Curiosa para saber sobre o quê Salvador Sobral padece, googlei o seu nome e, por aquilo que divulgam alguns sites, o rapaz tem uma insuficiência cardíaca grave, usa uma espécie de pacemaker daqueles com uma mochila à frente do peito e precisa de um transplante de coração com urgência.
Li, inclusive, que os médicos estimaram que, sem um coração novo, ele viveria somente mais seis meses de vida.
Abstraindo-me agora de quem é - conseguem imaginar?? O impacto que uma coisa destas tem para a família e para o próprio? A angústia? O choro? Os receios? Os medos? A contradição de se desejar que alguém morra logo para que outro possa viver?
Saber-se que se tem um prazo para deixar de viver... E um tão curto. O que isso faz a uma pessoa? No que isso torna todos os nossos dias? Olhar para o céu, para qualquer coisa, tendo quase a certeza que daqui a um sopro de meses, pode-se já não estar cá para olhar?
Cantar uma música?
O que isso faz??
O que isso faz??
Se a pessoa não fosse quem é, e fosse ainda um estranho para Portugal, o seu estado de saúde seria o tipo de post que se partilharia no facebook, para «ajudar» a aumentar a palavra e se encontrar um coração. Ou para se fazerem rezas pela sua saúde.
Começo mesmo a achar que no dia 13 de Maio existiu de verdade muitos milagres.
Posso dizer que já ouvi tantas covers da música composta pela Luísa Sobral e interpretada pelo irmão Salvador. Escutei em Russo, francês, «brasileiro», inglês... português. Mas em todas achei que faltou algo. Principalmente na interpretação. Faltou uma certa emoção e fez muita falta.
E subitamente entendi uma verdade absoluta:
NINGUÉM poderá cantar esta música como o Salvador pode.
Só ele tem aquela sua sensibilidade para sentir a música, só ele tem aquela franqueza (e porque não tê-la, se se sabe que o tempo urge?) e só ele poderia, com aquilo que lhe vai no coração, cantar a música com o seu coração. O seu coração que lhe falha, que bate mais forte, na alma, mas falha no corpo. Como é que algum outro pode cantar com aquela emotividade se nenhum está prestes a morrer?
"Ouve as minhas preces"
E quantas não estão a ser feitas, por outro motivo? Para que Salvador consiga o coração de alguém? Que coisa é esta de alguém ter de morrer com morte cerebral, para que outra pessoa possa viver? Que raio de segunda-vida é essa e que impacto psicológico e emotivo pode acarretar?
Que dádiva é esta, de se doar vida?
Que angústia é essa de se sentir o fim?
E como poderia ele não cantar como cantou, tendo tudo isto na alma?
Que angústia é essa de se sentir o fim?
E como poderia ele não cantar como cantou, tendo tudo isto na alma?
Sim, já vi muitos tributos e muitas covers desta canção.
Mas na interpretação, todas deixam a desejar.
Mas na interpretação, todas deixam a desejar.
Ou são algo planas e previsíveis, ou a voz é esganiçada e a interpretação fracote. Uns gemem a música, não a cantam. Outros fazem «olhinhos» de românticos. Salvador fechava os olhos. Segurava as mãos, vibrava com cada pedacinho...
Não foi nada à toa que ele chegou e tocou os corações.
Que ironia!
Mas foi o que a música e a interpretação fez.
Mas foi o que a música e a interpretação fez.
Conquistou pelo sentimento.
O MUNDO gostou desta canção e do seu intérprete. A barreira linguística nem sequer existiu. Não houveram muros. Diques e barragens foram demolidas para deixar as águas fluir...
E corações por todo o planeta se sensibilizaram.
Esta melodia é universal, ficou globalizada. Ainda dará o que falar.
Só espero é que não tenha sido uma glória de despedida...
Mas se vier a ser, só aumenta a beleza da dádiva.