quinta-feira, 26 de março de 2009

O Medo e a acusação

Quando era nova os miúdos acusaram-se uns aos outros, porque a professora queria saber quem tinha descoberto as soluções para um problema e feito batota. "Não fui eu! Não fui eu! Foi «x» que me disse! Pergunte a «x»! A professora dirige-se a «X», que repete o mesmo discurso, e transfere a ira da professora para «Y». «Y» transferiu para «Z» e assim sucessivamente. Achei tudo isto muito feio e lamentável e de imediato, tomei a decisão de não agir assim quando chegasse a vez de «A ou B ou C» passar a acusação para o meu lado. E assim o fiz.
Já se passaram muitos anos, não lido mais com crianças, mas com adultos. Mais velhos que eu, inclusive. Isso não impediu de estar a viver este «dejavú» novamente. "Eu não fui! Eu passei as coisas para ti! Foste tu!".
Ver adultos, na casa dos 50, com esta atitude idêntica há das crianças, não me faz ter mais fé na raça humana. Nas crianças, ao menos, são crianças, sentem medo porque são menores que os adultos e estavam a ser intimidadas. Qual o pretexto de pessoas com mais de metade de um século de vida?
Vinte anos de diferença nos separam, podiam ser meus pais e, no entanto, continuei eu estóica, um exemplo de nobreza de carácter, ao limitar-me a dialogar sobre a situação sem apontar de imediato o dedo na direcção de alguém em acusação. Não sou culpada, mas ajo como que a dividir uma parcela de responsabilidade na questão. Coisa que só fica bem num trabalho em equipa, mas que não vejo ser a atitude das outras pessoas em volta. Cada uma só quer se certificar que fica assente que a culpa maior é de outro. Procuram o derradeiro culpado, alguém que fique com as culpas e sofra a punição, o bode expiatório.

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