Estou incomodada com uma coisa. E essa coisa já me estragou o meu dia de folga.
Reparei que uma frigideira que usei, lavei e pendurei ontem, não estava mais no lugar.
Intrigada, fui olhar na gaveta, o único outro lugar onde poderia estar e também no frigorífico que não me pertence, não fosse alguém ter precisado usá-la e metê-la por lá.
Aí lembrei-me do armário com panelas que o senhoria me mostrou quando vim ver a casa. Foi nessa altura que perguntei se a casa tinha esses utensílios ou se tinha de trazer os meus. Ele respondeu que a casa os tem, mas aqueles no armário pertenciam a alguém.
Então ao armário NUNCA fui.
Só uso o que vejo na cozinha, o que me foi dito que era para usar.
Então ontem, numa das raras ocasiões em que me dá para isso, cozinhei. Usei a frigideira, lavei e pendurei no lugar onde sempre a vi.
E hoje quando reparo, não está mais lá.
Como disse, fui encontrá-la no armário que pertence a outra pessoa.
Isto para mim é o mesmo que me dizerem: "Isto é meu, não quero que mexas!"
Muito mesquinho!
É que eu é raro cozinhar. Porque nem sempre tenho vontade, nem sempre tenho tempo e porque outros também cozinham. Divido a casa com outras quatro pessoas, e todas se dão bem e são cúmplices. Nunca me convidaram a tomar uma refeição junto com eles. E já faz para mais de dois meses que vivo aqui.
Portanto, não me sinto incluída, verdadeiramente.
Tanto assim é que, se não fosse por uma mensagem do senhorio a avisar que vai mostrar o quarto de um dos inquilinos a um novo candidato, duvido que alguém me contasse que um deles vai embora. Vai o rapaz que faz parte do casal. Sim, tenho um casal aqui e isso nunca é bom. Cada vez que brigavam ficava no ar aquela coisa de "preciso falar com a minha amiga sobre a briga" e eu saia da sala para que elas se sentissem livres para falar.
É o elemento ERRADO do casal que vai abandonar esta casa.
Nisso não tenho dúvidas.
Estou a pensar confrontar as duas raparigas com este facto. Não é a primeira vez que algo que eu uso é removido do local e colocado noutra parte. É quase como que dizer: "Isto é meu, não quero que uses!".
O que está LONGE de ser a postura indicada para uma casa onde as pessoas aparentavam ser dadas, compreensivas e sem problemas de maior.
A mais nova da casa - que só cá veio habitar uma semana antes de mim, logo pareceu querer tomar conta e dar ordens. Exibiu comportamentos que não me cairam muito bem. Mas relevei. O meu erro sempre foi relevar, por isso acho que agora não posso fazê-lo. TENHO de confrontar a pessoa com as suas atitudes. Ela também faz o tipo que entra na sala quando eu estou e não me diz olá. Mesmo a passar por mim, acabada de entrar, e nem um cumprimento.
Sem dúvida devia ser ela a sair da casa e não o namorado.
Houve um dia em que ela não esteve e ficamos só nós os quatro. Foi um dia sem stress e onde todos falaram entre si. Quando ela está parece que o convívio fica restrito ao grupinho.
Depois tem a mania.
De que faz tudo bem. A primeira vez que a vi a limpar a cozinha, mandou-me sair porque queria limpá-la. Eu precisava comer algo porque já era tarde e não tinha tomado o pequeno almoço. Então pedi-lhe que me deixasse apenas apanhar algo da dispensa e prometi que não voltava.
Sei lá o que tirei... umas bolachas.
No final, ela chama os amigos e diz-lhes:
"Vejam, eu limpo bem, não limpo? E agora passa a ser assim: a reciclagem é aqui e não mais ali e a esponja é só para lavar a louça e é deixada acolá. Está bem limpo, não está? Eu limpo bem. Vejam, limpei aqui e aqui..."
Um mês depois calhou a mim limpar a cozinha. E quando desviei os frascos de especiarias, estava a bancada replecta de pó, tufos de pó, terra, especiarias diversas, plásticos com livros de instruções empoeirados e bixos pequenos.
A limpeza dela não foi assim tão eficiente. Aliás, a limpeza de nenhum deles, caso contrário aquele canto da cozinha não denunciava a falta de limpeza de vários meses. O mesmo aconteceu no móvel atrás da televisão - cheio de tufos de pó e sujidade, e debaixo do sofá - o chão estava cravado de sujidade, migalhas, bolachas, plásticos, chocolates que cairam, etc, etc.
Mas agem como se fossem as melhores a limpar tudo e o resto ficasse aquém.
Também sujam um pouco mais que todos mas... quem se importa.
No geral, a casa é mantida limpa e isso eu gosto.
O que não estou a gostar são estas indelicadezas. O esconder coisas que antes estavam a uso da casa, só porque me viram a usá-las. O mandar «recadinhos» sobre as limpezas, escritos no quadro ou ditos como quem "não quer dizer mas diz". Eu nunca precisei de "anunciar" que limpei. Limpei e está à vista. Não vou andar a correr atrás deles a verificar se a limpeza que efectuaram está de acordo com os meus critérios. Mas acho que não é assim que eles agem. E isso é outra defeito muito complicado de aceitar numa outra pessoa.
Eles próprios dizem que eu devia comer melhor e cozinhar. Principalmente sendo Portuguesa - seja lá o que isso quer dizer. Pelos vistos os portugueses cozinham, não comem comida pré-cozinhada nem usam o micro-ondas. E no dia em que eu o faço, toda feliz, seguindo uma receita deliciosa de minha mãe, oiço-as a falar na língua delas o seguinte:
-"O que estás a cozinhar?"
-"Não sou eu".
-"Mas quem está a cozinhar".
- "xxxxx (não entendi o termo mas não disseram o meu nome) e acrescentaram com ironia e riso: «surpresa»!
Como se eu não pudesse cozinhar também. Tão habituadas que estão a ter o espaço só para si.
Até tive a cortesia de começar cedo para que pudessem depois usufruir do espaço para elas mais tempo.
O que percebi é que não lhes agradou.
E no dia seguinte, retiram da cozinha a frigideira que usei.
Estou a DETESTAR isto.