abraçar o «desertor». O Reino Unido tem, afinal, uma longa prática política de "lapa". Ou seja: gosta de se armar em senhor rico que tem limosine, mas depende sempre dos simples para andar. 

O país gosta de se distinguir dos restantes, com altivez e em grande. Por isso sempre foi do contra: contra a adopção da moeda-euro, contra a circulação rodoviária pela direita, contra os volantes nos carros ficarem à esquerda, contra a pintura de listas brancas para assinalar uma passagem de peões, contra a colocação de semáforos para peões à frente destes (ficam de lado, ao nível da cintura).  Tudo isto é de «gentinha que vai-com-os-outros» ahah. Enfim, percebem a ideia.

Do contra será sempre. E agora que está fora da EU, retoma a identidade de país-único, que sempre foi aquilo a que realmente dão valor.

Há muitas coisas erradas aqui mas, no que respeita ao funcionamento de burocracia... aí tiro-lhes os chapéu. Mas atenção! São burocráticos e são de enlouquecer. Quase sempre não sais informada do que seja. E tens de andar aos círculos... MAS, aqui é que está a excepção, conseguem facilitar tudo.

E foi assim que, neste último dia de Comunidade Europeia, decidi fazer a inscrição para o status de pré-residência (pre-settle). Tudo no telemóvel, sem sair de casa. Bastou pesquisar a app do governo no Google play, instalar e foi tudo rápido e eficiente.



Imaginem só: Começam por pedir o email.
Depois, através da app e não do telemóvel, tiram uma foto ao passaporte. Nem precisas carregar em qualquer botão. Posicionas a câmera e é imediato. Tudo feito com muita rapidez, com ilustrações claras e em movimento. Fica logo pronto e manda-te para a próxima etapa: scanizar o chip no passaporte. Faz-se isso pondo-lhe o telemóvel em cima. Simples. Agora vais tirar uma foto. Feito. Fornece umas respostas de segurança e já está.

Mas isto é necessário para quê? Perguntam-me vocemeceses. Pois, também não sei. Não vejo qualquer necessidade. Na minha opinião, os ingleses são uma raça que gosta muito de ter as pessoas todas bem catalogadas e documentadas. Isto é apenas uma desculpa para fazerem-no. Pedem-nos para ficar-mos registados em todo o lugar.

Recebo em casa quase mensalmente uma carta enviada pela junta de freguesia, que diz que é urgente fazer o registo local para efeitos de voto. O não envio do registo é considerado crime e induz a uma multa de 80 libras. Como não gosto deste lado MUITO inglês de intimidar ou ameaçar as pessoas com prisão, multas, mesmo sem existir motivo, rebelo-me com esta metodologia fazendo questão de não me registar. Ou não está no meu direito? Sou emigrante, com estatuto de residência ambulante: tanto posso estar a viver aqui hoje, como amanhã mudar de cidade. Ainda assim, «querem-te». É como os likes online: mais quantidade, mais se tira proveito (neste caso político).

Esta postura ditadora e de ameaça é típica e está espalhada por toda a cultura inglesa. Foi o que mais me surpreendeu pela negativa, eles nem parecem entender o quão rude são os muitos bilhetes e notas deixadas em instituições como bancos, consultórios médicos, interior de autocarros, recepções de hospitais, etc, etc., «informando» sem provocação ou necessidade, que qualquer pessoa com um comportamento «disruptive» terá problemas com a lei e poderão ser presas. Isto seria de esperar encontrar em sociedades fechadas, radicais, como em Marrocos, Dubai, etc, etc. O problema é que qualquer circunstância pode cair na definição de «disruptive». Basta um funcionário assim o dizer e a pessoa pode ser vítima de falsas acusações que mancham o seu carácter. Se mostrares descontentamento ou simplesmente discordares da opinião da funcionária, por exemplo. Falar alto, ter pressa... são «disruptive», se assim o estabelecimento o desejar. Estás à mercê do que te quiserem acusar.

Epá, um tanto ameaçador e intimista, à Hitler, não acham???

Mmas depois têm estas coisas da tecnologia burocrática que facilita tanto a vida. Como por exemplo: Basta dar o código postal e sabem logo o nosso endereço. Isso é prático e cómodo, um dos facilitismos que mais aprecio.

Duvido muito que os emigrantes estejam em perigo e sejam "despejados". Apenas está no sangue britânico querer ter o controlo absoluto, dar a entender que têm o poder. Deixar as pessoas emersas numa banheira de expectativa e ansiedade (3 anos para se decidirem, porra!). Mas recusar alguém sem motivos fortes vai contra as mesmas regras impostas socialmente. Não dá boa imagem.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Pilas


Não consigo encontrar o post onde faço referência ao desenho natalício deixado no quadro a giz na cozinha. Mas contei aqui que aproveitei a quadra e a viagem para o país-natal para desejar por escrito as boas-festas e comunicar que deixei um presente debaixo da árvore de Natal.

Regressei assim ao meu hábito de desenhar e escrever no quadro. Hábito que interrompi pela malícia com que aquele veículo passou a ser usado. Eram só mensagens a "apontar" dedos à sujidade na casa e rabiscos ofensivos. Tudo cheio de segundas intenções, mas com um alvo único: eu.

Depois, alguém dos "deles" decidiu impor ali um desenho de um pássaro, ao qual depois foi adicionado uma cock (pila) e este foi o único desenho que ganhou de imediato um estatuto de "intocável". Ninguém o apagava, ao contrário de todos os anteriores. Percebi que desejavam imortalizá-lo. Na altura, perguntei quem tinha sido o autor. Até perguntei ao próprio. Que me respondeu: "Hum... não sei". (o habitual!).

Sabia, claro. Todos sabiam. Era como um "segredo" (mais um) para ficar só entre eles. Mas adivinhei que tinha sido o rapaz-rei-da-casa, pela forma como o desenho era "intocável". A rapariga que foi embora no verão adicionou mensagens de adeus em italiano em volta do sacrossanto pássaro fálico, que entretanto também ganhou um outro orifício sexual. O tempo passava mas ousar eliminar o pássaro, isso não faziam. Nem para colocarem daquelas mensagens "o fogão está todo sujo! É favor limpar depois de usar" - que tanto gostavam de escrever.

E assim o quadro ficou por... três, cinco meses??!

Já novos inquilinos cá viviam há meses, e ainda os rabiscos da outra-que-foi-embora em Junho e do rei-da-casa que foi em Novembro, permaneciam no quadro, preservadas como relíquias sacrossantas pela mais-gorda

Não fazia sentido e era até pernicioso para o ambiente na casa, essa reverência venenosa a pessoas que compactuaram com ela na sua malícia. Estava na altura de cortar essa influência. Sairam, acabou.  

Quando o rei-da-casa foi viver para outro lado, o desenho ficou ainda mais revenerado. Ao perceber que aquela ave com pila gigante jamais ia desaparecer dali como espécie de veneração ao gajo, dei-lhe algum tempo mas, chegando a altura do natal, aproveitei a quadra festiva para retomar o meu hábito/direito de desenhar e eliminar de vez aquele absurdo. E foi assim que, munida da autoridade da quadra, com o auxílio de ir viajar, passei uma esponja naquilo, tentando assim por um fim a um "reinado do mal", ali representado pela veneração absurda a um desenho feito durante um período em que o quadro a giz só andava a ser usado para fins maliciosos - que foi o uso que lhe impuseram. 

Fiz um novo desenho, inspirado num robin (ave com peito laranja associada ao Natal e que, desde que cá cheguei, é «minha amiga» e me visita quando estou no jardim) e escrevi um belo dizer de boas-festas junto com a mensagem sobre os presentes para todos debaixo da árvore. Mas o bom mesmo, foi recuperar o «direito» de desenhar e usar o quadro, como fazia no início e como é certo acontecer.

A mais-velha quando desceu à cozinha nessa manhã e viu o quadro... imagino que até perdeu o apetite. Porque saiu de imediato porta fora, 15 a 30 minutos mais cedo que o habitual. Aquilo deve ter-lhe caído de forma muito indigesta!

Nesse mesmo dia em que viajei, ela apagou todas as gravações que programei na nova box da sala. 


No ano novo a mensagem no quadro foi alterada para: "feliz ano novo", mas manteve-se o desenho. (que era intemporal, dava para qualquer altura). A meio de Janeiro, um gajo que a mais-gorda consegue induzir a cá vir jantar ocasionalmente (é assim que ela "pesca" pessoas, usando jantares "italianos" como isco) "violentou" esse desenho, rabiscando um outro pássaro a relembrar o "do morto" e também com direito a uma gigante pila.

Calhei passar por ali nessa altura e então perguntei quem tinha adicionado o "foguetão". O rapaz, que estava sentado a jantar, explicou que foi ele, em "homenagem" ao pássaro desenhado pelo "rei-da-casa". Foi a primeira vez que alguém deu-me a conhecer o autor do desenho, julgando que eu tinha conhecimento. E lá estava a veneração a querer vir à tona novamente...

É que também fizeram-lhe uma éfigie com almofadas, tecido e balões. Esta figura, a quem deram o nome do gajo, dizendo que era para ele ainda estar na casa, ficou duas semanas no sofá da sala. Cada vez que uma corrente de ar mais forte, ou alguém tocava naquilo, lá se ia a cabeça, ou os braços... Uma patetice. Epá o gajo não morreu! Só mudou de país.

No dia seguinte, como tinha falado com o autor do novo "pássaro" sobre a inclinação sexual dos desenhos alheios mas que eu era mais dada a flores e afins, apaguei a pila e no seu lugar fiz quatro florzinhas. Achei bonito. E foi totalmente inofensivo. Não lhe apaguei o pássaro. Que ali ficasse... não me fazia espécie. 

Ontem, a mais-velha chega a casa, vê-me na cozinha e ao sentir o cheiro a ovo estrelado apressa-se a vergar a coluna para chegar à janela para a abrir só que... pimba! Encontrou-a já aberta. Fez uma cara...

(sempre com a mania que só o cheiro dos cozinhados dos outros é que é insustentável, caramba!)

Terminei rapidamente de comer, deixei tudo lavado e limpo e subi ao quarto, acabando por adormecer. Mas o meu sono foi interrompido várias vezes. Primeiro pelo bater na porta de uma "visita". Pela voz e por exclusões de partes, sabia que só podia ser o tal rapaz que a mais-velha mete cá dentro. Julgo que é a única pessoa que ela tem ou consegue manipular, já que todos os outros vinham por intermédio do rei-da-casa. Daí ela sentir tanto a sua falta. Sem ele, acabou-se aquele rol de italienada, que a deixava tão feliz e arrogante. Por ela mesma, mesmo com todos os dotes de falsidade de que é munida e versátil, não me parece que consiga encher a casa todos os dias de "compadres". Para uma pessoa que vive há 15 anos no UK, não parece ter um amigo próximo, nem ninguém que frequente a sua casa amiúde. E se tiver, nenhum tem nacionalidade que não seja italiana. Até hoje só a ouvi elogiar pessoas italianas. A todos os outros coloca defeitos.

Faço por voltar ao sono e consigo, sendo despertada mais umas quatro vezes ao longo do sono pelo barulho de três vozes: a deles os dois mais a da rapariga do andar-de-baixo. Os italianos a convidarem-se a eles mesmos para jantar e nunca incluindo a tuga. O normal.

Foi uma luta para conseguir continuar a dormir mas o cansaço de um intenso dia de trabalho físico ajudou. A cada interrupção, consegui regressar ao sono. Escutei o tipo ir embora e adormeci. Só acordei eram 4 da manhã. E como percebi que dificilmente ia conseguir voltar a adormecer, tendo de me levantar dali a duas horas, optei por não insistir e despertar de vez. Ia aproveitar esse tempo para relaxar.

Desci à cozinha para comer algo e é quando vejo o quadro. Tinha sido totalmente apagado. O desenho tão bonito, os dizeres. No seu lugar, um escrito "Eu voltei!" e o desenho de uma pila, como assinatura.

Não é que me tenha incomodado, mas não gostei. Sei muito bem o real sentido daquilo. Insistem em tornar aquele espaço num veículo de ódio e ataque à "tuga". Não quero e não vou aceitar. Muito menos que a mais-velha use outros para atingir esse fim. Sim, porque era ela que queria apagar aquele quadro mais que ninguém! Ela queria... mas precisava de encontrar uma forma de ficar com as mãos "limpas". E assim, com uma palavrinha aqui e ali... manipula os outros para fazerem as suas maldades. Convida o tipo, sabendo que vai conseguir suscitar uma reacção dele assim que o orientar para a ausência da "pila" no «seu» desenho.  

Imaginem se fossem vocês. Entravam como convidado na casa de alguém. Achavam correcto apagar um desenho feito por uma pessoa a viver nessa casa, e colocar no seu lugar uma picha? Não tens intimidade, não conheces a pessoa e és VISITA na casa DELA. 

Deixas-lhe um "fuck you" simbólico.

Sim, porque é esse o significado do gesto e do desenho de uma pila... é um "fuck you". 
Um fuck you deixado à pessoa que lá tinha o desenho em primeiro lugar.

Eu sou mais, mas muuuito mais, "peace and love". Portanto, FLORES.

Devia ter nascido nos EUA na década de 50 ahahah!
Lá pelos anos 60, 70, aquilo é que foi diversão. E não era só pelo amor-livre. Que isso... mantem-se nos dias de hoje, mas de uma forma que deixa a desejar. Refiro-me ao idealismo, à aceitação do «preto, do branco, do azul, das bolinhas», às mentes abertas para tudo o que pudesse ser sugerido.

Actualmente vivemos num mundo cada vez mais "liberal", conectado pela tecnologia, mas as pessoas mantêm-se retrógradas e presas a atitudes e comportamentos básicos.

 🌼🌼
 peace and love

portuguesinha

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

A "coisa"


Ainda tenho momentos em que penso... nele. (vou passar a designar "a coisa"). Este é um tema que para mim está eliminado. Mas decidi fazer este post. Porque as situações são cíclicas e a aprendizagem é constante. É nisso que penso: que aprendizagem tinha de tirar daquilo pelo que passei?
Comecei num novo emprego. O colega que apanhei lá, revelou-se inconveniente, preguiçoso e desagradável. Daqueles que não sabe trabalhar com uma mulher, porque só vê a mulher, que considera menos capaz, não vê uma colega. Fez e disse-me coisas inadequadas, como por exemplo: "Viste como trabalhas-te hoje? Isto não é para ti, acho que devias ir trabalhar para outro lugar". 

Tudo o que preciso para estar bem é trabalhar num ambiente simpático. Tão simples quanto isso. Aquele parece-me um bom lugar para tal mas este indivíduo fez com que me sentisse mal ao  rebaixar o meu trabalho. Na sexta-feira mal podia esperar para o dia terminar! 

Nesse instante em que constatei que não ia gostar de trabalhar com aquela pessoa, o contraste fez-me recordar e senti falta "dele". Cheguei a chorar. 

Voltei a rezar, a oração do costume: "por favor, afasta de mim tudo o que é má pessoa. Não eu delas se eu estiver onde quero estar. Mas elas de mim. Traz-me só pessoas boas". 


E não é que, na segunda-feira, o indivíduo tinha sido demitido? Mentalizei-me que teria de voltar a trabalhar com ele, tomei a decisão de manter qualquer conversa para o mínimo e tentar fazer tarefas em separado. Mas quando chego, ele não está e quando pergunto pelo seu paradeiro, é quando me informam que ele "não vai mais regressar" porque "não o quiseram". 

Fiquei em choque! Ele estava convicto que ia ficar ali e lhe iam propor um contrato! Mantive-me em silêncio, por dentro e por fora. Não estou livre de sofrer do mesmo destino e não sou de me deleitar com a desgraça alheia. 

Sexta-feira, o chefe apanhou-o sentado, sem fazer nenhum, a enviar mensagens no telemóvel. Talvez tenha sido esse o motivo junto com outras circunstâncias que desconheço. Depois do flagrante, vi-o trabalhar a sério, pela primeira vez. Sem parar para fazer as suas pausas espontâneas. Ao contrário de todos, que à sexta-feira abrandam um pouco, ele andou parado a semana inteira e deu-lhe "gás" só na sexta. Quase como se quisesse me provar que era melhor que eu. Sempre a dar-me ordens e a desfazer o que fazia. 

Até com a hora da pausa teve de discordar comigo. Quando lhe digo que achava que era hora para o intervalo, responde-me que faltavam 15m. Estaria equivocada? Disse-lhe que tinha tirado uma fotografia ao papel que indicava essa informação e fui procurá-la no telemóvel. A fotografia confirmou a minha impressão. Mesmo assim ele responde-me que estou errada, que o papel correcto é outro. 

Fui confirmar e vi que todos os colegas tinham desaparecido dos postos de trabalho. Disse-lhe isso mas ele tinha sempre de ter razão. E por isso não me acompanhou na pausa. Decidiu tirar a sua quando todos foram trabalhar. 

Seja qual for o motivo da decisão de o demitirem, sei que foi a decisão acertada. Ele não era a pessoa adequada para aquela função porque, a cada oportunidade, tentava não fazer nenhum. Não sabia comunicar e dava-me ordens, tendo apenas mais cinco dias na empresa que eu. Foi uma surpresa sabê-lo dispensado, porque parecia integrado, bajulava um a um e todos pareciam gostar dele. Mas pelo que percebi dele como trabalhador, não foi surpresa de todo. Foi a decisão certa


Apareceu logo outro para o substituir. Um homem de certa idade, cabelos grisalhos, aparência meio "aparvalhado", com ar de sofrer de algum défice mental. Não sou pessoa de julgar pela aparência, nem de diminuir ninguém por deficiências que julgo poderem ter. Um colega que gostava  bastante do que foi-demitido, logo abriu os olhos em espanto e reprovação ao ver o aspecto do "novo". Mas eu tratei-o bem, como faço com todos. Principalmente se parecerem começar em desvantagem. Tentei facilitar-lhe a vida, enturmando-o dentro da medida do possível, sendo simpática e explicando-lhe os procedimentos, sem nunca lhe dizer o que devia fazer ou dar ordens. Dei sugestões, conselhos e disse-lhe que ia encontrar o sua própria maneira de fazer melhor as coisas, com tempo. Também lhe disse que "aprendia depressa". Dei apoio. Acho que é a forma certa de proceder com quem quer que seja. 

Sei que ele estava em desvantagem pelo ar deficiente que transmite. Mas eu também podia estar em perigo. Caso ele estivesse ali para me substituir e fosse daquelas pessoas que são um touro a trabalhar. Ainda assim, não o sabotei. Não faz o meu género. Partilhei tudo o que sabia com ele. Tratando a pessoa bem, criando uma camaradagem, até o colega que olhou para ele com ar de reprovação já o estava a aceitar melhor no final. 


Trabalhamos os três conjuntamente, em perfeita harmonia, sem conflitos ou desentendimentos. E produzimos bastante. Fiquei a sentir-me bastante feliz. Prefiro uma pessoa assim, do que uma como a que estava lá. Este também não gosta muito de trabalhar, noto que não gosta de fazer esforços e é de queixumes. Daqueles que desiste com pouco. Mas vendo a atmosfera favorável em que foi parar, não fez corpo mole. Teve um primeiro dia excelente. Se não tivesse, amanhã seria dispensado. Agora só não pode é pisar no risco. 

Porque é que estou a relatar isto?

Porque foi assim que lidei com a "coisa", quando apareceu para substituir um colega. Tal e qual, uma situação de cópia autêntica! Parece cíclico, caramba!!

Estou a tentar perceber que lições tenho de tirar desta "repetição de história". É que não é só a forma como tratei bem o recém-chegado, que é idêntica à maneira como tratei o anterior recém-chegado. É também a preocupação que demonstrei. Caramba! Isso foi o que me fez recordar como começou a minha história com o "coisa". 

O recém-chegado não levou comida. Disse-lhe que tinha croissants e dava-lhos, para que não ficasse de estômago vazio. Partilhei os croissants e também parte da minha refeição com ele. Fez-me confusão que ele ficasse a trabalhar o dia inteiro sem comer.

Sabem como foi com a "coisa"? Comecei a aproximar-me do "coisa" por essa mesma razão. Idêntica! Disse-me que não comia. Aquilo chocou-me. Preocupou-me. A sua teimosia em não comer também surpreendeu-me. Tentei entender. 

Foi assim que TUDO começou. Comigo preocupada com o bem-estar de uma pessoa que se recusava a comer enquanto executava trabalho duro e pesado. Como posso «esquecer» ou melhor, não recordar, se as situações se repetem?


Tantos homens por aí... muitos a tentarem aproximarem-se de mim, com segundas intenções... E nenhum me disse coisa alguma. Cheguei a temer só me ter apaixonado pela "coisa" por este ser jovem. Será que tenho algum assunto mal resolvido? Será que só olho para rapazolas, esquecendo-me que a minha juventude passou?

São coisas que me passaram pela cabeça. Mas ao perceber a minha atitude e comportamento diante da mesma situação, mas com uma pessoa de outra idade, de outro tipo, percebi que eu não mudei nada. Sou a mesma. Agi igual. A mesma simpatia, mesma afabilidade, mesma disponibilidade para ajudar, com um toque de discrição. A diferença de idades não influencia o meu comportamento. 

O "coisa" honrou esta minha postura cortando-me da sua vida com um súbito silêncio sepulcral. E isso feriu. Mais que uma paixonite que podia ou não ser correspondida, situação que eu própria já tinha riscado da minha vida por isso pouco me incomodaria se fosse ou não, o desprezo dado à pessoa que lhe fez bem, que o acolheu e o fez sentir-se feliz, magoou. Era bordoada vinda de todos os lados. A dele foi a derradeira, que me fez questionar se a minha essência como pessoa tinha valor.


Aconselhei várias vezes este novo colega a trazer comida no dia seguinte. Respondeu que não. Bastava-lhe jantar quando saísse do emprego.

Não podia ter dito a frase mais copiosamente
Foi tal e qual "o coisa".

Como já passei por esta situação antes, não pretendo insistir. Ainda mais com um homem feito. Um rapazola... ainda vá lá. Mas um homem que já deve saber o B-A-BÁ... 

Também não vou estar sempre a partilhar a minha comida. Bem que a aceitou e devorou com deleite. Pude perceber que até a desejava, quando me viu a comer. As batatas fritas, o frango, os croissants...

A empresa não vende comida, Nem sequer tem máquinas. Há um supermercado a uns 8 minutos de distância, mas pelo que percebi o homem não faz o género de se alimentar, ponto final. 

Se tenho que aprender uma lição com esta repetição kármica, é não me preocupar com esta decisão aparentemente insensata. O homem é crescido, eu não sou mãe dele. 

Esta "repetição" serviu para eu perceber que a atracção que senti não surgiu das circunstâncias, nem da aparência jovem da "coisa" (que nem era bem afeiçoado, pelo contrário, mas aos meus olhos era). Foi mesmo o conteúdo que ali encontrei (ou julguei encontrar) que me fez desenvolver sentimentos tão fortes pelo desgraçado. Não foi a sua juventude. Ainda bem que fiz esta descoberta.

"Gamei" no crápula. Gostei tanto, que só lhe desejei coisas boas. Para infelicidade minha e total desorientação dos sentidos. Mesmo depois de tudo. Desejei que encontrasse alguém que o fizesse hiper feliz. Desejei poder observar espiritualmente as descobertas fantásticas que intuí no seu caminho. Como sei que já não gosto dele? (bom... tenho recaídas... faz parte, ainda mais por a coisa ter ficado no superlativo muito mal resolvido). Sei  que parei de gostar porque comecei a querer que sofra. E antes não queria tal coisa.

A sua toxidade continua a espantar-me. Passei o dia inteiro mal. Com o mal dele dentro de mim. Bem que me disse que era uma pessoa tóxica. Que se descartava das outras com total indiferença e sem voltar a pensar nelas uma vez que seja. Ele disse... eu... não esperava. Não dei motivos. Não é suposto fazer-se isto apenas com fortes motivos?

Para mim o seu veneno foi super poderoso.
Senti esse veneno a consumir-me o dia inteiro.

Mas se existe Karma, o veneno vai acabar por regressar a ele. E vai levar o meu rosto no selo do "envelope".


Tenham uma boa semana e tratem-se bem!

Feliz ano do "rato".



segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Cagar e Andar

Comecei num emprego novo na segunda feira passada. Entro às 8.00 da manhã e para tal tenho de sair de casa por volta das 7.00, o que significa acordar, no mínimo, 30 minutos ANTES para chegar a tempo. 

Acontece que a mais-velha (a tal simpática e genuína) costuma acordar por volta da mesma hora. Ainda que só saia dali a duas! Quando digo acordar, digo mesmo ACORDAR. Mas desde que percebeu que eu tenho este horário, começou a introduzir-se no WC meia-hora mais cedo. Primeiro apenas uns minutos, depois 15 e, finalmente, 30. Sempre muito silenciosa, mais do que antes, para ver se eu não dou conta e me surpreendo com o espaço ocupado por ela. Mal sabe ela que sempre despertei antes.

A primeira meia-hora após se introduzir lá dentro, passa-a sentada na sanita a cagar. A defecar tenho a certeza que sim, porque oiço como sempre escutei a "trovoada" sucessiva e impressionante de gazes que liberta. Mas se medita ou vê séries de televisão (como fazia a outra) não sei ao certo. Embora por vezes escute o som de programas televisivos vindos de um telemóvel quando ela está lá dentro a "arriar o calhau". 


Numa casa partilhada onde todos precisam de acordar cedo, ter a ousadia de ocupar o banheiro por meia-hora só para ver TV é... falta de respeito. Mas deixe-mos que cada qual seja aquilo que realmente é. Eu? Cagando e andando.... Não literalmente, como ela, Ahahah.

Não preciso de ficar 1h dentro do WC todas as manhãs. Nem todas as tardes ou noites. Não uso disfarces, por isso posso muito bem arranjar-me rapidamente sem precisar de tanto tempo para ficar "pronta". 

Aproveito que ela vai demorar e sei que posso descer à cozinha para preparar algo para comer ao pequeno-almoço na "tranquilidade". (nunca fiz isso e sabe bem!). Ao percebê-lo, começou a encurtar a «estada» no WC. Mas como nunca é menor de meia-hora e eu só tiro esse tempo para me preparar, nunca nos cruzamos. Noutro dia decidi fritar pão, bacon, ovo estrelado num fio de azeite com pedaços de cebola e fazer uma sandes. Sabem como soube? DIVINAL!!

Só que a cozinha ficou com cheiro. E eu? Cagando e andando.... 

Antes de cozinhar, abri a janela, usei o exaustor, fechei a porta da cozinha.... mais decência que isso, só milagre. Sei que ela não pode com o cheiro de comida - se for feita pelos outros. Porque o cheiro da dela... deve achar que é aromática. O perfume é igual a todo o outro e digo-vos: empesteia a casa até o dia seguinte. Imensas vezes despertei eu de madrugada e senti-me agredida pelos odores dos cozinhados que ela fez horas e horas antes. Mas haviam de ver a altivez, a postura arrogante da tipa... Ainda agora, quando entrou, excepcionalmente trocou duas palavras comigo sobre o "shitty weather" (chuva de merda) só para, sem eu dar conta, abrir a janela da cozinha como que a protestar por cheirar a uma almondega (de carne Halal) que eu aqueci no microondas em potência média por 30 segundos.

A sério!!! 

Se não regressar a casa vinda do meu segundo emprego (sim, tenho outro, mas é muito irregular), entro pela porta meia-hora mais cedo que ela. O que a deixa incomodada. Tem medo de perder o "lugar" na sala. Neste primeiro fim-de-semana, que agora temos em comum como dias livres, fiquei o sábado a ver um filme. E ela? Remeteu-se para o quarto. Depois diz que sou eu que me isolo. Não a proibi de se sentar como sempre faz. Se é seu costume, quebrou-o porque quis. Também é sacanagem esperar ocupar constantemente e sem dar tréguas, a TV comum a todos. Eu? Cagando e andando...


Sabe bem. Sabe bem (finalmente), sentir que estou melhor e que sei lidar com esta situação que foi tão injusta e cruel comigo. A canção tem toda a razão. Já a foram espreitar?

domingo, 26 de janeiro de 2020

Footpath Rage - desviando do passeio



Uma das situações que muito me incomoda no comportamento das pessoas aqui na "parcóvia perto de Londres", é a forma como se fazem de empecilhos nas situações mais desnecessárias. É que não tem explicação!!!

Preparem-se... isto vai ser terrível.


Caminho no passeio, em linha recta, não vem ninguém no sentido contrário. Nisto aparece uma pessoa no meu lado direito, o lado da estrada. O que eu faço? Imediatamente posiciono-me do outro lado, o lado de dentro. 

O que vocês esperariam do comportamento do rapaz que desceu do autocarro e começou a caminhar pelo passeio nessa linha de direcção? Eu esperaria que se mantivesse nele. Ainda por cima, tendo-me visto a desviar-me do seu percurso. Pois o que ele fez foi por-se a caminhar na minha direcção! Contra mim! Quando o nosso caminho cruzou-se, EU tive de me desviar. Eu, que até estava a subir e ele, a descer. Eu, que sou mulher e ele homem. Eu, que já lhe tinha desobstruído a passagem e ele é que se meteu na minha frente. 


Lamentando este tipo de comportamentos, fui eu que voltei a mudar de sentido, ultrapassei-o pela direita e voltei a posicionar-me à esquerda. Nisto olho para trás e vejo o rapaz a mudar NOVAMENTE para o lado exterior do passeio! Para atravessar a estrada. 

E eu pergunto: Porquêê?? 
Eu é que tive de o ultrapassar e ele logo a seguir a ser ultrapassado muda de faixa e passa para o lado que eu tinha deixado livre?? Se pretendia seguir por ali desde o início, porquê não foi ELE a ultrapassar-me? Porquê não se manteve nessa direcção que eu havia deixado livre? Poupava-me o incómodo de ter de mudar de faixa, duas vezes!! Ainda por cima vi-o a sair do autocarro...  vinha sentadinho, não estava cansado. Desceu o passeio com as mãos enfiadas nos bolsos das calças, forçando-me a mudar de rumo para com ele não colidir. E para quê? Se já pretendia seguir pelo caminho que lhe desobstruí, porquê, que raio, porquêêê não continuou a seguir por esse caminho que lhe deixei livre, porquêê se meteu no de colisão, porqueêê me obrigou a contorná-lo para imediatamente a seguir a forçar-me a isso, ele mudar de faixa? 

Raios parta esta gente que não tem nenhuma noção de como circular nos passeios e o que é pior: é ingrata. 


Footpath Rage - atravessar a estrada


Noutro dia decidi não atravessar a avenida entre um momento sem movimento automóvel, como habitualmente faço. Segui pelo passeio, até chegar aos primeiros semáforos. Acontece que esse cruzamento é TERRÍVEL, porque movimenta três sentidos. Os carros que querem virar à direita, ficam parados. Os que querem virar à esquerda, vêm todos acelerados para apanhar o sinal aberto e depois que este fecha, abre o sinal para os da direcção oposta virarem para ali. O peão... vê os carros parados, vê que os outros ainda não podem virar... tenta atravessar a estrada. Porque sabe-se lá quando o sistema diz que "acabou o tempo para aquele, aquele e aquele, e é a vez do pedestre passar".  

Muitas vezes, é até mais fácil para os próprios automobilistas deixarem o peão passar. Porque assim este não pressiona o botão dos semáforos, o que deixa a circulação automóvel fluída, sem forçar uma paragem. 


Mas aqui no UK isso não é percebido assim e os automobilistas comportam-se como a querer reclamar toda a estrada para si, por terem esse "direito". Se um peão ainda estiver a atravessar a estrada na passadeira quando o semáforo para carros ficar verde, leva com uma buzinadela e os automobilistas não hesitam em por o carro em movimento. Se um peão atravessa a estrada fora da passadeira numa via dupla, ou mesmo tripla, num momento sem carros e surge um automóvel, o mais provável é este ACELERAR e escolher dirigir na faixa perto do passeio, mesmo quando, ao fazer a curva, não era essa a direcção mantida. É intencional. Mal intencionado. Aqui usam este recurso para "reclamar" o "direito total ao espaço". É uma forma de comunicar ao peão que não aprova que atravesse a estrada ali. Isso e buzinar. Adoram buzinar!



Já em Portugal, se a pessoa atravessar a estrada fora da passadeira, o automobilista muitas vezes reduz a velocidade, ou, pelo menos, não a aumenta. Vê o peão à distância e não se põe a acelerar. Há uma espécie de "acordo" mudo, de cortesia e entendimento. 


O caso mais recente que me incomodou, foi nesse cruzamento. Só os carros à minha direita tinham sinal verde. E não vinha nenhum. Acontece que a pressa deles é tanta, que dar três passos sem aparecer um acelerado não pareceu possível. Percebendo isso, recuei até ao passeio e fiquei à espera. Com os dois pés bem assentes no passeio, um automóvel que estava longe quando recuei, DEPOIS de fazer a curva e passar por mim, BUZINA. O que vem atrás, decide fazer o mesmo. Para quê??  Não tinham espaço suficiente na estrada? Eu de pé no passeio incomodei-os? Não têm mais nada com que se preocupar, não têm de se concentrar na condução, querem ver? É mesmo necessário, vital, essencial buzinar aos ouvidos do pedestre??

Perdi logo a paz de espírito que transportava comigo. Qual é a necessidade que um «cu tremido» (que é como defino os não-caminhantes carro-dependentes que confortavelmente viajam sentados) tem de buzinar a um peão que já não está a tentar atravessar a estrada? 


Dá vontade sabem do quê?
De transportar uma buzina e pagar-lhes na mesma moeda para descobrir se gostam. Ia dar-lhes uma valente e sonora BUZINADELA que é para com o susto se espalharem com o carro e saberem como é bom! Teriam de andar a pé ou ainda melhor, de transportes públicos, para sentirem o que é bom para as manias de soberba.


Andar a pé... coisa que muitos desconhecem desde que tiraram a carta na juventude. Apanhar vento, chuva, sentir os pés a bater no asfalto que aqui no UK é tudo menos plano, sentir aquela dorzinha na base da coluna cada vez que se tem de pisar um piso tão cheio de altos e baixos. Sensações únicas.


Logo a seguir às buzinadelas, passa por mim um rapaz agarrado ao telemóvel, e, sem hesitar, atravessa a estrada, seguindo caminho. E eu refilo. Pois refilo! Olho para os carros parados no mesmo semáforo... Onde estão as buzinadelas agora? Eu no passeio e ele atravessou a estrada! Com um telemóvel na mão. Podia estar distraído, já eu, tomei a decisão consciente de recuar para o passeio, por estar até muito atenta às minhas chances de passar para o outro lado. Os carros parados não reclamaram porquê? É descriminação de género? LOL.  Mais uns passos à frente, depois de passar o cruzamento, tive de me desviar desse mesmo rapaz que, continuando a olhar para o telemóvel, tinha virado de direcção e claramente estava a procurar seguir as indicações de localização do Google Maps

Aprender a ter mais consideração pelo lado em maior desvantagem. É só isso que quero ver acontecer. Quero sentir que há pessoas educadas que, mesmo não concordando que o peão atravesse a estrada fora da passadeira, perceba que, por algum motivo, ele tomou essa decisão. E não lhes custa nada abrandar... ou simplesmente, manter o limite de velocidade. Já para o peão, parar consome segundos, mesmo minutos. Que estão contabilizados em passos, em mais ou menos tempo debaixo da chuva, neve ou frio, em vontade de ir ao WC, ou aquecer-se... No meu ver o que é pior, é a quebra do ritmo, que vai realçar o cansaço ou stress. Dali a três segundos, o carro e todas as pessoas que viajam nele já estão a metros de distância. Mas o pedestre continua a atravessar a estrada. 


Footpath Rage


Footpath Rage quer dizer "Raiva no Passeio".

Este é um tema que já quis abordar. Diz respeito ao equivalente do Road Rage (Fúria na Estrada) que descreve um comportamento de certos automobilistas que estão sempre zangados e a mandar vir, mostrando adoptar uma condução agressiva.

Eu sou peão. Peão profissional!
E como tal, tenho já uma certa tarimba. 
Aqui no UK não se diz sidewalk (isso é americano!), diz-se Footpath... então sofro, desde que cá cheguei, de footpath rage.




Enerva-me. Imediatamente. Posso estar super feliz mas basta uma coisinha relacionada com certos comportamentos tanto de outros peões, como de automobilistas, para me azedar o dia. 

Quando estive em Portugal até fiquei a sentir-me MARAVILHADA, porque todas as pessoas no metro posicionavam-se corretamente. E todas estão tão apressadas quanto eu! Mas não perdem a classe, a educação, a etiqueta. E, principalmente, não exibem a arrogância como se fosse um troféu. Sei que podem questionar-se mas, enquanto em Lisboa, todas as pessoas que encontrei no metro, sem excepção, pediram desculpa pelo mais ligeiro encontrão. Todas corriam para as escadas rolantes mas posicionando-se para ceder passagem a quem as quisesse subir... e pedindo desculpa quando não eram rápidas o suficiente! Foi uma lufada de ar fresco e familiar que acolhi com deleite.  
Ver a multidão com estes comportamentos quase que dá vontade de chorar, pela surpresa da falta diária que exemplos destes nos fazem. Nem tinha percepção do quanto em Lisboa as pessoas são bem educadas! 

Nesta parcóvia a algumas horas de Londres... Já vos conto!!

O Reino Unido abriu o seu primeiro supermercado somente depois da 2º GG
(12-01-1948) E vejam nesta imagem, já de início... nenhuma regra de circulação e comportamento!

SUPERMERCADO
Empurrava um carrinho, tenho pessoas paradas à direita a ver coisas numas prateleiras, então vou para o meio, já que quatro passos à esquerda, um casal acabou de se agachar até ao chão para espreitar algo na prateleira mais rasa. Uma mulher sem sacos, sem carrinho, bem vestida, com o cabelo solto e louro platinado, faz a curva e entra no mesmo corredor, atrás do casal agachado. Ao invés de ficar PARADA nesse lugar para me ceder passagem, pois já estou no meio do corredor com o carrinho em frente da barriga, desvia-se do casal, metendo-se à minha frente e pára. Fica ali parada, como se não tivesse acabado de se transformar num empecilho e eu tivesse de lhe ser grata. Há direita tenho pessoas, à esquerda tenho pessoas, ao meio, a bloquear-me a passagem, pôs-se ela. Demasiado "chique" para se desviar.  

Também fico parada. Uns segundos, a tentar perceber como sair dali... porque as pessoas aqui no Reino Unido não funcionam com regras de etiqueta que nós, portugueses, seguimos por instinto! Como por exemplo... não nos tornarmos um empecilho para a circulação dentro dos supermercados ou centros comerciais.

Só consegui sair do súbito cult-de-sac (a expressão usada aqui no UK para "beco sem saída", curiosamente, nada inglesa) quando um deles se moveu. Os da direita. Só então pude manobrar o carro para a direita para me desviar da tipa.

E a reacção dela quando a ultrapasso? 
Com um ar de desdém, como se tivesse razão de queixa, diz:
-"You are welcome!"  (Não tem de quê!)

Ainda queria que lhe agradecesse por se fazer de empecilho e forçar-me a ter de empurrar o carrinho aos zig-zags. 

É o tipo de comportamento estúpido que mexe com a minha tranquilidade interior!

Vocês talvez não saibam, mas aqui no UK os ingleses têm muito o hábito de insultar as pessoas de RUDES. E fazem-no, principalmente, com estas atitudes de desdém, dando a entender que a outra pessoa lhe deve um agradecimento ou pedido de desculpa. Para mim, exibir este tipo de atitude é o a própria definição de uma pessoa RUDE. Mas na cabecinha deles... acham que os outros é que são escumalha e eles estão correctíssimos.

Esta tipa pertencia, sem dúvida, a este grupo de gente.

Respondi-lhe logo: "Queria o quê? Que passasse por cima das pessoas agachadas no chão?".

Ela fingiu não ouvir, com aquele ar superior que os ingleses gostam de meter e provavelmente a desprezar-me pelo meu fraco inglês que, naquele momento, não saiu da melhor maneira. É que me enerva esta arrogância e petulância que a maioria exibe com vaidade e altivez. 

Mostram-se cheios de soberba, mas comportam-se em lugares públicos como se nunca tivessem sido apresentados a regras básicas de boa etiqueta. É que as ignoram totalmente. Nunca foram ensinados. Não tiveram aulas de boas-maneiras! E a culpa deve remeter para o tal Rei que rompeu com a Igreja Católica... porque em países onde o catalocismo durou mais tempo, regras de etiqueta e boa educação foram passadas de geração para geração. Dar prioridade aos mais velhos, ceder passagem à pessoa certa, não caminhar atrapalhando o caminho de outros, seguir numa direcção a direito e desocupar a outra para quem vem na direcção oposta...

Eles não se comportam assim. Não aqui onde moro, vos garanto. Vá lá, sabem conduzir carros e cumprir essas regras, porque o código de estrada está escrito. Como não há nada escrito a ensinar como se comportarem em supermercados, passeios, etc, têm comportamentos que lhes deixa expostos à sua ignorância, como se fossem selvagens que nunca foram apresentados à civilização moderna. 

O post já vai longo, por isso este assunto vai ser por partes. `
Ainda tenho de falar (claro), do que é ser peão no passeio. Ui! Aqui é ainda melhor!!!

Bom Domingo.

sábado, 25 de janeiro de 2020

Ouvindo música e a pensar na vida


Todo o homem descomprometido não é capaz de ser simpático com uma mulher sem ter segundas intenções?


O Bryan Adams tem as líricas mais certeiras de toda a música que escutei na vida. Imagino que ele próprio escreveu todas a pensar na sua esposa, que deve ter conhecido quando era um patinho feio cheio de borbulhas no rosto. Nem faço ideia da vida íntima dele!!! São as líricas.... as líricas. As malditas líricas.

Provavelmente outra pessoa as escreveu e ele já está divorciado desse grande amor e agarrado a outra mais jovem que ele.

Porque assim é a vida!
Raro ser como uma canção.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Ninguém me entende


Ninguém entende porquê...

1) gosto de «ir lá fora» nas pausas de trabalho. (se não fumo). Não entendem e ACHAM ESTRANHO.

Perguntam-me:
-"Porquê não ficas lá dentro?".

Ninguém entende porquê...

2) Gosto de caminhar de/para o trabalho. ACHAM ESTRANHO.

Perguntam-me:
- "Vieste/foste a pé?".


Ninguém entende. E eu não entendo porquê lhes faz confusão e não entendem.

Fazem-me sentir um alien!
(Mas não acho que sou)

"eu" quando saio para a rua

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Brinquedos para adultos


Confesso que sou curiosa. Por esse motivo, andei no Aliexpress a espreitar e acabei por me deparar com coisas tão fantásticas que tinha de vir aqui partilhá-las com vocês!

Vou começar por este MASSAJADOR. Reparem no dito. Feito com silicone, é maleável, coloca-se na boca de forma a tapar completamente os dentes, formando uma espécie de túnel direto até a garganta. Segundo a descrição e última imagem, remove rugas e faz bem aos contornos do rosto.


Olhem esta, como a moça está atraente!


E se vissem esta aqui na rua, assustavam-se?
SEXY!!

Tudo pela beleza, claro. 

Há quem vá mais longe com o uso do silicone sem ser apenas para fabricar uma parte da anatomia e faça tudo em silicone: lábios, boca, língua, rosto!


Não há parte da anatomia que não esteja reproduzida neste material. Eu vi. Todas muito realistas. Mas a que vos deixo aqui de seguida é esta. Para quem gosta de... dedos.

(Não ninguém foi amputado!)

De facto, para quê precisamos nós dos dissabores das relações românticas de carne e osso, que implicam tanto sofrimento, desgosto, dor...? Usando computadores mantemos relações virtuais e com bonecos realistas assim, a "mesa" está toda posta.


Também se encontram aparelhos que prometem coisas engraçadas. Este aqui apelidei-o eu de amplia melões.
 Usavam? A mim parece-me uma máquina de tortura e inútil! 

 Mas o creme-de-la-creme é este pedaço de silicone com calcinha vermelha. Ele reproduz a anatomia feminina para ser usado por quem é... do sexo masculino!


Instruções detalhadas da lavagem e envio.


Gráfico explicando como o transgender deve substituir a sua anatomia masculina pela feminina. 
Uau! Uma coisa que permite o coito de gajo como se fosse gaja!!
Mas há algo que não seja possível?


Fiquei parva. Sério. Interessante, sei que útil mas... espantoso. Assim como espanto é o que mostro de seguida. Até curto. Gosto de coisas diferentes.


 Será que posso usar esta máscara na rua quando caminho na avenida e respiro os fumos do tráfego automóvel ? Deve filtrar bem o ar!

O que não contava encontrar no Aliexpress é a pele do rosto da Betty Gravenstein! Bolas, que a mulher deve mudar a epiderme como o fazem as cobras. Deve ser assim que a mantém esticadinha!


 Por último, meus caros, o maior choque. Preparem-se... é horrível! É temeroso! É intrigante!!
É... isto!!


Sim, estão a ver bem. Cola-se um adesivo e....
sai uma coisa preta, horrível, nojenta, horrorosa do umbigo!!!

Acho que confundiram o umbigo com o anús! De lá é que sai este tipo de merda!
Ai Jazus!!!
Que me fez tanta impressão olhar para isto.

Mas o horror continua. E não é só porque pior que a nhaca preta, está a unha da mulher toda lascada e pintada até meio! Urgh! Mas... vais tirar uma foto assim mulher???
Sim, o horror continua. 
Para o inculto como eu, parece que o site está a tentar vender a bola peluda e preta como um petisco! 


Aqui está o link. Julguem por vocês mesmos. A imagem mostra um FRASCO CHEIO desta bola preta embrulhada em papeluchos brancos daqueles das rifas e 40 adesivos. Pelo módico valor de uns 20 euros. Opá! Se não é petisco é para curar o organismo tipo Vick Vaporub mas... é mesmo necessário, pá???

Estranhices!



domingo, 19 de janeiro de 2020

Fabricar uma história


Prestem atenção à imagem em baixo. 



Trata-se de um senhor, de uma certa idade, de pé no meio de um separador de uma movimentada via-rápida, com uma câmera fotográfica pendurada ao pescoço. Agora reparem na imagem seguinte.


Esta dá-vos uma ideia geral da posição do senhor. O que é que um homem assim estaria a fazer, parado, concentrado a olhar na direcção do trânsito, para a rotunda de onde vêm os carros? Como é óbvio, não estava ali para ser recolhido por ninguém. Seria extremamente perigoso parar ali e ademais, as margens serviriam melhor para esse efeito. Além de uma câmara fotográfica pendurada ao pescoço, o homem tinha uma muleta no chão. Não era doido, pois a sua postura era de quem sabia o que estava a fazer. E estava-se nas tintas para os transeuntes. 



Como sei que alguns de vocês gostam de desafios, que tal pegar neste episódio e INVENTAR UMA HISTÓRIA para este homem estar ali? 

A minha foi simples: Ele aguardava avistar o automóvel de alguém para tirar uma fotografia. Talvez uma infidelidade, que, por algum motivo, seria flagrante ali, naquele lugar onde ele se posicionou. 

Mas podia ser um espião, um observador de pássaros no céu, um assassino...

Contem a vossa história.
O que é que o homem estava a fazer ali

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Tv cines crapólia

Os canais Telecine mudaram de nome. São agora Telecine emotion, telecine edition e telecine action. Também têm um canal chamado somente telecine, para divulgar a programação dos outros três.

Na mjnha opinião bem que podiam ter mudado o nome para Crapólia 1, 2 e 3. Crapólia deriva de "crap", a expressão inglesa para porcaria.

Vi a programação inteira e nada tem de interesse. Os filmes são todos repetições recentes desses mesmos canais e parece até que fizeram questão de escolher os piores. Aqueles com mais fraca audiência.

Não aprenderam que uma mudança de nome e imagem deviva de uma nova linha de programação ou estratégia. É  que nao mudaram nada, so os logotipos.

Pois bem... já eram canais que pouco via, agora vou ver ainda menos. É que qualquer outro canal, exclusivo para filmes ou não, oferece melhor. E a pensar que estes telecines são os únicos que se tem de pagar há parte!

Lá porque é mais restrito, não quer dizer que e melhor. Certamente é este o caso.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Auguri e felicitações por mais um ano de vida!


Adoro quando me desejam feliz aniversário no facebook. É que a data que lá está é fictícia. Preservo os meus dados pessoais, aqueles que, se forem públicos, nas mãos de pessoas má intencionadas, podem causar sérios problemas. Mas principalmente porque é algo pessoal, íntimo, que deve ser do conhecimento de quem desejamos que saiba, não do mundo!

De modo que, quando me desejam os parabéns fora de hora, comovo-me, sinto-me satisfeita e agradecida. Este ano, já fiz "anos". Quatro pessoas felicitaram-me. Três da família (que pelos vistos não se lembram da data real e refugiam-se na do facebook) e uma italiana desconhecida, que, todos os anos, escreve "auguri" na minha página. 




terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Comédia Física no Fox

O canal Fox Movies presenteou-nos a semana passada com o melhor que se fez em comédia britânica e francesa na década de 60 e 70. Uma relíquia! 

Para quem não conhece, foi uma altura em que a comédia absurda e física, quase circense, atingiu grande popularidade. 

Os britânicos fizeram a série "Carry on"(em portugal traduzido para "Com jeito vai...), alternando o título final. Por exemplo: Carry on... Seargent, Carry on... Nurse, Carry on... Teacher, Carry on Cléo (1964), passado no egipto, fez comédia com Júlio César, Marco António e Cleópatra. 


Tanto os filmes britânicos e franceses têm em comum utilizarem sempre os mesmos atores para todos os papéis. O leading men para os Carry On foi o ator Kenneth Williams, suportado por Sid James, Joan Sims, Charles Hawtrey e o ainda vivo Jim Dale

Pulando para a França, por lá o ator principal foi Louis de Funès, detentor de uma energia e expressividade impressionantes. Quase sempre mau humorado (mas bem intencionado), o ator popularizou-se neste estilo e foi protagonista de filmes como "O peito ou a perna", onde interpreta (Brilhantemente) um crítico gastronómico. 

Entre os dois países, confesso ter apreciado mais a comédia francesa. Não desmerecendo a britânica. 


A acutilância com que Louis largava as falas é de impressionar. 

Numa rápida pesquisa, soube que o seu pai era espanhol e a mãe, Leonor Soto Reguera, espanhola-portuguesa.

A França é talvez o país que acolheu uma grande parte da emigração portuguesa, principalmente na década de 70. Mas também nos anos 20. Por incrível que pareça, já estamos a falar da passagem de tempo equivalente a um século! Não há lugar na terra para onde um português não tenha emigrado. 





segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Actualização

Ao todo são 10. Dez molduras. Pretendo usar uma ou duas. As restantes vou ter de pensar bem a quem as oferecer. Estou a pensar em gente jovem, ou adultos com decoração moderna, que podem levar com brihantismo e espelhos.


Dez molduras em vidro. Adivinhem lá quanto me custaram.


Frame collector

Agora deu-me para coleccionar isto!

Para meter as fotografias dos filhos e netos que nunca irei ter. Talvez emoldure flores secas. E as pessoas vao perguntar: porquê? Que inusitado! Não vão perceber que é por não ter ninguém para lá estar. Só antepassados mortos ou eu mesma. Nunca fui narcisista. Pelo que encher isto só com imagens minhas não me atrai.


Mas não se aflijam!
Comprei a maioria no intuito de oferecer.
Eheh. A quem? Família.

Branca como um fantasma


Simpatizei com a beleza da atriz principal de um filme que estava a ver. Reparei no canto dos olhos, azuis e grandes como faróis, mas que exibiam uma tristeza (representada) que, por algum motivo, a tornava ainda mais bela. Não tinha uma ruga. Todo o rosto pareceu-me genuinamente dotado da elasticidade da juventude. 

Mas a beleza dela estava a falar comigo por outro motivo, e rapidamente percebi qual: a candura da pele. 


Há tempos, muitos anos idos, era eu que exibia aquela candura. Tanto que ganhei uma alcunha relacionada com a brancura "excessiva" da pele. 

Este verão senti vontade de apanhar um pouco de cor nas pernas e ombros. Porém, hoje, senti saudade daquela beleza branca, cândida, pura, jovem, com a qual ainda me identifico. O tempo não volta atrás mas certamente existe quem saiba como criar essa ilusão! Pois curiosa pela total ausência de rugas no rosto da atriz e por achar que tinha a pele tão jovem, decidi googlar a sua idade.  Qual foi o meu espanto quando vi que tem a mesma idade que eu!!!

Opá! Ela que partilhe aqui com a malta o que é que fez para criar essa ilusão de ser mais jovem, e de eliminar do seu rosto as marcas da flacidez que os 40 começa a introduzir no corpo da gente...

Vendo fotografias suas mais antigas , dá para perceber que o rosto era jovem sim, mas mais natural. Neste filme de 2018, aparece perfeita. O cabelo negro, sempre apanhado, fica-lhe bem porque a sua pele é branca calva e os olhos azuis dão um ar leve e simpático. As sobrancelhas parecem estar desenhadas para lhe tornar o rosto perfeito. 

Fiquei com um pouco de saudade de uma parte de mim que já fez parte da minha identidade como pessoa. 

E subitamente fiquei com vontade de regressar ao tom de pele "branca como um fantasma"!
Independentemente de tudo, há que celebrar as diferenças.



quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Acreditar na Astrologia

Foi o youtube que sugeriu o vídeo sobre as previsões para o ano de acordo com o signo.


Todos os vídeos de tarologia sugeridos para visualização eram do meu signo. Nenhum outro apareceu. Como descobriram o meu signo é que não sei! Achei que não era coincidência, por isso carreguei. 

Vai que dizem que tudo vai ser «maravilha», com alguns cuidados, é claro. Há uma pessoa que quer pedir o meu perdão, vou ter progressos espectaculares na carreira, e um amor a caminho.


Mas o curioso, o que achei fantástico mesmo, é que até então não tinha percebido o quanto 2019 foi mau. Achei que foi só aquele "período" de abalo emocional (metade do ano quase!) mas pensando bem, o ano inteiro foi uma catástrofe. A começar pela realidade doméstica, que não houve forma de alterar. 

Agora a previsão das cartas diz que as máscaras vão cair e que finalmente terei amigos e gente de bem à minha volta. Já não era sem tempo! - digo-vos.


Se é verdade?
Quem sabe é!


Será que é mesmo verdade que todos os nativos de um signo estão fadados a uma tendência astrológica?

O curioso mesmo foi ter encontrado estes comentários.






Também ia pedir restauro emocional por danos causados ao ano de 2019!
Quase me levaram para a campa, porra! Mas agora, o caminho será outro.

Eu mereço!

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

O Brinde no Bolo-de-Rei e a data de hoje


Se pudesse escolher, presentearia todos no dia de Natal, mas só se abriam os presentes hoje, dia seis de Janeiro.  Sinto que é assim que devia ser. Faz sentido, ficar a "curtir" ali os embrulhos fechados, deixando-os a marinar num caldo de carinho, expectativa, tranquilidade, reflexão, lembrança... lição.

E depois, quem sabe, todos telefonariam uns aos outros, só para agradecer a lembrança?

Seria mais uma forma de manter a união, que praticamente quebra no dia seguinte ao Natal. Nem que fosse por obrigação, as pessoas teriam de se contactar por telefone, falar umas com as outras, porque ficaria mal não o fazerem. Para mim, seria assim. 

Mas este dia traz-me também saudades. Saudades da expectativa de cortar uma fatia de Bolo-de-Rei esperando encontrar nela o brinde, e desejando que não fosse a fava!

Hoje preferia receber a fava. Ia juntá-las, plantá-las e ter umas favinhas para comer. Será que alguém, alguma vez, se lembrou de plantar a fava que lhe saiu no bolo-de-rei?


Ela não era da família. Ou melhor, não era de sangue, mas era de afecto. Uma senhora amiga dos meus avós, que ajudou a tomar conta da minha mãe quando esta era criança. No Natal, ela era convidada para almoçar connosco. Tirando essa ocasião, só a via um outra vez o ano inteiro: quando ia a uma consulta médica anual num hospital perto da sua casa. Faziamos-lhe uma visita, eu e a minha mãe. A sua alegria era muita. Vivia sozinha, num apartamento pequeno, num prédio iguais a muitos desses dessa Lisboa antiga. Sem elevador, só com escadas. A sua companhia eram os pombos, que alimentava à janela. Tirando isso, uma vizinha ou outra e, na qualidade de viúva sem filhos, penso que seria solitária. Ela sempre guardava (não sei onde os ia buscar) os brindes dos Bolo-de-Rei para mos oferecer. E fazia-o com tanto gosto, que eu com mais gosto aceitava, porque a via feliz, com um sorriso de orelha a orelha. Era gulosa, gostava de doces. Gostava de crianças. Mas houve um Natal em que decidiram não a convidar. Senti que estava errado. Estava a afligir-me! Tinham de a buscar! Ela contava com isso e ia ficar desolada, indesejada, a julgar que se cansaram dela, triste e infeliz. Sentia-o. Pedi, implorei, para que a fossem buscar. Puxei de todos os argumentos que, como criança, pensei poderem fazer diferença. Temi e disse-lhes: se não a fossem buscar, ela ia ficar tão triste que no ano seguinte já não estaria viva para se poderem redimir.

E aconteceu. Nesse ano, por motivos que não saberei nunca ao certo, telefonaram-lhe a desejar um feliz Natal mas não a foram buscar para estar à mesa. Morreu meses depois. 

Associo à sua memória os brindes do bolo-de-rei, em forma de jarro, sapato, carro... 

Feliz dia dos Reis!