Metereologia 24 h

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quarta-feira, 12 de julho de 2023

"Somos diferentes" - que o diga as Finanças

 

Por vezes recordo de coisas que me foram feitas e ditas quando me mudei para esta casa há três anos e percebo que já estava ali os sinais de como a M. realmente era. Tanta mas tanta coisa, que é incrível como eu, por ansiar como uma esfomeada por normalidade, continuei a preferir não interpretar pelo pior. 

Recordo que uma das coisas que a M. me disse bem no início, depois de me ter "esmiuçado" de cima a baixo, interrogado, ter feito os seus questionários e até, usar de NUMEROLOGIA de data e hora de nascimento para definir afenidades, foi: "não me vejo a ser tua amiga". 

Ela não é capaz de ser amiga de ninguém - essa é que é a verdade. Mas é uma coisa que não se diz assim, parece-me. Mas foi o que ela me disse, acrescentando que não eramos iguais. No sentido de, ela ter umas tantas qualidades que enumerou e eu.... não. 

Oh! Ela dizer isso, achando que a vantagem estava no seu lado, já diz tudo, não é verdade? O sentimento de grandiosidade do narcisita já a revelar-se. Talvez mesmo uma certo transtorno de personalidade antisocial. 

Mas eu não me abalei nem um pouco. Nos primeiros três meses, existiu cordialidade e muita conversa, onde tudo parecia correr pelo melhor. Embora eu já me sentisse incomodada com comportamentos repetitivos e de total desconsideração que lhe observava. Ainda assim, preferia achar que ela não tinha percepção que os fazia. (Santa ingenuidade!).

Neste tempo, ela e o rapaz do andar-de-baixo já discutiam dia sim, dia não, logo pela manhã. Chegava eu a casa vinda do meu turno da noite, adormecia e em 50 minutos acordava com os insultos trocados entre os dois, aos gritos. 

Daí adiante ela seguia-me pela casa a todo o instante, para fazer queixas dele e de todos os outros. Querendo que eu agisse e baragustasse. Foi muito desgastante para mim. 

A M. nunca deixou de procurar criar conflitos. Apenas foca-se mais intensamente numa pessoa de cada vez. A minha altura ia chegar. E foi este ano em Janeiro, quando o rapaz, finalmente, se foi embora. Agora ela deseja que eu seja a próxima. Estou a contrariá-la, permanecendo nesta residência. 

Segue-me pela casa inteira. Nem 30 segundos me dá - que é o tempo que leva para descer as escadas, abrir o frigorífico e tirar um iogurte, voltando de imediato para cima. Tem alturas em que é 24h/7 obcecada pela minha pessoa. Segue-me, entra dentro do WC se dele acabei de sair, não o usa, vai só espionar. É doente. Faz-me doente também. Tenho receio de me vir a tornar como ela. Mais anti-social. Ou totalmente anti-social. Agressiva ou irascível. Prefiro o isolamento do sossego - sempre fui assim. Mas agora temo me tornar numa pessoa inapta socialmente. Tal são as más influências que me rodeiam e as más situações às quais me sujeitei nesta vida.  

Será que pessoas como a M. nunca se dão mal? Nunca enfrentam as consequências dos seus actos e por mais que aprontem, caiam sempre de pé, que nem os gatos?



Voltando ao tema principal, dela dizer logo de início, muito convicta de si mesma que "somos diferentes". Sim, somos. E ainda bem! As pessoas devem ser diferentes e não todas iguais - para que possamos aprender umas com as outras. Mas ela não tem percepção disso. Mais recentemente, me disse: "Tu não és nada como eu!". Ao que instintivamente lhe respondi com uma sinceridade que deve se ter projectado nitidamente: "Thank God for that!". (Graças a Deus!).

O que a deve ter surpreendido, pois ficou muda. No seu entender, as pessoas devem almejar ser tal como ela. Inteligente, esperta, melhor que todos, sabe tirar benefícios próprios de tudo, levar a dela adiante, etc, etc. 

Mas ser como ela significa, por exemplo, estar cheia de dívidas. Tirar dinheiro de pessoas, instituições e prestação de serviços sem ter intenções de pagar. Surpreende-me que, no Reino Unido, isso seja tão simples. Porque é.

Recentemente recebi uma carta das "Finanças", sobre os impostos que paguei no ano passado. Tenho a receber o valor de £160. Como não reclamei o valor online, irei receber um cheque pelo correio. Hoje fui à caixa da correspondência e lá estava um envelope das Finanças. Mas não era adereçado a mim, mas à M. É fácil de adivinhar o conteúdo. Surpreende-me que, passados meses, ainda seja o mesmo! A leveza do envelope castanho e a sensação fina ao toque já diz o que se trata. É dinheiro em dívida.

A M. DEVE DINHEIRO às Finanças. A primeira carta que tirei da caixa deve remontar a Abril. Desde então já lhe vi outra em envelope castanho. Isto sem prestar atenção. Apenas estando a tirar a correspondência e a colocá-la na beirada da janela, onde a vamos consultar. Só com o primeiro envelope tentei perceber o que dizia. Consegui reconhecer as palavras "dívida" e também "multa". Sendo que a multa era já diária, por ter sido ignorada um contacto anterior.

Presumi que a M. se precipitaria a pagá-la, visto que é uma dívida ao Estado. E ia ter de pagar já com uma multa, eheh. Até recordo de pensar que, finalmente, agora veria-se forçada a arranjar uma ocupação e ir trabalhar! Depois não pensei mais nisso. 


Hoje quando vi aquele envelope das finanças endereçado a ela sentindo a sua leveza nas mãos, lembrei-me logo do que acima descrevi. Senti revolta. Caramba! Nem às finanças ela perde o sossego ou paga as dívidas! Sim, somos diferentes. Eu tenho a receber, ela tem a pagar. Isso diz muito sobre as nossas diferenças. Eu trabalho bastante e desconto. Ela não trabalha quase nada e não paga o que deve. Eu estaria toda temerosa, a querer pagar a dívida o quanto antes, porque dizem que sobe £10 por dia! E ela a deixar os meses passarem. Cada 24h são cerca de 12 euros a mais em que fica endividada. 

E os envelopes castanhos a chegarem, todos os meses... 

Até quando?

Até quando poderá ela safar-se com todas estas tramóias?

Agora temo que o meu cheque chegue pelo correio e seja interceptado por ela, e que ainda acabe por arranjar uma forma de se benificiar. Não que acho que vá acontecer mas, não estou exatamente a tratar com uma pessoa muito correta, estou? 

Vou ausentar-me daqui a uns dias. Não vá o envelope castanho, mas mais espesso, chegar nessa altura. Da última vez que fui de férias, duas semanas, ninguém tirou a correspondência da caixa do correio. Na volta fui eu que o tive de fazer. O que não quer dizer que se repita.

Agora outra curiosidade:

Ao entrar no site das finanças, vi estipulado como o dinheiro que eu paguei de impostos, foi utilizado. Surge assim:


No ano anterior, contribuí com £2.736 para impostos. 

Para minha surpresa e felicidade, quando fui buscar a carta enviada faz umas duas semanas, puxei de um envelope castanho que correspondia ao ano fiscal 2021-2022, ao invés de 2022-2023, o anterior.  Ou seja: dois anos fiscais atrás. E ali estava... um cheque. No valor de £81. 

Ri tanto, mas tanto! Tinha esquecido completamente dele. Havia colocado esse envelope em cima de uma caixa, para ficar bem visível. Porém, ele deve ter deslizado para trás do móvel. Na rotina diária de trabalho e com o stress doméstico, sem o ter à vista, devo ter esquecido da sua existência. Recentemente removi o móvel e arrumei um envelope castanho que encontrei caído, nem tinha percebido do que se tratava. Pensava ser uma documentação solicitada. Datava de Outubro de 2022, mas ainda foi possível descontá-lo. Eu a precisar de um boost de dinheiro lá na altura do Natal.... com £81 caídos atrás do móvel.

Bem sei que não se trata de um presente. É dinheiro restituído por pagar impostos em excesso. Mas é uma boa sensação, ter a receber. Ao invés de ter de pagar ou tudo estar correto. Subitamente foi quase como que tivesse ganho o euromilhões. 

Queria partilhar isto. 


segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Covid ou nao Covid? Continua a duvida.

Sao 5 da manha e vou tentar dormir para acordar as 7.30.

Dez minutos depois de ter escrito aqui respostas aos comentarios do ultimo post, envio uma mensagem ao rapaz da casa, para saber como se sente. Ouvi-o a vomitar no wc.

Nada disse (nunca diz) e por ser muito tarde nao o quis importunar pessoalmente. Desligo a luz. O primeiro dia de trabalho num novo emprego ia começar em poucas horas. E ainda tenho o noturno com que me preocupar. E muito importante descansar. Entre os dois, tenho apenas 4h para dormir e a meio da tarde. Nada mais.

Mais dez minutos e oiço a rapariga a sair do quarto para abordar o rapaz. Chamam o meu nome pela porta. Abro. Ela diz que temos de chamar uma ambulancia. Pego no telemovel e disco o nimero de emergencia: 999.

Nao vos conto mais nada, mas foi exaperante. Basta contar que a primeira chamada foi feita as 1.15am e a ambulancia apareceu as 4.00am.

O rapaz tinha dores no peito e dificuldade em respirar. Um provavel bloqueio numa veia perto do coracao. E talvez Covid. Quem sabe?

Espero que ele fique bem. É boa pessoa. A rapariga tambem. Louca, mas boa gente.

Se vim para esta casa existe uma razao. E ja gosto deles e me preocupo com o seu bem estar, mesmo que nao venhamos a ser grandes ou intimos amigos.

Estamos todos no mesmo barco e temos de nos ajudar mutuamente. Sem familia por perto. Se o covid aparecer nesta casaz terei de ser cuidadosa com a minha familia do outro lado do atlantico.

Mas vao ser estas as pessoas que terao de me auxiliar. E eu elas. Nao podia ter calhado melhor, diante da alternativa.

Bom, vou tentar descansar. Duvido que adormeça. O rapaz levou morfina, tomou aspirina e foi para a ambulancia amparado por duas paramedicas. Fizemos-lhe uma mala de roupa, metemos o passaporte e o telemovel com carregador. Espero que nos de noticias.

No meio desta comocao, como estamos numa casa e aqui deixa-se a porta aberta, as 4 da manha uma rapariga loura toda produzida surge do nada a pedir o telemovel para chamar um taxi porque o namorado deixou-a ali. Fria, sem querer saber da comocao, sem interagir. La dei o meu telemovel a uma estranha, que foi para casa de taxi enquanto o meu colega estava ligado a um aparelho cardiaco e a ser injectado com morfina.

Quando regressar vai ser mimado. Algum bem tem de sair deste mal. Aposto que e desta que vai deixar de fumar. Ele tentou, mas so conseguiu por 3 dias. Voltou a fumar em força e coincidiu nessa altura começar a ter pior aspecto. Fiquei preocupada e tomei uma nota mental para estar atenta.

Mas ele nao me disse hoje que estava com dores no peito. Tem-se mantido afastado, devido a suspeita da rapariga dele ter Covid.

Foi para o hospotal, onde esta a ser vigiado e espero que, bem tratado. O coracao dele nao estava a funcionar bem. Espero que consigam reverter isso e que ele nao fique com problemas.

O melhor que podemos possuir e a nossa saude. Bjs e cuidem-se.


sábado, 23 de maio de 2020

A fruta já não é o que era...


Acreditam que comi estas uvas ontem, dia 22 de Maio e estavam deliciosas?


Não sei o que se passa com a fruta. Temos esta concepção de que é perecível em 24, 48h, duram uns dias, vá lá. Talvez uma semana. Mas na realidade, desde a concepção à manutenção todo o processo industrial é feito a pensar em maximizar os lucros e reduzir as perdas. Dai que sejam geneticamente alteradas para saberem melhor, aumentarem de tamanho mas principalmente, durarem mais e não serem atacadas por pragas. O resultado é atingido com sucesso, mas em troca geralmente já se tem pouco de fruto. Só a aparencia dele, talvez um ligeiro gosto e, como extras, uma serie de produtos quimicos e geneticos invisíveis que todos ingerimos sem saber bem se nos vai prejudicar.

Por vezes imagino o que terá sido, em tempos idos, colher o fruto da árvore e simplesmente come-lo.

Uma arvore que nao foi geneticamente alterada para produzir mais, para repelir pragas especificas, alterando assim o sabor e o seu fruto.

Se antes existiam perigos, as pessoas também os conheciam. Sabiam distinguir o que era comestível do que nao era, conheciam a época da fruta, quando a colher, quando esperar, como eliminar pragas de formas naturais. Como terá sido comer fruta assim?

Vem-me à lembrança a senhora dos figos, com quem esbarrei na rua ha mais de 10 anos. Apareceu no meu caminho vinda do nada. Um caminho que fazia todos os dias há anos e nunca que me cruzei com ela.

Pediu-me para lhe comprar dois sacos de figos. Nem me lembro quanto me pediu por eles. Mas nao foi muito. Eu é que não o sabia, porque, como lhe disse, não sou muito de consumir fruta. Se não a compro, desconheço quanto vale nos supermercados. Na minha cabeça ela pediu o justo. Comprei-lhe dois sacos que tinham cada um o mesmo peso em quilos (não lembro quanto) mas percebi que ela queria que eu levasse mais dois, porque assim mo pediu.

O que eu ia fazer com quatro sacos de figos?? Disse-lhe que me bastavam dois.

Lembrei-me de uma colega no emprego que sempre me dizia adorar fruta. "Eu como muita fruta. Alias, tenho de ir comprar laranjas que acabei ontem". Umas vezes fomos de carro até à feira local para ela a comprar. Por isso pensei imediatamente nela e decidi partilhar com ela metade dos figos no saco. Eu certamente, não seria capaz de comer tudo aquilo, sou muito esporádica no consumo de fruta. Assim que entrei no escritório, dei-lhe um saco. Fiquei com o outro.

"Porquê estás a dar-me figos?"- perguntou ela desconfiada.

Expliquei que uma senhora mos tinha vendido e eu comprei-os para a ajudar e porque pensei nela e o quanto proclama adorar consumir fruta.

A colega mencionou que hoje em dia era perigoso, alguem podia colocar veneno na fruta, etc.

-"NÃo me pareceu ser esse genero de pessoa. A senhora pareceu-me precisar mesmo de dinheiro mas pretendia obte-lo de forma honesta, não queria esmola".

Digo isto porque ao tentar segurar tudo nas maos, a pequena carteira onde enfiei o passe, o cartao e umas notas caiu ao chao, espalhando tudo. A senhora ajudou-me a apanhar e logo avistou uma nota de cinco euros. Voltou a insistir: "mas tem aqui dinheiro, leve-me os outros figos".

O que ia eu fazer com tantos figos? Nem compro fruta e subitamente estava a gastar mais do que pretendido em algo que nao desejava. Por isso disse-lhe que nao. Agradeci e talvez lhe tenha desejado boa sorte.

Tambem me ocorreu pensar onde ali nas redondezas ela os tera ido buscar. Nunca vi uma figueira e palmeei a localidade toda a pe. Sera que os tirou de uma propriedade vizinha abandonada? Se calhar a árvore estava perto do esgoto ao ar livre que por ali passava e essa ideia repudiou-me. Sabia lá que figo era aquele...

Mas fiquei a pensar se devia ter arranjado forma de lhe dar os meus cinco euros para emergencias. Precisava apanhar a camioneta de volta para lisboa todos os dias e já me tinha acontecido não ter 20 centimos que chegassem. Uma vez, vi um taxi a parar para largar passageiros e decidi entrar. Perguntei ao senhor quanto ficava a corrida e disse quanto tinha comigo. Nao chegava. Garanti-lhe que subia a casa e lhe pagava o devido. Ele foi simpatico, nao levantou problemas e pelo caminho ate me perguntou se eu me importava se ele fosse apanhar a filha pelo caminho.
Conversamos e tudo ocorreu bem. Ele era taxista local e cada vez que me via a subir ou descer a ingreme rua, se pudesse, parava e dava-me boleia aquele bocadinho. Em troca deixei-lhe uma revistas que ele me disse que a filha gostava de ler e uma vez uma embalagens de sumo que me tinham sido oferecidas e nao as ia consumir todas. Pensei ca comigo: se um dia ganhasse o euromilhoes esta seria uma pessoa que ia contactar e oferecer assim, sei la, 100,  500 euros, so por ele ser como era. Atencioso com as outras pessoas.

Este tipo de pessoa e tao rara que, no minimo, merece ser recompensada pela sua forma de estar na vida, por ajudar o proximo e sentir verdadeiramente compaixao.

Bem que desejei, mas nunca mais vi a senhora dos figos. Desejei dizer-lhe que eram deliciosos, os melhores que alguma vez comi na minha vida. Ate hoje, passados 10 Anos, nunca mais comi um figo tao delicioso.

A doucura e o sabor deles fez-me desejar comer fruta desta qualidade o tempo inteiro. Salivei por mais figos daqueles. Queria encontrar a senhora para lhe dizer que lhos comprava todos e que lhe pagava ate mais por eles se quisesse. Era fruta merecedora disso. Ao contrario de muita que encontrava pelas feiras e supermercados.

E agora, por causa destas uvas ainda deliciosas (dentro dos parametros da actual fruta) consumidas passados exatamente dois meses apos a sua data de expirar, tudo isto veio a lembranca.

Gostei de recordar. Ja havia esquecido o taxista. E isso seria um esquecimento lamentavel. A colega a quem dei fruta, veio a mostrar-se de ma indole. Foi por causa dela que pedi ferias do emprego e nunca mais voltei. Ela esgotou-me e torturou-me psicologicamente, foi uma decepcao que ja estava a influenciar outros.

Este tipo de injustica sempre foi o meu calcanhar de aquiles. Devemos nos recordar das boas pessoas que cruzam o nosso caminho. E nos esforcarmos para esquecer as más.


E hoje devo isso a uma uvas!
🌈

Bom fim-de-semana a todos.
Sejam bons uns com os outros.


terça-feira, 28 de janeiro de 2020

A "coisa"


Ainda tenho momentos em que penso... nele. (vou passar a designar "a coisa"). Este é um tema que para mim está eliminado. Mas decidi fazer este post. Porque as situações são cíclicas e a aprendizagem é constante. É nisso que penso: que aprendizagem tinha de tirar daquilo pelo que passei?
Comecei num novo emprego. O colega que apanhei lá, revelou-se inconveniente, preguiçoso e desagradável. Daqueles que não sabe trabalhar com uma mulher, porque só vê a mulher, que considera menos capaz, não vê uma colega. Fez e disse-me coisas inadequadas, como por exemplo: "Viste como trabalhas-te hoje? Isto não é para ti, acho que devias ir trabalhar para outro lugar". 

Tudo o que preciso para estar bem é trabalhar num ambiente simpático. Tão simples quanto isso. Aquele parece-me um bom lugar para tal mas este indivíduo fez com que me sentisse mal ao  rebaixar o meu trabalho. Na sexta-feira mal podia esperar para o dia terminar! 

Nesse instante em que constatei que não ia gostar de trabalhar com aquela pessoa, o contraste fez-me recordar e senti falta "dele". Cheguei a chorar. 

Voltei a rezar, a oração do costume: "por favor, afasta de mim tudo o que é má pessoa. Não eu delas se eu estiver onde quero estar. Mas elas de mim. Traz-me só pessoas boas". 


E não é que, na segunda-feira, o indivíduo tinha sido demitido? Mentalizei-me que teria de voltar a trabalhar com ele, tomei a decisão de manter qualquer conversa para o mínimo e tentar fazer tarefas em separado. Mas quando chego, ele não está e quando pergunto pelo seu paradeiro, é quando me informam que ele "não vai mais regressar" porque "não o quiseram". 

Fiquei em choque! Ele estava convicto que ia ficar ali e lhe iam propor um contrato! Mantive-me em silêncio, por dentro e por fora. Não estou livre de sofrer do mesmo destino e não sou de me deleitar com a desgraça alheia. 

Sexta-feira, o chefe apanhou-o sentado, sem fazer nenhum, a enviar mensagens no telemóvel. Talvez tenha sido esse o motivo junto com outras circunstâncias que desconheço. Depois do flagrante, vi-o trabalhar a sério, pela primeira vez. Sem parar para fazer as suas pausas espontâneas. Ao contrário de todos, que à sexta-feira abrandam um pouco, ele andou parado a semana inteira e deu-lhe "gás" só na sexta. Quase como se quisesse me provar que era melhor que eu. Sempre a dar-me ordens e a desfazer o que fazia. 

Até com a hora da pausa teve de discordar comigo. Quando lhe digo que achava que era hora para o intervalo, responde-me que faltavam 15m. Estaria equivocada? Disse-lhe que tinha tirado uma fotografia ao papel que indicava essa informação e fui procurá-la no telemóvel. A fotografia confirmou a minha impressão. Mesmo assim ele responde-me que estou errada, que o papel correcto é outro. 

Fui confirmar e vi que todos os colegas tinham desaparecido dos postos de trabalho. Disse-lhe isso mas ele tinha sempre de ter razão. E por isso não me acompanhou na pausa. Decidiu tirar a sua quando todos foram trabalhar. 

Seja qual for o motivo da decisão de o demitirem, sei que foi a decisão acertada. Ele não era a pessoa adequada para aquela função porque, a cada oportunidade, tentava não fazer nenhum. Não sabia comunicar e dava-me ordens, tendo apenas mais cinco dias na empresa que eu. Foi uma surpresa sabê-lo dispensado, porque parecia integrado, bajulava um a um e todos pareciam gostar dele. Mas pelo que percebi dele como trabalhador, não foi surpresa de todo. Foi a decisão certa


Apareceu logo outro para o substituir. Um homem de certa idade, cabelos grisalhos, aparência meio "aparvalhado", com ar de sofrer de algum défice mental. Não sou pessoa de julgar pela aparência, nem de diminuir ninguém por deficiências que julgo poderem ter. Um colega que gostava  bastante do que foi-demitido, logo abriu os olhos em espanto e reprovação ao ver o aspecto do "novo". Mas eu tratei-o bem, como faço com todos. Principalmente se parecerem começar em desvantagem. Tentei facilitar-lhe a vida, enturmando-o dentro da medida do possível, sendo simpática e explicando-lhe os procedimentos, sem nunca lhe dizer o que devia fazer ou dar ordens. Dei sugestões, conselhos e disse-lhe que ia encontrar o sua própria maneira de fazer melhor as coisas, com tempo. Também lhe disse que "aprendia depressa". Dei apoio. Acho que é a forma certa de proceder com quem quer que seja. 

Sei que ele estava em desvantagem pelo ar deficiente que transmite. Mas eu também podia estar em perigo. Caso ele estivesse ali para me substituir e fosse daquelas pessoas que são um touro a trabalhar. Ainda assim, não o sabotei. Não faz o meu género. Partilhei tudo o que sabia com ele. Tratando a pessoa bem, criando uma camaradagem, até o colega que olhou para ele com ar de reprovação já o estava a aceitar melhor no final. 


Trabalhamos os três conjuntamente, em perfeita harmonia, sem conflitos ou desentendimentos. E produzimos bastante. Fiquei a sentir-me bastante feliz. Prefiro uma pessoa assim, do que uma como a que estava lá. Este também não gosta muito de trabalhar, noto que não gosta de fazer esforços e é de queixumes. Daqueles que desiste com pouco. Mas vendo a atmosfera favorável em que foi parar, não fez corpo mole. Teve um primeiro dia excelente. Se não tivesse, amanhã seria dispensado. Agora só não pode é pisar no risco. 

Porque é que estou a relatar isto?

Porque foi assim que lidei com a "coisa", quando apareceu para substituir um colega. Tal e qual, uma situação de cópia autêntica! Parece cíclico, caramba!!

Estou a tentar perceber que lições tenho de tirar desta "repetição de história". É que não é só a forma como tratei bem o recém-chegado, que é idêntica à maneira como tratei o anterior recém-chegado. É também a preocupação que demonstrei. Caramba! Isso foi o que me fez recordar como começou a minha história com o "coisa". 

O recém-chegado não levou comida. Disse-lhe que tinha croissants e dava-lhos, para que não ficasse de estômago vazio. Partilhei os croissants e também parte da minha refeição com ele. Fez-me confusão que ele ficasse a trabalhar o dia inteiro sem comer.

Sabem como foi com a "coisa"? Comecei a aproximar-me do "coisa" por essa mesma razão. Idêntica! Disse-me que não comia. Aquilo chocou-me. Preocupou-me. A sua teimosia em não comer também surpreendeu-me. Tentei entender. 

Foi assim que TUDO começou. Comigo preocupada com o bem-estar de uma pessoa que se recusava a comer enquanto executava trabalho duro e pesado. Como posso «esquecer» ou melhor, não recordar, se as situações se repetem?


Tantos homens por aí... muitos a tentarem aproximarem-se de mim, com segundas intenções... E nenhum me disse coisa alguma. Cheguei a temer só me ter apaixonado pela "coisa" por este ser jovem. Será que tenho algum assunto mal resolvido? Será que só olho para rapazolas, esquecendo-me que a minha juventude passou?

São coisas que me passaram pela cabeça. Mas ao perceber a minha atitude e comportamento diante da mesma situação, mas com uma pessoa de outra idade, de outro tipo, percebi que eu não mudei nada. Sou a mesma. Agi igual. A mesma simpatia, mesma afabilidade, mesma disponibilidade para ajudar, com um toque de discrição. A diferença de idades não influencia o meu comportamento. 

O "coisa" honrou esta minha postura cortando-me da sua vida com um súbito silêncio sepulcral. E isso feriu. Mais que uma paixonite que podia ou não ser correspondida, situação que eu própria já tinha riscado da minha vida por isso pouco me incomodaria se fosse ou não, o desprezo dado à pessoa que lhe fez bem, que o acolheu e o fez sentir-se feliz, magoou. Era bordoada vinda de todos os lados. A dele foi a derradeira, que me fez questionar se a minha essência como pessoa tinha valor.


Aconselhei várias vezes este novo colega a trazer comida no dia seguinte. Respondeu que não. Bastava-lhe jantar quando saísse do emprego.

Não podia ter dito a frase mais copiosamente
Foi tal e qual "o coisa".

Como já passei por esta situação antes, não pretendo insistir. Ainda mais com um homem feito. Um rapazola... ainda vá lá. Mas um homem que já deve saber o B-A-BÁ... 

Também não vou estar sempre a partilhar a minha comida. Bem que a aceitou e devorou com deleite. Pude perceber que até a desejava, quando me viu a comer. As batatas fritas, o frango, os croissants...

A empresa não vende comida, Nem sequer tem máquinas. Há um supermercado a uns 8 minutos de distância, mas pelo que percebi o homem não faz o género de se alimentar, ponto final. 

Se tenho que aprender uma lição com esta repetição kármica, é não me preocupar com esta decisão aparentemente insensata. O homem é crescido, eu não sou mãe dele. 

Esta "repetição" serviu para eu perceber que a atracção que senti não surgiu das circunstâncias, nem da aparência jovem da "coisa" (que nem era bem afeiçoado, pelo contrário, mas aos meus olhos era). Foi mesmo o conteúdo que ali encontrei (ou julguei encontrar) que me fez desenvolver sentimentos tão fortes pelo desgraçado. Não foi a sua juventude. Ainda bem que fiz esta descoberta.

"Gamei" no crápula. Gostei tanto, que só lhe desejei coisas boas. Para infelicidade minha e total desorientação dos sentidos. Mesmo depois de tudo. Desejei que encontrasse alguém que o fizesse hiper feliz. Desejei poder observar espiritualmente as descobertas fantásticas que intuí no seu caminho. Como sei que já não gosto dele? (bom... tenho recaídas... faz parte, ainda mais por a coisa ter ficado no superlativo muito mal resolvido). Sei  que parei de gostar porque comecei a querer que sofra. E antes não queria tal coisa.

A sua toxidade continua a espantar-me. Passei o dia inteiro mal. Com o mal dele dentro de mim. Bem que me disse que era uma pessoa tóxica. Que se descartava das outras com total indiferença e sem voltar a pensar nelas uma vez que seja. Ele disse... eu... não esperava. Não dei motivos. Não é suposto fazer-se isto apenas com fortes motivos?

Para mim o seu veneno foi super poderoso.
Senti esse veneno a consumir-me o dia inteiro.

Mas se existe Karma, o veneno vai acabar por regressar a ele. E vai levar o meu rosto no selo do "envelope".


Tenham uma boa semana e tratem-se bem!

Feliz ano do "rato".



quarta-feira, 16 de outubro de 2019

A troca de Gary



Disse num post recente que no novo emprego simpatizei com um rapaz que achei boa pessoa. Descobri nesse mesmo dia que ele ia embora. O seu nome é Gary. 

O que é curioso a este respeito são as tais coincidências que também falei num post recente chamado Atracções Física-químicas. É que hoje apareceu um novo colega. Bom, "novo" no sentido de ser recente, o senhor anda na casa dos 60 anos. O nome dele é... Gary. 



Antes deste emprego ele trabalhou numa empresa na rua Newton...



A mesma onde eu estive!!!!!!


Onde eu e ele nos conhecemos.

Cheguei a imaginar que o podia voltar a ver nestas circunstâncias: ser ele um dos temporários que aparece para dar um reforço extra de mão-de-obra. O destino, brincalhão, realizou-me o desejo, mas baralhando as cartas: tirou-me o Gary novo, deu-me um outro e trouxe-o da empresa de onde esperava voltar a ver outro alguém entrar. 

Mas boas notícias: acho que estou bem melhor da doença que me acomodou. Quase curada. Isto é fantástico! É quase - perdoem-me, como vencer uma doença terrível, pois emocionalmente vive-se numa montanha russa de extremos ao ponto da normalidade parecer até irreal. O tempo... será que cura mesmo tudo?


domingo, 21 de julho de 2019

Alguma coisa boa devo ter feito


Desde que saí do primeiro emprego em solo Inglês, no qual permaneci quase um ano, ocasionalmente sou reconhecida na rua por antigos colegas. A última ocasião em que isto aconteceu foi apenas há duas semanas. Aqui, perto de casa. Não estava nada à espera, principalmente na hora avançada da noite. E isso deixou-me contente. Alguma coisa de bom devo ter feito, para ter pessoas que me reconhecem na rua e ao invés de fingir que não me reconheceram, virem falar comigo.

Faz-me perceber que nem tudo deve ter sido mau, pois saí desse emprego a sentir-me uma párida. Foi uma saída injusta, embora eu tenha saído de cabeça erguida e tranquila com a minha prestação. A reacção das pessoas ao me encontrarem, um ano depois e agora já passados dois anos, traz-me alento. Nem todos eram ruins ou indiferentes à minha pessoa. Tive foi muitos maus momentos com quem trabalhava mais de perto e essas memórias marcaram mais, chegaram a torturar aquando as vivia. 

Hoje encontrei em ambos supermercados onde fui, duas outras pessoas com que convivi nesse emprego. A primeira uma colega da cozinha, que me reconheceu de imediato disse-me olá mas logo desviou as atenções para outra pessoa. Ainda assim é bom ser reconhecida como um rosto que um dia te disse algo. No supermercado seguinte, uma manager cumprimentou-me em português, mas também logo seguiu o seu caminho. Pela forma como me cumprimentou percebi que me avistou bastante tempo antes de eu a ver. Emiti-lhe um sorriso espontâneo e autêntico de surpresa mas antes de poder desenvolver o cumprimento que lhe devolvi de igual forma, ela logo seguiu caminho.

Já estive para vir fazer um post sobre este assunto há meses. Dos empregos que tive a seguir, algumas pessoas disseram que queriam manter o contacto, uma até disse que não queria que eu me fosse embora, queria que nos encontrássemos fora dali e manter a amizade. Mas delas não recebi mais contactos. Neste primeiro emprego onde sofri tanto, no qual tanto desejei mas não senti que dava para criar amizades, tem sido este a me devolver pessoas ao meu presente. Pessoas afáveis, que não viram o rosto e fingem não me conhecer. 


quarta-feira, 17 de abril de 2019

Perseguindo as referências


No meu caso aqui no Reino Unido, cada vez que procuro emprego, é-me pedido que forneça os dados do que andei a fazer nos últimos anos. Chama-se a isso, "As referências". Não basta o CV, há que fornecer as datas exatas de emprego, explicar os períodos sem emprego e apresentar Nomes, endereços e contactos de pessoas com legitimidade para confirmar as tuas alegações.

É assim cada vez que me candidato a qualquer função. É exaustivo.

Por este motivo passei pelo meu anterior posto de trabalho. Acabei por ir ter ao balcão mais afastado do escritório. E antes mesmo de me aproximar, fui reconhecida por dois ex-colegas e ambos me cumprimentaram com imensa simpatia e gosto por me verem. 

Encheu-me o coração, saber que, quase um ano depois, lembram-se de mim e sentem simpatia pela minha pessoa. Quando estou muito na fossa só me recordo dos muitos que me deixaram na mão...  Não me recordo destes gestos que vêm das pessoas que menos esperas, por vezes, das pessoas com quem menos contacto tiveste. 

O mesmo me aconteceu quando deixei o primeiro emprego que tive aqui em terras de sua majestade. Não esperava que, ao retornar ao local, tantos me reconhecessem e viessem simpaticamente falar comigo. Dar-me abraços, perguntar por mim... afectuosamente. Aconteceu ali, no supermercado, na rua...

Claro, tem aqueles com quem até te relacionaste mais que fingem que não te viram. Mas sabem? A esses devemos mesmo dar pouca importância. E valorizar mais quem nos diz um "olá" sem reservas. 

Fui lá para saber se podia obter para referência o contacto dos recursos humanos para evitar estar dependente da gerente. O contacto dela foi o único facultado e o único que disponho para confirmar referências. Só que ela é de humores. E como vim a comprovar dali a horas, é imatura e ressentida. Não sabe separar as coisas e demonstrar profissionalismo. Daí não confiar nela para que cumpra essa simples obrigação que é confirmar que um ex-funcionário trabalhou ali. 

Será que vai adiar durante semanas responder a um contacto desses, por pura malícia? Por saber que sem isso a candidatura não progride e a pessoa não vai poder começar a trabalhar?

Queria acreditar que não. Queria estar segura quanto a isto. Mas o acaso alertou-me... Ao preencher um dos formulários online em que é obrigatório facultar o contacto das referências por email e por telefone, tive de procurar no meu TM o número que correspondia ao dela... Evitei, noutras candidaturas, facultar o número de telefone dela, porque sei que ela detesta que lhe liguem. Estava sempre a bufar e a refilar se, no seu entender, o assunto não fosse prioritário ou interessante. Mas ali era obrigatório e por isso consultei o registo do telemóvel, e transpus o número. Quando ia para sair do menu dos contactos telefónicos, aquilo começa a fazer uma chamada. Desligo-a de imediato. Penso que ela, sendo como é, vai é dizer a ela mesma: "quem quer que seja que ligue depois!".

Mas acabou por ligar-me de volta e disse:
"Did you just call this number?" -"Ligas-te para este número?"
Ao que lhe respondi:
-"Desculpe "Susana", foi um engano. Estava a consultar o..."

Nesse instante somente escuto o som de chamada desligada.

Desligou-me o telefone na cara. Que antipática! Reconheceu-me, provavelmente ainda me tinha registada no telemóvel, e desligou a chamada na minha cara, sem qualquer simpatia ou educação. Fiquei fula. E convicta que a decisão de abandonar aquele lugar por causa dela foi a mais acertada que tomei na vida. 

Por isso não quero depender do profissionalismo dela para obter um emprego. Não quero estar nas suas mãos. Tenho de arranjar alternativas. Irei regressar aquele lugar para perseguir esse objectivo. A quem já dei as referencias com o contacto dela, paciência. Mas daqui adiante, se a puder eliminar do processo, vou fazê-lo.

Ela NÃO MERECE que eu ainda sinta qualquer simpatia por ela. Não merece a minha confiança. Não merece nenhuma sentimento bom que ainda possa nutrir, por ser essa a minha natureza. Não é a natureza dela, e deixou isso claro demasiadas vezes. 


quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

A jarra saltitante


Não estive para me aborrecer, então nem desci à sala ontem.
Não fosse dar conta que a jarra foi novamente removida do local.

Mas desci agora à pouco...
E a jarra foi NOVAMENTE removida da lareira e colocada na berma da mesinha.

Gostava que quem está a fazer isto me desse UM BOM MOTIVO para o fazer.
Vou perguntar-lhe na cara: "Dá-me um bom motivo".

É que eu não vejo nenhum. A não ser má vontade, má indole, pirraça, coação... só coisas más.

É que é todos os dias - por vezes mais que uma vez (se eu der pela jarra removida de noite e a recolocar no lugar) pela manhã já a removeram. Acho espantoso que tenham montado a árvore de natal mesmo ali ao lado - que é suposto trazer o espírito Natalício e a compaixão entre os Homens, e desde que ali a puseram já retiraram a jarra mais de cinco vezes. Uma atitude tão feia. 

A jarra não estorva, não impede que se vejam ao espelho, não está no lugar de nada que ali estivesse antes...
No meu entender, o problema está em alguém na casa não saber partilhar espaços e achar que a sua vontade é a que tem de ser seguida. 

Porra... e eu que deixei um pai e uma mãe com essa forma de ver as coisas lá atrás, na adolescência. Porque será que sempre há quem adopte esses comportamentos?




terça-feira, 13 de novembro de 2018

Hostilidade



Deixei um rabisco colorido a um canto no quadro a giz da cozinha. Tem lá estado há semanas. Escrevem-se mensagens, apagam-se, mas o rabisco colorido fica lá. Não faz mal a ninguém, não incomoda. Certo?

Pois hoje passei pelo quadro e vi que alguém riscou o rabisco não com um traço, mas com vários riscos. Talvez com fúria. Talvez não. A questão é: porquê? Porquê haveria alguém de se dar ao trabalho de pegar no pau de giz, transferir pó para os dedos, para riscar um inocente padrão colorido?

No meu íntimo sei que é um sinal de hostilidade. 


A jarra que encontrei no chão quando cheguei de férias - a única peça que me pertence que coloquei na sala, continuou no chão por uma semana. Quis entender se alguém a ia colocar de volta em cima da lareira. Não existiu aparente razão para ser removida. Não colocaram nada no seu lugar. Pareceu-me apenas que tinha sido retirada por malícia. Como se ao removê-la o proprietário pudesse ser afectado. 

Ao limpar a sala, tornei a colocar a jarra no sítio. Uma semana depois uma colega recebeu um cartão postal e decidiu colocá-lo bem ao lado da jarra. Na manhã seguinte remove a jarra para um canto, para colocar o postal no centro. A jarra ficou numa das bermas. Daqui a nada volta para o chão, estou a imaginar. Em sete dias, ela colocou mais três cartões. E estão todos ainda ali, em cima da prateleira, onde os deixou. Porque não existe malícia de parte de terceiros em removê-los do lugar. Penso que cartões de aniversário são artigos pessoais que se querem guardar a nível pessoal, pelo que têm um interesse para uma pessoa só. Não é como se fossem votos de feliz natal, que é algo que, mesmo personalizado, pode ser deixado exposto antes e durante a quadra natalícia. Por norma, numa casa partilhada, é o tipo de coisa que ocupa um lugar comum por pouco tempo, depois deve ser retirada e guardada com carinho. Até mesmo para não se estragar ou desaparecer. 

Mas isso é a minha forma de pensar. Se calhar estou errada. Tendo em conta o historial da casa - as porcarias deixadas por toda a sala por meses, se calhar os cartões de aniversário vão ficar ali até o ano seguinte.

O que eu percebi é que sentiu necessidade de os exibir. Como se para mostrar aos restantes que tem pessoas que a acarinham e gostam de si. Ela contou-me que tem muitos amigos por onde passou, grandes amigos. Vive cá há 12 anos, tem família a viver por perto, pelo que acreditei. E acredito. Contudo, perguntei-lhe se fazia anos quando trouxe do emprego um ramo de flores. Respondeu-me que o aniversário era no dia seguinte. Prontifiquei-me a meter umas velas num bolo que havia comprado e cantar os parabéns, já que também lhe havia perguntado se gostava de festejar os anos. Respondeu que sim, gostava, mas quando quis saber o que pretendia fazer, respondeu "nada". O que me surpreendeu. Então gosta de celebrar, tem tantos amigos, e não faz nada?!? Diz-me que não gosta de ter a casa vazia e liga a televisão para escutar vozes, por não gostar do silêncio, da falta de pessoas. Cada vez que alguém quer fazer uma festa aqui, ela parece-me muito satisfeita. Por estas razões, mais o ter tantos amigos e ser fim-de-semana, estranhei. Ela trabalha apenas durante a semana, tem o sábado e domingo livres. E era o seu aniversário. Podia ir visitar quem quisesse. Podia ir passear, sair, divertir-se. Esteve um sábado espetacular, com sol. Contudo, não o fez. Ficou o dia, a tarde e a noite na sala, sentada no sofá, com a televisão acesa em contínua programação e o telemóvel na mão. Que é o que sempre faz.

Que raio de aniversário escolheu ter! Para quem disse gostar de o celebrar, quero salientar.


Há coisas que não batem certo. Até neste simples facto constatei que, se os italianos estivessem cá naquele dia, o «seu» aniversário tinha sido diferente. Tinha tido festa e convidados. Mas como não estavam, ela não sai da rotina. Disse-me que não queria o bolo que lhe ofereci, que era mau ter um bolo que tinha decoração de halloween... Ora, eu não sabia que ela fazia anos, comprei aquele bolo para partilhar com quem mais o quisesse. Teria improvisado uma deliciosa celebração com gosto e sinceridade. Eramos só nós as duas na casa naquela ocasião, por mim fazia-se algo. Mas ela mostrou-se pouco receptiva e então recuei. Não ia impor a minha presença, se não parece ser essa a sua vontade. Dei-lhe espaço, para gozar o dia como desejasse. E desejou ficar a manhã, tarde e noite a ver televisão na sala. Quase lhe perguntei porquê não ia ao cinema, ou sugeri ir com ela almoçar fora, pelo menos, seria diferente. Mas não me intrometi. Como disse, deixei-a estar. Porém, para quem gostava de celebrar aniversários, teve um muito solitário.

O ramo de flores que os colegas de emprego lhe ofereceram, veio enfiado num saco com água. Assim as recebeu, assim as deixou na beira da mesa da sala de jantar, encostadas à parede. Nada de abrir e tirar as flores do plástico, nada de as compor e escolher um local para embelezar. Estão a murchar, a água nunca foi trocada, as flores parecem ter sido esquecidas naquele canto, onde nem se dá por elas, onde são desperdiçadas. Podia muito bem tê-las composto numa jarra e as colocado no centro da mesinha redonda, ao lado da poltrona, perto da porta que dá para o jardim. Ficariam tão bem! Dá um ar de cuidado, de atenção, até mesmo de apreço para com as flores recebidas Mas não. Ali as deixou, ali ficaram, ali vão ficar até as meter no lixo.

É esquisito. Ou há algo mais nisto, ou é o «sangue italiano» que é muito particular e os faz inclinarem-se mais para o convívio com outros italianos. Afinal, durante a 2ª GG, identificaram-se com os valores narcisistas e separatistas de Hitler. Se calhar não é à toa que gozam de uma reputação excessivamente nacionalista e conta-se que olham com maus olhos quem entrar no seu país e não saber falar a língua. Sei por facto, que olham com repulsa para as pizzas pré-fabricadas. Mesmo que a massa tenha sido feita fresca na loja, para eles, aquilo não é pizza e é sacrilégio levar uma à boca. Pizzas de verdade têm de ser feitas de raiz, com ingredientes específicos italianos de origem italiana e sem variações. Ananás na pizza? Nem fales disso, se queres manter uma relaçao com um deles.



 São todos muito "educados", com os "bons dias" e "olás". Mas é só isso. É frio e distante. Em todas as outras coisas que servem de sinais de aceitação, falham. Já dei exemplos: nunca convidarem para jantar, fazerem festas e trazerem pessoas cá para casa sem estenderem, pelo menos uma vez, um convite a ti ou sequer te comunicarem que vão receber pessoas. Recusarem todas as vezes que lhes ofereci comida ou disponibilizei mantimentos, não mostrarem interesse em ter uma conversa com algum conhecimento pessoal, etc, etc. 

São esses os "sinais" indicadores de que uma pessoa quer estar contigo e está aberta a te conhecer. Por exemplo, a "mais nova" faz isso. Ou melhor, fazemos. Posso ter uma conversa com ela, já trocamos informações pessoais. Aquela cuja presença eu mais temia por a saber amiga de outra na casa ao lado, onde mora a vizinha histérica, acabou por ser a mais normal. É amigável. As coisas fluem naturalmente, as reacções são naturais. Os italianos... não sei se é o "lote" que me calhou, mas... não mostram interesse em ti. Dizem os "bons dias" e pronto. Ficam-se por aí. E unem-se de uma maneira que não é bonita de ver. Uma das italianas nunca limpou a casa. Nem sequer uma vez. Seria de esperar que os próprios amigos a chamassem à atenção e reclamassem. Mas não. Ser italiano nesta casa parece ser um cartão de impunidade, como aquele "livre da prisão" do jogo monopólio.

No Domingo, sem nada dizerem como habitual, a mais velha recebeu na casa a ex-colega, a jovem mal-educada que cá viveu com o namorado. De quem eles não gostavam muito mas, como era o «escolhido» da compatriota, acabou aceite. Mas sempre com «pé atrás». Tanto que quando os dois sairam daqui para irem viver juntos, a mais "velha" vaticinou que a mal-educada ia arrepender-se, que ele ia "fazê-la sofrer". "Tem mais chances de ser o contrário" - pensei.

Dei conta de alguém entrar na sala por volta das 11 da manhã. Mas não fui logo espreitar quem era, não faz o meu género. Dei espaço, tempo, privacidade. Só não contava é que traçassem de imediato uma barreira. Porque o hábito de fecharem a porta da sala regressou assim que a outra se enfiou cá dentro. Até à meia-noite, mantiveram-se na sala, de porta fechada. Quando finalmente desci para me servir de algo na cozinha, cumprimentei-as (foi então que vi quem era) mas não puxei conversa, porque assim que me ouviram aproximar, pararam de conversar. Ficou um silêncio estranho, trocavam olhares mudos, como se a minha presença as incomodasse. Até podiam estar a falar de assuntos particulares, íntimos, desabafos. Tudo bem. Mas cá está: é a atitude como um todo.

Uma pessoa normal - a meu ver - quando é interrompida no meio de uma conversa privada, é capaz de cumprimetar outra, meter conversa de "chacha" e depois sabe que pode retornar ao assunto sério. Não podem esperar estar a dividir uma casa com terceiros e ocupar a sala por 13 horas, sem serem  interrompidas. Não é bonito. Deviam, segundo as minhas normas de boa educação, dizer: "Olha, portuguesinha, fulana X vem cá. Ou está cá em baixo. Vem dizer um olá. Vamos beber um chá, queres um também?".

Coisas assim. Normais.
Vocês não acham que isto é que é um comportamento normal? Educado, ao menos?

Eu tenho um palmo de testa... se percebo que querem ficar sozinhas na sala, não ia ficar ali a empatar. Quem empata são elas, que tomam o espaço para si, fechando a porta, já de si uma forma de fechar a entrada a terceiros. E quando te vêm chegar ficam a olhar para ti como se tivesses interrompido algo e a desejar que vás embora. Depois aparece o desenho no quadro a giz rabiscado...

É desnecessário.

Não existe convívio orgânico, paciência. Não vou morrer por isso, não vou embora daqui nem vou alterar o que tenho de bom. Vou continuar a dizer os bons dias e a perguntar como foram as suas férias (ninguém quis saber das minhas). Porque esse interesse é genuíno em mim. Não pretendo perder o que não está mal para ser perdido. Posso nao lhe dar o uso que esperava, mas não vai secar. Ao contrário: vou mostrar outra forma de reagir a uma situação e talvez esse exemplo seja seguido, talvez não, e prefiram ir rabiscar mais desenhos deixados por mim no quadro.

Porque vão estar rabiscos no quadro, sempre que me der vontade. Não vejo mal algum nisso.

Mas é factual e tem de se aprender a viver com as cartas que nos são dadas.
Podiam ser outras, podiam ser melhores mas também podiam ser bem piores.

Por mais que alguém nos diga que foram criados a convidar outros para partilharem as refeições à mesa, tem de se acreditar é no que se vê, não no que se ouve. Talvez tenham sido educados assim, esqueceram foi de estender o convite a não-italianos. Já os portugueses, foram criados a: " ♪ e se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente  ".

Esse alguém não tem de ser português.

" ♪ fica bem essa franqueza, fica bem. E o povo nunca a desmente ♪  ".
"♫   a alegria da pobreza, está na grande riqueza, de dar e ficar CONTENTE ♪  ".

Palavras tão certas.


quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Novas inquilinas - primeiro contacto com esse ET


Hoje é o dia em que DUAS novas pessoas vão mudar-se para esta casa partilhada.


A primeira já apareceu. É a jovem cuja presença mais temia. Porque tem ligações com a histérica da casa ao lado que, no meu entender, irá aproveitar cada oportunidade que conseguir para tentar se introduzir nesta casa. Só pelo gostinho de tentar amargar a minha vida. É infantil a esse ponto. 


A outra, ainda não apareceu. É mais madura, foi a que veio falar comigo quando ocorreu uma festa cá em casa (na qual não fui convidada a participar). 


Vou descrever-vos como foi a minha "apresentação" à nova moradora:

Desci para o andar de baixo onde estava a decorrer um borburinho: a histérica da casa ao lado já cá estava a meter o bedelho. E logo meteu conversa com o rapaz que incialmente tentou seduzir. Claro, agora tem mais um novo pretexto para cá andar constantemente: a nova rapariga.

E vai aproveitar-se disso. Podem ter certeza. 

Se o rapaz podia "cortar-lhe" as asas de vez em quando, a nova rapariga, sendo rapariga e gostando de dar à língua, vai ser uma porta mais acessível à invasão que a histérica pretende fazer. E, de certo, já lhe devem ter mencionado a minha pessoa. Em que contexto não sei nem quero saber. Não podia estar menos preocupada com isso.

Mas agora vou descrever como a "conheci". 

As situações hipotéticas que daí podiam resultar, no meu entender, seriam as seguintes: 

1) Eu ia ter com ela, apresentava-me, dava-lhe as boas-vindas e esperava que ela se apresentasse.
2) Ela vinha ter comigo, apresentava-se, eu dava-lhe as boas vindas, mostrava-lhe a casa e nos conhecia-mos.


O que aconteceu, porém, foi diferente.

Eu desci para o andar de baixo, a histérica da vizinha já estava à porta a meter o bedelho, a falar com o rapaz. Não vi mais ninguém e fui para a cozinha. Vejo uma colega de casa, cumprimento-a. Encho o meu copo com água e vou para sair da sala quando uma rapariga loura e jovem, que nunca tinha visto antes na vida, passa por mim em direcção à cozinha, caminhando cheia de propriedade, e diz: "Hello".

Olhei para a minha colega, confusa, sem ter entendido se aquele "borrão" louro que passou por mim era alguém que vinha morar na casa ou mais uma das que aparecem e desaparecem. A colega fez-me sinal de que sim, era aquela a jovem que, a partir de hoje, vem para cá morar. 


Bem, acho que já deu para entender o seu grau de interesse pela minha pessoa. 

Nem se apresentou, nem parou para me cumprimentar, nem nada. Só um "olá" fusgaz e continua como se eu fosse transparente/insignificante e a casa fosse já toda dela.

Mais uma que vai juntar-se ao "grupo"? Mais uma que, por intriga da vizinha histérica já vem com o cérebro pré-programado para não querer nada comigo? Ou mais uma que, por afinidade de profissão e de idade, vai rapidamente ser incluida no "grupinho" de convívio do qual não faço parte?
Também não me interessa.
Que faça o que bem lhe entender, desde que não venha desrespeitar ou atrapalhar nada aqui dentro. 

Infelizmente vai ser esta, e não a outra, que irá partilhar o frigorífico comigo. Não sei porquê mas isso deixou-me pouco contente. Preferia a outra. Alguém que não pareça vir já pré-programada para uma certa antipatia e alguém que não seja unha-e-carne com a vizinha histérica e que acha piada a pregar partidas de "sumiço" de mantimentos dos outros. Só pelo facto de ter ligação com alguém assim e eu saber que esse alguém, mais tarde ou mais cedo, vai entrar pela casa a dentro e abrir aquele frigorífico com o pretexto de tirar algo para si com autorização da "amiga"... 

É que é bem a cara da outra, mexer nos alimentos dos outros, contaminá-los, sujá-los, sei lá...
Só sei que é algo que sei que seria capaz de fazer, achando-se muito esperta. Ia contar aos mais próximos sempre entre risos histéricos. Infantilidade maldosa.