Recentemente entrei dentro de uma superfície comercial "chinesa" e, ao precisar de auxílio para adquirir um produto, procurei um empregado entre os corredores. Encontrei dois, um jovem rapaz com quem já tinha falado e uma jovem rapariga. Expliquei-lhes então a situação:
-"Boa tarde. Preciso de ajuda com um artigo (disse o nome), só encontro um e queria saber se por acaso têm mais em armazém".
O rapaz não me responde, vira-se para trás e grita por alguém na sua língua. E depois, mais nada. Nem um gesto, nem uma palavra. O outro também não aparece para se dar a conhecer ou indicar o cliente para o seguir. Não me é dada qualquer resposta. Nem sequer gestual. Simplesmente deixam-me ali.
O que vale é que não fiquei estancada à espera. Dirigi-me novamente para a zona do artigo. Se lá estivesse alguém para prestar ajuda, muito bem. Se não estivesse, virava as costas e saía pela porta.
O empregado, outro miúdo jovem, também não se dirigiu a mim, cliente, para prestar auxílio. Mais uma vez, aproximei-me, dei a «boa tarde», indiquei o artigo, expliquei a situação. Directa e sucinta. O rapaz não diz nada. Não dá resposta, nem sequer gestual. Nem "ai" nem "ui" - como se costuma por cá dizer. O que entre nós é vulgarmente considerado um sinal de falta de boa educação. Os portugueses podem sentir algum incómodo pela frieza e falta de atenção mas somos um povo tão aberto que aceitamos as diferenças, mesmo quando estas «arranham» a base do que é para nós a nossa educação cultural. Mas tratando-se de outra cultura, relevamos...
Pergunto a este empregado se posso abrir a embalagem para espreitar o artigo, pois haviam colocado um enorme cartaz de cartolina manuscrito com canetas de várias cores onde se «ameaçava» que quem abrisse as embalagens teria de pagar o artigo e era estritamente necessário pedir ao funcionário para as abrir. (os chineses também não entendem a diferença entre uma comunicação e uma intimidação, deve ser algo do regime comunista) Pois pedi... e não obtive qualquer resposta. Nem um som. O rapaz nem se digna a estabelecer contacto visual. Parece que estou a falar para um MONO.
Abri a embalagem.
O rapaz aproxima-se e põe nas minhas mãos um artigo, mas não o pretendido. Agradeço (gesto de cordialidade que é como se caísse em ouvidos ocos) e explico que já tinha encontrado um par daqueles, pretendia era outro. Ele lá remexe em tudo sem nada dizer e volta a esticar um artigo na minha direcção, desta vez o correto. Agradeço-lhe. E como havia retirado alguns das prateleiras e sou das que arrumam de volta e no sítio certo, perguntei-lhe se não se importava de os arrumar. Não me responde mas entendo que é o que vai fazer, pois já o outro rapaz, ao me ver a retirar os artigos, pegou nestes e tive de lhe pedir para os deixar ficar, pois encontrava-me a escolher.
Antes de me afastar de vez, volto a agradecer.
E agora pergunto eu: estes JOVENS, provavelmente já nascidos cá ou pelo menos cá criados, não deviam já integrar-se melhor nos costumes locais? Parecem entender o português bastante bem, mas não emitem uma palavra. Nem sequer fazem um esforço! E isso é que é algo incomodativo. O povo português é conhecido pela afabilidade com que recebe e pela entrega em se adaptar a outros países, outras culturas e outros costumes. Já cá recebemos vagas migratórias de todo o género de povos: africanos de Cabo Verde, de Angola, Brasileiros, mais recentemente pessoas oriundas da Europa de Leste... e em nenhum destes encontro uma maior falta de atenção para com o povo acolhedor, no sentido de absorverem os costumes, a cultura, os tratos sociais.
Se for o povo português a emigrar, fazemos um esforço por nos adaptar. A primeira coisa que fazemos, custe o que custar, é tentar aprender a língua. Começamos logo a tentar comunicar oralmente, assim como comunicamos bastante gestualmente. Somos um povo que se adapta, e mesmo que muito afastados pela cultura de origem, existe sempre uma pre-disposição para a adaptação. Pode até ser má, mas pelo menos fazemos esse esforço. Se emigrarmos para França, aprendemos a falar francês. Para qualquer outra parte do mundo, falamos inglês. Se formos a Espanha, falamos espanhol. Se formos para Itália, falamos italiano, e por aí fora...
Até dentro do nosso país, gostamos de aprender outras línguas! Portanto, custa-me um pouco entender a mentalidade de uma cultura que, pelos vistos, parece tão mais fechada, tão mais incapaz por ESCOLHA própria de se «mesclar» na cultura que a acolhe.
Nas escolas aprende-se logo em criança, o MODELO BÁSICO DE COMUNICAÇÃO entre os humanos: o Emissor, a Mensagem e o Receptor. Não sei se os chineses que encontramos na maioria dos estabelecimentos comerciais auto-sustentados entendem esse conceito. Ao fim de anos de permanência neste país que os acolhe, parece que foi ontem que chegaram, tal é a aparente indiferença para com os costumes que cá encontram. E é por esta razão que estes «comerciantes» me fazem lembrar uma praga de gafanhotos: chegam, usam, tomam o que gostam, desgastam, destroem, não deixam nada de bom em troca.
Lá se vai o mito do imaginário tradicional, que transmite a ideia de que todos os orientais são muito bem educados e cordiais, com as suas vénias e "ais"...