sábado, 7 de março de 2020

É de ir à lua e voltar


Comprei uma embalagem de gelado só porque tinha o nome dele. É como se, ao degustá-lo, pudesse de alguma forma senti-lo perto de mim. Não resultou. Também não queria que resultasse. È daquelas coisas que ainda se fazem, sem contar a ninguém.


Mas aqui estou eu a revelar esta idiotice (são só as mulheres que agem assim??) porque aos poucos, parecem existir sinais por toda a parte indicando que ele não era para existir. Muita coisa mudou, logo depois de o conhecer. Coisas que não esperava, não contava que viessem a mudar. 

No mês seguinte, já não usava o telemóvel com que ele me viu tantas vezes. O quarto foi ampliado. A parte que dediquei a ele nesse espaço - a minha lembrança secreta à frente de todos - foi sendo removida por pura casualidade. O senhorio precisou substituir o móvel onde coloquei essa lembrança. Mudei-a de sítio para um lugar daqueles que ninguém substitui e, subitamente, também foi preciso trocar esse elemento por outro. É como se tudo relacionado com ele estivesse intencionalmente a ser removido da minha vida. 

E o que é pior, o que me levou de volta às lágrimas: constatei que desapareceram todas as imagens daquele tempo. Não só as dele, mas todas, do lugar, dos colegas... Podia jurar que as tinha guardado no disco rígido externo onde coloco tudo. Sabia-as ali, para aceder.  Apeteceu-me olhar para o seu rosto, para descobrir se não mexia com nenhuma emoção cá dentro. A perda dessas imagens devastou-me!! Não entendo... eu nunca apago nada, tiro fotografias a tudo. Até tinha-as em duplicado.

É como disse: Há uma força invisível de afastamento e começou a actuar naquele dia.

Eu até já tinha começado a julgar que o melhor era convencer-me que imaginei tudo. E que nada aconteceu. Ele não existiu, nunca esteve aqui, nunca nada nunca. Pronto. Parece que é o que estas forças querem. Eu não nasci mesmo para ter uma hipótese de felicidade ao lado de alguém.

E onde entra o gelado nisto? Dentro do congelador, a embalagem parece ser o que mais atrapalha. Volta e meia, preciso do espaço que ocupa. Mas não a tirei. Até hoje. 


É que fui ao céu e vim, quando coloquei na boca este gelado da Magnum. As pupilas degustativas deliciaram-se com o recheio de chocolate...

Deitei fora o outro, o da embalagem com o nome dele. Magnums de chocolate no seu lugar! (Sorte ele não se chamar Magnum, ou nunca mais ia poder olhar ou provar um)

Até o invólucro envolvendo o gelado é bonito!

É como se tudo o que fiz para me lembrar dele estivesse a ser empurrado para fora da minha vida por uma força cósmica. Só eu, só a minha mente, emoções e o que me resta de desejo, ainda luta contra.  

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