sábado, 22 de dezembro de 2018

Londres - O segundo dia



Quando decidi ir a Londres era para voltar no mesmo dia. Os bilhetes ao fim-de-semana são mais baratos e válidos para um regresso até as 4h da manhã do dia seguinte. E dão para andar no metro, autocarros, etc. Em seis zonas. O preço de um bilhete single (só de ida) é o mesmo que o do regresso. Pelo que se o vais gastar, mais vale regressar num mesmo investimento.


Só que, pela experiência do passado, achei que o melhor era alojar-me num Hostel e passar uma noite lá. No início do ano fui encontrar-me com umas pessoas em Londres e decidi fazer uma surpresa e reservar um alojamento em apartamento. Só que fui enganada pelo cansaço e reservei por menos noites do que as pretendidas. Então, na primeira, optei por ficar num Hostel. E percebi que a experiência correu muito bem. Na realidade, valeu mais a estada no Hostel do que no Aparthotel. A relação conforto-qualidade saiu em vantagem para o Hostel, para não falar no factor "preço".


Munida com essa boa impressão de hostéis, decidi ir à procura de um. Faço-o sempre no site Booking. Em que zona pretendia ficar? Depois de ter decidido que ia explorar Londres pela London Bridge e terminar em Camden, comecei a procurar alojamento por lá. É que Camden e eu, eu e Camden... damos-nos bem. Não aprecio Londres por ai além. Comecei a gostar mais da cidade agora, após esta última visita. Mas certos lugares como a Oxford Street causam-me uma certa repulsa. Quero fugir de lá. Não têm muito a ver comigo. É um lugar todo centrado para o consumismo de bens de terceira necessidade. Um lugar mais fútil. Na rua observa-se o target próprio desse consumo: malta jovem... quase toda jovem, tudo "brainwash" (lavagem cerebral) para consumir produtos de marca, para se vestirem e maquilharem de uma certa maneira... Robots do consumismo. Nada a ver comigo que sou mais "free spirit". 




De modo que Camden tem o oxigénio que gosto de respirar: é um bairro eclético, não olha para as pessoas de lado, aceita todos os credos, é exuberante, tem de tudo, é divertida, espontânea e come-se muito bem por ali (melhor que no afamado mercado de Borough em London Bridge, onde a comida cheira sempre bem e tem um aspecto apetitoso mas, de certa forma, desilude no paladar e arrefece muito rápido). Camden era a zona que queria explorar mais a fundo até, quem sabe, navegar nos canais começando por ali direto a Hyde Park - rumo à Winter Wonderland.

Esses eram os meus planos para o segundo dia. Mas foram arruinados. Acabei por escolher alojamento em London Bridge ao invés de Camden porque prestei atenção aos comentários dos hóspedes. Não existiu nenhum hostel em Camden que me parecesse seguro. E há que pensar como é a zona à noite. Falaram inclusive em baratas, espaços pequeníssimos, falta de higiene. Pelo que a minha vontade de deitar e acordar em Camden teve de ser alterada. Encontrei um hostel com boas referências mesmo perto da estação de metro/ferroviária de London Bridge. Confesso que, de todas as áreas de Londres, considero London Bridge aquela que é mais chata de estar. Mais confusa. E menos bem sinalizada. Mas, a pesar de umas tantas voltas que, vim a descobrir mais tarde, podiam muito bem ter sido encurtadas em vários minutos, é fácil de explorar. 

Shard
Fiquei alojada com vista para o Shard - um edifício marcado para ser uma atracção turística. Estava em obras (não acontece só em Portugal). Devo dizer que não o acho nada de especial. Parece insignificante no meio da paisagem e minúsculo. Embora digam que é o ponto mais alto para se ver Londres em panorâmica. Se acho que vale a pena? Não. Não acho. Ainda se conseguem capturar boas panorâmicas da cidade que são totalmente de acesso gratuito. Como estas duas: 

Vista do último andar do Museu Tate

Basílica de S. Paul vista do terraço do Shopping local
(ao fundo, o inconfundível traço do Shard)
Mas como explicava, o meu segundo dia ficou arruinado porque queria passá-lo em Camden, seguido de Hyde Park. Mas primeiro quis tirar um empecilho do caminho: os bilhetes para o dia. Quis comprá-los de imediato, para a seguir poder explorar a cidade à vontade sem ter de me preocupar com os horários das bilheteiras. 


Já viajei sem o tal bilhete de regresso (Day travelcard) e consegui fazê-lo por seis libras. Desde que seja fora da hora de ponta, o bilhete fica barato. Aproveitei que estava em London Bridge para pedir informações na estação Ferroviária de lá. Mas pouca sorte... Bilheteiras com pessoas... não avistei. Tudo pareceu ficar após a cancela e aí só passas já com bilhete. Encontrei o posto de informações mas sobre preços nada sabiam. Após tentar encontrar a entrada mais próxima para o metro por só conhecer a perto do Hostel (cuja caminhada de acesso e no interior é longa), decidi procurar outra cujas setas indicavam para a direita (dei muitas voltas e voltas seguindo essas setas que nunca paravam de apontar) consegui então entrar na mais próxima (mesmo em frente!!!) onde um funcionário do metro ajudou-me com a primeira etapa da necessária burocracia do dia: carregar o oyster card - um cartão usado para andar nos transportes em Londres. Depois, ia tratar do bilhete de comboio

Tipos de Oyster Card
O máximo cobrado por um dia de viagem em Londres usando um Oyster Card é de 6.80 libras para viagens entre as zonas 1 e 2. O que basta! Acreditem. Existem dois tipos de oysters, o azul custa 5 libras que são refundáveis e o colorido custa 5 libras que não são refundáveis. Tinha comigo 3 azuis e um colorido (além de dois verdes, mas esqueçam esses). Cada azul vale por si só 5 libras, fora o crédito neles. Para economizar, decidi manter um cartão azul e recuperar as 10 libras que valiam os outros dois. Para essa operação precisava da ajuda de um funcionário.


Um senhor na estação do metro fez isso com uma impressionante rapidez numa das muitas máquinas para o efeito de venda e reembolso. A seguir: bilhete de comboio. Caminhei novamente em direcção ao Borough Market para  passar debaixo da ferrovia mas, ao parar no semáforo para atravessar a estrada, reparei que ia demorar pelo que decidi explorar outro caminho: o da rua ao lado. Big Mistake. Parece que se sai de um lugar mágico para um comum. Caminhei muito mas muito mais do que caminharia pelo atalho de Borough onde teria revisto uma paisagem encantadora. Subi uma avenida imensa (os pés já se queixavam do dia anterior) rodeada apenas de prédios altos e feios. Fui dar a Southwork Bridge, uma das muitas pontes Londrinas. Desci as escadas para o rio, onde estaria 10 minutos antes se fosse por Borough (2ª dica sobre Londres: Se tem pressa e não sabe que caminho seguir, vá atrás dos turistas).

Caminhando, caminhando... passo pelo Shakespeare Globe, pelo Tade onde paro um bocado com intenções de entrar. Já tinha essa pequena paragem programada. No dia anterior tinha passado ali e fotografado o edifício, mas o que quis mesmo fazer foi atravessar a ponte Milénio (mesmo à frente) em direcção à Basílica de S. Paul. E por isso não vi o que já sabia existir e me escapou à atenção: a instalação sobre o aquecimento Global mesmo à porta do Tate. Mas sobre isso, sairá outro post! :)

A Ponte Millenium - somente atravessada a pé (ou skate)
Com a basílica de S. Paul ao fundo num belo dia de sol.
Acabada a visita continuei o percurso sempre em direcção oeste, onde depressa avistei a bilheteira de comboio da estação Blackfriars e esperei para ser informada sobre os preços. Para minha surpresa e desagrado, foi-me dito que não haviam bilhetes baratos durante a semana. Qualquer um, fosse qual fosse o destino, a qualquer hora, tinha um custo de £18.90. Não pode ser! Vou perguntar noutro lado. - pensei. (3ª dica sobre Londres: Não se fie na primeira resposta, continue a perguntar, nem todos sabem dar informações completas).

Já estava a perder tempo.

Como expliquei ao senhor da bilheteira, já havia viajado daquela estação após a hora de ponta por seis libras. Como não  existia um valor mais económico? Lembro-me de pesquisar na NET valores de bilhetes de comboio com partida em qualquer estação Londrina durante um dia da semana. Nessa altura os preços variavam bastante, mas existiam preços baixos. Como é que agora só existia um valor?

Atravessei a ponte Blackfriars para o outra margem. Fui à mesma bilheteira onde meses antes fui informada que, usando o oyster card, o bilhete após as 18.30h ficaria por seis libras. O senhor do lado de lá (norte) foi muito simpático e notei-lhe uma genuína vontade de ajudar. Mas a informação não era diferente, embora ele tenha prestado um melhor serviço. O preço era mesmo £18.90 para sair de Londres por comboio, ascendendo a 25 libras se incluísse viagens locais (metro, autocarro). Este funcionário ainda me deu como alternativa ficar num destino aproximado, o que diminuiria em 6 libras o valor do bilhete. Foi a melhor e única opção que escutei, mas continuou a não ser satisfatória. 

O percalço estragou-me o dia. 
Não ia consegui «turistar», relaxar e descontrair até resolver a situação. Não podia adivinhar que a decisão de passar uma só noite em Londres ia sair-me tão caro. Sem dúvida alguma, assim não ia compensar. 32h na cidade não valem os custos do bilhete no dia anterior, a estada no hostel mais outra despesa da mesma envergadura. Três rombos... não compensa. 

Voltei a atravessar a ponte para a outra margem. O pensamento fixo no que ia fazer. Algures do lado de lá ainda estava o London Eye e quis passar pelos jardins que vão dar à atracção. Tinha como prioridade ligar-me à net para consultar os preços dos bilhetes online, habitualmente são mais baratos. Mas sem dados móveis, precisava de Free Wifi

WIFI gratuito em Londres?

4ª dica sobre Londres: Londres não tem Wifi gratuito, nem pontos de carregamento USB. Se precisar dessas coisas, tem mesmo de pagar uma estada num hotel/hostel... Nenhuma bateria de telemóvel dura mais que algumas horas principalmente se usado para filmar e fotografar.

A nova caminhada ainda foi longa. Fui olhando para os sítios... que falta faz o típico cafezinho português que disponibiliza Wifi gratuito. Mas sabia onde ia encontrar esse Wifi. No fim da rua Queens Walk, no interior do MacDonalds. Já havia lá estado. Aproveitava e almoçava um hamburguer. Embora o meu apetite tivesse desaparecido com a preocupação.

MacDonalds em 2014 - muito diferente do que se encontra agora,
cheio de pombos e de turistas (e parece-me, menos mesas se algumas)

Não foi fácil. O local é muito barulhento e não existe lugar para uma pessoa se encostar. Duas horas antes tinha a bateria do telemóvel a 100%, mas neste instante andava nos 30%. Uma mensagem de erro de conecção dos serviços google surgia em pop-up a cada segundo, impedindo-me de entrar nos links que queria abrir. Pensei que estava tudo a correr "menos bem". Mas lá consegui fazer alguma pesquisa. O que não consegui foi encontrar preços mais económicos. Quando ia para escolher outras estações de partida (Londres tem tantas e já havia passado para solicitar informações a duas distintas) um segurança "pediu-me" para sair do local mais isolado onde tinha me posicionado. 

Por esta altura já tinha decidido: se tiver mesmo que pagar um valor tão alto pelo bilhete de comboio (mais outro para o de autocarro após chegar ao destino) então vou economizar no oyster. Não vou andar de metro... (buáááá)...  vou fazer tudo a pé. Não ia almoçar a Camden, nem procurar, pela segunda vez (embora sem grandes esforços) a estátua da Amy Whinehouse ali localizada. Nem ia fazer compras no meu supermercado favorito mas em Camden... nem ia olhar com mais atenção as muitas casas de tatuagem que por ali existem. (Eu que não gosto por aí além, estou a pensar fazer uma. Mas o local onde se tatua faz parte da experiência, pelo que o local onde gostaria de fazê-la é Camden. Até agora não me ocorreu outro. O quê tatuar e com quem... vai levar anos a descobrir. Sei que preferia 1) tinta provisória e 2) tatuagem branca - nada disso existe ainda em Camden ou por Londres, pelo pouco que pude investigar.

Adiante...

Saí do MacDonalds, dobrei a esquina à esquerda e atravessei a Westminster Bridge rumo a Waterloo - outra estação de comboios, outra ponte. A estação ficava atrás do London Eye... que já havia ultrapassado. Mas não tinha como saber até estar ligada à net


Waterloo station

A caminhada até foi fácil. Chegada lá, uma estação enorme, fiquei numa fila (mais uma) e perguntei a uma funcionária se podia dar-me os horários e preços dos comboios com destino à minha cidade e a outra perto, com partida pelas 22h. Ela disse que sim, foi imprimir duas folhas de papel e deu-mas. Agradeci-lhe mas quando virei as costas  percebi o quão inútil eram os papéis que me entregou: imprimiu os horários dos comboios não os valores

E o que precisava eu com urgência, senão os valores?

Tentei novamente descobrir outros locais onde me ligar a Free Wifi mas não existe um único estabelecimento nesta estação de Waterloo a disponibilizá-lo. O MacDonalds tem wifi mas pede que se pague para aceder. 

Londres = oportunismo.

Já era tarde. Tinha de fazer algo para aproveitar o dia. Decidi então caminhar até Hyde Park. Rumo à tão falada Winter Wonderland. Se aquilo fosse giro, podia demorar-me por lá até às 22h e depois seguia para Victoria Station - outra estação ferroviária, a principal. Ali podia também apanhar um coatch (camioneta) para o meu destino. Custaria menos (cerca de 10 libras) mas ia demorar quatro vezes mais tempo a chegar. Porém, estava decidida a economizar desse por onde desse. A prova disso era a minha determinação em andar, andar, andar...

Sem me cansar. Os pés, esses, coitados... estão habituados a bolhas e desconforto de sapatos. As pernas, não podia desejar melhor: portaram-se muito bem. Caminhei sete horas seguidas a bom ritmo, tirando pequenas pausas como a do MacDonalds. Senti que podia caminhar outras sete. 

O que aconteceu quando finalmente alcancei o Hyde Park, já vos contei no outro post. Quero que percebam que saí do hostel às 9.30h, dediquei algum do meu tempo no museu Tate mas o objectivo foi sempre comprar os bilhetes para ir almoçar a Camden, entrar nos canais e "navegar" até Hyde Park. Porém, por esta altura já eram umas 15h... 

Finalmente, em Victoria, eram 17h quando recebi a informação que precisava! Se depois da hora de ponta usasse como forma de pagamento o contacto por cartão, a viagem fica por metade do valor que me foi indicado o dia inteiro.

Estava certa! Se me tivessem dito isto logo pela manhã, teria aproveitado Londres. Teria relaxado e gasto mais dinheiro em atracções, comida, tinha usado o Oyster card... Mas como me disseram um valor de bilhete de comboio tão alto, a mente sintonizou-se de imediato na necessidade de poupar.

Londres não se ajuda a si mesma...
Ou os caminhos-de-ferro não ajudam Londres.



















2 comentários:

  1. Pelos vistos, andar em Londres é uma verdadeira aventura. E eu que pensava que se um dia me saisse o euromilhoes ia passar um fim de semana por ai.
    Já foste a algum musical ou peça de teatro?

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    1. As primeiras impressões acabam por nos marcas mais do que julgamos, Ana. Respondendo à tua pergunta, não, ainda não fui. Gostava de ir mas não vejo nenhuma oferta que me alicie. Esse é um dos motivos. O segundo reside no subconsciente. Há uns anos fui ver Grease - o musical. Afamado, Londres, últimos dias de exibição após algum tempo em cartaz... E no final, aplaudi. Aplaudi por reconhecimento ao trabalho da equipa, por me entreterem, etc. Mas claramente aquilo foi um produto aquém do esperado. Ruim, mediocre, quase amador. Se aquilo e o padrão de qualidade Londrina, então Portugal vale 1000 vezes mais. Procura ver peças musicais aí em Portugal, olha que ficas melhor servida.

      Terei de tirar a prova dos 9 mas não tenho pressa. Como disse, nenhuma oferta me alicia. Londres não tem assim TANTO para oferecer, visto que as coisas ficam em cartaz por imenso tempo.

      Há, e se te sair o euromilhões não tens de te preocupar com o custo de um hostel e bilhetes de comboio, ahah. É first-class e tratamento VIP... então?

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