quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Pilas


Não consigo encontrar o post onde faço referência ao desenho natalício deixado no quadro a giz na cozinha. Mas contei aqui que aproveitei a quadra e a viagem para o país-natal para desejar por escrito as boas-festas e comunicar que deixei um presente debaixo da árvore de Natal.

Regressei assim ao meu hábito de desenhar e escrever no quadro. Hábito que interrompi pela malícia com que aquele veículo passou a ser usado. Eram só mensagens a "apontar" dedos à sujidade na casa e rabiscos ofensivos. Tudo cheio de segundas intenções, mas com um alvo único: eu.

Depois, alguém dos "deles" decidiu impor ali um desenho de um pássaro, ao qual depois foi adicionado uma cock (pila) e este foi o único desenho que ganhou de imediato um estatuto de "intocável". Ninguém o apagava, ao contrário de todos os anteriores. Percebi que desejavam imortalizá-lo. Na altura, perguntei quem tinha sido o autor. Até perguntei ao próprio. Que me respondeu: "Hum... não sei". (o habitual!).

Sabia, claro. Todos sabiam. Era como um "segredo" (mais um) para ficar só entre eles. Mas adivinhei que tinha sido o rapaz-rei-da-casa, pela forma como o desenho era "intocável". A rapariga que foi embora no verão adicionou mensagens de adeus em italiano em volta do sacrossanto pássaro fálico, que entretanto também ganhou um outro orifício sexual. O tempo passava mas ousar eliminar o pássaro, isso não faziam. Nem para colocarem daquelas mensagens "o fogão está todo sujo! É favor limpar depois de usar" - que tanto gostavam de escrever.

E assim o quadro ficou por... três, cinco meses??!

Já novos inquilinos cá viviam há meses, e ainda os rabiscos da outra-que-foi-embora em Junho e do rei-da-casa que foi em Novembro, permaneciam no quadro, preservadas como relíquias sacrossantas pela mais-gorda

Não fazia sentido e era até pernicioso para o ambiente na casa, essa reverência venenosa a pessoas que compactuaram com ela na sua malícia. Estava na altura de cortar essa influência. Sairam, acabou.  

Quando o rei-da-casa foi viver para outro lado, o desenho ficou ainda mais revenerado. Ao perceber que aquela ave com pila gigante jamais ia desaparecer dali como espécie de veneração ao gajo, dei-lhe algum tempo mas, chegando a altura do natal, aproveitei a quadra festiva para retomar o meu hábito/direito de desenhar e eliminar de vez aquele absurdo. E foi assim que, munida da autoridade da quadra, com o auxílio de ir viajar, passei uma esponja naquilo, tentando assim por um fim a um "reinado do mal", ali representado pela veneração absurda a um desenho feito durante um período em que o quadro a giz só andava a ser usado para fins maliciosos - que foi o uso que lhe impuseram. 

Fiz um novo desenho, inspirado num robin (ave com peito laranja associada ao Natal e que, desde que cá cheguei, é «minha amiga» e me visita quando estou no jardim) e escrevi um belo dizer de boas-festas junto com a mensagem sobre os presentes para todos debaixo da árvore. Mas o bom mesmo, foi recuperar o «direito» de desenhar e usar o quadro, como fazia no início e como é certo acontecer.

A mais-velha quando desceu à cozinha nessa manhã e viu o quadro... imagino que até perdeu o apetite. Porque saiu de imediato porta fora, 15 a 30 minutos mais cedo que o habitual. Aquilo deve ter-lhe caído de forma muito indigesta!

Nesse mesmo dia em que viajei, ela apagou todas as gravações que programei na nova box da sala. 


No ano novo a mensagem no quadro foi alterada para: "feliz ano novo", mas manteve-se o desenho. (que era intemporal, dava para qualquer altura). A meio de Janeiro, um gajo que a mais-gorda consegue induzir a cá vir jantar ocasionalmente (é assim que ela "pesca" pessoas, usando jantares "italianos" como isco) "violentou" esse desenho, rabiscando um outro pássaro a relembrar o "do morto" e também com direito a uma gigante pila.

Calhei passar por ali nessa altura e então perguntei quem tinha adicionado o "foguetão". O rapaz, que estava sentado a jantar, explicou que foi ele, em "homenagem" ao pássaro desenhado pelo "rei-da-casa". Foi a primeira vez que alguém deu-me a conhecer o autor do desenho, julgando que eu tinha conhecimento. E lá estava a veneração a querer vir à tona novamente...

É que também fizeram-lhe uma éfigie com almofadas, tecido e balões. Esta figura, a quem deram o nome do gajo, dizendo que era para ele ainda estar na casa, ficou duas semanas no sofá da sala. Cada vez que uma corrente de ar mais forte, ou alguém tocava naquilo, lá se ia a cabeça, ou os braços... Uma patetice. Epá o gajo não morreu! Só mudou de país.

No dia seguinte, como tinha falado com o autor do novo "pássaro" sobre a inclinação sexual dos desenhos alheios mas que eu era mais dada a flores e afins, apaguei a pila e no seu lugar fiz quatro florzinhas. Achei bonito. E foi totalmente inofensivo. Não lhe apaguei o pássaro. Que ali ficasse... não me fazia espécie. 

Ontem, a mais-velha chega a casa, vê-me na cozinha e ao sentir o cheiro a ovo estrelado apressa-se a vergar a coluna para chegar à janela para a abrir só que... pimba! Encontrou-a já aberta. Fez uma cara...

(sempre com a mania que só o cheiro dos cozinhados dos outros é que é insustentável, caramba!)

Terminei rapidamente de comer, deixei tudo lavado e limpo e subi ao quarto, acabando por adormecer. Mas o meu sono foi interrompido várias vezes. Primeiro pelo bater na porta de uma "visita". Pela voz e por exclusões de partes, sabia que só podia ser o tal rapaz que a mais-velha mete cá dentro. Julgo que é a única pessoa que ela tem ou consegue manipular, já que todos os outros vinham por intermédio do rei-da-casa. Daí ela sentir tanto a sua falta. Sem ele, acabou-se aquele rol de italienada, que a deixava tão feliz e arrogante. Por ela mesma, mesmo com todos os dotes de falsidade de que é munida e versátil, não me parece que consiga encher a casa todos os dias de "compadres". Para uma pessoa que vive há 15 anos no UK, não parece ter um amigo próximo, nem ninguém que frequente a sua casa amiúde. E se tiver, nenhum tem nacionalidade que não seja italiana. Até hoje só a ouvi elogiar pessoas italianas. A todos os outros coloca defeitos.

Faço por voltar ao sono e consigo, sendo despertada mais umas quatro vezes ao longo do sono pelo barulho de três vozes: a deles os dois mais a da rapariga do andar-de-baixo. Os italianos a convidarem-se a eles mesmos para jantar e nunca incluindo a tuga. O normal.

Foi uma luta para conseguir continuar a dormir mas o cansaço de um intenso dia de trabalho físico ajudou. A cada interrupção, consegui regressar ao sono. Escutei o tipo ir embora e adormeci. Só acordei eram 4 da manhã. E como percebi que dificilmente ia conseguir voltar a adormecer, tendo de me levantar dali a duas horas, optei por não insistir e despertar de vez. Ia aproveitar esse tempo para relaxar.

Desci à cozinha para comer algo e é quando vejo o quadro. Tinha sido totalmente apagado. O desenho tão bonito, os dizeres. No seu lugar, um escrito "Eu voltei!" e o desenho de uma pila, como assinatura.

Não é que me tenha incomodado, mas não gostei. Sei muito bem o real sentido daquilo. Insistem em tornar aquele espaço num veículo de ódio e ataque à "tuga". Não quero e não vou aceitar. Muito menos que a mais-velha use outros para atingir esse fim. Sim, porque era ela que queria apagar aquele quadro mais que ninguém! Ela queria... mas precisava de encontrar uma forma de ficar com as mãos "limpas". E assim, com uma palavrinha aqui e ali... manipula os outros para fazerem as suas maldades. Convida o tipo, sabendo que vai conseguir suscitar uma reacção dele assim que o orientar para a ausência da "pila" no «seu» desenho.  

Imaginem se fossem vocês. Entravam como convidado na casa de alguém. Achavam correcto apagar um desenho feito por uma pessoa a viver nessa casa, e colocar no seu lugar uma picha? Não tens intimidade, não conheces a pessoa e és VISITA na casa DELA. 

Deixas-lhe um "fuck you" simbólico.

Sim, porque é esse o significado do gesto e do desenho de uma pila... é um "fuck you". 
Um fuck you deixado à pessoa que lá tinha o desenho em primeiro lugar.

Eu sou mais, mas muuuito mais, "peace and love". Portanto, FLORES.

Devia ter nascido nos EUA na década de 50 ahahah!
Lá pelos anos 60, 70, aquilo é que foi diversão. E não era só pelo amor-livre. Que isso... mantem-se nos dias de hoje, mas de uma forma que deixa a desejar. Refiro-me ao idealismo, à aceitação do «preto, do branco, do azul, das bolinhas», às mentes abertas para tudo o que pudesse ser sugerido.

Actualmente vivemos num mundo cada vez mais "liberal", conectado pela tecnologia, mas as pessoas mantêm-se retrógradas e presas a atitudes e comportamentos básicos.

 🌼🌼
 peace and love

portuguesinha

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