Metereologia 24 h

Mostrar mensagens com a etiqueta partilha. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta partilha. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 12 de julho de 2023

"Somos diferentes" - que o diga as Finanças

 

Por vezes recordo de coisas que me foram feitas e ditas quando me mudei para esta casa há três anos e percebo que já estava ali os sinais de como a M. realmente era. Tanta mas tanta coisa, que é incrível como eu, por ansiar como uma esfomeada por normalidade, continuei a preferir não interpretar pelo pior. 

Recordo que uma das coisas que a M. me disse bem no início, depois de me ter "esmiuçado" de cima a baixo, interrogado, ter feito os seus questionários e até, usar de NUMEROLOGIA de data e hora de nascimento para definir afenidades, foi: "não me vejo a ser tua amiga". 

Ela não é capaz de ser amiga de ninguém - essa é que é a verdade. Mas é uma coisa que não se diz assim, parece-me. Mas foi o que ela me disse, acrescentando que não eramos iguais. No sentido de, ela ter umas tantas qualidades que enumerou e eu.... não. 

Oh! Ela dizer isso, achando que a vantagem estava no seu lado, já diz tudo, não é verdade? O sentimento de grandiosidade do narcisita já a revelar-se. Talvez mesmo uma certo transtorno de personalidade antisocial. 

Mas eu não me abalei nem um pouco. Nos primeiros três meses, existiu cordialidade e muita conversa, onde tudo parecia correr pelo melhor. Embora eu já me sentisse incomodada com comportamentos repetitivos e de total desconsideração que lhe observava. Ainda assim, preferia achar que ela não tinha percepção que os fazia. (Santa ingenuidade!).

Neste tempo, ela e o rapaz do andar-de-baixo já discutiam dia sim, dia não, logo pela manhã. Chegava eu a casa vinda do meu turno da noite, adormecia e em 50 minutos acordava com os insultos trocados entre os dois, aos gritos. 

Daí adiante ela seguia-me pela casa a todo o instante, para fazer queixas dele e de todos os outros. Querendo que eu agisse e baragustasse. Foi muito desgastante para mim. 

A M. nunca deixou de procurar criar conflitos. Apenas foca-se mais intensamente numa pessoa de cada vez. A minha altura ia chegar. E foi este ano em Janeiro, quando o rapaz, finalmente, se foi embora. Agora ela deseja que eu seja a próxima. Estou a contrariá-la, permanecendo nesta residência. 

Segue-me pela casa inteira. Nem 30 segundos me dá - que é o tempo que leva para descer as escadas, abrir o frigorífico e tirar um iogurte, voltando de imediato para cima. Tem alturas em que é 24h/7 obcecada pela minha pessoa. Segue-me, entra dentro do WC se dele acabei de sair, não o usa, vai só espionar. É doente. Faz-me doente também. Tenho receio de me vir a tornar como ela. Mais anti-social. Ou totalmente anti-social. Agressiva ou irascível. Prefiro o isolamento do sossego - sempre fui assim. Mas agora temo me tornar numa pessoa inapta socialmente. Tal são as más influências que me rodeiam e as más situações às quais me sujeitei nesta vida.  

Será que pessoas como a M. nunca se dão mal? Nunca enfrentam as consequências dos seus actos e por mais que aprontem, caiam sempre de pé, que nem os gatos?



Voltando ao tema principal, dela dizer logo de início, muito convicta de si mesma que "somos diferentes". Sim, somos. E ainda bem! As pessoas devem ser diferentes e não todas iguais - para que possamos aprender umas com as outras. Mas ela não tem percepção disso. Mais recentemente, me disse: "Tu não és nada como eu!". Ao que instintivamente lhe respondi com uma sinceridade que deve se ter projectado nitidamente: "Thank God for that!". (Graças a Deus!).

O que a deve ter surpreendido, pois ficou muda. No seu entender, as pessoas devem almejar ser tal como ela. Inteligente, esperta, melhor que todos, sabe tirar benefícios próprios de tudo, levar a dela adiante, etc, etc. 

Mas ser como ela significa, por exemplo, estar cheia de dívidas. Tirar dinheiro de pessoas, instituições e prestação de serviços sem ter intenções de pagar. Surpreende-me que, no Reino Unido, isso seja tão simples. Porque é.

Recentemente recebi uma carta das "Finanças", sobre os impostos que paguei no ano passado. Tenho a receber o valor de £160. Como não reclamei o valor online, irei receber um cheque pelo correio. Hoje fui à caixa da correspondência e lá estava um envelope das Finanças. Mas não era adereçado a mim, mas à M. É fácil de adivinhar o conteúdo. Surpreende-me que, passados meses, ainda seja o mesmo! A leveza do envelope castanho e a sensação fina ao toque já diz o que se trata. É dinheiro em dívida.

A M. DEVE DINHEIRO às Finanças. A primeira carta que tirei da caixa deve remontar a Abril. Desde então já lhe vi outra em envelope castanho. Isto sem prestar atenção. Apenas estando a tirar a correspondência e a colocá-la na beirada da janela, onde a vamos consultar. Só com o primeiro envelope tentei perceber o que dizia. Consegui reconhecer as palavras "dívida" e também "multa". Sendo que a multa era já diária, por ter sido ignorada um contacto anterior.

Presumi que a M. se precipitaria a pagá-la, visto que é uma dívida ao Estado. E ia ter de pagar já com uma multa, eheh. Até recordo de pensar que, finalmente, agora veria-se forçada a arranjar uma ocupação e ir trabalhar! Depois não pensei mais nisso. 


Hoje quando vi aquele envelope das finanças endereçado a ela sentindo a sua leveza nas mãos, lembrei-me logo do que acima descrevi. Senti revolta. Caramba! Nem às finanças ela perde o sossego ou paga as dívidas! Sim, somos diferentes. Eu tenho a receber, ela tem a pagar. Isso diz muito sobre as nossas diferenças. Eu trabalho bastante e desconto. Ela não trabalha quase nada e não paga o que deve. Eu estaria toda temerosa, a querer pagar a dívida o quanto antes, porque dizem que sobe £10 por dia! E ela a deixar os meses passarem. Cada 24h são cerca de 12 euros a mais em que fica endividada. 

E os envelopes castanhos a chegarem, todos os meses... 

Até quando?

Até quando poderá ela safar-se com todas estas tramóias?

Agora temo que o meu cheque chegue pelo correio e seja interceptado por ela, e que ainda acabe por arranjar uma forma de se benificiar. Não que acho que vá acontecer mas, não estou exatamente a tratar com uma pessoa muito correta, estou? 

Vou ausentar-me daqui a uns dias. Não vá o envelope castanho, mas mais espesso, chegar nessa altura. Da última vez que fui de férias, duas semanas, ninguém tirou a correspondência da caixa do correio. Na volta fui eu que o tive de fazer. O que não quer dizer que se repita.

Agora outra curiosidade:

Ao entrar no site das finanças, vi estipulado como o dinheiro que eu paguei de impostos, foi utilizado. Surge assim:


No ano anterior, contribuí com £2.736 para impostos. 

Para minha surpresa e felicidade, quando fui buscar a carta enviada faz umas duas semanas, puxei de um envelope castanho que correspondia ao ano fiscal 2021-2022, ao invés de 2022-2023, o anterior.  Ou seja: dois anos fiscais atrás. E ali estava... um cheque. No valor de £81. 

Ri tanto, mas tanto! Tinha esquecido completamente dele. Havia colocado esse envelope em cima de uma caixa, para ficar bem visível. Porém, ele deve ter deslizado para trás do móvel. Na rotina diária de trabalho e com o stress doméstico, sem o ter à vista, devo ter esquecido da sua existência. Recentemente removi o móvel e arrumei um envelope castanho que encontrei caído, nem tinha percebido do que se tratava. Pensava ser uma documentação solicitada. Datava de Outubro de 2022, mas ainda foi possível descontá-lo. Eu a precisar de um boost de dinheiro lá na altura do Natal.... com £81 caídos atrás do móvel.

Bem sei que não se trata de um presente. É dinheiro restituído por pagar impostos em excesso. Mas é uma boa sensação, ter a receber. Ao invés de ter de pagar ou tudo estar correto. Subitamente foi quase como que tivesse ganho o euromilhões. 

Queria partilhar isto. 


sábado, 25 de março de 2023

Partilhar casa: a realidade com fotos

 Acordei hoje cedo mas nao fui ao WC como pretendia. Preferi ficar a dormir mais tempo. Nisto oiço alguem entrar no WC e oico tambem muito barulho metalico. Outro som que invade meu cerebro enquanto tento dormir é a ventania la fora. Está muito forte. 

A pessoa que está no WC faz a descarga duas vezes e tanto barulho que quase me desperta de vez. Mas consigo voltar ao sono.Quando acordo, não muito tempo depois, preciso de ir ao WC. Mas sei o que lá vou encontrar, porque depois da pessoa sair a porta do WC fechou com um estrondo com a ventania e fiquei a ouvir a janela a bater. A janela tem um trinco metálico comprido, com orifícios. Esses orifícios servem para manter a janela aberta mas sem bater. A única pessoa nesta casa que ATIRA o ferro para fora da janela e deixa esta a abanar e até já PARTIU esse ferro, é a M.  Soube que era ela assim que escutei os barulhos. 

Entrei no WC só para lavar as m8ãos. Mas pude ver outros resultados da presença dela na divisão. Salpicos de merda estão agora dentro da sanita e no rebordo do tampo. Merda da M. A M. é uma merda. Sei que muitos estão cansados de ler sobre este assunto, mas peço, ainda assim, que orem para que esta indivídua desapareça de vez desta casa e da minha vida. Acredito no poder da oração e é o que me tem ajudado nos últimos quatro meses. 

Agora vamos às imagens?

A seta da esquerda aponta para um dos "pregos" onde se deve enfiar o cabo com orificios. Conforme o orificio escolhido, a janela fica mais ou menos aberta. E NUNCA bate ao vento.

A seta da direita é a mais importante. Porque é onde está o bilhete a dizer " por favor mantenha a janela presa na fechadura para que nao se parta novamente".

Conforme podem perceber, qualquer chamada de atençao, para um narcisista, é visto como "ninguem me diz o que devo ou nao devo fazer" e retaliam fazendo o contrario. Nao importa a insignificancia do pedido. A coisa mais inocente e sensata fá-los reagir reativamente e nunca a bem.

A pesar do piaça estar disponível, o narcisista se acha diferente de todas as outras pessoas. Resultado: a foto em baixo bem o mostra.

O narcisista se acha o "mais" tudo. O mais limpo foi a bandeira de imediato hasteada pela M. Vejam so no que consiste o seu exemplo DIÁRIO.



Um dos pratos de comida que deixa na cozinha por dias e dias. Nunca vi ninguem deixar um prato desta maneira. Ate os outros que o fazem os passam por agua antes. Reparem na sujidade tremenda dos talhares, como o plastico esta derretido por ter sido apoiado numa superficie quente e o tipo de restos no prato, uns fiamentos verdes.

Depois repara-se no ralo do lava louças e o que está dentro? Fiapos verdes e outras sujidades. Ora, quem poderá ser o responsável por tamanha imundice?

Será a auto proclamada super limpa M?


E hoje cedo já está assim. 
Sabe-se logo o que uma pessoa anda a comer só de se espreitar o interior do lava loucas. Infelizmente.

Fico por aqui. Estas singelas imagens. É pior que isto. Mas hoje, só hoje, apeteceu-me falar deste assunto. Agora nao vou usar mais o WC porque nao quero ser responsabilizada por aquela merda.




terça-feira, 6 de julho de 2021

Abrindo os olhos do cérebro

 A M. veio cobrar-me que dissesse ao novo inquilino que a incomoda quando o cheiro de cigarro se sente no interior da casa. Ela tinha a certeza que ele estava a fumar dentro do quarto. "Tens de dizer alguma coisa. Sou sempre eu. Nunca dizes nada a ninguém, dizes a mim".

Mas está errada.

Enquanto rezava por dentro para que ela me deixasse jantar em sossego indo-se embora, já que me seguiu assim que saí do quarto no intuito único de me dizer isto até a exaustão, tive outra epifania. Mais uma vez, ate nisto, ela descreve-se a si própria.

Temos maneiras diferentes de ser. Eu abordo as pessoas quando sinto que chega a altura. Dois dias antes, tinha abordado o rapaz Nº2 e perguntei-lhe se podia evitar deixar que as portas fechassem com um estrondo. Desse ponto a diante, senti claramente que ele fez um esforço nesse sentido. São três portas, que ele abre sucessivamente e deixa que fechem com um estrondo, atrás de si. Há noite torna-se mais incomodativo. Incomodava todos, mas não soube de ninguém que o tivesse abordado sobre este assunto. Já não é a primeira vez que o abordo sobre este tema. Logo no início, quando se mudou, como eu trabalhava às noites não fazia ideia do barulho das portas. Duas semanas foi o tempo que levou para o perceber. E aí disse-lhe. Logo a seguir a M. veio perguntar-me/afirmar:

-"Disseste-lhe alguma coisa, não foi? O que foi que lhe disseste?"

-"Ah, nada... não aconteceu nada de especial".

Vejam bem: quando o abordei era bem tarde de noite, eu e ele estavamos na cozinha e os outros fechados nos seus quartos à tanto tempo, que seria de supor que já teriam adormecido. O quarto dela fica no piso superior, no topo das escadas. Se nada provasse que estão sempre a escutar quando alguém partilha um diálogo nas áreas em comum, isto prova. Ela estava a prestar tanta atenção, que entendeu que não era conversa casual e sim um pedido para que alterasse um comportamento.

No fundo ela só sabe é gerar conflictos. E não é muito boa a selecioná-los. Noutras ocasiões em que muito queixume ela fez aos meus ouvidos, acabou por ser a minha iniciativa que conduziu a frutos definitivos. Ela queixa-se, diz que não aguenta mais, que vai sair desta casa, porque indivíduo X, Y, Z é porco, não sabe estar, etc, etc... mas não toma uma atitude mais séria. A não ser mostrar o seu desagrado fazendo mais barulho, sendo desrespeitosa, tendo discussões e deixando bilhetes intencionalmente direccionados a uma certa pessoa colados pelas paredes.

A saída do rapaz que andava a roubar foi catapultada por um email que eu escrevi à agência que nos aluga os quartos. Devia ser ela a contactá-los, visto que a situação que relatei foi uma discussão entre a M. e o rapaz às tantas da madrugada. Noutra ocasião, em que chegava a casa exausta, vinda do emprego, fui eu que, com um simples email com uma fotografia de um lava-louças entupido e imundo e o dizer: "todos os dias é esta a recepção ao chegar a casa" que tornei a situação clara e objectiva para a agência. 

Costumava pensar que pessoas como ela fazem falta. E que podia aprender com ela. E posso. Aprendo a valorizar-me mais. A minha metodologia - abordar as pessoas quando sinto necessidade evitando o uso de um tom moralista ou irritação na voz, tem-se mostrado eficaz. Mesmo que não fosse, é a minha maneira de ser. Quem é ela para me dizer que não presta? Que a maneira de ser dela - com constantes explosões e provocações é a única correcta? Se mostrares respeito, geralmente, com pequenas excepções, recebes-o de volta. Agora se bates na porta de alguém, começas a dar ordens, a dizer à outra pessoa tudo o que ela faz de errado e como tem de fazer para fazer bem... cai mal. É uma forma implicante de se estar.

Quem sempre se queixou dos outros a mim foi ela. Eu nunca a abordei para lhe pedir que desse um "recado" a outra pessoa a morar na casa. Eu cuido de dar os meus próprios recados. Disse-me que não queria ser ela a "má", aquela que tem sempre de fazer o "papel de má". Quer transferir esse conceito para mim - querem ver? Acha que todos somos passivos e tem de ser sempre ela a colocar ordem na casa. Sofre um pouco de soberba. 

Durante quatro ou cinco meses ela nada soube - pela minha boca, da situação entre mim e o Rapaz Nº1. Mas estava sempre a mandar-me os "recados" dele. Ou a expressar "opiniões" generalistas que "calhavam" encaixar-se numa situação específica. 

Desci à cozinha passavam 15m da meia-noite, esfomeada e a desejar poder dar as minhas garfadas em silêncio. Tive de ouvir a sua ladaínha repetitiva. Quer que seja eu a dizer ao rapaz nº3 que incomoda quando o cheiro do fumo se sente no interior da casa. O que ela deixa convenientemente ficar de fora, é que a primeira pessoa a ter este comportamento foi ela. Até o rapaz nº1, que fuma lá fora (e muitas vezes dentro do quarto) consegue fumar no exterior sem deixar o fumo entrar na casa. Porque fecha a porta da cozinha. A M. que também fuma mas se acha "diferente" dos restantes - vê-me na cozinha a usufruir da minha refeição, e sem cerimónias, abre a porta que dá para a rua, põe os pés lá fora e começa a fumar deixando a porta aberta o que, como é obvio, faz com que fumo do cigarro entre pela cozinha adentro e invada a casa, inclusive o piso superior. 

Quem é ela para passar um certificado de comportamento incorrecto ao outros? Não consigo lembrar de uma única incorreção de terceiros que ela não tenha exibido primeiro. Ela leva o Óscar. Que nem a Meryl Streep, a M. é indubitavelmente a melhor em todas as categorias. 

Estava quase a terminar a minha refeição e ela não me deixava comer sossegada. Fui salva pela chegada do rapaz nº2 - que certamente também apareceu no intuito de interromper a conversa. Ela repetiu o seu intuito para os ouvidos dele ouvirem e foi embora. Vou finalmente poder comer em sossego - disse entre dentes. Depois recebi uma mensagem para ir trabalhar e lá fui, toda feliz. 

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

A saída da melhor na casa

A rapariga do andar de baixo abandonou a casa. Foi uma decisão repentina, motivada por um comportamento do rapaz com quem ela até simpatizava. 

Contei aqui sobre o episódio em que o rapaz se embebedou. A forma como reagiu comigo no dia seguinte. Desde então não nos falamos. O que me incomodou foi eu tentar lhe falar, pedir mesmo para que parasse para me escutar e ele a ter a postura de quem não quer saber, de quem tem razão para me maltratar. Nesse dia ele e ela até se entenderam bem, a respeito da bebedeira que ele apanhou e que ela teve de aturar, certificando-se que ele ia dormir sem se magoar. 

O que eu não sabia é que ele ficou bêbado mais vezes. Numa dessas passou das marcas com ela, deixando-a muito desconfortável. Ela achou que ele passou dos limites da tolerância. Fez as malas e foi embora.

Descobri-o porque estranhei não a ouvir. Quando não vi os seus shampôos no WC, pressenti o abandono. Foi rapidamente confirmado ao abrir a porta da dispensa e vê-la vazia. 

E assim partiu. Sem nada dizer. Está já a viver noutra casa.

Senti-me triste. De todos, era ela a que eu mais gostava.

De todos os companheiros, achava-a a mais fácil de lidar, descomplicada. Falamos algumas vezes e não existiu incompatibilidade.

Na casa era arrumada, limpa, não se queixava, não exigia nada, se usava algo comum da casa devolvia de seguida, (ao contrário da M.) não pedia muito espaço para as suas coisas... era realmente uma pessoa simples com quem conviver.

Enviei-lhe uma mensagem querendo saber o que se passou. E foi assim, enviando textos uma à outra, que fiquei a saber o verdadeiro motivo da sua decisão em sair desta casa. Até então achei que estava a adorar cá viver e tinha no rapaz o seu companheiro favorito. 

É o que faz as pessoas guardarem tudo para si. Até tinhamos coisas em comum mas, compreendo-a. Também não gosto de partilhar coisas menos boas com outros. Acabei por fazê-lo - acabámos, aliás. Por estas mensagens que enviamos uma à outra por um período de duas horas. 


Ela foi embora por causa dele. E nada mais que isso. Disse-me que pediu à M. para se despedir de mim por ela. Nunca recebi tal recado. A M. sabia que ela foi embora mas nada me disse. Ao invés de me contar, só sabe falar mal do novo rapaz. Assim que me vê é a primeira coisa que faz. Começa logo com as queixas. Comecei a evitá-la, só para não ser puxada de volta para esse vértice onde ela também enfiou o JS. 

É certo que ambos deixam um tanto a desejar no que respeita a atitudes que se devem ter ao partilhar um espaço com desconhecidos. Mas considero a marcação serrada, o descontentamento imediato e abrasivo, algo desconfortável. Implicância instantânea com a qual não concordo.  Sim, ele não é cuidadoso como nós. Não é a melhor pessoa com quem se dividir um espaço. Mas a falar é que as pessoas podem chegar a um entendimento. Ou não... se eu fosse inteligente nesse departamento, não teria passado pelo que passei. Se calhar a M. tem razão e é logo para se cortar a coisa pela raiz, antes que tudo piore.

Quando perguntei à M. porquê não me disse que a rapariga abandonou a casa, não respondeu. Quando lhe perguntei porquê ela foi embora, disse-me que foi por causa do novo rapaz. Claro. Ela não responsabilizá-lo é que seria inesperado.


E é assim que estamos. Todos um pouco desconfortáveis mas a levar a vidinha. A casa tem estado numa sujidade tremenda. Bagunçada. Felizmente hoje a senhora da limpeza apareceu. E fez a diferença. A carpete foi aspirada, desapareceu a lama deixada pelas botas do novo inquilino. O chão da cozinha foi varrido - desapareceu migalhas de todo o tipo de produto e até rodelas de cebola e batatas fritas deixadas pelo chão. 


As marcas de líquido salpicado pelas portas do frigorífico foram esfregadas. E finalmente houve quem tirasse toda a louça do escorredor e a arrumasse nos armários.


Sim, porque a M., por mais que fale, tem a sua cota-parte de responsabilidade no desmazelo da casa. Ela deixa o seu kispo na cadeira, como se esta fosse cabide. Faz já mais de um mês. Se fosse qualquer outra pessoa a exibir este comportamento ela ia insurgir-se. Mas como é ela, tudo bem.... A julgar pelo estado em que recorrentemente deixa o WC e por ser ela que esteve o dia todo em casa na cozinha, vou também presumir quem sujou o frigorífico. 



Certamente foi ela que deixou um frasco de molho de carne vazar para a prateleira que a (agora ex) colega tinha acabado de lavar. Faz mais de mês e o líquido ainda está lá. O frasco "culpado" já saiu, mas as outras embalagens que ela ali mantém por teimosia e insensatez continuam mergulhadas naquela gosma. Quem é realmente asseado assim que vê sujo, vai logo limpar. Ela não. Mas sabe apontar o dedo aos outros.


quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Ajudar os outros

 

Consegui um novo emprego. Devo começar para a semana. Não é permanente (o que é hoje em dia?) mas deve durar até o final do ano.

O que mais gostei foi que eu partilhei esta oferta de emprego e a contratação imediata com duas colegas. Uma sabia que não tinha emprego e tem dois filhos que cria sozinha. A outra está melhor da vida, mas sempre foi um pouco minha amiga em momentos em que precisei e achei por bem lhe dizer, não fosse ela precisar. 

Ao invés de guardar só para mim para não ter concorrência, partilhei com quem achei que também estava a precisar. E isso fez-me sentir bem. Mesmo que não conseguisse o emprego, se por minha intervenção uma delas o conseguisse, ficaria bem na mesma.

Em momentos de necessidade, precisamos de nos ajudar uns aos outros. 

E quem sabe, um dia, somos nós os ajudados.

Deviamos praticar mais esta doutrina. 



segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Cortesia condicionada


Ela transformou-me numa pessoa aparentemente mais fria. Mudou os meus hábitos, o que seria de minha natureza fazer, caso ela não andasse por perto. 

Uma coisa que me dá prazer, é partilhar comida com outras pessoas. Não sei porquê, mas gosto. Se tiver a sobrar, ou não tiver mas for o suficiente para duas pessoas, ou se der para dividir um donut que seja... dá-me prazer fazê-lo. Está na minha natureza oferecer. Somente isso. Não faço alarido, não acho que seja um gesto especial. Somente faço-o, por me ser espontâneo.

Mas quando vim para esta casa, todas as minhas ofertas foram sistematicamente recusadas. Fosse eu a cozinhar, fosse comprado já feito, fosse em alimento ainda cru, vegetal ou fruto - recusado, recusado, recusado!


Não demorou muito para perceber (se acham que seis meses é pouco) que o problema não era eu não acertar com os gostos individuais de cada um, e oferecer sempre algo que não apreciam. Nem era oferecer na altura em que já estavam satisfeitos, de estômago cheio - porque a maioria das vezes ainda estavam por se alimentar.

Demorou a perceber que implicavam com a autora da oferta. E por isso nunca aceitaram nada do que lhes ofereci. As únicas pessoas a fazê-lo, foram o senhorio e a rapariga grega. Pessoas normais, com atitudes normais. A africana - bem que tentei, mas ela foi rapidamente «convertida» a adoptar o comportamento dos outros. Já maldizia os meus cozinhados antes mesmo de os provar. Lembro-me que na sua segunda noite na casa, disse-me que estava cheia de fome e que não tinha nada para comer, ofereci-lhe pizza. Ela, que ainda estava a "apalpar" terreno, não sabendo ainda quem era quem dentro da casa, aceitou. Minutos depois, a pizza que lhe dei ficou onde a deixou. Deve ter ido para o lixo. O rapaz rei-da-casa bate-lhe à porta para chamá-la para comer pizza com eles. Eu? O meu «convite» ficou extraviado no «correio», que é por onde o remeteram desde o início.

Porquê esta distinção de comportamento? Não sei. Não tem motivo, realmente. Nenhum. Demorei a percebê-lo, mas detectei os sinais de má vontade e implicância quase de imediato. Só que os ignorei, achando que era«impressão minha». Acho que lhes bastou olhar para a minha cara e foi aí que decidiram: esta, eu não gosto. 

Isso, e desejarem viver numa casa exclusiva para italianos e eu atrapalhei-lhe os planos. Era tarde demais para realizar esse desejo por o senhorio ter-me dado o quarto. Só depois o rei-da-casa chegou e impôs as suas regras.

Geralmente, quem ditava as atitudes era o rei-da-casa. Esse é que tentava logo tirar um raio-x da pessoa e depois comunicava aos restantes se estava "aprovada" ou não. Quando o conheci, ofereceu-me cerveja. Recusei, dizendo que não bebia «beer». Perguntou-me se não bebia álcool de todo, com aquela expressão de espanto que hoje em dia parece estar em voga fazer. (Hoje em dia é pecado não beber álcool e ser virgem ou ter comportamentos de abstémia). Respondi que bebia, mas não era muito de beber. Ele fez uma expressão de reprovação, mal disfarçada. No dia seguinte, voltou a oferecer-me cerveja. Como se fosse um segundo teste, no qual teria sido aprovada, caso aceitasse. Não aceitei - simplesmente porque não bebo daquilo. Aos poucos - sem que tenha demorado mais que uns dias, senti que não estava a ser realmente aceite. Sabem quando falam contigo com cerimónia, ou não têm interesse de todo? Tentas iniciar uma conversa e recebes monossílabos, seguidos de mudança de receptor da mensagem?


E gradualmente, fui percebendo que os jantares, almoços, docinhos, bolinhos feitos no forno, pizzas italianas caseiras, os lugares postos na mesa, a troca de mensagens - tudo isso que era partilhado com outros, nunca me era oferecido. Andava eu a oferecer-lhes TUDO, e eles, recusando tudo e não retribuindo o gesto de oferta com nada.

O rapaz até foi mais longe: disse-me que ia fazer uma pizza um desses dias, para eu provar. Vi-lo fazer muitas - ou melhor, fingir que fazia porque a mais-gorda é que é a cozinheira do grupo e nunca que qualquer um deles estendeu-me um convite para degustação. Tão ao contrário da minha natureza! 

Quase um ano depois, quando a rapariga africana veio para cá morar (muito graças ao meu pedido de ter alguém com quem pudesse falar inglês, já que todos eles falavam italiano e não me incluíam nas conversas ou convívios), no primeiro dia ele logo lhe disse que ia fazer-lhe pizza. Foi ela que me contou, incluindo-me no grupo, o que estranhei. Até lhe confidenciei que ele disse-me o mesmo mas ainda estava à espera. E depois sucedeu-se o que descrevi seis parágrafos acima deste. 


Isto tudo para confidenciar que me tem custado - muito - não oferecer nada. Já cozinho só para mim, mesmo quando estou cheia de vontade de partilhar o que vou fazer com alguém, «engulo» a pergunta "Queres?". 

Habituei-me a ter esta postura e não posso dizer que me agrade. Tenho-a aqui, com esta gente. Com outros, volto a ser eu mesma. Mas se calhar, nem sempre. Ontem repreendi-me porque senti vontade de oferecer comida ao senhorio e a um rapaz que cá têm estado a fazer obras na casa. Mas não o fiz, porque a mais-gorda estava por perto. Por mim, cozinhava algo rapidamente, e eles comiam rapidamente, sentados na mesa. Mas com ela ali na sala, a impor a sua presença como habitualmente faz todo o fim-de-semana... Sabendo eu que se acha dona do espaço e detesta ver outros a usufruir do mesmo e nisso quebrar-lhe a rotina, nada fiz. Faria, se ela não estivesse presente. Mesmo com os outros por perto, talvez oferecesse. Com ela... não.

Não me sinto confortável com ela por cá. Consigo sentir a sua energia de ódio, às vezes vibrando com tanta intensidade!! Nem sei como é possível outras pessoas não o perceberem.

Vim agora das compras e trouxe dois donuts de chocolate. Abri um para comer, o outro... para quê o ia guardar? Ofereci-o ao senhorio. 


Este já tinha demonstrado «curiosidade» pelo cheiro que saía do forno, onde a mais-gorda decidiu fazer um bolo. (cheio de aroma artificial a baunilha). E brincou se estava a fazê-lo para lho oferecer. De seguida perguntou se o fazia para levar para o emprego. Respondeu-lhe que era para ficar em casa. Ele voltou a brincar que o ia comer. Claro que, agora, ela vai ter de se armar em boazinha e lho oferecer. Mas sei que não o faria sem ser por se sentir obrigada ou então, por cair bem, para ficar nas boas-graças. Quer mais é vê-lo fora daqui o mais rapido possível. Portanto, jamais lhe ia oferecer bolo porque isso significa aumentar a sua permanência na casa. Mas ele praticamente convidou-se e ela percebeu que tinha de o fazer. Nunca que me ofereceu a provar nenhum dos bolos que faz. Mas oferecia-os aos outros. Assim que entravam pela porta. 

Isso não me incomoda mas acho surpreendente. Como pode uma pessoa auto-proclamar-se de bem educada, vinda de um povo que gosta e sabe bem receber, e comportar-se desta maneira?

Chiça!!
Então quando vir o que é bem-receber tuga vai auto-flagelar-se de vergonha e arrependimento.

Sejam felizes. 

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Previsível

Yap!
Logo na primeira oportunidade que teve, no primeiro contacto com o gajo novo, já lhe proporcionou o relato audio-tour da versão italiana: "falar mal da Portuguesinha".

"Ela não trabalha", "Está em casa o dia todo", "Teve este emprego por estes meses, depois outro por estes meses, depois não esteve a trabalhar por estes meses, depois trabalhou por estes meses",  Não se junta a nós para ver televisão", "Não gasta dinheiro em comida", "trouxe um rapaz cá para casa"....



Fico a torcer (mas com pouca esperança) que este seja mais íntegro que os outros e a maledicência com que ela os presenteia durante as refeições para repelir simpatias a meu favor, se vire contra ela mesma. Tanto veneno. Só maledicência! Nenhum refreio imposto por bom carácter, valores... 

Vi isto no blogue da Elvira, e guardei. É a ilustração certa para este tema.


domingo, 20 de outubro de 2019

Abri


A embalagem de fishless fingers que havia comprado para partilhar contigo, já que és esquisito como o raio e te recusas a comer quase de tudo. Terias gostado?


quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Propaganda enganosa


Ontem acordei muito cedo. Pelas 7.30 dirigi-me ao Hospital para tirar sangue. No regresso, deu-me para pegar na vassoura e comecei a varrer a sala e o anexo. Sabia que ainda estavam três pessoas a dormir. Pelo que fiz por ser silenciosa. O que implica não usar o aspirador.

Varri tudo detalhadamente, removendo migalhas de todos os cantos. Depois apanhei a sujidade com a pá e vassoura menores. Coloquei água quente no balde e despejei no interior três detergentes diferentes. Passo a explicar: a mais-velha gosta de manter embalagens vazias. Tem quatro de detergente e amaciador para a roupa em cima do tampo da máquina de lavar, totalmente vazias e, para não surpreender, também fui encontrar algumas vazias no armário. Então nunca sei quando vou encontrar coisas cheias ou vazias. 

Peguei na lixívia que comprei - estava vazia. Peguei na outra - vazia estava. Só saiu de cada uma gotinha. Uma outra embalagem de limpeza de superfícies - também vazia. Coloquei as três em cima do tampo da cozinha para depois as deitar fora.

Quando estava a lavar os cantos da sala - por onde começo caso alguém precise passar, percebi que o chão estava a secar rápido. Por isso passei a esfregona no centro. Nisto desce um colega. Não dá tempo para a área secar. Digo-lhe que pode passar. E ele passa. Depois surge outro, e mais outro. Tomam conta da cozinha e atrapalham a limpeza. Lá consegui lavar a sala e o anexo, mas não consegui passar o pano de pó no móvel e na TV. Nada que não possa fazer no dia seguinte. Mas atrapalhou um pouco. Principalmente porque, ao passar, vi que aquela zona que tinha varrido e lavado já tinha migalhas. 

E as embalagens vazias que deixei no tampo tinham voltado para o armário.

O curioso é que, tento manter um cantinho no frigorífico para guardar uma caixa de ovos. Sei que se vagar o espaço, este é ocupado com merdinhas que nunca saem dali. Por isso, em duas ocasiões, servi-me do último ovo e deixei a caixa no lugar. Até porque era para colocar novos ovos dentro. Pois estes italianos são tão rápidos a perceber o que lhes interessa, que em ambas as ocasiões sem eu dar por ela e em menos de 24h, tiraram a embalagem do frigorífico. Algo que não lhes pertencia e não lhes competia fazer. Se ao menos estivesse ali há semanas... compreendia-se. Mas o que vejo são   frascos e mais frascos de molhos que já devem até ter expirado, porque faz meses que ali se encontram. Isso não deitam eles fora! Não me pertencem. Se pertencesse, era o que lhes ia fazer espécie. Assim, a sujidade, a má arrumação, nada os afecta. Só a caixa para guardar os ovos os incomoda.

Se deitam fora uma caixa para ovos que não lhes pertence e está discretamente no frigorífico, porquê foram guardar três embalagens de detergente vazias no armário??


WTF?
É assim... dividir casa com alguém. Tem de se fechar os olhos a tudo.

Mas e os ouvidos? 
Acho que percebi o mais-recente a comentar à mais-velha, que adora maldizer, que eu estava a lavar o chão sem aspirar. Isso é sacana. Ele não viu o que fiz antes. Quanto mais consideração se tem, menos apreço se leva. Chiça! Mas o que acho mesmo irónico, é que aquela expressão que diz que há quem atire pedras tendo telhados de vidro encaixa aqui perfeitamente. Assim como o "diz o roto ao nu".

Estavam a criticar-me por limpar, dizendo-se melhores, mais perfeitos e metódicos. Mas ainda não vi o rapaz fazer outra limpeza. E para ser sincera, se for espreitar debaixo do sofá, sei que encontro a mesma porcaria que encontrei na primeira vez que limpei a sala. Sei que atrás da TV iriam estar teias de areia e novelos de pó. Concluí - e estas pessoas só vêm a reforçar, que quem muito se auto-publicita como bom em algo, está a fazer publicidade enganosa

A mais-velha andou ali a inventar algo mais, para se fazer sobressair como heroína. Maldizer-me é um seu hobbie favorito. E parece que já abriu caminho com o colega mais-recente. São todos italianos, o que esperar?

Ela é tão hipócrita e não se manca, que andava sempre a contar a história do cheiro nauseabundo a comida, proviniente dos cozinhados de um casal indiano que cá morava quando ela para cá se mudou. Contou vezes sem conta que quando chegava do emprego tinha aquele odor forte e tinha de ser ela a abrir as portas e janelas. Que eles iam lavar a louça quando a viam chegar. 

Ela na cozinha é pior. Faz fritos e não liga o exaustor, não abre a janela, não abre uma porta. É comum o cheiro dos cozinhados durar até 48h e fazer-se sentir até nos quartos. E tem a lata, até hoje, de maldizer a reputação dos indianos contando vezes e vezes sem conta a mesma história. Onde é que ela é diferente? os cozinhados dela são melhores que os dos outros?  Os dela são perfumados com rosas, querem ver? É o velho ditado: "não te mancas"!

Eu só uso o microondas. Deixei de cozinhar no fogão e no forno. Por causa das merdinhas deles. Prefiro assim. É mais rápido e não conto ter muitas chatices. Um destes dias coloquei cogumelos com salsichas por quatro minutos e quando regressei, o rapaz tinha aberto a janela da cozinha! O cheiro ainda nem tinha passado da ventalização, a porta do aparelho ainda nem tinha sido aberta. Mas já "incomodou" o menino. No microondas, nenhum odor dura muito tempo. O que cozinho dissipa-se rápido. E é ele que tem o hábito de ligar o forno por quase uma hora, deixando-o vazio e na temperatura máxima. Só depois coloca coisas dentro. O cheiro é terrível e duradoiro. Quando tomo banho até receio que o cabelo e as roupas fiquem com o odor da gordura e cozinhados. 

E são estas pessoas que censuram os hábitos dos outros.
A falta de noção choca-me.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Vai arrepender-se?


A que-vai-sair saiu. E talvez venha a arrepender-se.

Lembrou-se tarde de ir perguntar na casa ao lado como era a vida lá... E descobriu que existem "problemas". 

Afinal, as coisas não mudaram muito desde que lá estive a viver uns 20 dias, em Abril. Veio de lá e contou que estão a ter problemas com a louça e a roupa e enviam mensagens uns aos outros para irem fazer isto e aquilo...


Afinal, continua! Os SMS ao invés da conversa frontal e desarmada.


O mal daquela casa é ser habitada por três colombianos que formavam uma trupe. Muito à semelhança do que se passa aqui com italianos. Por isso defendo que não se deve ter muito de uma só coisa. Criam-se sempre ambientes. Mas um dos colombianos deu à sola... e o trio Odemira ficou maneta. Acontece que vai ficar também perneta. 

Sobra apenas uma. Que está a perder as forças mas é resistente... As que entretanto se mudaram para lá, esperam que, com tempo, essa se mude e saia da casa. Por um motivo simples: só fala espanhol. Não fala inglês. E na ausência dos «compadres» e companheiros de traquinices, na ausência de quem fale espanhol com ela, acham que vai acabar por sair.

Talvez sim...
É o que digo: o destino acaba sempre por encontrar uma forma.

Quando cheguei a esta casa fui muito mal recebida pela italiana-mais-jovem que fingiu que nem me viu e limitou-se a sair do quarto para apagar a luz que acendi para poder subir as escadas em segurança. Nem um olá, nem um "bem vinda de volta" - nada. Ao bom jeitinho italiano de acolher outros. 

Essa foi a primeira a sair.
Sobrou-me a Colombiana da casa ao lado - que tanto mal me fez enquanto lá estive e também quando me mudei. Tentou infiltrar-se aqui, impor a sua presença e a sua insuportável voz estridente. Mas o pior era a sua ignorância. Perdoável, se fosse de boa índole, mas ela é malévola. E nada me tira da cabeça que ter aconselhado a amiga da que-foi-embora a convidá-la a mudar-se para lá foi o seu último gesto de malícia e interferência. Só Deus sabe os conflitos que tal acção já gerou. Tem sido um stress desde o final do mês passado até finalmente ter-se encontrado alguém que vai ocupar o quarto por apenas um mês. (Dizem que é uma jovem portuguesa, a ver vamos). 

Mas o quarto foi reservado por uma italiana. Por isso... mesmo que a que-foi-embora mudasse de ideias - como desejei que mudasse - a coisa foi feita de tal maneira que o senhorio avisou logo que por já ter assinado contrato com a italiana-escolhida, que o quarto já não estava disponível. Coisa em si também esquisita vindo dele, pois decerto que lhe ia propor o outro se realmente lhe interessasse ter a que-saiu de volta. Ela vai fazer falta. Era um ar de frescura e diferença, quebrava o excesso de italiano nesta casa e, para ser sincera, era fácil de conversar e cumpria sempre as suas obrigações com a limpeza da casa. E bem. O pacote inteiro, a bem dizer. É raro encontrar alguém assim e duvido que o raio caia duas vezes no mesmo lugar.

Mas a vida é assim mesmo, gira e dá voltas. Nem eu sei onde vou parar nestes giros. Ninguém sabe. Por mais que tentem manipular as situações e incliná-las a seu favor. 

Espero que a que-foi-embora não se arrependa. A pesar de ter desejado que quem viesse para esta casa fosse barulhento até mais não. Mas desejou isso por pensar que a outra - a italiana-que-não-limpa ia ficar. Afinal, se calhar já não lhe pomos a vista em cima muitas mais vezes. Antes do novo ano, já cá não mora.

Isto é fantástico... tantas reviravoltas.
Mas andam todos muito calados a respeito da inquilina que vem ocupar o quarto que vai vagar pela que não limpa. Sei que já estão a recrutar: italianos, claro. A que apareceu aqui ontem pareceu-me sentir-se muito à vontade. Vamos a ver se cai na esparradela de vir para aqui morar.

É que ninguém lhe diz que o senhorio é uma espécie de sexto inquilino...
Aparece regularmente, praticamente todos os dias, a qualquer hora, mais que uma vez, puxa da chave e entra casa a dentro. Vai ao frigorífico e serve-se de leite. Fazendo observações sobre tudo. Verificando as tomadas, a quantidade de luzes ligadas, se as janelas estão abertas, se estão fechadas, que programa estás a ver na TV, se estás de folga, quando vais trabalhar, o que estás a fazer, como o estás a fazer, se a máquina de lavar roupa foi deixada com a porta aberta para arejar and so on...


Eu não sei se aceitaria mudar-me para uma casa só com portugueses. Gosto demais da diversidade. Aliás, é o que me atrai neste estilo de vida. Poder dar de caras com alguém de boa índole, claro, mas que possa transmitir-me novos conhecimentos, passar-me cultura diferente, experiências e histórias da sua terra. Isso é fascinante. Se morar só com tugas... claro que há coisas a dizer. Mas não é tão fascinante quanto conhecer alguém oriundo de um país onde nunca pisaste.

A que-vai-embora é da Grécia. Adoro ouvir falar grego. Gosto do som. Não sei nada - aqui e ali parece que algumas palavras são parecidas. Infelizmente não vou poder aprender mais por ela sair desta casa. Na verdade, falamos sempre em inglês, como é de bom tom e da boa educação. Mas das vezes que a escutei a falar ao telefone na sua língua, gostei.

E ela sempre me cumprimentou, desde o primeiro dia, com um "obrigada". 
É uma das palavras que sabe em português. 
É simpático. 

Bem mais que o que a cultura italiana me passou. Mas se calhar, cada caso é um caso. Ainda assim, em quatro italianos nenhum fugiu à regra por isso... acho que os Gregos podem ser mais abertos. Embora sempre tenha escutado que é preciso ter cuidado com os presentes Gregos, ehehe

Um dia, se necessitar e for certo, vou partilhar com alguém o que passei na casa ao lado. O que ela me revelou hoje deixou-me um pouco apreensiva. Pensei que o clima na casa tinha mudado completamente com a introdução de novas pessoas e a saída das piores. Mas pelos vistos continua a infantilidade de enviar mensagens repreensivas ao invés de falar com as pessoas na cara e na boa. Como se alguém ali tivesse mais moral ou fosse acima dos outros para se prestar a esse papel. 

A casa é também menor, embora os quartos sejam, ao que sei, imensamente grandes. Mas para quê se quer um quarto grande? Eu tive um e desejei um pequeno. Este meu pequenino, que adoro, não o trocaria por nenhum dos outros onde cabe três vezes!

E pago menos para usufruir do mesmo espaço em comum. 
Sei por experiência que mais vale assim, pois na primeira casa era a que pagava mais para quê? No final só saia prejudicada. Os outros podiam dar-se ao luxo de certas manias de superioridade porque todos os meses poupavam mais de 100 libras comparativamente a mim. Então o que lhes custava dar mais 20 libras pelas contas? Mas a mim o valor de toda a soma já ascendia o que podia encontrar por um quarto noutra casa com melhores condições. 

E tanto assim é que a senhoria baixou o preço dos quartos assim que saí. Mas não esqueço que me disse que aquilo não era "um hotel de cinco estrelas" quando levantei essa possibilidade... Ela era totalmente marioneta do rapaz. Depois deu sair ele usou a minha ideia para atrair mais pessoas pois a casa praticamente cai aos pedaços e muitos a rejeitam de imediato. 



terça-feira, 13 de novembro de 2018

Hostilidade



Deixei um rabisco colorido a um canto no quadro a giz da cozinha. Tem lá estado há semanas. Escrevem-se mensagens, apagam-se, mas o rabisco colorido fica lá. Não faz mal a ninguém, não incomoda. Certo?

Pois hoje passei pelo quadro e vi que alguém riscou o rabisco não com um traço, mas com vários riscos. Talvez com fúria. Talvez não. A questão é: porquê? Porquê haveria alguém de se dar ao trabalho de pegar no pau de giz, transferir pó para os dedos, para riscar um inocente padrão colorido?

No meu íntimo sei que é um sinal de hostilidade. 


A jarra que encontrei no chão quando cheguei de férias - a única peça que me pertence que coloquei na sala, continuou no chão por uma semana. Quis entender se alguém a ia colocar de volta em cima da lareira. Não existiu aparente razão para ser removida. Não colocaram nada no seu lugar. Pareceu-me apenas que tinha sido retirada por malícia. Como se ao removê-la o proprietário pudesse ser afectado. 

Ao limpar a sala, tornei a colocar a jarra no sítio. Uma semana depois uma colega recebeu um cartão postal e decidiu colocá-lo bem ao lado da jarra. Na manhã seguinte remove a jarra para um canto, para colocar o postal no centro. A jarra ficou numa das bermas. Daqui a nada volta para o chão, estou a imaginar. Em sete dias, ela colocou mais três cartões. E estão todos ainda ali, em cima da prateleira, onde os deixou. Porque não existe malícia de parte de terceiros em removê-los do lugar. Penso que cartões de aniversário são artigos pessoais que se querem guardar a nível pessoal, pelo que têm um interesse para uma pessoa só. Não é como se fossem votos de feliz natal, que é algo que, mesmo personalizado, pode ser deixado exposto antes e durante a quadra natalícia. Por norma, numa casa partilhada, é o tipo de coisa que ocupa um lugar comum por pouco tempo, depois deve ser retirada e guardada com carinho. Até mesmo para não se estragar ou desaparecer. 

Mas isso é a minha forma de pensar. Se calhar estou errada. Tendo em conta o historial da casa - as porcarias deixadas por toda a sala por meses, se calhar os cartões de aniversário vão ficar ali até o ano seguinte.

O que eu percebi é que sentiu necessidade de os exibir. Como se para mostrar aos restantes que tem pessoas que a acarinham e gostam de si. Ela contou-me que tem muitos amigos por onde passou, grandes amigos. Vive cá há 12 anos, tem família a viver por perto, pelo que acreditei. E acredito. Contudo, perguntei-lhe se fazia anos quando trouxe do emprego um ramo de flores. Respondeu-me que o aniversário era no dia seguinte. Prontifiquei-me a meter umas velas num bolo que havia comprado e cantar os parabéns, já que também lhe havia perguntado se gostava de festejar os anos. Respondeu que sim, gostava, mas quando quis saber o que pretendia fazer, respondeu "nada". O que me surpreendeu. Então gosta de celebrar, tem tantos amigos, e não faz nada?!? Diz-me que não gosta de ter a casa vazia e liga a televisão para escutar vozes, por não gostar do silêncio, da falta de pessoas. Cada vez que alguém quer fazer uma festa aqui, ela parece-me muito satisfeita. Por estas razões, mais o ter tantos amigos e ser fim-de-semana, estranhei. Ela trabalha apenas durante a semana, tem o sábado e domingo livres. E era o seu aniversário. Podia ir visitar quem quisesse. Podia ir passear, sair, divertir-se. Esteve um sábado espetacular, com sol. Contudo, não o fez. Ficou o dia, a tarde e a noite na sala, sentada no sofá, com a televisão acesa em contínua programação e o telemóvel na mão. Que é o que sempre faz.

Que raio de aniversário escolheu ter! Para quem disse gostar de o celebrar, quero salientar.


Há coisas que não batem certo. Até neste simples facto constatei que, se os italianos estivessem cá naquele dia, o «seu» aniversário tinha sido diferente. Tinha tido festa e convidados. Mas como não estavam, ela não sai da rotina. Disse-me que não queria o bolo que lhe ofereci, que era mau ter um bolo que tinha decoração de halloween... Ora, eu não sabia que ela fazia anos, comprei aquele bolo para partilhar com quem mais o quisesse. Teria improvisado uma deliciosa celebração com gosto e sinceridade. Eramos só nós as duas na casa naquela ocasião, por mim fazia-se algo. Mas ela mostrou-se pouco receptiva e então recuei. Não ia impor a minha presença, se não parece ser essa a sua vontade. Dei-lhe espaço, para gozar o dia como desejasse. E desejou ficar a manhã, tarde e noite a ver televisão na sala. Quase lhe perguntei porquê não ia ao cinema, ou sugeri ir com ela almoçar fora, pelo menos, seria diferente. Mas não me intrometi. Como disse, deixei-a estar. Porém, para quem gostava de celebrar aniversários, teve um muito solitário.

O ramo de flores que os colegas de emprego lhe ofereceram, veio enfiado num saco com água. Assim as recebeu, assim as deixou na beira da mesa da sala de jantar, encostadas à parede. Nada de abrir e tirar as flores do plástico, nada de as compor e escolher um local para embelezar. Estão a murchar, a água nunca foi trocada, as flores parecem ter sido esquecidas naquele canto, onde nem se dá por elas, onde são desperdiçadas. Podia muito bem tê-las composto numa jarra e as colocado no centro da mesinha redonda, ao lado da poltrona, perto da porta que dá para o jardim. Ficariam tão bem! Dá um ar de cuidado, de atenção, até mesmo de apreço para com as flores recebidas Mas não. Ali as deixou, ali ficaram, ali vão ficar até as meter no lixo.

É esquisito. Ou há algo mais nisto, ou é o «sangue italiano» que é muito particular e os faz inclinarem-se mais para o convívio com outros italianos. Afinal, durante a 2ª GG, identificaram-se com os valores narcisistas e separatistas de Hitler. Se calhar não é à toa que gozam de uma reputação excessivamente nacionalista e conta-se que olham com maus olhos quem entrar no seu país e não saber falar a língua. Sei por facto, que olham com repulsa para as pizzas pré-fabricadas. Mesmo que a massa tenha sido feita fresca na loja, para eles, aquilo não é pizza e é sacrilégio levar uma à boca. Pizzas de verdade têm de ser feitas de raiz, com ingredientes específicos italianos de origem italiana e sem variações. Ananás na pizza? Nem fales disso, se queres manter uma relaçao com um deles.



 São todos muito "educados", com os "bons dias" e "olás". Mas é só isso. É frio e distante. Em todas as outras coisas que servem de sinais de aceitação, falham. Já dei exemplos: nunca convidarem para jantar, fazerem festas e trazerem pessoas cá para casa sem estenderem, pelo menos uma vez, um convite a ti ou sequer te comunicarem que vão receber pessoas. Recusarem todas as vezes que lhes ofereci comida ou disponibilizei mantimentos, não mostrarem interesse em ter uma conversa com algum conhecimento pessoal, etc, etc. 

São esses os "sinais" indicadores de que uma pessoa quer estar contigo e está aberta a te conhecer. Por exemplo, a "mais nova" faz isso. Ou melhor, fazemos. Posso ter uma conversa com ela, já trocamos informações pessoais. Aquela cuja presença eu mais temia por a saber amiga de outra na casa ao lado, onde mora a vizinha histérica, acabou por ser a mais normal. É amigável. As coisas fluem naturalmente, as reacções são naturais. Os italianos... não sei se é o "lote" que me calhou, mas... não mostram interesse em ti. Dizem os "bons dias" e pronto. Ficam-se por aí. E unem-se de uma maneira que não é bonita de ver. Uma das italianas nunca limpou a casa. Nem sequer uma vez. Seria de esperar que os próprios amigos a chamassem à atenção e reclamassem. Mas não. Ser italiano nesta casa parece ser um cartão de impunidade, como aquele "livre da prisão" do jogo monopólio.

No Domingo, sem nada dizerem como habitual, a mais velha recebeu na casa a ex-colega, a jovem mal-educada que cá viveu com o namorado. De quem eles não gostavam muito mas, como era o «escolhido» da compatriota, acabou aceite. Mas sempre com «pé atrás». Tanto que quando os dois sairam daqui para irem viver juntos, a mais "velha" vaticinou que a mal-educada ia arrepender-se, que ele ia "fazê-la sofrer". "Tem mais chances de ser o contrário" - pensei.

Dei conta de alguém entrar na sala por volta das 11 da manhã. Mas não fui logo espreitar quem era, não faz o meu género. Dei espaço, tempo, privacidade. Só não contava é que traçassem de imediato uma barreira. Porque o hábito de fecharem a porta da sala regressou assim que a outra se enfiou cá dentro. Até à meia-noite, mantiveram-se na sala, de porta fechada. Quando finalmente desci para me servir de algo na cozinha, cumprimentei-as (foi então que vi quem era) mas não puxei conversa, porque assim que me ouviram aproximar, pararam de conversar. Ficou um silêncio estranho, trocavam olhares mudos, como se a minha presença as incomodasse. Até podiam estar a falar de assuntos particulares, íntimos, desabafos. Tudo bem. Mas cá está: é a atitude como um todo.

Uma pessoa normal - a meu ver - quando é interrompida no meio de uma conversa privada, é capaz de cumprimetar outra, meter conversa de "chacha" e depois sabe que pode retornar ao assunto sério. Não podem esperar estar a dividir uma casa com terceiros e ocupar a sala por 13 horas, sem serem  interrompidas. Não é bonito. Deviam, segundo as minhas normas de boa educação, dizer: "Olha, portuguesinha, fulana X vem cá. Ou está cá em baixo. Vem dizer um olá. Vamos beber um chá, queres um também?".

Coisas assim. Normais.
Vocês não acham que isto é que é um comportamento normal? Educado, ao menos?

Eu tenho um palmo de testa... se percebo que querem ficar sozinhas na sala, não ia ficar ali a empatar. Quem empata são elas, que tomam o espaço para si, fechando a porta, já de si uma forma de fechar a entrada a terceiros. E quando te vêm chegar ficam a olhar para ti como se tivesses interrompido algo e a desejar que vás embora. Depois aparece o desenho no quadro a giz rabiscado...

É desnecessário.

Não existe convívio orgânico, paciência. Não vou morrer por isso, não vou embora daqui nem vou alterar o que tenho de bom. Vou continuar a dizer os bons dias e a perguntar como foram as suas férias (ninguém quis saber das minhas). Porque esse interesse é genuíno em mim. Não pretendo perder o que não está mal para ser perdido. Posso nao lhe dar o uso que esperava, mas não vai secar. Ao contrário: vou mostrar outra forma de reagir a uma situação e talvez esse exemplo seja seguido, talvez não, e prefiram ir rabiscar mais desenhos deixados por mim no quadro.

Porque vão estar rabiscos no quadro, sempre que me der vontade. Não vejo mal algum nisso.

Mas é factual e tem de se aprender a viver com as cartas que nos são dadas.
Podiam ser outras, podiam ser melhores mas também podiam ser bem piores.

Por mais que alguém nos diga que foram criados a convidar outros para partilharem as refeições à mesa, tem de se acreditar é no que se vê, não no que se ouve. Talvez tenham sido educados assim, esqueceram foi de estender o convite a não-italianos. Já os portugueses, foram criados a: " ♪ e se à porta humildemente bate alguém, senta-se à mesa com a gente  ".

Esse alguém não tem de ser português.

" ♪ fica bem essa franqueza, fica bem. E o povo nunca a desmente ♪  ".
"♫   a alegria da pobreza, está na grande riqueza, de dar e ficar CONTENTE ♪  ".

Palavras tão certas.


quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Novas inquilinas - primeiro contacto com esse ET


Hoje é o dia em que DUAS novas pessoas vão mudar-se para esta casa partilhada.


A primeira já apareceu. É a jovem cuja presença mais temia. Porque tem ligações com a histérica da casa ao lado que, no meu entender, irá aproveitar cada oportunidade que conseguir para tentar se introduzir nesta casa. Só pelo gostinho de tentar amargar a minha vida. É infantil a esse ponto. 


A outra, ainda não apareceu. É mais madura, foi a que veio falar comigo quando ocorreu uma festa cá em casa (na qual não fui convidada a participar). 


Vou descrever-vos como foi a minha "apresentação" à nova moradora:

Desci para o andar de baixo onde estava a decorrer um borburinho: a histérica da casa ao lado já cá estava a meter o bedelho. E logo meteu conversa com o rapaz que incialmente tentou seduzir. Claro, agora tem mais um novo pretexto para cá andar constantemente: a nova rapariga.

E vai aproveitar-se disso. Podem ter certeza. 

Se o rapaz podia "cortar-lhe" as asas de vez em quando, a nova rapariga, sendo rapariga e gostando de dar à língua, vai ser uma porta mais acessível à invasão que a histérica pretende fazer. E, de certo, já lhe devem ter mencionado a minha pessoa. Em que contexto não sei nem quero saber. Não podia estar menos preocupada com isso.

Mas agora vou descrever como a "conheci". 

As situações hipotéticas que daí podiam resultar, no meu entender, seriam as seguintes: 

1) Eu ia ter com ela, apresentava-me, dava-lhe as boas-vindas e esperava que ela se apresentasse.
2) Ela vinha ter comigo, apresentava-se, eu dava-lhe as boas vindas, mostrava-lhe a casa e nos conhecia-mos.


O que aconteceu, porém, foi diferente.

Eu desci para o andar de baixo, a histérica da vizinha já estava à porta a meter o bedelho, a falar com o rapaz. Não vi mais ninguém e fui para a cozinha. Vejo uma colega de casa, cumprimento-a. Encho o meu copo com água e vou para sair da sala quando uma rapariga loura e jovem, que nunca tinha visto antes na vida, passa por mim em direcção à cozinha, caminhando cheia de propriedade, e diz: "Hello".

Olhei para a minha colega, confusa, sem ter entendido se aquele "borrão" louro que passou por mim era alguém que vinha morar na casa ou mais uma das que aparecem e desaparecem. A colega fez-me sinal de que sim, era aquela a jovem que, a partir de hoje, vem para cá morar. 


Bem, acho que já deu para entender o seu grau de interesse pela minha pessoa. 

Nem se apresentou, nem parou para me cumprimentar, nem nada. Só um "olá" fusgaz e continua como se eu fosse transparente/insignificante e a casa fosse já toda dela.

Mais uma que vai juntar-se ao "grupo"? Mais uma que, por intriga da vizinha histérica já vem com o cérebro pré-programado para não querer nada comigo? Ou mais uma que, por afinidade de profissão e de idade, vai rapidamente ser incluida no "grupinho" de convívio do qual não faço parte?
Também não me interessa.
Que faça o que bem lhe entender, desde que não venha desrespeitar ou atrapalhar nada aqui dentro. 

Infelizmente vai ser esta, e não a outra, que irá partilhar o frigorífico comigo. Não sei porquê mas isso deixou-me pouco contente. Preferia a outra. Alguém que não pareça vir já pré-programada para uma certa antipatia e alguém que não seja unha-e-carne com a vizinha histérica e que acha piada a pregar partidas de "sumiço" de mantimentos dos outros. Só pelo facto de ter ligação com alguém assim e eu saber que esse alguém, mais tarde ou mais cedo, vai entrar pela casa a dentro e abrir aquele frigorífico com o pretexto de tirar algo para si com autorização da "amiga"... 

É que é bem a cara da outra, mexer nos alimentos dos outros, contaminá-los, sujá-los, sei lá...
Só sei que é algo que sei que seria capaz de fazer, achando-se muito esperta. Ia contar aos mais próximos sempre entre risos histéricos. Infantilidade maldosa. 


sábado, 7 de julho de 2018

Truques de magia caseira


Desapareceu um frasco do frigorífico. No seu lugar está outro frasco, mas aquele que me pertencia não está mais lá. Procurei em todo o lado, até no segundo frigorífico, que nunca antes tinha aberto.


Que importância tem o desaparecimento do frasco?

Fico aqui a pensar. Se devo dizer alguma coisa, ou fingir que não dei por ele ou não dar importância. São coisas pequenas como esta que podem escalar para uma convivência desagradável.


Nunca antes havia desaparecido algo no frigorífico. Coisas eram mudadas de lugar constantemente. Praticamente assim que as colocava nas prateleiras da porta, por falta de alternativa. Alguém decidia tirá-las de lá e enfiá-las à força na minha prateleira, já a abarrotar e sem espaço algum. 


Pensei estar a dividir a casa com pessoas mais tolerantes. Capazes de sustentar a presença de um frasco numa parte do frigorífico que devia ser em comum com todos.

E depois verifico pelos comportamentos que não é nada disso.

--- ---- ---- --- --- ---- ----

O problema é que, quando estive na outra casa, também desapareceu uma coisa do frigorífico. Antes de perguntar se alguém a tinha visto - pois num frigorífico partilhado alguém podia ter mudado algo do lugar - procurei exaustivamente. Esvaziei a prateleira totalmente. Procurei no outro frigorífico, por toda a cozinha e nos caixotes de lixo.

Escrevi uma nota perguntando se alguém tinha visto. Não acusei ninguém, apenas perguntei. Como resposta o objecto miraculosamente apareceu, e nele escreveram: «esteve sempre aqui, da próxima vez procura melhor».

Mas não esteve coisa alguma.

Entendi que me tinham estendido uma armadilha. Queriam fazer passar a ideia de que eu era aquele tipo de pessoa que acusa as outras do desaparecimento de algo que sempre esteve à sua frente. Uma reputação que não podia estar mais longe da pessoa que sou. Antes de perguntar por algo desaparecido, procuro-a e não levanto falsas suspeitas.

--- ---- ---- ---- --- ---- ----

Não quero estar a cair noutra semelhante. Até porque, descobri este desaparecimento dois dias depois de ter apanhado a mentora daquela armadilha dentro desta casa, entrando sem cerimónias pela porta deixada destrancada e invadindo o espaço como se fosse seu.

---  ---  ---  ---  ---  --- ---


Somos cinco nesta casa a dividir os mantimentos por dois frigoríficos pequenos. Foi-me atribuída uma prateleira. Por sinal, a menor em altura. Costumava chegar a casa toda feliz contando a todos que tinha comprado mantimentos a bom preço e os partilhava com gosto se precisassem. Nada mais natural que precisasse de um pouco mais de espaço, temporariamente. Numa dessas ocasiões em que entrei em casa e vi alguém, perguntei se havia alguma hipotese de arrumar uns congelados numa gaveta mais vazia. A resposta foi:


-Tu compras demasiada comida. Temos direitos iguais. Tu tens o teu espaço e ninguém pode ter mais que os outros".

- Ok, ok, entendi. Eu viro-me. 

Nunca pude contar com outros mesmo. Mas por a porcaria de um pequeno espaço durante um dia no frigorífico... foi a primeira.

Contudo fiquei a pensar nas suas palavras: "Direitos iguais". Espaço igual...

Onde?

Estava claramente em desvantagem por qualquer ângulo da situação.

Os dois congeladores são compostos de seis gavetas, três em cada. Somos cinco, sobra uma. Alguém tem de estar em vantagem. Os frigoríficos têm três prateleiras cada, mais uma gaveta, mais espaços na porta. A mim foi-me concebido apenas o espaço de uma prateleira. Quem está a usar a gaveta e as divisões da porta?

No wc não tenho sequer um rolo de papel higiénico. É um wc de boas dimensões, com arrumos e está cheio do chão ao armário. Nunca ninguém me apontou um espaço e disse: "esta área está designada para ti".

Portanto aquela conversa em tom acusativo dando a entender que eu queria mais para mim tirando dos outros, não podia ser mais desadequada.

 --- --- ---  --- ---

Estou a pensar não dizer nada sobre o frasco de molho que sumiu do frigorífico e no seu lugar surgiu um com pickles.

QUAL a vossa opinião?


domingo, 10 de junho de 2018

Casas e casas


Ultrapassada a má impressão que terem escondido a frigideira causou, as coisas por casa estão melhores. Nunca estiveram más mas não me sentia incluida. Não participava dos convívios deles. 

Mas já existiu uma excepção, estivemos todos juntos e foi bom.

Não me interpretem mal. Comparado à outra esta aqui é um paraíso.

Mais ainda porque os outros, da outra casa, ainda não me deixaram em paz.

semana sim, semana não, recebo emails da ex-senhoria com "problemas". 

Desta vez, inventou que furei a parede para instalar uma antena de TV. E tinha de lhe pagar por isso. 
Deve estar doida. Nunca fiz tal coisa. 

Assusta-me os estratagemas que encontram e os pretextos que inventam para me contactarem, sempre com o objectivo de extorquir dinheiro. Agora temo que, se me virem na rua, tentem seguir-me só para descobrir onde moro. Estão sempre a tentar que lhes dê o meu novo endereço. 

A maldade que vai no coração das pessoas faz com que sintam prazer em perseguir outras, em não as deixar em paz.

Já deixei aquele lugar faz três meses.
Já deviam ter-me esquecido.