 |
Dados de Portugal |
Cada vez escuto mais pessoas dizerem que a religião é uma porcaria, que só produz fanáticos. E vão sempre buscar a inquisição para a desacreditar. Mas vejo documentários sobre a vida das pessoas há um ou dois séculos - quando a religião era prática comum e generalizada, e percebo qual é o benefício de se ser crente a um Deus.
1º - Honra.
A honra era mais que uma noção, desempenhava um papel importante no carácter de uma pessoa.
2º - Bússola Moral
As pessoas sentiam-se perdidas mas encontravam algum tipo de orientação espiritual no seio da religião.
3º - Rectidão
O certo e o errado não eram conceitos tão abstratos, prontos a ser dobrados para as conveniências de cada um. Existia um código de conduta e uma noção bem clara de rectidão.
4ª Solidariedade
A igreja sempre viveu do dízimo e de doações. Mas independentemente do que se possa achar dessa atitute em termos de riqueza com proveitos institucionais, a solidariedade estava incutida no espírito dos fiéis. A interajuda era uma realidade. Pão para os pobres era um dever de todo o cristão.
5º Respeito
O respeito por si mesmos, pelo parceiro, todo o processo de uma vida a dois impedia o individualismo ou o egoísmo. As pessoas pensavam na família, respeitavam os mais velhos e os mais velhos não se encostavam a uma parede a dizer que estavam reformados. Enquanto existisse saúde. Se não existisse, eram cuidados.
6ª Respeito pela saúde
A saúde era levada muito a sério. Talvez por não existir um sistema nacional de saúde com médicos para todos nem comercialização generalizada de medicamentos. Cada pessoa sentia uma enfermidade como algo sério que colocava a sua vida em risco de ser perdida. Era-se meticuloso e uma doença era tratada com seriedade.
7ª Amizade
As pessoas pareciam reunir mais condições para criá-las e mantê-las. Mesmo à distância ou especialmente à distância. Talvez por uma certa ingenuidade, mas também por não se manterem excessivamente desconfiadas. Eram mais receptivas?
De ontem para hoje andei a "viajar" no passado. Gostei particularmente de um documentário onde uma esposa enferma teve sempre o marido à sua cabeceira a cuidar dela enquanto doente. Depois ficou ele doente - ferido por bala - e foi a vez dela de cuidar dele.
Esse tipo de responsabilidade, de cuidado, de amor... A noção das pessoas e o empenho em viverem uma relação respeitosa, real, em perdoar. O marido tinha tido um caso com outra mulher. Confessou à esposa. Achou que esta jamais o iria conseguir amar de volta. Mas esta colocou as suas condições e disponibilizou-se a amar de novo o marido. E era amada de volta. Mais do que antes, talvez. Não sei se hoje em dia as pessoas conseguem empenhar-se desta maneira tão sincera. Claro que existem traições (quando não?), que são descobertas (serão confessadas?) e alguém decide dar uma nova chance ao matrimónio. Mas será que conseguem sem ressentimento? Hoje só se escuta falar de ressentimento, vingança, ódio... Mesmo quando reconciliados, os ataques continuam. Ou o sexo extra-conjugal continua, traindo-se o parceiro e revelando uma enorme falta de carácter e total ausência de sentido de Honra. Se separados, a maledicência é uma constante, a amante passa a ser uma desclassificada odiada até o âmago... Não que generalize - nem neste tempo nem no passado. Mas creio que talvez fosse mais fácil no passado, devido à tal bússola moral que a religião ajudava a manter, as pessoas se manterem empenhadas no matrimónio e nas relações pessoais de forma mais respeitosa e autêntica.
Depois viajei no passado pelo próprio relato do passado. Há uns anos fiz a minha árvore geneológica. Isso implica ir aos arquivos consultar os assentos de nascimento, casamento e óbito. Encontra-se muita coisa comum, mas também algumas histórias menos comuns. Percebe-se melhor o que terá sido ter vivido em tempos tão remotos. O que é que as pessoas pensavam, agiam, os perigos que os assolavam, a forma como viviam... E percebe-se pelas mãos do padre ou do escrivão - que eram as pessoas encarregadas de registar o aparecimento, a mudança e o desaparecimento de cada vida nesta terra. Ou seja, algo que sempre tem um cunho da igreja.
Consultei um fórum e retive-me por ali a reler aquelas impressionantes histórias. Datadas do século XVII, XVIII, XIX e até XX. E quando pensamos que sabemos como eram aqueles tempos, percebe-se que não. E quando se pensa que hoje é que somos liberais em relação ao passado, percebe-se que não é de todo verdade. Quando se acha que se entende o que foi a história, fica-se com uma percepção de que existiu, pelo menos, algumas excepções às ditas regras. Foi uma viagem muito interessante. Irei partilhá-la aqui num dos posts seguintes.
Não quero com isto dizer que no passado tudo era bom. E que a evolução não é boa. Quero apenas dizer que nem tudo que ficou no passado era mau. Como em qualquer era, penso eu, há coisas boas e coisas menos boas. Com a passagem do tempo perde-se um pouco de ambas.