Ser criança não é fácil. Estamos a crescer e os traumas podem chegar de todo o lado. Tive os meus, que não foram poucos. Talvez por excesso de sensibilidade tive mais do que podia suportar. Mas excepcional como sou, sempre fui capaz de suportar tanto! Então, tive doses letais para a maioria dos mortais e morri, sem ter morrido de verdade.
Fui assassinada. Sabiam? Pois decerto que não...
Todos os dias sofria ataques de mais que um lado. Dias, semanas e meses em que nem um segundo se passava, sem estar a ser vítima de ferimentos. Anos se passaram. E mais anos se passaram. Chorei todos os dias de todos eles. E passaram ainda mais uns tantos e mais outros tantos a passar... sendo assassinada.
Mas um ou dois momentos nesse período lembro com gosto. Porque são aquilo a que chamamos de "esperança". De tudo o que passei, do comportamento estóico que sempre me foi natural, mesmo perante o assassinato da capacidade de defesa ou da ausência da capacidade de ataque, por duas vezes, houve pessoas que se redimiram.
Numa delas foi um «obrigado», que não ficou esquecido quando o meu carácter de menina de 10 anos decidiu não delatar um colega. Levei com a fúria da professora, que me prometeu punições e cumpriu-as, fazendo de tudo para me prejudicar, tendo acabado por transformar uma menina de 10 anos que tirava notas de cinco valores, numa menina que passou para o ano seguinte com 3 e perdeu também a vontade de mostrar o seu potêncial, de tão maltratada que foi por esta pessoa que hoje sei que merecia que apresentasse queixa. Uma semana depois do sucedido (uma autêntica caça ás bruxas, uma inquisição), com todos a observar em silêncio a implicância da professora que não era muito eficaz numa aluna atenta e com gosto pela matéria, um rapaz tocou-me no ombro e disse:
-"Obrigado por não teres dito que fui eu".
No ano seguinte, uma das 7 raparigas que no ano anterior decidira fazer um círculo em torno de mim para me maltratar e acusar das coisas mais feias e absurdas - situação onde, mais uma vez, o meu carácter se mostrou estóico, disse-me que tinha uma coisa importante a me dizer já fazia muito tempo e que queria dizer já. Ela disse:
- "Desculpa o que te fiz o ano passado. Sei que era tudo mentira e estou muito arrependida do que te fiz".
Ai! Se ao menos fosse sempre assim. Se hoje em dia existissem mais "obrigados" e "desculpas".
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