Cheguei à conclusão que aqui nesta cidade as pessoas que andam de autocarro são todas burras.
Calma! Não estou a ofender ninguém à toa. Então justifiquem lá isto: quando entram e os lugares sentados estão ocupados, ficam-se pelas portas traseiras. Ninguém sobe para a parte de trás, onde certamente vão vagar mais assentos na paragem seguinte. Eu se poder, fico por ali, porque além da possibilidade de me sentar ser mais elevada, é também o único lugar num autocarro por vezes lotado onde não se viaja apertado.
(estes ingleses são muito burros!)
(estes ingleses são muito burros!)
Todo o cuzinho que entra no autocarro, acumula-se ali na porta traseira, entre o degrau para subir e o piso inferior, com a barriga e as malas enfiadas no sentido onde gostariam de ir, quase a meterem-se no "colo" do passageiro sentado na cadeira perto do degrau.
Mas o que me enerva todos os dias é um hábito que todos aqui têm. Acho-o repulsivo. Tenho vontade de dar uma lição de civismo nestas pessoas.
Então não é que assim que alguém desocupa um lugar, os que já viajam sentados correm para o apanhar? Falo, claro, dos lugares à janela... Podem vagar cinco e tu, que acabaste de entrar para sentar, não tens hipótese. Só vês vultos a mexer e subitamente os lugares vazios são todos à coxia.
Para mim é um comportamento altamente condenável. De bom tom é, se já viajas sentado, deixas-te estar sentado. Ou trocas de lugar sim, mas não quando outros estão para se sentar, não quando estão passageiros a entrar com essa finalidade. Se o teu CU já viaja sentado, que direito pensas ter de especial para poder fazer "upgrade" do trono??
E tem outra... Quando está sol, o comportamento é oposto. Fogem dos lugares à janela e vão para a sombra na coxia. É ou não é repulsivo? Demonstração pura de egoísmo.
Para não falar dos lugares reservados a idosos e deficientes. Em Lisboa, de vez em vez, ainda se vê o autocarro com gente em pé mas esses lugares continuam vazios. E as pessoas cedem sempre a quem de direito. Aqui sentam-se neles quem quiser. Jovens principalmente. Se aparecer alguém mais idoso, ninguém oferece o lugar. Esperam que o peçam e, na realidade, a menos que a pessoa venha a coxear ou use uma bengala, tornando assim a sua necessidade obvia, ninguém se move.
Uma vez ofereci o meu lugar a um casal de pessoas enxutas, mas mais velhas, pois percebi que era-lhes difícil segurarem-se e equilibrarem-se com o movimento do veículo. Ela estava a amparar o homem. Ofereci e ela recusou. Logo de seguida duas pessoas ao meu lado largam o lugar e o casal senta-se e relaxa. Bem que podia ter aceite o meu lugar, não os estava a chamar de velhos por causa disso. O alívio e conforto que retornou aos seus rostos quando se sentaram foi obvio. E o casal que se levantou, se ia sair na paragem seguinte, também podia ter demonstrado a mesma atitude que eu. Mas não. Preferiram continuar a viajar sentados até o último minuto. O casal podia ter pedido os lugares reservados, mas também não o fazem. Só pessoas com bengalas ou a coxear são capazes, diante do obvio, solicitar ou esperar que o simples visualizar da sua situação faça com que esses lugares vaguem. Pessoas idosas, sem dificuldade de locomoção visível, parece que são orgulhosas demais para tal.
À entrada do autocarro estão dois lugares individuais isolados, um em cada lado, à semelhança do que acontece em Portugal. Um atrás da cadeira do motorista, outro do outro lado, idêntico. Noutro dia enervei-me em silêncio com o que vi. Viajava atrás e os lugares à minha frente estavam todos vazios. Vejo duas mulheres que conversavam sem parar, a entrar em primeiro lugar e percebo que, mesmo viajando juntas, vão cobiçar os lugares individuais. Dito e feito: A primeira a validade o passe sentou-se na cadeira individual e a outra fez o mesmo. Antes mesmo do terceiro passageiro passar, já o palrrear das duas, mais os movimentos dos braços, atrapalhavam quem queria passar. Cada uma delas virada para o centro, cada qual a falar mais alto para se escutar.
Não era mais civilizado não imporem a conversa privada a todo o autocarro e terem-se sentado uma ao lado da outra, num dos tantos lugares disponíveis? Claro que sim. Mas as pessoas aqui regem-se por um princípio de egoísmo que não entendo.
Não era mais civilizado não imporem a conversa privada a todo o autocarro e terem-se sentado uma ao lado da outra, num dos tantos lugares disponíveis? Claro que sim. Mas as pessoas aqui regem-se por um princípio de egoísmo que não entendo.
Outra coisa que aqui não se faz: não existe respeito pela ordem de chegada na paragem. Tanto pode entrar primeiro no veículo a pessoa que chegou naquele instante, como outra qualquer. A que estiver mais perto da porta, entra. Não há cá "direitos" civis não pronunciados mas seguidos, regras de etiqueta, de cortesia, de educação, que ditem que é de bom tom permitir que as pessoas que aguardam a chegada do veículo há mais tempo, entrem primeiro.
Nada!
Aqui até se surpreendem comigo, quando digo à pessoa que estava à minha frente, para fazer o favor de entrar.
Aqui até se surpreendem comigo, quando digo à pessoa que estava à minha frente, para fazer o favor de entrar.
Conclusão: aqui as pessoas não sabem utilizar o autocarro.
Não digo em toda a inglaterra, porque creio que no centro de Londres é diferente.
Mas nesta cidade da periferia... é como descrevi.
Mas nesta cidade da periferia... é como descrevi.