Sobre o assunto menstruação, para ser honesta ainda falta mencionar outros sintomas não físicos, mas emocionais.
É comum naqueles dias antes de surgir, sentir-se menos tolerância para coisinhas de treta. Fica-se mais irritável. Não, não é como nos filmes nem como se gosta de exagerar no imaginário popular. A mulher não vira um monstro que desata a atirar objectos em direcção aos homens e age irracionalmente. Essa descrição é diminutiva e visa minar a imagem da mulher na sociedade.
Também pode ser comum a vontade para comer certas coisas, como chocolate. Isso explica-se simplesmente pelo facto do organismo estar a precisar de alguma coisa que o cérebro sabe reconhecer que encontra em determinado produto. Como ele faz esta espantosa ligação, não se sabe. Mas a verdade é que seja pré-menstruação ou durante a gravidez, se apetecer à mulher ingerir algum tipo de alimento, é porque o corpo precisa. Mas neste requisito, penso que o género não faz qualquer diferença. Aos homens acontece o mesmo. É assim para todo o ser vivo. A única diferença, mais uma vez, reside na forma como a sociedade decide distinguir e exaltar esta característica ao género feminino, tornando-a em mais um traço que visa diminuir a coerência da mulher.
Outro traço pouco mencionado, é a depressão. Mais uma vez, os filmes abordam esta questão sempre um pouco pelo lado da comédia. Mas a verdade é que as mudanças de humor existem. São usadas na ficção para as gags fáceis, mas não são tão bonitas assim. Preciso realçar nesta altura que, cada caso é um caso. Seja qual for o ponto mencionado: os desejos, a irritabilidade ou a depressão. Posso descrever aquilo que sinto e que os anos disto me fizeram identificar.
Nem sempre se segue o mesmo padrão, mas, por norma, existe uma ligeira diminuição dos níveis de tolerância. Então aquela «coisinha» que sempre te enervou, vai demorar muito menos a voltar a te enervar.
Ele mastiga sempre de boca aberta? Porra que isso vai irritar-se logo na primeira garfada! Ao invés de te irritar na terceira ou te "aguentares" como de costume... Este tipo de exemplo. Alguém não bate à porta antes de entrar? Porra que nunca mais aprende! - este tipo de coisa. Menos tolerância, maior irritabilidade mas, no meu caso, nada realmente muito significativo. Resmungo mais, por ter menos tolerância. Mas também tem alturas em que estou de bem com a vida. Vai-se lá entender!
Não sei se os homens entendem isto, porque presumo eu - neste departamento eles são mais acção-reacção. Que tanto pode ser uma bênção como uma catástrofe. Por isso são mais dados à violência - o que pode soar a uma ideia pré-concebida mas, na realidade, a sua condição hormonal ligeiramente diferente da feminina é o que lhes incute essa predisposição. Não é à toa que mal se ouve falar de mulheres que violam homens, é quase sempre o contrário. Uma mulher quando sai de casa, tem de estar atenta a muita coisa. Um homem também, mas o medo de ser violado dificilmente será um deles.
Ai, mas o que me deu para falar! Eheheh.
Voltando ao assunto principal: a depressão é um dos sintomas menos agradáveis que podem surgir - ou melhor - ser ampliados, nesta altura do mês. A depressão faz com que se pergunte para quê se vive. E obtem-se como resposta uma consciência clara de que não se está cá a fazer nada. E tudo o que nos aguarda não é nada que devamos aguardar com um sorriso no rosto. Vamos todos morrer um dia, porque não pode ser logo? É o tipo de pensamento que ocorre com mais frequência nestas alturas, em certas situações.
Não quero dizer com isto que se deseja morrer, mas é como se fosse, porque vida, morte, tudo não passa da existência em si. Objectivos, lutar para ganhar dinheiro, correr para um trabalho... tudo parece não ter relevância ou fazer sentido.
E depois? Depois respira-se fundo e continua-se numa rotina...
A correr para o emprego, a tentar ganhar dinheiro, a fazer tudo o que nos foi incutido. Ano após ano... Envelhecendo nestas rotinas e stresses. No fundo sabe-se que tudo isso não é nada, porque vida, morte... não somos nada.
E pronto. Este é um outro lado que todos nós podemos vivenciar, homem ou mulher, mas que, por alguma razão biológica, parece que a mulher é capaz de estar mais sujeita a estes pensamentos e emoções nestes dias em particular. Suspeito que o homem também sente o mesmo «desespero» e receios, até os tem muito presentes no dia a dia. Mas todos nós fazemos o que nos foi incutido: há que afastar estes pensamentos e continuar com as rotinas.
É isso que é viver.