Fui assistir ao filme
Blade Runner 2049 e escolhi a versão
4Dx. Foi a primeira vez que entrei numa sala de cinema esperando que a cadeira abanasse, o vento soprasse, etc, etc. Mas sem saber ao certo o que dali podia sair. Fui para descobrir como os meus sentidos iam ser estimulados e de que forma essa estimulação ia intervir ou contribuir para a visualização da história.
A escolha do filme é importante - uma comédia romântica provavelmente nem terá porquê ser filmada em 4D mas Blade Runner é um filme de acção. O que eu esqueci totalmente é que muito da acção do filme se passa debaixo de chuva torrencial...
Passei o filme todo a ser borrifada com água na cara. Tive de limpar os óculos 3D e logo coloquei o casaco sobre a cabeça acabadinha de sair do duche fazia nem meia-hora. Estreei calças novas, em pele, que também foram salpicadas. Havia um botão a dizer "desligar água" e bem que o accionei. Mas não resultou. Continuei a ser borrifada. Quando saí do filme estava a chuviscar. Mais água. Mas essa tudo bem. Vem do céu... No cinema não achei que contribuísse muito para o filme.
Rajadas de vento, ainda vá lá. São agradáveis. O nevoeiro foi uma piada... um «borrifo» minúsculo em cada canto inferior do pequeno ecrã (achei o ecran pequeno, podia ver todo o enquadramento à volta, as paredes e outras cadeiras) que nem sequer entrava no campo de visão da imagem nem na área onde algo acontece. Na regra dos terços, o «nevoeiro» iria até o cotovelo do ator na imagem e no outro lado até onde o colarinho toca o ombro.
|
Exemplo da regra dos terços |
Sobre o filme posso dizer que o que mais gostei foi da interpretação da atriz que fez o papel de... bom, o nome da personagem é Dra. Anna Stelline. E o nome da atriz
Carla Juri. É de origem Suiça - não fosse um filme desta envergadura interpretado por atores de quaisquer nacionalidades. O que realmente gostei foi, mesmo antes de se descobrir a verdade, já consegui adivinhar pelos maneirismos e até sotaque que a atriz emprestou à personagem. A sua própria fisionomia, a forma como se mexia, como se movimentava e a forma de falar: em tudo fez lembrar a Rachel.
Essa foi a parte que mais gostei.
É aquele «pequeno detalhe» que um ator empresta à personagem que faz toda a diferença.
Outra bela interpretação veio da «substituta de Priss» - entregue à atriz canadiense Mackenzie Davis. Assim que entra na história fá-lo com presença e sobressai na sua entrega à personagem.
A pergunta à qual muitos querem ter resposta, não será respondida.
E faz sentido. Só assim faz sentido.
Sinto que me falta ver o filme mais vezes. Senti falta das legendas. Não que não entendesse o que os atores estavam a dizer, mas é um complemento ao qual me acostumei - principalmente no cinema, e do qual, sem adivinhar, comecei a perscrutar com os olhos assim que o primeiro diálogo fez-se escutar. Depois é que me lembrei onde estava :D
Mas sinto que preciso ver o filme mais vezes por dois motivos. Estava indecisa entre ver o filme em 3D IMAX ou em 3D com 4Dx. Como achei que a oportunidade de ir a um filme mais interactivo não voltaria tão cedo, optei pelo último. Pessoalmente, ainda que seja prematuro, acho que compensa mais o estímulo que um filme filmado em 3D Imax proporciona. Técnicamente deve ser um SONHO: é filmado em película de 70 mm, o som é gravado à parte e não-sei-quantas pistas e o ecrãn é uma coisa do outro mundo.
No cinema 4Dx as cadeiras sobem e descem - por vezes sem muito sentido. Abanam as cadeiras, sacodem-nos dos assentos a cada cena de pancada, um tubo de plástico bate-nos nos pés e outro nas costas. E somos molhados. Basicamente são estes os estímulos. Estava à espera de algo mais envolvente - nomeadamente CHEIROS. Queria sentir um odor. Mas o único que senti foi quando alguém na sala decidiu soltar uma bufa. :(
Os únicos sentidos estimulados foram o do toque e o da visão pelo 3D. Achei pouco. Principalmente pelo preço de 20 libras.
Penso que os sentidos são mais estimulados nos filmes em IMAX, porque a audição ganha MUITO detalhe. Neste filme o som estava muito alto e basicamente foi isso. Não se sentiu o barulho da água a correr da direita, enquanto da esquerda vinha outro som - como acontece nos filmes IMAX.
A promessa de envolvência que o 4Dx promete é mais propaganda do que real. O Imax fornece muito mais aos sentidos - e não se sai da sala molhado. Acho que o «estar dentro do filme» é um exagero (principalmente devido à tela minúscula) e, para ser sincera, um dos motivos pelo qual acho que devo assistir novamente ao filme, é porque de certa forma os «efeitos» interferem com a apreciação do mesmo.
Como posso concentrar-me na acção se enquanto esta está a decorrer estou a cobrir-me com o casaco, de forma a este não ser levado com o vento nem me deixe levar com a "chuva"?
Certamente que o filme passará em breve nas televisões. Vai estar disponível para aluguer nos videoclubes caseiros, disponível em DVD com cenas extras e comentários, etc. Vai sair em pack promocional junto com o original...
Outras oportunidades surgirão. E aí uma pessoa vai descobrir como o filme se situa diante do todo.
O original, contudo, é imbatível. Porquê? Pelas condições em que foi feito. Com os artistas envolvidos sem saber se o filme ia ser parado e nem sequer ia ser exibido. Com eles a filmar com apenas segundos para terminar cenas. Com o diretor a saber que dali a pouco ia ser demitido. Um filme único na produção - assim como foi "O Tubarão". E um filme onde a criatividade de muitos foi acolhida como contributo para "salvar" uma produção que estava a sofrer muitas contrariedades. Resultado? Obras-primas.