sexta-feira, 31 de março de 2017

cansada dos «foda-se caralho»


O meu espírito está a sentir falta de trabalhar num ambiente mais requintado. 

Não sou nem nunca fui uma pessoa de fazer distinções entre as outras. A prova é que tanto trabalho com uns, quanto com outros, sem me lamentar constantemente e sem me vangloriar para uns e outros dos feitos do passado ou das conquistas de vida. Lá porque sinto falta de um outro tipo de ambiente, isso não me faz pedante - caso alguns já estejam a pressupor esse defeito.

Trabalho rodeada de todo o género de pessoas - o que adoro. Em comum temos o facto de sermos  todos emigrantes e de nos sujeitar-mos aos empregos com mais procura - os não qualificados. 

Mas depois existem, aqui e ali, algumas diferenças. A maioria daqueles que me cercam têm pouca instrução. Ninguém ali estudou até obter um curso superior, muitos nem chegaram a completar o 7º ano. 


Sempre admirei pessoas mais velhas que, não tendo tido a chance de se instruírem, não deixavam por isso de possuir sabedoria de vida, que sabiam usar como ninguém. Mesmo pouco instruídas, auto-instruíram-se da melhor maneira possível. Essa constatação precoce fez com que não desse grande importância à instrução de cada um. 

Portanto, não será, decerto, a falta de instrução que me abala. O que mais me incomoda é quando, aliado a esse detalhe vem uma certa falta de educação e maldade de pessoa que gosta de prejudicar os outros como modo de vida. 

As tais pessoas pouco instruídas que mencionei admirar, podiam não ter frequentado a escola, mas não deixaram de ser criadas com valores. Receberam educação, conceito de boas maneiras, de responsabilidade, de consequências dos seus actos. Noções de ajuda ao próximo, de solidariedade, de luta. 

Mas estas a quem estou a tentar fazer referência não fazem parte da mesma estirpe. É outro tipo de falta de instrução. Diria até que esta é um detalhe que palidamente têm em comum, porque o que mais carenciam é exatamente dos valores, da educação. 


Se antes a escolaridade não estava ao alcance dos pobres, hoje ela está. E tornou-se obrigatória, a pretexto de se combater a desanalfabetização. Mas nunca antes como agora existiram tantos jovens a fazer pouco caso dela. Algo que já me incomodava constatar aquando andava nos bancos de escola. Como tantos se queixavam, se lamentavam, se auto-prejudicavam, repetindo a ladaínha de que os estudos «não serviam para nada», queriam era trabalhar para «ganhar dinheiro» e que estudar era uma «perda de tempo». 

Portanto, muitos daqueles que não têm instrução devem esse facto não tanto às más condições de vida, quanto à própria pouca vontade de se instruírem. Depois crescem, trabalham e lamentam-se. Alguns, os de boa índole, não se tornam vingativos e maliciosos. Aceitam os limões da vida e fazem limonada. Outros, procuram somente atirar os limões para o quintal dos outros. 

Bom, mas tudo isto para desabafar que estou cansada de trabalhar num ambiente onde todas as frases que certas pessoas dizem incluem a expressão «foda-se caralho». Sim, estou no UK mas trabalho com alguns portugueses e até os ingleses, por sua vez, só querem aprender palavrões em Português. Então, quando se reúne uma certa equipa, passam-se os dias de trabalho inteiros a escutar palavrões. Nove horas de trabalho sempre com os «foda-se caralho» a soar nos ouvidos. Quer se goste, quer não. 

E é essa «pobreza» que o meu espírito lamenta. 
Ele sente falta de um contra-balanço. 


Já noutra ocasião no passado, senti a mesma falta. Posso até dizer que estava totalmente deslocada daquele ambiente. Trabalhava em portugal, mas com muitos emigrantes ou descendentes, na sua maioria cabo verdianos ou angolanos. Ou seja, pessoas que, tal como eu, foram para outro país à procura de melhor condições de vida. Porém, pouco instruídas. Mais uma vez, o problema não estava tanto aí tanto quanto estava na má educação. Não de todos porque, felizmente, existem sempre excepções. Mas uma maioria também só sabia estar no ambiente de trabalho a perseguir os outros, a ter como objectivo o confronto, o destrato... enfim. Uma total falta de educação, uma carência de instrução, porque só esta, tanta vez, nos faz perceber a outra...

Quando terminei nesse emprego decidi meter-me noutra coisa totalmente diferente. E de uma «fábrica» passei para um escritório de uma multinacional. Bem, o que dizer? Acabaram-se os palavrões. Se fossem ditos, estavam contextualizados e justificados. Não eram gratuitos. E até hoje recordo com saudade que uma das circunstâncias que mais me agradou - os homens a dar prioridade às senhoras na altura de entrar no elevador. Ver as pessoas a cumprimentarem-se educadamente, os homens a dar prioridade às senhoras ao se aproximarem de portas, o segurarem a dita para que estas pudessem passar. Estes pequenos gestos de cortesia e boa educação. Que eu tenho, mas não recebo. Estava então tão precisada de os ter à minha volta! 



segunda-feira, 20 de março de 2017


Inscrevi-me em vários cursos no centro de formação Citiforma há cerca de ano e meio.
Hoje recebi uma comunicação para fazer a inscrição em dois desses.

Isto é o que está deficiente no nosso país.
A pouca urgência que dão aos interesses formativos do seu povo.


É por aqui que sei que fazer vida em Portugal dificilmente voltará a ser possível.
Veremos.

domingo, 19 de março de 2017

Já está a passar...


... a sensação de luto com que fiquei.
Acho que para tudo é preciso passar pelas emoções.

Agora é pegar o tempo livre que se aproxima e continuar a procurar.
Insistir.

Dizem que é esse o truque para se conseguir coisas na vida.

sexta-feira, 17 de março de 2017

Olhar o meu rosto


Minha avó.

Uma vez disse-me que não era ela que aparecia ao espelho. "Aquela não sou eu, pareço velha". 

Ela sabia que tinha envelhecido, que era avó, aceitava muito bem tudo. Nunca foi vaidosa. Então porque o disse? 

Porque tinha um «eu» por dentro, que não correspondia à pessoa ao espelho. A sua identidade não era aquela imagem que o espelho retribuía. 

Estava eu longe de imaginar que ia intuir o mesmo. 


Como também nunca fui vaidosa, apesar de estar rodeada de espelhos raramente olhei para um. Essa falta de vaidade estende-se às práticas que a sociedade actual estipulou como rotineiras e «necessárias» para a «beleza»: uso de cremes no rosto, no corpo, maquilhagem, etc, etc. Facilita passar meses sem apanhar a nossa imagem reflectida num espelho, quando não se tem estes hábitos. Nunca olhei para me ver, avaliar. Sempre apanhei o meu reflexo por acaso, sem lhe prestar atenção. Contudo, construí uma identidade visual de mim mesma, onde a aparência do rosto tinha características próprias. Essa identidade foi construida devido à existência de fotografias.



Durante anos apareci nas fotografias sempre com o mesmo tipo de rosto e de cabelo. Sem que tivesse percebido, acabei por me identificar com aquelas características. Reconheço-me.

Quem tem vaidade, quem cuida de si, acaba por ter vantagens. Porque está muito consciente das mudanças que o corpo pode sofrer. Tanto que faz de tudo um pouco para as combater. Então cada ruga, cada alteração, é assimilada como fazendo parte da sua pessoa.



Quem não é vaidoso e não se olha ao espelho, um dia tem um choque. Não se identifica com a imagem reflectida. Quando se procura no reflexo, encontra «outra pessoa».

Quando me olho, dou conta de uma série de características que não tinha e não dei conta de vir a ter. Rugas debaixo dos olhos, pele não mais de 20 anos...

Continuo a não ser vaidosa, a não cuidar de mim com os critérios que a sociedade impõe. Critérios esses ainda hoje discutíveis se verídicos ou fantasiosos. Seja como for, a realidade é que criei uma identidade como pessoa. E essa identidade sou eu entre os 20 e os 30, com um rosto mais ou menos maturo, mas ainda fiel pelo tempo. Este rosto de hoje mudou um tanto. Existem características que ele perdeu, que faz com que «não seja eu».



ESPIRITUALISMO

Dizem que a alma da pessoa não morre e esta, quando pretende comunicar-se com o mundo dos vivos, pode escolher a imagem que quiser. Recordo «testemunhos» de pessoas que afirmam ter vivido milagres ou ter sido visitadas por entes queridos já falecidos em sonho ou em doença ou mesmo despertas. Algumas descrevem que a pessoa parecia "o meu tio/pai/tia/mãe, mas mais novo". 

Algumas pessoas que afirmam comunicar-se com os espíritos dos mortos, costumam dizer que a pessoa está bem, em paz, num mundo sem dor e sem muita coisa que aqui sobrevalorizamos, e que escolheu como aparência para se comunicar "os seus 20 anos". Lembro-me de um episódio que vi de um destes programas sobre contactar os mortos, em que o contactado era um idoso que sofreu muito, acabando por ficar amputado, em cadeira de rodas, etc, outro caso era uma senhora que chegou a muitos anos de vida e que costumava ser muito vaidosa. No caso do senhor, foi dito que "onde ele está" pode correr como sempre gostou e que se sentia muito feliz porque ao fim de muitos anos conseguia finalmente andar com os movimentos livres e correr, que foi a sua paixão na vida. Do outro lado, não existem sequelas de doenças, não existem marcas de tortura, nada. A mulher que em vida tinha muita pena de ter perdido os seus fartos cabelos, mandava dizer que adorava os seus fartos cabelos e que escolheu essa sua imagem. Outros dizem que quem morre na infância, pode escolher aparecer como adulto.


Tomemos como exemplo o mundo do cinema.
Ali, todas essas mudanças ficam registadas. Mas, de alguma forma, o «mundo» seleciona a imagem que vai querer associar àquela pessoa. Algumas, ficam estigmadas com uma imagem mais madura. Outros, são sempre associados a uma imagem de muita juventude. 


quinta-feira, 16 de março de 2017

Um pouco blue


Os que sabem que vivo numa casa partilhada onde existem alguns problemas, sabem que por causa do último, procuro mudar de lugar.

Pois bem. Encontrei um, que fui ver ontem ao início da tarde, antes de entrar no emprego.


Barato como muito dificilmente vou encontrar outro, quarto de tamanho médio agradável, casa igual a todas por aqui - tudo velho mas utilizável e só teria 2 colegas de casa. Quem ma mostrou foi o proprietário, que logo me garantiu que é selecto com quem mete a viver nas suas casas e, entusiasticamente, me disse repetidamente que conseguia me ver a viver lá. Disse que tinha a certeza que eu era a pessoa certa. E disse também para lhe dizer se o desejava, porque a primeira pessoa que vê o quarto - eu - tinha prioridade, mesmo que aparecesse outra depois. 

Até gostei disso, pois numa ocasião também fui eu que estava a procurar quem me ocupasse o quarto que ia vagar e obedeci a essa regra: quem chega primeiro e mostra interesse, leva o quarto.

Depois de ter feito o primeiro contacto telefónico com ele, voltou a ligar-me quase de imediato. Horas depois, volta a ligar para perguntar se vou aparecer como combinado. E depois de o ter deixado após a visita, ligou-me e ficou uns 10 minutos a falar comigo, a explicar-me onde ficavam os transportes naquela rua, insistindo em mos mostrar, da mesma forma estranhamente insistente com que primeiramente se apresentou. 


O quarto só ficará vago lá para 10 de Abril. E por isso pensei cá com os meus botões que a «urgência» em dar resposta certamente era menor que o quarto que fui ver na véspera, que estava disponível a qualquer momento. (Embora o morador ainda lá estivesse, com toda a roupa nos armários).


Tive de ir a correr para o emprego e durante essas horas só conseguia pensar na decisão que tinha de tomar. Já a tinha tomado - queria ir para aquele quarto. Mas estava a trabalhar e só de manhã poderia telefonar ao senhor. Afinal, ele disse-me que os primeiros tinham prioridade e eu ia dar-lhe a resposta em menos de 24 horas. 

Durante a noite relembrei uma ligeira impressão que recebi: o homem tinha mudado ligeiramente de comportamento aquando a última despedida. Pareceu mais seco e diesinteressado. Foi só uma ligeira impressão com que fiquei, de tão esfuziante que ele se mostrou de início, daquela forma melosa e cheia de «namoro» - não o estava a ser na despedida, como foi em todas as outras.

Hoje, 10 minutos depois das 8.00am, enviei-lhe mensagem. Para o telemóvel pessoal, que ele fez questão de me dizer que não o dava a qualquer pessoa mas eu devia usá-lo para o contactar. Adormeci eram quase 7am, acordei passado apenas uma hora. Claramente não ando a conseguir dormir nas últimas duas noites. Na mensagem dizia querer viver na sua casa. 

Ele respondeu, também por mensagem:
-"Lamento, dei o quarto ontem à tarde. Mas obrigado por me dizer, boa sorte".


Seco, não? É que se o tivessem visto e escutado, todo amistoso, de uma forma que a nós, portugueses, parece estranha e exagerada. Mas depois pensamos: "é o jeito da pessoa ser". Nem respondi de volta, porque sabia não fazer diferença. Não o relembrei que, poucas horas antes, disse-me que tinha prioridade. Que me queria a vier na sua casa.  Eu respondi-lhe o mais rápido que pude. Trabalhei até às 2am, não ia ligar-lhe nessa altura, não é?

Mas não tem importância. Eu acho que ele decidiu enquanto me dizia adeus. Despedimo-nos às 16h da tarde e ele deve ter dado o quarto a outra pessoa 15 minutos depois.

Agora estou assim, a sentir-me um pouco blue...
Porque foi uma oportunidade que tive em mãos e deixei passar. 
Mas passa. 

Aqui tem de ser vapt-vup! Vês, tens disponível, pega! Aqui não existe palavra. Quem tem o poder, usa-o. Pode dar o dito pelo não dito. Quem tem dinheiro, e acena-o, disponibiliza-o, leva o brinde.

O anúncio não ficou nem 24h activo no site. A procura é muita, a oferta também e uns dão para ser «selectos», principalmente os que vivem na Grã-Bretanha mas têm raízes em culturas muçulmanas.
Querem sempre não fumadores, que não levem pessoas para dentro de casa, que não bebam e não tenham maus hábitos.

Noutro dia ainda foi pior: vi dois anúncios de aluguer de quartos mas só aceitavam candidatos vegetarianos. Lol! Isso é que é impor o seu estilo de vida a outra pessoa.

Quanto às pessoas muito simpáticas, o problema é que elas tanto adoram como deixam de adorar. Num piscar de olhos. Tem uma fachada social agradável, mas são de humores.


Quando vim para cá umas pessoas que já ca moram sempre me disseram que temos de ser mentirosos e fingidos, para conseguir estas simples coisas. Eu não consigo. Sou logo sincera. Não sei fazer "jogos". Que coisa! Acho que faz parte da vida de qualquer adulto independente ter de passar por situações em que é conveniente se dar ares de algo que não é, não pensa ou não concorda. Eu não tenho a mínima máscara! Mas não é só uma questão de máscara per se. É uma capacidade de analisar as situações e adaptar-se a elas de forma a tirar o maior proveito para si mesmo.

Sei lá...
Enfim. Fiquei um pouco triste, mas passa. Um quarto como aquele e àquele preço, jamais. Não se encontra em lado algum. Mas eu queria mais do que um quarto barato. Eu queria sentir-me bem a viver na casa. E só pretendia como condição, que fosse bem localizada. Ele disse que pretendia o mesmo do seu inquilino. Rejeitou a rapariga que chegou depois de mim por esta ter dito que "apenas queria um lugar para dormir". O que o revoltou. 

O quarto onde estou agora é um... palácio. Comparado com o que existe por aí. É o quarto principal de uma casa típica inglesa. É do tamanho da sala de muitas. Tenho um colchão de casal e muito espaço para cada um dos lados. Durante os primeiros meses, achava-o mais do que precisava. Mas depois acostumei-me... E agora aprecio-o. A maioria dos quartos dos anúncios de aluguer mostram cubículos deprimentes, com uma cama e uma cómoda. Têm duas prateleiras minúsculas para a roupa, porque não há espaço para guarda-vestidos. E costumam até ser mais caros! Mesmo os que ficam pior localizados. Este era médio, tinha cómoda e guarda-vestidos. E o preço! Se for a pensar bem, era uma pechincha.  

Espero ter Deus do meu lado da próxima vez, tal como tive desta. 
Eu é que não soube lidar com a situação da melhor maneira.
Esqueço-me que aqui é pega ou deixa-ir.

E mesmo assim, no dia seguinte a menos que o dinheiro entre na conta, nada está garantido.



quarta-feira, 15 de março de 2017


Estou a sentir os ovários.
Como descrever a sensação? (Principalmente para quem não os tem).

Não posso dizer que é um palpitar. Nem apenas uma sensação de calor. É um misto de pulsar silencioso com ardor. Deve ser o que acontece em qualquer corpo, quando um órgão muda rapidamente de forma, se expande, desloca-se ou inicia uma mudança.

Como vocês, mulheres, descreveriam esta sensação?



Ainda não chegou «aquela altura» do mês. Deve estar por uns 3 a 7 dias. Mas no que pretendo que se reflita, principalmente a quem não é mulher, é como a mulher goza de tão pouco tempo para não sentir o seu corpo feminino. A mulher passa uns dias a sentir a menstruação a querer surgir e outros tantos com ela. Sobram quantos para a fase em que não sente nada??


Ora, se 5 a 7 desses dias podem passar a sentir o que aí vem, outros 5 ou 7 para viver o que já chegou, só sobram uns 15 para viver COMO UM HOMEM.


É o que costumava pensar quando punha-me a imaginar o que será ser homem. Toda aquela impetuosidade, todo aquele vigor concentrado, aquele gosto por briga e conflito... É porque não sangram. Não sentem dor física com regularidade :P


Como será nascer sem esta peculiaridade de ser mulher?

No meu entender é sentir sempre um certo vigor - dependendo essa energia apenas do estado de saúde e do nível de cansaço - a que todos estamos sujeitos - e nada mais. 

Homens não tem de planear o seu dia em torno das vezes que têm de ir ao WC, não têm de adiar a vontade de fazer uma viagem longa ou um percurso mais ou menos demorado colocando no itinerário paragens obrigatórias para a troca de absorventes, não têm de pensar naquela viagem de duas horas e meia de comboio e ponderar se a capacidade de contorcionismo e desconforto físico e odorífico necessário quando se recorre ao cubículo sanitário ambulante, vale a pena o esforço ou poderá ser bem sucedido. Os homens não precisam de pensar em ir explorar a natureza, subir montanhas por horas, fazer escalada ou ir nadar, estando em «situação especial».

Uta Pippig 1996

Não quero com isto dizer que a mulher é uma incapacitada, lol. Ao contrário. Sei que não estou no século 18. E muito admiro as mulheres do passado (sem absorventes, sem comprimidos, sem nada!). A mulher é cada vez mais tudo. E sem deixar de ser a mulher que sente ardores, pulsações e que sangra.

Ser mulher não se resume à capacidade de reprodução. Porque estas dores não existem para que possamos reproduzir-nos. Elas existem porque a mulher tem a capacidade para suster vida. 

Essa sim, é a verdadeira razão destas sensações nos corpos femininos. É as duas coisas são muito diferentes.



segunda-feira, 13 de março de 2017

A lua com inveja do Sol?


Hoje é noite de lua-cheia.
Reparei nela enquanto caminhava para casa. A lua estava mesmo por cima da habitação, como que a querer incidir a sua magia sobre ela.

Espero que não tenha sido a eminente presença da lua a responsável por a situação desagradável pela qual passei 12 horas antes. Passavam poucos minutos do meio-dia. Saí do quarto, vi a porta do banheiro fechada e decidi que era uma boa ideia abri-la, para que o sol que entra só por aquela janela, pudesse entrar pela casa a dentro e «inundar» o corredor e as divisões abertas da casa com a sua luminosidade natural.


Terá a lua tido inveja do sol?



Porque o que aconteceu no momento exato em que rodei a maçaneta da porta do banheiro, foi escutar do outro lado, até então emergido em silêncio, uma voz masculina dizendo:


-O que é que tu queres? Queres que te foda, não é? Deve ser isso. Tás com vontade de ser fodida!

Qual o meu espanto em perceber que existia alguém... Mas o espanto maior foi o que julguei ter escutado. Teria sido um equívoco dos meus ouvidos??

Não foi. Ao invés de deixar passar em branco, recuei uns passos e perguntei a quem se encontrava do lado de dentro da porta:
-O que foi que disseste?

-Disse se queres que te foda!
- És rude! - GRITEI.

Fiz questão de demonstrar em voz alta o meu descontentamento. Era o mínimo que o indivíduo merecia escutar. 

Quem me lê com mais regularidade já deve adivinhar que o indivíduo é uma referência ao colega de casa que, em Dezembro passado, destratou-me verbalmente e com agressividade só porque lhe pedi educadamente que evitasse ter o som do seu quarto alto durante a madrugada. Pois três meses exatos se passaram e eu não fiz mais nada senão evitar o indivíduo. Eis que na primeiríssima ocasião em que o caminho dos dois volta a cruzar-se, a sua hostilidade não diminuiu. Ao contrário, parece ter aumentado e escalado para a vulgaridade extremamente ofensiva.

Perante isto, acho que não terei outra alternativa senão tentar mudar de casa. O que ainda só não fiz por não ser tão fácil encontrar a situação ideal. Só que agora, terá mesmo de ser! E que tenha muita sorte com o que vier a seguir. Mereço.


sábado, 11 de março de 2017

Uma peculiaridade cá minha


Tenho uma preferência pessoal: tento tomar banho quando sei estar sozinha em casa.
Sou assim desde criança.


Quando me pegava a procurar a origem dessa peculiaridade encontrei como motivos o facto de poder estar em sossego, em paz, sabendo que mais ninguém vai querer utilizar a divisão ao mesmo tempo, para fazer coisa menos agradáveis (e menos perfumadas).

Mas só há uns dias, quando estava no duche é que se «fez luz». Tudo voltou à memória quando a água passou de morna a gelada. Foi então que me lembrei da principal razão que deu origem a esta preferência desde tenra idade. 

Não posso contar nem pelas mãos de uma pequena aldeia com poucas dúzias de habitantes a quantidade de banhos que tomei que subitamente se transformaram em duches de água fria. Foram muitos, por muitos anos. Rotineiros choques térmicos... que me levaram a desenvolver esta preferência. 



sexta-feira, 10 de março de 2017

Uma questão de boa educação e cortesia


Já é a segunda vez que saio do trabalho à mesma hora que dois outros colegas e vamos todos apanhar o mesmo transporte. Acho rude o que acontece depois: os dois esperam um pelo outro para irem juntos e não têm a cortesia de esperar também por mim. 

Não é que faça muita questão das suas companhias, é porque considero o gesto feio. Seria incapaz de agir igual. 

Segundos antes falávamos entre todos, cantarolávamos a música que dava na rádio e trabalhamos juntos. No segundo seguinte não me conhecem.

São jovens. 
Mas isso não é desculpa. 


quarta-feira, 8 de março de 2017

Vamos falar de posts


Há dias em que me surgem temas para posts e me apetece escrever um. Mas ora estou a trabalhar, ora estou em viagem. E depois tenho uns dias livres, um tempinho, e «varre-se» aquele e aquele outro assunto que me surgiu.

E é assim...

sexta-feira, 3 de março de 2017

Um sinal que vem da Madeira



Desde que emigrei tenho encontrado muitos portugueses. Existem portugueses por todo o lado! Nas ruas, nas lojas... A cada passo dado, cruzamos-nos com alguém a falar a língua de Camões. Uma criança passa com um brinquedo e a contar os rebuçados que tem na mão na nossa língua Ibérica. No emprego não faltam Portugueses. Hoje dei-me conta que as quatro pessoas dentro da pequena divisão do escritório eram portuguesas e que o inglês falado era dispensável. Fui às compras de roupa e fui atendida por uma muito prestativa empregada portuguesa. A minha língua materna não chega a não ser praticada. 

Mas também percebi outra coisa: todos os portugueses que conheci perguntam-me se sou «do continente». Respondo que sou de Lisboa. E todos com quem me cruzei são... da Madeira.

Ora, isto é significativo. Existem duas informações que se podem tirar deste pormenor.
A primeira é que os lisboetas ou os de outra parte, não se encontram muito por aqui, nesta cidade, nesta zona, neste sector de trabalho. Sim, porque acredito, com toda a certeza, que existem portugueses de todos os cantos espalhados pelo UK. Mas aqui predominam os habitantes nascidos na Ilha da Madeira. 


Ora, a Madeira é uma ilha conhecida pela sua beleza mas também pela sua população pobre. Quem não se recorda dos apelos de ajuda aos necessitados? Das notícias sobre a prostituição infantil e o turismo sexual? Da mãe a viver no topo da ilha com vista para o "paraíso", que se suicidou após dar veneno ao filho deficiente, porque estava desempregada e com uma doença fatal e vivia sozinha? Isso é miséria, pobreza...

Que uma grande parte da juventude da ilha decida emigrar, não é exatamente novidade. Assim tem sido há muitas gerações. O arquipélago da Madeira sempre produziu população emigrante em quantidade. É um lugar ainda com poucas oportunidades, onde muitos vivem com dificuldades. Isso explica a quantidade de madeireinses que se encontram espalhados pelo mundo. Louvável que a juventude e até a não-tão juventude, tenha este tipo de coragem.
Só que, infelizmente, a maioria dessa corajosa população também é pouco qualificada. Emigra aos 18 anos, ou mesmo mais cedo. Não levam na bagagem grandes estudos logo, a própria ambição e os empregos que vão preencher serão sempre os de menor qualificações.

O facto de encontrar muitos madeirenses quase que confirma que, no departamento das qualificações pessoais estou um pouco deslocada. Devem existir lisboetas por aí... Alguns com formação qualificada em áreas distintas. Resta saber por onde andam.... Não é por aqui. Descobri-los ia permitir-me descobrir se existe uma hipótese de me «juntar a eles» e, mais importante ainda, descobrir se é isso que pretendo.

Abraços e BFS!

quinta-feira, 2 de março de 2017

Quem explica a depressão?


Venho a querer falar sobre este tema tão... depressivo.


O que é que vocês conhecem sobre depressão?
Há dias em que nos sentimos mais em baixo, outros há em que essa sensação dura mais que 24h e não se apaga quando o corpo conhece o colchão e o travesseiro. Então, o que é isso de depressão?


Não sei se concordam comigo, posso estar equivocada mas, penso que a mulher está mais vulnerável a depressões do que, à partida, está um homem. Se nós somos a nossa biologia - as nossas células e os nossos hormónios, então a mulher está sempre a mudar substancialmente os seus a cada semana. Costuma-se dizer que é uma vez por mês (ehehe)... mas não. Só uma coisa é «uma» vez ao «mês». Tal como a lua só é lua cheia uma vez por mês. Mas entre essa fase, tem outras: lua minguante, lua crescente e lua nova. 


A mulher é de luas?
Sim, o seu organismo é. Está muito sintonizado com a natureza da própria natureza da lua...




Então, onde entra aqui a depressão?
Bom, falando do meu caso particular, faz algum tempo que «descobri» que a minha vulnerabilidade para sentir um tanto de depressão é bem maior em determinadas alturas do mês. Digamos que, na fase da lua Minguante. Bem que gostaria de descobrir que tipo de hormona estou carenciada, para assim poder «injectar» uma dose de remédio :)

Mas desconfio que esta vulnerabilidade não tem só origem química. Grande parte dela deve ter origem emocional.


As variantes emocionais:
Quando emigrei algumas pessoas mantiveram um contacto regular, querendo saber das novidades. Ora, na fase inicial de uma mudança destas, uma pessoa nem tem muito tempo para sentir solidão ou ficar deprimida. Tem tanta coisa para resolver, tantos lugares para ir, tanta burocracia a tratar, que acaba por ter o dia ocupado. As chamadas telefónicas de amigos e familiares preocupados surgem em simultâneo com estas mudanças e responsabilidades. No início tinha de falar com tantas pessoas ao mesmo tempo que precisava de horas e corria o risco de esquecer de alguém e essa pessoa levar a mal Foi preciso diplomacia no caso de umas e outras mais «centradas» em si mesmas. 

Mas é quando uma pessoa já está mais ou menos «assente», que duas coisas acontecem: sobra-lhe tempo para sentir emoções profundas e as chamadas praticamente sessam. 


Foi uma «coisinha de nada» que me conduziu ao último caso de depressão (já passou). Não tinha qualquer intenção de alimentar o sentimento pelo que me surpreendeu a forma como me atingiu. Começou com uma intuição. Uma amiga do tempo de infância estabeleceu contacto comigo e pediu insistentemente para nos encontrarmos. Mas depois senti uma intuição a soprar-me ao ouvido que ela não ia dar mais notícias. E de facto, isso veio a acontecer. Claro que eu a contactei, sem ser chata. Falámos pelo face-coiso. A meio de uma conversa que estava a começar, ela deixou-me pendurada, sem resposta. Leu o que escrevi, porque o f-coiso avisa-nos da leitura, mas não deu resposta, nem para se despedir. Preferi acreditar que estava com sono e havia adormecido...

Desde então o seu interesse parece ter-se eclipsado. E pronto. Foi isto. A origem da coisa está aqui, ainda que eu preferisse não lhe dar importância. Senti tristeza assim que essa suspeita surgiu e depois o tempo praticamente o confirmou. Uma situação que veio a comprovar que o interesse era só superficial, relacionado a razões pouco invejáveis. O interesse estava somente em perceber como é que estava, mas para se comparar. Se me encontrava melhor do que ela própria, se era mais bonita, gorda, magra, feia... melhor de vida. É só isso que parece interessar as pessoas hoje em dia. Isso e perceber se estas podem ter algum uso para as tuas ambições. 


Ainda assim não permiti que o abalo fosse fundo. Só que, desde o instante em que o índivíduo fez aquela birra de criança mimada que se recusa a aceitar uma chamada de atenção e reagiu como um teenager agressivo, que responde com violência e ameaças, que a minha vida aqui ficou de imediato estragada. Ficou triste. Viver nesta casa, nestas circunstâncias, não é uma maravilha. E isso, mais aquilo e aquela outra coisa... Tudo somado, resultou numa insatisfação que abre as portas e janelas à depressão.

Ainda por cima hoje um dos tipos cá de casa veio dizer-me para fazer a limpeza com dias mais espaçados entre os que ele escolhe para limpar na sua vez...  Passo a explicar: cada qual tem uma semana do mês para limpar a casa. Como somos 4, cada qual é responsável por isso uma vez por mês. Acontece que, mesmo existindo um calendário, o tipo antes de mim nunca o cumpre. Limpa sempre a casa «quando lhe apetece», permitindo que se passem 15 dias... Ora eu, que limpo a seguir, para manter-me no horário estipulado, tenho de me desdobrar para limpar a casa não muito próximo da data em que ele a limpou - porque seria de menor utilidade - ou tenho de ir limpar de propósito num dia em que não me apetece nem é tão conveniente como outros, porque o prazo está a terminar.


Adivinhem, por exemplo, o que tive de fazer na tarde do dia 31 de Dezembro? Estando eu seriamente doente? Tive a limpar a casa! Porque o tipo decidiu usar a sua vez no dia 28... ou coisa que valha, quando esse dia já era o da minha semana. Eu subi as escadas a carregar o pesado aspirador e logo a seguir tive de me deitar no quarto, exausta. Fiz a limpeza nestas condições e todas as que se seguiram foram feitas no mesmo género de raciocínio: tentando espaçar mais o tempo entre limpezas. Acontece que as pessoas que se seguem a mim cumprem a limpeza nos seus dias, quando lhes convém. Por vezes limpando 3 dias a seguir, ou 5... ou até mesmo dois.

E tudo porquê? Porque o tipo antes de mim não cumpre horário. Ora, as nossas folgas nem sempre permitem limpezas afastadas umas das outras. E o tipo, ao fazer isto, limita bastante os movimentos dos outros. Há dois dias apeteceu-me limpar a casa porque já sentia o corpo a querer ficar doente e fraco. E como tive vontade, aquela antes da queda total de energia, fi-lo. Foi a primeira vez que limpei porque me apeteceu - tal como ele faz. Tenho direito a isso, ou não??

Hoje veio dizer-me para limpar a casa mais espaçadamente... Ignorando o quadro que mostra que os outros têm limpo a casa regularmente sempre com curtos espaços de dias entre eles. E eu, feita idiota, ainda lhe apontei para os outros dias de limpeza - dias de 2, 3, 5 dias afastados, ele ainda justificou um deles, dizendo que a pessoa tinha de ir a algum lado... Ora e eu? Não posso também ter de ir «a algum lado»? Feita idiota não lhe fiz ver que é ele que atrapalha tudo. Que os horários são para se cumprir ou entra tudo num descalabro. Ele diz que o quadro é só um guia, que não se tem de limpar naquelas datas... mas se isso acontecer, então eu vou limpar na semana da outra pessoa, a outra pessoa depois não limpa, ou eu não limpo, e depois chega a vez dele novamente, e ele refila porque vai dizer que outro não limpou...

Se cumpre as datas não haveriam chatices. Agora vir chamar-me a atenção.. é preciso ser um pouco sem noção. Também tenho direito a limpar quando me é conveniente. E assim, agora, a próxima pessoa fará a sua limpeza com alguns dias afastados da minha - pela primeira vez. E ele, se quiser limpezas mais espaçadas, que não espere vários dias quando chega a vez dele. Afinal, de todos nós, é o único que tem dias fixos de trabalho por semana - três - e descansa os outros quatro. Tempo para limpar, quando quiser, sobeja-lhe. Aos restantes nem por isso.