Metereologia 24 h

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terça-feira, 3 de maio de 2022

Que nem pássaros estúpidos

 

Já repararam que os pombos sempre se atrapalham quando vais a passar? Ao invés de se afastarem acabam por se meter ainda mais no teu caminho. Parecendo tontos, perdidos, desorientados. Acabam por levantar vôo mas, insistindo na exibida estupidez em terra, uma vez no ar continuam a meter-se no teu caminho. 

Não parecem aves particularmente inteligentes. Aliás, pergunto-me porquê nenhuma ave é, já que todas com que me cruzo, em particular gaivotas, exibem o mesmo comportamento. Ao invés de se desviarem para longe, se estão à esquerda metem-se na frente, se estão à direita, metem-se na frente, começam a caminhar freneticamente mas sempre se metendo na linha da tua direcção. Quando finalmente levantam vôo, cruzam acima da tua cabeça, constituindo uma ameaça imediata mas continuam a seguir na mesma direcção que tu segues. Parece-me burro, idiota. Não é suposto fugir-se na direcção oposta ao invés de seguir na mesma do objecto de que se pretende distância? Será algo no instinto primário delas que as fazem agir assim? 

Isto é particularmente irritante quando estou na scooter. As malditas das aves parecem que querem cometer suicídio. Quase que se metem debaixo da roda.  


Mas agora vem o pior: E quando são pessoas?


Desde que passei a usar um veículo de duas rodas, sou muito mais cuidadosa e respeitosa. No entanto surpreendo-me com o comportamento das pessoas. Agem como animais encadeados com a luz dos faróis dos carros. 

Tontas e sem noção de espaço.

Noutro dia vou a passar por um espaço amplo. Uma rapariga caminha pelo meu lado esquerdo. Vou ultrapassá-la pelo direito mas quero que saiba que me aproximo, para que não decida mudar de direcção exatamente à minha passagem. Toco a campainha para que saiba da minha presença. 

Ela demora mas, subitamente, olha para trás, movimenta-se que nem uma barata tonta, bloqueando o lado direito, voltando para o esquerdo, voltando para o direito...  

Para quê? Se não se mexesse e continuasse num rumo só, não teria causado qualquer problema. 

Vinha a segurar o telemóvel e acho que tinha um cordão de auricular no ouvido. Tenho sempre presente que essa pode ser a realidade de hoje em dia: as pessoas metem música tão alta pelos ouvidos que não ouvem mais nada e se distraem. Por isso além da campainha, reduzo velocidade ao passar pelas pessoas. Além de que tenho a luz acesa para que detectem uma aproximação. 

Há muitas formas de alertar alguém da proximidade de um veículo em movimento, mesmo quando estas se rodeiam de obstáculos para essa percepção, como andarem em frente sempre a olhar para trás, quando conversam com outra, quando escutam música.

Toco a campainha da bicicleta não só quando vejo pessoas mas também quando me aproximo de um ponto no percurso com pouca ou nenhuma visibilidade. Reduzo a velocidade. Olho atentamente antes de fazer uma curva e tenho os ouvidos afinados para qualquer ruído. Só não paro porque é quase como pilotar um avião. Se ficar totalmente parada "caio", perde-se o equilíbrio e tenho novamente de dar ao pé para criar velocidade de arranque na scooter, o que nesta provoca-me uma desagradável dor nas costas com cada movimento de pé. 

Se não fosse cuidadosa, algumas pessoas teriam me colocado em risco. Já fui vítima de rolling Coal, que é quando um carro que vai a passar por ti liberta intencionalmente fumo escuro pelo tubo de escape. E a semana passada, estava a conduzir a scooter pela berma da estrada, sou ultrapassada por um autocarro que tem amplo espaço e nisto ele para mais à frente na DIAGONAL. Ao invés de se estacionar na berma e deixar a via livre. Fiquei pasma. A scooter é minúscula em largura, mas eu não tinha dez centímetros por onde passar com ela. Reduzi a velocidade na hora, a ver se o autocarro arrancava. Mas qual quê. Atrás de mim, saído de um estabelecimento, vinha uma viatura branca, que fez a curva e teve de parar atrás do mesmo autocarro que eu. 

Se o motorista do autocarro fez isso de propósito como forma de "protestar" por me ver a usar uma scooter, esteve mal. Não foi só a mim que ele impediu de circular. Ele impediu o trânsito inteiro e teve uma atitude provocatória e perigosa. Dei prioridade ao carro para passar, embora este estivesse a dá-la a mim. E depois segui atrás, na minha berma, naquele espaçozinho entre o beiral e o risco contínuo, permitindo assim a passagem aos veículos potentes motorizados. 



Ontem vinha a atravessar a linha do comboio na scooter. Uma família no sentido oposto viu-me e fez sinal com o olhar desse entendimento. Vinha encostada à esquerda e eles começaram a separar-se para todos os lados. Ao invés de se desviarem apenas para um. Tive de parar a scooter e ri-me. Parada que estava, a ver onde aquelas pessoas se iam enfiar. Quando percebi que tinham passado por mim é que pude continuar. Mesmo tendo-me visto, dois desviaram-se para a direcção onde eu estava, os outros dos para a oposta. Depois pediram desculpa. 

O que posso esperar é que o peão que vejo a vir pela minha esquerda, se mantenha na sua direita. Mas isso algumas vezes não acontece. O que é alarmante.

Este comportamento observo-o diariamente tanto como peã como ciclista. Acho até que estas atitudes me enervam muito mais como pedestre. 

As pessoas podem estar até a andar em outra linha recta que não a tua, na direcção oposta. Mas assim que se cruzam contigo decidem "entortar" para o teu percurso ou subitamente parar na tua frente. Objectivo: baterem em ti. São ou não são como aves estúpidas?


Isto é particularmente fácil de observar nos centros comerciais. Noutro dia quase que não consegui sair de um sem esbarrar em pessoas que passavam. Estava apenas a uns metros da porta de saída. Linha recta. Nada a enganar. Contudo TRÊS pessoas vieram esbarrar em mim. 

Primeiro uma mulher, vinda de uma diagonal. Corta caminho e mete-se à minha frente. Ela viu-me, eu olhei para ela. Continuou o passo dela. Fui eu que tive de reduzir a passada subitamente para não esbarrar na mulher idiota que se atravessou no meu caminho. Que eu saiba as regras de trânsito aplicam-se também nos pedestres: Perde prioridade aquele que vai para entrar na "via rápida". Não se cruza o caminho de alguém que caminha recto num corredor principal. O que fez ela? Atravessou-se no caminho de todos. Esbarraria em mim se eu não tivesse diminuído a minha passada.

Porquê tive de ser eu, aquela que se compromete, se ela é que veio de uma diagonal? 

Depois desta aparece outra. Vinha a caminhar bem, afastada de mim. Subitamente aproxima-se e bate-me com a mala no ombro. Reviro os olhos e respiro fundo. "A porta da saída está quase a ser alcançada..." Nisto, um rapaz alto aparece. Também ele caminha numa direcção que não vem contra mim. Quando está quase a chegar perto, mete-se no meu caminho. Espontaneamente levanto o braço e aceno-lhe com a mão, dizendo: "Hello? I am here!" (Hei, eu estou aqui!). 

Foi só assim que evitei a terceira "colisão" de centro comercial. 
Os pedestres aqui nesta cidade no UK comportam-se como selvagens. 

Já reparei que o melhor a fazer é NÃO ESTABELECER CONTACTO VISUAL com ninguém no centro comercial. TODOS se desviam. Só assim consegui andar em linha recta. Assim que olhas para a pessoa, ela acha que tu tens de te desviar. Deve ser isso, porque vi todos estes que mencionei aproximarem-se e todos se meteram no meu caminho. Passo a vida a desviar-me dos outros e nenhum deles se desvia de mim. Não acho normal. Se caminho em linha recta, num corredor para esse fim, na direcção certa, porquê isso? As outras pessoas é que não sabem partilhar o espaço e parecem não entender as regras sociais básicas para caminhar em sentidos opostos sem virar um empecilho. Regras de tráfico tão simples. 

Quando não tenho um sítio para ir e estou só a "ver montras", caminhando sem pressa, então desvio-me das pessoas que estão a caminhar em linha recta. Simples, básico. Seria de esperar que todos pautassem seus comportamentos da mesma maneira, só que não.

Quando finalmente saí pela porta, contornei todos os obstáculos que são os que ali ficam parados a conversar ou a fumar e segui rumo directo até o macdonalds. À minha direita, uma mulher com uma criança caminhava no que parecia ser uma direcção direita ao centro da cidade. Vou a passar por eles com o meu ritmo de caminhada,  a mulher muda subitamente para o meu lado, querendo "fechar-me" a passagem. Acelero ainda mais o passo e não me desvio. Outra coisa que reparei é que, quem vem de uma diagonal, gosta de passar na tua frente ao invés de passar por trás. Que é o certo a fazer, para assim não obrigar a pessoa a ter de parar o passo. Aqui a maioria desconhece estas regras que se conhecem acho até que por instinto. 



Isso levou-me a perceber que muitas pessoas são como os pombos que encontro pelos passeios quando passo com a scooter. Burras, que se enfiam na frente ao invés de se desviarem.




domingo, 3 de junho de 2018

Um dia no trabalho - a da cadeira de rodas



Entre os muitos clientes que atendi hoje (uma média de 1000 por dia, se calhar) lembrei agora da pior de todas: a mulher na cadeira de rodas e o seu (presumido) marido. 

Assim que apareceu a rebolar já tinha ares de ser má peça. Mas não a julguei por isso. Surgiu a ser empurrada por ele. Ambos, sem pararem e sem me olharem. Ao passarem por mim, ela solta como se fosse um grunhido: "Southampton".


É uma das formas de não comunicar com civismo que não gosto. Se se busca informação de outra pessoa EU fui ensinada a abordá-la primeiro com um cumprimento. Usa-se o boa tarde, bom dia, se faz favor, desculpe, olá, e por aí fora. Não FALTAM recursos linguísticos à disposição - tanto em português como em inglês.

Faz-se a questão com um ponto de interrogação, mantendo o contacto visual e, no final, a despedida com o recurso a palavras como "Obrigada, bom dia, muito obrigado, adeus, Ok, excelente, entendido", etc, etc, etc.

Mas as pessoas são um mistério. Devo dizer que muitas limitam-se a grunhir uma palavra, não estabelecem contacto visual, nem sequer param de caminhar e ainda por cima esperam resposta imediata como uma bala, curta, convincente e satisfatória.

Há gente muito mal educada.

Mas também há as educadas. Que valem 1000 vezes mais. Muitos bem jovens. Muitos bem idosos. Uma geração pelo meio que anda ali entre o é e o não é...

Voltando à da cadeira de rodas, uma mulher nos seus 40, loura mal pintada, ar de destratável acompanhada de suposto marido de igual nível, pára por dois segundos a cadeira de rodas quando já tenho outro cliente para atender na minha frente. E fazendo com que eu tenha de girar o corpo para trás e o pescoço, pois já está pelas minhas costas, grunhe outra questão:
"Posso ir p'ra li (para a frente da fila) por 'tar na cadeira de rodas?"
Eu: -"Isso não sei, senhora. Tem..."

-"Não sabe! Pensei que fosse informação" - solta com extrema antipatia e cinismo o suposto marido, já a empurrar a cadeira e sem me deixar terminar.

Sou informação, mas não a que queriam!
Para essa tinham de se dirigir a outros e eu estava a ser cortes ao responder. Pois não pertencia à firma que ela queria. 

Ambos só pararam dois segundos - o tempo para quererem usar a cadeira de rodas para ter prioridade sobre todos os outros. Como se os que aguardam de pé não se cansassem mais que os que estão sentados. Detesto aproveitadores de fragilidades. Reconheço em pessoas que ali passam com verdadeiros problemas de locomoção mais simpatia e sofrimento que aquela mulher, sentada toda inclinada para a frente, como quem se senta numa cadeira que não usa com frequência. Para mim o mal deles estava na má educação e no oportunismo. 

Muito rude.
O comentário do homem foi dito com muito baixo nível. Foram o tempo todo rudes. Em toda a abordagem e linguagem oral e comportamental. Entristece-me que existam pessoas tão simplórias. No fundo estava estampado na presença deles. Outros colegas meus, tarimbados e borrifando-se, tinham fingido nem ver, nem ouvir.  

Resta-me explicar que não me cabia a mim dar resposta nem à primeira nem principalmente à segunda questão. Mas como tanta vez acontece, por trabalhar com informação geral, pensam que sei tudo. Sobre outras empresas inclusive. Só sei das minhas. 

A seguir uma menina muito jovem teve a paciência de lidar com a minha expressão de descontentamento e muito educadamente fez-me uma pergunta e agradeceu a resposta.