Não sei se fiz bem, apenas fui genuina e natural. Por isso mesmo é que estou na dúvida e recrimino-me por ser assim. É que, tratando-se da mais-velha, se me manter assim estou numa enrascada.
Ontem de noite desci à cozinha para beber água. Temos um jarro que a filtra. Vejo-o quase vazio e como estou com muita sede, despejo umas gotas para a garrafa que trouxe comigo. Vejo que a água está quente e por isso despejo-a. E volto a encher com água fresca. É aqui que a mais-velha (receando que a julgasse desmazelada por o ter encontrado vazio) diz:
-"Ah, eu ia esvaziar o jarro e trocar o filtro".
Esta sua intervenção, como se estivesse a falar com uma pessoa a quem quer bem, despoletou uma pequena conversa que, aos de fora, soa normal. A conversa foi só sobre a água, o tempo, perguntou se estava bem porque parecia pálida, falou-se do supermercado, do frio etc. Mostrei-me interessada em saber como se procede à troca do filtro e limpeza do jarro. Já o havia feito antes, quando o comecei a usar, por volta de Março do ano passado. Por esta altura, as poucas palavras mais demoradas que lhe dispensei já pareciam estar a incomodá-la. Como se, para a vontade dela, a conversa já devesse ter terminado, como se não quisesse falar mais.
Quem não soubesse o que ali está, enganar-se-ia. Mas eu, genuinamente incapaz de mostrar fel por alguém, falei-lhe como se não soubesse que, toda aquela simpatia, provavelmente foi antecedida por um enorme "descascar" na minha pessoa que foi tão bem sucedido em influenciar terceiros, que a fez agir com maior falsidade.
Só vi o novo inquilino uma vez mais, ontem de madrugada, quando me preparava para sair para o emprego e ele tinha acabado de entrar. Ao me ver na cozinha, ia eu a sair já enluvada, de gorro, capuz e cachecol rumo à noite de -1º, quis saber se ia "you're going out?" - que significa sair para me divertir. A sério?? Aquela hora com aquele frio?
-"vou trabalhar" - respondi-lhe.
Desejei-lhe um bom dia e só o voltei a ver, de relance, à hora de almoço, preparava-se ele para sair.
Não consigo deixar de sentir que ele está demasiado centrado no me ter ou não em casa. Tal como o outro. Não posso esquecer que escutei a mais-velha dizer-lhe que eu "estava em casa o dia inteiro" e que o que saiu "disse que eu estava em casa o dia todo".
Deu a entender que eu era um inconveniente, uma imposição, que eu não lhes dava espaço. Quando a realidade sempre foi oposta!!! Isto é de uma difamação infame, porque retrata-me exatamente o oposto que sou! Eu sou trabalhadora, esforçada, faço horas extra se mas disponibilizarem, vou trabalhar nas folgas se me chamarem... Sempre fui assim. E esta parvalhona anda a espalhar a todos os conhecidos que eu sou... como eles.
Sim, porque o que saiu, era o maior preguiçoso de todos. A maioria deles escolhe a profissão que têm pela quantidade de dias de folga que têm. Pelo facto de poderem ficar em standby (em casa) podendo ser ou não chamados para o trabalho - e ganham à mesma salário. O outro rapaz esteve DUAS SEMANAS em casa e foi trabalhar pela primeira vez, no dia em que o novo chegou. Teve - disse-me ele, 5 dias em standby, antecedido por 2 de folga por estar com tosse, antecedidos por outros 3 ou 4 de standby, antecedidos por um fim-de-semana de folga...
A rapariga que cá esteve, supostamente detentora de um emprego das 9 às 5, segunda a sexta, ficava em casa amiúde. Era vê-la a faltar com uma desculpa qualquer, vários dias por semana. Ficava em casa agarrada ao telemóvel, pela cozinha, sentada no sofá... toda confortável e a queixar-se que não queria ir para o emprego. Mas na altura de falar dos benefícios e de se descrever como funcionária, foi "exemplar" e até lhe deviam "dias de férias". Isso me deixava atónita. Uma miúda que quase nunca punha os pés no laboratório onde devia trabalhar - e isto certamente não é profissão para se faltar - ainda tinha férias a tirar! E porquê? Porque cada vez que faltava, usava como pretexto uma desculpa de saúde. E esses dias em que ficou em casa por se sentir sem vontade de ir trabalhar, não são contabilizados. No currículo em papel não transparece esta preguiça, a constante falta a dias de trabalho por sempre encontrar um pretexto de saúde. Ela tinha uma "condição rara" mas que não a limitava ou impedia de ir para a farra ou ir trabalhar para sustentar a boa vida que almejava. E usava-a para tirar benefícios e privilegiar a sua preguiça. Usava o que podia.Também estava inscrita na universidade a tirar um curso sem data para terminar e à distância e também isso usava para se baldar áquela que é a prática mais árdua de uma vida adulta responsável: Trabalho!
Que seja EU a que fica com a fama é... revoltante.
As poucas pessoas que me conheceram na outra casa e nos empregos que tive, todas me apontavam o excesso de trabalho como algo em que devia reflectir, pois não fazia bem, etc. Mas eu, não tendo outras coisas com que me ocupar e não podendo usufruir da casa onde pago para morar de forma livre, até me custa quando não tenho trabalho, quando mo cancelam, etc. Quero é trabalhar!
Porém, este verão de facto entendi que eles estão certos. Trabalhar tanto, ganhar uma miséria e no final, se tiver direito a reforma, esta não vai espelhar o que eu fui. Outros, como a tal jovem rapariga que nunca ia ao laboratório, serão aqueles que se pintam de árduos trabalhadores e terão as boas reformas. Não gente como eu. Por isso mesmo, devia aproveitar melhor a vida enquanto ainda me resta alguma energia e saúde. Esperar pelo "final" para o fazer não é correcto. Ter passado pela "paixonite" fez-me entender isso. Que as minhas prioridades deviam ser outras.
Mas sem amigos íntimos, sem amores, longe da família e a viver numa casa com pessoas como estas, quero é trabalhar! Mesmo por uma ninharia. Ao menos não estou aqui rodeada de gente intriguista, maliciosa e muito de meter o nariz na vida dos outros. Que tenha passado o Verão a equilibrar-me entre dois empregos, tendo conseguido estender o diário por duas horas extras além das 8 que me eram pedidas, e juntando a este o outro que mantenho há um ano, que me dá 4h por dia... Sair às 6 da manhã e regressar às 23h....
Porém, este verão de facto entendi que eles estão certos. Trabalhar tanto, ganhar uma miséria e no final, se tiver direito a reforma, esta não vai espelhar o que eu fui. Outros, como a tal jovem rapariga que nunca ia ao laboratório, serão aqueles que se pintam de árduos trabalhadores e terão as boas reformas. Não gente como eu. Por isso mesmo, devia aproveitar melhor a vida enquanto ainda me resta alguma energia e saúde. Esperar pelo "final" para o fazer não é correcto. Ter passado pela "paixonite" fez-me entender isso. Que as minhas prioridades deviam ser outras.
Mas sem amigos íntimos, sem amores, longe da família e a viver numa casa com pessoas como estas, quero é trabalhar! Mesmo por uma ninharia. Ao menos não estou aqui rodeada de gente intriguista, maliciosa e muito de meter o nariz na vida dos outros. Que tenha passado o Verão a equilibrar-me entre dois empregos, tendo conseguido estender o diário por duas horas extras além das 8 que me eram pedidas, e juntando a este o outro que mantenho há um ano, que me dá 4h por dia... Sair às 6 da manhã e regressar às 23h....
E estou o dia todo em casa?!?!?!!!!
Pintarem-me assim a um rapaz que acabou de chegar já a perguntar sobre a minha rotina de empregabilidade é uma atitude de meter nojo.
E é tudo ELA.
Com quem eu ainda troco palavras genuínas!
Volto a dizer o que sempre disse às filhas muito trabalhadoras...sê sempre tu, fala bem com "a mais velha" numa de chapada com luva branca e desliga. Caso contrário partes para tudo com o pé atrás e valerá a pena?
ResponderEliminarTambém fui muito penalizada em termos laborais porque fazia o meu e o dos baldas. Até hoje não me arrependi e rancores? só desgastam e tive sérios problemas com alguns...mas bateram na couraça da minha indiferença.
Não é fácil estares longe da família, etc, etc,...mas vida logo, logo dar-te-à o retorno que mereces porque o que mais interessa nessa "bagunça" é o teu bem estar psicológico e só tu o conseguirás.
Força
Beijos e uma boa semana