Decidi ir a Londres. Chegando lá, foi mais fumo que fogo. Como toda a tempestade batizada com nome masculino, o Dénis, previsto para este fim-de-semana, assusta mais por antecipação do que por factos. Ainda assim, a certa altura, achei melhor aproveitar o tempo chuvoso para visitar um museu.
Fui a um dos meus favoritos: O Victoria e Albert. A entrada é gratuita, (excepto para exposições pontuais) e não pensem que ficam mal servidos. Este museu é enorme, tem um espólio fantástico, de peças originais e reproduções (como todos hoje em dia). Deixo-vos uma amostra.
Este foi o primeiro retrato que vi. Não tinha identificação.
Gostei tanto da expressividade do retratado, certamente à décadas falecido, que o fotografei para mostrar aqui no blogue. Não vos parece que está vivo?
Olhando para o rosto, percebe-se cada sulco. Esta foi a aparência REAL de alguém.
Capturada por mãos impressionantemente habilidosas.
Metros à frente, estava esta escultura. Fotografei deste ângulo porque a jovem rapariga oriental sentada no banco aqui na direita da imagem, estava a desenhá-la.
Poucos minutos depois, ela protestou para o ar a presença do homem na foto, por lhe bloquear a visão e interromper-lhe o momento. Ergueu os olhos para o tecto proferindo algumas palavras em chinês para o ar. Gostava de lhe ter pedido permissão para fotografar o desenho, mas não tive coragem. Estava muito bom.
Mas o que me atraiu inicialmente nesta escultura tumular foram estas palavras, com as quais me identifiquei:
"Toda a minha vida os dias passaram frios e tristes. Eu, que sonhei selvagem e doida, estou feliz por falecer". "Muito antes do meu coração vir a despedaçar-se, a sua dor passará. Uma altura foi enviada para a sua dor. Paz virá, finalmente".
Não é bonito?
É exatamente sobre o que eu tenho vindo a reflectir. A vida, os sonhos, o fim.
Esta estátua foi mandada erguer postumamente ao falecimento de Emily Georgiana, aos 39 anos. Era esposa de George William. Imaginei que foi o marido que mandou erguer esta imagem - de um extremo bom-gosto, da falecida esposa. Que deve ter falecido ao dar a luz - imaginei eu. E ele deve ter gostado verdadeiramente dela (ou sentir remorso?), para fazer-lhe esta homenagem.
Na imagem, ela encontra-se reclinada sobre uma longue-chair, lendo uma espécie de papiro, onde só pude perceber as palavras impressas "God is waiting" (Deus está à espera).
Colocando ali um livro, é o tipo de escultura póstuma à minha pessoa que ia apreciar.
Este é outro exemplo de um monumento mandado erguer aos falecidos.
A figura principal mencionada é a mulher à direita. Mas não se façam confusões: ela foi a filha DE... (medalhão acima?) e esposa DE... (busto ao lado?). Daí aparecer esculpida, em corpo inteiro, mas chorosa. A mão no rosto, segurando um pano para lhe secar as lágrimas da dor da perda, boca triste e olhos fechados, a chorar. É tristeza em memória dos ilustres homens com quem se relacionou por sangue ou matrimónio. Uma espécie de três-em-um. Maria Martin - de seu nome, mandou erguer este monumento em memória do falecido sobrinho e irmão mais novo, de 70 anos. Daí as suas lágrimas. Nada menciona a data e falecimento dos progenitores ou esposo. Pelos vistos, filhos ela não teve. Ela mesma, aqui retratada na mais pura dor, faleceu anos mais tarde, quem sabe sentindo-se totalmente só, sem um familiar por companhia, com a bela idade de 97 anos.
Achei um monumento bem feito e fiquei a imaginar se existe algum simbolismo maçónico na escolha dos elementos, tão "piramidais".
Continuando nas esculturas representativas, chamou-me a atenção o rosto em mármore "saindo"de um medalhão. E quando olhei para ele, talvez pela "mancha" no rosto, surgiu-me na mente o que poderá significar a expressão vaga e triste, deste belo e jovem rosto.
Acho até que deviam adoptar esta imagem para logotipo internacional da Violência Doméstica.
E pronto.
Vi muito mais, fotografei mais ainda, mas irei partilhar noutro post.
Para este ficam as esculturas.
Descobri uma coisa a meu respeito: gosto de arte e gostaria de fazer parte de uma.
Não me incomodaria nada de ter o meu rosto (jovem) num medalhão semelhante.
:D
Bons prazeres
Perder tempo em museus é ganhar sabedoria. Eu adoro-os.
ResponderEliminarAbraço e uma boa semana
Aí está tempo muito bem passado.
ResponderEliminarBeijinhos
Boa semana