Metereologia 24 h

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sábado, 14 de junho de 2025

Menstruar não é normal

 A curiosidade fez-me pegar neste livro. 


De seguida reparei nos dizeres no canto inferior esquerdo onde diz "ciclo masculino" e pensei, por esta referência, que o livro foi escrito por um homem visando os mesmos.

Depois abri uma página ao acaso e coloquei os olhos numa frase ao acaso. 

Logo senti que estava diante de um disparate autêntico, um livro cheio de parvoíces misóginas, fruto de uma mentalidade cultural de ignorância onde a mulher é inferiorizada e o homem aclamado em excesso. 

Só há uma maneira de impedir uma mulher de menstruar. E essa maneira é um homem estar sempre a usá-la para sexo e mantê-la grávida. Como se fazem com as vacas para estar sempre a produzia leite.

Achei por isso que este livro era capaz de estar a enviar sinais de misoginia, de perpetuação do papel da mulher apenas como um de subjugação ao poder masculino.

Virei então para a contra capa e lá estava o género da autoria: homem. 

Mas não um homem qualquer: auto intitula-se um "verdadeiro génio". Bem ao jeito de muitos africanos que precisam de se sentir  superiores aos restantes e fabricam currículos para o aparentar.


Olhei novamente para a capa, a procura do clichê "doutor fulano cicrano".

Sabem o estilo... Como aqueles bem conhecidos anúncios nos jornais e revistas de charlatões africanos que se auto proclamam doutores "pai se santo" africanos super poderosos e milagrosos que oferecem ajuda espiritual e resolve "qualquer problema".

Mas na capa, o nome do autor não é precedido de um título auto atribuído. Talvez por precaução. Já na contracapa surge  a palavra "doutor" bem antes de seu nome.


Tinha de estar!

Olhando melhor a capa também vem escrito em cima á esquerda o primeiro nome do autor seguido da designação "pai da medicina".

Estes pequenos truques de associação mental e auto valorização para enganar as pessoas são amplamente conhecidos na Europa.

E digo Europa, porque na contra capa do livro assim surge essa referência para designar tudo o que não vem de africa. "escrito do ponto de vista africano  APROPRIADAMENTE condena o comercialismo europeu, pessoas descendentes da Europa assim como as descendentes de África vão encontrar neste livro a CHAVE para tornar seus corpos mais saudáveis".

Engraçado que, para conquistar um mercado mais amplo e usufruir do "consumismo" europeu que diz condenar (é mais desejar se associar), as "pessoas descendentes da Europa" podem usufruir deste livro.

Este livro serve para todos. É escrito por um génio. Perito na Arte e Ciência africana holística, diagnóstico e remédios.

Mas diz que a Menstruação na mulher não é normal! Mas se foi assim que Deus nos fez... Vem ele dizer que a natureza desde que o mundo é mundo é anormal?

Parece-me venda da banha da cobra. Bem ao estilo africano.

Creio que o próprio nome do autor é também ele uma fabricação visando impressionar um grupo. Suspeito não ser de baptismo e aposto que foi construído a partir de um aglomerado de nomes bem escolhidos, com significado holístico e mítico visando impressionar pelo status e influenciar grupos africanos pelo seu significado no imaginário das pessoas. Para dar credibilidade automática ao autor.

Ainda assim vou dar uma olhada, pois diferentes pontos de vista me interessam, ainda que suspeite dos mesmos. 

Onde diz que a menstruação da mulher não é normal ou saudável, vem escrito:

A menstruação é uma hemorragia. Hemorragias, seja onde ocorrerem, não são normais. Holísticamente, mulheres africanas negras numa dieta natural não menstruam. Estudos Antropológicos revelam que mulheres africanas anciãs não menstruavam. 

Mulheres holísticas seguem um ciclo reprodutor natural (até aqui tudo o que está a ser afirmado carece de explicação e também de fundamento, como costuma ser  comum neste género de autoria) com regras rígidas. Mulheres africanas anciãs não praticam sexo enquanto grávidas (uma forma de validar o homem pular a cerca), a amamentar ou a menstruar.

A amamentação durava entre 3 a 5 anos. ( Tempo esse que o homem africano se privava de qualquer atividade sexual pela esposa holística? Claro que não).

Sexo durante a gravidez ou amamentação provoca uma alteração de nutrientes e no nível hormonal. O que altera a capacidade em criar células saudáveis no corpo do bebê, diminuindo a saúde da criança por nascer. 

(Todos nós amplamente sabemos como todo o povo africano é altamente saudável, vende saúde. Aqueles pedidos humanitários para os alimentar, tratar da saúde em risco de morte por desnutrição... Devem ter sido todos inventados pelos europeus).

Relações sexuais em excesso e fora do ciclo (??) faz a mulher MENSTRUAR. Sexo á noite é anormal e fora do ciclo (ah, a explicação, depois do fato dado como certo...) e enfraquece os órgãos sexuais e a saúde. Sexo durante o dia segue o ritmo Circadiano do corpo. Sexo durante a noite explora emocionalmente e espiritualmente a mulher e contribuí para a hemorragia a que chamam de menstruação. 
 
O fluído da descarga vaginal (não a lubrificação para o sexo) causa a menstruação. As descargas vaginais são altamente concentradas em hormonas, vitaminas e minerais. É uma mistura muito concentrada que equivale ao valor nutricional do sémen. Nutrição que se perde devido à leitosa descarga vaginal e é a causa para que o tecido endométrio (pele do útero) perca a vitalidade e deteore. Esta deteorização celular é conhecida como hemorragia e é comum chamá-la de menstruação. 

Nenhuma mulher tem um ciclo menstrual lunar. Mulheres esquimós mentruam num ciclo solar a cada três anos ou mais. A sua menstruação é muito leve e não este jorrar de sangue da hemorrogia  mentrual dos dias de hoje. 

Menstruação entre mulheres que seguem uma dieta natural mas não seguem práticas sexuais holíticas ocorrem sempre durante o período solar. Períodos lunares são novas ocorrências entre as mulheres. 

Menstruação lunar (o período) pode ser uma fabricação social geneticamente transmitida de geração a geração. O período lunar pode ter sido causado pelo habitual consistente e persistente sexo lunar, orgias e violação da mulher e da dieta nutricionalmente inadequada.

Bem, e vou parar por aqui. Acho que ficam com uma ideia. 









terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

E voltou!

 

Não quero celebrar muito antes do tempo mas a verdade é que voltei a ler um livro! Olhei para ele, que tinha caído da pilha de livros que guardo a um canto e chamou a minha atenção. Novinho. Por abrir. Com um título interessante e, por ironia, bem apropriado. 

Peguei, sabendo que se tratava de mais um mistério envolvendo um assassinato e não consegui largar. Tal como era o meu hábito. Antes, lá em 2019. Depois algo mudou. A leitura de livros tornou-se quase impossível. Não, não quase, realmente impossível. Lia capítulos inteiros com outras coisas na mente. Palavras soltas mas encadeadas umas atrás das outras incutiam uma dor aguda no peito. Parei. 

Mas pode ter existido outro motivo pelo qual parei e pelo qual recomecei. Desta vez, fiz a leitura com óculos. Já os tenho prescrito há quatro anos. Era só para usar para poupar a vista. Mas nunca usei. Agora fui buscá-los e já não me sinto bem sem eles. Sei que já estão desactualizados na graduação, preciso de um valor superior. Mas pretendo tratar disso mais tarde. 

Aqui está o livro que marcou o meu regresso à leitura regular de histórias impressas em papel: 



Conhecem?
Desta vez também dei início a um hábito que sempre me apeteceu ter mas nunca ousei fazer, porque, de certa forma, tenho a sensação que é quase como profanar um livro: fiz anotações à margem, sobre o que me ia ocorrendo sobre a história. Tentar adivinhar o que se está a passar nos muitos mistérios apresentados. Quase sempre adivinho o "assassino" - desde o tempo em que tinha uns 11 anos e lia livros da colecção "Uma Aventura". 

Desta feita adivinhei o malfeitor, suspeitei de outros, mais ou menos que entendi quem estava a fazer o quê, mas não posso dizer que foi a 100%. Tinha suspeitas. Acho que a história precipita-se muito rapidamente para um final e de forma muito conveniente. Mas ainda assim, gostei. 


Para sempre essas impressões ficaram marcadas no livro. 


quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Livro a preço de vários colares em ouro

 

Tenho a certeza que nem Maria Magalhães ou Isabel Alçada ganharam este valor na venda de um único exemplar:


Estão a ver quanto pedem? Por um livro que nem é novo no seu estado, mas USADO???

O descaramento das pessoas não para de me surpreender. Mas que o façam online na venda de produtos como este exemplifica, tira-me do sério. Cheguei a ver rolos de papel higiénico vazios à venda por uma fortuna! Isto antes do Covid, supostamente para "trabalhos manuais". Como se fosse produto de recurso difícil, quando na realidade está disponível ao final do dia em todas as casas-de-banho deste mundo.

Vocês dariam o valor pedido pelo livro? Cento e setenta e um euros e quinze cêntimos? Será que as costuras, a tinta de impressão e os restantes materiais usados na sua produção são feitos de ouro? 


PS1: Aos 11 anos ganhei um prémio de literatura na escola cujo prémio foi anunciado como "muito bom" mas era também uma "surpresa". Na cerimónia de atribuição receberam-se livros da colecção "Uma aventura", de Isabel Alçada e Maria Magalhães (autoras da obra vendida acima). Pormenor: uma delas tinha sido ou ainda era professora naquela escola. Qual não sei, porque não foi na minha turma. Ou seja: os livros não foram uma despesa para os cofres da escola, foram obtidos gratuitamente. Esperava, no mínimo, um autógrafo, para que ficassem valorizados e marcassem a ocasião. Veio com um carimbo preenchido com dados pessoais mas não pareceu nem especial, nem carinhoso, nem nada. Os prémios para os três primeiros qualificados foram livros "Uma aventura". Só variou na quantia recebida. 


PS2: Disseram-me que o primeiro prémio (que não foi o meu) foi atribuído a um rapaz por nepotismo e que nem tinha sido ele a escrever o texto, teve ajuda da sua mãe, que era professora ou algo do género. Mas o que mais gostei de ouvir foi o rapaz que mo disse, ter-me reconhecido dessa ocasião - e eu nunca tinha lhe colocado a vista em cima. Reconheceu-me mas não mo admitiu logo. Tornamos-mos colegas de turma no ano seguinte e ele nada me disse sobre o impacto que o meu poema teve na sua pessoa. Guardou isso para si e só quando nos tornamos mais próximos é que me disse que ele e outros tinham gostado muito mais do meu poema e que eu devia ter ganho o primeiro prémio. Contou-me que o rapaz que o levou - que era da turma dele, não era nada criativo, não sabia escrever e era aparentado com uma professora. Aquele tinha sido um primeiro prémio que me foi roubado. Eu desconhecia tudo aquilo que ele me contava. Na altura - pode vos parecer estranho, mas tinha sim uma capacidade criativa em potencial, que saía fácil de mim, tanto por escrito quanto por outros meios. O suposto "grande prémio" com que tentavam aliciar os alunos para que se empenhassem não surtiu qualquer efeito em mim. Escrevi o poema pelo desafio, por gosto. Nem me pareceu difícil. Fi-lo ali mesmo, sentada na carteira da sala de aula. Não precisei de dias, nem de "fazer em casa".  O prémio não me motivou a aplicar-me mais - como decerto foi o estímulo dado a todos nas classes. (Como podem perceber pelo meu blogue, esse talento para a escrita não cresceu. Sei porquê não floriu e sei porque morreu. Existiu. E isso basta-me). 


ilustração da arquitectura de uma escola portuguesa 
que é muito familiar

Hoje, calhasse que os livros tivessem recebido assinatura de autor, pergunto-me se podia cobrar por cada um deles este ABSURDO de valor. 171 euros!! É que, os meus, além de assinados, seriam artigo "vintage", com mais de 30 anos. Talvez até primeira edição. 

Há uns 20 anos desfiz-me de dois deles (não carimbados, pois antes de os receber já era leitora das obras, que achava previsíveis e quase sempre adivinhava o plot inteiro e descobria o(s) culpado(s) nas primeiras páginas, mas eram um bom entretinimento), junto com outros livros de estudo "menos queridos" num Alfarrabista. 

Em troca destes dois que podia vender a preço mais elevado (sendo primeira edição e sendo muito procurados) e muitos outros manuais escolares ainda usados no ensino que podia vender a preço de capa - deu-me uns meros 100 escudos. 

Tirei consolo em saber que ia dar aos livros uma nova vida, já que, no lixo, não sou nem nunca fui capaz de os colocar. Prefiro "abandonar" um livro num banco de jardim, num aeroporto ou na já desaparecida biblioteca do emprego. Assim outros podem beneficiar deles. (No emprego pegaram em todos os livros e deitaram-nos no lixo. Disseram-me que lhes atearam fogo. Meu ADN treme de pesar até hoje).

terça-feira, 19 de abril de 2022

As vírgulas de Elvira

 

A primeira coisa que me agradou quando iniciei a leitura do livro da Elvira - Renascer, foi o tamanho das letras. Os meus olhos, que começaram a se queixar de falta de vista ao perto, agradeceram e ajustaram-se bem.

Quando conheci a Elvira online, tomei a ousadia de lhe fazer um reparo. Temi que levasse a mal mas, aconteceu o contrário: Elvira agradeceu a honestidade. Esse reparo foi a respeito da colocação de vírgulas na estrutura da frase. 

Na leitura desta história não pude deixar de fazer o mesmo. Estava a reposicionar vírgulas ou a eliminá-las mentalmente para se adaptarem à forma como aprendi que devem ser colocadas. Também coloquei dois pontos de interrogação que percebi em falta e quis separar aqueles dois "r" de «guerra» da contracapa. Aliás, queria ter formatado o texto de forma diferente para que não existissem inféns a quebrar as palavras para outra linha. 

Agora com o "novo" (que já é velho) acordo ortográfico, até pode ser que tudo tenha mudado novamente. Nas escolas já se ensina as crianças recorrendo a outros métodos que aqueles que aprendi como incontornáveis. Não me considero detentora da "lei" da pontuação e sei que posso ser atroz na colocação dos meus pronomes.  

Aprendi de um jeito e é desse jeito que estou habituada. Elvira aprendeu de outro ou ensinou-se à sua maneira. O prémio Nobel da literatura - Saramago, erudito e literato, recusava-se a colocar pontuação nas suas histórias. Não me impediu de ler "O Memorial do Convento" e apreciar o romance - ainda que, mentalmente, estivesse a pontuar cada frase. 

Todas estas formas de comunicar sentimentos por palavras são legítimas. O importante é a expressão escrita ganhar vida.  


Isto para dizer que cada qual escreve como quiser. Há medida que fui lendo a história obedecendo às vírgulas de Elvira, comecei a ouvir uma história a ser contada oralmente. E gostei. Gostei muito mais. Torna-a mais real. Mais humana, calorosa e pessoal. 


A HISTÓRIA:

Tanto eu que li o conto quanto outras pessoas a quem dei a ler, questionaram-se se é uma amalgama de histórias reais conhecidas na primeira pessoa compiladas num romance. Uns ficaram com a impressão que foi algo que aconteceu à autora ou a pessoas com quem conviveu de perto. 

Fiquei com a mesma curiosidade. Quem seria, na vida real, o "Julião"? Existiram tantos... mas devem ter sido muito poucos aqueles que voltaram "à vida" por engano. Porquê "Peso da Régua" e não outro lugar? Através da leitura de outras histórias no seu blogue sei que entende bem a actividade de seca de Bacalhau, onde chegou a trabalhar. Quando o história faz uma breve descrição geográfica das mesmas, soube que Elvira escrevia algo que conhecia bem. Quem lhe facultou os locais geográficos em Angola?


Considero a Elvira uma excelente contadora de histórias pelo simples facto de conseguir prender o interesse do leitor durante toda a leitura. Ela também não se demora em descrições aborrecidas e  "salta" para momentos chave sem, pelo meio, "encher chouriços". A forma como terminou este capítulo da história de Portugal foi de mestre. A autora, que conta já com três livros publicados, conta uma narrativa com a medida certa. Não se demora em descrições de lugares que ocupam várias páginas do livro e ainda assim é capaz, com uma síntese invejável, de nos colocar naquele lugar que descreve como se estivéssemos lá a visualizá-lo. 

Já lhe disse mas vou repetir aqui: ela tem um dom especial que até os mais reputados autores de dezenas de livros invejam. E poucos alcançam. Usam fórmulas claras e escrevem muitas histórias, todos com os mesmos ingredientes formuláticos, para assim disfarçar a falta de talento natural para cativar o leitor. 

Mas creio que a Elvira quer saber se gostei. Pois claro que gostei! A história é ternurenta e soa muito verdadeira. As personagens revelam um carácter honesto, integridade, princípios e uma força extraordinária em momentos em que esta é requerida. Em especial as mulheres - sempre fortes, ainda que no seu papel mais "submisso e do lar" do qual nenhuma escapava nos idos anos 60.

A sociedade sofreu muitas mudanças desde esta altura descrita no livro. O "dilema" de Carlos - em não viver um amor verdadeiro para cumprir uma promessa - não tem mais espaço nos dias de hoje. Actualmente a pessoa casa-se com quem quer e ajuda a criar o filho de outra/o. Na realidade, faz-se isso com os próprios filhos biológicos: os casais divorciam-se, geram novas famílias, os filhos são criados "a meias" entre os dois progenitores e seus novos parceiros, que podem vir a ser mais que um, com o tempo. Ainda assim, há sempre um lado é mais predominante na vida das crianças. 

Por isso mesmo a história de Elvira é ainda mais especial. Ela revela núcleos familiares empenhados em permanecer uma família. Mostra integridade e especialmente honestidade nas relações entre jovens, amigos, compadres, comadres, pais e filhos, marido e mulher. Nesta história as personagens exercitam uma coisa muito em falta hoje em dia e que, a meu ver, é a principal responsável pelo declínio de harmonia e felicidade: o exercício de DIÁLOGO e SINCERIDADE. 

O compromisso de se unirem para criar uma família era quase que sagrado. Mesmo não existindo paixão, acreditavam que, com amor ao próximo, uma união podia resultar numa vida muito feliz. Um casal comprometia-se a iniciar uma vida a dois dando o melhor de si para fazer o casamento resultar e criar uma família funcional. Existia uma dedicação, um empenho, para se fazer o melhor como pai, mãe, filho, filha, família. 

A postura da muito jovem "Luísa" - de permanecer mulher de um homem só, homem já morto, também não tem mais espaço nesta sociedade de hoje. Todo o amor que ela tem dentro de si e não mais vai ser partilhado com um parceiro, ela canaliza para os outros. No muito amor com que vai criar a filha bebé, na amizade que demonstra por Carlos e a sua mulher. Sem egoísmos.  Hoje em dia, é pouco viável este tipo de maturidade e consideração entre mulheres que, um dia, foram rivais no coração de um homem.


Num certo sentido, ainda que na altura o papel social da mulher fosse muito restringido à maternidade, marido e lar - o respeito e sinceridade que encontravam nas suas relações amorosas e de amizade, deixa algo a invejar na mulher actual. 

Em 2022 somos mais independentes. Não precisamos de um homem para a nossa vida fazer sentido. Já filhos, coloco aqui um grande ponto de interrogação. Embora saiba que há mulheres que nunca sentiram essa vontade e centenas mais que, tendo tido filhos e já os tendo criados, se pudessem voltar a trás nessa escolha, nunca os teriam tido. 

Ainda assim existem centenas de casamentos infelizes, em que os parceiros mal se falam e se agridem constantemente. Quem somos nós para dizer que antes era pior? Que hoje é melhor? Comparado a quê?


A Elvira continua assim a realizar os seus sonhos - e isso é viver a vida. Deixa para trás e para a eternidade, as suas palavras encadernadas. Os seus bisnetos vão poder pegar nos seus livros e ler as histórias da "avó" de que tanto ouviram falar pela boca das suas mães. E quando chegar a sua vez, também os filhos destes irão fazer o mesmo. 

E Elvira, as suas experiências de vida e aquele tempo em que viveu, ficam encapsulados numa obra literária, que poderá vir a ser apreciada e valorizada por infinitas gerações.

Parabéns Elvira. 
Tudo de bom para si. 


Nota à parte: reparei que, depois de escrever, também preciso de eliminar umas tantas vírgulas dos meus próprios textos, ahah.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Li um livro!

 

Li um livro e isso deixa-me muito feliz. Desde de 2019, mais concretamente "depois" de um certo acontecimento no final desse ano que não consegui mais ler livros. 

Tentei algumas vezes, mas não voltava a pegar neles. Talvez também porque, algum tempo depois, troquei os turnos de dia pelo da noite. Isso pode ter atrapalhado o ritmo com que me dedicava à leitura. 

Julguei que tinha perdido o gosto. Senti-me um pouco mais pobre. Nunca imaginei que fosse um gosto que se perdesse. Adquiri-o desde pequena. Tinha-o como parte de mim para todo o sempre. Poderia tê-lo perdido? Experiências passadas dizem-me que sim. Assim como adquirimos capacidades, também as podemos perder rapidamente. Talentos que um dia tive, não tenho mais. Perdi-os por falta de uso ou por os ter satisfeito q.b. 

Não ia forçar-me a ler, queria que o gosto surgisse por si mesmo, como estava habituada. Mas já não tinha muitas esperanças. A mudança aconteceu no final de Dezembro... mais exatamente no dia de Natal, em que estava em casa ao invés de andar a trabalhar.

Terminei de ler o livro hoje. "Guilty not Guilty" - é o título.

Dou por mim a ter vários projectos de DIY na calha - quero mesmo fazê-los. Quero reparar uma camisola velha aplicando-lhe embroidery, quero ter uma escultura do meu rosto e de rostos da família para a posterioridade (o meu com uma utilidade adicionada), quero criar um back burner personalizado (é o diy mais fácil) e muitas outras coisas. 

Provavelmente não terei oportunidade de realizar nenhuma. Pelo menos não tão cedo. 
Mas aos poucos, a típica portuguesinha começa a brotar. Tal como uma flor depois de ter sido dizimada num incêndio devastador. Leva alguns anos, mas a vida triunfa sobre a pior das devastações.


quinta-feira, 14 de maio de 2020

O primeiro livro lido na transversal

O dia no trabalho estava a ser monotono e enfadonho. Os minutos nao passavam. Meteram outros na funcao que eu estava a desempenhar tao bem e nao tinha nada para fazer por mais que me esforçasse para fazer tudo o que me fosse permitido. Perguntei a outros gerentes se precisavam de ajuda. "Nao, eu nao preciso de ninguem" - disse um com a arrogancia do costume.

Estava a exasperar. Estava irritada. Decidi perguntar ao gerente que me deixou à toa horas antes, se podia ir para a segunda pausa.

"Se nao me sabem aproveitar para trabalhar, entao vou valorizar o descanso".

Em boa hora o fiz.

Sentei na biblioteca, puxei de um livro de cores vibrantes e ar de novo que ali surgiu e li a sinopse. Saltei ao calhas para o meio da historia e para meu espanto, estava a descrever o momento em que a historia realmente começa.


Pensei ca com os meus botoes que outros escritores colocam esse instante logo no inicio, para agarrar o leitor. "Que monotono deve ser a,leitura das paginas anteriores. Todas dedicadas à apresentacao e contextualizacao de personagens e ambientes" - pensei.

Lido o capitulo em que tudo acontece (uma crianca é encontrada inconsciente num jardim comunitario durante uma festa) decido saltar mais uns tantos.

E que bem que o fiz!
Fui parar a outro momento chave, que resume tudo o que foi arrastado na fase de suposicoes e suspeitas. Uma das vizinhas estava a falar com uma das crianças sobre o ataque no jardim e nesse capitulo definiu-se tambem tracos de personalidade de maridos ate entao ausentes, sogro, historias do passado, irmas que nunca foram....

Saltei mais um pouco mas quando fui ver as horas, ja tinha passado 10 minutos do tempo dado para a pausa. Larguei o livro deixando a pagina marcada e regressei ao trabalho.

No dia seguinte, ontem, cancelaram-me o turno. Fiquei de rastos mas decidi deixar passar essa sensacao devastadora. É o trabalho que ja comeca a ser cancelado, é a busca de uma nova casa que se revela uma tarefa com poucas chances de dar certo.

Nisto chamam-me para fazer um turno das 1800-2200. Fui. Cheguei cedo e por isso fui directa à biblioteca, cheia de colegas a conversar e a beber. Peguei no livro e fui para uma zona mais reservada. Salto para a parte em que a vitima ja recuperou a consciencia, fala com a irma que a descobriu insconciente e com "tudo à vista" e recorda-se daquilo que fez com o namorado.


A reacao de uma amiga é descrita, assim como o que fez enquanto esperava pelo namorado no jardim, ate ao momento em que se sente a desfalecer.

Dai salto para o momento em que a policia quer falar com as filhas da vizinha que se pos a investigar e nesse instante sabe-se quem é o atacante porque as motivacoes indicam o suspeito.

No final, tudo ę encoberto, a vitima quer esquecer o assunto, o casal que sabe a verdade arma-se em bom samaritano.

E a historia acaba assim.


Fiquei muito agragada com a forma como li este livro. Percebi mesmo que apanhei todos os momentos chave. Foi uma leitura transversal perfeita. E fez-me muito bem.

Ja vos aconteceu algo assim?

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Mais um livro que entra na lista dos que não são lidos até ao fim.

Achei-o muito maçante mas estava determinada a termina-lo.


Trata-se de uma descrição exaustiva do quotidiano de uma mae, filha e pai. Alternadamente, cada qual dá a sua versão de um momento, como se fosse um diário interior. E aqueles com quem interagem mais, também têm direito a capítulos onde desabafam na primeira pessoa o que sentem e pensam. Ou seja: são capítulos de cada personagem a falar à vez. Fica difícil de acompanhar. Ainda por mais, por ser retroativo, mas não começa no fim, a história parece iniciar-se a meio.

O problema é que são  relatados eventos banais que tornam a leitura aborrecida. Descrições como mae e filha a passear de carro numa estrada no deserto encontrarem um motorista e irem almoçar, idas ao lago, mergulhos, etc.


Pode até ser que toda esta informação aparentemente banal e desnecessária venha a fazer sentido no finalzinho. Mas é penoso de acompanhar, principalmente os relatos da filha, que tem 15 anos e como toda a adolescente pensa e fala como uma.


A sinopse promete uma revelação bombástica. A esposa tenta deixar o marido. Pela segunda vez durante o casamento. As razões são desconhecidas. Deixa no ar a possibilidade de incesto que atravessa gerações.


Talvez salte para o fim para poupar-me a conjecturas. Nunca fiz isso com um livro. Pode vir a ser gratificante.

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Chovem pontos de interrogação



A boa notícia é que fui capaz de voltar a ler livros. Actividade que se tornou impossível lá por Setembro. Mas por volta de Dezembro, agarrei novamente um livro pela primeira vez. Não era bom, veio o Natal, e não o terminei. Estamos em Fevereiro. Faz sete dias que estou a ler Peter Swanson "Before she knew him". 

Estou a gostar. É uma escrita simples, sem grandes twists, mas que abre a mente para novas realidades interpretativas. O seu contributo maior é esse: por as situações sobre um outro ponto de vista.  

Contudo, aqui e ali, há partes que me remetem para o motivo que me fez largar as leituras. Esta frase sublinhada, por exemplo. Que no meu caso, vem com um ponto de interrogação no final. 

Não ia agir sobre uma fantasia se esta não fosse bem-vinda. 
Mas pensei ter uma amizade.

E por isso, pontos de interrogações caem sobre tudo, que nem chuva miúda (drizzle rain). 

domingo, 6 de outubro de 2019

Mais um livro


O que se sente quando se lê um livro cuja história nos é mais familiar do que gostaríamos?

Lê-se com sobressaltos e apreensão!
Respirando fundo umas tantas vezes, não respirando de todo e deixando a leitura de lado de vez em vez. Mas se não a abandonar-mos e conseguir-mos ler até ao fim, é bom sinal.

Quando o peguei logo me interessei pela história. Mas era densa. Quis muito conseguir ler até ao fim. Receei ter de abandonar a leitura a meio, devido à densidade do tema.

Mas cheguei ao fim e terminei a leitura com uma sensação de triunfo.

Curei-me.


sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Mais uma leitura finalizada


The Cockney Sparrow (2007), da autora Dilly Court foi a minha última leitura concluída. 
Gostei bastante de mais esta história. Talvez por estar em Inglaterra, mais uma vez a história passa-se em Londres, mas no tempo das carroças puxadas a cavalos e da iluminação com velas - a agora apelidada de época Vitoriana.

Mais uma vez, uma menina pobre com uma vocação, que acaba por encontrar a sorte, mas não antes de dar muitos trambolhões e sofrer o diabo a quatro!


Sem querer adiantar muito, a heroína chama-se Clemency (Clemência), é muito pobre, tem de andar pelas ruas com neve com os pés descalços - este tipo de pobreza. Para sobreviver ela rouba carteiras a transeuntes distraídos. Dela depende o irmão paralítico das pernas e a mãe alcoólica, que se juntou a um homem mau, que a força a prostituir-se. Mas Clemência tem um dom: uma voz que emociona quem a ouve. E de acaso a acaso, ela acaba por se tornar vedeta de Teatro musical. Só que nem por isso deixa de ter de fugir do padrasto, que a quer colocar na vida, e nem por isso consegue ter um teto para morar e dinheiro para comer. 

Será que a vida desta rapariga alguma vez vai melhorar?
E porquê existe um homem que a quer meter de volta no mundo do crime?



NOTA: O Mais Surpreendente na leitura: os detalhes do quotidiano numa outra época surpreendem e instruem. O nome correcto para utensílios que nunca ouvimos falar ou sabiamos da sua existência e a linguagem da altura. 




quinta-feira, 18 de julho de 2019

Mais um livro lido


Tirei-o da prateleira por impulso, entusiasmada com as "review" na capa: Cativante (Sunday Times), "Hipnótico" (Elle), "Perturbador mas refrescante" (Stylist). Tem reviews até no interior da capa, na contra-capa e as primeiras quatro páginas são também reservadas aos "elogios" à autora, que é "licenciada em Harvard e antiga editora de livros" - diz no interior da contra-capa, o único espaço livre desse tipo de auto promoção.

Serviu-me de lição. 
Já tinha concluído que livros que imprimem na própria obra as reviews dão as piores leituras.




Girls on Fire, de Robin Wasserman fala da vida de miúdas adolescentes numa localidade americana algures no meio do nada. A linguagem é maçante, são páginas e páginas de história que não sai dali, só enrola de um lado para o outro. É como assistir a um jogo de ténis, em que a bola passa da esquerda para a direita, depois da direita para a esquerda e nada mais. "Fos-te tu, Não fos-te tu.". É uma leitura que se faz bem se se saltar a maior parte dos capítulos. 

Experimentei saltar linhas e dei conta que as frases começavam sempre com a mesma expressão e isso é frequente pelo livro inteiro "uma menina bem comportada..."  "uma menina bem comportada"... "Uma menina bem comportada"... Entendo que se quer dar ênfase a uma ideia mas percebe-se à primeira, não é preciso repetir. 

A história não me atraiu. Mas li até ao fim. Acho que lhe falta densidade, as personagens são pouco desenvolvidas e insuficientes. Está previsivelmente cheio de linguagem sexual, com enfadonhas descrições detalhadas de actos sexuais. Perversidade e linguagem vulgar brotam a rodos. Adolescentes com juízos de valor a torto e a direito, a detestar os pais e pais passivos que não sabem nada da vida dos filhos. Ninguém gosta de ninguém, ninguém é feliz, todos são falsos uns com os outros e todos se portam mal.





sábado, 22 de junho de 2019

Outro livro lido... num dia



...Mais uma história que me envolveu do início ao fim. Li-a toda num dia. O nome da obra? "A porta Aberta", de Beryl Matthews (2002).

Como descrever como e porquê esta leitura prendeu o meu interesse? É mais um relato da história de uma criança muito pobre, bonita e inteligente que leva uma vida repleta de adversidade e luta sempre, até chegar à confortável posição de milionária e bem resolvida no campo profissional, sentimental e familiar assim que passa dos 20 anos de idade. E então termina a história.


Dito assim parece desinteressante. Mas o que mais me surpreendeu a mim foi passar a leitura de cada página com lágrimas a caírem-me dos olhos

Isso é que me surpreendeu, pois sou de chorar, gargalhar, rir, temer, ficar apreensiva e tudo mais... Mas nunca durante um livro inteiro. E mais surpresa fiquei por não achar que o livro descreva cenas demasiado violentas. Talvez por isso mesmo. Pelo adivinhar da contrariedade emergente, o que vai acontecer, a tensão constante, as pequenas inquietações, os DESENCONTROS. A violência afectiva e o apoio emocional. Há algo nesta escrita que produziu lágrima constante (o que atrapalha a leitura e deixa o rosto inchado e com ar cansado). Um dia muito mais tarde vou reler esta história e descobrir se voltarei a soltar lágrimas de página a página. 




Resumo:
Rose é uma criança que vive com a família de oito irmãos, mãe e padrasto num bairro de lata. É muito pobre, quase não há comida para alimentar tantas bocas, as roupas que usa por mais que as cuide estão degastadas e os sapatos com buracos. Rose é uma menina que parece mais velha que a idade que tem, de uma beleza que chama a atenção e uma inteligência inesperada e avassaladora. Ela detesta o bairro onde mora e quando passeia pelas ruas chiques do outro lado de Londres, procura respostas a uma só pergunta: Porquê uns têm tanto e outros têm tão pouco? A sua busca incessante por respostas conduz-a à luta pela igualdade e melhores condições daqueles que, como ela, mal têm o que comer.

Prós: É uma leitura que não cansa e é muito fácil de fazer. A autora sabe manter o interesse, sem necessitar recorrer a "arabescos", ganchos literários ou a técnicas de suspense. Não existem grandes descrições exaustivas e detalhadas do ambiente, do espaço ou até mesmo do estado de espírito das personagens. A geografia também não entra em grandes detalhes, nem cenas românticas ou detalhes da guerra. Nada entra. Não há "palha" para engrossar as páginas do livro, parece ser uma leitura pobre pela ausência literária de certos hábitos de escrita contemporaneos, ainda assim a leitura prende o que só prova que estes não são relevantes. 

Contras: Por vezes a idade da heroína é mencionada como idêntica, embora o tempo passe e para as restantes personagens a idade avance.

Destaque: de alguma forma, a nota final da autora foi igualmente tocante e consolidou o livro.

Nota: O livro é o primeiro de uma triologia.  Seguiu-se Wings of the Morning e A time of peace.

Outra nota que achei muito interessante: a autora escreveu o livro após frequentar um curso de escrita aos 71 anos! Isso pode explicar o fascínio que senti pela ausência de "hábitos de escrita" descritos acima, que geralmente tornam cada obra muito parecida a outras. Viva a originalidade!

Vai ler?

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Audiolivros? É tão mau!



Afinal não consigo escutar audiobooks. Narrados em português, os que se encontram pela internet são na maioria narrados com sotaque e jeitinho brasileiro. Os que encontrei com sotaque de Portugal parecem vir todos do Porto e deixam muito a desejar. Louvo os esforços de quem se dedica a isto, mas o resultado é muito amador para o meu gosto. Não consigo escutar, estou quase sempre a corrigir a entoação!


Dito isto, imaginei o audiolivro profissional realizado pelas mesmas pessoas que fazem dobragens de filmes. Ou até mesmo por locutores da rádio. Esses têm treino, sabem narrar uma história como ela merece. E é tudo feito num estúdio com tecnologia apropriada. Por muita boa vontade que exista de pessoas comuns como eu, rara é aquela que consegue atingir o nível de qualidade que qualquer obra merece. 

Lembro-me do primeiro "audio-book" que escutei.
Que idade podia ter? Seis? Oito anos??

Na altura era um disco de Vinil, fornecido com o livro. A obra? O gato das botas altas.


E era tão emocionante! Com sons audio de efeitos especiais como chuva e trovão, as vozes a dar a entoação certa, o grito de miau... 

A tecnologia evoluiu muito e agora chamam a isto de audio-livro. Mas tanta evolução e tanto retrocesso em simultâneo. Comprime o meu coração!

Já escutaram audio livros em português? O que acharam?

domingo, 12 de maio de 2019

Leitura com mensagem


Experimentem quando estiverem a ler um livro, fixar o olhar num ponto específico e ir abrindo várias páginas ao acaso. Só vale registar a primeira palavra que o olhar apanha. Mude de página rapidamente, folheando várias, fazendo pelo menos quatro tentativas. Junte todas as palavras numa frase.

Tem mais piada se antes de fazer este exercício, concentrar-se e interiorizar algo para a qual procura uma resposta. O livro vai dizê-la.

Contem aqui que palavras formularam!

Secret will eventually catch up again 

Este foi o primeiro resultado que obtive e surpreendeu-me como as palavras ao acaso combinam perfeitamente numa frase coerente. Fiz isto na brincadeira mas fiquei pasmada como bateu certo... à primeira, à quinta vez, ehehe.

E no espírito da coisa, uma das palavras, cortada ao meio por um infén, valeu apenas pela metade que os meus olhos apanharam. Por isso fui atrás do que poderia significar metade da palavra (que era palavra por si só). Fui parar a esta frase: Estas perdiendo el tiempo pensando, pensando. O que conduziu a esta bela descoberta: 


Divirtam-se!




domingo, 14 de outubro de 2018

Onde estão os oráculos?

Zapping.
Paragem na RTP2. Cativa-me uma entrevista que está a decorrer num cenário com apenas dois sofás. Jornalista de um lado (a jornalista ham-ham), o entrevistado do outro. Um senhor a falar num português bem fluente, mas com sotaque. A forma como se expressa cativa-me e quero saber do que falam. Percebo que se trata de um livro de que ele é o autor. Aparece uma capa, mas com má leitura. Pelo menos no monitor do meu televisor, não consigo visualizar a tempo do que se trata. Um rosto remetendo a um mosaico romano parece ilustrar a capa da obra. Mas não mencionam verbalmente o nome da mesma. Nem o nome do entrevistado. 

Ainda não era desta...

Surgem os oráculos, aqueles rodapés informativos, mas também nada dizem. A entrevista continua a decorrer e é perguntado ao entrevistado sobre as personagens que escreve. Mas nenhuma pergunta ou resposta revela o livro que o fez estar ali. Apanhei o programa a meio, é verdade, quase no fim. Mas pude ainda ver uns bons minutos - talvez os últimos cinco ou dez. Seria de esperar nesta época de fast-tudo, a presença constante e alternada de rodapés informativos a aparecer repetidamente ao longo da duração do programa. Do estilo "Fulano X lançou livro Y". É para isso que esses rodapés existem: para situar o telespectador a qualquer instante em que sintonize o programa, no assunto abordado. E o cativar. Para passar a informação visual, caso a auditiva falhe. Os oráculos só trazem  vantagens e são um grande trunfo televisivo. Mas não souberam usá-lo.

A entrevista terminou. Pareceu-me que o autor chamava-se Richard, mas a jornalista menciona-o talvez uma vez e não recebo confirmação da obra, nem do autor, nem sequer na finalização da entrevista. Outra "regra de ouro" geralmente seguida por quem faz entrevistas televisivas. (Agora já sabem o propósito da mesma).

Não tive sorte, foi um tanto frustrante. Quando foi perguntado ao entrevistado como se sentia como autor ao ver-se ao espelho, ele então menciona uma famosa obra por si escrita: O último Cabalista de Lisboa. O google preencheu o resto: autor: Richard Zimler. Obra acabada de lançar: Os dez espelhos de Benjamim Zarco.

Descobrir isto foi como "montar um puzzle", entre o que ouvi e as informações parciais (tema da obra mas sem capa, a mencionar seis tempos - que foi um dos dados mencionados pelo autor durante a entrevista) disponíveis no google. Um simples oráculo bem colocado e uma entrevista finalizada de outra forma teria evitado todo este extra esforço :)  :D


PS: Achei interessante mencionar que a jornalista às tantas pergunta ao autor, numa afirmação, "Está a viver em Portugal há... 20 anos. Mas ainda pensa e escreve em inglês". Achei interessante ele rectificar que cá vive há 28. Está mais para 30 do que para 20, a jornalista parece não ter feito bem o "trabalho de casa" - só por este detalhe que escapou. Entendi que tinha muitas questões preparadas para lhe colocar - e colocou-as umas atrás das outras, quase sempre antecedidas de um "ham-ham". Mas o autor pareceu-me um óptimo entrevistado para improvisar ou seguir a deixa das respostas para fazer a próxima pergunta. Sem necessidade de "guião". 

sábado, 9 de junho de 2018

É impossível ser-se assim tão talentoso e ser deste mundo


Estou actualmente a ler um livro que me está a deixar extasiada e ao mesmo tempo, perturbada.

Já não é a primeira vez que a escrita de Tess Gerritsen tem este poder.
As primeiras palavras de "Vanish" (desaparecidas) surtiram em mim a mesma sensação perturbadora, real, aflitiva, quando li a obra em 2005.

Foi nesse ano que "conheci" Tess Gerritsen.
Garanto-vos que admiro e adoro a forma como escreve.


Fazia alguns anos que não lia nada dela. A pesar do seu crescente sucesso, julgo que continua a não ser muito divulgada em portugal, embora já existam obras dela traduzidas e comercializadas. Porém, outras continuam a aguardar. E uma delas bem pode ser "Playing with Fire" (Brincando com o fogo) - o livro que estou agora a ler.

Digo-vos: estou a adorar!
Se o que li antes deste - também dela, «devorei» em menos de 48h, este aqui quero acabar logo. Mas dou por mim a precisar interromper a leitura. Não por estar cansada, embora provavelmente esteja. Mas por estar emocionalmente aflita. 


Que capacidade extraordinária tem esta mulher com as palavras!
Até fico a pensar como é possível. Tendo se doutorado como médica e praticado medicina durante anos, como é possível que seja tão boa em duas coisas tão distintas. Ainda por mais, toca violino. 


O que a inspirou a escrever esta história de "Playing with fire".
E compôs de verdade a melodia que faz parte da história. Tess surge aqui a tocar no piano a sua composição. Não é possível. Médica, escritora, musica. Tess é de outro mundo. 

E eu estou a adorar. E a temer. O que aí vem.

Ela dá a "papinha" toda. Sinceramente não entendo como Hollywood ainda não transformou todos os seus livros em filmes. Até a banda sonora ela proporciona. Bem melhor que Dan Brown. No entanto, este já conseguiu um Tom Hanks a protagonizar o seu herói. (Será por Tess ser mulher?)



A história começa actualmente (em 2015 quando a obra foi escrita) na América, após a viagem da personagem a Itália. Logo aí gostei da forma como a autora descreve, em poucas palavras, a primeira experiência da personagem com aquela terra e sua gente. Coisa pouca, mas que a mim soou a autêntico, com a qual me identifiquei. É como se lá estivesse: Em Itália, dentro daquela loja, conhecendo aquele funcionário. 

É esse o poder da escrita de Tess.

E é por isso que quando a história "saltou" uns anos para trás até Itália, não consegui largar mais. Os muito bem relatados factos contemporâneos, interrompidos num auge, não pareceram mais fazer falta. Estava completamente envolta nos acontecimentos daquele sítio na Itália, dentro dos lugares que ela mostra, conhecendo tão bem as personagens que ela descreve. Já nem precisava sair dali para saber o que acontecia nos EUA. Vinha aí uma história romântica, e eu, que prefiro trillers psicológicos e mistério, estava a ficar totalmente envolvida por um romance tão puro, tão autêntico e em risco quando a música dos apaixonados.


Tive de parar de ler a história mais que uma vez por temor. O que dali vem. Por temer... o horror. 
No instante em que parei de ler, toda a família de Lourenço, junto com outras famílias iguais à sua, estavam a caminhar para um comboio que os levaria para um "campo de férias". Depois voltariam, passado uns tempos - disseram-lhes. Até lhes deixavam escrever UMA carta a um vizinho ou amigo, desde que contassem que estavam a ser bem tratados e que se dirigiam para um lugar bom. 


Esse lugar foram os campos de concentração durante a segunda guerra mundial.

Nunca - e eu já vi e li tanto a respeito, me afectou tanto o que aconteceu a todos os judeus e seus simpatizantes nessa altura. E tudo devido à escrita de Tess.
Ela não deixa de fora a fé. Foi por terem fé e não acreditarem nos boatos de atrocidades, que muitos ficaram. Confiantes no seu líder, confiantes no significado dos muitos anos de vida estabelecida, no emprego digno e honesto, no negócio que passou de pai para filho... Não. Era tudo boatos. Não iam fugir para o desconhecido e para a pobreza, com base em diz-que-disse. Iam ficar no seu país, na sua casa, a trabalhar honradamente. 

E é por conseguir transmitir tão bem esse lado por vezes esquecido - o lado humano, da fé, da descrença, que me identifico tanto com estas personagens. A escrita de Tess Gerritsen simplesmente tem afinidade com as minhas emoções. Toca-as como a um piano, um... violino. 




Se puderem, leiam.
Qualquer obra dela, mesmo a da série Maura Isles e Jane Rissoli.

"Eu sei um segredo" foi a obra que li nas últimas 48 horas e é muito bom! Aqui no UK está à venda nas livrarias (lançamento em agosto de 2017, EUA) mas descobri o tão fantástico que é usufruir das bibliotecas. Que ainda por cima têm livros acabados de serem lançados. Leio e devolvo. Adoro! Adoro a partilha, adoro o empréstimo, adoro o ler sem ter de decidir qual posso comprar, sem ter de escolher entre um de muitos - posso lê-los a todos. E não tenho de os possuir. Partilho-os. 

sábado, 3 de março de 2018

Um livro, três frases


A semana passada terminei de ler um livro um tanto ruim e aborrecido. Como gosto de histórias de investigação, acabo sempre por dar uma oportunidade de leitura, mesmo tendo percebido na primeira página que era enfadonha e mal escrita. Não querendo ser precipitada, dei uma oportunidade aos esforços do autor e continuei a ler, determinada a ir até ao fim. Tinha esperança de, mais adiante, ser surpreendida com brilhantismo no enredo e nas personagens, história verosímil apresentada numa escrita dinâmica e bem articulada. Não aconteceu. 

Contudo, entre tantas palavras, sempre se descobre umas com que nos identificamos ou que, naquele preciso instante, nos diz alguma coisa. 

"Quando menos se diz, mais depressa se emenda"
"Manter tudo fechado dentro de nós não funciona"
"São as palavras não faladas que causam estragos
"

Encontrei este livro no aeroporto (foi abandonado propositadamente e assim que o comecei a ler entendi porquê) e soube de imediato o que queria fazer com ele: lê-lo rapidamente para voltar a deixá-lo num lugar público. Pretendia escrever uma nota nas primeiras páginas, contando que encontrei o livro, li-o e agora disponibilizava-o ao próximo, para que fizesse o mesmo. 

Acabei por deixá-lo dentro de um autocarro. O lugar ideal, se for a pensar bem. Só tive tempo - às pressas porque tinha chegado à minha paragem - de escrever "achei este livro, é seu, espero que goste". Faltou mencionar que a ideia era quem o encontrasse devia fazer o mesmo. E datei a nota.

O prazer está em imaginar o livro a circular livremente, tal e qual um turista, entre muitas mãos e  muitos lugares do mundo, a servir para matar o tempo de alguém aborrecido ou a precisar de uma leitura.


quinta-feira, 16 de junho de 2016

Ler um e book pode ser penoso


Ter ficado uma semana sem internet fez com que fosse ler uns livros que havia obtido faz dois anos. Não são exatamente livros. Pois não vêm na forma de papel encadernado em livro. Mas E-books

Os E-books encontram-se somente na internet, são para ser lidos no computador. 
Havia feito o download de umas obras gratuitas que encontrei nem sei bem como. Fui dar com elas numa pasta no computador que estava sem ligação à net e decidi espreitar os títulos e ler algumas obras. 

Escolhi, não sei bem como, na hora do download, obras originais inglesas traduzidas para português. O problema desta tradução é que a maioria dos e-books disponíveis - se não toda, é traduzido em português do Brasil.

O que vos dizer??
É penoso!!!

Faz doer o cérebro. Ler uma obra em português brasileiro é ler algo que se adivinha rico numa versão pobre. Consegue-se perceber, adivinhar inclusive, que aquele excerto no seu original deve estar bem escrito mas a tradução transformou-o em algo demasiado simplório. A leitura consegue ser penosa e em determinados momentos, dolorosa. Alem de se estar simultaneamente a traduzir na mente para um português gramaticalmente mais adequado, no final da leitura fica-se com a certeza de que muito se perdeu pelo caminho naquela básica tradução brasuca. É como comer algo mal cozinhado, quando se esperava ser servido de um prato gourmet ou, pelo menos, algo com melhor gosto. 

Tenham em atenção este excerto original de um livro que encontrei:


 E agora a tradução: 


Bem, isto só pode ser traduzido por um computador. Apesar da capa vir indicado que a obra é da Bertrand Brasil, julgo que só a capa o será porque a tradução é igualzinha ao que o google faria, se não mesmo pior.
Ora vejamos o que escrevem: "Os salões de (da) Del Norte Alto zumbia(m) com (o) primeiro-dia (sem infen) da escola caos (???) como Laurel preso (???) se através de uma multidão de alunos do segundo ano e ombros largos manchado (???) de Davi. Ela entrelaçou os braços ao redor da cintura e apertou o rosto contra seu (a sua) suave T-shirt. "Hey" (em inglês), David (já não é Davi) disse, retornando seu abraço (brrrrr! Calafrios que dá ler isto!). 
(...)
Dá para acreditar? Estamos finalmente idosos!"

- Porque todos os adolescentes de 17 anos ficam entusiasmados por saltar para a terceira idade lol! 

A língua portuguesa é rica em vocabulário. Ler um livro de tradução BR tem servido, até agora,para constatar que 80% dessa riqueza é esquecida. 

E vocês?
Alguma vez leram um texto em português-br?
Qual a experiência?