domingo, 10 de abril de 2022

Devia ter uma câmara no capacete

 
Desejei estar a usar uma câmara num capacete para que fosse possível presenciar o que os meus olhos registaram. 

Hoje pela manhã, 6.15h, a conduzir a minha scooter, após sair do emprego rumo a casa. Estava a sentir-me feliz da vida. 

Algo em trabalhar aos Domingos é bastante gratificante. E sei qual é a razão. É a enorme redução de tráfico, de confusão, de barulhos. Subitamente sente-se não isso, mas o que nos rodeia. Um detalhe que faz com que um dia de trabalho seja sentido com mais prazer. 

Desde o lockdown e a escuridão do inverno que não conseguia fazer um percurso como o de hoje. Não surgiu absolutamente NINGUÉM enquanto atravessei o parque. O que gerou em mim uma forte sensação de apreço por me encontrar viva e estar a comungar com a natureza. A scooter serpenteava pelo caminho estreito do parque e era só eu e toda aquela beleza. Mais nada. Nenhum som além do vento e o chilrear dos pássaros. 

Habitualmente não é assim. Existem sempre outras pessoas rumo aos seus empregos, o som  inconfundível do tráfico automóvel, que é um misto de um constante tambor do motor mecânico com o zumbido da tracção das rodas de borracha no asfalto. A ausência da percepção de seres humanos em trânsito enquanto atravessei o parque, seja em suas casas ou na rua. Não avistei os habituais donos a passear cães, nem outros ciclistas, tanto de scooters como de bicicletas. Nenhum desportista a fazer corrida, nenhuma pessoa a passar e muito menos o odor inconfundível de alguém a fumar erva. 

Instantes em que só pulsava com vida eu e o parque. Uma comunhão especial.

Ás tantas enquanto contemplo esta dádiva, com a aproximação da scooter um bando de pombas levanta do chão e começa a voar. Pareceu uma cena saída do cinema! Eu, ali a sentir-me agraciada e grata, tão feliz que até cantarolava e me abanava em cima da scooter e subitamente, um bando de aves como que abençoa o momento. Cena de cinema - digo-vos. 

Bem diferente de sexta-feira de manhã, quando gaivotas que estavam a bicar e ingerir algo na relva perto de uma habitação, à minha passagem decide levantar voo em bando e passar por cima da minha cabeça, regurgitando uma substância sólida alaranjada que me atingiu. Mas foi na manga do casaco, e traseira da scooter, felizmente. 

Dizem que caca de pássaro em cima de nós é sinal de boa sorte.

Já comprovei isso. É verdade
Regurgitação não sei que sinal é. 

Mesmo que seja sinal de sorte não é agradável. Danada das gaivotas! São citadinas. Já deviam estar acostumadas aos movimentos da cidade. Ainda assim "mijaram-se"" todas de susto e não contiveram as suas "body functions". 




Já só se avistam gaivotas em terra. 
Também elas trocaram a vida silenciosa nos oceanos pelos facilitismos das grandes cidades com os seus enormes centros alimentares com fontes inesgotáveis de lixo e desperdícios. E onde não existir grande limpeza, é onde estas aves gostam de estar. Trocaram o peixe por lixo, para não terem o trabalho árduo de mergulhar nas águas de um oceano imenso na tentativa difícil e nem sempre bem sucedida de os pescar usando apenas o bico e gerações de adquirida ancestral mestria. Deve ser esgotante! É mais fácil não fazer nada e aguardar pelo lixo humano.  


Esta travessia pelo parque proporcionou-me um momento de puro paraíso. Senti-me abençoada. Grata e muito feliz.

Já perto de casa, a atravessar a rua principal, minada que está de bares, um bando de umas 40 gaivotas que estavam a bicar no pavimento os restos largados no chão por estes estabelecimentos, também desata a esvoaçar. Desta vez à minha frente. Invadiram o céu inteiro, quarenta - contei por alto. Asas brancas a espalharem-se pelo céu até onde a vista alcança. Bonito de ver. 

Só mesmo uma câmara num capacete para o poder ilustrar.

Fosse a vida cheia destes momentos.



4 comentários:

  1. E quando as gaivotas decidem dar um presente?
    .
    Saudações cordiais
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  2. O espectáculo à frente da minha varanda em Gaia.
    Quando é que lá volto??
    Boa semana

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  3. Será que não era dia de final da copa do mundo entre Portugal e outra seleção?
    Pra cidade estar deserta deste jeito, só mesmo em dia de jogo da seleção.

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