terça-feira, 27 de agosto de 2013

Os incêndios - outra vez

Mais um bombeiro - jovem e voluntário - se foi. Está morto, vai "viver" para o cemitério. Porquê?
Vale a pena ver e escutar as matérias e o comentador do telejornal das 22h da SIC Notícias - canal a que estou agora a assistir. Grandes verdades a serem ditas.

Um dos aspectos sobre este assunto que li no jornal mencionava a FORMAÇÃO destes bombeiros e o CONHECIMENTO da área. Achei estes aspectos muito relevantes. Não obstante todos os outros que dizem respeito à prevenção, raramente alguém comum como nós pensa se estas pessoas estão realmente bem habilitadas a combater incêndios. Não só no que respeita à formação prática (quantidade, intensidade, diversidade) mas também ao CONHECIMENTO das áreas florestais de Portugal. Julgo que a maioria dos bombeiros que combatem um incêndio NÃO CONHECE a área da mata a arder - o que é natural - já que são por volta da centena que acorrem aos fogos vindos de todos os cantos do país. Mas depois escutam-se notícias de óbitos de bombeiros jovens pelos 20 anos, que tinham uma vida inteira pela frente e tanto ainda para descobrir e fazer e eu, particularmente, penso se nestes casos o infortúnio foi de alguma forma minimamente facilitado pelos seus "verdes" anos, pouca prática ou formação. São voluntários, por vezes seguem os passos de familiares, é como uma tradição familiar que os fascina mas também os pode deixar  -sei lá - a pensar que a "herança" genética e todas as histórias que cresceram a ouvir contar os torna mais conhecedores, mais aptos talvez, causando uma falsa segurança. 

Uma pequena boca de água, um incêndio que se estende por quilómetros...
Persistência, resistência, habilidade e tempo é o que implica
este método de combate às chamas

Mas isto sou eu que pensa nestas coisas. Um incêndio não deve ser coisa fácil de encarar. Não tanto pelo perigo imenso, mas pelo cansaço e desgaste - talvez este o maior perigo de todos. Só uma vez na vida "experimentei" apagar um fogo - com vestes de protecção e um fogo controlado - num curso de primeiros socorros e por aquela pequena amostra consegue-se sentir o braseiro a ruborizar a pele - ainda mais se o vento decidir ajudar. Pelo que imagino esta amostra quadruplicada várias vezes e por aí calculo a exigência física intensa e desgastante que um combate real com as chamas obriga.  


E pronto. Infelizmente o que relatei anteriormente ganha agora mais relevância - o no passado ter visto incêndios a deflagrar quando viajava num avião comercial e o facto de hoje no ESPAÇO, visto da estação Espacial um astronauta fotografar PORTUGAL com os seus fogos visivelmente a arder. Se se vêm do ESPAÇO, imagine-se a dimensão da tragédia. Nem sempre ela "chega aqui" (na cidade), pelo cheiro - que foi o caso anterior. Mas ainda que deflagrem "longe da vista e dos sentidos" dos que como eu são citadinos da capital, não deixamos de lamentar e sentir angústia por toda a calamidade e pelas perdas para o país. Não só pelos incêndios que destroem hectares de floresta, mas pelas VIDAS humanas (e não só) que deles se tornam vítimas, assim como pela destruição de bens, infraestruturas e propriedades. 


E só de pensar que muito disto é causado por PIRÓMANOS, pessoas mentalmente pouco desenvolvidas que não conseguem encontrar nada de mais útil para fazer com as suas vidas, e então decidem sem remorso serem os responsáveis pelas mortes de jovens como Ana Rita Pereira (24 anos) e Bernardo Figueiredo (23 anos), curiosamente colegas de formação, então o que pensar destas pessoas? São ASSASSINAS. O que merecem como punição? Qual a JUSTA punição? 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Cheiros e Incêndios - quem controla a qualidade do ar que respiramos?

Na zona onde vivo, que é elevada, aqui há vários anos durante a noite até de madrugada incomodava-me muito o cheiro que empestiava o ar dentro de casa. Mesmo com as janelas todas fechadas o ar contaminado fazia-se sentir por horas. Por vezes nem me deixava adormecer, porque logo acordava com um incómodo respiratório e a garganta incomodada. Sabem aquela sensação de querer tossir para desobstruir algo e não dar? Por vezes ia até ao frigorífico beber leite, na esperança de sentir alívio.

Vivia preocupada e receosa. O odor intenso e pestilento era de causa desconhecida. Infelizmente ninguém dos meus se preocupava muito com isso, dizendo apenas que "ia passar" e que até lá era "aguentar" porque "não havia nada a fazer". WTF??

Preocupava-me com o "veneno" que poderia estar a ingerir para dentro dos pulmões e os danos para a saúde. Abria os jornais na esperança de ler, algures, alguma referência que pudesse explicar a origem daquele odor, mas nunca encontrei nada. O que me causava bastante estranheza. E na noite seguinte lá estava ele outra vez: a agressão para as vias respiratórias. Corria a fechar todas as janelas e arestas, mas não adiantava. Enquanto o ar da rua estivesse empestiado daquele odor, eu ia ter de o respirar. Aquilo era tortura para mim! Ansiava por ar puro e nada de a noite me dar isso. Imaginava que se tratava da poluição atmosférica de alguma fábrica longínqua que aproveitava as horas proibitivas para,  longe dos olhares das autoridades, dedicar-se a actividades de produção não recomendáveis. E, conforme a direcção do vento e as infracções dessa fábrica, a zona ia ficando envenenada. Jamais alguém ia detectar.

Passei a anotar os dias e as horas da presença do odor, desde o início ao fim, quando existia um fim. "2001, Maio, 26 - x a y horas. 2002, 12 de Abril, x a y, horas". E comecei a notar um padrão. Normalmente as quarta-feiras (se não me falha a memória) a uma determinada hora era certinho: cheiro nauseabundo e incomodativo para as vias nasais vinha aí. Mas me espantava IMENSO que nada sobre a origem destes odores fosse mencionado nos jornais! Manchetes com títulos assim:

"Lisboa adormece imersa num odor pestilento" 
"Ar poluí noite de Lisboa"

Tanto fazia se era verão ou inverno. Por vezes era inverno mas nada do odor desaparecer. Pelo que não podia atribuir a origem do odor aos incêndios, até porque tinha a sensação de existir um certo padrão. Pouco entendo de correntes de ar mas uma das coisas que aprecio neste sítio é que é ventoso e recebe uma aragem forte e fresca em determinadas alturas que me dá vontade de ficar ali em frente à janela e não mais sair. Gosto de sentir o vento, a brisa, de encher os pulmões de ar fresco. Parece que me renova de imediato, me dá energia e vitalidade. Já o contrário... Pelo que deduzi que a origem desta pestilência devia estar a milhas daqui. Devia estar, quiçá, na outra banda, para os lados sul do Tejo, em Almada, talvez.

Tentei perceber qual o instituto governamental encarregue de medir e verificar a qualidade do ar (Agência Portuguesa do Ambiente) e ver se da parte deste existia alguma indicação para o público sobre a qualidade do ar da cidade àquelas horas e naqueles dias. Mas nada encontrei. E depois fiquei a pensar: Como é que se pode provar que o ar está contaminado? Como se recolhe amostras? Abre-se um frasquinho e coloca-se uma tampa? Claro que não! É que se não for em flagrante, julgo que nunca se saberá ao certo a quantidade de partículas irritantes contidas num determinado local a determinada hora.

Hoje está a ser um desses dias. O ar está algo pestilento. Não tão agressivo como recordo no passado, mas o suficiente para me irritar a mim, que sou talvez mais susceptível de sentir alterações. Mas hoje tenho uma explicação para o problema. Regressei a Lisboa a meio da tarde e ao passar na autoestrada perto de Loures avistei colunas de fumo denso a se elevarem na atmosfera, alongando-se como um braço do homem-elástico por quilómetros, levadas pelo vento. Algo estava a arder e pude ver até as labaredas de fogo. Impressionante e preocupante. Se um avião apaga-incêndios passasse por ali na altura, julgo que conseguiria extinguir grande parte dele, sem mais danos de maior. Mas o problema é que não se usam os meios aéreos primeiro. São as pessoas com roupa anti-fogo, máscaras para respirar, tanquenzinhos de água e mangueiras de bocas pequenas em relação às chamas que têm de ir para aquelas frentes de fogo e vencer a força cruel das chamas. É de uma desproporcionalidade tremenda, não admira que seja tão difícil e infelizmente fatal ou danoso em alguns casos. Acho que se podia evitar a dimensão dos danos a bens, animais e pessoas se os incêndios fossem primeiramente controlados por via aérea. Desconheço o que isso implica e a viabilidade - decerto algo impede que esta seja a via escolhida (talvez o risco de acidente) mas NADA me pareceu mais urgente naquele instante do que apagar o incêndio. O trâfego aéreo comercial na zona é intenso? Vire-se! Um incêndio é uma situação de emergência e como tal devia ter prioridade. Deviam existir aviões-cisterna de bombeiros, todos vermelhos, algures num hangar no aeroporto de Lisboa, prontos a abastecer e a partir para o combate. Mal um passageiro mais mal disposto começasse a achar que estavam a demorar muito a partir e visse aquele avião a arrancar saberia sossegar porque ia entender que algures decorre uma emergência maior e mais séria. Mas creio que é o aspecto económico do "empatar" do tráfego aéreo e não um passageiro chateado que influencia este género de decisões.

Já viajei de avião quando avistei um incêndio visto de cima. Não é NADA bonito. Só se vê o fumo branco/cinzento numa imensidão de terra que só a imaginação pode calcular, visto que a altitude é elevada. Passados uns quilómetros, outras colunas de fogo... tudo visto do ar tem um impacto diferente. Sente-se que o pais inteiro está a arder.

O incêndio que avistei hoje, a meu entender, dificilmente poderá ter origem no estado do tempo. Pois se hoje a temperatura indicava 23º a 24º! Não existiu calor algum, pelo contrário. Existia sim era muito vento, condição que deve despoletar um impulso qualquer nos incendiários deste país.

Minutos depois cheguei ao meu destino, alguns quilómetros bem longe do incêndio. Assim que se abre a porta da viatura o cheiro a queimado faz-se sentir. E as cinzas - pequenas partículas quase invisíveis a olho nu, andavam a bailar pelo ar.

Pelo que hoje SEI porquê o ar está pestilento. Só não sei como uma pessoa pode intencionalmente despoletar uma acção destas.

Tabela de histórico anual da presença de Ozono (Lisboa)

Revi o filme "Filadélfia", no qual Tom Hanks desempenha o papel de um advogado demitido quando os seus superiores percebem que ele tem SIDA. Continuo a achar que o óscar devia ter ido para António Banderas, que entrega um desempenho intenso, credível, com timming, mesmo aparecendo pouco no seu papel coadjuvante e tendo poucas falas. Na altura Banderas "acabara" de chegar a Hollywood, era uma aposta sem créditos solidificados e aquele papel deve ter-lhe sabido a rebuçado. Ele ganhou notoriedade num filme espanhol de Pedro Almodóvar e ainda tentava conquistar o difícil mercado da terceira arte de Hollywood. A prova é que o seu nome aparece somente na 21ª posição dos créditos. É para que se perceba o quanto ele ainda estava longe de ser um astro. Esse estatuto pertencia a Tom Hanks e a Denzel Washinton.

Mas o filme continua praticamente perfeito. Continuo a adorar o seu final, com todos os amigos e família reunidos num convívio após o funeral. Entre tantos adultos com o aperto do luto no coração a tentar confraternizar alegremente, a vida renova-se e relembra a todos que tudo é um ciclo, através da presença de bebés de colo que simbolizam esperança e crianças, algumas mais crescidas a correr por toda a parte como que abstraídas do sofrimento e dor alheios e entregues às suas alegrias infantis. Todas as personagens têm ali uma história autêntica para relatar. E quando falo de todas, é mesmo todas: desde os médicos que primeiro tentam despistar a doença, à família de "Tom", ao bibliotecário que lhe pergunta se quer ir para uma sala privada de consulta, ao estudante que esbarra com "Denzel" na farmácia e o convida para um copo implicando uma atracção física. Enquanto a trama se desenvolve em torno da personagem principal aproveitam para colocar pessoas realmente afectadas pela doença pelo meio da história, como figurantes. E é ai que se percebe que por mais maquilhagem que Tom Hanks tenha levado e por mais que tenha emagrecido não conseguiu remover a sua condição física saudável do retrato do aspecto físico de alguém em estado de saúde terminal. Com a tecnologia de hoje isso seria perturbadoramente possível, devido aos efeitos CGI - que conseguem envelhecer, "matar" e rejuvenescer pessoas de um instante para o outro. Mas em 1993, quando o filme foi feito, tinham mesmo de recorrer à maquilhagem e a truques de iluminação. Acho que aqui o filme falha, porque vejo um Tom Hanks com uma tez saudável, bochechas roliças e ar energético - apesar do desempenho. Mas pronto, isso é lado técnico do filme. Para o final da história, no leito de morte, Tom consegue estar mais moreno que o latino Banderas! Pelo que isto para mim retira alguma autenticidade ao filme, mas não à história e às suas mensagens. E essa é que vale a pena recordar. Não é só a SIDA que está a ser retratada, mas em particular a SIDA enquanto num portador homossexual. Dois preconceitos reunidos num só, portanto.

Cena de beijo entre casal - feita percebendo-se o incómodo de Tom - parece-me.
Filmada de costas, de forma a não se perceber que o beijo não é dado na boca.
Cena inovadora para a época - ainda existiam tabus a recair
sobre o retrato da intimidade gay no cinema.
O filme ajudou para que a sociedade visse o casal homossexual como outro qualquer.
Banderas entra no filme com muita intensidade dramática
entregando uma prestação devota, apaixonada, dedicada e companheira.
Denota-se em ambas as personagens um passado de descriminação e obstáculos
ultrapassados, sem que existam referências orais, apenas olhares, gestos.
Acredito que hoje o filme valha pelo seu testemunho histórico que retrata uma mentalidade que já passou. E não é formidável que apenas em uma dúzia de anos, a sociedade no seu geral tenha alterado a sua postura em relação a estes dois temas? Agora é gay para cá, gay para lá, bicha tu isto, bicha tu aquilo... na boa e como se privar com alguém gay fosse até uma moda. Ainda que para alguns acredito que ainda possa fazer alguma confusão, a sociedade na sua maioria já não sente assim e tudo é mais às claras, assumido abertamente sem receios, como aliás deve ser.

Lembro bem do que eram os anos 90 e das coisas que não existiam na altura. A começar pelas principais - às quais estou a recorrer agora: o computador e a internet. Portanto, o acesso à informação não era rápido e simples como nos dias de hoje. A informação vinham dos jornais. Que por vezes contavam histórias reais bem injustas e por isso assustadoras sobre contágio e transmissão de SIDA. Era um assunto falado por muitos mas ainda pouco esclarecido. Será que a SIDA podia ser transmitida num cumprimento de mãos, caso estas tivessem uma ferida? O próprio suor - como líquido corporal podia ser o transmissor? Os "gafanhotos" largados por alguém contaminado enquanto fala frente ao rosto de outra pessoa, por serem saliva, iam contaminar? O beijo entre apaixonados podia ser fatal? Ir ao dentista constituía um grande risco caso um paciente anterior fosse portador da doença e o médico não esterilizasse bem os instrumentos e a própria indumentária? 

Uma aurea de receios de uma forma discreta pautava o comportamento de algumas pessoas. No filme vemos isso, quando Denzel Washinton depois de cumprimentar com um aperto de mão "Tom Hanks", este lhe diz que tem SIDA e ele não sabe o que fazer com a mão. E fica obcecado a olhar para a mancha na sua testa e para todos os gestos de "Tom", com receio de contaminação. De seguida vai consultar o médico para ter certezas de que não pode transportar a doença para casa, para a sua bebé. 

Não condeno as pessoas que, assustadas, possam ter atitudes como as de Washington. Afinal, a informação era contraditória, assustadora e escassa. Diziam que não existiam razões para preocupações bastando ter precauções básicas - sendo que as principais era não ter sexo sem a protecção de um preservativo e ter atenção aos comportamentos sexualmente promíscuos. Comportamentos sexuais de risco - como lhes chamavam. Quanto aos que não temiam apanhar a doença através do sexo mas por outras formas, aí é que tudo se tornava mais difuso. Mães temiam pelos seus filhos "não bebas água pelo copo de ninguém" - diziam. Antes disso uma ocasional partilha de um refrigerante, de um talher, não era problema mas agora esse tipo de comportamentos apresentavam um risco, que ninguém queria correr. Temia-se os espirros como sei lá! Alguém com aspecto doente e tosse incessante não era alguém de quem se queria estar ao lado numa sala de espera num hospital. E é compreensível, ainda hoje o mesmo deve acontecer. E "caçavam-se" outros potenciais hábitos susceptíveis de serem prejudiciais, como a falta de rigor de higienizarão aquando as idas a consultórios médicos. Passou-se a dar mais importância à higiene para se garantir que não haviam sérios riscos de contaminação.


Não me vou alongar e se calhar nem vou falar do que ia para falar, mas a respeito deste filme é assim que agora o vejo. É como se o filme tivesse "congelado" uma determinada época. Não só pelo tema central - sida e homossexualidade, mas pelas mentalidades sociais que ali estão retratadas. As anteriores aos anos 90, as das diferentes gerações, géneros e orientações e as mudanças nos anos 90. Mas acima de tudo DESCRIMINAÇÃO é descriminação. E o filme mostra um pouco disso. Não se foca unicamente na orientação sexual, na doença contagiosa, no género, no estatuto, na cor de pele. Tanto negro, branco, velho, novo, homossexual ou heterossexual podem ter uma mentalidade mais limitada e o desconhecerem. A personagem de Denzel Washinton revela isso mesmo. No decorrer da trama Denzel tem a possibilidade de conviver de perto com um mundo que lhe era afastado mas que julgava conhecer sem conhecer. E aprende a sentir as coisas ao invés de as tomar pelo que lhe foi dito e ensinado. 



quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Facebook das VAIDADES

Desde que o mundo é mundo que grande parte das pessoas competem entre si pela atenção e preferência dos outros. Começa-se a notar isso quando se ingressa na escola, se fazem amizades e começam as invejas. Há quem sinta uma rejeição e sofra com isso mas o que a maioria não admite é que o estigma de inferioridade e de ter sido preterido/a acompanha para o resto da vida e vai pautar o seu comportamento social daí adiante.

Creio que é daqui que nasce o conceito de "duas caras", ou se preferirem três ou quatro: uma pessoal quando se está sozinho, outra quando se está com familiares, outra quando se está com amigos próximos, outra quando se está com amigos menos próximos, outra quando se está com colegas e outra quando se conhece alguém pela primeira vez. Enfim, há pessoas que têm várias caras conforme as que lhes aparece à frente. Mas deixem-me vos dizer que pessoalmente, tenho apenas uma e acredito que todos nós temos uma e somente uma. O resto são máscaras.

E é de "máscaras" que vim falar. O trabalho que dava antigamente para manter uma amizade! Para manter a fachada de se ser o que no fundo não é, quando foi com essa máscara que se deu a conhecer a alguém. Para que esse alguém continue a se interessar por nós, havia que manter as aparências. Hoje em dia isso está muito mais facilitado para quem usa ferramentas como o FACEBOOK.

O meu facebook é algo que uso e só me vejo a usar da forma livre. Se não conseguir andar por ali a me sentir livre para dizer e fazer o que me apetecer, então não me interessa. Talvez por isso ou porque é mesmo de mim, o meu facebook é do conhecimento de poucos, tenho "amigos" só de facebook que chegaram porque partilhamos o gosto pelos mesmos jogos e mais nada. Mas tenho aqueles que realmente conheço e que me conhecem. Um deles é um casal. Vejo constantemente as publicações do lado feminino e fico parva porque NADA do que ali vai parar reflecte a pessoa que conheço. É uma autêntica fabricação.

Essa pessoa recebe muitos comentários aos posts, costuma colocar aqueles meio idiotas com dizeres com lições de moral, coisa que não tem nada a ver com a pessoa também. É surpreendente perceber o quanto criou para a sua atmosfera privada uma personna fabricada. E é assim que se sente feliz, segura e rodeada de amizades. Já o lado masculino também usa o facebook para publicar, às vezes até a mesma coisa, mas não recebe quase nenhum comentário. Pensem bem: ambos publicam o mesmo, um não recebe comentários - talvez um ou outro do pai, do tio, da tia, o outro recebe muitos. Isto quer dizer que um é mais popular que o outro? Que as amizades dela são melhores, mais fortes e verdadeiras que as dele?

O facebook é muito apreciado como fogueira das vaidades. Ali cria-se a pessoa que se deseja ser, para receber os comentários que se desejam receber. E é por isso que tanta gente tem vaidade na sua conta de facebook. Fazem questão de mencionar que têm mais de 100 amigos que são mesmo seus amigos, que não aceitam amizades de desconhecidos, só de pessoas próximas com quem sabem que podem contar. É de uma vaidade e uma necessidade de rejubilar atroz.  E também não é verdadeiro. Mas não têm percepção disso. Não têm percepção que se revelam carentes, que revelam um ponto fraco ao precisarem tanto de se validarem dessa maneira.

Mencionei o casal que conheço bem porque queria usá-los como exemplo. Ela é fria, egoísta, ingrata e gosta de se aproveitar das pessoas. Ele é altruísta, amigo do amigo do amigo e tinha realmente verdadeiros amigos antes de a conhecer. Coisa que ela desesperadamente tentava arranjar e só começou a conseguir depois de o conhecer. Ninguém o adivinha - por uma análise aos conteúdos do facebook. Ninguém sabe que é ele faz tudo em casa - desde cozinhar, a limpar, a cuidar do bebé. E ela fica deitada no sofá, a ler revistas. No facebook dela chovem elogios à sua dedicação ao trabalho, à pessoa que ela é. No dele é um marasmo. Na prática? Na prática ninguém iria gostar de partilhar a vida ao lado de uma pessoa assim, tão centrada em si própria e tão perita em fazer os outros trabalhar por ela. Quem ela é realmente só poucos conhecem. Quem a conhece desde menina. Quem a conheceu já adulta tem uma "nova versão". Que não é autêntica. Podia ser, um bocadinho, de uma certa maneira, mas um pouco de convivência revela logo que não é. Ela não é aquela pessoa que está no facebook, a usar o seu nome e identidade.

Pelo que com isto concluí que o facebook, para uma maioria seriamente complexada, não passa de uma ferramenta social para afagar o ego e criar um alter-ego. Para alimentar a vaidade e satisfazer as carências que, desde a infância, ainda procuram validação através da quantidade de amizades e através do pensamento que os outros fazem da pessoa.


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Mulheres que não deviam ser MÃES

Há mulheres que não deviam ser mães. Algumas mulheres dizem que não querem ser mães. E tomam essa decisão. Para algumas pessoas isso causa estranheza. Eu aceito a decisão de cada um, o direito de escolha. Cada um sabe do interior de si.

Só tive uma amiga que sempre disse que não queria ser mãe, que gostava das crianças dos outros e elas gostavam dela mas que não sentia, não se imaginava e não queria mesmo ser mãe. Respeitei mas sempre lhe disse que um dia isso ia mudar. Ela garantiu-me que não. Passados 15 anos e um aborto espontâneo, está quase a dar à luz - algo que nos últimos anos tem desejado desesperadamente.
Mas respeito quem não o quer. Os motivos lá o sabem - não os questiono. E por vezes penso mesmo: algumas não deviam ser mesmo. Porque o que existe é apenas a possibilidade biológica de o virem a ser. Efectivamente todos os outros requisitos estão em falta. Pensem bem nos motivos que podem levar algumas mulheres a querer ser mães.

1) Sentem o instinto da maternidade?
2) Querem transmitir ensinamentos para os filhos?

1) Querem prender o parceiro e levá-lo ao casamento.
2) Querem porque querem, porque já está na altura e se as outras têm elas também têm de ter porque não são menos que ninguém.
3) Querem porque é o que todos fazem
4) Querem para na velhice terem de quem exigir ou cobrar cuidados e a própria vida

Conheci uma pessoa numa relação que um dia pretendia ser mãe. Mas por enquanto tinha um gato. E maltratava o gato. Por qualquer coisa o animal estava a ser castigado. Ela fechava-o a maior parte da vezes. Batia-lhe com o chinelo. Não lhe dava comida e tentava assim obrigar o animal a se comportar como ela queria e mais nada. Não tinha paciência nem sensibilidade. A melhor amiga costumava dizer que se ela já era assim sem filhos, imaginá-la com uns era saber que não os podia ter. Era uma pessoa amarga, que cobrava demasiado dos outros, que achava que todos lhe deviam e ninguém lhe pagava. Que contava dramas familiares como se mais ninguém os tivesse e mendigava por afecto que não gostava de partilhar. O fio do fusível era-lhe muito curto. Falava num tom de voz doce mas que depressa ascendia ao grito e sempre era agressiva.

Para este género de pessoas, chantagistas emocionais, cobradoras, devia existir algo que lhe negasse essa possibilidade - para assim não poderem dar cabo de uma inocente vida.


Ser prático e transportar um bebé

À saída do metro, após ter subido uma escadaria, vi um homem que julgei pai por ter pendurado ao pescoço uma engenhoca que lhe permitia transportar ao peito um bebé minúsculo. Sim, o bebé era tão pequeno que quase não dei por ele. Foi tudo muito rápido e só pude intuir que o homem era estrangeiro, pela postura e pelo à vontade com que, com um pé desmontou a bicicleta dobrável e a seguir montou e seguiu viagem com o bebé ao peito. 

Num primeiro instante não prestei muita atenção, só me desviei mas logo depois achei estraordinário e, querendo perceber melhor, olhei para trás para avistar a cena. Mas pai, bebé e bicicleta já tinham desaparecido. Nem três segundos haviam passado. E fiquei a pensar: Uhau! Que forma espetacular de andar para todo o lado com um bebé! A bicicleta era diferente na forma, só consegui perceber que era branca e que tinha uma base peculiar. Mal lhe percebi os pedais e nem tive como prestar mais atenção à sua composição. Mas já imaginaram se mais pessoas fizessem o mesmo? Andar de metro com um bebé ao colo e de bicicleta desmontável para todo o lado? Haja portabilidade.

No entanto alguns passos adiante também fiquei a pensar: e se acontece alguma coisa como uma travagem brusca e o bebé é empurrado à força contra o volante? 

Bom, desgraças à parte fiquei com curiosidade. Gostava de ver a sociedade portuguesa experimentar um pouco mais estas formas alternativas de passear e ir a locais, sem que a presença de crianças ou a presença de um automóvel seja factores tão importantes. 

domingo, 11 de agosto de 2013

Fui passageira no Titanic

Quando a estação do Rossio em Lisboa recebeu a exposição sobre o naufrágio do Titanic, fui visitar e levei uma criança comigo.

À entrada deram-nos réplicas do que foram os bilhetes originais, com o símbolo da White Star Line num lado e a nossa identidade de passageiros no outro.
Calhou-me ser a sra. Ida Strauss, passageira a viajar em primeira classe. A criança adoptou a identidade de Eva Miriam Hart, de sete anos, passageira de segunda classe. Creio que não foi uma tirada ao acaso pois a rapariga removeu-os de duas pilhas distintas. E também duvido que existissem naqueles bilhetes mais do que meia dúzia de nomes - dos mais conhecidos. Mas ainda assim, foi interessante saber que só no final da exposição iríamos descobrir se a nossa identidade como passageiros nos ia colocar na lista de sobreviventes ou na dos não sobreviventes, caso viajássemos no Titanic.

No final da visita uma parede exibia os nomes de todos os passageiros. Divididos em duas categorias: sobreviventes e não sobreviventes e por condição: classes ou tripulação. Começamos a procurar os nossos respectivos nomes - que nos foram emprestados para aquela jornada. E foi aí que descobri que a criança que levei comigo sobreviveu. Eu "morri" mas não me importei. Estava contente e em paz por ela ter sobrevivido.

Foi uma sensação daquelas que não se explicam e que são rápidas. Era tudo faz-de-conta mas por um instante podia ter sido real. Porque aí percebi que o pior não é falecer, é sobreviver e viver com a memória da perda e do horror e sofrimento que imaginamos os nossos a passar. O quanto é importante saber que os nossos sobrevivem! A nossa própria morte, a nossa vida não é tão importante. Pelo que entendo cada homem que ali ficou a aguardar a sua vez de embarcar. Eles estavam a salvar o que de mais importante tinham: os seus. Compreendo cada mãe que tentou levar seus filhos para dentro dos botes e imagino demasiado bem o que lhes passou pela cabeça e pelo coração quando constataram que haviam falhado e que não havia salvo os seus.

A dor é muito pior como sobrevivente. O próprio fim não parece tão aterrador quando a morte ou sofrimento de uma pessoa querida. Quando soube que a sra. Ida Strauss, a minha "identidade" podia ter-se salvo, pois foi-lhe oferecida uma vaga num dos botes salva-vidas que ela recusou para ficar ao lado do marido, soube que me calhou a identidade mais apropriada. Consigo ver-me a adiar a partida no bote para que outros pudessem entrar primeiro. Mas nunca se sabe. Depende das circunstâncias e dos outros também. Porém, já aqui contei a propósito do naufrágio do Costa-Concordia e do Tolan no Tejo que cheguei a fazer parte da tripulação de um navio e que numa ocasião fiquei chocada com a admissão dos meus colegas que diziam que em caso de acidente não queriam saber de ninguém e tratavam de salvar primeiro a própria pele. Não me revi nesse tipo de atitude mas, mais uma vez, nunca se sabe. Tinha todas as minhas funções em caso de emergência bem memorizadas. Sabia o que fazer em caso de se ter de abandonar o navio em salva-vidas. Mas esses conhecimentos nunca foram precisos colocar em prática - felizmente.

E pronto: eu "faleci" quase que por opção mas a miúda sobreviveu. Estava em paz, feliz. Julgo que muitos que viajaram e afundaram com o Titanic consolaram-se com isso. Os que puderam, os que foram bem sucedidos...

sábado, 10 de agosto de 2013

Manifestações no Brasil

Epá! Vou ter de o dizer: nós portugueses temos algo importante a aprender com os brasileiros no que respeita a saber se manifestar para exigir a demissão de um político. Voltaram lá eles ás ruas, em massa, pedindo outra vez mudanças e uma demissão. E andamos cá nós a querer a demissão do PM, do PR, do Vice PM, do ministro das finanças e de todos os suspeitos de andarem metidos em contratos SWAP! E enquanto esta gente não larga o poder, andam a privatizar o país inteiro. Somos comprados por chineses, brasileiros e sei lá mais que outros. Por favor, organizem-se pessoas que sabem montar uma manifestação decente. E eu me junto a vocês. Eu e acho que Portugal inteiro!

País vai para férias NO ALGARVE

Ontem a notícia de abertura de um noticiário fez-me estremecer:

"Primeiro-ministro interrompe férias para presidir..." - não escutei mais nada. Férias?! Depois dos últimos acontecimentos e de ficar claro que o governo está instável e incompetente, vão de férias?? Fiquei pasmada! Bem sei que todos merecem descanso e este cumpre uma função vital para o bom funcionamento no trabalho, mas achei de um extraordinário mau gosto e desconsideração um primeiro-ministro que governa um país, numa altura de sucessivas crises dentro do seu governo, após se espalhar ao comprido em polémicas e más políticas, ir de férias!!

Já trabalhei em empresas onde não existiam férias. Cada vez que se viviam crises - e elas sentiam-se mensalmente, era fazer horas extraordinárias sem pagamento, claro. Cheguei a fazer "turnos" de 24h para levar aquele barco desgovernado ao seu porto. Comigo fazendo parte da tripulação ele não ia afundar, ainda que de pouco adiante quando quem vai ao leme gosta de jogar o barco nas rochas. Então e as férias? As férias era para os outros porque, se quiséssemos ainda ter trabalho era preciso continuar a trabalhar. 

Depois abro hoje a revista "Maria" onde na secção de notícias nacionais surge uma fotografia do primeiro-ministro de mãos dadas com a esposa, a passear no algarve. Tudo bem se não fossem os pormenores. É que identifiquei de imediato um copy-cat. Um gajo a imitar o outro primeiro-ministro, o britânico que também anda pelos algarves e que viu uma sua fotografia tirada num mercado de peixe, ao lado da esposa ganhar destaque e interesse internacional. Tudo porque a imprensa decidiu comentar a indumentária informal do PM britânico e da esposa. Vai o nosso PM e trata de os imitar. A ver se causa a mesma sensação - decerto. Também quer que lhe comentem as roupas!! Oh, não tem mais nada com que ocupar a mente, está visto. 

É que na foto nota-se uma encenação - pelo menos é o que entendi. Com um PM e uma esposa de mãos dadas, como é da praxe, a passear pelas ruas (com a comitiva de seguranças decerto pela sombra) para serem vistos, fotografados e comentados pelos meios de comunicação social. Ambos a calçar o mesmo modelo de sapatinho, na mesma cor e aparentemente novos. Estariam eles a dar "dicas" à imprensa nacional? Queriam eles que, tal como aconteceu com o PM britânico que foi descrito (quote) "calçava uns mocassins sem meias". Era esse o efeito pretendido do nosso PM mais esposa? Que lhes comentassem os sapatos? As roupas= Queriam as suas roupas descritas ao pormenor? Então acho que lhes saiu o tiro pela culatra. Porque ninguém comentou o ridículo que é irem para uma zona conhecida pelo calor e praia de calça comprida (ambos) e de sapato fechado. Se é para aparecer, aprendam com o outro, mas façam uma cópia/encenação bem feita.

AS FÉRIAS de um país é algo que me transcende. 
Como pode um país entrar para "férias"? É como o sol desejar tirar umas férias. NÃO PODE SER.

É a democracia britânica que vê o seu PM e vice-PM a tirar férias ao mesmo tempo, é a assembleia da república que fecha para férias, são os tribunais, é o primeiro-ministro. Pergunto-me se neste tempo está alguém a governar o país. E pior: é esse alguém o paulo-compra submarino-irrevogável-não ao corte das pensões- portas? Pergunto se as crises também vão de férias, assim como os problemas - ou será que nenhum deles está para ficar a trabalhar para resolver os problemas da competência de outros e por isso marcam todos férias ao mesmo tempo? Ou será que sem a presença de outros nada se resolve e então já que o país, os serviços e a justiça entram de férias, vai tudo junto! 


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Soylent Green

A respeito da notícia que hoje foi divulgada por cada telejornal sobre a criação com direito a prova de gosto do primeiro "bife" artificial in vitro, feito a partir de células estaminais de vacas ou outros animais.

Deixem-me dizer que senti tristeza e uma persistente sensação de alarme ao ouvir tal notícia. Acho absurda. Eu, que adoro ciência aliada ao progresso desde pequenina, que vejo com bons olhos e esperança os estudos genéticos e em particular os da células estaminais, DETESTEI esta notícia.

Porquê? Porque sei que não vai beneficiar a humanidade e visa apenas o LUCRO.

A alimentação humana nas últimas décadas tem sofrido bastantes mudanças e para PIOR. Exactamente porque "inventam" coisas não-naturais. Ora, carne é carne. Deixem-se de aditivos, de conservantes e outras tretas. A alimentação da humanidade está inundada de "veneno" disfarçado de comida. Muito dele, disfarçado de comida "saudável". E o que se vê são pessoas cada vez menos saudáveis - e não é só porque os hábitos de exercício físico decaíram em proporção ao passado. É porque o que damos ao nosso organismo para sobreviver está alterado na base.

Basta ler as etiquetas das embalagens de carne no supermercado, para se saber que já de carne tem pouco se alguma sequer. E da boa então, julgo mesmo nem existir. Tudo tem conservantes, emulsionantes, vestígios de soja, milho, etc. Lembro-me de gostar tanto de comer pão quando era criança. E no dia seguinte ainda estava bom e macio para consumo. Agora se não o consumir no espaço de poucas horas após o tirar quente da prateleira do supermercado, fica duro. Desfaz-se TODO em tantas migalhas e farelos e o gosto parece ter desaparecido. Parece que fugiu para não voltar mais. São muitas as "mínimas" alterações que a alimentação da humanidade tem sofrido para "seu benefício" que veio a alterar a saúde. Reflecte-se na pele, nos cabelos, agora mais baços, mais finos e quebradiços, menores em quantidade. E se hoje dispomos de tantos produtos cosméticos que "dizem" que só melhora tudo, então porque na realidade não estamos melhor?
(colocar ilustração sobre a alteração do fabrico do pão em artigo do século passado)

Porque nos alimentamos com produtos de qualidade inferior.
Antigamente era simples: carne era carne, peixe era peixe, podia não existir em todas as mesas com a mesma frequência mas era IGUAL para todos. Agora não. Agora todos levam com os produtos alterados e se existirem aqueles que podem consumir os genuínos e inalterados, decerto são aqueles que têm a carteira bem recheada de notas. Ou seja: as diferenças sociais ainda existem, apenas parece que todos temos acesso ao mesmo produto - na realidade não temos.

Esse é um dos lados que me indignam, mas tenho outros ainda mais sérios - se sério não bastasse a qualidade da alimentação da humanidade. O que me entristece é que sou a favor deste género de estudos mas se os mesmos avançarem porque a intenção é MELHORAR a condição de vida da humanidade. Quanto dinheiro não foi já investido no estudo das células estaminais na esperança daqui se encontrar a CURA para doenças, algumas tão sérias e graves como a PARALESIA?

E o que os cientistas correm para fazer com esse conhecimento? - Carne artificial.
Não órgãos artificiais, que podem salvar vidas e impedir a carnificina do tráfego de órgãos e o assassinato de mulheres, crianças e homens pobres do terceiro mundo. Não criaram a substância milagrosa que a espinal medula necessita para se re-erguer. Criaram carne artificial. Sem gosto, por enquanto e julgo que para todo o sempre. Sem prazer para os sentidos - por mais que os contemplados com a degustação quisessem disfarçar.

E tudo isto visa o lucro individual dos já ricos, para que possam ficar ainda mais ricos e poderosos- NADA disto visa acabar com a fome no mundo! Um propósito aliás, tão antigo mas tão antigo que não me restam já dúvidas que se fosse verdadeiro já tinha sido implementado. O que pretendem é dispensar a parte dos CUSTOS de criação, manutenção, saúde, e postos de trabalho em troca de um só indivíduo fechado num laboratório a criar carne para o país inteiro nos próximos 10 anos a partir de uma mesma vaca. Já imaginaram? Ao invés de criar e disponibilizar carne de vários animais - logo por isso dificilmente igual, basta-lhes uma minúscula célula de um único animal.

Assim os que já controlam tudo e são PODRES DE RICOS podem ganhar mais dinheiro que antes com apenas meia-dúzia de células estaminais de um único animal. Já imaginaram isto? Não têm os custos de produção, de manutenção, de alimentação, nada! É só pagar a UMA PESSOA num laboratório e pronto: centenas de postos de trabalho deixam de existir, milhares de verdinhas começam a entrar quando na realidade o que está a sair corresponde a menos de 1/50 das despesas de uma produção realmente natura.

Claro, alguns podem tentar ver nisto a "cura" para a fome mundial. TRETAS. Se há algo que já descobri com espanto mas descobri, é que os poderosos não têm interesse em irradiar a fome do planeta. Porque se quisessem, já o tinham feito. Pelo contrário: até a exploram e com ela tentam tirar lucro. Algumas fortunas de apenas uma ou duas pessoas neste mundo serviriam para o efeito. Mas ainda que não fosse doando todo o dinheiro, têm outros recursos, têm meios, têm excedentes. Têm até doações de bens alimentares e de dinheiro - muitas vezes desviados para proveito próprio. Não. Os poderosos querem é poder e dinheiro. O resto - a saúde e bem estar da humanidade é-lhes indiferente. (colocar ilustração de Imelda)

Por isso é que a notícia me deixou triste. Temo o futuro dos filhos de todos nós. Não vejo nenhum benefício num potencial bife in vitro. Vai se continuar a perder o sabor dos alimentos como os chegamos a conhecer. E basta uma geração para que tudo fique sabotado. No futuro os nossos descendentes, os nossos filhos e talvez netos não vão fazer a mínima ideia do que é o SABOR verdadeiros dos alimentos. Eu própria já estou quase a esquecer de muitos, tantos são já os anos de pão sem gosto, carne nem sempre saborosa, frangos de crescimento rápido, peixe de cativeiro, fruta e legumes de crescimento rápido e de longa durabilidade e resistência. TUDO se paga no sabor mas, ainda pior, paga-se porque estes alimentos carecem dos nutrientes originais que são essenciais ao nosso organismo. E porquê haviam os fabricantes ávidos por dinheiro fazer um pão cuja uma só fatia é suficiente para saciar um indivíduo, quando podem fazer 10 que nunca vão surtir o mesmo efeito? Em pouco tempo a comida natural está a pagar-se mais cara. Como se fosse UM LUXO poder comer um tomate. Ou um pedaço de carne de um animal. Ou um peixe do oceano. Coisas naturalmente criadas, com todo o seu sabor que provém do tempo de maturação e da qualidade da semente e/ou da ausência de mesclagem do gene do "boi" procriador com as melhores vacas. Sabores autênticos, vindos da natureza, quando a natureza os dá.

O problema é sempre o mesmo: o que a humanidade FAZ com o conhecimento que tem em mãos. Parece que nunca se quer virar para o caminho do bem. Só para o caminho do LUCRO. Decepção.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Mentalidade formatada

Estava aqui a pensar nas desenvolvimento de uma pessoa que cresce numa zona mais quieta e tranquila como uma aldeia versus ao desenvolvimento de uma pessoa educada na grande cidade. Acredito que uma pessoa criada num meio ambiente menos exposto acabe por se desenvolver mais depressa. Existe aquela ideia pre-concebida de que na cidade se cresce depressa enquanto no campo longe do progresso o adolescente não desenvolve muito. Pessoalmente sempre achei isso um absurdo. Até porque, se assim fosse, não seria natural que em locais mais remotos muitos jovens formassem família cedo.  No que respeita à sexualidade, pelo menos - que é o que muitas vezes as pessoas se querem referir, esta não chega necessariamente até os jovens que vivem nas grandes cidades primeiro que aos que vivem em zonas remotas.

E acho que compreendo porquê. É preciso tempo para reflectir e fazer uma auto-consulta para se entender. Para a meditação - se preferirem. E esta é essencial, julgo eu, para o crescimento adequado de qualquer indivíduo. Ora um adolescente está ocupado com as suas obrigações escolares diárias ou está a passar pelas rotinas típicas da vida social na escola, da vida social entre os pares. Distraem-se todos com o mesmo, ocupam o tempo todo com diversas coisas que lhes ocupa a mente e deixa pouco ou nenhum espaço para deixar a mente sossegar para meditar. 


 Como explicar o que quero dizer? Em zonas altamente populacionadas em que a oferta de diversões é imensa, não se tem muito tempo para a reflexão.


É difícil não detectar com tristeza que existem hoje tantas ideias e comportamentos pré-estabelecidos que praticamente FORMATAM a mentalidade e as acções dos nossos jovens - especialmente os que vivem na cidade. Vestem igual, pensam igual, consomem os mesmos produtos, querem consumir esses produtos, divertem-se da mesma forma, nos mesmos sítios. São quase todos umas fotocópias uns dos outros sabendo eu o quanto se é diferente e o quanto a busca da identidade é importante nesta fase. Parece-me triste esta existência padronizada. Nasceram e já lhes dizem o que devem comer, o que devem vestir, que músicas devem escutar. Mas será que gostam de tudo o que foram ensinados que devem gostar? Falta a alguns a exposição a outras formas de vida, de sociabilidade, de realidades. 


A juventude é maravilhosa. É a melhor fase para se descobrir no e o mundo. E as grandes empresas sabem disso tão bem que muitas multinacionais dirigem os seus produtos a este target especial de consumidores. Tomem como exemplo a OPTIMUS - julgo que é essa a rede de telemóvel que é quase inteiramente direccionada para o público tão jovem mas tão jovem, que são os pais que ainda têm de pagar a mensalidade do telemóvel, embora toda a mensagem de consumo de serviços seja direccionada aos filhos. Lembram-se de um recente anúncio televisivo em que uma mulher idosa ao colocar o pé na água de um jacuzzi cheio de jovens começa a derreter da ponta do pé até ao fim, desintegrando-se? Não gostei desse anúncio preconceituoso mas ele foi muito explícito quanto ao seu público de eleição: a juventude. O resto são trapos... servem para pagar as contas mas o público mais desejado de qualquer empresa é JOVEM. Seja que produto tenham para vender. 

Então lamento que esta juventude - em particular a que cresce em grandes aglomerados populacionais, esteja toda a ser alvo deste merchandising e campanhas de sedução. 

Numa ocasião participei num inquérito que visava encontrar os produtos mais adequados para consumidores de todas as classes etárias, que são divididas mais ou menos em o grupo de bebés, depois das crianças até os 12 anos, depois dos 12 aos 18, dos 18 aos 21 ou 25 e assim sucessivamente, conforme passam as várias etapas da vida mais marcantes. Sugeri o que para mim me pareceu óbvio que era de interesse para o público alvo predilecto: a juventude. A pessoa que fez as perguntas estava particularmente ávida para receber soluções de produtos para o público desta idade. A minha sugestão foi implantada e teve um estrondoso sucesso. Eu, infelizmente, não ganhei nada com isso de dar ideias grátis a outros e nem fiquei contente com o proveito dela retirada.

Todos sabem que a juventude é o público-alvo mais desejado e o mais difícil de agradar. Mas se o obterem, as empresas têm os pais todos a gastar dinheiro no produto. Afinal, os jovens são persistentes e além disso cansam-se depressa e querem outros modelos, outros lançamentos, todos os anos ou a cada estação. Foram educados a pensar assim - defendo eu, pois também eu vi no meu tempo de criança publicidade na TV a tudo o que era brinquedo. 
Próximo da época do Natal então, "chovia" tanta publicidade que lembro que meus pais mudavam logo de canal. O normal seria se escutar "eu quero isto" ou "isto é giro" ou "podias me oferecer isto pelo natal ou pelos meus anos?". Só que a pesar da mensagem consumista funcionar como atractivo, existia a consciência de que não era possível ter tudo o que desejávamos e, mais importante ainda, o que recebíamos era para ser preservado e durar «uma vida toda» - assim me era dito. Era UMA barbie - ao invés de uma dúzia e UNS ténis, ao invés de vários de diferentes cores. Pelo que lamento que desde então as coisas tenham se tornado tão eficazes para as empresas que manipulam estes jovens e seus pais como consumidores. Que lhes dizem o que fazer, o que desejam, o que precisam, como devem vestir, que corpo devem ter, que pele devem ter, que penteado devem ter para ficarem na moda...

Em locais mais isolados ou pequenos a exposição também existe, mas talvez a juventude esteja mais protegida. Talvez... A única coisa que o jovem da cidade tem aparentemente de vantagem sobre o jovem criado em terras mais tranquilas é que este tem uma postura mais rápida de viver e desenrascar-se, uma superior experiência em noitadas, comportamentos padrão e de consumismo. Sabem se integrar rápido porque fazem parte do mesmo conceito. Mas de resto, algo se perde. Algo que talvez - não sempre mas de uma forma geral, o jovem educado de uma forma mais equilibrada consegue trazer de novo a um grupo educado a pensar igual, vestir igual, agir igual.


 Nas grandes cidades os jovens formam grupos conforme as pessoas são bonitas, bem vestidas, usam óculos são populares. Duvido que em zonas mais sossegadas o mesmo não aconteça - porque são coisas transversais que atravessam todos os extractos sociais, culturas e gerações - mas também acredito que fica mais fácil escolher amigos por afinidade de ideias quando não existe essa pressão inconsciente de os escolher conforme as conveniências. E conveniências ditadas por quem? Quem diz o que se deve pensar, comer, vestir, usar? O CONSUMISMO.



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Não sei se ainda está em voga mas vi recentemente uma reportagem sobre NEUROMERCHANDISING - que consiste em colocar o cérebro de indivíduos sobre ressonância magnética enquanto lhes mostram anúncios de produtos. Conforme a resposta que o cérebro dá, é estudada a eficiência da força do produto e modificada até atingir o ideal: muitas vendas. Na sequência disto vi também um filme intitulado "Assim se vende um filme", onde  me foi revelado algo que desconhecia: a cidade de S. Paulo, no Brasil decretou uma lei que proíbe a publicidade exterior. Resultado: toda a cidade, toda mesmo, não tem um único anúncio. Nenhum outdoor, nenhum autocarro ou taxi com mensagens publicitárias, NADA. A razão é que foi considerada aquilo que é na realidade: POLUIÇÃO visual. E como tal, foi irradicada. O resultado? Fantástico! 

Quanto a vocês, leitores, não sei. Mas estas empresas estariam perdidas se dependessem de pessoas como eu para enriquecer. Sou muito pouco dada a manipulações. Não que me julgue imune - afinal, existe pura ciência e até o APROVEITAMENTO de uma invenção supostamente criada para beneficiar a saúde da humanidade para a usar para levar essa mesma humanidade ao consumismo de produtos que até ajudam a fazê-la ficar doente mais depressa. Avaliando por mim mesma duvido da eficácia de tais manobras, pelo que só posso desejar que muitos mais sintam e vivam o mesmo.