Metereologia 24 h

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quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Leituras adiadas por causas maiores


Ainda não retomei o hábito da leitura de livros.
Andava a ler um seguido de outro desde o início deste ano. Numa média, suponho, de um por mês. Parei, quando se deu o desastre do "Titanic". Não conseguia. Não tinha ânimo, não tinha como me concentrar. As letras juntavam-se e formavam palavras, que o meu cérebro lia, página após página, sem nada interiorizar, por estar mergulhado em sofrimento e buscas por entendimento. 

Quase quatro meses... sem ler livros.
Tentei. Tenho uns quatro iniciados.
Só um, recentemente, pareceu-me bom o suficiente para me devolver a vontade de ler mais.
Mas ainda não lhe toquei.
É preciso disponibilidade para ler livros. Não só de tempo, mas de tranquilidade interior.

Quando esta foi violentamente atacada, não houve nada a fazer. Provavelmente aparentava estar bem. Lembro-me de conversar ao telefone sem nada dar a entender, de ser cortejada sem nada dar a entender, de até falar como se estivesse bem.

Mas chorava. E por dentro, desesperava. Até a vontade de comer desapareceu.  
Lembro-me de ter um pacote de bolachas cracker no quarto e forçar-me a ingerir ao menos aquilo, por uma noção ténue de necessidade. Ia trabalhar sem nada no estômago e voltava sem nada no estômago. Foi assim por cerca de uma semana, até que forcei um hamburguer a descer pela boca.

Foi mesmo mau.
(Não merecia).

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Como recuperar de um (intenso) desgosto amoroso


Não tenho nenhuma fórmula milagrosa mas descobri técnicas que ajudam.


 QUEM CANTA OS SEUS MALES ESPANTA  


Esta é uma verdade. Cantar ajuda. Sei que parece difícil, mesmo impossível, porque tudo o que se tem vontade é de chorar. Mas cantar ajuda a afastar o pensamento, que teima em se fixar na pessoa e naquilo que viveram juntos. Disso a extrapolar para o que o/a terá afastado/a é um instantinho e a dor intensa que daí advém chega à velocidade-luz. 

Não permita! Por isso, CANTE. Escute músicas que ANIMAM, batuques sem letras, porque, indubitavelmente, as líricas são quase todas sobre amores que não deram certo. Dessas você precisa fugir. Por isso, fuja! Escute coisas aceleradas, rock pesado, preferência só instrumental. 


Esta é uma das dicas que acho mais úteis.

Não permitir que a cabeça se ocupe a pensar no que só nos traz sofrimento. 


2º) APROVEITE OS MOMENTOS UP

Não são muitos - são raros, mas se por um instante sentir-se em cima, não permita que as lembranças o empurre para baixo. Quando gargalhar, tente que hajam mais gargalhadas. Tentar divertir-se é essencial, mas muito complicado e não apetece de todo quando queremos é ficar sós para chorar. Por isso contradiga essa tendência. Não o/a leva a lado algum. Se tiver amigos que a/o puxam para cima, não os largue. Insista, mesmo estando a sentir-se miserável e triste. Aproveite cada instante de alegria, seja porque o seu animal de estimação fez algo engraçado, seja porque ele se enroscou a si. Mas concentre-se no bem que isso lhe faz, não na falta que sente do carinho e da alegria da pessoa de quem sente falta. 


3º) ACREDITAR NO SEU VALOR

Não é fácil vermos-nos a nós próprios com bons olhos, quando deprimidos e derrotados, a sentir que nada na vida faz sentido. Será que Deus tem um plano para nós? Porquê estamos a sofrer desta maneira? Qual o motivo? Qual a lição que daqui temos de tirar?

Não sei as respostas para tudo mas sei que aos poucos chegam. Deve-se afastar a vontade de morrer, a sensação de que está tudo perdido. Porque nós temos valor! Alguém nos ama, ainda que não sintamos assim. Algures alguém tem por nós um amor autêntico, puro, que nos é dirigido. Para quem tem fé, pode auxiliar-se no amor do Senhor - eterno e incondicional.  Para quem não tem, há que acreditar no próprio valor. 


terça-feira, 19 de novembro de 2019

O que me ajudou a recuperar (do sofrimento)



Três meses de sofrimento diário e uma intensa dor que, não tendo origem física, é ainda mais devastadora e maléfica do que uma maleita na carne. Dia e noite, qualquer instante de consciência, foi passado a pensar nisto. A senti-lo. A disfarçá-lo quando em público com pessoas conhecidas, a senti-lo intensamente a cada distracção dos seus olhos. A chorar por ter soltado um riso e estar triste. 

Pensei que não ia parar nunca. Mas rezei para que isso acontecesse. Orei a santos, a Deus, a Jesus, a Maria, a várias Nossas senhoras, aos pássaros, às árvores, às flores, ao vento, à chuva, ao sol, ao mar, à lua, às estrelas, às nuvens, ao céu, aos gatos vadios que me miravam na rua... Fui a igrejas, acendi velas, orei, pedi, supliquei. Supliquei muito, com muita fé, angústia e desespero.

Mas por algum motivo, não estava a surtir efeito. Ninguém me escutou, nenhuma mezinha resultou. Era suposto sentir-me assim por quanto mais tempo? Talvez se ele se dignasse a aparecer e me contasse o que lhe deu, talvez só assim passasse. Mas ele não o ia fazer. Sabia disso. Restava-me continuar a orar, mas também isso não estava a resultar!

Na noite de terça-feira passada, chovia bastante e decidi ir a pé a hora e meia do emprego para casa. Chuva, vento, o caminho todo em lama, pés e pernas ensopados... nada disso me afectava. O meu pensamento estava nele e só nele, como sempre. Como água que escorre para terreno mais baixo. É inevitável.

Mais sofrimento, mais lembranças, mais e mais dor! Parecia que não ia terminar nunca. Três meses haviam passado e eu nisto! Queria que terminasse. Se ele não vai aparecer-me à frente e dignar-se a conversar comigo, então que algo me fizesse esquecer que ele alguma vez existiu! Que me desse uma amnésia selectiva e pudesse esquecê-lo a ele, só ele. A dor, tão intensa, fez-me novamente rogar, suplicar, pelo fim desta emoção tão dolorosa.

Foi então que dirigi as minhas preces diretamente a pessoas de quem muito gostei e há muito partiram. E disse do fundo do coração e cheia de emoção: "Por favor, (....), acaba com isto, faz com que a dor pare!" "Por favor, (....), não posso mais com este sofrimento! Faz com que pare!".


Talvez um minuto depois, por uns instantes, consegui perceber uma mudança. Ténue. Mas senti-a. Por uns instantes, o meu pensamento voou para outro lado, deixou de se fixar nele. E isso foi o sinal. A dor, ainda que presente, pareceu pela primeira vez, que ia transformar-se em não dolosa. Ia ser ultrapassada.

Foi há uma semana. De lá para cá, continuo a tê-lo na minha mente quase 24h por dia. Ainda faço "filmes" sobre o que poderá acontecer caso o encontre e lhe consiga falar. Mas tenho agora pequenos e breves instantes em que o consigo afastar. Não totalmente, mas do consciente ele passa para o sub-consciente e mantenho-o lá o máximo de tempo que conseguir.

Segunda-feira pela manhã, ele acordou comigo e logo com intenções de dominar-me o pensamento e encher-me de mais uma sessão de "porrada" emocional. Mas quando desci para a sala, a paz e o sossego que lá senti, fez-me querer ficar por ali. Senti que o quarto está povoado de lembranças e era o pior lugar para me enfiar. Fiquei pela sala, onde estava a sentir-me bem. Mesmo quando outros logo apareceram para marcar lugar, esperando que saísse dali, não o fiz. Se voltasse ao quarto, ia fazer o mesmo que na véspera: a clausura ia fazer-me pensar, sentir, chorar e ia terminar a desabafar horas em vídeo tudo o que quero dizer. Não queria isso. Já tenho uns 100 vídeos... Precisei contar esta história em voz alta, contar o meu ponto de vista, o que penso, o que sinto. Não para alguém, mas para mim mesma.

Ainda não estou curada, mas sinto que também já não estou totalmente presa. Começo a pensar que sou alguém e preciso cuidar de mim. Não por dor, mas por merecer. Por ser uma pessoa, por já não ter muito tempo de vida na terra, e por isso ter de aproveitá-la melhor, para ser feliz, não miserável. Já chega de tristezas. Esta dor também irá ser (mais) uma que vai passar (?). Espero não esquecê-la, para que possa aprender a não voltar a cair em nada parecido. Mas quero, sinceramente, começar a viver a vida pelo prisma oposto àquele que me é mais oferecido: O sofrimento. Quero explorar as alegrias, o bem-estar, a felicidade.

Tenho esta dor como entrave e muitas outras contrariedades também. Mas faz parte da vida. Não se pode deixar que nenhuma delas tenha mais importância ou se sobreponha à vontade/necessidade de se viver feliz.

E acredito mesmo que "eles" é que me ajudaram.
Eles escutaram-me. E logo a bondade neles se compadeceu.
Onde estão só há amor e amor é o que sentem por mim.

Temos de nos sentir abençoados.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Senti-me sensibilizada




Foi assim que encontrei as flores que havia deixado no exterior junto à parede do jardim. Protegidas do frio e da geada por estas traves de madeira. Esta simples visão sensibilizou-me. Gostei deste gesto de atenção e cuidado. 

Depois percebi porquê. E é tão simples. Foi a primeira acção simpática que alguma vez recebi na casa. Acho mesmo que foi a primeira. 

Deve ter sido o senhorio, uma vez que o vi no jardim quando ali as deixei antes de sair de casa apressadamente para o emprego.

Algo tão simples e no entanto sensibilizou-me de uma forma que não contava.

Já faz uns dias que as havia comprado. Ontem, pela manhã, com o sol que brindou o dia, fiz questão de plantá-las. Não sabia onde as queria por, nem como as dispor. Fui por instinto. Quarenta buracos cavados na terra e 40 plantas depois... resultou nisto:



O que acham

domingo, 22 de setembro de 2019

O homem do supermercado telefonou!


Estava eu na maior depressão, a sofrer de desejo, de rastos como se calhar conseguem imaginar. Tenho passado as semanas a tentar afastar estas emoções de mim, até já orei, fiz simpatias, mas assim que desperto, o meu cérebro leva-me de volta para a saudade. 

Decido enroscar-me no cobertor e dormir. Talvez passe o desânimo. A dor.
Nisto toca o telefone. 


Atendo. 
Na véspera ligaram-me no preciso momento em que também estava mergulhada no pico do sofrimento e saudade. Atendo na esperança de ser alguém que faça a diferença. Mas é uma chamada a perguntar "se estive envolvida num acidente de automóvel no qual não tenho responsabilidade".


Oh, Please!!! - exclamo em dor, e desligo a chamada.
Desato num misto de riso e choro. Riso por ter piada, choro por estar a rir e estar a sofrer.

Atendo mas não escuto nada. Desligo a chamada e voltam a ligar. Atendo. Não escuto nada novamente. Até que percebo que isso se deve ao facto de ter colocado os auscultadores. Removo-os e uma voz masculina de início imperceptível diz algumas palavras.

Ultimamente a únicas chamadas que recebo são todas relacionadas com empregos. Já nem imagino que me possam ligar por outro motivo. "Ele" não me vai ligar. Deve até ter apagado o meu número dos seus contactos. Portanto era mais um outro frete qualquer.

..."das promoções no supermercado. Estivemos a falar. Pedi-te o teu número de telefone e fiquei de te ligar".

Só uma única vez dei o número de contacto a alguém - foi ao tipo que há dois meses, mo pediu no supermercado. Já relatei a história neste post. Ele ficou de me ligar no fim-de-semana, de tarde, para irmos jogar ténis. 

Só que não o fez. Nem no fim-de-semana seguinte. Eu que estava relutante em aceitar por perceber que as suas intenções envolviam romance e até lhe confidenciei coisas privadas do foro íntimo para o fazer entender a alta improbabilidade disso vir a acontecer, não fiquei muito desapontada. Ele insistiu e quis saber: "Então se conheceres um tipo e desenvolveres sentimentos por ele, o que vais fazer?" -perguntou ele. Respondi: "Não sei. Tinha de passar por isso para saber".

Estava tão longe de sequer conjecturar essa hipótese!!!!!
E olhem agora onde estou. 

É tão surpreendente que se fosse a contar a alguém (que não vou), não iam acreditar.

Falo com o Jason (assim se chama) na boa. A conversa continua a sair fluída e sincera e frontal, como eu gosto. Perguntei-lhe se se lembrava do que me perguntou. Ele lembrava-se de muita coisa da conversa e rapidamente percebeu ao que me referia. 
-" Deves ser bruxo... porque... aconteceu.". 
-"O quê? Já tiveste sexo com um gajo?!?".

Entre explicar que foi totalmente surpreendente, não estava nada à espera por estar convicta que jamais ia voltar a envolver-me com alguém, ele revelou que achou que fui rápida demais e não esperei por ele. (??).
Voltei a relembrá-lo: Sessenta dias... Estás a ligar, mas passados sessenta dias!". Disse-me que o desapontei porque afinal não esperei tempo algum. Voltei a relembrá-lo: Sessenta dias!. Em que não deu notícias, não mostrou interesse, deixou de aparecer no supermercado. Que não me viesse dizer que achava normal que uma pessoa que tentou engatar esperasse 60 ou mais dias pelo telefonema que devia ter feito no fim-de-semana.
Mas eu estou a cumprir a minha palavra - diz-me, engatatão. Ao que lhe faço lembrar: "A tua palavra tinha um prazo. Disses-te que telefonavas no Domingo, à tarde". - digo em voz de brincadeira. 
-"Quis dar-te tempo. Percebi que estavas a colocar muitos obstáculos e que precisavas de pensar. Se eu tivesse te ligado logo, o que é que fazias? Não ias atender."
-"Ia."
-"Se eu tivesse ligado-te no Domingo, atendias?"
-"Sim".
-"E saias comigo?"
-"Sim".
-"Então e quando o Domingo chegou e eu não liguei, o que é que pensaste nos dias seguintes? Que eu deitei o teu número de telefone imediatamente no lixo?
-"Pensei que podias ligar no fim-de-semana seguinte, ou que podias ter mudado de ideias e deitado o contacto fora". 
-"E se me visses no supermercado. O que fazias?"
-"Se te visse no supermercado cumprimentava-te e perguntava: "Então, e esse telefonema?".
-"Mas onde e quando conheceste esse tipo?"
-" Há coisas de cinco semanas" "No emprego".
-"Cinco semanas?!? Mas isso foi quando me conheceste!"
-"Não sei. Não ando a contar... Mas não aconteceu há cinco semanas. É recente, foi gradual... "
-"Não esperaste pelo meu telefonema! Abriste logo as pernas. Sabes qual foi o mal? Foste para a cama com o gajo errado. Devias ter ido comigo".  

Ele ter-me dito que escolhi o gajo errado não me caiu muito bem. Quem se julga que é para saber? Mas deixei passar. Em honra da franqueza que logo se estipulou no primeiro contacto. A conversa estava a ser honesta e estávamos a usar termos honestos.

Ele entendeu que não sou de ir para a cama por dois tostões. Nem por um milhão. Tem de existir uma atracção e cumplicidade, caso contrário tudo me repele. O que estranhei foi ele insistir que cumpriu a palavra dele e fui eu que não fui correcta. Disse-me que nem tinha deitado fora o meu contacto, e isso provava que estava a conceder-me tempo para me habituar à ideia. (?? a sério? Acha-me burra?). Disse-me diretamente: "Eu é que era o gajo com quem tinhas de ir para a cama. Fui eu que te abri a mente para essa possibilidade e tu foste abrir as pernas a outro". 

Opah... 
A coisa só entrou em desacordo quando ele repetiu isto e notei que não foi com ligeireza. Disse-me que não esperei tempo algum e fui logo abrir as pernas ao primeiro que "avançou por ali a dentro". Ao que lhe respondi que eu não era assim: "Não sabes quantos gajos andam a tentar, quase diariamente..." ele corta-me a palavra, concordando, e com esta simples afirmação convenceu-me:
-"Eu sei! Eu sou um gajo".

-"Foi especial" - voltei a mencionar, sem querer entrar em descrições. Quis evidenciar que não cortei o celibato por um motivo frívolo qualquer. Mas por um sentimento que brotou onde julguei que não havia mais lugar por a terra ser árida e infértil. 

E também lhe disse, já que insistia que o decepcionei por não esperar por ele (é mesmo um sedutor!), se durante esse tempo ficou trancado em casa na companhia do gato.

Ficou um pouco irritado mas eu expliquei que era uma brincadeira. O ponto de vista estava claro, parece-me.

Tive de me despedir dele e pedir para que terminássemos a conversa. Penso que já não me vai ligar. Mas fiquei contente que o tivesse feito. Mostra coragem. Ao fim de tanto tempo - e depois de não ter cumprido a palavra - é preciso tê-los no sítio para pressionar o número e ligar. 

Porém também fiquei com uma ligeira impressão de "ALERTA". Então ele não liga, não aparece, não mantém o contacto, não nos relacionamos de todo, deixa que se passem mais de dois meses e cobra-me fidelidade? Essa de ter sido apanhado numa falha de palavra e querer reverter tudo para o papel de injustiçado, cuja pessoa a quem ficou de ligar não esperou por ele ao final de 60 dias... até dá para rir. Mas ele estava a falar sério nessa parte e aí senti um alarme baixinho a soar dentro de mim. 

Mais uma vez reconforto-me por fazer questão de, por mais que simpatize com alguém, nunca lhe dar a conhecer onde moro. 

Só existiu uma excepção. Porque ele foi inteligente, tão sereno e confiável ao passar-me o telemóvel para colocar o endereço no Google Maps... Nem me passou pela cabeça que tivesse segundas intenções. (Embora tivesse passado não digitar o endereço...).

Nesse sentido não sinto perigo vindo dele. Provavelmente nunca mais vai querer passar pela porta. Quem sabe? Não o entendo, afinal. O que sei é que estava mergulhada numa depressão sem tamanho! A questionar-me incessantemente, desde o despertar até o adormecer de exaustão e dor. Porquê!?? Que lições tenho de tirar daqui?? Pedi a todos os santos que metesse alguém realmente bom no meu caminho, merecedor.

Toca o telefone.
O inesperado telefonema do Jason não podia ter vindo em melhor altura.
Acabou por ajudar-me a afastar três semanas de uma dor dilacerante.
E fez-me pensar que tenho de tirar daqui uma lição.

Será que é Deus a querer dizer-me que existe mais peixe no mar?
Que devia lembrar-me disso??

Mas não creio que o Jason seja o "merecedor", a pessoa certa.

Também, inesperadamente, ontem de noite, ligou-me um amigo que só liga de vez em vez, quando tem uma novidade. É uma pessoa que também se deu a conhecer assim, sem amarras, de coração aberto. Não temos intimidade de contacto, mas falamos com o mesmo tipo de abertura e sinceridade como se fossemos amigos íntimos. Já somos amigos "de há muito tempo" - vai por volta de 12 anos. Mas não do género "vou à tua casa, tu à minha" contudo, convidou-me a aparecer por lá ao saber que ia viajar para Portugal. E sei que estava a ser sincero. Isso agrada-me.

E isto é OUTRO SINAL.
Que tenho de aprender a ler.

Existe quem goste de nós mas não está presente todos os dias.
Este amigo tem o dom de me fazer sentir bem sem se esforçar, só por ser como é e mantermos uma conversa normal. E também ele ligou inesperadamente, num momento de profunda depressão e desespero.

Já é a segunda vez que me faz isto, sem sequer suspeitar.
Deve ser a providência.

Quanto ao Jason, o seu telefonema acabou por fazer-me um bem imenso.
Estava a ser disputada, ahah!
Passados mais de 60 dias do que imagino terem sido outras investidas frustradas, achou que ainda encontrava aqui a "sobresselente" para provar. Ai, ai... Fez-me gargalhar de espanto.

Senti-me de imediato melhor.
Espero que a sensação dure.



PS: Se o Jason ligou passados 60 dias com interesse por mim, quem sabe ele não ligue também?
Mas aí já estou a alimentar esperanças. Não quero fazer isso. 
Gostei do Jason mas obviamente não me envolvi com ele, nem com ninguém que tivesse mostrado interesse nisso entre ele e "ele". Ter convivido diariamente com "ele" e tê-lo visto transformar-se em algo que me agradou dia para dia foi o que fez com que desenvolvesse sentimentos. Prestativo, atencioso, acanhado, insinuador e algo hesitante... pronto a agradar. Mas também volátil. Por vezes frio. Precisava ir lá aquecê-lo até vê-lo sorrir. Isto fez com que fosse possível nascer sentimentos especiais. Não. Não vou alimentar esperanças. Não posso. É idiota da minha parte. 




sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Longe da vista, longe do coração


Quatro da manhã e eu desperta, que nem o sol.
Adormeci depois da meia-noite. Isso tenho a certeza.


Quantas horas ando a dormir??

Não admira que tenha rugas debaixo dos olhos! Tem sido assim a minha vida inteira, desde a mocidade: poucas horas de sono. Não se pode pedir à fada da beleza que nos mantenha jovens e atraentes para sempre quando as circunstâncias de uma vida beneficiam outro resultado.


Mas venho só escrever que me sinto mais optimista. Pois pela primeira vez numa semana inteira, quando agora despertei, o meu pensamento não se fixou "naquilo" nem a primeira coisa que senti foi angústia e lágrimas. Lá diz o ditado: "longe da vista, longe do coração".

PS: São ambos verdade. A primeira ausência indicou a presença da paixonite. O afastamento parece estar a permitir a cura... Que bom! Porque a sensação que dá é que se trata de uma doença incurável que nos está a matar a cada pulsar do coração. 

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Saber-se que se tem seis meses de vida


Curiosa para saber sobre o quê Salvador Sobral padece, googlei o seu nome e, por aquilo que divulgam alguns sites, o rapaz tem uma insuficiência cardíaca grave, usa uma espécie de pacemaker daqueles com uma mochila à frente do peito e precisa de um transplante de coração com urgência.

Li, inclusive, que os médicos estimaram que, sem um coração novo, ele viveria somente mais seis meses de vida.

Abstraindo-me agora de quem é - conseguem imaginar?? O impacto que uma coisa destas tem para a família e para o próprio? A angústia? O choro? Os receios? Os medos? A contradição de se desejar que alguém morra logo para que outro possa viver?

Saber-se que se tem um prazo para deixar de viver... E um tão curto. O que isso faz a uma pessoa? No que isso torna todos os nossos dias? Olhar para o céu, para qualquer coisa, tendo quase a certeza que daqui a um sopro de meses, pode-se já não estar cá para olhar?

Cantar uma música?
O que isso faz??

Se a pessoa não fosse quem é, e fosse ainda um estranho para Portugal, o seu estado de saúde seria o tipo de post que se partilharia no facebook, para «ajudar» a aumentar a palavra e se encontrar um coração. Ou para se fazerem rezas pela sua saúde. 

Começo mesmo a achar que no dia 13 de Maio existiu de verdade muitos milagres. 

Posso dizer que já ouvi tantas covers da música composta pela Luísa Sobral e interpretada pelo irmão Salvador. Escutei em Russo, francês, «brasileiro», inglês... português. Mas em todas achei que faltou algo. Principalmente na interpretação. Faltou uma certa emoção e fez muita falta.

E subitamente entendi uma verdade absoluta:
NINGUÉM poderá cantar esta música como o Salvador pode.
Só ele tem aquela sua sensibilidade para sentir a música, só ele tem aquela franqueza (e porque não tê-la, se se sabe que o tempo urge?) e só ele poderia, com aquilo que lhe vai no coração, cantar a música com o seu coração. O seu coração que lhe falha, que bate mais forte, na alma, mas falha no corpo. Como é que algum outro pode cantar com aquela emotividade se nenhum está prestes a morrer?



"Ouve as minhas preces"

E quantas não estão a ser feitas, por outro motivo? Para que Salvador consiga o coração de alguém? Que coisa é esta de alguém ter de morrer com morte cerebral, para que outra pessoa possa viver? Que raio de segunda-vida é essa e que impacto psicológico e emotivo pode acarretar? 

Que dádiva é esta, de se doar vida?
Que angústia é essa de se sentir o fim?

E como poderia ele não cantar como cantou, tendo tudo isto na alma? 

Sim, já vi muitos tributos e muitas covers desta canção.
Mas na interpretação, todas deixam a desejar.
Ou são algo planas e previsíveis, ou a voz é esganiçada e a interpretação fracote. Uns gemem a música, não a cantam. Outros fazem «olhinhos» de românticos. Salvador fechava os olhos. Segurava as mãos, vibrava com cada pedacinho...

Não foi nada à toa que ele chegou e tocou os corações.
Que ironia!
Mas foi o que a música e a interpretação fez.
Conquistou pelo sentimento.

O MUNDO gostou desta canção e do seu intérprete. A barreira linguística nem sequer existiu. Não houveram muros. Diques e barragens foram demolidas para deixar as águas fluir... 

E corações por todo o planeta se sensibilizaram.
Esta melodia é universal, ficou globalizada. Ainda dará o que falar.

Só espero é que não tenha sido uma glória de despedida... 
Mas se vier a ser, só aumenta a beleza da dádiva. 


domingo, 30 de dezembro de 2007

DADOR DE ÓRGÃOS

RENNDA



Por volta de 1996 tomei consciência de uma mudança significativa numa Lei que nos diz respeito a todos: a colheita de órgãos humanos. Embora a lei tenha sido alterada em Abril de 1993, duvido que a maioria dos Portugueses saiba que, a menos que se pronuncie ao contrário, após a morte será esquartejado como se faz a um animal no matadouro, a fim de lhe ser retirado o maior número de peças reutilizáveis possíveis.

Não queria ser tão gráfica e estabelecer uma comparação de tão mau gosto. Mas assim é. Já o vi em documentários que passaram pouco na televisão e fiquei espantada e angustiada com a quantidade de utilizações post-mortem que o nosso corpo tem. Desde pele, a cabelo para transplante, a qualquer espécie de músculo, a tendões, à córnea ocular, a membros motores como a maioria já conhece, e claro, a órgãos mais interiores como o coração, os rins, um fígado, os pulmões e não sei mais o quê. Será que deixam alguma coisa?

O que me aflige nisto tudo é que, em vida podem não nos dar valor algum. Um indivíduo pode não receber respeito, ser maltratado e viver desalojado. E é na morte que ele se torna valioso.

Quando era criança e até adolescente, esteve sempre nos meus planos tornar-me dadora. Mas quando soube da lei, os meus sentimentos alteraram-se. Não tive dúvidas: ia buscar o tal papel e tornar-me Não Doadora, nem que fosse para depois desmanchar tudo para que a decisão de o SER pertencer a mim e não a mais ninguém.

Muito bem. E onde se obtém esse documento?
.
Uma ida casual ao ministério de Educação facultou-me essa informação: um indivíduo tem de fazer comunicar ao Ministério da Saúde a sua intenção, e para tal “basta” fazer uma inscrição num Centro de Saúde ou extensão RENNDA, solicitando um “impresso-tipo” que deve estar “devidamente preenchido”. A RENNDA (Serviço Nacional de Não Dadores) é “um serviço informatizado, onde se encontram todos os que manifestaram junto do Ministério sua total ou parcial indisponibilidade em doar post mortem, certos órgãos ou tecidos” (fonte wikipedia, link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Transplantação_de_órgãos)

Vou deixar que reflictam no possível significado, a meu ver dúbio, das palavras destacadas em negrito. Por agora vamos “seguir” os passos de quem está interessado em obter este “impresso-tipo”.

O local, conforme reforça este outro link:
Parece simples. Mas claro, não é.

Por centro de saúde conheço o da minha área de residência e aí, onde nem sequer existe um balcão de atendimento geral, ninguém conhece o que é isso de RENNDA e seu respectivo impresso. Noutra ocasião em que me vi num hospital, decidi procurar informações a respeito do procedimento sobre a doação de órgãos humanos após a morte. Perguntei onde ficava a recepção, já que me encontrava nas urgências. Apontaram para fora do hospital, à direita, ao fundo. Caminhei até chegar ao fim da rua, li todas as placas, mas o mais próximo que cheguei de algum lugar foi da casa mortuária.


E assim, mais de uma década se passou e sou ainda, dadora de órgãos á força. Sou por falta de oportunidade, não por falta de conhecimento. Acredito que muitos desconhecem esta lei. E segundo uma notícia da TSF, no ano em que esta lei entrou em vigor, cerca de 20 mil indivíduos fizeram a sua inscrição. Dez anos depois, em 2004, apenas 64. Não 64 mil, mas apenas 64 indivíduos, menos de uma centena. (link: http://www.tsf.pt/online/vida/interior.asp?id_artigo=TSF155488).


Reforço a noção de que poucos portugueses conhecem esta Lei que dita para que fim se destina os seus corpos mortos. Muitos pensam que nem autopsiados são e que o consentimento da família é fulcral para qualquer intervenção invasiva. Enganam-se.
.
Tenho um familiar a ir à faca dentro de dias pela primeira vez na sua vida. Naturalmente, está nervoso com o que desconhece. Calhou ter mencionado que somos todos dadores por lei e este não quis acreditar. Insistiu que o consentimento dos familiares tinha de ser escutado para qualquer procedimento, especialmente este, em que “ele não deu permissão”.


Pois então fica já para se saber: desde 1993 a lei Portuguesa dita que qualquer indivíduo residente em Portugal quando morre é um potencial dador (TSF) e cada pessoa a partir do momento em que nasce adquire este estatuto (Portal da Saúde).


Se tem alguma objecção ou desconforto com esta ideia, tem de se registar no RENNDA. Para tal dirige-se a um qualquer centro de saúde apenas com o seu Bilhete de Identidade. O documento não tem qualquer custo. Lhe será entregue o impresso tipo, que tem somente de preencher e que pode entregar nesse mesmo posto de Saúde.


Simples, mas cruze os dedos e faça figas. Para que consiga os seus intuitos com a facilidade descrita.
.
É que não só o seu centro de Saúde pode nem saber do que está a falar, como o historial português de tudo o que respeita a serviços simples, mas burocráticos, tem a fama que tem porque a merece. Se tivesse de apostar, diria que as pessoas que contactar, desconhecem o paradeiro desse impressso-tipo e estão mal informadas para prestar informações. O melhor a fazer é se certificar que o documento chega mesmo ao Ministério da Saúde, e faça por confirmar se os dados facultados no papel são os mesmos que constam no sistema informático. Quem a/o atender irá com certeza negar-se a isso ou mostrará indisponibilidade e antipatia por tal lhe ser pedido. Tome a iniciativa de fazer a sua própria cópia do documento e guarde-a. Não é necessário um cartão de Não Dador mas, como os sistemas informáticos e os erros humanos acontecem, peça-o á mesma. E prepare-se para enfrentar possíveis juízos de valor, pois aparecem sempre pessoas ávidas para realizar criticas. Podem não ter tido um único gesto altruísta em vida mas acham que o vão ter na morte, e isso lhes dá o direito de julgar a decisão alheia sobre o direito à identidade.


Já não parece tão simples…


O OUTRO LADO DA QUESTÃO

É claro que, por detrás da questão da obrigatoriedade portuguesa de dadores de órgãos, está PORQUÊ estes fazem falta.


Quando reflectimos que existem pessoas necessitadas, o estar em desacordo com o ser dador não nos faz sentir totalmente bem. Afinal, já estamos mortos. Será que faz diferença? Dizem que não se sente nada. O corpo é um casulo em decomposição. Mais vale aproveitar algumas peças para alguém viver mais alguns anos.


Sobre isto, cada um sabe por si.


Outra razão apontada para esta mudança de lei é o tráfego e o mercado negro de órgãos. E aqui já tenho muitos mais dados a dizer sobre a questão!


Ao que parece, nunca deixou de existir escassez para a quantidade de procura. Ou seja: a quantidade de mortos dadores é muito inferior à quantidade de pessoas necessitadas. Até porque temos outros factores a ajudar para que este prato da balança sofra uma maior inclinação: as pessoas estão mais expostas à poluição, a medicina chegou mais longe e é hoje capaz de mais feitos, pois no passado um doente estaria simplesmente condenado a vir a falecer. As pessoas são também mais sedentárias e abusam dos limites. Quem fuma, quem bebe e quem vive em atmosferas que sabe lhe serem nocivas e continua a ter estes comportamentos de risto até lhes doer.


Lamento que na televisão não passem mais documentários e notícias sobre este tema. Mas vou deixar aqui escrito, tudo o que já ouvi falar a respeito de transplantes, transplantados, colheita de órgãos, tráfego e dadores. Vai surpreender-se! Alguma desta informação fez com que repensasse tudo.


Por onde começar?! Há tanto para se dizer!


Vou começar pelo meu princípio: pelo xenostransplante e pela mecânica.


A necessidade humana de substituir órgãos defeituosos por outros ou outra coisa que os ponha a funcionar, é uma necessidade antiga, sobre a qual muitos estudiosos e cientistas se debruçaram. O primeiro transplante de coração humano foi feito em 1967, antes do homem pisar a lua. Mas mesmo antes muitas outras experiências foram efectuadas. Uma delas foi a possibilidade de órgãos de animais poderem fazer a vez de um órgão humano. A ciência centrou-se no porco, por ser um animal com a fisiologia mais semelhante à do ser humano. Chegou-se a fazer transplantes e a acreditar no sucesso desta técnica. Desconheço agora os pormenores mas existem ou existiram pessoas cujo coração ou outro órgão no seu corpo não era mais o seu, mas o de um animal.


Outro caminho a seguir será o uso de aparelhos mecânicos que consigam reproduzir as funções dos órgãos a morrer. Devo dizer que é neste ponto que sinto um tanto de revolta. Pelo que consegui compreender através da informação a que fui submetida, esta possibilidade é a melhor escolha possível. Não compreendo porquê não existem mais avanços nesta área.
A inserção de aparelhos mecânicos seria uma mais-valia em todos os aspectos da vida humana. Primeiro que tudo, terminava com o tráfego.
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Por todo o mundo mas principalmente nos países muito pobres, são cometidos rituais macabros de pura violação aos direitos humanos. Tudo porque um órgão vale mais que ouro no mercado negro.


Um indivíduo de recursos de um país desenvolvido, se souber que consegue um órgão no mercado negro, aproveita as brechas da legislação, viaja para ser operado num terceiro mundo qualquer e regressa ao seu país, num estado de saúde que não experimentava à muito. Para tal só teve de fechar os olhos à forma como obteve de novo a dádiva da vida. Claro que o desejo é legítimo, mas a forma como muitas vezes se concretiza, é terrível. Prova que quem tem dinheiro compra tudo. Inclusive a vida de meninas que são assassinadas para extracção de órgãos ou de homens e mulheres que acordam com uma misteriosa incisão lateral por lhes ter sido removido um rim enquanto estavam desacordados. Existe também o caso de a extrema pobreza levar uma mulher, por exemplo, na Índia, a vender o seu próprio rim por uma ninharia e depois, sente-se sem energia para continuar a levar a vida dura que sempre levou ou lidar com efeitos secundários que desconhecia poderem existir.
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Na América foi perguntado a um casal a quem o filho recém-nascido acabara por falecer, se autorizava a doação de órgãos. O casal reflectiu e decidiu que gostaria de enterrar o bebé inteiro na terra. Passados dois meses receberam uma conta do hospital. Nessa factura vinha um extracto de quatro páginas, indicando detalhadamente cada intém retirado ao corpo daquela criança. Os pais ficaram horrorizados.


Por tudo isto e mais, não entendo porquê não se investe no uso e estudo de órgãos mecânicos. Serão as questões económicas que ditam estas escolhas?


Um indivíduo transplantado compra também uma despesa vitalícia na farmácia. É grande e dispendiosa a quantidade de fármacos que um indivíduo tem de tomar para levar o seu organismo a aceitar aquele órgão que não lhe pertencia a trabalhar para si. E por maior sucesso que a cirurgia prometa ser, a esperança média de vida é sempre um risco, uma incógnita. Tanto pode ter “comprado” ao tempo mais dois anos, como trinta. E durante esse período a indústria farmacêutica tem um cliente que a ela recorrerá todos os dias. O transplantado é co-dependente de fármacos.


Depois, infelizmente, vêm aqueles que vou chamar de (e desde já peço desculpas se ferir susceptibilidades) “transplantados ingratos”. Trata-se, a título de exemplo, dos indivíduos que não tomam as devidas precauções após o transplante. Como é o caso de um senhor que vi numa peça exibida pela Sic. Este português recebera um transplante duplo de pulmão (irei confirmar se foi mesmo de pulmões). Por causa do transplante, o indivíduo tinha de usar máscara devido ás impurezas no ar. Outra coisa que ele não podia fazer, era dedicar-se ao seu hobbie favorito: criação de pombos. É sabido que os pombos e as suas fezes são do pior que existe para a saúde humana. Mas este indivíduo gosta demais dessa parte da sua vida para prescindir da satisfação que cuidar dos pombos lhe traz. Acontece que não existem tantos pulmões assim, para quem os receber poder arriscar-se a perdê-los. Ao menos assim me parece, que há algo de errado nestes casos.


São muitos os riscos, poucas as garantias, e muitas as incógnitas. Gostaria que esta fosse uma área onde se pisasse solo mais firme e, por isso, estou a torcer para que os interesses mudem e se passe a considerar mesmo a sério, o fim do recurso a órgãos humanos em substituição de outros e se passe a olhar em frente, em direcção á tecnologia. Em laboratório já se consegue muita coisa: fazer pele artificial, cultivar células, moldar uma orelha e criá-la em pele. Porquê não ir mais longe? Afinal, a lua, os planetas e todo o mistério, está dentro de nós.
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Tanto assim é que afloro agora outro assunto mais transcendente sobre a transplantação de órgãos humanos: a transferência.
.Tenho gravado algures um documentário sobre pessoas transplantadas que começaram a ter sonhos, visões e emoções após o transplante. Vieram a descobrir que nos sonhos escutavam o nome do indivíduo cujo órgão possuíam agora. Em sonhos viam-lhe o rosto. Os desejos mudaram para ficarem de acordo com os do falecido dador. Acredite quem quiser. Eu acredito. Há mais mistérios entre a terra e o céu... já se diz.
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Mas não é mistério. É energia. O homem não compreende totalmente a energia. Já Heinstein e outros fizeram as suas tentativas.
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Em Portugal tudo é anónimo. O dador é anónimo, a identidade do receptor também. Sou contra o anonimato. Acho que uma família que sabe que um órgão de um ente querido, por sua vontade, estaria destinado a ajudar a viver uma outra pessoa, tem o direito de saber para onde foi e para quem. Eu quereria saber, embora não queira agora me imaginar a passar por isso. Mas eu ia querer saber se foi para a China, para o Tibete, para o Alentejo, para homem ou para mulher, para menina ou menino, com que idade, com que estilo de vida. Acho bem, acho de direito.
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Termino com o pensamento naqueles que vivem uma realidade que pessoalmente desconheço e espero nunca vir a conhecer. A todos aqueles que neste instante vivem esta situação na primeira pessoa, desejo tudo de bom e mais ainda.