Ainda não expliquei mas o trabalho que faço é considerado "masculino", porque é de músculo e força. Costumava ser só para homem mas nos dias que correm, a coisa tornou-se mais homogeneizada. Mas nem por isso, aceite por todos.
Não é fácil vingar como mulher num ambiente "de homem". Simplesmente porque alguns são incapazes de ver as mulheres como iguais. Tentam agir como se nada fosse mas, a postura, a falta de interesse, o afastamento... muitos são os sinais que indicam quais são aqueles que acham que as mulheres não pertencem naquele universo.
São os que não se sentem confortáveis em partilhar tarefas com elas. Muito menos receber ordens. Procuram sempre gajos. Para estar, para relaxar, para fofocar. A camaradagem masculina pode tornar-se um obstáculo ao trabalho da mulher. É com gajos que se sentem confortáveis. Mas não com todos! Porque se querem que vos diga, acho-os bem mais intriguistas e venenosos que elas. Estão sempre a falar mal de um outro qualquer.
Na primeira semana de trabalho, encontrei um outro temporário que me deixou deprimida. Dizia-me que aquela função "não era para mim" e tratava-me como "mulher", dizendo-me onde ele achava que eu devia trabalhar e como não era capaz de executar tarefas «masculinas». Era só de boca que era progressista. Era péssimo comunicador, atrapalhava o serviço, encostava-se, estava sempre a tirar uns minutos para descansar, para ir beber, para ir ao WC, para falar ao telemóvel... Era autoritário e diminuía-me, ao mesmo tempo que afirmava que jamais fazia isso com as pessoas. No fundo, um misógino. Não tive de o suportar por muito tempo. No final dessa mesma semana, foi demitido. Apareceu logo outro, que muitos julgaram pateta pela aparência, mas que a meu ver, foi uma pessoa que soube aprender rápido e trabalhar em equipa em total sintonia. Nunca fez corpo mole. Entretanto, a semana passada também foi dispensado. Não por não ser bom, mas por não ser o suficiente para tudo o que dele pretendiam e não precisarem de mais pessoal. Lamentei. Valia mais do que dois da casa juntos.
Quanto ao despedimento do primeiro, achei que era a boa providência a mudar a minha sorte. Mas ele não estava sozinho nessa de fingir que defendia o direito à igualdade laboral das mulheres. Um outro colega, ex temporário mas entretanto contratado, já se sentia muito à vontade com ele. As conversas que mantinham eram sobre o temporário vir a receber um contrato de trabalho para ficar na empresa. O mais velho alimentava-lhe a esperança e o mais novo até deixou de fazer uma viagem familiar para se despedir de uma muito querida tia que o criou e havia sido diagnosticada com poucas semanas de vida. (a tia que morresse sem o ver, grande apreciador da vida da mulher....).
Senti que devia ter cautela com esse colega que estava afeiçoado ao que foi mandado embora. Achei que ficou ressentido comigo por uma semana. Por eu ter ficado e o outro ter sido escorraçado. Tentou disfarçar, mas estava na postura, nos suspiros, no que fica implícito. Como se eu tivesse responsabilidade na partida do outro. Era como se conseguisse ler na sua mente: "porquê que ficou ela e ele foi embora?".
Para ser sincera, fiquei surpreendida por o terem demitido. Ele pareceu tão integrado, que julguei que ia conseguir os seus intentos. Mas afinal, com apenas uma ou duas semanas de trabalho, quem causou boa impressão fui eu. Na semana seguinte já estava a escutar o chefe a dizer-me que pretendia me manter.
Claro que eu sei que o que ele diz não é garantia de coisa alguma. Basta alguma coisa mudar, e tudo pode desmoronar-se. E hoje quase que foi esse o dia. Viver num universo "masculino" também é lidar com todo o tipo de gente. No geral, há pessoas muito estranhas e outras, algo se não mesmo, completamente mentalmente desequilibradas.
Como trabalhadora provisória, se eu estiver envolvida em algum distúrbio, sou corrida dali para fora. Ainda assim, hoje decidi colocar um ponto final numa situação que já se alongava fazia muito tempo. Na categoria dos mentalmente perturbados, um colega que ali trabalhou cinco anos antes e regressou há uns meses, já tendo sido também contratado, mostrou logo que não lhe agradava que lhe dissessem fosse o que fosse sobre a forma de executar qualquer tarefa. Podia não saber ao certo o que estava a fazer e atrapalhar o serviço todo, mas não escutava quem tinha recebido instruções da boca do chefe e descaradamente ignorava-me quando lhe tentei transmiti-las. E depois fazia "porcaria".
Quando ele aparecia para se intrometer numa tarefa que eu já iniciei, atrapalhava mais do que ajudava. Quando o trabalho árduo de puxar, empurrar, esticar, empilhar já foi feito, era quando ele surgia para "ajudar". E assim que se tornava necessário voltar a usar algum músculo, evaporava-se de imediato. Além disso, era notório que eu produzia o triplo dele, calhava-me todo o trabalho duro e ainda ia refazer o trabalho por ele mal feito.
Percebi que estava a pisar em ovos com ele, mal lhe falava ou ousava partilhar como fui instruída para executar uma tarefa. Por intuir que ia despoletar raiva nele. E isso não é justo para mim. Eu mereço ter um colega que sabe escutar e responder. Uma pessoa que sabe trabalhar para um propósito comum e em equipa. Que foi o que tive até dispensarem o tal que mencionei acima.
Hoje, com o "mentalmente perturbado" sempre a aparecer para usurpar por momentos breves o trabalho sempre na parte mais fácil e cómoda, tive de lhe dar instruções. Fui simpática. Perguntei-lhe qual das duas funções queria executar e disse:
-"Eu mostro-te como se faz".
Resposta e atitude:
Arranca da minha mão o objecto e diz com desdém: "Eu sei como se faz!" - num tom de: "Não te atrevas a dizer-me como se faz o que eu sei fazer melhor que tu que acabaste de chegar e eu já estou aqui há anos".
É nisto que por vezes dá, ser mulher num «mundo de homens».
Depois ainda me gritou:
-"Não me digas como fazer o meu trabalho!"
-"Não me digas como fazer o meu trabalho!"
Foi o ponto decisivo. Se eu não actuasse nesse instante, ia ser humilhada e pisada todos os restantes. Já vivi bulling anteriormente. Falei muito disso em posts a rondar o ano de 2017. E estava mesmo a ver para onde isto ia dar. Não podia permitir.
Disse que não trabalhava com ele e que podia fazer o trabalho sozinho. O chefe estava na sua hora de almoço, pelo que tive de aguardar. Entretanto, fui procurando o que fazer, desabafei com um colega português que está lá na firma e com um outro... porque não dava. O tipo era mal educado comigo desde o início. Nem os bons-dias me retribuia. Virava o rosto sempre que lhe falava, por vezes fingindo não me escutar. Ignorando-me quando lhe fazia uma pergunta.
Quando finalmente vi o chefe, apenas lhe disse:
"A coisa não resultou comigo e ele".
"A coisa não resultou comigo e ele".
-"Mas tem de resultar." (mensagem nítida e clara).
O chefe foi ter com ele e perguntou-lhe diretamente se este tinha algum problema com a portuguesinha. Ter "lavado a roupa suja" na frente do chefe foi necessário. Não disse todos as atitudes que ele teve comigo. Não era esse o objectivo, nem teria sido capaz. A pesar da minha postura calma, e voz tranquila e pausada, eu estava a tremer por dentro.
Mas o chefe foi claro quando lhe disse que sabia que se algo acontecesse, era eu que era mandada embora. "infelizmente sim" - responde-me ele, no que me pareceu já uma coagitação.
Detesto este tipo de situação. O trabalho é o único lugar onde adoro estar. Sou feliz lá, não penso noutras coisas, tudo é simples e sem preocupações. Não quero que vire um sítio de guerrilha e mal estar.
Quando fui para a pausa, decidi falar com o "doido". Disse-lhe que não tinha problemas com ele, mas que ele me passava a sensação de os ter comigo. Começou a contar-me que só tem problemas, que discute com a mulher todos os dias quando sai do emprego e basicamente, contou-me quase a vida toda, desde criança a sofrer de violência física até chegar ao papel de pai e padastro, onde executou a violência física. Ele não percebe que tem tanta raiva dentro dele e que só ele a pode exorcizar. Enquanto isso, torna a vida dos outros o mais miserável possível. E responsabiliza o enteado de 14 anos pelos problemas que tem. Chora a morte trágica mas indolor da primeira esposa e do filho, mas espancou o que lhe resta e recusa-se a aceitar a ideia de que um menino de 14 anos precisa de alguém que lhe dê um rumo, não porrada.
Senti que fizemos as "pazes". Mas também sei que ele não é estável. Pode virar a qualquer instante. Por isso mesmo, por estar a lidar com uma pessoa com tanta raiva e instabilidade psicológica, não podia mostrar-me vulnerável, muda, a aguentar a atitude dele. Porque aí ia tornar-me mais uma na sua lista de vítimas. Eles devem "cheirar" quem tem talento para isso. Só que eu travei a situação antes que o mal se alastrasse. Correndo grandes riscos. O risco de perder o emprego.
Quem está ali como temporária, não pode levantar ondas. Nem mesmo quando o chefe lhe diz que a quer manter. Nada está garantido. Só um contrato garante que não serás demitido. Por isso tantos o querem. É de lamentar, contudo, que assim que o obtém, acabam por se revelarem maus trabalhadores e má gente.
Na sexta-feira, o colega que se-foi, usou do plural e meteu-nos no mesmo barco. O chefe ainda não tinha falado comigo, pelo que eu lhe disse que ainda não me tinha sido dito nada. E ele, certamente, transmitiu o que pensou - que ambos iamos ser dispensados - ao C - o tal homem que havia criado uma cumplicidade com o primeiro demitido. o C. uma vez chegou-se até mim e disse: "Deve ser bom saber que tens trabalho por mais uma semana".
Percebi de imediato que a ideia não lhe agradava. Respondi: "Vim para aqui com a impressão que isto é para durar muito mais".
Ele pensou que mais semana, menos semana, eu seria dispensada. Mas está a ver os seus compinchas a irem e eu a ficar. Sobre a impressão que eu tinha sido demitida com o que foi na sexta, na segunda, quando me viu a caminhar até à empresa, afastou-se, fingindo não me ter percebido. Até comentei entre dentes: "Não gostaste de ver a minha cara foi?? Temos pena!".
A postura foi mesmo essa. De espanto e incredulidade. Ele já me quis fora quando o primeiro se foi. Agora foi-se um segundo e eu não fui junto... Não me cumprimentou quando passei pelo sítio do costume, onde costumadamente costuma-se cumprimentar. Também fingi não perceber, já que se ocultou a um canto. Pouco depois vi-o entrar no edifício, ir para o interior, regressou, bateu nas costas do colega que estava a falar comigo e disse: "It's all done" (Está tudo feito). Saindo novamente. Não me cumprimentou, nem sequer me olhou na cara.
Mais tarde, por não o ver por perto, perguntei pelo seu paradeiro.
"Foi para casa, não se sentiu bem".
Desculpas. Deve ter existido algum conflito entre ele outros, porque está sempre a controlar e a cochichar. Sube de fonte meio segura, que planeiam tirá-lo de onde está. Ele deve intuir que tem a ficha "queimada" e teme tudo e todos. Teme-me a mim, porque me percebe capaz. Mas não me considera capaz. Sou mulher. Sou mandona, sou estúpida, tenho montes de defeitos.
Ele foi embora para casa porque me viu chegar! O outro disse-lhe que ambos tinhamos sido demitidos.... E eu apareci-lhe à frente. Deve ter percebido que mudanças estão para vir e, para "castigar" a entidade patronal, ficou "doente". Afinal, ele deu uma pancadinha nas costas do outro e foi-se com um "já está feito".
Na semana anterior tinha tirado três dias, um mês antes outro dia...
Quem tira dias, quem fica doente - sempre depois de assinar contrato, claro - está a baldar-se ao trabalho, sabendo que é remunerado à mesma. Acho feio.
No seu subconsciente deve ter pensado:
"Sem mim quem vai arranjar a máquina? Vão ver a falta que eu lhes faço".
"Sem mim quem vai arranjar a máquina? Vão ver a falta que eu lhes faço".
Só que não fez nenhuma. Mesmo.
Para quem trabalha ali faz uns oito meses, acho incrível como há tanta coisa que ainda não sabe como funciona, que ainda não memorizou, que ainda tem de ir a correr perguntar. São quase sempre estes aqueles que não gostam de trabalhar na companhia de mulheres.
Agora imagine-se se este fizesse "parelha" com o "doido" e ambos decidissem sabotar o meu trabalho. Porque achei que era isso que estava a acontecer. Eu fico mal vista, sem conseguir produzir em condições, por estar a ser sabotada por dois idiotas. Por essa razão também, expor-me como alguém que não vai admitir que lhe pisem "os calos", previne futuras investidas.
É melhor causar um pouco de distúrbio logo de início, do que para o final, e perder um investimento de meses numa expectativa de contrato.
Assim sabem o que têm e melhor para eles se souberem valorizar.
Porque eu tenho valor.
E sinto que ali conseguem ver isso. Pelo menos quem interessa.
E sinto que ali conseguem ver isso. Pelo menos quem interessa.
se nós não conseguir-mos nos entender, então eu terei
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