Desde que o mundo é mundo que grande parte das pessoas competem entre si pela atenção e preferência dos outros. Começa-se a notar isso quando se ingressa na escola, se fazem amizades e começam as invejas. Há quem sinta uma rejeição e sofra com isso mas o que a maioria não admite é que o estigma de inferioridade e de ter sido preterido/a acompanha para o resto da vida e vai pautar o seu comportamento social daí adiante.
Creio que é daqui que nasce o conceito de "duas caras", ou se preferirem três ou quatro: uma pessoal quando se está sozinho, outra quando se está com familiares, outra quando se está com amigos próximos, outra quando se está com amigos menos próximos, outra quando se está com colegas e outra quando se conhece alguém pela primeira vez. Enfim, há pessoas que têm várias caras conforme as que lhes aparece à frente. Mas deixem-me vos dizer que pessoalmente, tenho apenas uma e acredito que todos nós temos uma e somente uma. O resto são máscaras.
E é de "máscaras" que vim falar. O trabalho que dava antigamente para manter uma amizade! Para manter a fachada de se ser o que no fundo não é, quando foi com essa máscara que se deu a conhecer a alguém. Para que esse alguém continue a se interessar por nós, havia que manter as aparências. Hoje em dia isso está muito mais facilitado para quem usa ferramentas como o FACEBOOK.
O meu facebook é algo que uso e só me vejo a usar da forma livre. Se não conseguir andar por ali a me sentir livre para dizer e fazer o que me apetecer, então não me interessa. Talvez por isso ou porque é mesmo de mim, o meu facebook é do conhecimento de poucos, tenho "amigos" só de facebook que chegaram porque partilhamos o gosto pelos mesmos jogos e mais nada. Mas tenho aqueles que realmente conheço e que me conhecem. Um deles é um casal. Vejo constantemente as publicações do lado feminino e fico parva porque NADA do que ali vai parar reflecte a pessoa que conheço. É uma autêntica fabricação.
Essa pessoa recebe muitos comentários aos posts, costuma colocar aqueles meio idiotas com dizeres com lições de moral, coisa que não tem nada a ver com a pessoa também. É surpreendente perceber o quanto criou para a sua atmosfera privada uma personna fabricada. E é assim que se sente feliz, segura e rodeada de amizades. Já o lado masculino também usa o facebook para publicar, às vezes até a mesma coisa, mas não recebe quase nenhum comentário. Pensem bem: ambos publicam o mesmo, um não recebe comentários - talvez um ou outro do pai, do tio, da tia, o outro recebe muitos. Isto quer dizer que um é mais popular que o outro? Que as amizades dela são melhores, mais fortes e verdadeiras que as dele?
O facebook é muito apreciado como fogueira das vaidades. Ali cria-se a pessoa que se deseja ser, para receber os comentários que se desejam receber. E é por isso que tanta gente tem vaidade na sua conta de facebook. Fazem questão de mencionar que têm mais de 100 amigos que são mesmo seus amigos, que não aceitam amizades de desconhecidos, só de pessoas próximas com quem sabem que podem contar. É de uma vaidade e uma necessidade de rejubilar atroz. E também não é verdadeiro. Mas não têm percepção disso. Não têm percepção que se revelam carentes, que revelam um ponto fraco ao precisarem tanto de se validarem dessa maneira.
Mencionei o casal que conheço bem porque queria usá-los como exemplo. Ela é fria, egoísta, ingrata e gosta de se aproveitar das pessoas. Ele é altruísta, amigo do amigo do amigo e tinha realmente verdadeiros amigos antes de a conhecer. Coisa que ela desesperadamente tentava arranjar e só começou a conseguir depois de o conhecer. Ninguém o adivinha - por uma análise aos conteúdos do facebook. Ninguém sabe que é ele faz tudo em casa - desde cozinhar, a limpar, a cuidar do bebé. E ela fica deitada no sofá, a ler revistas. No facebook dela chovem elogios à sua dedicação ao trabalho, à pessoa que ela é. No dele é um marasmo. Na prática? Na prática ninguém iria gostar de partilhar a vida ao lado de uma pessoa assim, tão centrada em si própria e tão perita em fazer os outros trabalhar por ela. Quem ela é realmente só poucos conhecem. Quem a conhece desde menina. Quem a conheceu já adulta tem uma "nova versão". Que não é autêntica. Podia ser, um bocadinho, de uma certa maneira, mas um pouco de convivência revela logo que não é. Ela não é aquela pessoa que está no facebook, a usar o seu nome e identidade.
Pelo que com isto concluí que o facebook, para uma maioria seriamente complexada, não passa de uma ferramenta social para afagar o ego e criar um alter-ego. Para alimentar a vaidade e satisfazer as carências que, desde a infância, ainda procuram validação através da quantidade de amizades e através do pensamento que os outros fazem da pessoa.
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Tens razão. O facebook é de facto das vaidades e das personagens criadas. Sinto isso muitas vezes. E essse casal de que falas é um bom exemplo e como eles existem outros tantos por aí.
ResponderEliminarbjs