No Domingo, o telefone tocou no meio de uma depressão. Fui ver quem era. Era de um amigo com quem falo de vez em vez e com quem estive presencialmente apenas duas vezes ao longo da vida. Não ia para atender, porque sentia-me miserável. Queria que me deixassem estar. Mergulhada nos meus pensamentos, dor e lágrimas. Mas depois senti que tinha de honrar o facto daquela pessoa estar a ligar-me e disse a mim mesma: "Não. Está errado. Atende".
Atendi. Desejou-me os parabéns e conversámos um pouco sobre trivialidades.
"Mas está tudo bem?" - ele sempre pergunta.
-"Está" - eu sempre minto.
Conheci uma nova colega no emprego que logo quis fazer amizade comigo. Colou-se a mim como uma "lapa". Mal cheguei, já ela lá estava à minha espera. Tinha tido conhecimento que havia uma portuguesa a trabalhar no local e estava ansiosa para que eu aparecesse. "Vem comigo" - disse-me ela várias vezes enquanto executando o trabalho. "Vou à casa-de-banho, vem comigo". "Temos de nos unir, vamos trocar números de telefone". "Eu quero trabalhar sempre contigo". "Mas tu não trabalhas amanhã? E quando voltas a trabalhar?".
Geralmente não gosto disso, embora não incomode na altura e de tudo faça para integrar a pessoa e deixá-la a sentir-se à vontade. Já a respeito das mensagens e telefonemas que surgem depois costumo achar em demasia e isso já sinto um pouco incomodativo.
Mas decidi encarar tudo de forma diferente. Decidi ser eu a entrar em contacto com ela e mostrar-me prestável também fora do convívio no local. Ela sente-se sozinha, não fala bem o inglês mas sabe falar português. Não me pareceu nada uma criatura frágil e desamparada. Bem pelo contrário. É ambiciosa, mal chegou já quer o que não pode ter. É mulher quase cinquentona, mas toda boazuda (com tudo o que me aflige que esteja já para baixo, ainda bem lá em cima). Notei de imediato que todos os homens ali à volta estavam a babar nela, olhando-a de baixo para cima como se os olhos fossem um scanner. Ela não é burra, toda a mulher sabe quando recebe olhares e um homem lhe fala daquela forma "especial" querendo agradar e ser espirituoso. E tirou partido. Foi sedutora com todos, como se a todos conhecesse há muito e não apenas naquele dia! Curiosamente, nessas ocasiões não se atrapalhou com o inglês.
Mas sente-se desamparada e procurou-me. E eu vou honrar isso. Não a vou julgar pelos efeitos que causa nos homens nem pela forma como também os seduz. (Eu até gosto de Rebeccas..) Só uma coisa me ocorreu: temo que seja daquelas pessoas que, depois de ambientada, já não tem serventia para ti então descarta-te.
Mas vou dar um voto de confiança e não julgar antes de viver as situações. E faço-o por mim, por achar que é esse o caminho que preciso de seguir. Sou boa pessoa, mas saberei mostrá-lo em qualquer situação?
Faço-o também por precisar de restaurar a minha fé nas pessoas e na reciprocidade dos bons actos, principalmente depois "dele".
Faço-o também por precisar de restaurar a minha fé nas pessoas e na reciprocidade dos bons actos, principalmente depois "dele".
Também contactei uma outra pessoa, com quem falo com regularidade. Hoje avisei-a por mensagem que se telefonasse para a empresa, conseguia marcar uns turnos (funciona muito à base de primeiro a ligar, consegue trabalhar). Ela conseguiu trabalho, o que já não acontecia há três semanas. Telefonou-me a agradecer.
E é assim....
Estou a dar-me aos outros.
É o que me apetece fazer.
Estranho caminho para quem se sente despedaçada na alma e tão vulnerável a pensamentos fúnebres.
Vou ser a rocha sólida, o farol, de quem precisar e de quem conseguir ser. Estando a precisar dessa mesma luz. É dar para receber.
Sejam felizes.
Que fixe estares a trilhar caminhos novos. Acho óptimo reconheceres o que precisas e tentas fazer diferente (quer-me parecer). Uma vez alguém me disse algo que nunca esqueci: "give chance a chance" é dar uma oportunidade às oportunidades da vida.
ResponderEliminarInfelizmente na minha vida, estou num outro processo. Acho que é nos momentos alegres que também se vê os amigos e isso também é muito difícil. Um destes dias escrevo sobre isso.
Escreve. Ia gostar de ler.
EliminarAs amizades também se cultivam. Se não as alimentarmos morrem.
ResponderEliminarTem toda a razão.
EliminarObrigada pela visita.
Antes mais parece-me que passou mais um aniversário e por isso os meus parabéns. Depois, parece-me bem a interação com a outra mulher, ninguém é uma ilha, todos precisamos de amizades, mas hoje em dia, neste mundo de competição e egoísmo, elas são tão raras quanto preciosas.
ResponderEliminarAbraço e bom fim de semana
Deviam existir mais pessoas como a Elvira.
EliminarTão doce, perspicaz e boa gente.
Já a vou visitar!
Quero conferir se as novidades batem certo com o que todos lhe desejamos.
Boa semana!