sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Trancado no quarto a falar Frances



O rapaz que vai-sair afinal, ainda vai demorar a fazê-lo. Só quase em Dezembro é que se vai embora. Vai mudar-se para França - que foi sempre o seu objectivo. 

Decerto não se recorda de o ter mencionado uma vez, no chat. Por isso, devido ao clima de secretismo que os Italianos impuseram no ambiente da casa - pois nada é mencionado à minha frente - devem ter achado que esta sua saída vem como uma surpresa. E os cuidados que procuram ter para que eu não escute nada a respeito de nada, deve fazê-los pensar que nada sei ou imaginar que estou em pulgas para o saber. 

Nada mais errado. Não quero saber. Isso é o mais interessante. Tanto aprontaram, que ganhei-lhes uma quase indiferença. Se sangram, se riem ou se choram... é lá com eles. Já não me aflijo como seria de minha natureza. E nada neles realmente apanha-me de surpresa, por já os conhecer intimamente. Não aquela intimidade que é física, mas a psicológica, o que a pessoa realmente é em termos de carácter. Sem as máscaras.


Então o rapaz, que neste ano e meio nunca ficou fechado no quarto por coisa alguma - muito menos pelas primeiras horas da manhã - sempre enfiado que fica na sala por horas e horas sentado à mesa diante do computador - hoje decidiu não sair do quarto. Oiço-o ao telefone, a falar num tom bem mais alto que o habitual. É natural, quando se fala ao telemóvel, projectar a voz. Mas até isso ele tinha o cuidado de não fazer - para que não pudesse ser escutado. Nenhum problema em falar com uma voz normal diante dos outros - apenas se eu estivesse por perto é que vinham aqueles silêncios, os suspiros, deixando de ver no computador o que fosse que estivesse a ver e regressando ao me verem sair da divisão. 

Ele não se lembra de ter revelado que contava mudar-se para Nice antes de Dezembro. Nem se lembra de uma pobre coitada que trouxe cá para casa para transar, que ousou mencionar que dali a seis meses esperava mudar-se para Nice - lançando-lhe um olhar matador. Coitada... Nunca mais apareceu para uma segunda dose. E pensava ela que ia viajar com ele!!

Não têm boa memória - só uma memória selectiva, distorcida, que oculta o que fazem. 
Quando passei pela porta a caminho da cozinha - claro que se escuta o som da pessoa a passar - ele teve o cuidado de parar de falar em francês ao sentir-me perto. E é por eu estar perto, que está fechado no quarto. Nem ao WC foi ainda. E se for, vai de mansinho, ao andar de baixo. Para passar despercebido já que estou em casa. Caso contrário? Duvido que não estivesse pela sala. Não há cá mais ninguém.

A respeito do "novo" inquilino, não se sabe nada, a não ser que tem o mesmo nome daquele que vai sair. Conversei com o "mais recente", que me contou que ficou um pouco triste por o senhorio não ter escolhido o amigo que ele recomendou. E na conversa, disse-me que não conhecia este novo, que ele não fazia parte do circulo de amigos dos que cá estão. Foi "arranjado" pelo que-vai-sair

E a mensagem da cobra venenosa, antes dela a ter apagado, dizia: "Assim sabemos com o que podemos contar!".

Ah sabem, sabem.
Sabem mesmo, não há dúvida!
Ahah. O facto é que nem conhecem a pessoa.

O único critério utilizado é ser ITALIANO.
E foi recrutado (a palavra é esta) pelos mafiosos cá de casa. Que têm uma necessidade praticamente psicótica em ter o controlo absoluto. 

Agora relembro as palavras que este-que-vai-sair me disse quando o senhorio meteu cá dentro a tal rapariga que eles usaram como marioneta. Eu disse-lhe que ela parecia muito simpática e tinha simpatizado com ela, por ter um sorriso muito aberto e aparentemente franco e ele, secamente só respondeu:
-"Parecem todos simpáticos ao início".

Estava TÃO PREOCUPADO!!!
Não estava no controlo. Não tinha sido ele a decidir.
E precisava ficar no controlo o mais rapidamente possível.  Estava a preparar-se para isso.
Porque para ele, esta é a SUA casa. 
Ele decide, ele controla quem cá entra, o que se faz, ele manda.


Ela foi "recrutada" e usada por eles para me atingir. E por isso e por ser uma miúda, festeira, altiva, imatura e fácil de manipular, eles lá a suportaram. Mas aceitar? Não, não aceitaram. Tivesse ela ficado mais tempo e teria percebido que eles já começavam a demonstrar sinais de saturação. A mais-velha cada vez que a mencionava a mim era com desprezo. E cada vez que falava de mim a ela, era com desprezo. Não dá para disfarçar a sua natureza.






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