Metereologia 24 h

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sexta-feira, 1 de março de 2019

Lições da vida aprendem-se tarde


Durante grande parte do início da minha atividade profissional, era a que tinha o CV mais completo e diversificado, cheio de qualificações e experiências que iam muito além do que quer que fosse a que me candidatasse. 

E isso por vezes, era o que me excluía de uma candidatura: "tem qualificações a mais, com isto você pode arranjar melhor".

Agora dou por mim a querer um emprego num escritório - algo simples, como introduzir dados num sistema operativo, talvez atender umas chamadas... e, nada.

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Durante o início da minha atividade profissional, na maioria das oportunidade que tive (estágios), fui encontrar pessoas que não tinham estudado ou adquirido especiais qualificações para exercerem a actividade onde se encontravam. Estavam, claramente, a trabalhar em algo muito acima dos seus estudos. Faltava-lhes a base, aquele conhecimento e entendimento do todo. Sabiam fazer aquilo que era preciso fazer, e pronto. 

Sem perceber, para essas pessoas fui, muitas vezes, considerada uma ameaça.

Nesse tempo - no meu caso, o conhecimento era visto como uma ameaça. Não para todos, mas grande parte dos colegas, que se sentiam ameaçados pela "vaga" de estudantes universitários qualificados que iam ali bater à porta à procura de emprego, podendo ameaçar a posição deles, que estavam ali há uns anos mas sem qualificações. Aquele que aparecesse com capacidade virava um alvo. Como se ameaçasse os que já lá estavam. E assim existia um lobby

Se uns achavam positivo incluir na equipa alguém com mais qualificações - outros detestavam a perspectiva. Então testavam a jovem, a ver se, pelo menos, era uma "delas". Se falar mal da vida alheia fosse algo que demonstrasse fazer com naturalidade, ficava bem vista. Se me queixasse do trabalho ininterruptamente e do mau salário, ao menos era uma "boa" colega. Só que, como estagiária, nem salário recebia, pelo que fazia o que fazia com imenso gosto. O que também não lhes agradava. Numa ocasião em particular da minha vida, cansei de ouvir tanto mal dizer. E quando me pediam para participar, respondia que não sabia - porque realmente não sabia NADA da vida alheia. E opinar sobre a mesma era algo que não ia mais além do: "Ah, não sabia." ou "isso é boato". - o que deixava uma das colegas em particular furiosa. Uma que foi ali parar por cunhas, cuja formação nada mas nada tinha a ver com a profissão.


Porém ela exercia com uma certa falta de mestria uma prática que costuma ser infalível: lançava charme a tudo o que era homem (ou mulher) numa posição acima da sua. 


Um belo dia no refeitório, um desses homens dirige-se à nossa mesa e põe-se a falar com ela. Mais uma vez estranho... a falha dela em ter aquela cortesia de fazer as apresentações. Se bem que eu estava a comer. E como não era nada comigo, continuei, deixando o casal a conversar. Mas o homem olhava-me e ele mesmo apresentou-se. Cumprimentei-o, respondi a uma pergunta que me fez com a simpatia que a situação demandava e não fui mais além. 


No momento seguinte a ele se afastar, ela disse-me que eu tinha sido muito rude com o "fulano" x, que era uma pessoa "importante" porque mal lhe falei. E que ela sentiu-se mal e eu tinha-a super-envergonhado. Dali a dias, a versão já estava no "eu ter-me atirado a ele".


Não fiquei até ao fim deste estágio. Por causa das maledicência dela, que já tinha recrutado seguidores.

FIZ MAL.

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Mas o que vim aqui escrever é que a vida está cheia de ironias. Se no início da minha vida profissional percebi que aquele era um meio onde quase todos tinham ido parar por acaso e sem qualificações - sendo eu das poucas da primeira ou segunda geração saída da universidade com ampla formação e estudo, agora dou por mim a tentar executar uma função que não exerci nestes anos e não me abrem as portas. Preferem os currículos com experiência recente. 

Oh, ironia!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Cotas da descriminação


Após uma conversa alongada com a nova colega sobre oportunidades e cotas, subi ao quarto exausta e com a sensação de desolação. "Se calhar sou eu que estou errada" - pensei. "Devo ter andado a minha vida inteira errada...".


Acredito que as pessoas, independente da sua condição inicial, devem ter oportunidades para atingir um objectivo. Mas não acho que devam ser seleccionadas por cotas - ou seja: raça, etnia, orientação sexual, género ou estatuto. Devem todas chegar lá, terem as mesmas oportunidades para se instruírem, mas, aquando a escolha, que esta recaia sobre os resultados, não sobre a cor da pele, orientação sexual, etc. 

Esta nova colega, de descendência Africana, não pensa assim. Ela defende a selecção por percentagem. A italiana-mais-velha, que escutava a conversa, também criticou acaloradamente o meu ponto de vista, dizendo que eu era ingénua. Admito, tenho um idealismo que muitas vezes me faz soar ingénua. De modo que saí da conversa a pensar se o que sinto está errado. Estes conceitos que nos são incutidos de igualdade... Até mesmo de justiça. Terei-os eu imaturos?

Sei que o mundo não é perfeito. O que agora se chama de cota bem se pode comparar ao que se chama de cunha. 

Mas o que é que a sociedade deve transformar em lei? Se formos a aceitar que as empresas contratem profissionais por cotas, estamos a efectuar uma impactante mudança social. Acho que é incorrecto  em relação a uma selecção por mérito. Parece-me uma medida discriminatória, que nada faz para combater injustiças, visto que actua com base na descriminação. Acaba que é insultuosa até para os indivíduos com mérito que possam dela ser beneficiados. 

Saí da conversa a por em causa os meus conceitos de igualdade e justiça. Estarei desajustada com a realidade? Deve a pressão moldar conceitos universais?


Para tirar a mente destas demagogias, fui ver um episódio de Casos Forenses, um programa antigo sobre crimes de homicídio no qual a ciência Forense desempenha um papel decisivo na identificação do criminoso. No episódio em causa, surge a especialista forense Joyce Gilchrish. Uma mulher negra, com ar de quem sabe do que está a falar. "Ora aqui está uma mulher negra que chegou longe" - pensei. Acreditando que isso se deveu porque teve oportunidades e revelou mérito, o que a permitiu destacar-se na especialidade da química.

Depois vou ler a secção de comentários e deparo-me com uma enorme surpresa: a especialista foi acusada de falsificar provas forenses. Em 21 anos de carreira, Joyce testemunhou em mais de 3000(!) casos e ficou conhecida pelo apelido de "Magia Negra" por ser capaz de ter certezas onde outros colegas seus não conseguiam. Graças às suas conclusões forenses, muitas pessoas foram condenadas, entre as quais 23 homens sentenciados com a pena de morte, doze das quais foram executados. 

Fiquei aterrorizada. Isto para mim foi providencial, pois solidificou a importância do mérito e tornou visível o perigo das cotas. Porquê esta mulher subiu meteoricamente? Por ser negra? Porque foi promovida precocemente? Pela cor da pele? Se outros colegas colocavam em dúvida a sua competência como cheguei a ler, porque trabalhou ela 21 anos? 

Talvez por ser negra, mulher, símbolo das minorias, quem falasse mal ou pusesse em causa podia ser considerado de "mau tom"... racismo. 

Provavelmente, desde o início, a sua origem foi o que lhe abriu as portas. Certamente não foi a competência. Neste programa parecia tê-la, mas aparentar e ser são coisas distintas. Também me parece que era desprovida de uma sã consciência.  Como pode ela forjar provas?? E viver anos e anos despreocupada com a consequência dos seus desmandos? Esta mulher acabou por ser uma assassina! 


Alguns homens por ela ajudados a condenar, tiveram as provas forenses revistas por outros tantos cientistas e comprovou-se que eram inocentes! A irresponsabilidade, falta de ética, falta de tudo desta «especialista» forense causou danos irreversíveis: a perda de anos de vida livre, décadas de clausura, aquele aperto constante no coração dos familiares, a amargura de se saber inocente e condenado, o ser-se associado a um crime hediondo que não se cometeu...

E tudo isto, se calhar, por ela ser negra.
Por ficar "mal" ir contra uma profissional em ascensão que é de uma etnia/minoria.



Volto a esta imagem. O meu ponto de vista é este: deve-se dar a mesma oportunidade a todos. Todos ficam com os rostos acima do muro. Todos vêm o jogo de futebol. Mas se os três o quiserem comentar e só um possa ser selecionado, então que seja o mais eficiente.


Eu nao vou querer um cirurgião a operar-me se este não tiver competência para tal. Quero acreditar que qualquer um que me aparece à frente é competente. É bom! E se for indiano (como muitos por aqui no UK), ou de outra etnia qualquer, quero continuar a admirar a sua competência e a imaginar a sua luta. Não é reconfortante imaginar que é a condição etnica/social que o transformou em médico. 

Esta pode ser uma alavanca, mas não deve ser um caminho.

Entendem

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Aconteceu-me uma coisa inusitada


Hoje ia a caminhar pela rua quando uma mulher pergunta-me:

-"Tem tempo? Quer participar num inquérito?" 

Tenho empatia com quem faz inquéritos e, ao contrário de todos os momentos desde que cheguei a novas terras, pela primeira vez tinha sim, tempo para dispor. Então disponibilizei-me a ajudar. Contudo, quando percebi que a mulher não tinha nenhum questionário e queria que eu subisse um vão de escadas até o desconhecido para proceder a um teste de opinião, fiquei reticente, a a analisar o ambiente sem sair do lugar. Só tem de cheirar uns produtos de limpeza e responder qual gosta mais - dizia-me ela, muito apressada, misturando coisas e quase que sem se fazer entender. 

Bom, estou noutro país, os costumes podem ser outros. Mas bem à moda portuguesa perguntei:
-"Não vou ser assassinada mal chegue lá acima, pois não? 
Ela, agarra-me na mão e puxa-me em direcção às escadas: "Não, não vai". Já a subir os tantos degraus atrás dela, continuo: "Nem assaltada? É que o assaltante não levaria muito".

Chego lá acima, deparo-me com uma sala com umas 8 mesas, cada qual com uns frascos de lado e umas folhas. A senhora apressa-me a sentar-me numa dessas mesas, coloca-me um questionário à frente e desata a atirar-me com perguntas para as quais nem quer realmente saber a resposta. Quando hesito um segundo em lhas dar, por refletir, ela escolhe por ela mesma. Sempre a falar como uma metralhadora, e a passar cada folha agrafada para trás da outra com uma rapidez desconcertante.


Nesse instante os meus instintos de pessoa séria que tem intenção de participar com autenticidade num estudo de mercado, começam a sentir-se incomodados. 

Ela mostra-me o procedimento e depois, sem se fazer entender claramente, diz-me para continuar até ao fim do questionário e vai-se embora. Tem uma amiga, que a auxilia e trouxe para a mesa o copo de cheiro, amostras que eram mantidas numa mesa à parte. Ambas saem a correr, mal e porcamente instruindo-me para continuar a ir buscar amostras e, no final, avaliar os produtos não diluídos em água.

OK, vocês precisam de ir angariar mais clientes, entendo. - respondo-lhes. Devem ganhar à cabeça, só podia. Daí a pressa incomodativa. A segunda mulher sorri e ambas desaparecem tão depressa que nem vi como.

Levo algum tempo até entender o esquema de selecção. Temi misturar a ordem das amostras e assim avaliar erroneamente alguma. Quando terminei, dirigi-me, como instruída, à mesa de recolha de inquéritos. 

Foi aí que quis perceber se tinha realmente entendido bem o que me pareceu que a mulher, quando me puxava pela mão, tinha dito: "Responde a umas perguntas e no final damos-lhe 5 euros".

Pois entendi bem. Recolheram o inquérito, fizeram-me assinar uma folha e entregaram-me umas moedas. Não vou mentir: fiquei contente. Embora tenha dito à senhora que teria participado à mesma no estudo, voluntariamente. Afinal, disponibilizei-me a isso antes da mulher ter introduzido na conversa o "chamariz" monetário.

Depois vi outras pessoas chegarem - um grupo de 3 teenagers, meio sorridentes. Percebi de imediato que sorriam porque iam ganhar 5 euros cada uma.




Mas não gostei da forma como o estudo de mercado estava a ser conduzido. Nem pareciam estar focado num determinado público. COMO PODE uma pessoa LEVAR A SÉRIO qualquer resultado de um «estudo» se estes são feitos nestas condições? A mulher que recolhia participantes nem queria saber da opinião dos mesmos. Era só a despachar. O inquérito em si deixava pouca margem de manobra para que um produto pudesse distinguir-se do outro por algum lado. Enfim... Eu, como alguém que aprendeu na escola o que são inquéritos representativos e estudos de mercado válidos, como alguém que tem ética, tudo aquilo foi um pouco contra o meu entendimento mas certinho com a consciência que entretanto adquiri do que é a realidade.

E andam empresas a pagar a outras estes «estudos de mercado» para obterem resultados absolutamente fantasiosos. Bem vindos ao capitalismo!

Não tive a presença de espírito para tirar umas fotografias, embora umas tantas me fossem tiradas pela senhora que estava no comando do estudo. Gostava que vissem. Pelos vistos, por estas terras, é comum pagar aos participantes para dar a sua opinião. Mas isso não está certo. Embora tenha sabido bem :)




quinta-feira, 11 de agosto de 2016

McDonald's


McDonald'sOnly the best selection since 1969



segunda-feira, 9 de maio de 2016

Um percurso acidentado - a realidade versus a ilusão

Quando era mais jovem e ainda estudava, respondi a alguns anúncios de emprego compatíveis com o estudo. Por muito que me candidatasse, era raro ser chamada. Fiquei com a sensação que o mundo do emprego para estudantes não era tão acessível assim. Estava sobrelotado por centenas de estudantes com o mesmo intuito. Ao contrário de grande maioria de outros na minha situação, contentava-me com «qualquer coisa», sendo essa coisa no sector terciário.  As funções geralmente ocupadas por estudantes eram os part-times em caixas de supermercado. Assim sendo, candidatei-me. Mas nunca sequer fui chamada a uma entrevista.

A primeira candidatura para a qual me chamaram foi já através de uma dessas pragas empresas de recursos humanos (trabalho temporário). Precisavam de alguém para trabalhar ao balcão de uma loja de telecomunicações. Fui a uma reunião conjunta, junto com uns outros 20 candidatos, fizeram as entrevistas, os testes, as conversas e como a posição era só uma, só iam selecionar UM candidato. Mandaram-nos todos para casa, dizendo que, se fossemos o escolhido, iriam contactar-nos.

O telefone tocou dando-me a boa notícia e a minha felicidade foi intensa e vibrante. Saltei feito um coelhinho e não podia estar a sentir mais satisfação comigo mesma. A função implicava formação e, como existiam outras filiais da empresa, essa formação era partilhada com outros candidatos a outras filiais.


Quando cheguei à formação, logo reconheci um rosto. Era uma colega de curso. Ela tinha sido recrutada por outra agência, junto com uma amiga. As duas não passaram por testes, não fizeram entrevistas. Apenas foram as que responderam ao anúncio no último dia de prazo e a empresa apressou-as a enviá-las para ali. Pareciam baratas-tontas, sem noção do que lhes era esperado. Estávamos todas, como é obvio, a concorrer à única vaga disponível.

Eu me conheço... Sei que a maior parte das vezes pareço não ter fibra e ser "mole", por ser bem intencionada, paciente e educada no trato. Mas é exatamente por ter boa índole que sou forte. A empresa procurava candidatos que soubessem ser agressivos. Queriam jovens mulheres, que seduzissem pela beleza e juventude, só porque isso já é uma forma de "desarmar" o cliente quando este entra zangado na loja. Mas queriam-nas "más", hábeis na língua, com capacidades de persuasão que as fizessem ficar "por cima" numa argumentação. Capazes, inclusive, de meter uma subtil ofensa entre o atendimento ao cliente "difícil". (leia-se que vai reclamar). 

Claro que, não nos disseram isso assim. Eu é que simplesmente o percebi de caras. Agora, se os outros percebem que eu percebo, já é outra história. 

Quando apresentada a cenários assim, o meu lado doce evidencia-se mais. Durante os testes de formação, num dos quais se simulava o atendimento ao cliente, a agressividade era um requisito de maior importância. Tinha-se mesmo de maltratar. No meu momento confidenciei: "coitado!" - e esse sinal de compaixão foi decisivo para a minha exclusão.

A colega ficou com a vaga. Não que tivesse demonstrado melhores capacidades para o atendimento. Mas revelou a indiferença e agressividade que ali tanto se valorizava, alguma impaciência e, também, penso que terá acabado por revelar que os estudos ficariam em segundo lugar. Coisa que não estava nos meus planos. Eu me dedicaria aos dois com igual interesse. Assim que ela conseguiu a posição, nunca mais foi vista na faculdade. Desistiu oficialmente passados uns meses.

Andam tantos a se candidatar ao ensino superior público, a desejar ser colocados sem conseguirem, para outros terem essa sorte só para ao fim de uns meses desistirem...

Continuei a candidatar-me a empregos que via afixados em placares mas não era chamada. Sem ser o trabalho de dia em cafés ou supermercados, a maior oferta era trabalhar na noite, em bares, a servir bebidas ou o que mais que fosse. Esses nem considerei, por não terem nada a ver comigo, embora não sentisse preconceito para com a função ou os ambientes. Simplesmente não me via a gostar de o fazer, pois não me dava bem com música alta e entendia zero de bebidas. Hoje percebo que é exatamente por isso que se deve tentar.

Uma vez em conversa com um casal de idosos que tinham uma loja na qual engracei com um objecto que comprei com as minhas economias, confidenciei que queria encontrar um part-time e eles, com aquele jeito próprio da geração mais velha, escutaram-no já a querer ajudar. E sugeriram os bares. "Não é tão perigoso quanto se diz e até se ganha algum dinheiro" - disseram. 

Achei bonito a ausência de preconceito daquela geração para um estilo de vida com o qual também não partilhavam afinidades. Após reflectirem, eles só viram essa alternativa. Achei carinhoso o gesto.

Entretanto uma amiga que já tinha emprego fixo antes de começar a estudar, insistiu que, para obter um part-time, talvez até num escritório - já que para outros sítios não estava a ter sorte, devia procurar o Centro de Emprego. Porque lá é que as empresas iam para procurar candidatos, porque a oferta era mais diversificada, porque uma amiga encontrou emprego através deles, porque existiam empregos de férias - outro que eu sempre queria. E lá fui. O meu primeiro contacto com o inútil do Centro de Emprego!

Lá fui, cheia de esperança, a achar que aquilo ia dar realmente resultado. Falei com uma pessoa, expliquei os meus intentos, preenchi uma ficha e fui informada pelo centro que enviariam-me um postal para a morada, dizendo onde comparecer para uma entrevista. E que, se por acaso faltasse, deixava de estar inscrita.

Quando chegou o primeiro postal, toda feliz lá fui à entrevista. A primeira coisa que o homem que me está a entrevistar diz é que aquilo era uma formalidade que a empresa era obrigada a seguir mas que já tinham escolhido a pessoa para a posição. Apenas tinham de passar por aquele processo pelo centro de emprego, pois eram financiados, parte do salário era pago pelo centro e tinham de seguir as regras.


Lol. Saí dali a pensar se ele entendeu a gravidade do que acabara de me confidenciar. Mas nada fiz. E esse, hoje percebo, tem sido o meu mal. Detectar situações assim e continuar, deixando-as para trás, sem fazer uma revolução, um protesto, sem chamar as televisões e revelar o escândalo, a verdade por detrás de tanta ilusão de suposta transparência e oportunidades.

O segundo postal veio, tive de correr para conseguir chegar à entrevista que era dali a meia-hora. Não deu em nada, era uma total vigarice. Mal empregada correria. O terceiro posta também chegou... fora do prazo. Tinha de ter comparecido a uma entrevista num dia que já tinha passado. Dirigi-me então ao centro de emprego para re-afirmar o interesse em manter-me inscrita na base de dados e na procura de um emprego de verão. Uma das funcionárias atendeu-me, mandou-me aguardar que outra pessoa ia falar comigo.

Chega uma mulher que repetidamente se identifica como a DIRETORA DO CENTRO, conduz-me até à sua secretária, manda-me sentar e começa a conversar. O que ela me disse foi isto: "Você está a tirar o lugar a outras pessoas que realmente precisam de emprego" (assumindo que eu não! Mas já irei dissecar este horror que estava a escutar de uma diretora do Centro de Emprego!!!) "Acho que é melhor não voltar a se inscrever porque há pessoas que realmente precisam muito mais de um emprego que a menina, que ainda estuda". E mandou-me embora, com um "boa sorte" talvez, mas firme na sua decisão de me excluir das oportunidades ali disponíveis - pensei eu que disponíveis para qualquer cidadão interessado em trabalhar.

Como estava errada! Como estávamos todos errados.


É ao recordar estes episódios que entendo que uma inteligência pacifista não nos leva longe e que a tal agressividade tem o seu quê de razão de ser. Saí dali escandalizada com o que acabara de ouvir. Fui praticamente coagida a desistir. Praticamente expulsa. Ela nem esperou a minha resposta decisiva, deu-a por mim e mandou-me embora.

Ultrajante. Por ser estudante não tinha direito a recorrer ao centro de Emprego para um emprego de Verão? Isto dito por uma diretora! Por ser estudante era considerada menor, pelos vistos tinha menos direitos que um não-estudante. Porque existiam muitos pais de família desempregados e pessoas em pior situação do que eu - disse-me ela, era injusto "tirar o emprego a essas pessoas". Como se até ali tivesse realmente existido uma oportunidade. Só me enviaram para empresas com necessidades fictícias. E agora que estou a escrever sobre isto, tantos e tantos anos depois - posso afirmar que a experiência de vida e a maturidade faz-me inclusive suspeitar que o envio do envelope foi intencionalmente escolhido de forma a aumentar as chances de não ser encontrado a tempo e assim pudessem anular a inscrição. 

Não contavam é que me dirigisse novamente ao Centro para a renovar. Parece tão rebuscado tanta manipulação para atrapalhar uma única pessoa, mas foi o que me aconteceu. E, quem sabe, terá acontecido a mais alguém. Mas provavelmente, todas se calaram. E isso é um erro. Tem de existir um que ponha o dedo na ferida e desmascare a podridão oculta num exterior em verniz.  

Com este tipo de começo - não podia realmente existir um futuro brilhante pela frente, não é mesmo?

Mas a própria juventude conspira contra a pessoa. A esperança ainda é grande, os sonhos ainda são grandes, o tempo pela frente parece longo e cheio de outras oportunidades.


TODAS as pessoas que estudaram comigo e conseguiram de imediato bons empregos, conseguiram-no por cunhas e indicação de outras pessoas. O importante era ficarem posicionadas num bom emprego, ainda que este nada tivesse a ter com a área de formação  -como realmente foi o caso de todos. 

Isso surpreendeu-me. Para quê se dedicarem anos a uma área para depois abdicarem, desprezarem-na? Porque só tinham interesse num canudo. Num status social. E como tal, é ainda mais importante esse emprego que outro qualquer na área, pois vai direto ao status. 

Uma dessas pessoas que se empregou conseguiu a posição por lamber as botas dos futuros colegas além de trair miseravelmente a melhor amiga que contava ficar com aquele lugar, no qual trabalhava fazia um ano. Foi assim... sem problemas, sem complexos, sem consciência pesada e ainda num estado de soberba, de superioridade, de desprezo pela amiga a quem passou uma boa rasteira. De fininho, pela calada, enquanto a outra lhe confidenciava o quanto esperava ficar contratada no final do ano de trabalho, ela foi lá e zás! Conseguiu o emprego para ela.

Outra colega fazia pouco da função que uma outra tinha desde o início dos estudos. Pois esta era trabalhadora-estudante, tinha família e já trabalhava há algum tempo. Diminuí-a como pessoa, dizendo que esta se fazia de importante, era conflituosa... Mas na realidade era só uma pessoa mais madura com outra experiência de vida, que uma adolescente de 18 anos, mimada pelos pais, está longe de alcançar. Pois mal terminou os estudos foi trabalhar exatamente para o mesmo lugar da outra. Posição que obteve por o pai conhecer alguém e puxar os cordelinhos. E era vê-la transfigurada de miúda para mulher de negócios, tal e qual uma Jackie Kennedy, de vestidinho com saia e casaco a condizer, cabelo impecável, sapato de salto alto, um ar altivo, a distribuir cartões empresariais entre todos. Uma vaidade tremenda. Por ocupar uma posição para a qual não subiu a pulso e na qual ainda não tinha dado provas de eficiência. Mas já lhe dava o status, que era o que realmente valorizava. Ainda por cima o pai ofereceu-lhe de presente de graduação uma casa só para ela. Isso tudo junto subiu-lhe ao nariz e era vê-la a sentir prazer em exibir-se com ares de superioridade mais que outra coisa.  


Estas recordações que brotam na memória agora, servem para nos ensinar coisas. A primeira ideia que gostaria muito de deixar aqui vinculada, é que isto de crise na empregabilidade não é, de todo, coisa de hoje. Nem começou em 2008. Ela sempre existiu. Era como uma bolha que ia arrebentar! Estava a ser ocultada por muitos, durante muito tempo, num sistema corrupto, interesseiro e não centrado para o bem estar dos cidadãos.

As empresas de trabalho temporário não acabaram de chegar, já cá andam à pelo menos duas gerações. Ou mais. Aquela que me contratou ainda agiu pelo "livro", fez as provas, escolheu o melhor candidato. Mas a outra iria ser o exemplo de todas as que se seguiram: O que conta são os números e mesmo só tendo aparecido uma candidata para a função, que levava uma amiga, convenceram a amiga a candidatar-se também. Porquê? Porque ganhavam por cabeça. 

Portanto, há muita coisa suja mas a sujeira vem de hoje...

Neste relato deixo de fora os muitos anúncios de ofertas de emprego que consistiam em vendas em pirâmide, esquemas de time-sharing, oportunidades que se julgavam existir mas nunca existiam. Falcatruas atrás de falcatruas - que é o que mais há hoje em dia e afinal sempre existiu- outra conclusão a que cheguei.

Dá para concluir também que, para se ter um emprego bom ou mesmo razoável, as qualificações pouco importam, a tua vontade de lutar por ele também pode ser de pouca relevância. O melhor continua e continuará sempre a ser a cunha. Algo que me incomodava tanto que jamais cogitei recorrer a ela. Seis anos depois, pensava de forma diferente.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O impecilho da idade

Ninguém sabe, mas cheguei cedo demais a esta vida.
Por falta de uma expressão melhor, nasci cedo demais para as coisas que quis e tarde demais para as coisas que quis e começaram a surgir.

Decifrando estas palavras: falo de interesses para os quais, para te candidatares, existe um limite de idade.

Tem sido assim desde criança. Ou o limite máximo de idade era aquela que tinha acabado de deixar para trás, ou a idade mínima de ingresso era aquela que celebrava no aniversário seguinte.

Sempre no limbo.

Mais adulta vieram os programas de estudo, de estágio profissional e até, oportunidades de trabalho. "Nova demais" para trabalhar. "Velha demais" para trabalhar. "Pouco experiente" - escutei. "Mulher" - disseram-me.

Quando tratei do Cartão Jovem, o tal para descontos, não teve quase serventia alguma - a não ser para comprar com um nadita de nada de desconto o bilhete de transporte. Para as coisas que realmente pretendia, não existiam acordos. Quando precisei dele para algo, ultrapassei a idade. 

Quis candidatar-me a um programa do IPJ,mas tinha de ter até uma certa idade, que ultrapassei. No caso de uma poupança-reforma vantajosa, estava a três semanas de expirar. Para a cooperativa de habitação, quando reuni condições, estava na idade limite de candidatura. E quando fui procurar como solução para o meu futuro um programa de incentivo à criação do próprio emprego, a idade limite para beneficiar de apoio financeiro era... 30 (não recordo ao certo), que era a que tinha por mais alguns meses. 

Estágios profissionais? «Passou da idade». E quando não é a idade, é outra coisa. Como por exemplo, o nível académico. Acções de formação para desempregados no IEFP? - Só destinadas a pessoas com a quarta-classe, sexto ano ou 12º. Cursos financiados pela UE? A mesma coisa. E os exemplos seguem a mesma batuta

Neste país são demasiadas as oportunidades para evoluir que encontram a idade como barreira. Seja por a pessoa ser mais jovem ou mais velha. Mas a sociedade percebeu que estava a deixar os jovens estudar até mais tarde, impedindo-os de ser autónomos mais cedo, e decidiu prolongar as idades com as quais estes podem se candidatar a cooperativas de habitação, a empréstimos bancários, a poupanças-reforma e a programas de incentivo à criação do próprio emprego. 

O problema é que, quando finalmente se decidiu a isso, (estender o limite do cartão jovem, o limite de idade para as candidaturas a cooperativas de habitação, a programas de estudo, etc) os anos tinham passado e essa extenção de validade não me abrangeu. Foi inútil. 


Por isto é que Portugal não é um país fácil para se viver. Pode-se sobreviver - mas em aflição e incertezas. É um país que deixa os seus jovens envelhecer sem os aproveitar. Não tem nem nunca soube ter as roldanas do sistema oleadas, para os aproveitar e inserir no mercado de trabalho. E infelizmente, ainda dificulta e coloca entraves. Portugal bate com as portas na cara dos natos que o procuram. Se uma se abrir, do nada, à pessoa comum, sem cunhas, sem juventude, é milagre e muito provavelmente 10.000 se fecharam injustamente. 

Hoje entusiasmei-me com a perspectiva de voltar aos estudos... lá fora. Afinal, pessoas de mais idade também estudam, certo? Tive uma colega 10 anos mais velha na minha turma e agora essa colega podia ser eu. Entusiasmei-me com a perspectiva ao encontrar um artigo sobre cursos superiores gratuitos na Noruega. O país atrai-me. A possibilidade de lá viver, nem que fosse por uns meses, pareceu-me reunir só benefícios. 


Então fui procurar com atenção. Por questões de áreas, fiquei excluida de quase todas as oportunidades. Quando vi uma que pareceu vir a ser complicada, mas viável, deparei-me de imediato com isto:



Bom, mais uma vez, a idade a fechar as portas. Se ao menos tivesse tido esta presença de espírito anos atrás... Mas aí, quem disse que as idades seriam estas? Provavelmente era até os 25 anos. Idade limite muito comum lá atrás. 

Que há oportunidades, acredito que sim. Encontrá-las é que é complicado. Obter informações neste país através dos recursos do establishment continua a ser uma complicação tremenda. Quase uma maratona, um jogo do empurra-empurra com um peso frustrante. Porque ou é mal executada, ou demorada e tanta vez, induzem o cidadão a pensar uma coisa para no finalzinho, atacarem com outra bem diferente.







quarta-feira, 12 de março de 2014

Tudo o que os pais fazem pelos filhos

Estava aqui a recordar: quis trabalhar pela primeira vez quando tinha 16 anos. E até tinha arranjado um emprego numa loja de um centro comercial. Mas precisava da autorização de meus pais, por ser menor. Eu insisti, insisti e insisti. Tentei por tudo lhes fazer ver que eu sentia vontade de trabalhar. Tirava boas notas na escola mas não me bastava. Eu sentia vontade de lidar com outras responsabilidades e ter outro género de relacionamentos interpessoais. O emprego seria em part-time ou aos fins-de-semana... tinha tudo para dar certo. Mas meus pais não o autorizaram. Disseram que a minha obrigação era estudar e me formar. Depois teria «muito tempo» para trabalhar. Para me calar garantiram que iam conversar com um parente que tinha uma loja, sobre a possibilidade de eu lá ir dar uma ajuda. Claro, nada aconteceu. Fiquei triste por demais, custou-me muito mesmo.  

De seguida recordei o «apoio» que me deram anos depois, quando entrei na Universidade e também comecei à procura de um emprego em part-time. Antes de ter a sorte de encontrar um, ocupei o meu tempo com alguns estágios, onde me dei muito bem. Um deles numa empresa de pessoas conhecidas que estavam ainda a começar. Lá fiquei cerca de um ano. Depois arranjei finalmente um part-time atrás de um balcão e aí sim, comecei a ter uma ocupação verdadeiramente contratual e remunerada. Durante todas estas experiências minha mãe telefonava-me para perguntar:
-"Então, ainda estás na empresa?"
-"Sim."
-"Ah, pensei que já tinhas saído"
-"Porquê?"
-"Pensei que já te tinham despedido."
-"E porquê haviam de despedir?!"
-"Porque sim. Não é coisa para ti. Tu não és disso... não vai durar muito. Tu tens é de estudar!


Volta e meia passava um dia, no outro o telefone voltava a tocar e a pergunta era a mesma. Aliás, a pergunta já vinha acoplada com uma resposta: "Já foste despedida ou ainda estás naquele trabalho?


"Isso não presta! Isso não é para ti! Isso não traz futuro!"

Quando meus pais apareciam para me fazer uma visita iam diretamente para o meu trabalho atrás do balcão. Onde ficavam a observar e a contar histórias comprometedoras sobre a minha vida a quem quisesse escutar. Um dia disseram umas coisas distorcidas que me infantilizaram de tal forma que podem bem ter prejudicado a minha posição ali.Quando chegou o momento do emprego atrás do balcão terminar a voz do outro lado do telefone finalmente teve a resposta que ansiava ouvir. "Já não trabalho". "Tanto o desejaste que ia acabar por acontecer!" - afirmei à minha mãe.

Quando terminei os estudos arranjei de imediato um estágio na área. Mas não era um estágio qualquer. Era um estágio numa prestigiada empresa, uma oportunidade difícil que poucos conseguem alcançar. Decerto invejada pelos invejosos de serviço e tive muita sorte em a obter. Sentia-me grata e feliz. E com o estágio veio um factor que na altura nem me ocorreu o quanto era prejudicial para o meu desenvolvimento: o retorno à casa dos pais. 

Vivendo com eles debaixo do mesmo teto enquanto estagiava na prestigiada empresa na área na qual me licenciei, fui bombardeada incansavelmente para largar o estágio. Ora porque "não tinha futuro", ora porque "não me pagavam", ora porque "tiravam proveito do trabalho de graça". Não faltaram argumentos que me eram assim atirados à cara mal colocava os pés em casa. Cada vez que chegava feliz e partilhava com eles uma conquista ou um sucesso laboral, faziam pouco caso ou nem prestavam atenção. Não existiu qualquer tipo de apoio ou contentamento nesta altura tão importante da minha vida. 


Meus pais pretendiam que eu largasse imediatamente o estágio para começar a trabalhar num call-center. Como se oportunidades em call-center fossem raras de encontrar e o meu estágio numa prestigiada empresa fosse irrelevante! Era o que eles queriam e não se calavam com isso. Massacraram-me o juízo. Não me deram tréguas ou sossego. Disseram-me que era uma grande oportunidade, que devia começar o quanto antes. Atender telefones era TUDO o que eu menos gostava na vida. Mas tanto insistiram, tanto me infernizaram a cabeça dia após dia que acabei por pedir autorização na empresa onde estagiava para poder conciliar as funções simultaneamente com um part-time. Escusado é dizer que tal postura acabou por ser interpretada como falta de empenho e interesse - o que estava longe de ser verdade. 

Mas meus pais estavam convictos que o melhor para mim era largar o estágio e ir atender telefones... porque um dos chefes da empresa era um familiar e garantiu que com muito trabalho e começando por baixo a promoção era garantida dali a uns anos. Lá se ia a VOCAÇÃO e todos aqueles anos de formação e estudo pela janela fora... E o pior: por um emprego pelo qual acabei por não ser admitida! 

Sabem, muitas vezes eu penso em tudo o que os pais fazem pelos filhos. Em tudo o que os meus fizeram por mim. Deram-me de comer, vestiram-me e pagaram-me os estudos. Mas por vezes penso realmente em TUDO o que fizeram por mim. TUDO.