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sábado, 10 de julho de 2021

Um testemunho à quarentena (isolamento) e o que penso do levantamento

Daqui a nove dias, a 19 de Julho, o governo Inglês vai decretar o fim da não-recomendação de viagens a países na lista ambar (Portugal). Também vai deixar de impor uma quarentena de 10 dias no retorno ao UK - desde que a pessoa tenha completado as duas doses de vacinas.

Como é de conhecimento geral, por esta altura, já quase todos estão totalmente vacinados. O governo antecipou a segunda dose da população exatamente para esse fim. Que fim? Dar início à recuperação da economia. Sim, porque se fosse pela saúde, com os casos de COvid a aumentar em flecha e o surgimento de novas variantes do virus ainda mais transmissíveis - como é que alguma vez esta decisão faz sentido??

Antes de mais, quero aqui deixar o meu testemunho sobre o que foi, para mim, viajar cumprindo as actuais regras de imposição de isolamento à chegada. 

E o que penso do facto destas serem levantadas.

1) Fiquei com a sensação que se tratou muito mais de um negócio do que de uma legítima preocupação com a saúde. Se nada mais o provasse, esta decisão de levantamento de restrições numa altura em que os casos aumentam de Covid aumentam bastante em todo o mundo, em particular no UK, dissipam quaisquer dúvidas.

2) Existiu muita intimidação e tom de "ameaça" (bem ao estilo Inglês) avisando das consequências caso as regras de isolamento não fossem cumpridas. Multas elevadíssimas, pena de prisão. Achei isso ridículo - subitamente transformarem as pessoas que só pretendem viajar em criminosas e fazerem ameaças. Para semanas depois - isso já ser irrelevante. 

3) O dinheiro extraído do viajante não foi nada mais do que VERGONHOSO. Faz sentido dizer que nos fazem sentir como se estivéssemos num processo de extorsão.

 * Exigiram um teste PCR até 72h antes da viagem de ida. Custo médio: 100euros
 * Exigiram um teste PCR até 72h antes da viagem de volta. Custo médio: 100euros
 * Exigiram um isolamento domiciliar de 10 dias com dois testes PCR. Custo médio: 200euros

Esta regra de isolamento com a exigência de  DOIS TESTES ao covid é absurda.
Descaradamente uma forma de extorsão. Já não bastassem os 200 euros gastos nos PCRs antes e depois da viagem, o isolamento, ainda era realmente preciso mais dois PCRs? Para quê? Só se for para encher os bolsos aos laboratórios! Depois das máscaras de rosto e do gel desinfetante vendidos a preços exorbitantes, agora vêm os Kits de teste ao Covid.  

Nem pessoas anteriormente DIAGNOSTICADAS com COVID 19 tiveram de fazer testes durante o seu isolamento de 10 dias. Minha amiga, que apanhou em Novembro passado, foi mandada se isolar junto com a família por apenas 10 dias, período após o qual ela, o marido e as filhas puderam sair. Não tiveram de fazer um único teste ao covid depois disso!

Como podia o governo garantir que estas pessoas - sem serem sujeitas a testes - já não tinham o virus e não iam contaminar outras? E o que é pior: na altura a quarentena era suposto durar 15 dias. A dela foi logo reduzida para 10.

Eu vou viajar negativa, regresso negativa, e ainda tenho de fazer quatro testes e pagar do meu bolso! Parece-me que, num caso positivo, é ainda mais URGENTE efectuar testes. Eu sou um caso negativo, isolo-me em casa por 10 dias, e isso não basta porquê?

O que fez o governo impor a obrigação de DOIS testes ao COVID durante o isolamento?
E agora retira-a! 
Que cara-de-pau.

Essa imposição era tão incontornável que, para viajares, tinhas de ter o Kit de teste ao Covid já comprado. A compra fornece uma referência e essa referência é necessárias para completar com sucesso o preenchimento do passenger allocation form (formulário de passageiro), sem o qual nenhuma companhia aérea te deixa embarcar no avião. 

Essa compra foi tão imposta, como se não bastasse por ser obrigatória antes da viagem - como o governo disponibilizava um link no formulário com centenas de contactos de laboratórios espalhados por todo o Reino Unido, encarregues de vender esses Kits. Foi muito fácil encontrar onde comprar. O difícil era saber qual escolher, tal era a dimensão impressionante da "oferta".

Eu carreguei num ao acaso - o primeiro da lista. E até hoje estou à espera que me enviem o Kit de teste ao Covid para o dia 2 e 8 de isolamento. Gastei 155 libras - quase o equivalente em euros. 

Como já revelei noutro post, o custo da deslocação a Portugal foi muito acida do que podia ter sido. 

Para uma viagem de avião de ida e volta - terminei por adquirir CINCO passagens.
Para uma viagem de ida e volta ao UK - fiz QUATRO testes PCR, um antigenio (para não gastar mais 100 euros noutro PCR) e vários auto-testes. 

Se era preciso IMPOR QUATRO PCR testes? 
Acho que não! Definitivamente não. 
Sabiam muito bem que isso implica a compra de QUATRO testes por pessoa. A 100 euros cada teste (preço mais barato), só uma família gasta um ABSURDO para estes testes ao COVID. Parece-me a mim que estavam mais interessados em CASTIGAR a pessoa que persistisse em viajar. Impondo estes gastos absurdos.

E para quê?
Para ao final de três semanas, com casos a aumentar ao nível vermelho, levantarem tudo.

Vai lá viajar! Não te preocupes!
Vai... agora que os casos positivos estão alarmantemente a aumentar como já estás vacinado - vai. Expõe-te. Precisamos saber se a vacina é eficaz. Vai lá, cobaia. Se morreres saberemos.  

quinta-feira, 24 de junho de 2021

O Negócio do COVID


Viajei para Portugal no dia em que se soube que o UK ia colocar o país, na terça-feira seguinte, na lista ambar. O que significa que o meu regresso não seria mais efectuado com Portugal na lista verde. As implicações são grandes - e daí as correrias de estrangeiros em Portugal para o aeroporto. Pessoas que tiveram de encurtar as suas férias porque não poderem dar-se ao luxo de permanecer em isolamento. 

Essa é a condição de ter um país na lista Ambar de viagens. Ao chegar ao UK, tem de se efectuar um isolamento de 10 dias à chegada

Pensam que é só isso?

Não. Não é. As implicações são maiores.

PRIMEIRA FASE

Para embarcar do UK para Portugal, é preciso efectuar, no máximo até 72h antes da partida, um teste negativo ao Covid. Não é qualquer um teste que é aceite, só o PCR. Custam 100 euros.

 Sabendo que no regresso vão exigir outro, calculo que outros 100 euros serão gastos. No total, 200 euros só em testes ao COVID. Um investimento que achei que valia a pena, visto que sentia falta de Portugal. Saudade e necessidade de voltar a estar sobre a luz de Lisboa, já tão distante e a cair no esquecimento. Tirando esta necessidade física e sensorial, outros motivos mais importantes tornaram a viagem essencial. Burocracias que não consegui resolver à distância, como renovação de documentos de identidade e urgências médicas. 

Pisei na minha terrinha com tudo encaminhado. Só tinha de aguardar DUAS SEMANAS para a renovação dos documentos de identidade na loja do Cidadão. Mas era tempo demais. Bóris Johnson ia revelar, dia 21 de Junho, novas medidas. Temi que ele fosse fechar o espaço aéreo, tal como o fez no ano anterior. Bem organizado, podia suportar os 10 dias de isolamento de modo a não me prejudicar com o emprego. Este é oscilante, variável, pelo menos essa realidade permite-me viajar. Escrevi um email ao serviços de Notariado da loja do Cidadão a pedir (a explicar) porque necessitava de antecipar a data para algures antes do dia 21 - altura em que o Boris Johnson, PR do UK, ia anunciar novas medidas. 

Todos têm medo das decisões do Bóris, porque foram sempre não benéficas e põem todos a correr desesperadamente de um lado para o outro, frustrados por terem os seus planos arrasados. No Verão passado, apenas duas semanas depois de ter decidido abrir o espaço aéreo a Portugal, Bóris anunciou que o ia voltar a fechar.  (lembram-se???).

Eu lembro, porque fui uma das pessoas que correu para o aeroporto para comprar um bilhete - que quase não encontrava em lado algum, muito menos um directo para o aeroporto de meu interesse. Lá consegui com uma companhia aerea na qual nunca tinha viajado ou ouvido falar. Foi a minha salvação, e custou-me pouco mais de 200 euros.

Desta vez, e tendo ele acabado de meter Portugal na lista ambar, temi que voltasse a fechar o espaço aéreo. Todos os naturais e emigrantes trabalhadores que não podiam se dar ao luxo de 10 dias de isolamento já estavam no país, a contribuir para o PIB. Os que ficaram para trás, naturalmente seriam os reformados, os jovens em férias, os "menos úteis".  

O que ia impedir Bóris de fechar o espaço aéreo, que esteve, inclusive, PROIBIDO a viagens não-essênciais? 

Por isso pedi à loja do cidadão encarecidamente para me anteciparem a data em que me poderiam atender, imaginando que haveriam desistências. A resposta foi imediata e a marcação foi antecipada uma semana antes da data inicialmente prevista. 48h antes da temida terça-feira das decisões: dia 21 de Junho de 2021. 

Foi então que antecipei a viagem de regresso para o dia 20. Teve um custo adicional de 60 euros.

A estada em Portugal foi prolífera: consegui ir ao dentista, tratar de assuntos nos bancos, actualizar os meus dados, recuperar um investimento expirado em certificados de Tesouro que tinha realizado seis anos antes - quando os media fizeram um grande alarido sobre aquele ser o último ano em que as taxas de juro valiam a pena e depois tudo ia mudar. Descobri que o dinheiro seria depositado automaticamente na minha conta - uma conta que entretanto foi fechada - exatamente por volta do ano do investimento. 

Quis então saber para onde foi o dinheiro - já que não o recebi. O assunto pareceu-me complicado - com a pessoa a me dizer que o dinheiro foi transferido. Eu já a pensar que a Caixa Geral de Depósitos aceitava dinheiro em contas inexistentes, a imaginar a burocracia que daí advinha, mas tudo se resolveu em segundos. Assinei uns papéis e aguardo que a quantia seja depositada na conta - que convenientemente é nos correios. Não sei se é por isso que facilitaram, não entendo as implicações. Mas posso dizer-vos uma coisa: estou satisfeitíssima com o banco CTT. Nunca nenhum outro banco foi tão simplista e menos inconveniente. Não só não me enchem de marketing, não tentam impingir-me este e aquele serviço, seguros de saúde, investimentos de poupança - NADA. Talvez o facto se explique com quantia baixa que lá tenho. Ainda assim, não me massacram.

O mesmo não posso dizer com a Caixa Geral de Depósitos ou o Santander - que exatamente por não verem grandes números na conta, arranjaram maneiras de me fazerem pagar extras. O Santander então foi asqueroso. A mulher que me atendeu, irascível e abrasiva no trato, chegou mesmo a dizer-me que não tinham interesse em manter contas de clientes como eu.

Uau! 

Voltando ao tema central: O custo de uma viagem de ida e volta do UK para Portugal tendo o Covid como restrição. O que eu não entendi bem nas regras de Portugal ser colocado na lista de países AMBAR, significando que 10 dias de isolamento serão exigidos - é que TINHA DE COMPRAR ANTECIPADAMENTE um outro teste ao Covid-19 para o dia 2 e dia 8 após a chegada. 

Três dias antes da partida para o UK fiz um teste PCR ao Covid. Custo? 100 euros.

Na manhã da partida, não me deixam embarcar. Faltava-me o papel de passageiro. Tinha-me esquecido disso! Como? Não sei. Pensei ter passado tudo a pente fino. Mas não seria difícil preencher um na hora. Afinal, considero-me PIONEIRA, pois o ano passado, cumprindo à risca o que o site do Governo dizia, preenchi às pressas um desses documentos, na altura do êxodo antes que o espaço aereo fechasse, e depois ninguém mo pediu! Fui eu que o mostrei aos serviços de Fronteiras ao chegar ao UK, perplexa que ninguém mo tivesse solicitado em todas as etapas anteriores.

Anyway...

Desta vez, sem esse papel nem embarque fazia. A Easyjet foi bastante clara. 

Passager location form

Seria rápido preencher e poderia mostrar o comprovativo online. (Graças a deus pela internet, a tecnologia e os smartphones). Estou no aeroporto com o check in feito dias antes, pronta a deixar a mala de porão e já a ter de correr para embarcar a tempo.... tendo que passar pela morosa segurança... e perder tempo caso me separem as malas depois de passarem pelo raio-X...

Mas ainda dava tempo. Comecei a preencher aqueles infindáveis dados... até que chego à realização de que se não comprasse um KIT ao teste ao Covid simultaneamente, o passager location form não seria concluído e finalizado

E sem este preenchido, não me deixavam embarcar!

Era obrigatório a compra antes da viagem. 

Não sabia. Pensei que ia comprar o kit à chegada no aeroporto. No mesmo laboratório onde fiz o teste para partir, que fica, convenientemente localizado a dez passos da saida de passageiros. Às pessoas que perguntei informações antes de viajar, só me souberam dizer que não sabiam, que tinha de consultar o site do governo. O que fiz. Mas de alguma forma, esta noção de compra antecipada ou simultanea não surgiu. Para ser sincera, acho que não está bem explicada. Porque poderia tê-la comprado antes mesmo da viagem, caso soubesse que não podia comprá-la no regresso. 

O site do passanger location form fornecia um link com inúmeros, centenas na realidade, de nomes de LABORATÓRIOS que providenciavam o KIT. Carreguei no primeiro existente, estava com pressa. Tanta pressa.... E muito calma para a urgência com que deparei. Depois de colocar os dados do número de cartão de Débito, etc, etc.. carrego para finalizar e não é permitido. 

Fico atónita. Tento cinco vezes mais. Os minutos a passar, a consciência de que teria de correr para a porta de embarque... Até que li com atenção a mensagem que surgiu cada vez que tentei comprar o Kit e não deu resultado: "NÃO PODE COMPRAR O KIT NO MESMO DIA DA VIAGEM".

A sério???
Então era inútil. 

Nunca que alguém que não preencheu o formulário antecipadamente ia conseguir viajar. Estava eu mais outras três pessoas, estrangeiras, inglesas, na mesma situação. Agachados no chão do aeroporto, encostados num pilar, a tentar finalizar aquela operação. 

Para quê? Se não se podia COMPRAR o kit sem o qual não se completa o formulário?

Falei com o funcionário da Easyjet que me respondeu para continuar a tentar, porque antes de Portugal ser colocado na lista Ambar, pelos vistos a compra de kits de testes era possível no próprio dia. Eu tomei como verdadeira as palavras escritas no formulário. Ainda assim decidi fazer batota. Ao invés de dizer que ia viajar naquele dia, coloquei a data do dia seguinte. E assim procedi com todo o preenchimento do formulário novamente. No final, após preencher pela sexta vez os dados bancários, pareceu-me que as etapas seguintes continuava sem ter sucesso. 

Desisti. Perdi a viagem. Faltavam 30 minutos para a porta de embarque fechar. Mesmo sabendo que eles nunca cumprem esse horário, pareceu-me absurdo ter esperança, visto que não me permitiam viajar sem o documento e este estava dependente de uma compra de um teste ao COVID, que só podia ser realizada até 24h antes.

PORQUE NÃO INFORMAM AS PESSOAS DISSO??

Porque o que interessa é FAZER DINHEIRO. 

Mesmo à custa de uma pandemia mundial.


Não foi fácil ouvir as reprimendas da minha família que, naturalmente, culparam-me pelo desconhecimento. 

Em casa, comecei o processo por etapas - todas pescadinha de rabo na boca - para adquirir nova viagem. Teria de fazer outro teste ao Covid para embarcar. (100 euros!) Porque - estupidamente, fiz o anterior exatamente três dias antes da suposta viagem. Tivesse eu feito um dia depois e ainda estaria válido por mais 24h. Tanto o formulário do teste ao Covid como para completar o Passenger location form precisava de ter o número de assento e de voo. Mas não ia comprar a passagem sem antes ter o Kit e certeza de que iria conseguir realizar com sucesso um outro teste ao Covid. E o Kit era comprado ao preencher o Passager allocation form.

Sorte ou azar meu - a realidade é que, naquelas muitas tentativas efectuadas no aeroporto, acabei mesmo por fazer a compra. Talvez aquela com a data de partida alterada foi a que teve sucesso. Mas poderia eu viajar com uma data diferente da usada durante a aquisição do kit, tendo fornecendo dados de voo de uma viagem não realizada? Teria esse Kit informações anexadas a ele tornando-o de uso exclusivo?

Precisava saber. Já havia gasto 160 libras, que foi o custo do KIT. Não poderia sequer imaginar que me iam pedir para comprar um novo Kit porque perdi uma viagem, indo realizar outra. Não iam pedir para também comprar um segundo Kit, ou iam?? 

Depressa percebi que, tendo recebido o código de compra, podia utilizá-lo quantas vezes quisesse. O que achei estranho. Para isso bastava-me obter o código de um outro passageiro qualquer, provavelmente nem iam comparar dados e descobrir o acto. Ou quem sabe, poda até ter inventar um. Pelo menos para conseguir embarcar. Depois, à chegada, lá comprava um Kit de verdade, que ainda ia cumprir o dia 2 e 8 exigidos. Mas eles não colocam a possibilidade de se fazer testes à chegada, caso não se consiga na partida. O que acho de mau tom. Deviam equacionar esta hipótese, principalmente durante as primeiras viagens.

Sabendo que tinha todos os dados comigo, comprei uma passagem na TAP para a manhã do dia 22. Acabei por preencher o formulário de viagem com o código de compra desse kit, marquei um novo teste ao Covid para essa mesma tarde - tendo optado (e descoberto) que podia realizar um Antigénico, com um custo bastante inferior (30 euros).

Mas algo não estava bem. Algo não batia certo. Não consegui relaxar. A ideia de partir no DIA A SEGUIR às medidas anunciadas por Bóris Johnson deixavam-me apreensiva. Ele podia optar por fechar o espaço aéreo com efeito IMEDIATO. Nas noticias estava claro que Lisboa e outros concelhos estavam a escalar rapidamente em casos Covid e nesse mesmo dia, Lisboa passou para o Estado Vermelho. Tudo ia fechar novamente. A reacção de um país estrangeiro diante dos números não é nenhum quebra-cabeças: para mim fecharem o espaço aéreo ia ser a consequência.

Nunca tive dúvidas de que um novo lockdown vai ser implementado. Gostaria é que essa constatação fosse mais gradual. No meu entender, mal se "abrem as portas" e se deixa as pessoas sair, logo os números começam a aumentar imenso. 

Para mim o que os governos fazem é abrir uma pequena janela por esta altura das férias de Verão e tentam esticá-la o máximo possível. Mas o Covid, a propagação do virus - que nenhum especialista consegue controlar - nunca vai permitir que a normalidade regresse tão depressa. 

A vacinação não é uma solução, nem sequer funciona para o desconfinamento. Bastaram duas, três ou quatro semanas após a abertura dos comércios para os números escalarem ao que, segundo li, só tem comparação com a primeira fase de confinamento. 

Aqui em inglaterra, onde sempre achei que a maioria da população não cumpre NADA das regras de precaução, as vacinas estão bem mais adiantadas. Enquanto estive em Portugal, recebi mensagens diárias para marcar a SEGUNDA dose. Esta já estava marcada, pelo que a mensagem fez-me confusão. Tal como ditava a lei, ficou automaticamente marcada para umas tantas semanas após a primeira dose - que tomei em Abril. Em Maio telefonei para o número facultado caso quisesse alterar a data porque pretendia viajar já com a segunda dose. Foi-me dito que era IMPOSSÍVEL ANTECIPAR a vacina. Porque não podiam ir contra o sistema informático, que só permitia alterações após quatro ou seis semanas da data da primeira dose. 

Por isso muito me surpreendeu que, chegando exatamente essa data, me andassem a telefonar - porque além de mensagens também me telefonaram, para que fosse tomar a segunda dose de imediato. Ora... estando eu em Portugal, dificilmente poderia receber a segunda dose. E tendo que ficar em isolamento por 10 dias, mais adiada essa dose teria de ficar. 

Se me tivessem dado ouvidos... 

O Bóris, assustado com os números de infeções, decidiu vacinar todos rapidamente. Mas é tarde... e não vai surtir os efeitos desejados. A vacinação não é a cura. Não impede a contração do virus. Existe uma maior ameaça de momento: a variante Delta, 60% mais contagiosa e impossível de rastrear a origem.

Isto é assustador.

Pelos factos, estamos PIOR AGORA  do que durante a primeira fase, sem a vacina, sem o teste. Pelo menos no que respeita à propagação do virus. Essa ganhou mais força. Embora tenhamos alguma arma para o combater - a vacina, é quase como ir para uma batalha munido de uma agulha, quando o inimigo tem espadas.

Resta-nos a vantagem de saber que, com apenas água e sabão, se destrói a sua armadura. 

Mas quem diz que a população gosta de se munir dessas armas??

Por alguma razão a peste Negra afligiu toda a Europa lá em séculos passados...

Limpeza e Higiene era algo pouco importante.

Percebi que estaria em permanente angústia nas próximas 48h, por ter comprado uma passagem na TAP para o dia 22. Decidi então antecipar a viagem para o dia 21, sabendo que tinha de correr com a papelada, pois iria viajar dali a 16h. Alterar a viagem do dia 22 para o dia 21, mesmo tendo adquirido a passagem há menos de duas horas, ia custar mais 100 euros. (Dá para acreditar?). Por causa dos CUSTOS que a TAP cobra por alterações. Ao contrário da Easyjet, a companhia não tem uma isenção de 24h, caso queiras mudar de ideias. Comprar a passagem novamente, custaria cerca de 85 euros. É muito... mas subitamente, quando fui online, o preço desceu novamente para os 65 euros - valor que estava apresentado pela manhã, apenas horas antes. E então decidi comprar. 

Acabei por comprar TRÊS passagens de regresso ao UK, só podendo usar UMA. 

Nisto, chega o dia 21, aterro em Londres, e o Bóris fica MUDO por mais UM MÊS.

Ora, ora!

Ele sabe muito bem o que terá de fazer: fechar tudo. 

Mas como isto mal abriu, e para não ficar mal, por um mês ele vai deixar as pessoas se contaminarem umas às outras, achando que já estão livres para passear e ir onde quiserem... depois, daqui a um mês o verão já terá tido algum tempo para ser gozado, ele vai fechar as portas. Porque se pensa que a vacinação vai ajudar, eu tenho dúvidas...

RESUMO:

Viagem: easyjet: 140euros TAP: 140 euros

Testes ao Covid: 100 (ida) + 100 (volta) + 30 (volta 2)  + 160 (isolamento dia 2 e 8)  = 390 euros

Renovação de documentos de identidade: 100 euros

Consultas médicas: 40 euros

Tudo por duas semanas em Portugal.

Se valeu a pena?
VALEU!

No fundo... é só dinheiro. Este vai e vem.

Mas a possibilidade de estar onde desejo - a liberdade de movimentos - essa vale ouro.

quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Lembranças apagadas e o lockdown

 Faço o género de pessoa que faz fotografia de tudo. Sou aquela pessoa que tira 50 fotos de um só momento para escolher uma que preste. Mas depois guarda todas e não selecciona uma favorita.

Assim sendo, fui procurá-lo a ele. Fiz tanta questão de separar as fotografias daquele momento, que agora não as encontro em qualquer lugar. Sei que não as apaguei. Mas não existem. É como se uma força maliciosa tivesse erguido uma barreira impenetrável. 

Tenho imagens de tudo e mais alguma coisa, ao longo dos muitos anos de uso de máquina fotográfica digital. Coisas que não têm interesse algum. E dele? Nada. Não se compreende. Não as eliminei. Apenas quis afastar as lembranças para não cair na tentação de ir sempre espreitar e transferi-as do telemóvel para dois discos rígidos. Sempre com a mania do backup... Mas nem assim. Eclipsou-se como um raio, tanto da minha vida como do registo fotográfico que fiz. 

Ultimamente tenho regressado emocionalmente à saudade...

E por isso decidi ir espreitar essas imagens. Em particular o único vídeo. 

Quem sabe olhando, a coisa ao invés de continuar, se dissipava de vez?
Por vezes quando os fins são abruptos, fica tudo tão idealizado que um reality check pode ser a cura.

Mas se o seria, não conseguirei saber.
Volta e meia estou a desejar a tal conversa que o radicalismo do seu comportamento me privou. Dispenso tudo. Mas a falta de diálogo deixa-me a sofrer perpetuamente.

Dialogar é preciso



Hoje, quinta-feira dia 5 de Novembro, Inglaterra entra num mês de lockdown devido à pandemia mundial do Covid-19.
(durante toda esta vivência não soube nada dele! Nem ele alguma vez se interessou em saber de mim.)
 
Vou ficar a trabalhar. Pego num turno de apenas quatro horas daqui a cinco. O armazém onde trabalho com correspondência não tem quaisquer cuidados com o Covid19 e já teve casos positivos. Vai fazer em Dezembro dois anos que estou ali como trabalhadora e ainda não faço parte do restrito grupo de pessoas que é sempre chamada para trabalhar. Mas sou aquela que mandam fazer de tudo um pouco sem quaisquer instruções de como o fazer e o faz bem. Depois descartam, substituem por mão-de-obra mais recente a ganhar menos... É uma luta diária, mensal, semanal... tentar obter horas de trabalho. Supostamente agora no Natal devia existir um pico de volume, o que resultaria em ser chamada com muita frequência Dou por mim a contactar a agência com regularidade, pedindo para me darem turnos. Das oito horas que fazia, duas a três vezes por semana, agora estou com sorte se me derem quatro. Faz-me sentir que me dão zero de valor. 

No outro armazém onde comecei a trabalhar faz três semanas, tem muitos cuidados com o Covid19. Tem estações de higienização espalhadas por todos os cantos, a transbordar de produtos. A cafetaria está dividida com separadores de dois metros, cada mesa tem desinfetantes, tanto em forma de gel, como em spray, como em toalhetes. Existe uma pessoa cuja única função é certificar-se que todos mantêm os dois metros de distância e usam máscara adequadamente (sem a meter no queixo e afins).
Mas  também aqui as horas começaram logo por ser bem menos do que o anunciado. E em três semanas, fiz três dias de trabalho de sete horas. 

Sim, trabalho muito. Mas também trabalho pouco. Como é possível?
Acordo as três da manhã, para lá estar às cinco, regresso às duas, não dá para dormir, adormeço lá para as três ou seis da tarde, acordo com barulhos e, sem descansar por outras tantas oito horas, volto a pegar num turno das 6am...

Sinto que trabalho bastante. Mas quando vou a ver, são poucas as horas e muito, mas muito, o transtorno para as obter e muito o tempo dispensado nisso e nas deslocações. 

É a vida. O que fazer?

Suspeito que todos estes entraves existem para me afastar daquele lugar. Gosto imenso de trabalhar lá e ganha-se melhor que em qualquer outro. Mas se for uma fonte fácil de contaminação por Covid19 como tem tudo para ser, então estes impedimentos que venho a sentir como estranhos e os quais estou a fazer de tudo para contrariar, existem por esse motivo. 




sexta-feira, 10 de julho de 2020

Sensibilidade ao desemprego

Ainda aqui nao contei, mas emocionei-me e tive discretamente de limpar as lagrimas por duas vezes, quando uma das italianas a viver nesta casa deu de frosques pela calada.

Claro que, semanas antes, meses até, já eu notara uma agitação. A habitual postura de me manterem de fora das conversas que normalmente  estariam a ter se eu nao estivesse presente, deu o alerta. Isso e o barulho de coisas a serem mexidas no quarto dela, o caixote de lixo entupido até a tampa deixar de fechar em apenas umas horas apos ter sido colectado pela camera e o constante uso do aspirador no seu quarto.

Nunca foi de limpezas demoradas logo, a mudança de habitos denuncia que algo se esta a passar.

Mas claro, nada foi dito na minha presenca nem nenhuma conversa que iniciei com eles, sobre tudo e mais alguma coisa, os faz mencionar o que, de outra forma, seria mais do que natural e esperado: ela ia abandonar a casa.

Sabem os meus horarios, sabem que ia trabalhar de tarde, saindo de casa pelas 4, mas, muitas vezes, optando pelo meio-dia, uma da tarde, de modo a ir para as filas das lojas a tempo de comprar mantimentos e seguir para o emprego.

(Mas na verdade, tambem para lhes conceder ainda mais tempo do todo que ja tinham para ficarem a sos com a casa. Julgando eu que ficariam gratos e simpaticos. Big mistake.)

Entao, sem que constituisse realmente uma surpresa, uma noite ao regressar do emprego, o carro do namorado dela que aqui estava a viver na casa e que fazia meses que ocupava a entrada, nao estava mais. Haviam sinais de disturbios no chao do wc, como se alguem tivesse arrastado algo pesado. E no wc, nao encontrei as gavetas de arrumos onde ela mantinha traquitana.

Nao sei porque lhes passa sempre pela cabeça que eu me surpreendo ou que vao conseguir irritar-me por eles me excluirem do que se passa pela casa. Acho tao previsivel terem esse conportamento, que sei detecta-lo so pela postura e linguagem corporal.

E depois, sempre a acharem que nao capisco niente de italiano,  como se nao fosse facil identificar palavras e frases que sao semelhantes as minhas, originarias do mesmo Latim.

Ouvi-os falar sobre viajar para italia pelo menos umas seis semanas antes do sucedido. Estava a ver é que nao iam, de taaaanto tempo que levaram.

Ainda assim, nao foi o suficiente para se organizarem devidamente pois, quando la chegaram, tiveram de regressar. 🤣🤣

Uma viagem de automovel de horas ate a fronteira de italia, para terem de voltar no dia seguinte.

Nessa manha, ao sair do quarto e ao entrar na sala, dei os bons dias aos dois cabecilhas do covil que, como sempre, iniciam cedo (e sempre no mesmo lugar) a sua rotina de vilanice. Dei os bons-dias e perguntei direto se ela tinha ido embora da casa.

Um instante de surpresa passou-lhes pelo olhar, hove uma hesitacao e de imediato a Gordzilla (porque tudo que diga respeito a italianices ela logo intervem como se tivesse de defender a patria de um insulto) diz "sim e nao".

Eu fiquei a aguardar um desenvolvimento e ela meio calada, a nao querer dizer nada que me pudesse esclarecer. É este tipo de atitude com que sempre tive de lidar. Insisti, dizendo algo como: "como assim?" e foi entao que disseram que ela tinha abandonado a casa MAS ia regressar porque nao tinha permissao para entrar em Italia. Esqueceu-se de se informar sobre isso. 😂

Para contextualizar, ainda se estava em lockdown por causa do virus covid 19. E italia foi dos primeiros paises a fechar estabelecimentos, a fechar fronteiras para impedir a circulacao de pessoas e a impor quarentena regional. Portanto, nao deixa de ser um lapso invulgar, que lhes custou o terem de regressar ao Reino Unido.

E a Piada é que abandonaram acasa que nem ratos, pela calada, e as escondidas de mim. E quando estao a regressar, quase a estacionar o carro, eu sou a primeira pessoa que tem de ver.

A unica coisa que lhes digo é bastante simpatica ate. Imaginemos os cenarios:

1) Podia mostrar-se zangada por um colega de casa nao me ter mencionado que ia embora
2) podia ter gozado com a cara deles e fazer troça, dizendo piadas visando humilha-Los com o seu inegavel fracasso
3) Podia ter dito: bem feito! É para aprenderes a ser decente. Cá se fazem, cá se pagam. Ahah.
4) Podia ter cobrado uma "explicacao" e atirado-lhes na cara que nao gostei que se tivessem ido embora sem mo dizerem. Quer gostem quer nao, sou colega, vivo na casa e o certo era dizer.

Mas o que lhe disse, com um genuino sorriso e sem fazer julgamentos de valor foi:

-Ola. Já soube da tua pequena  aventura.

E assim nao a fiz sentir-se mal por estar a regressar a um lugar que tinha abandonado e que comecou a esvaziar nos momentos em que eu nao estava por perto para desconfiar. Nao a fiz sentir-se mal por ter sido parva e nao se ter informado devidamente antes de partir. Foi impedida de entrar no proprio pais por estar registada como moradora neste.

Mas onde entram as lágrimas? Querem voces saber, caso Tenham lido até aqui.

Entram quando perguntei se ela ia regressar para o seu emprego.

Disseram-me que provavelmente ela o tinha perdido. Como sabia que ela tinha acabado de assinar contrato, coisa que eu estava na esperanca de tambem poder fazer quando fiquei sem o meu emprego, logo aí o meu coracao sentiu pensar por ela. E ha medida que a conversa entrou na eventualidade da empresa falir e ter de a dispensar, fui ficando emotiva. Aos meus olhos vieram lagrimas. Que removi com a mao, esperando que a minha sensibilidade nao tivesse sido notada pela Gordzilla, que era quem me estava a dizer aquilo. Faco isto duas vezes, sem conseguir conter pesar pela situacao de desemprego e incerteza que, subitamente, caiu em cima da rapariga. Mesmo tendo feito parte da quadrilha de gangsters.

A situacao dela e tambem de muitos outros. Sinto compaixao. Acho natural. EU sei muito bem o que nos faz na alma, na mente, estar no desemprego. Sinto receio de estar nessa situacao novamente. Tenho isso presente todos os dias.

E é por isso que hoje senti uma pontinha desse receio novamente. Os meus turnos sao facultados semanalmente. Nada é certo. Mas nos ultimos dois meses tenho mantido um horario de 38/43h semanais.

Porem é uma angustia constante. A qualquer instante podem Puxar o tapete por debaixo dos meus pes. E hoje, enquanto aguardava que me propusessem por mensagem os restantes dias da semana em falta para que pudesse confirmar que os fazia, percebi que nao me facultaram 5 dias. Alem disso, voltaram a reduzir o horario. Agora é menos meia-hora todos os dias. Isso significa 2h30m a menos de salario. Adicionando um dia, da 10h15m a menos.

E tudo porque?
Ontem estive a treinar duas novas empregadas. Vi uns seis novos funcionarios. Soube que uma colega teve o turno cancelado. As novas funcionarias que estive a ensinar ficaram a fazer o trabalho normalmente entregue a esta outra.

Eles nao precisam de novas pessoas. Mas como agencia de recrutamento, estao sempre a injecta-Las. So que, para isso, tem de remover outras. A desculpa que me foi dada é que a empresa pediu menos pessoal, e os novos empregados substituem outros que abandonaram o serviço.

Tretas.

Assim que chegaram, ja me causaram prejuizo.

Fui simpatica e ensinei tudo o que sabia. Mas o tempo todo nao deixei de recear ter os meus turnos cancelados por causa delas estarem ali.

Perguntei a uma se procurava outro emprego. Ela respondeu que sim  mas nao me pareceu fazer esforços. Pois mencionei-lhe que tinha começado  ver ofertas razoaveis na internet e o seu desinteresse foi visivel.

Aquela funcao é fisicamente ardua mas muito simples. Gente preguicosa que nao puxa pelo lafo fisico e se acomoda na simplicidade é o que mais há por lá.

E depois, de inicio nao mas, ao final de 12 semanas, pagam bem. Nenhum outro emprego do genero oferece 12 a 13 libras por hora. E é essa a real motivacao por detrás de muitos que ali estao.

Esta rapariga estava a espera de ser chamada de volta para trabalhar com a Norwegian. A probabilidade disso acontecer e muito remota. Ela propria o disse. Vi o gerente a engraçar com ela e a dizer-lhe que tinha uma ex gerente ali a trabalhar.

Percebi que beleza e posicao fazem os outros olharem para ti com mais respeito e interesse. Dedicacao ao trabalho e eficiencia, nem por isso.

Toda a minha vida regi-me por valores que pouco me valem.

Mas mudando de volta para as lagrimas derramadas pela desgraça de quem nao as merece: quando mostrei pesar pela situaçao, a Gordzilla muda de atitude e, de garras afiadas, começa a defender a italiana como se alguma vez esta tivesse estado sobre ataque. E diz, num tom de voz desagradado: "ela arranja outra coisa depressa. Tem experiencia, tem muitos anos de experiencia, é uma profissional!".

Percebi de imediato que ja estava a defender a italiana de alguma acusacao minha que so se passava dentro da cabeça dela. E parei.

Uma pessoa com pesar, a lamentar o sucedido, mesmo tendo acontecido com alguem que nao fez por merecer a minha compaixao, e ainda assim acabo a ser destratada.

"Profissional com anos de experiencia". Pois sim!

Porque é italiana, nao pode sequer recair sobre ela a possibilidade de nao ser perfeita, desejada. Essa imagem que querem projectar e que nao pode ser desmanchada, nem pelos factos.

E os factos é que ela nem um ano tinha de experiencia naquela funcao. Pelo menos foi o que me contou. Costumava trabalhar num restaurante em Londres. Vivia das gorjetas.

E a Gordzilla a galar-me dos "anos de experiencia" como hospedeira de bordo.

Aparências.

Enfim.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Enfrentando raposas e seres humanos

Costumo avistar raposas quando caminho de noite para casa. Estão sempre no centro da cidade, esfomeadas mas não agressivas para com os humanos. Vasculham o lixo em busca de restos. Não gostam de bolachas. Era a única coisa que tinha para lhes dar. Uma ainda comeu a primeira  vez. Mas não voltou para mais. O que temo não são raposas. Essas não fazem mal, nem mesmo quando com fome. A espécie mais temida é a semelhante.

A essas horas, seja lá com quem te encontrares na rua, não está ali a fazer grande coisa. Ontem de noite era um bando de oito rapazes, uns a pé,  outros de bicicleta e uns dois com cães,  que pareciam danados. Foi o rosnar e latir raivoso destes que despertou atenção. Não fosse esta ser uma nova moda para assaltar pessoas, fiquei, como sempre, atenta ao meu redor.

No Domingo às 8 da manhã vi um ex colega na rua, do outro lado da estrada e gritei-lhe: olá. Estava a ser abordado por um adolescente cabeludo, de boné na cabeça e saco plástico na mão, que logo atravessou a estrada na minha direcção. "Quero saber o teu nome" disse-me ele aproximando-se cada vez mais. "Seja lá o que for que queres, não tenho" -respondi. Ele insistiu, pedi-lhe para manter a distância e ameacei chamar a polícia caso me chateasse. Conto isto porque esta interacção aconteceu na presença do ex colega, que nem levantou a cabeça para seguir a minha voz e diante de um funcionário camarário, que conduzia um carro de limpeza. Este pôs-se a olhar mas quando repeti que chamava a polícia recuando uns passos para ficar paralela ao funcionário, certificando-me que era testemunha e me ouvia, foi quando este fingiu não perceber o que se passava.

A sorte de viver neste pais é que a simples menção de policia é dissuasora. Nada te safa quando os bandidos perceberem que a polícia é mole, podem fazer tudo que se existir ajuda chega tarde e o cidadão comum é incapaz de interferir apenas por dar a entender à pessoa a causar disturbios que está ali a testemunhar e poderá escolher intervir.

Nem o ex colega deu um berro, nem o funcionário gritou. É cada qual "na sua vidinha" nada têm a ver com a dos outros.





quinta-feira, 2 de abril de 2020

Hostilidade através do quadro - II


Mencionei no final deste mais recente post que podia vir a falar da hostilidade através do quadro. Pois para quem não sabe, leia aqui. Isso foi o início da coisa. De lá para cá, nada mudou.

Resumidamente, pois quero dar pouca importância a estas mesquinhices tacanhas, apenas estou a mencioná-las para ficarem registadas. Na cozinha está um quadro de ardósia com giz. E eu sempre gostei de rabiscar. Vi aquilo, sempre vazio, e rabisquei. Desenhos, na sua maioria. O primeiro foi o de um cone de gelado. Só porque me apeteceu desenhar. Foi imediatamente transformado em algo diferente, com teor sexual. Mas não levei a mal. Só que, daí adiante, tudo o que fiz, era imediatamente removido e substituido por outra coisa qualquer. E ontem de noite, diante do gigante arco-iris do "fica bem", que arranjaram só para poderem justificar apagarem o desenho que lá estava feito por mim, aproveitei um cantinho minúsculo de espaço rabiscado em italiano imperceptível, e desejei "Feliz Páscoa", desenhando mais umas flores. 

Pois agora quando percebi, tudo o que ali estava desenhado por mim, flores, um pássaro, corações e a mensagem de Feliz Páscoa, foi tudo apagado, carregaram no arco-iris, voltaram a escrever sei-lá-o-quê em italiano e em inglês o seguinte: Alguém tem algum problema com o meu arco-iris? Se sim, pode usar o meu giz para o dizer. Eu sublinhei a palavra "problema", desenhei uma seta e no pouco espaço disponível escrevi: "E flores?".

Mas não vou dar importância. Já conheço a merda que cá vive. Mascarada de coisa boa, mas merda. Nenhuma pessoa realmente decente mostraria estas atitudes. Estas, a de apagar todas as gravações na box, etc. Só gente má formada é que faz isso. 

O quadro virou também um espaço disputado, que tem de ficar sobre o domínio italiano.
Se a caca do pássaro for mesmo para me dar sorte, o jackpot é ter esta gente toda fora daqui.

E isso seria também um milagre. Porque gente desta nunca quer largar o osso. Só se acharem que encontraram coisa melhor. Agora que se achem com mais direitos, que se comportem com nepotismo, hostilidade, xenofobismo... só mostra o tipo de tutano de que são realmente feitos. 

Acho que está na altura de voltar a espalhar um pouco do meu remédio para ver se ficam "mais doces"...

Em plena quarentena, e a armarem conflictos.
É que não basta terem implicado com tudo o que deixei no quadro. 
Gosto de rabiscar flores. Coisas inocentes, sem quaisquer indirectas, desenhos, na sua maioria. Quando deixo mensagens, são de apoio, encorajamento e coisas assim bonitas. E eles apagam tudo, ou transformam tudo. Deixei o "Stay at home" (fiquem em casa) adicionado ao estúpido gigantesco arco-iris, feito somente para me impedirem de usar o quadro. Não tardou e acrescentaram a esta simples mensagem, que está por todo o lado, que tem tudo a ver com o momento e o estúpido arco-iris, o seguinte: "se puderes". Noutro dia, não satisfeitos, ainda acrescentaram a isso "eu não posso".

Tardei a ver, porque estava sempre a trabalhar. Quando vi achei que era tão estúpido! Foi só uma mensagem de apoio e concelho, relacionada com o momento de quarentena que atravessamos. Não precisava de resposta. Não era eu que estava a escrevê-la para eles! E estes panhonhas que ficam por casa acham que têm de dar como resposta "não posso". Quem não pode sou eu. Que tenho de ir trabalhar. Mas como concluí no post onde anteriormente mencionei os problemas domésticos, o Covid-19 ou o Corona parecem muito menos ameaçadores que esta italienada.

Mal posso esperar para regressar ao trabalho! Ele me mantem sã. Que pena que não poderam ficar de quarentena lá no país deles. Aí é que não podiam sair mesmo. Foi mesmo uma lástima. Tivesse isso acontecido agora e, estando eles lá para as férias da Páscoa, não se teria perdido nada. Pelo contrário. Seriam só ganhos. 

Eles podem entrar no seu país. Não estão proibidos. Mas precisam de autorização da freguesia de residência para lá ficarem. Se não a receberem, ficam em quarentena em Roma, ou assim. Com a boa vida e a liberdade que têm cá, alguma vez esta gente ia para lá? Claro que não! Da boca para fora dizem que sim. Mas seriam incapazes dos sacrifícios. 

O desenho que eu fiz no quadro por último, foi o de um comboio, e da fumaça da chaminé saia uma nuvem. Nessa nuvem era o espaço para escrever mensagens. Nos cantos, rabisquei flores. No topo, duas rosas. E logo abaixo, linhas coloridas onde desenhei notas de música. Estava muito bonito, porque era doce, inocente, positivo. Pois a mais-gorda um dia decidiu apagar tudo, menos o comboio, para não ser muito óbvia nos seus intentos. E o que era tão urgente que precisava do espaço? Deixou escrito, em italiano: "mudei o filtro da água".

Ahah! 

Quando fui a Portugal, no regresso, tinham sido colocados ali dois papéis a tapar o meu desenho. Ficou à mostra somente a mensagem em italiano. Não faz sequer sentido meter ali uma folha A4 e outra menor. Era de uma carta com quase um ano!! Um pretexto pouco credível só para tapar da vista um desenho deixado por mim. A mensagem sim, não fazia sentido e era desnecessária. Só o facto dela a deixar escrita em italiano, já diz tudo. Os receptores são os italianos. Eu não interessava nada. É assim como uma ofensa, manda a indirecta de que tu "não contas". Quando vi a mensagem, ela estava por perto e eu li em voz alta. Ela nada disse. 

Não lhe apaguei a mensagem, nem passadas semanas quando obviamente não fazia falta alguma. Depois foi ela que apagou tudo e fez um gigante arco-iris. Ao qual eu acrescentei flores nos cantinhos. Ela apagou-as e escreveu uma mensagem em italiano. Eu acabei por re-desenhá-las e mais tarde, escrevi também a mesma mensagem, em português e em inglês!

Nada disseram. Nem reagiram de imediato. Um dia fui trabalhar, e no outro já estava ali outro arco-iris, a preencher o quadro todo, cheio de mensagens em italiano. Claro. Não podiam permitir um conteúdo não nepotista. Ao fazerem isto, destruiram a rosa seca que eu tinha aplicado no canto do quadro. Já lá estava há um ano. Quase imperceptível. Dei com as pétalas no chão. Só ficou o "pau", grudado na bolinha de "plasticina" que usamos para segurar coisas às paredes. 

Bom e é isto.


segunda-feira, 30 de março de 2020

Que confinamento?


O Corona está a dar-me emprego.
Esta semana vou trabalhar 8h por dia, de segunda a sábado.

A «quarentena» não vai ser para mim.
Tinha comprado tintas e telas, não fosse o caso de me sentir meeeeesmo sem nada para fazer. Mas não tem sido nada assim. O tempo corre depressa demais e quando vou a ver, não fiz nada do que pretendia. E principalmente, não descansei. Dormir nesta casa é quase impossível. Nunca tenho mais de 3h seguidas de repouso. Pareço um zombbie. Mas sempre foi assim e o que se torna rotineiro acaba-se por aceitar. Não posso mais queixar-me das olheiras, elas surgiram por décadas mal dormidas. Pelo que têm razão de existir.

Percebi que não vou ser uma das pessoas privilegiadas, que podem fazer quarentena e são pagas para ficar em casa. Acreditem: é um privilégio. Muitos encaram como uma sentença de prisão mas tem de se trabalhar o cérebro para que este não conclua extremos. Daqui a 10 minutos tenho de sair. Para caminhar uma hora e não chegar atrasada. Vou de máscara, boné, luvas, casaco. O habitual. Irei também cruzar-me com muitas pessoas, umas a passear o cão e os filhos. Não ficam nos quintais de casa, têm de sair do seu espaço privado e íntimo. Espaço esse que aposto, era o mais desejado quando não se viam confinados a ele.

Enfim...
Desculpem, mas agora tenho de ir a correr!

Fiquem bem.
Fiquem em casa,

De quarentena num espaço desagradável


Vocês não sabem, mas o quarto que alugo ainda não está totalmente terminado da remodelação que sofreu em Dezembro. Para os que não sabem, enquanto viajei para Portugal para lá passar o Natal, o senhorio ficou de derrubar uma parede, para aumentar a área da divisão. Disse ele, várias vezes, que era algo simples e rápido de fazer. Não ia demorar mais que um dia. Duas semanas depois, quando regressei de madrugada, o rosto dos meus colegas de olhos esbugalhados ao me verem, disse-me tudo. Esperavam que eu ficasse aborrecida, porque o quarto ainda não estava pronto. Não tinha sequer a cama montada. Foram precisos mais dias para terminar e pintar as paredes. Eu não fiquei fula. Decidi ser compreensiva e esperei, paciente. 

Só que já estamos em Abril (praticamente) e a minha paciência esgotou-se. Foi substituída por nervos. Nestes quatro meses foram inúmeras as vezes que mencionei ao senhorio que precisava, em particular, de ter as prateleiras montadas. Deixei claro que o resto podia esperar, mas as prateleiras eram vitais. Tenho muitos livros e objectos para ali colocar. O que for a arrumar no restante espaço vai depender do que conseguir enfiar naquele. Pedi-lhe tanta vez com jeitinho, ofereci-me para o fazer eu mesma, ofereci-me para pintar as tábuas que tapam a canalização de branco - porque ainda nada disto foi feito. Tudo o que ele fez de lá para cá foi aparafusar as tábuas que tapam os canos junto ao chão. E isto por malícia, pois tinha-lhe sugerido que as fixasse de modo a que a de cima pudesse ser removida e expliquei porquê: por causa do barulho de pancadas. As águas ao passarem pela canalização, produzem um som de semelhante ao do uso de um martelo. E eu descobri quando me pus a limpar o imenso pó que os canos tinham que, aplicando ligeira pressão entre um tubo e outro, esse som desaparecia. Volta a aparecer, mas, voltando a aplicar uma ligeira pressão, é impressionante como o som de batidas vai embora. Acho que é uma razão bem válida para deixar uma tábua presa com fechadura e não com pregos.

Quem é que gosta de dormir num quarto no qual, cada vez que alguém vai ao WC que fica ao lado, além de se escutarem todos os sons escatológicos, traz o som de batidas de martelo?

As casas no Reino Unido são barulhentas por defeito. O chão range (e não é pouco), as correntes de ar fazem as portas bater... e aqui ninguém usa persiana. Todas as janelas são tapadas apenas com cortinas, o que nunca permite total escuridão. Podes levar com aquela claridade da manhã na cara que isso é considerado banal. Se te queixares, acham que és "florzinha de estufa", uma pessoa problemática.  

O senhorio esteve cá em casa há dois dias. Ele sempre aparece sem avisar, entra sem cerimónias e "passeia-se" pela casa como se nada fosse. Traz leite que mete num dos frigoríficos e serve-se da chaleira para beber chá. É uma atitude um tanto invasiva, mas teve de ser aceite por todos para cá morarmos. Ao contrário do que esperava, não me fez confusão. Para mim ele é apenas mais um dos muitos que já vi circularem cá dentro. Tanto me faz que seja ele ou uns 50 italianos. Ao menos com ele por perto sei que os outros contêm-se um pouco e até ficam aborrecidos. E isso não é desvantajoso. Só que ao vê-lo cá, ele que diz que não tem tempo para nada... aquilo revoltou-me. Na tarde anterior tapei a abertura onde antes estava a parede com uma cortina branca. Foi como um bálsamo!

Subitamente pareceu-me recuperar a sensação de bem-estar que viver no quarto sempre me deu. Já não aguentava mais olhar para o fundo do que outrora foi a parede do WC e ver aquelas tábuas que tapam os canos. Há tanto que quero fazer ali para disfarçar aquela feiura, coisas que guardo trancadas há tanto tempo e que não aguento mais que seja assim! Cheguei ao limite da paciência e da bondade. 

Pus uma cortina para não ter mais de olhar para ali. E, como disse, senti-me imediatamente melhor. É como se aquele anexo de espaço não existisse. E o quarto voltasse a ter as dimensões originais.  

E se não tiver o quarto para estar, não tenho muitos outros espaços onde possa estar com o mesmo nível de conforto e tranquilidade. Os italianos ocupam a sala logo pelas 8h da manhã e só saem de lá pela meia-noite. Continuam a almoçar todos juntos, na mesa, comigo ali na cozinha e na sala, sem nunca estenderem um convite ou perguntarem se tenho algo para comer. 

Hoje vi tão claramente os olhos da mais-velha a fulminarem um deles. Trata-se do namorado da rapariga do andar de baixo. Eles nunca gostaram dele. Aceitam a sua presença (como aceitam a minha ahha) e com ele falam, porque, afinal, é italiano. Mas acham-no parvo, idiota, não gostam dele. E na realidade, não o incluem nas suas rotinas, a menos que seja esta de almoçarem ou jantarem juntos. Afinal, se a namorada almoça o namorado não ia ficar de lado. Mas é só por essa razão. Não o convidam a sentar e ver um filme com eles, por exemplo. 

Como disse, vi os olhos da mais-velha a fulminar o gajo quando ele dirigiu-se ao jarro de filtro e água, carregando uma garrafa cor-de-rosa. Despejou água para o interior e deixou o jarro, quase vazio, em cima da bancada. 

A mais velha estava a observar tudo muito atentamente e a "matá-lo" com os olhos. Mas a culpa é da namorada dele. Também me enerva ir buscar água e encontrar o jarro vazio. Enerva estar sempre a encher o jarro com água e outra pessoa vem, serve-se e deixa-o vazio. E ela sempre fez isso. No ano e meio que cá vive, nunca a vi repor a água que tira do jarro. Quem chega a seguir é que tem de o fazer. Noutro dia, enchi o jarro de água e fui lavando louça enquanto esperava que a água no jarro pingasse pelo filtro, para então encher um copo e saciar a sede. Nisto ela sai do quarto direta à cozinha, pega no jarro, enche a garrafa com água e sai satisfeita de volta para o quarto.  Foi aí que decidi: se não sabes encher o jarro de volta, já não me vais ver a fazê-lo por ti!

Quem o faz é a mais-velha. Os outros... não querem saber. No passado ela chegou a colar um post-it onde escreveu "encham o jarro". Sei que o fez porque culpava-me a mim de o encontrar vazio. Mas a culpada era outra italiana que cá morou, uma que nunca limpou nada na casa e costumava até deixar a louça que usou suja para outros a lavarem. Este comportamento dela foi encorajado pela mais velha, que o procurou ocultar adoptando a postura de limpar e lavar por ela. É que, se és italiano, nunca tens pecado. Nunca erras, nunca fazes um mal, tudo tem uma explicação. A "explicação" que a mais-velha me deu, mais tarde, para a ausência de práticas de limpeza da italiana (e não era a única) é acreditar que ela era um pouco "posh" (metida a rica). Justificou-o dizendo que acha que ela tem uma empregada que faz tudo por ela na sua casa em italia.

(inserir cara de "não me gozes")


Oh pá... a sério?? A sério que esta tipa me disse este absurdo? Então porque tem uma mulher que vai lá limpar-lhe o pó aos móveis justifica-se que veja os colegas de casa como seus empregados??

Comigo, que sou portuguesa, essa desculpa não pegava. Mas numa casa cheio de italianos a funcionar como uma matilha, quem é italiano pode fazer o que quiser. É o cartão "sai da prisão" do jogo do monopólio. A responsabilidade vai recair sempre sobre outro alguém. No caso do jarro com água, já não sou eu - que encho-o até a máxima capacidade cada vez que lhe dou uso - mas o "inquilino emprestado" - o namorado da rapariga, por quem eles não nutrem simpatia.


quarta-feira, 25 de março de 2020

Ver um anjo

Estava a fungar, à  medida que despertei. Procurando na minha mente se nariz entupido é sintoma de Covid-19 e lembrando que instantes antes quando foi ao WC também ouvi fungar o colega que nao está a respeitar a quarentena e sai à rua sem protecção. Nisto acabo por abrir os olhos e Vejo. 


terça-feira, 17 de março de 2020


Ovos, farinha, carne, peixe, pizzas, amendoins, bolachas, leite, comida pré-congelada, agua engarrafada, comida congelada, vegetais congelados, massas, arroz, produtos de higiene como papel higienico, tampoes, pensos, desinfectantes, produtos de limpeza, fraldas, fórmula para bebé. Acabei de listar tudo o que não se encontra nos supermercados no Reino Unido.

Esquerda: supermercado hoje ao meio-dia.
Direita: as mesmas prateleiras ontem, às 7h da manhã.
Supostamente deviam ter papel higiénico, foi tudo preenchido com chocolates.
É o único artigo que não está a ser comprado.

Sinto-me parva. 
Sou uma pessoa que gosta de armazenar. Mas vivendo numa casa partilhada onde o espaço é limitado, não tenho os hábitos que teria caso vivesse sozinha.

Secção dos legumes congelados
Nao tenho por isso arroz, nem ovos, nem farinha, agua. Papel higiênico tenho porque esse armazeno no quarto, onde o espaço é partilhado comigo apenas. Nao tenho muito mas penso que dará para umas semanas. Mas já nem sei. Da maneira como isto está, talvez este nao volte as prateleiras ou custe ouro.

É tudo uma incógnita.

Prateleira dos pacotes de bolachas, foto tirada ao meio-dia de hoje.
Às seis da manhã estava cheio.

Cá por casa já estão dois. Um vive fechado no quarto o dia inteiro. Só sai quando sente que a costa está italiana lá pela hora do jantar. Mas é a rapariga que teve sorte no meio de tudo isto. Não só conseguiu meter cá toda a familia por duas semanas antes mesmo da Itália decretar o fecho das fronteiras, como na mesma altura conseguiu contrato de trabalho. Agora está por casa, descansada, 24h na companhia do namorado. Relax. Nao tem de ir trabalhar, nao vai ser demitida e vao continuar a pagar-lhe. Encontrou um hobbie dos que duram um tempo indeterminado e ocupam a mente. Mas mesmo que não o arranjasse, tem cá o namorado a viver, sempre lhe faz companhia e algo mais. Mantem contacto com a familia e esta envia-lhe coisas pelos correios. Digamos que podia ser muito mais "chato", se o isolamento fosse maior. 

Para alguns isto pode ser encarado como uma espécie de férias. Eu continuo a tentar trabalhar o máximo que conseguir. Viro-me agora para o meu segundo emprego.

Com precauções, sempre.
A Páscoa está para vir.

Ao descer as escadas percebi que sentia os joelhos. Também julgo ter a sensação que sinto os pulmões. Pelo sim, pelo não, fiz o "teste" da respiração que encontrei online: Se conseguires respirar fundo e prender a respiração por mais de 15s, quer dizer que ainda não tens o "vírus" porque este, antes de deixar os sintomas aparecerem, prejudica os pulmões.

Verdade ou mentira, não sei. Mas bati o recorde da minha vida ao manter a respiração presa durante 1 minuto.

Hoje, quando me aventurei na busca de mantimentos
A praça pública e as esplanadas estão mais cheias de gente do que o que seria normal num dia de semana. Carrinhos de bebé por todo o lado. O supermercado lotado de bebés. As pessoas não temem o virus. Temem não ter o que comer caso fiquem meses por casa. Fui trabalhar às 2 da manhã. Quando passei pela rua principal, fiquei surpresa ao escutar o barulho de festa, vozes no convívio. Um dos bares ainda estava aberto. Não é comum. No Reino Unido um bar não fica aberto depois das 22, 23h. A uma segunda-feira no meio do caus do Cóvid-19, abriram uma excepção: a malta jovem estava toda reunida cá fora, na esplanada, a beber e a escutar música quase às 2h da manhã.


Enfim...
Sem muito mais para se dizer ou fazer, vai-se blogando.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

A China controla o planeta

Hoje um colega estava de volta da tomada de electricidade de um electrodoméstico que a empresa onde trabalho vende. Cheguei perto e perguntei o que fazia. 

-"Estás a montar ou a desmontar"? - perguntei, sem saber se fazia consertos em aparelhos avariados, ou se estava a montar um aparelho novo.

Ele mostra-se reticente em revelar muito mas acaba por me mostrar. Todos os electrodomésticos tinham tomada europeia. 

"Vem da China" - diz ele.

Como o UK tem tomada de três pinos (lembrem-se, este país quer sempre mostrar-se diferente), os electrodomésticos, "publicitados" ao grande público como "montados manualmente" no Reino Unido, não podem ter tomada europeia! 

Trata-se de criar a ilusão de que o consumidor paga mais, mas por um produto diferenciado. Algo nacional, que está a apoiar as empresa locais - não as chinesas. 

Tudo ILUSÕES.
Tal como os rótulos dos ingredientes dos alimentos. 

(Mas este é outro tema).

Estando o Reino Unido "mergulhado" numa febre de nacionalismo, tudo o que poder ter o rótulo de "nacional", agrada a muitos. Que não se importam de pagar mais por um produto, se o gesto significar estar a contribuir para a economia local, e não estrangeira. 

Estão a ser ludibriados!!




No primeiro emprego temporário que tive depois do verão, a firma pertencia a jovens Chineses e fazia exportação de diversos produtos para fora, nomeadamente para a China. Imagino que recorria a múltiplas plataformas online para o fazer. 

O que talvez ninguém tenha percepção, é que praticamente todos os produtos exportados daqui do Reino Unido para lá, eram feitos na própria China, país para o qual os re-exportavam!! Depois da importação para o Reino Unido, onde foram colocados à venda nos grandes armazéns como o Harrods, Selfridges, Debenhams, esta empresa Chinesa ia comprá-los a esses armazéns e revendia-os de volta para a China, com um preço mais elevado. 

Apanhei muitos recibos dessas compras. Os quais foi-me dito para "deitar fora". O principal produto exportado era modelos de ténis de marca cara, (ver aqui), quase todos Adidas. 


Os ténis eram simplesmente adquiridos por estes chineses do Reino Unido nas lojas caras do país - como o Selfridges, em Londres - e são revendidos para o cliente chinês, que certamente tem mais poder de compra e fica todo "contente" por ir comprar algo "estrangeiro de melhor qualidade". 

Posso garantir que apanhei muitos recibos de compra desses ténis ainda dentro das caixas e os preços apontavam para quase 200 libras de custo. Claro que, sendo revendidos e exportados, fosse para a China ou outro país qualquer, certamente que o valor cobrado vai com uma boa margem de lucro. 

A empresa também exportava peças de roupa - como os casacos da marca The North Face. Vinham em caixas todas bonitas originárias da China. Uma vez chegadas aos armazéns de cá, abriam-se as caixas de papelão, deitava-se todo o conteúdo extra fora, e volta-se a empacotar o casaco, sem cerimónias algumas, numa caixa simples, sem logotipo de loja. 

Tudo feito na China, comprado lá, enviado para cá, desempacotados, colocados em embalagens neutras e re-enviados de volta para a China.


Causa-me um pouco de asco. Mas é o mundo capitalista que temos. E é todo Chinês. 
Todas as firmas fazem algo semelhante - por mais que "arrotem" termos nacionalistas. Procuram "diluir" a intervenção chinesa na informação passada para o grande público. Seja no rótulo de roupa, seja na embalagem que embala o electrodoméstico de marca nacional. 




Agora estou numa empresa britânica, que diz que constrói manualmente os próprios electrodomésticos. E é verdade: vejo-os nas máquinas, a cortar as peças. Mas o que não é dito é que o material em si, vem de onde? Adivinharam: da China. 

As partes que eles não compram em "chapa" para cortar, compram já moldadas. Todo o exterior de um electrodoméstico em particular é feito na China. Aqui limitam-se a fazer a pintura. (Por vezes mal). Os restantes electrodomésticos não são montados cá: vêm por inteiros de lá e trocam-lhes as tomadas aqui.

Noutro dia estava a observar através da porta de vidro um colega a testar um electrodoméstico. O que me chamou a atenção não foi isso, mas o enorme caixote de cartão que estava ao lado. Fita adesiva com a palavra "quarentena" colada a toda a volta.

Veio da China - o país que começou a alastrar o vírus CORONA. 
O Corona está ativo e a alastrar-se.

Não é um risco menor aos que estão "longe" da China. Porque a China não está longe de lado algum: está em todo o lado.