Mas como explicava, o meu segundo dia ficou arruinado porque queria passá-lo em Camden, seguido de Hyde Park. Mas primeiro quis tirar um empecilho do caminho: os bilhetes para o dia. Quis comprá-los de imediato, para a seguir poder explorar a cidade à vontade sem ter de me preocupar com os horários das bilheteiras.
Já viajei sem o tal bilhete de regresso (
Day travelcard) e consegui fazê-lo por seis libras. Desde que seja fora da hora de ponta, o bilhete fica barato. Aproveitei que estava em
London Bridge para pedir informações na estação Ferroviária de lá. Mas pouca sorte... Bilheteiras com pessoas... não avistei. Tudo pareceu ficar após a cancela e aí só passas já com bilhete. Encontrei o
posto de informações mas sobre preços nada sabiam. Após tentar encontrar a entrada mais próxima para
o metro por só conhecer a perto do Hostel (cuja caminhada de acesso e no interior é longa), decidi procurar outra cujas setas indicavam para
a direita (dei muitas voltas e voltas seguindo essas setas que nunca paravam de apontar) consegui então entrar na mais próxima (mesmo em frente!!!) onde um funcionário do metro ajudou-me com a
primeira etapa da necessária burocracia do dia: carregar o
oyster card - um cartão usado para andar nos transportes em Londres. Depois, ia tratar do bilhete de
comboio.
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Tipos de Oyster Card |
O máximo cobrado por um dia de viagem em Londres usando um Oyster Card é de 6.80 libras para viagens entre as zonas 1 e 2. O que basta! Acreditem. Existem dois tipos de oysters, o azul custa 5 libras que são refundáveis e o colorido custa 5 libras que não são refundáveis. Tinha comigo 3 azuis e um colorido (além de dois verdes, mas esqueçam esses). Cada azul vale por si só 5 libras, fora o crédito neles. Para economizar, decidi manter um cartão azul e recuperar as 10 libras que valiam os outros dois. Para essa operação precisava da ajuda de um funcionário.
Um senhor na estação do metro fez isso com uma impressionante rapidez numa das muitas máquinas para o efeito de venda e reembolso. A seguir: bilhete de comboio. Caminhei novamente em direcção ao Borough Market para passar debaixo da ferrovia mas, ao parar no semáforo para atravessar a estrada, reparei que ia demorar pelo que decidi explorar outro caminho: o da rua ao lado. Big Mistake. Parece que se sai de um lugar mágico para um comum. Caminhei muito mas muito mais do que caminharia pelo atalho de Borough onde teria revisto uma paisagem encantadora. Subi uma avenida imensa (os pés já se queixavam do dia anterior) rodeada apenas de prédios altos e feios. Fui dar a Southwork Bridge, uma das muitas pontes Londrinas. Desci as escadas para o rio, onde estaria 10 minutos antes se fosse por Borough (2ª dica sobre Londres: Se tem pressa e não sabe que caminho seguir, vá atrás dos turistas).
Caminhando, caminhando... passo pelo Shakespeare Globe, pelo Tade onde paro um bocado com intenções de entrar. Já tinha essa pequena paragem programada. No dia anterior tinha passado ali e fotografado o edifício, mas o que quis mesmo fazer foi atravessar a ponte Milénio (mesmo à frente) em direcção à Basílica de S. Paul. E por isso não vi o que já sabia existir e me escapou à atenção: a instalação sobre o aquecimento Global mesmo à porta do Tate. Mas sobre isso, sairá outro post! :)
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A Ponte Millenium - somente atravessada a pé (ou skate)
Com a basílica de S. Paul ao fundo num belo dia de sol. |
Acabada a visita continuei o percurso sempre em direcção oeste, onde depressa avistei a bilheteira de comboio da estação Blackfriars e esperei para ser informada sobre os preços. Para minha surpresa e desagrado, foi-me dito que não haviam bilhetes baratos durante a semana. Qualquer um, fosse qual fosse o destino, a qualquer hora, tinha um custo de £18.90. Não pode ser! Vou perguntar noutro lado. - pensei. (3ª dica sobre Londres: Não se fie na primeira resposta, continue a perguntar, nem todos sabem dar informações completas).
Já estava a perder tempo.
Como expliquei ao senhor da bilheteira, já havia viajado daquela estação após a hora de ponta por seis libras. Como não existia um valor mais económico? Lembro-me de pesquisar na NET valores de bilhetes de comboio com partida em qualquer estação Londrina durante um dia da semana. Nessa altura os preços variavam bastante, mas existiam preços baixos. Como é que agora só existia um valor?
Atravessei a ponte Blackfriars para o outra margem. Fui à mesma bilheteira onde meses antes fui informada que, usando o oyster card, o bilhete após as 18.30h ficaria por seis libras. O senhor do lado de lá (norte) foi muito simpático e notei-lhe uma genuína vontade de ajudar. Mas a informação não era diferente, embora ele tenha prestado um melhor serviço. O preço era mesmo £18.90 para sair de Londres por comboio, ascendendo a 25 libras se incluísse viagens locais (metro, autocarro). Este funcionário ainda me deu como alternativa ficar num destino aproximado, o que diminuiria em 6 libras o valor do bilhete. Foi a melhor e única opção que escutei, mas continuou a não ser satisfatória.
O percalço estragou-me o dia.
Não ia consegui «turistar», relaxar e descontrair até resolver a situação. Não podia adivinhar que a decisão de passar uma só noite em Londres ia sair-me tão caro. Sem dúvida alguma, assim não ia compensar. 32h na cidade não valem os custos do bilhete no dia anterior, a estada no hostel mais outra despesa da mesma envergadura. Três rombos... não compensa.
Voltei a atravessar a ponte para a outra margem. O pensamento fixo no que ia fazer. Algures do lado de lá ainda estava o London Eye e quis passar pelos jardins que vão dar à atracção. Tinha como prioridade ligar-me à net para consultar os preços dos bilhetes online, habitualmente são mais baratos. Mas sem dados móveis, precisava de Free Wifi.
WIFI gratuito em Londres?
4ª dica sobre Londres: Londres não tem Wifi gratuito, nem pontos de carregamento USB. Se precisar dessas coisas, tem mesmo de pagar uma estada num hotel/hostel... Nenhuma bateria de telemóvel dura mais que algumas horas principalmente se usado para filmar e fotografar.
A nova caminhada ainda foi longa. Fui olhando para os sítios... que falta faz o típico cafezinho português que disponibiliza Wifi gratuito. Mas sabia onde ia encontrar esse Wifi. No fim da rua Queens Walk, no interior do MacDonalds. Já havia lá estado. Aproveitava e almoçava um hamburguer. Embora o meu apetite tivesse desaparecido com a preocupação.
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MacDonalds em 2014 - muito diferente do que se encontra agora,
cheio de pombos e de turistas (e parece-me, menos mesas se algumas) |
Não foi fácil. O local é muito barulhento e não existe lugar para uma pessoa se encostar. Duas horas antes tinha a bateria do telemóvel a 100%, mas neste instante andava nos 30%. Uma mensagem de erro de conecção dos serviços google surgia em pop-up a cada segundo, impedindo-me de entrar nos links que queria abrir. Pensei que estava tudo a correr "menos bem". Mas lá consegui fazer alguma pesquisa. O que não consegui foi encontrar preços mais económicos. Quando ia para escolher outras estações de partida (Londres tem tantas e já havia passado para solicitar informações a duas distintas) um segurança "pediu-me" para sair do local mais isolado onde tinha me posicionado.
Por esta altura já tinha decidido: se tiver mesmo que pagar um valor tão alto pelo bilhete de comboio (mais outro para o de autocarro após chegar ao destino) então vou economizar no oyster. Não vou andar de metro... (buáááá)... vou fazer tudo a pé. Não ia almoçar a Camden, nem procurar, pela segunda vez (embora sem grandes esforços) a estátua da Amy Whinehouse ali localizada. Nem ia fazer compras no meu supermercado favorito mas em Camden... nem ia olhar com mais atenção as muitas casas de tatuagem que por ali existem. (Eu que não gosto por aí além, estou a pensar fazer uma. Mas o local onde se tatua faz parte da experiência, pelo que o local onde gostaria de fazê-la é Camden. Até agora não me ocorreu outro. O quê tatuar e com quem... vai levar anos a descobrir. Sei que preferia 1) tinta provisória e 2) tatuagem branca - nada disso existe ainda em Camden ou por Londres, pelo pouco que pude investigar.
Adiante...
Saí do MacDonalds, dobrei a esquina à esquerda e atravessei a Westminster Bridge rumo a Waterloo - outra estação de comboios, outra ponte. A estação ficava atrás do London Eye... que já havia ultrapassado. Mas não tinha como saber até estar ligada à net.
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Waterloo station |
A caminhada até foi fácil. Chegada lá, uma estação enorme, fiquei numa fila (mais uma) e perguntei a uma funcionária se podia dar-me os horários e preços dos comboios com destino à minha cidade e a outra perto, com partida pelas 22h. Ela disse que sim, foi imprimir duas folhas de papel e deu-mas. Agradeci-lhe mas quando virei as costas percebi o quão inútil eram os papéis que me entregou: imprimiu os horários dos comboios não os valores.
E o que precisava eu com urgência, senão os valores?
Tentei novamente descobrir outros locais onde me ligar a Free Wifi mas não existe um único estabelecimento nesta estação de Waterloo a disponibilizá-lo. O MacDonalds tem wifi mas pede que se pague para aceder.
Londres = oportunismo.
Já era tarde. Tinha de fazer algo para aproveitar o dia. Decidi então caminhar até Hyde Park. Rumo à tão falada Winter Wonderland. Se aquilo fosse giro, podia demorar-me por lá até às 22h e depois seguia para Victoria Station - outra estação ferroviária, a principal. Ali podia também apanhar um coatch (camioneta) para o meu destino. Custaria menos (cerca de 10 libras) mas ia demorar quatro vezes mais tempo a chegar. Porém, estava decidida a economizar desse por onde desse. A prova disso era a minha determinação em andar, andar, andar...
Sem me cansar. Os pés, esses, coitados... estão habituados a bolhas e desconforto de sapatos. As pernas, não podia desejar melhor: portaram-se muito bem. Caminhei sete horas seguidas a bom ritmo, tirando pequenas pausas como a do MacDonalds. Senti que podia caminhar outras sete.
O que aconteceu quando finalmente alcancei o Hyde Park, já vos contei no outro post. Quero que percebam que saí do hostel às 9.30h, dediquei algum do meu tempo no museu Tate mas o objectivo foi sempre comprar os bilhetes para ir almoçar a Camden, entrar nos canais e "navegar" até Hyde Park. Porém, por esta altura já eram umas 15h...
Finalmente, em Victoria, eram 17h quando recebi a informação que precisava! Se depois da hora de ponta usasse como forma de pagamento o contacto por cartão, a viagem fica por metade do valor que me foi indicado o dia inteiro.
Estava certa! Se me tivessem dito isto logo pela manhã, teria aproveitado Londres. Teria relaxado e gasto mais dinheiro em atracções, comida, tinha usado o Oyster card... Mas como me disseram um valor de bilhete de comboio tão alto, a mente sintonizou-se de imediato na necessidade de poupar.
Londres não se ajuda a si mesma...
Ou os caminhos-de-ferro não ajudam Londres.