Não me refiro ao nosso Grande Hino e sim à forma como os cá de casa, entre si, fazem referência a mim. Ao invés de me chamarem pelo nome, dizem "a portuguesa", o que comprova a postura pejorativa.
Mas não me afecta. É só um facto que quero partilhar e registar. Sei que tenho de enfrentar o que vier pela frente com a mesma postura que tive até agora. Estóica, resistente, a levar porrada de todos os lados e ter de lidar com o cinismo e falsidade. Tudo bem. Os intentos de me colocarem fora daqui é que não lhes vou conceder. Não sem luta. Mesmo sendo uma guerra travada não com balas, mas com cravos.
Partilho isto por já fazer algum tempo que não actualizava a situação doméstica. Temo que nada mude, porque o trato depreciativo que adoptaram é transmitido de velho inquilino para novo inquilino. E é essa a novidade: Um novo inquilino chegou ontem.
Não posso já dizer como é o seu carácter mas é cauteloso de minha parte presumir que será como todos têm sido. Existiu apenas uma coisa que me fez lembrar por demais "o que saiu" e enviou-me uma vibração de alarme. Ele entrou em casa e ao me ver diz:
-"Não vais trabalhar hoje?"
Arrepios... Fez por demais lembrar o outro.
Foi a única interacção por iniciativa própria que ele se prestou a ter comigo, no início, antes de cessar qualquer comunicação: "Vais trabalhar hoje? Vais trabalhar hoje??"
Até arrepia! Existe lá maneira mais camuflada para sondar uma coisa, fingindo que é outra? Não é preciso uma mente muito inteligente para o perceber.
O novo inquilino trouxe dois amigos para o ajudarem na mudança. Mas eu não soube, até eles passarem pela porta e se apresentarem como tal. E o que é que a rapariga me pergunta? Isto:
-"Não vais trabalhar hoje?".
Sem os conhecer - nem os nomes fiquei a saber, a primeira informação que quiseram sacar de mim foi os horários de trabalho.
Irra! Tanta insistência transmite a sensação de que pretendem algo e não me querem por perto. O ambiente vai ser sempre assim na casa onde vivo? Vou continuar a sentir-me uma indesejada? Este rapaz acaba de chegar. Só o cumprimentei e dei-lhe umas dicas. Percebi que é vivido, sabido e esperto. Capaz de ser tão cínico ou fingido como os que já cá estão. Ele sai e quando retorna, ao me ver em roupa de estar por casa dispara a questão "não vais trabalhar hoje?"
Mais um que mal pisa este chão, se sente tão seguro, tão no seu direito, como se já cá vivesse há anos. Porque é imediatamente integrado, de uma forma que eu não fui, não sou, nem serei. Sendo a origem desse facto xenofobia disfarçada, não é situação que me aflija. Porque, claramente, não ser integrada não é realidade de responsabilidade minha, fruto de acções erradas, mal intencionadas, infelizes. Não fui cínica, nem falsa, nem mentirosa. Não excluí ninguém da minha companhia e afecto. Muito pelo contrário. Estes comportamentos partiram todos deles. Isso me conforta.
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